Cuidados a ter
Ser hipertenso em Portugal é, infelizmente, uma realidade comum.
Prevenir a hipertensão arterial

Ser hipertenso (aumento da pressão arterial), em repouso é apresentar uma pressão sistólica superior ou igual a 140 milímetro de mercúrio (mmHg) e/ou uma pressão diastólica superior ou igual a 90 mmHg.

O diagnóstico da hipertensão arterial passa, obrigatoriamente, pela determinação correta da pressão arterial. Para a medir, são necessários um aparelho adequado (esfigmomanómetro) e um técnico de saúde que saiba o que vai fazer: que não prescinda das condições mínimas, técnicas e ambientais, para a efetuar.

A determinação da pressão arterial continua a ser um dos gestos mais importantes na clínica médica, mas, infelizmente, uma das técnicas em que mais imprecisões são realizadas e menos cuidados são tomados. Anote alguns dos cuidados que temos de ter na determinação da pressão arterial: o ambiente tem de ser sossegado, para que você se sinta calmo e relaxado; tem de estar confortavelmente sentado, pelo menos durante um a três minutos antes deste processo; não deverá ter fumado ou bebido café na meia hora anterior (e, já agora, convém também saber se precisa de ir à casa de banho); o braço usado para a medição deve estar sem roupa apertada e devidamente apoiado, enquanto a sua posição deve permitir que a braçadeira possa ficar ao nível do coração; a variabilidade da pressão arterial torna aconselhável a repetição da avaliação; enquanto estiver neste processo não fale, e procure não estar inquieto e ansioso.

Avaliar clinicamente um doente com hipertensão arterial é bem mais do que medir a sua pressão arterial ou ouvir as suas queixas e sintomas. A apreciação do doente, antes e depois do início do tratamento tem de procurar diagnosticar e identificar uma possível causa da doença, avaliar as suas repercussões nos órgãos sofredores pela subida persistente e mantida da pressão arterial (coração, cérebro, olhos, rins e vasos sanguíneos), e identificar e valorizar outros possíveis fatores de risco coexistentes (como a diabetes, tabagismo, aumento do colesterol plasmático, obesidade e antecedentes familiares da doença).

O tratamento da hipertensão arterial pretende, a curto prazo, reduzir e controlar a pressão arterial, de modo a contrariar, a médio prazo, a progressão da doença e a sua repercussão nos órgãos-alvo, assim como a melhorar, a longo prazo, a morbilidade e a mortalidade cardiovascular associada a esta doença.

É estrutural gerir a participação de todos num plano de saúde de prevenção cardiovascular. Os erros alimentares, o excesso de sal, os hábitos e comportamentos aditivos (hábitos tabágicos e a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas), o sedentarismo e a inatividade física, a obesidade e a má gestão do stress estão entre os principais fatores relacionados com a hipertensão arterial e o risco cardiovascular. É fundamental criar condições ambientais, económicas e sociais mais favoráveis à saúde e à escolha de comportamentos saudáveis, e favorecer a participação dos cidadãos na concepção e desenvolvimento de ações de prevenção. Finalmente, é obrigatório diagnosticar adequada e atempadamente a hipertensão arterial, e ao mesmo tempo usar racionalmente a melhor e a mais adequada terapêutica medicamentosa, tendo em conta a gravidade de cada situação e as especificidades de cada doente, estimulando, por todos os meios, uma resposta positiva ao tratamento e o enriquecimento da relação médico-doente. 

São vários os medicamentos (e os grupos farmacológicos) disponíveis e usados para baixarem a pressão arterial (medicamentos anti-hipertensores). Não há medicamentos perfeitos e não há qualquer razão para dizer que este ou aquele fármaco deve ser o preferido para iniciar o tratamento em todos os doentes. Cada doente é um doente. Mas temos a noção que, na larga maioria, vamos precisar de pelo menos dois fármacos em simultâneo (por exemplo, em associações fixas), para conseguir controlar ou baixar razoavelmente a pressão arterial elevada dos nossos doentes. É por isso que o tratamento farmacológico tem de ser individualizado. É também por isso que o tratamento é mais eficaz quando o médico conhece bem o doente e quando ambos, médico e doente, percebem a importância de comunicarem, de terem uma boa relação e de se comprometerem e de colaborarem no tratamento.

Não se esqueça: quem melhor conhece a sua doença, quem melhor aponta o que deve fazer é o seu médico. Ele é a sua melhor fonte de informação. Falem, relacionem-se, interatuem e confiem, pela sua Saúde!

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Dr. Pedro Marques da Silva - Internista e Coordenador do NEPRV

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Dados falsos
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ontem a realização de diligências de investigação no Hospital de Cascais no...

A informação sobre a realização de buscas ao Hospital de Cascais foi avançada esta segunda-feira pela SIC Notícias, que refere também ter havido buscas da PJ na sede do grupo Lusíadas. A Procuradoria-Geral da República confirmou, entretanto, “ a realização de diligências no âmbito de um inquérito dirigido pelo Ministério Público” para apurar denúncias que apontam para dados falseados no Hospital de Cascais.

A iniciativa surgiu na sequência de uma reportagem emitida pela SIC, na qual atuais e antigos funcionários denunciam casos de falseamento de dados em ficheiros de doentes e alterações no sistema da triagem na urgência para aumentar as receitas que são pagas à parceria público-privada.

Ouvidos pelo canal, antigos e atuais funcionários afirmaram que eram “impelidos a aligeirar sintomas ou o caso do doente, para que os algoritmos da triagem de Manchester dessem uma cor de pulseira verde em vez de amarela, por exemplo, para que os tempos máximos de espera não fossem ultrapassados”. Deste modo, o Hospital evitaria incorrer em penalizações financeiras por não cumprir os tempos de espera.

O Grupo Lusíadas, que gere o Hospital de Cascais, já veio negar o envolvimento da administração do Hospital em qualquer das situações relatadas, mas indicou que será feita uma análise, indicando que, a ter havido alguma das questões suscitadas, se deveria a comportamentos individuais de profissionais.

Quanto ao Hospital de Cascais, anunciou esta segunda-feira que vai “cooperar totalmente com a Inspeção-Geral das Atividade em Saúde (IGAS) e com a Polícia Judiciária”, no âmbito deste inquérito, avança o Eco.

 

 

Opinião
O médico de família é um gestor de recursos, compromete-se com a pessoa desde que a admite na sua li

A origem do médico de Família surgiu na década de 70.

Portugal fez história quando criou o Serviço Nacional de Saúde. Conseguiu obter uma cobertura assistencial de excelência no âmbito dos cuidados de saúde primários, com a atribuição do médico de família aos utentes.

Não podemos deixar de salientar a importância deste sistema de saúde, cujo protagonista foi o médico de família que teve o mérito de desenvolver uma assistência inovadora com a integração e continuidade de cuidados preventivos, antecipando atitudes que até aí não eram contempladas.

Conseguiu criar uma forte ligação na relação médico/utente mantendo sempre um papel preponderante ao nível do programa assistencial.

Inicialmente os médicos de família estavam integrados nos Centros de Saúde e atualmente exercem as suas atividades nas Unidades de Saúde Familiar.

O Médico de Família é um médico especialista, responsável pela prestação de cuidados de saúde, a todas as pessoas que carecem de cuidados médicos e que estejam integrados no sistema nacional de saúde.

É um clínico competente, bem diferenciado em todas as áreas, que acompanha os pacientes desde o nascimento até ao ciclo final da vida.

Presta assistência na saúde de forma personalizada e continuada, centrada na pessoa, integrada na sua família e na comunidade, estando habilitado a cuidar e a tratar os problemas de saúde mais frequentes que surgem na população em geral.

Tem como função resolver os problemas de saúde das pessoas que o procuram, seja qual for a faixa etária em que se encontrem.

Desde o início que assumiu um forte elo de ligação com o utente, construindo e alimentando uma relação de confiança médico/ utente imprescindível para o sucesso da adesão às medidas preventivas e de tratamento das doenças.

O médico de família é um gestor de recursos, compromete-se com a pessoa desde que a admite na sua lista de utentes, ficando desde então disponível para a tratar num contexto integrado quer seja na família ou na comunidade, devendo para isso conhecer todos os recursos existentes da comunidade (centros de dia, instituições de cuidados continuados, lares de terceira idade, infantários, casas de acolhimento).

Para além do seu trabalho clinico, o médico de família tem funções de orientação de formação de Internos e de investigação

Em suma, o Medico de Família é um pilar imprescindível no Sistema Nacional de Saúde, devendo ser assegurada a sua atribuição a todos os utentes, todavia muito há ainda a fazer a fazer sobretudo na criação de mais vagas uma vez que os dados obtidos em Abril de 2018 demonstraram que cerca de 740 mil cidadãos não tinham médico de família em Portugal.

Professora Antonieta Dias - especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital Lusíadas Porto

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Iniciativa
Arrancou ontem nas farmácias a quarta campanha “Dê Troco a Quem Precisa” promovida pelo Programa Abem: Rede Solidária do...

A Farmácia Algarve, em Lisboa, foi o local escolhido para o lançamento da iniciativa que, na última edição, permitiu angariar fundos para ajudar mais 474 pessoas. «Há portugueses que não conseguem pagar os medicamentos de que necessitam. O que estamos aqui a pedir é que, durante esta semana, os utentes das farmácias se lembrem dessas pessoas e doem o troco das suas compras», disse Maria de Belém Roseira.

