A alimentação pet mudou
A forma como os portugueses alimentam os seus animais de companhia está a mudar e essa mudança é profunda. Os dados do estudo...

O estudo revela que 97% dos tutores alimentam o pet com ração seca, mas que este hábito está longe de ser isolado. Mais de metade dos tutores complementa com outras soluções: 64% juntam alimentação húmida e 63% recorrem a snacks. Este padrão, cada vez mais expressivo, evidencia o crescimento da diversificação alimentar, da personalização e de uma relação mais informada com a nutrição animal.

A tendência reforça-se com outro indicador decisivo: 18% dos tutores utilizam suplementos, maioritariamente associados a objetivos de saúde, longevidade ou necessidades específicas. A alimentação torna-se, assim, um espaço de convergência entre ciência, afeto e escolhas preventivas, refletindo a transição para um consumo mais consciente e alinhado com o cuidado integral do animal.

A recomendação veterinária surge como o fator de decisão mais relevante, seguida da perceção de qualidade nutricional. O preço continua a ter peso, mas perde centralidade perante a valorização crescente de benefícios concretos, transparência e confiança. O consumidor demonstra maturidade e vontade de aumentar a sua literacia, procurando produtos que combinem naturalidade, valor funcional e coerência com um estilo de vida mais saudável.

Para a UPPartner, estes resultados mostram que a alimentação está a assumir um papel central na forma como os tutores cuidam dos seus animais, abrindo espaço para inovação, para uma maior segmentação de oferta e para soluções que ligam nutrição, hidratação, funcionalidade e bem-estar diário.

“Quando o tutor escolhe melhor para o animal, está a projetar os mesmos valores de bem-estar e longevidade que aplica a si próprio. Esta convergência entre hábitos humanos e cuidados animais confirma uma mudança estrutural no consumo e uma maior consciência sobre o impacto da nutrição na saúde”, explica Bernardo Soares, médico veterinário e One Health Diretor da UPPartner.

O estudo reforça a ideia de que a alimentação é hoje um dos pilares do crescimento do mercado pet em Portugal e uma categoria onde o cuidado se traduz diretamente em escolhas mais sofisticadas, emotivas e preventivas. É também um dos territórios onde se torna mais evidente a humanização positiva do cuidado: os tutores procuram para os seus animais o mesmo nível de qualidade e atenção que desejam para a própria família.

 

ANADIAL
No último episódio do podcast “À Conversa sobre Diálise”, promovido pela ANADIAL, a convidada é Anabela Rodrigues, nefrologista...

Ao longo da conversa, Anabela Rodrigues apresenta a Estratégia Nacional para a Doença Renal Crónica, um plano que aposta no diagnóstico precoce e numa abordagem mais eficiente e centrada no doente. Reconhecendo os avanços técnicos e científicos alcançados em Portugal, a especialista destaca a necessidade de evolução, adaptando-se aos desafios atuais da ciência e da sociedade.

Entre os obstáculos à implementação da estratégia, a nefrologista identifica a resistência à mudança como um dos principais entraves, salientando a importância de proteger os doentes e promover a sua capacitação e participação ativa no tratamento.

Face à elevada incidência da doença renal crónica em Portugal, Anabela Rodrigues apontou a falta de otimização do percurso do doente como um dos aspetos a melhorar, nomeadamente através de uma maior consciencialização sobre alternativas terapêuticas, como a diálise peritoneal, que continua subutilizada em comparação com a hemodiálise.

No que toca ao financiamento, alerta para a insustentabilidade do modelo atual, defendendo uma valorização das unidades que apostem na inovação, no acesso célere ao transplante e aos tratamentos domiciliários.

O episódio encerra com uma mensagem de compromisso e esperança:
“O nosso esforço é darmos o litro para que a vida das pessoas que padecem de doença renal seja progressivamente melhorada”, afirma Anabela Rodrigues.

O podcast “À conversa sobre Diálise” comemora o 40.º aniversário da ANADIAL e tem como objetivo abordar a evolução do tratamento da doença renal crónica ao longo das últimas quatro décadas. Convida mensalmente um especialista para debater temas relevantes para doentes renais, profissionais de saúde e o público em geral.

O episódio já está disponível nas plataformas YouTube e Spotify.

 

Oito entidades unem-se
Pela primeira vez, oito organizações da sociedade civil, incluindo as maiores e mais representativas associações de doentes...

A iniciativa, assinada pelas entidades AC Rim, Careca Power, Europacolon Portugal, Associação EVITA - Cancro Hereditário, Liga Portuguesa Contra o Cancro, Plataforma Saúde em Diálogo, Pulmonale e Sociedade Portuguesa de Literacia na Saúde, foi dirigida à Ministra da Saúde, aos Deputados da Assembleia da República, à Direção-Geral da Saúde, ao INFARMED e à Direção Executiva do SNS.