A campanha Dê Troco a Quem Precisa está ativa em mais de 600 farmácias em todo o país e ilhas e conforme frisou a embaixadora do Abem, os donativos recolhidos serão integralmente aplicados na compra de medicamentos dos beneficiários do programa solidário. «Tudo o que as pessoas derem vai para o Fundo Solidário - autónomo, auditado e auditável. As contas são públicas e acessíveis através do nosso site, pelo que podemos todos ter a confiança e a segurança de que cada cêntimo doado será, única e exclusivamente, para pagar os medicamentos de quem, infelizmente, não o pode fazer».

Cerca de um em cada dez portugueses não tem hoje acesso aos medicamentos de que precisa. «O Abem presta hoje apoio a mais de nove mil beneficiários, mas estamos muito longe de cobrir as necessidades do país. Por isso apelamos à generosidades das pessoas. Contribuir para uma sociedade mais equilibrada e feliz não é responsabilidade dos outros, é de cada um de nós».

 

Congresso
A Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA) vai promover o Congresso Internacional da especialidade, de 27 a 29 de...

“O programa científico da iniciativa é composto por sessões plenárias de diferentes especialidades como a anestesiologista, diferentes especialidades cirúrgicas, enfermagem e gestão/administração, numa perspetiva educacional e interativa.” explica Carlos Magalhães, presidente da APCA, e acrescenta “Este congresso será uma excelente oportunidade para mostrar todo o bom trabalho que estamos a fazer na especialidade de cirurgia de ambulatório, em especial em Portugal. Será, também, um momento privilegiado para avaliarmos o impacto e crescimento da cirurgia ambulatória no nosso país e a nível mundial.”

O congresso abordará diversas temáticas que moldam a atualidade da cirurgia ambulatória, incluindo tópicos como as novas tendências cirúrgicas, anestésicas e tecnológicas. Para mais informações e inscrições: http://www.iaascongress2019.com.

A iniciativa conta com a participação de 210 abstracts em diversas temáticas e valências. O congresso destina-se a médicos das diferentes especialidades cirúrgicas, anestesiologistas, enfermeiros, administradores e gestores hospitalares.

Até ao momento, a iniciativa conta com representantes de 35 países: Albânia, Alemanha, Angola, Austrália, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Chile, China, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, Estónia, Finlândia, França, Holanda, Hungria, Índia, Inglaterra, Itália, Japão, Letónia, Moçambique, Nepal, Nigéria, Nova Zelândia, Portugal, República Checa, Rússia, Sérvia, Singapura, Suécia e Suíça.

Nos últimos anos, a cirurgia portuguesa em regime de ambulatório tem tido um desenvolvimento positivo. O principal fator de sucesso tem sido a sua multidisciplinaridade, envolvendo diferentes grupos profissionais, assim como a garantia de segurança e qualidade no tratamento dos doentes.

A Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA) tem como principal objetivo defender, promover e protagonizar o processo de evolução da cirurgia de ambulatório em Portugal. Para mais informação, consulte: http://www.apca.com.pt/

Iniciativa
A partir de hoje vai estar disponível uma nova plataforma digital desenvolvida pela Sociedade Ponto Verde, com conteúdos sobre...

Dirigida a crianças e jovens, dos três ciclos de escolaridade, e professores, a plataforma WWW.ACADEMIAPONTOVERDE.PT apresenta-se como uma importante ferramenta educativa, repleta de conteúdos interessantes e apelativos, que vão aumentar o grau de sensibilização ambiental dos alunos e, ao mesmo tempo, ajudar a gerar uma ação de cidadania para a reciclagem.

Nesta plataforma, os professores encontram todos os conteúdos necessários para leccionar uma aula sobre este tema ou desenvolver iniciativas, quer no recinto escolar, quer envolvendo alunos e comunidade local em prol da reciclagem das embalagens. Os alunos têm neste site conteúdos divertidos, em vídeo e quizz, para que possam facilmente apreender estes temas.

“A SPV acredita que os mais novos são importantes agentes da mudança na separação das embalagens e que ao chegar até eles de uma forma que os interesse e motive, damos um importante passo em direção a um futuro mais sustentável”, afirma a CEO da SPV, Ana Isabel Trigo Morais.

Para divulgar e promover a Academia Ponto Verde, a SPV vai percorrer 30 escolas de norte a sul do país com um Roadshow que irá desafiar alunos e professores a mudar os seus hábitos de reciclagem e tornar a sua escola mais sustentável.

 

Doença reumática autoimune rara
Já parou para pensar como é lutar todos os dias contra uma doença crónica, rara e incompreendida que

Na doença de Behçet, o sistema imunitário, que normalmente protege o corpo contra infeções, produzindo inflamações controladas, torna-se hiperativo e passa a produzir inflamações imprevisíveis, exageradas e não controladas. Estas inflamações podem afetar qualquer estrutura. Trata-se de uma vasculite sistémica, inflamação dos vasos sanguíneos de pequeno e grande calibre, de causa desconhecida e que possui maior incidência nos países que pertenciam à Rota da Seda. Não é contagiosa e caracteriza-se, principalmente, pelo aparecimento de úlceras orais e/ou genitais recorrentes, inflamação dos olhos (uveíte) e lesões na pele. Também pode afetar as articulações, todo o tipo de vasos sanguíneos, pulmões, sistema nervoso central e trato digestivo.

Sendo uma doença rara, o Núcleo da Doença de Behçet da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas assinala este Dia Mundial, dando voz a quem vive com este diagnóstico.

Mara, 51 anos, foi-lhe diagnosticada doença de Behçet em 2009. Nunca havia tido sinais até então. “O meu diagnóstico foi a pior prenda de natal que recebi. Um risco num olho, foi assim que começou. Como tinha um cão, imaginei que fosse um pelo. Sem irritação, sem comichão ou vermelhidão. Apenas um risco. Como incomodava, depois de um dia de trabalho fui à Urgência. Para ficar assustada, bastou uma carta lacrada e um encaminhar para o hospital a um determinado médico, oftalmologista. Com o aparelho nos olhos perguntou por aftas, por nódoas negras, por dores em sítios que nem imaginava pudessem doer. Passados dez anos, aprendi o que é uma vasculite, o que são tratamentos imunossupressores. Aprendi um linguajar técnico por procurar saber o que é essa doença e porquê ter-me escolhido a mim. Deixei de ter uma doença e passei a ter uma síndrome. A síndrome resume o que nós, pacientes e não doentes somos: uma constelação de incidências. Porque tomar banho custa. Usar peças de roupa, como meias ou cuecas, custa. Sapatos, dias há que choramos só de pensar. Dormir? Luxo! Luxo porque a pele, o maior órgão do corpo humano está recheado de veias e, pasmem, uma vasculite é o inflamar de todo o sistema circulatório. Conseguem imaginar? Imaginem chorar com um beijo dos vossos filhos. Imaginem agarrar um garfo a ranger os dentes. Tudo deve ser controlado. Imaginem só. Um risco num olho. Um conjunto de incidências. Porque não somos doentes. Nem pacientes. Porque dias há que não queremos ser raros apenas ter paciência para chegar ao fim do dia e pedir para que amanhã seja um outro dia. Melhor. Menos mau.”

Mariana, de 39 anos, lida há 24 anos com esta doença. Deixou quase de ver do olho esquerdo numa aula de matemática e foi às urgências. O médico disse que era grave, mas que não sabia o que era. Foi o princípio de um turbilhão que entrou na sua vida de adolescente. A partir desse dia a vida nunca mais foi a mesma. Vieram as aftas que mal a deixavam comer, as úlceras genitais, as lesões na pele e as dores nas articulações que a impediam de fazer desporto. Fez incontáveis exames e análises, tomou medicação agressiva para controlar as crises. Foram muitos sintomas ao mesmo tempo, mas no espaço de meses, surge o diagnóstico de Behçet.

Acompanhando tudo isto, as faltas às aulas, o afastamento da vida social, o ganho de peso, os problemas com a medicação, os internamentos e as crises constantes. A dor, a dificuldade em ver e a incerteza do futuro passou a fazer parte da sua vida e da vida da sua família.

O tempo foi passando, os sintomas também, uns mais ligeiros outros mais graves até ao surgimento de uma complicação neurológica que pode estar ou não ligada à doença. Mais um internamento e medicamento novos a juntar aos que já toma desde os quinze anos. Mais um susto, mais uma luta, mais um ano perdido na faculdade… No sistema nervoso central, o líquido que envolve o cérebro acumula-se e pressiona o nervo ótico e o cérebro (hipertensão intracraniana). As dores de cabeça duram meses, tonturas, vómitos, falta de visão… é necessário realizar exames invasivos, punções lombares, tomar medicação que tem muitos efeitos secundários. Mais uma vez, nada que não se ultrapasse. Apesar das sequelas ao nível da visão, com o tempo vai melhorando, com algumas crises agudas pelo meio. Até que numa consulta de oftalmologia se identifica um edema na pupila. Mais um internamento. O aumento da pressão intracraniana desta vez não melhora com medicação, só com uma cirurgia para colocar um shunt que drenasse o líquido através de um cateter para a cavidade abdominal. A primeira cirurgia falha, a segunda também… à terceira é de vez… não foi. Na quarta cirurgia fizeram uma abordagem diferente, desta vez colocaram uma válvula programável que drena o líquido diretamente do cérebro para o abdómen através de um cateter: resultou finalmente! Acordou, as dores diminuíram, a visão melhorou o possível com o passar do tempo. O susto passou; até ao próximo…

“Sinto que o Behçet faz parte de mim, sei que sem ele eu seria uma pessoa diferente, teria percorrido outros caminhos. Não me lembro o que é viver sem dor e receio do que virá no dia seguinte. Com isto não deixo de viver, de trabalhar, de viajar… nem que para isso tenha de desencantar forças sabe-se lá de onde. Quando todos os outros estão em baixo, muitas vezes sou eu a levantá-los e a empurrar o carro.“

Joana, 34 anos. Toda a vida teve sintomas, mas só foi diagnosticada com 21 anos. “Imagine aquele abacaxi docinho e sumarento a olhar para si, mesmo a pedir-lhe uma dentada que o vai saciar de prazer. Você trinca, saboreia e consola-se. E, no fim, aquela afta na ponta da língua vai aborrecer por cinco longos dias. Mas compensou pela frescura do abacaxi: não faltam produtos no mercado que acelerem o processo de cicatrização. Agora imagine que você não come o abacaxi. E que na verdade, até se abstém dos frutos secos, do açúcar, do pão, da manteiga, do vinho... e mesmo assim, tem aftas. Só que não é uma na ponta da língua. São vinte, são enormes e espalham-se pela boca toda. E pela garganta. E por todo o sistema digestivo. E, não raras vezes, nos genitais. Olhe...e até no olho! Agora imagine que esta não é a pior parte. Imagine que o corpo dói e não sabe porquê. Portanto, não consegue evitar as dores com prevenção. Decide ir ao médico e diz que o corpo lhe dói. O médico responde-lhe que descanse. Você descansa e as dores persistem. Vai ao médico que prescreve análises. Os resultados são vagos. «Pode ser tanta coisa...» E durante todo este processo, a vida continua. Você tem de sair todos os dias da cama para ir trabalhar, para tratar dos filhos, para lidar com os mesmíssimos problemas do dia-a-dia que a pessoa da afta do abacaxi. E quando deita a cabeça em cima do braço e se queixa de dores, ninguém acredita. Porque, por vergonha ou por pudor, você não vai mostrar as crateras que tem na parte interior da bochecha. Ou da vagina. E ninguém sabe que as suas articulações estão inflamadas, nem que você não dorme há dias por não arranjar uma posição confortável que lhe permita descansar. Quando, finalmente, o médico confirma o diagnóstico, procura acertar-se a medicação. Somos todos diferentes. Temos sintomas diferentes. É que as síndromes são tão peculiares que não afetam todos da mesma forma. E, no entanto, nascemos todos com ela. Não adquirimos. Não prevemos. Não prevenimos. Somos assim. E a medicação provoca insónias, diarreias, mau estar, excesso de peso, anorexia e já nem sabe se está melhor com a medicação ou sem ela. Ter Doença de Behçet é desejar ter uma pequenina afta na ponta da língua por termos comido uma fatia de abacaxi fresquinha naquele dia de calor. É assim que se sente quem sofre com a Doença de Behçet: raríssimo. E quem é raro, normalmente está só.”

Foi por estas pessoas, de nomes fictícios, mas com histórias reais de quem vive com uma doença reumática autoimune rara, pouco conhecida e ainda menos compreendida, que foi constituído o Núcleo de Behçet da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.

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Entrevista
Atingem cerca de 20 mil portugueses.

Em Portugal, estima-se que cerca de 20 mil pessoas vivam com doença inflamatória do intestino. Um número com tendência a aumentar. No entanto, são muitos ainda aqueles que desconhecem que patologias são estas. Neste sentido, pergunto o que são as doenças inflamatórias do intestino e quais os principais sintomas?

Tal como o nome indica, as doenças inflamatórias do intestino representam doenças crónicas com envolvimento primário do tubo digestivo. São representadas por 2 entidades principais: a Doença de Crohn e a Colite Ulcerosa. Embora ainda se desconheça as suas causas, admite-se existir uma interação entre fatores ambientes e genéticos resultando numa resposta imunológica inadequada com inflamação do intestino. Apesar da Doença de Crohn e Colite Ulcerosa serem doenças distintas, por vezes existe uma sobreposição de sintomas. As manifestações clínicas mais frequentes incluem perda de peso não explicada, febre recorrente, dor abdominal, diarreia crónica (com ou sem sangue) e perdas de sangue pelo ânus. Ocasionalmente, a primeira apresentação poderá ser representa por queixas perianais (fístulas e abcessos) e outras manifestações extraintestinais incluindo atraso do crescimento (crianças), anemia, queixas articulares, aftas orais recorrentes e alterações dermatológicas.

O que distingue a Doença de Crohn da Colite Ulcerosa? Qual a que apresenta um pior prognóstico?

Embora sejam frequentemente agrupadas, falamos de doenças com apresentação, evolução e tratamento distintos.

A Colite Ulcerosa envolve primariamente o intestino grosso, dependendo as suas manifestações clínicas da extensão de envolvimento do mesmo. Enquanto as formas mais distais (i.e. envolvendo apenas o reto) poderão manifestar-se através de perdas de sangue pelo ânus, formas mais extensas poderão manifestar-se por diarreia (com ou sem sangue), dor abdominal, febre e perda de peso.

A Doença de Crohn pode envolver qualquer segmento do tubo digestivo da boca até ao ânus, sendo que em 2/3 dos doentes verifica-se um envolvimento do segmento mais distal do intestino delgado. As manifestações clínicas poderão incluir diarreia (habitualmente sem sangue), dor abdominal, febre e perda de peso. Até 1/3 dos doentes poderá apresentar envolvimento perianal com aparecimento de fístulas perianais, abcessos ou fissuras anais recorrentes. Infelizmente, alguns doentes apresentam uma dissociação entre os sintomas e o grau de inflamação intestinal, motivo pelo qual a ausência de sintomas não significa necessariamente a ausência de atividade da doença.

O prognóstico destas doenças é bastante variável, sendo condicionado por múltiplos fatores. Os doentes apresentam uma esperança de vida igual à da população em geral. Contudo, especialmente se não tratadas, as doenças inflamatórias do intestino podem condicionar e limitar de forma significativa a qualidade de vida dos doentes. Apesar de nos últimos anos se ter assistido a uma evolução considerável nos tratamentos farmacológicos, a necessidade de cirurgia continua a ser uma realidade numa percentagem significativa de doentes: entre 10-15% dos doentes com Colite Ulcerosa e formas refratárias de doença poderão necessitar de cirurgia. No caso da Doença de Crohn, até 50% dos doentes poderão necessitar de pelo menos uma cirurgia nos primeiros 10 anos após o diagnóstico.

Apesar de as causas não serem conhecidas, que fatores podem desencadear a doença?

Uma das associações ambientais mais bem estabelecidas com as Doenças Inflamatórias Intestinais inclui o consumo de tabaco. Na Doença de Crohn, o tabagismo associa-se a uma evolução mais agressiva da doença com menor resposta aos tratamentos, maior número e gravidade das crises, maior probabilidade de cirurgia e maior probabilidade de recidiva após a cirurgia. Deste modo, todos os doentes deverão ser aconselhados a deixar de fumar.

No caso da Colite Ulcerosa, parece existir alguma evidência de uma associação inversa. Contudo, dado que existe um risco acrescido de fenómenos trombóticos venosos e arteriais, além dos riscos oncológicos e respiratórios já conhecidos associados ao tabaco, deverá ser igualmente recomendada a sua suspensão. Não existe evidência de um papel do tabaco no tratamento da Colite Ulcerosa, nem evidência que suporte a utilização de métodos alternativos de consumo de nicotina.

Além do tabaco, as análises de estudos populacionais publicados sugerem uma associação entre recidivas da doença e o consumo de anti-inflamatórios não esteroides (embora provavelmente seguros durante curtos períodos). Reconhecem-se outras associações menos estabelecidas com a utilização de contracetivos orais e com a realização prévia de apendicectomia.

Alguns especialistas associam-na a algumas doenças de carácter autoimune, por exemplo. Qual a relação?

Sabemos que existe um componente genético associado a estas doenças, com múltiplos genes de suscetibilidade já identificados e resultando em processos de desregulação imunológica. Estes genes de suscetibilidade são comuns a muitas outras patologias autoimunes. Por este motivo, não é incomum verificar-se a coexistência de mais do que uma doença autoimune no mesmo doente.

Quais as faixas etárias mais atingidas pela Doença Inflamatória Intestinal? E a partir de que idade podem surgir os primeiros sintomas?

Trata-se de uma patologia que pode afetar pessoas de todas as idades. Contudo, por norma verifica-se um pico de incidência mais elevado entre os 15 e os 30 anos e um menor entre os 50-70 anos. Como anteriormente referido, por vezes os sintomas podem ser menos exuberantes ou apresentar pouca especificidade. Deste facto resulta que, muitas vezes, os sintomas são mal interpretados ou desvalorizados resultando num atraso significativo entre a sua apresentação e o diagnóstico.

Considerando as suas manifestações clínicas, e sabendo que podem ocorrer alguns sintomas que não se relacionam diretamente com o intestino (como a inflamação das articulações), com que outras patologias podem ser confundidas?

Embora algumas apresentações clínicas mais exuberantes possam aumentar o grau de suspeita clínica resultando num diagnóstico precoce, em muitos casos os sintomas podem ser inespecíficos resultando em atrasos consideráveis até ao diagnóstico.