Todos os dias, em Portugal, 191 pessoas recebem o diagnóstico de cancro e 92 perdem a vida a lutar contra esta doença. As projeções atuais indicam um crescimento de mais 12% dos casos até 2030, pelo que as associações destacam a crescente ameaça que o cancro representa para a saúde pública e para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Com mais de 69.000 novos casos registados em 2022 e sendo a segunda principal causa de morte em Portugal, os signatários alertam que “cada atraso no rastreio, num exame ou no acesso a tratamentos se traduz em vidas e qualidade de vida perdidas”.

"Atuar mais cedo salva vidas, protege famílias e comunidades, reduz custos para o Serviço Nacional de Saúde e protege o presente e futuro da Segurança Social", afirmam.

 

As associações reiteram assim a importância do esforço coletivo para a implementação eficaz das medidas que consideram essenciais:

  1. Prevenção primária: Implementar programas de literacia em saúde, assegurar vacinação preventiva e reforçar campanhas de sensibilização.
  2. Diagnóstico precoce e rastreios: Reduzir de forma sistemática os tempos de espera e alargar a cobertura dos rastreios, bem como avaliar a implementação de programas de rastreio adicionais
  3. Acesso equitativo a tratamentos: Garantir acesso a terapêuticas inovadoras e cuidados humanizados, independentemente da localização geográfica ou condição socioeconómica.
  4. Geração e Recolha de Evidência: assegurar um registo oncológico nacional de qualidade, publicar orientações clínicas elaboradas por especialistas e com a participação de representantes de doentes, incluir a perspetiva do doente, através das associações, na tomada de decisões que afetam a jornada do doente oncológico, e monitorizar e avaliar sistematicamente as estratégias de combate ao cancro
  5. Organização e investimento em inovação: criar uma entidade específica para a oncologia, com estratégia nacional clara e alinhada com ENLCC, aumentar o investimento em oncologia, otimizar a implementação da "Via Verde" em diferentes indicações, e reforçar os recursos humanos e tecnológicos.

 

Como apelo à ação imediata, as associações solicitam reuniões formais com todas as entidades destinatárias da carta para apresentar as suas propostas em detalhe e exigem "compromissos públicos concretos e calendarizados" para a sua implementação.

A carta conclui com um apelo forte: "Não podemos esperar mais – cada vida salva é uma vitória coletiva. É tempo de agir com firmeza e responsabilidade."

 

Universidade de Coimbra
Yanan Tian, aluna do Programa de Doutoramento Conjunto entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra ...

Esta investigação, publicada na revista Nature Communications, foi realizada sob a orientação dos professores Joel P. Arrais, do Departamento de Engenharia Informática da FCTUC, e Huanxiang Liu, da MPU, no âmbito do programa Dual Doctoral Degree MPU-UC, que visa promover a cooperação científica e a formação avançada entre Portugal e Macau.

As proteínas quinases constituem uma das classes de alvos terapêuticos mais relevantes na investigação biomédica. O seu potencial resulta do papel central que desempenham na regulação de múltiplos processos celulares, incluindo proliferação, diferenciação e morte celular. No entanto, o desenvolvimento de inibidores altamente seletivos continua a ser um desafio, devido à forte conservação estrutural entre as quinases e ao elevado custo dos ensaios experimentais.

«Este trabalho propõe o modelo MMCLKin, uma estrutura baseada em métodos de IA avançada, concebida para prever com elevada precisão e interpretabilidade a atividade e seletividade de inibidores de quinases, acelerando significativamente o processo de descoberta e otimização de novos fármacos direcionados», explica Yanan Tian.

O MMCLKin combina redes de grafos geométricos, modelos de linguagem para sequências proteicas e mecanismos de atenção multicanal para identificar as características críticas das interações entre quinases e fármacos. «Os resultados demonstram que o modelo supera os métodos existentes na previsão da afinidade e seletividade de inibidores, mesmo em casos que envolvem estruturas desconhecidas ou quinases mutadas», afirma Joel P. Arrais.

De acordo com os autores do estudo, os ensaios biológicos ADP-Glo validaram o poder preditivo do modelo, demonstrando que cinco compostos sugeridos pelo MMCLKin inibem de forma eficaz a mutação LRRK2 G2019S, associada a doenças neurodegenerativas, sendo quatro deles ativos em concentrações nanomolares. Estes resultados reforçam o potencial do MMCLKin como ferramenta para acelerar o desenvolvimento de terapias direcionadas, abrindo novas perspetivas para o desenho racional de fármacos com maior seletividade e eficácia clínica.