Refira-se como exemplo sintomas gastrointestinais como a dor abdominal, diarreia e obstipação, habitualmente encontrados na população geral.

Relativamente ao diagnóstico diferencial, este deverá ser adaptado à faixa etária e história clínica prévia do doente. Enquanto algumas patologias são comuns ao longo da vida (síndrome do intestino irritável, gastroenterites, patologias do foro proctológico, hemorroidas, fissuras), importa excluir na população mais jovem outras patologias imunomediadas como a doença celíaca e imunodeficiências primárias. Nas faixas etárias mais avançadas, é importante excluir o cancro do cólon.

Por fim, embora menos frequente, alguns doentes poderão ser diagnosticados no seguimento da investigação de quadros extraintestinais (ex. anemia, aftas orais recorrentes, patologia do foro articular).

Como é feito o seu diagnóstico? Que exames são necessários para confirmar a doença?

Atualmente não dispomos de um teste de rastreio para estas doenças. Por outro lado, dado que algumas doenças podem apresentar-se de forma semelhante às doenças inflamatórias do intestino (ex. gastroenterites), o diagnóstico passa pela interpretação em conjunto de vários exames de diagnóstico incluindo análises ao sangue e fezes, exames radiológicos (ex. TAC/Ressonância magnética/Ecografia) e pela realização de colonoscopia com exame histológico.

Em que consiste o tratamento? E em que casos é considerada a cirurgia?

Embora se reconheça uma percentagem muito reduzida de doentes com formas muito ligeiras da doença ou importantes comorbilidades que justifiquem a não introdução de um tratamento farmacológico, o carácter progressivo e potencialmente debilitante destas doenças implica geralmente a realização de tratamento. Este tratamento deverá ser individualizado, de acordo com a idade, sexo, história clínica prévia e características próprias da doença (localização, extensão e gravidade).

O tratamento inclui duas fases: a indução (de modo a controlar a doença e atingir a remissão dos sintomas) e a manutenção (de modo a prevenir o ressurgimento de sintomas ou atividade da doença).

Referindo-se como exceção algumas formas de Colite Ulcerosa que poderão ser tratados com formas orais ou tópicas (supositórios/enemas) de aminossalicilatos, as terapêuticas farmacológicas incluem geralmente a utilização de fármacos imunossupressores (orais, subcutâneos ou endovenosos). Embora não sejam desprovidos de potenciais efeitos secundários, estes fármacos são habitualmente bem tolerados e traduzem-se em importantes melhorias na qualidade de vida dos doentes. Casos pontuais poderão ser manejados através da utilização de antibióticos. Como referido anteriormente, a cirurgia poderá ser necessária durante a evolução da Doença.

No caso da Doença de Crohn, o tratamento cirúrgico envolve a resseção de segmentos curtos de intestino delgado/cólon, encontrando-se recomendado em formas complicadas da doença incluindo o tratamento de estenoses (apertos do intestino), abcessos e fístulas. Em doentes com envolvimento perianal, a cirurgia poderá ser necessária para drenagem de abcessos e fístulas com ou sem colocação de dispositivos de drenagem (i.e. sedânios). Em casos pontuais poderá ser necessária a realização de cirurgia para controlo da doença refratária ao tratamento médico.

Na Colite Ulcerosa, a cirurgia encontra-se habitualmente reservada para as formas mais graves da doença, em que não se verifica resposta ao tratamento médico ou no contexto de complicações específicas (hemorragia, perfuração, neoplasia). Refira-se que a cirurgia na Colite Ulcerosa envolve a receção de todo o intestino grosso, não sendo, contudo, curativo da doença.

Quais as principais complicações da doença? E, neste sentido, quais os principais cuidados a ter após o diagnóstico?

É importante percebermos que um processo inflamatório não controlado resulta em alterações estruturais e funcionais importantes em qualquer órgão. No caso da Doença de Crohn, falamos do desenvolvimento de estenoses e fístulas condicionando quadro de suboclusão (obstrução do intestino) e infeção, respetivamente, resultando irremediavelmente em cirurgia. Ao longo do tempo a resseção de segmentos de intestino poderá resultar num intestino curto, resultando em quadros graves de mal absorção associados. Refira-se ainda que, mal controlada, a doença pode associar-se associada a um aumento do risco de osteoporose e de eventos trombóticos arteriais e venosos. Nas doenças envolvendo predominantemente o intestino grosso (i.e. Colite Ulcerosa), verifica-se igualmente um aumento do risco de cancro do cólon (sendo este mais evidente em formas de doença não controlada), pelo que deverão ser adotadas estratégias específicas de vigilância por colonoscopia. Como é percetível, todas estas situações diminuem de forma significativa a qualidade de vida dos doentes.

Neste sentido, é importante que, após estabelecido o diagnóstico, seja realizada uma estratificação do risco da doença e do plano terapêutico. Esta passará inicialmente pela tentativa de indução rápida de remissão e posteriormente da manutenção desta remissão.

Qual a importância da alimentação para o bom prognóstico da doença? Existem restrições alimentares para estes doentes?

Recomenda-se que os doentes adotem um estilo de vida e alimentação saudáveis. Atualmente, não dispomos de evidência suficiente para recomendar um tipo específico de dieta como terapêutica para as doenças inflamatórias do Intestino. Contudo, poderão ser necessários alguns ajustes alimentares em casos selecionados com doença estenosante ou após cirurgia. Dada a sua complexidade, estas decisões deverão ser tomadas de forma multidisciplinar (médico e dietista). Existe ainda alguma evidência, em idade pediátrica, para a utilização de terapêutica à base de nutrição para induzir a remissão da doença (mas não para a sua manutenção). Mais uma vez, dada a complexidade destes procedimentos, estas estratégias deverão ser consideradas apenas após decisão multidisciplinar.

Finalmente, importa perceber que não existe qualquer evidência associando um tipo específico de alimento e o desenvolvimento ou progressão da doença. Por este motivo, a exclusão de alimentos como forma de terapêutica destas doenças não pode atualmente ser recomendada.

Que outros hábitos de vida podem condicionar o tratamento da doença?

Os doentes deverão almejar por manter hábitos de vida saudáveis (exercício físico e alimentação). Reforça-se, mais uma vez, a importância da suspensão dos hábitos tabágicos em todos os doentes.

 Quais os principais mitos associados à doença inflamatória do intestino?

 Salientam-se alguns:

Alimentação - Existe frequentemente a perceção de que, ao atingir o intestino, a doença resulta de maus hábitos alimentares, motivo pelo que o seu tratamento deveria também passar pela evicção ou consumos de alimentos específicos. Como anteriormente referido, a evidência clínica de que dispomos atualmente não suporta estas afirmações.

Gravidez – A doença inflamatória intestinal, controlada, não se associa a um aumento dos riscos maternos (aborto) e para a criança (malformações, prematuridade, baixo peso à nascença). Embora com algumas exceções, os tratamentos para as doenças inflamatórias do intestino são seguros e deverão ser continuados durante a gravidez e aleitamento.

Transmissão genética - como referido anteriormente, reconhecem-se múltiplos genes de suscetibilidade associados ao desenvolvimento das doenças inflamatórias do intestino. Por este motivo, é relativamente frequente os doentes apresentarem um familiar com o mesmo tipo de doença. Contudo, a transmissão genética não se segue os princípios Mendelianos, i.e. não se transmite linearmente de pais para filhos.

No âmbito do Dia Mundial da Doença Inflamatória do Intestino, que mensagem gostaria de deixar?

As doenças inflamatórias do intestino representam patologias crónicas e progressivas podendo condicionar de forma significativa a qualidade dos doentes que delas padecem.

Embora atualmente não nos seja possível prevenir ou curar estas doenças, dispomos de tratamentos eficazes e com um bom perfil de segurança. Evidência científica crescente demonstra que a utilização precoce destas terapêuticas se traduz numa alteração da história natural da doença, reduzindo de modo significativo a necessidade de terapêuticas de resgate, recidivas clínicas, da necessidade de internamento hospitalar e cirurgia.

Neste sentido, reforça-se a necessidade de diagnosticar, referenciar e tratar rapidamente estas doenças.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Estudo
Em Portugal, a dor crónica afeta cerca de 34% dos indivíduos nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e, em média, o diagnóstico...

Estas são algumas das principais conclusões do estudo “Chronic Pain Care - Prevalência e Caraterização da Dor Crónica nos Cuidados de Saúde Primários”, um estudo pioneiro que envolveu 8480 doentes e 58 unidades de saúde, em Portugal Continental. Promovido pela Grünenthal Portugal, o estudo foi levado a cabo por profissionais de saúde em contexto de consulta nas unidades de saúde familiar das Administrações Regionais de Saúde (ARS) do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo.

Os dados obtidos revelam que a prevalência da dor crónica é elevada e que a maioria dos médicos e dos doentes (mais de 60%) não tem uma expectativa temporal quanto à resolução da dor. Este estudo demonstra ainda o elevado impacto desta doença na qualidade de vida dos doentes. As principais dificuldades referidas são a dor/desconforto (92%), a realização de tarefas quotidianas (74%), ansiedade e depressão (69%), dificuldade na mobilidade (67%) e na realização de cuidados de higiene (43%).

A patologia mais frequente entre os doentes caracterizados é a lombalgia, seguindo-se de dor nos membros inferiores (66%), e nos membros superiores – ombros (33%) e região cervical (33%). Ainda, 95% dos doentes com dor crónica apresentam outras comorbilidades crónicas associadas, nomeadamente, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (72%), doenças do sistema circulatório (64%) e do sistema musculoesquelético e ligamentos (43%).

“Este estudo mostra-nos o quão urgente e necessário é criar práticas estandardizadas de avaliação da dor crónica e apostar, cada vez mais, na formação médica, com o objetivo de alcançar uma avaliação, diagnóstico, tratamento e controlo da dor crónica cada vez mais efetivos e eficazes”, afirma Filipe Antunes, Assistente Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação, Coordenador da Unidade de Dor Crónica do Hospital de Braga e coordenador do estudo.

O especialista acrescenta ainda que “a avaliação da dor deve ser encarada como uma prioridade nos cuidados de saúde e avaliada de forma rotineira, à semelhança do que acontece com a avaliação da temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência respiratória e da tensão arterial”.

O estudo “Chronic Pain Care” foi realizado ao longo de um ano, tendo o último doente sido recrutado em novembro de 2018. Trata-se de um estudo epidemiológico, observacional, multicêntrico e transversal. O objetivo primário do projeto foi avaliar a prevalência da dor crónica nos Cuidados de Saúde Primários em Portugal Continental. A par destes dados foi ainda possível explorar as características demográficas dos doentes, caracterizar a dor crónica e avaliar o impacto desta patologia na qualidade de vida dos doentes.

Tratamento
A obesidade é uma doença crónica que acomete mais de 600 milhões de pessoas no mundo.

É uma doença de instalação lenta, insidiosa, provocando danos muitas vezes irreparáveis a nível físico, psicológico e social. Este conjunto de  consequências condizem a uma diminuição do tempo médio e da qualidade de vida.

Tanto Hipócrates como Galeno, seu discípulo, a descreveram na Grécia Antiga como uma condição doentia, decorrente da falta de disciplina e de carácter. Infelizmente, ainda hoje é vista desta forma por uma larga faixa da população. Esta noção errónea, em conjunto com a imposição de um estereótipo de corpo belo, perfeito e saudável, acarreta muitos desajustes sociais para os portadores de obesidade. Estes são marginalizados, discriminados, estigmatizados e vítimas de preconceito. O componente de exclusão e social da doença obesidade é muito forte.

A obesidade foi “reconhecida como doença” pela Organização Mundial da Saúde em 1997 e definida com recurso ao índice de massa corporal (IMC), no fundo dependente do peso do doente, como fator preditivo do risco de morbimortalidade (tabela 1). Ou seja, o aparecimento de doenças secundárias consequência da obesidade é tanto mais elevado quanto mais alto é o IMC. Nesta classificação, a obesidade de grau III é conhecida como obesidade mórbida.


Tabela 1

Este parâmetro é fácil de usar, basta dividir o peso pelo quadrado da altura, mas não se mostra muitas vezes ajustado. Obesidade consiste na existência de uma quantidade de gordura superior ao normal e o IMC apenas reflete esse outro parâmetro. Para dosear a quantidade de gordura devemos recorrer a um exame chamado análise da composição corporal ou bioimpedância que mede, de forma mais ou menos exigente de acordo com o aparelho usado, a dimensão dos principais compartimentos corporais: a água, a massa magra e a massa gorda.

Resultado disto é que os jogadores de futebol americano apresentam muitas  vezes IMC acima de 40 Kg/m2 e não têm obesidade mas simplesmente uma “enorme” massa  muscular. Em contrapartida as populações asiáticas, cuja composição corporal é diferente e mais rica em gordura, podem ter excesso de gordura e obesidade com um IMC normal.

Em Portugal 57% da população tinha, em 2017, excesso de peso ou obesidade (Retrato da Saúde – Portugal, 2018). A prevalência da obesidade era  de 28,7%, sendo o valor ligeiramente mais elevado (32,1%) nas mulheres. A obesidade  mórbida deverá rondar os 3% da população geral.

O tratamento da obesidade tem uma estrutura piramidal cuja base consiste na modificação de hábitos de vida, implementando uma alimentação mais correta e uma prática de atividade física regular. Este esforço pode ser individual ou enquadrado num acompanhamento especializado por equipas da área do tratamento das doenças metabólicas (obesidade, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, hiperuricemia, apneia do sono e outras).

No patamar seguinte surge o tratamento farmacológico, ainda no seio dessas equipas. Existem hoje disponíveis no mercado alguns medicamentos que ajudam a perder, ou pelo menos controlar o peso. Também aqui, mais uma vez, o obeso é discriminado pelo próprio estado que reconhece a obesidade mas não comparticipa, e tão pouco regula, o uso dos medicamentos que podem minorar o sofrimento associado à doença. Desta forma e em virtude de preços  acessíveis a muito poucos, os obesos não usam os medicamentos adequados, prescritos por médicos competentes na patologia, recorrendo a uma plêiade de produtos comerciais de custos afinal também elevados e de resultados nulos.

O patamar de tratamento seguinte é a cirurgia de obesidade, consensualmente o melhor tratamento, deve ser igualmente praticada no seio de equipas multidisciplinares que estudam os doentes de forma a definir o melhor plano individual de tratamento e o suportam, durante o processo de pré e pós operatório. São envolvidos nestas equipas endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, fisiologistas e cirurgiões. As cirurgias são feitas por métodos mini-invasiva, com tempo de internamento curto e recuperação rápida para as atividades sociais. São hoje praticadas técnicas mais modernas caracterizadas por serem extremamente seguras e com muito poucas complicações se praticadas por cirurgiões (metabólicos) e equipas também eles necessariamente especializados nessa prática. Elas cumprem a sua função de forma  rápida e muito significativa, sendo a perda de peso e o controle das doenças associadas duráveis no tempo. Estes doentes necessitam monitorização e acompanhamento a longo prazo pela sua mesma equipa em virtude de estarmos perante uma doença crónica.

Cabe aqui ressaltar que a cirurgia é apenas uma ferramenta, que proporcionará a remissão das múltiplas doenças associadas, a melhora da qualidade de vida e a redução de peso corporal. A cirurgia bariátrica e metabólica, não é um tratamento estético, psiquiátrico e psicológico. Dessa forma, a expectativa da equipa e do paciente deve ser a mesma, e os objetivos do tratamento são trabalhados e consensualizados no período pré operatório.

Ainda no pré-operatório são feitas as avaliações pelos profissionais das ciências aliadas, obrigatórias segundo as normas da Direção Geral de Saúde. A partir destas, podemos constatar se a pessoa apresenta condições mínimas e básicas para realizar o todo o processo do tratamento cirúrgico.  Demonstrar consciência, capacidade de reflexão, autodeterminação, compreensão e adesão às regras do tratamento são critérios essenciais.

No fundo o doente com obesidade deve ter suficiente responsabilidade pelo cuidado com a própria vida,  respeitar a sua saúde e defender o seu envolvimento saudável com o tecido social.

O sucesso cirúrgico requer da mesma forma mudanças comportamentais significativas e depende grandemente da capacidade do paciente para implementar mudanças permanentes do seu estilo de vida, assim como a construção de uma nova relação com a alimentação.  É um processo longo, demorado e de difícil aprendizagem.  Sabemos que o padrão alimentar inadequado pode persistir após a cirurgia, ou seja o procedimento cirúrgico reduz a fome fisiológica e a capacidade gástrica para a ingestão dos alimentos, mas é possível que o padrão alimentar prévio permaneça.

Diante do exposto, ressalta a importância do acompanhamento pré e pós operatório com profissionais especialistas na área: cirurgião bariátrico, endocrinologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, fisiologista.

O entendimento mais moderno para o controle da doença passa pela criação das referidas equipas mas com o objetivo mais abrangente de tratar a obesidade nos seus diferentes escalões, usando todos os patamares do tratamento, recorrendo a combinação de técnicas várias sempre que necessário. Uma doença crónica não tem uma solução única e fácil mas uma sequência de cuidados que garantam o alívio do sofrimento com a doença e a diminuição do impacto das doenças associadas e suas sequelas.

A obesidade não têm cura tem tratamento!

Dr. Rui Ribeiro
Coordenador da Unidade de Cirurgia Geral e do Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica da CLISA -  Lusíadas
Membro do Comité de Comunicação e Desenvolvimento da IFSO-EC

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Falta de médicos
Os médicos anestesistas do Hospital Fernando Fonseca deram hoje início ao primeiro dos cinco dias greve convocados para exigir...

A greve, que termina às 20:00 de sexta-feira, visa reivindicar que a equipa de urgência tenha quatro especialistas para garantir a segurança clínica nas áreas de bloco operatório, bloco de partos, unidade de cuidados pós-anestésicos, reanimação intra-hospitalar e atividades fora do bloco operatório (como salas de TAC ou laboratório de hemodinâmica). O protesto foi convocado pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e o Sindicato dos Médicos da Zona Sul.

“Os médicos anestesistas do Hospital Amadora-Sintra há vários anos que têm chamado a atenção para a séria e grave limitação de anestesistas por excesso de trabalho sem qualquer tipo de resposta por parte do Ministério da Saúde ou mesmo do Conselho de Administração” do hospital, disse o secretário-geral do SIM, Roque da Cunha.

Embora se encontrem em greve, estão “assegurados os serviços mínimos com escalas dos serviços de urgência, lavrados pelos sindicatos, que vão ter mais médicos do que aqueles que ocorrem hoje nos serviços normais”, disse o sindicalista que espera que o "Ministério da Saúde acorde e que resolva o problema".

De acordo com Roque da Cunha, são necessários “mais especialistas e é preciso um plano para que, quando ocorrem situações de excesso de procura, num hospital com cerca de 120 mil utentes sem médico, onde os anestesistas têm um bloco operatório, bloco de partos, têm imensos exames (TAC, colonoscopias e endoscopias), não se conte” com “a exaustão dos responsáveis” do serviço da anestesia.

O sindicalista defendeu ainda que “é fundamental” que as escalas sejam organizadas e que “haja cumprimento dos descansos, porque só dessa forma é que é possível que os médicos ali continuem, porque são muito desejados por parte de outros hospitais”.

Em comunicado, os sindicatos já tinham feito saber que as escalas de urgência abaixo dos mínimos põem em causa a segurança dos doentes e dos profissionais, tendo esta situação sido denunciada por parte dos médicos

“A grande maioria dos anestesiologistas já ultrapassou ou está quase a ultrapassar os limites máximos de trabalho suplementar anual de 150 horas. Os médicos fazem e continuam a fazer milhares de horas extra por ano para os serviços não fecharem”, alertam.

Inspeção
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) acaba de publicar os resultados da ação inspetiva socilitada pela Ordem dos...

A ação inspetiva foi solicitada em outubro de 2017 pela Ordem dos Nutricionistas com o objetivo de verificar o cumprimento do despacho que limita produtos prejudiciais à saúde nas máquinas de venda automática do SNS.
 
Os resultados revelam que apesar da apreciação satisfatória da conformidade do conteúdo destas máquinas, a maioria dos equipamentos não inclui grande parte dos alimentos que são recomendados. Com uma oferta reduzida e pouco diversificada, verifica-se que nenhuma das máquinas dos estabelecimentos hospitalares inspecionados disponibiliza fruta fresca.
 
“Verificamos, com satisfação, que o primeiro desafio foi vencido. Houve alteração na oferta alimentar e o resultado é satisfatório. Agora falta trabalhar para atingir a excelência, que é contribuir, por um lado, para que o SNS disponibilize uma vasta variedade de produtos alimentares saudáveis, e por outro, para que os portugueses adotem hábitos alimentares mais equilibrados”, afirma Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas.
 
“Se trabalharmos desde cedo em programas de educação e literacia alimentar, para uma criança um palito de cenoura poderá ser tão apelativo quanto uma batata frita. Estou certa de que, nessa altura, as instituições vão, de forma mais convicta, disponibilizar uma oferta alimentar mais saudável”, sustenta a Batonária.
 
As ações inspetivas foram realizadas por uma equipa da IGAS com participação de peritos nutricionistas, em resultado da articulação institucional com a Ordem dos Nutricionistas, em mais de duas centenas de máquinas de venda automáticas de 10 estabelecimentos hospitalares, designadamente o Hospital Distrital de Santarém; o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; o Instituto Português de Oncologia de Coimbra; o Hospital Distrital Figueira da Foz; o Instituto Português de Oncologia do Porto; o Centro Hospitalar Baixo Vouga; o Hospital de Braga – Escala Braga;  o Hospital Santa Maria Maior; o Hospital Garcia de Orta; e o Centro Hospitalar Lisboa Ocidental.
 
A legislação que impede a venda de produtos prejudiciais à saúde nas máquinas de venda automática do SNS entrou em vigor em setembro de 2016 (Despacho n.º 7516-A/2016), tendo o governo fixado março de 2017 como prazo limite para que bebidas alcoólicas, refrigerantes, doces, salgados, refeições rápidas e/ou com molhos fossem retiradas destes equipamentos.
 Recorde-se que em junho de 2018 a Ordem dos Nutricionistas solicitou também à IGAS uma outra ação inspetiva aos bares, cafetarias e bufetes do SNS com a intenção de verificar o cumprimento do despacho que limita a disponibilização de produtos com altos teores de sal, açúcar e gorduras nestes locais (Despacho n.º 11391/2017), estando ainda a aguardar a sua realização.  
 
A IGAS é o serviço central da administração direta do Estado que assegura o cumprimento de leis em todos os domínios da prestação dos cuidados de saúde, quer pelos organismos do Ministério da Saúde ou por este tutelados, quer ainda pelas entidades privadas, pessoas singulares ou coletivas, com ou sem fins lucrativos.

Concurso
Estão disponíveis 1264 lugares, no primeiro concurso da época de 2019, para médicos que acabaram agora a especialidade.

Foi publicado em Diário da República e conta com um número recorde de vagas, de acordo com um comunicado do governo divulgado hoje. O concurso público abre 398 vagas para médicos de família, 13 na área da saúde pública e 853 na área hospitalar, com o objetivo de reforçar os diversos serviços e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde com profissionais altamente qualificados.

Das 853 vagas previstas para a área hospitalar, contabilizam-se 159 para especialidades de medicina interna, 59 em anestesiologia, 51 em pediatria, 56 em psiquiatria, 35 em cardiologia, 63 em cirurgia geral e 37 em ortopedia.

O despacho explica que “com exceção dos procedimentos destinados ao preenchimento de postos de trabalho que requeiram a posse de um perfil específico, cujo desenvolvimento é da competência das Administrações Regionais de Saúde, estão já abertos os concursos para preenchimento dos postos de trabalho identificados, podendo os médicos interessados apresentar a sua candidatura pelo período de cinco dias úteis a partir de hoje”.

Sendo que “podem candidatar-se ao concurso os médicos detentores do grau de especialista na área profissional correspondente e que não detenham uma relação jurídica de emprego por tempo indeterminado com o Estado”.

 

Doença silenciosa
Só em Portugal existem cerca de dois milhões de hipertensos, de acordo com os dados do Programa Naci
Hipertensão arterial

Como surge a hipertensão:

A circulação do sangue, que tem por destino chegar a todos os tecidos e células do organismo, implica que haja alguma pressão sobre as paredes das artérias. Esta pressão, que é normal e até essencial para que o sangue atinja o seu destino, é a chamada “tensão arterial”.

Existem, no entanto, uma série de fatores de ordem genética ou ambiental que podem fazer com que esta pressão sobre as paredes das artérias aumente em excesso e se crie um cenário de hipertensão.

Neste cenário de hipertensão, o coração tem de se esforçar mais para fazer o sangue circular. Nestes casos, o esforço pode levar a que a massa muscular do coração aumente, fazendo com que o volume do coração se torne maior — a chamada hipertrofia cardíaca.

Numa primeira fase, o aumento muscular cardíaco não representa qualquer problema. Contudo, com o passar do tempo, esta hipertrofia pode levar a insuficiência cardíaca, angina de peito ou arritmia.

Para além disso, esse aumento da pressão nas paredes dos vasos sanguíneos provoca a deterioração das paredes das artérias , o que aumenta o risco de aterosclerose e trombose (formação de coágulos). Nos casos mais graves, podem até levar à formação de aneurismas e hemorragias cerebrais, devido ao enfraquecimento das paredes das artérias.

Embora os valores de pressão arterial considerados suficientemente altos para justificarem a toma de medicamentos dependam de pessoa para pessoa, valores superiores a 140/90 mmHg são sempre considerados elevados, independentemente da idade e de outras doenças de que um indivíduo sofra.

Causas de Hipertensão:

A hipertensão pode ser causada por doenças renais, doenças endócrinas ou pela toma de alguns fármacos como os anticoncetivos orais. Mas em 95% dos casos a hipertensão não tem uma causa evidente.

No entanto, certas situações podem contribuir para um aumento da pressão arterial: como o envelhecimento; obesidade; diabetes; ingestão elevada de sal e stress emocional.

A hipertensão arterial geralmente não tem sintomas, mas podem existir alguns sinais de alarme como tonturas, hemorragias nasais ou dores de cabeça repetidas e intensas. Assim sendo, é muito importante o controlo dos níveis da pressão arterial com regularidade. 

Para que a medição seja o mais correta possível: faça-a de forma relaxada, e em repouso; não fume antes da medição; não tome café ou chá, antes da medição e não esteja com a bexiga cheia.

Medidas não farmacológicas:

Está provado que mudar alguns hábitos de vida é muitas vezes suficiente para baixar os níveis da pressão arterial.

A prática de uma atividade física regular consegue, em muitos casos, uma descida significativa dos níveis da tensão. Para tal devem realizar-se exercícios que compreendam movimentos cíclicos (como a natação, a marcha, a corrida ou a dança) e evitar esforços físicos bruscos (por exemplo, levantar pesos ou empurrar objetos pesados) que aumentam a pressão arterial durante o esforço.

Para um melhor controlo tensional deve também deixar de se utilizar sal de mesa e substituí-lo por condimentos alternativos, como ervas aromáticas ou sumo de limão. Evitar também todos os alimentos naturalmente salgados ou aos quais tenha sido adicionado sal durante a sua preparação: caso dos enchidos, enlatados, comidas pré-preparadas, aperitivos ou águas minerais com gás. 

Outras medidas a adotar devem ser: evitar as bebidas alcoólicas e reduzir o excesso de peso, através de uma dieta moderada base de frutas, legumes e saladas.

O cumprimento das medidas não farmacológicas de controlo da pressão arterial permite, seguramente, reduzir as doses e até interromper o uso de medicamentos numa
percentagem significativa de doentes com hipertensão moderada.

Medidas Farmacológicas:

Quando o tratamento sem fármacos não é suficiente, deve então recorrer-se aos antihipertensores. Estes devem ser prescritos pelo médico, segundo as características de cada paciente.

Importante não esquecer que nem todos os doentes reagem da mesma maneira aos diferentes fármacos antihipertensores. Um mesmo fármaco, que controla facilmente a hipertensão num doente, pode causar efeitos secundários intoleráveis noutro. No entanto,
dispomos hoje em dia de um arsenal terapêutico em constante progresso
que, quando criteriosamente utilizado, permite controlar a hipertensão na esmagadora maioria dos casos, sem interferir com o bem-estar do doente.

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Cancro pediátrico
Há falta de recursos humanos e é preciso mais investimento. Cristina Potier, diretora-geral da Fundação Rui Osório de Castro ...

A propósito do Dia Internacional dos Ensaios Clínicos, que se assinala a 20 de maio, confirma que “entre as questões que impedem a inclusão de crianças com doença oncológica em ensaios clínicos estão a escassez de recursos humanos para coordenar, monitorizar e reportar aos grupos internacionais que coordenam estes estudos e, também, a falta de recursos financeiros”.

De acordo com a representante da FROC, “os centros de referência de oncologia pediátrica encontram-se muito orientados para um modelo exclusivamente assistencial, o que faz com que a participação de Portugal nestes grupos de trabalho internacionais exista apenas sustentado na boa vontade dos médicos”. Apela, por isso, à existência de uma estrutura capaz de coordenar a participação nestes ensaios clínicos, considerada “uma mais-valia para se conseguir integrar mais crianças portuguesas ao abrigo de protocolos de ensaios clínicos”.

A diretora-geral da FROC salienta também a necessidade de consciencializar a população no geral que “as crianças com doença oncológica são tratadas com medicamentos que, na grande maioria, não foram testados para elas, mas sim para adultos”. As características e as reações de um cancro numa criança podem ser muito diferentes do cancro num adulto. “É por isso fundamental que exista investigação clínica e ensaios clínicos específicos para a oncologia pediátrica.”

Cristina Potier, considera ainda que Portugal deve “contribuir para a evolução do conhecimento da doença e da melhoria contínua nos cuidados prestados, com a vantagem de assim as nossas crianças terem mais cedo acesso a terapias inovadoras” e explica que “os ensaios clínicos realizados nas crianças de que falamos são de fase III ou IV. O que é que isto quer dizer… que o risco não é grande, os medicamentos utilizados já têm autorização de introdução no mercado. Apenas se quer comprovar se um medicamento ou protocolo é melhor do que já é seguido no tratamento de um certo tipo de doença oncológica nas criança”.

No que diz respeito ao investimento da indústria farmacêutica, a aposta tem sido no adulto. “A investigação pediátrica é normalmente realizada por iniciativa dos investigadores, através de estudos chamados académicos. Nos ensaios clínicos pediátricos podem estar a testar-se protocolos de tratamento e caso não seja ‘melhor’ do que o normalmente seguido, volta-se ao protocolo normalmente utilizado para aquela patologia e estadiamento da doença”. Aqui, “a vantagem é que a observação não é feita apenas numa criança. Existe um grupo de crianças que participa, pelo que existe uma grande monitorização e controlo ao tratamento seguido. Qualquer sinal menos positivo é logo transmitido a todos os participantes. Tendo em conta o número reduzido de casos de cada tipo de cancro pediátrico, estes ensaios são normalmente organizados por grupos de trabalho internacionais, normalmente europeus, para que a amostra seja significativa”.

Tendo em conta a mais recente posição da Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica, que pretende alterar a idade mínima de acesso a ensaios clínicos para 12 anos, a diretora-geral da FROC considera que a proposta “tem prós e contras. Permite o acesso precoce a tratamentos inovadores e muito se tem evoluído no tratamento e na sobrevivência de alguns tipos de cancro nos adultos isto graças a terapias inovadoras. Terapias essas a que as crianças com a atual regra dos 18 anos ainda não têm acesso. O contra é o risco inerente à participação num ensaio clínico, neste caso com medicamentos que podem ainda não ter autorização para serem introduzidos no mercado, isto é nunca “testados”. Pessoalmente, acredito, que cada caso é um caso e que a escolha deverá ser dada à família e ao médico e apenas seguida não havendo outra hipótese terapêutica satisfatória. E acho que esse vai ser o caminho ”.

Estudo
Os casos de cancro colorretal estão a aumentar um pouco por toda a europa, sobretudo em jovens com idades compreendidas entre...

Apesar não encontrarem uma justificação para o crescente número de casos diagnosticados, os investigadores apontam a obesidade e uma dieta alimentar pobre como possíveis fatores desencadeantes, e apelam a que não se desvalorizem os sintomas

Por toda a Europa, os programas de rastreio de cancro do intestino incidem sobre a população a partir dos 50 anos, uma vez que o risco de desenvolver a doença é maior nesta faixa etária.  

Como resultado, a incidência deste tipo de cancro tem vindo a diminuir nos mais velhos.

No entanto, e uma vez que pesquisas recentes têm demonstrado que os números de casos de cancro aumentaram abaixo dos 50, muitos países optaram por baixar a idade de rastreio para os 45 anos, algo que ainda não acontece em Portugal onde o rastreio continua a ser realizado a partir dos 50 anos.

Incidência aumenta nos mais novos

Um estudo holandês, publicado no jornal científico Gut, analisou os dados de 20 países europeus, utilizando a informação de mais de 143 milhões de pessoas, e encontrou um aumento de casos de cancro colorretal em jovens com menos de 30 anos, entre 1990 e 2016.

De acordo com os dados recolhidos, a incidência deste tipo de cancro cresceu de 0,8 para 2,3 casos por cada 100 mil pessoas, ao longo de 26 anos, sendo que as maiores taxas foram registadas entre 2004 e 2016 atingindo um valor de 7,9% por ano.

No entanto, o número de mortes por cancro do intestino, nesta faixa etária, não tem aumentado apesar da sua incidência, diz o estudo.

Os investigadores da Universidade de Roterdão consideram que, se se continuar a observar esta tendência, as idades de rastreio devem ser reconsideradas.

Estudo realça história familiar da doença

Outro estudo, publicado na revista The Lancet Gastroenterology & Hepatology, vem confirmar o aumento da incidência da doença em jovens adultos nos países mais ricos, como é o caso da Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

Entre 1995 e 2014, houve um aumento de 1,8% de casos de cancro do cólon e 1,4% de casos de cancro retal em adultos com menos de 50 anos, dizem os investigadores.

Durante o mesmo período, os casos de cancro caíram 1,2% após os 50, sendo que estes resultados foram similares em muitos dos países avaliados.

Marzieh Araghi, autora do estudo, considera que estes dados mostram que está na altura de agir.

"Embora o rastreio em pessoas com menos de 50 anos não seja considerado custo-efetivo devido a números de incidência relativamente baixos, a história familiar pode ajudar a identificar pessoas mais jovens com alto risco de suscetibilidade genética ao cancro colorretal, para uma avaliação adicional," afirma.

Araghi acrescenta que são necessários mais estudos para “estabelecer as causas do aumento de casos de cancro para se desenvolverem estratégias preventivas e de diagnóstico precoce”.

Por cá, e em resultado destes dados, a Associação Europacolon defende a redução da idade de rastreio do cancro do intestino dos 50 para os 45 anos e que este deve ser acompanhado de uma endoscopia alta para detetar também tumores gástricos.

Por vezes assintomática
As doenças cardiovasculares são uma importante causa de morte e incapacidade a nível mundial, estima
Fatores de rico hipertensão arterial

Na Europa estima-se que a prevalência de Hipertensão Arterial varie entre 30-45%. Em Portugal e segundo o estudo PHYSA (2013), a hipertensão arterial apresenta uma prevalência de 42.2%, sendo mais significativa nos homens e nos mais idosos. Destes apenas 76% têm conhecimento que são hipertensos. Quanto à percentagem de doente controlados, apenas ¾ dos que sabem estarão devidamente medicados e controlados. 

Os doentes com HTA têm um maior risco de morte ou desenvolvimento de determinadas patologias, como a insuficiência cardíaca, acidentes vasculares cerebrais (AVC), enfarte do miocárdio, insuficiência renal, perda gradual da visão, entre outros. A adoção de um estilo de vida saudável pode prevenir o aparecimento da doença e a sua deteção e acompanhamento precoces podem reduzir o risco de vir a desenvolver estas patologias.

Diz-se que uma pessoa tem valores de Pressão Arterial (PA) normais, quando apresenta a PA máxima (sistólica) abaixo dos 130mmHg e a mínima (diastólica) inferior aos 85mmHg. Para valores entre 130-139mmHg de PA sistólica e/ou 85-89mmHg de PA diastólica, diz-se que os valores são normais-altos e, portanto, essa pessoa apresenta um maior risco de vir a ter HTA.

A HTA, numa fase inicial da doença, não provoca quaisquer sintomas. Nalguns casos, pode manifestar-se através de sintomas como cefaleias, tonturas, mal-estar difuso, visão desfocada, dor no peito ou sensação de falta de ar, sintomas estes que são comuns a muitas outras doenças. Contudo, com o passar dos anos, a HTA não controlada acaba por lesar os vasos sanguíneos e alguns órgãos vitais (cérebro, coração, rins).

Existem Fatores de Risco para o desenvolvimento:

Idade

A PA tende aumentar com a idade. Tal fenómeno deve-se à perda de elasticidade dos vasos ao longo dos anos. Cerca de 2/3 das pessoas com mais de 65 anos são hipertensas.

Raça

A HTA pode acometer qualquer pessoa, contudo é mais comum e surge mais precocemente em indivíduos de raça negra, comparativamente com os caucasianos.

Sexo

Antes dos 45 anos, a HTA precoce surge mais frequentemente nos homens. No entanto acima dos 65 anos, após a menopausa, as mulheres estão em maior risco de desenvolver HTA.

Hereditariedade

A existência de história familiar de HTA aumenta a probabilidade de vir a desenvolver esta doença. Este risco torna-se mais expressivo não só pelo fundo genético predisponente, mas pela partilha dos estilos de vida pouco saudáveis.

Obesidade

A obesidade é sem dúvida um fator de risco para doença cardiovascular, em particular HTA.

Consumo Excessivo de álcool

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas, aumenta significativamente os níveis de pressão arterial.

Tabagismo

O consumo crónico e prolongado do tabaco constitui uma causa importante de doença cardiovascular.

Alimentação inadequada e consumo excessivo de sal

Uma dieta rica em calorias, com alto teor de gorduras saturadas e pobre em nutrientes essenciais é prejudicial à saúde e contribui para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O consumo excessivo de sal, ao provocar um aumento do conteúdo de sódio nos fluidos corporais, contribui para a retenção de água e consequente aumento da PA.

Sedentarismo

Uma vida sedentária está intimamente relacionada com um maior risco de obesidade, HTA e doenças cardíacas.

O controlo e tratamento da HTA são fundamentais para prevenir os seus efeitos deletérios a longo prazo. A instituição de um estilo de vida saudável como a prática regular de exercício físico, alterações na alimentação e perda de peso contribuem, em grande parte, para o seu tratamento.

Existem também alguns problemas de saúde que devem ser pesquisados e podem ser uma causa de HTA, como a apneia obstrutiva do sono, problemas da tiroide ou problemas renais. A toma de medicamentos e/ou suplementos que possam aumentar a PA devem ser evitados. Exemplos destes medicamentos são os anti-inflamatórios não esteroides (ibuprofeno, entre outros) que são tomados para as dores, de forma frequente.

Por fim, o tratamento com medicamentos poderá ser necessário se continuar com a PA elevada, apesar das mudanças no estilo de vida.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Programa Menos Sal Portugal
Cerca de 1500 pessoas submeteram candidatura ao processo de recrutamento de voluntários para a primeira avaliação à população...

Este estudo, com uma abordagem inédita no nosso país, visa avaliar o impacto dos hábitos de consumo de sal na saúde dos portugueses e traçar as melhores estratégias de intervenção para reduzir o consumo  de sal – sem retirar o sabor dos alimentos - e promover estilos de vida mais saudáveis.

Após visitas de avaliação inicial e de recrutamento, que apuraram se os candidatos cumpriam os critérios de inclusão para integrarem o estudo científico, 231 participantes já realizaram a primeira visita de intervenção. Os participantes estão motivados e cooperantes com o protocolo do estudo, que implica a realização de medições e análises clínicas que permitem avaliar a evolução do impacto na saúde da redução do consumo de sal. Manifestaram interesse em compreender e aplicar no seu dia a dia os ensinamentos dos conteúdos de promoção de hábitos de vida saudáveis veiculados em consulta.

Esta primeira visita de intervenção permitiu, ainda, aos investigadores traçarem a caracterização da amostra: participantes maioritariamente do sexo feminino, as idades variam entre os 21 e os 70 anos de idade - sendo a média de idades de 44 anos e a maioria tem excesso de peso ou obesidade” refere Conceição Calhau, investigadora neste estudo.

A conclusão do Estudo está prevista para finais de Setembro, onde os investigadores esperam encontrar melhorias na saúde dos participantes e promover medidas que visem a redução do consumo excessivo de sal. Pretendem também que alterações de comportamentos, com benefícios para a saúde, se instalem quer nos voluntários e respetivos agregados familiares, quer em toda a população.

A coordenação deste estudo de intervenção integrado no Programa Menos Sal Portugal, está a cargo de Conceição Calhau, Professora da NOVA Medical School, Investigadora do CINTESIS e Coordenadora da Unidade Universitária de Lifestyle Medicine da CUF e de Jorge Polónia, Professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Investigador do CINTESIS, Médico Especialista em Medicina Interna e Hipertensão Arterial do Hospital CUF Porto, Membro da Direção da Sociedade Europeia da Hipertensão.

 

Investigação
Em média, um português consome diariamente mais do dobro da quantidade máxima de sal recomendada pela Organização Mundial de...

O projeto Lesssalt pretende avaliar e correlacionar a composição nutricional e fitoquímica de extractos derivados das plantas e microalgas com as suas propriedades sensoriais. Posteriormente será avaliada a capacidade anti-hipertensiva dos diferentes produtos em teste e selecionados aqueles que demonstrarem conferir características sensoriais adequadas associadas a um possível efeito anti-hipertensivo. Pretende-se que este produto possa ser usado como um substituto saudável do sal nas cozinhas e, assim, contribuir para uma melhoria significativa na saúde da população.

Este projeto está a ser desenvolvido no âmbito do programa iBETXplore, um programa de financiamento interno de estímulo à investigação científica. Através deste programa, o iBET possibilita que jovens cientistas com ideias ambiciosas e com relevância para a sociedade tenham capacidade para desenvolver os seus projetos em condições privilegiadas.

Recorde-se que o consumo excessivo de sal está intimamente relacionado com o desenvolvimento de várias doenças crónicas como a hipertensão, o cancro do estômago ou a osteoporose. Assim, a identificação de produtos alternativos ao sal, capazes de preservar o sabor e a forma de confecção dos alimentos, é atualmente um dos maiores desafios da indústria alimentar.

O Dia Mundial da Hipertensão assinala-se anualmente a 17 de Maio e tem como objetivos alertar para os fatores de riscos associados e a importância para o tratamento desta condição. A promoção de hábitos de vida mais saudáveis, nomeadamente alimentares, capazes de prevenir o desenvolvimento desta doença assumem cada vez mais um papel de destaque na luta contra a hipertensão.

 

O que é e como se previne
As Doenças Cérebro-Cardiovasculares (DCCV) – das quais se destacam o Acidente Vascular Cerebral (AVC

A Hipertensão Arterial (HTA) – isto é pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg – é o principal fator de risco para o AVC, (que é a principal causa de morte em Portugal: cerca de 2/3 de todas as mortes por DCCV) e um dos mais importantes fatores de risco para EAM (bem como para insuficiência cardíaca, insuficiência renal, doença arterial periférica, etc.). A deteção precoce e o tratamento adequado da HTA podem, comprovadamente, reduzir significativamente o risco de incidência de DCCV, e, consequentemente, reduzir os trágicos números de incapacidade e mortalidade.

Apesar da melhoria significativa verificada nos últimos 10-15 anos, cerca de 42% dos adultos em Portugal tem HTA, mas quase 1/4 desconhece a doença e cerca de 1/4 dos hipertensos não estão a tomar medicação, contribuindo para que menos de metade dos doentes com HTA tenha a pressão arterial efetivamente controlada.

Habitualmente, a HTA não provoca sintomas (ou provoca sintomas inespecíficos que podem estar presentes em muitas outras doenças como dores de cabeça, tonturas, cansaço, etc). Assim sendo, a única maneira de detetar a HTA é verificando valores tensionais elevados, através da medição da pressão arterial, pelo que a medição regular da pressão arterial deve ser um hábito a seguir. Todos os adultos devem fazê-lo pelo menos uma vez por ano – seja em rastreios como os realizados no âmbito do Dia Mundial da HTA, seja na consulta médica e/ou de enfermagem, na farmácia, ou mesmo em casa (mediante o uso de um aparelho adequado). Os fumadores, obesos, as pessoas com diabetes ou com história de doença cardiovascular na família têm maior risco de desenvolver HTA, pelo que devem ter particular cuidado em medir regularmente a sua pressão arterial. A idade também é outro fator a ter em atenção: em geral, quanto mais idosa for a pessoa, maior a probabilidade de desenvolver HTA.

A adoção de um estilo de vida saudável constitui a melhor forma de prevenir ou controlar a HTA, proporcionando, geralmente, uma descida significativa da pressão arterial: uma alimentação equilibrada – nomeadamente com redução no consumo de sal e de álcool e aumento de vegetais e fruta – acompanhada de exercício físico regular são medidas recomendadas, bem como a perda de peso (no caso dos doentes com excesso de peso ou obesidade) e a cessação tabágica total.

Quando estas medidas são insuficientes, poderá ser necessário recorrer a medicamentos anti-hipertensores (mantendo e/ou reforçando o estilo de vida saudável). No entanto, há que lembrar que os fármacos também não curam a hipertensão; só a controlam, por isso, uma vez iniciado, o tratamento medicamentoso deverá, em princípio, ser mantido prolongadamente (em princípio por toda a vida, salvo indicação em contrário do médico). Hoje em dia, existem muitos fármacos eficazes na redução da pressão arterial, competindo ao médico assistente decidir qual é (ou quais são) o(s) mais apropriado(s) para cada pessoa. Quando criteriosamente utilizada, a terapêutica permite controlar a HTA na esmagadora maioria dos casos.

Dr. Fernando Pinto
Assistente Graduado Sénior de Cardiologia no CHEDV
Membro da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral
Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão

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