«A abordagem proposta representa um avanço na aplicação da Inteligência Artificial à descoberta de fármacos, demonstrando como modelos computacionais de nova geração podem reproduzir in silico processos biológicos complexos que, de forma experimental, podem demorar anos ou mesmo décadas. O MMCLKin exemplifica como modelos baseados em IA conseguem simular e compreender interações moleculares com um grau de detalhe que permite prever a atividade e a seletividade de inibidores com elevada precisão», sublinham  

Esta capacidade permite a identificação rápida de candidatos terapêuticos promissores, reduzindo significativamente o tempo e o custo da investigação farmacêutica. Para além do seu impacto imediato, o MMCLKin abre novas direções de investigação no campo da modelação de quinases, ao proporcionar um quadro unificado para analisar padrões estruturais, mutacionais e funcionais ao longo de toda a família de quinases humanas.

«Este tipo de abordagem pode evoluir para modelos generalistas capazes de antecipar o comportamento de novas quinases — incluindo aquelas ainda sem estrutura identificada — e apoiar o desenho racional de terapias seletivas e personalizadas em diversas áreas, desde o cancro às doenças neurodegenerativas», concluem.

O artigo científico “Enhancing Kinase-Inhibitor Activity and Selectivity Prediction Through Contrastive Learning” está disponível para consulta aqui.

“Cancro da Mama: New Hope”
No próximo dia 10 de dezembro, às 19h00, o Iscte Executive Education acolhe o evento “Cancro da Mama: New Hope”, uma iniciativa...

Entre os convidados, encontram-se figuras públicas que já se debateram com a doença, como é o caso de Fernanda Serrano, Rita Stock, Tia Cátia, mas também de especialistas e profissionais de referência nacional, como Pedro Antunes Meireles (Médico Oncologista, IPO Lisboa), Ana Sofia Ribeiro (Investigadora, i3S), Luís Brito Elvas (Iscte-iul / Fundação Champalimaud), Alexandra Vilela (Presidente do COMPETE 2030) e Frederico Stock (Co-founder da CleoCare). A moderação estará a cargo de Mónica Silvares, Editora Executiva do ECO.

O evento contará também com a apresentação da tecnologia portuguesa inovadora SenseGlove, acompanhada da aplicação SenseApp, que está a tornar o autoexame mais intuitivo, acessível e preciso. Para além das perspetivas científicas e tecnológicas, a sessão incluirá momentos de inspiração através de testemunhos reais, reforçando a importância da prevenção e do acompanhamento informado.

A entrada é gratuita, mediante inscrição prévia, dado o número limitado de lugares.

 

Campanha “Este Natal dê um presente ao seu coração”
A Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) volta a consciencializar a população para a importância de manter...

“Todos sabemos que, na época festiva, há uma tendência para cometer excessos alimentares e para reduzir alguns hábitos mais saudáveis. No entanto, os cuidados com a saúde do coração são imprescindíveis e devem manter-se. Por esta razão, apelamos à população para que mantenha uma alimentação equilibrada, pratique atividade física, continue a seguir as orientações do médico assistente e não se esqueça de tomar a medicação habitual para as doenças crónicas. Reforçamos que a Via Verde Coronária está a funcionar 365 dias por ano, 24 horas por dia, de forma a assegurar o tratamento de doentes com enfarte agudo do miocárdio, inclusive no dia de Natal e no último dia do ano”, alerta Joana Delgado Silva, presidente da APIC.

A doença coronária caracteriza-se pela acumulação de depósitos de gordura no interior das artérias que fornecem sangue ao coração. “Esses depósitos causam um estreitamento ou obstrução das artérias o que provoca uma diminuição dos níveis de oxigénio e nutrientes que chegam às células do músculo cardíaco. As principais doenças coronárias são a angina de peito e o enfarte agudo do miocárdio”, explica Joana Delgado Silva.

E acrescenta: “A hipertensão arterial, o colesterol elevado, a diabetes, o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo são fatores que contribuem significativamente para aumentar o risco de sofrer de doença coronária. Assim, é essencial garantir a hidratação, não exagerar nos alimentos ricos em açúcar, gordura e sal, evitar o consumo excessivo de álcool, não fumar e praticar atividade física. Caminhar ou participar em atividades recreativas são excelentes opções para manter o coração saudável”.

O enfarte agudo do miocárdio, ou ataque cardíaco, resulta da obstrução de uma das artérias do coração, que faz com que uma parte do músculo cardíaco fique em sofrimento por falta de oxigénio e nutrientes. Esta obstrução é habitualmente causada pela formação de um coágulo devido à rotura de uma placa de colesterol.

Os sintomas mais comuns, para os quais as pessoas devem estar despertas, são a dor no peito, por vezes com irradiação ao braço esquerdo, costas e pescoço, acompanhada de suores, náuseas, vómitos, falta de ar e ansiedade. Normalmente, os sintomas duram mais de 20 minutos, mas também podem ser intermitentes. Podem ocorrer de forma repentina ou gradualmente, ao longo de vários minutos.

Na presença destes sintomas é importante ligar imediatamente para o número de emergência médica –112 – e seguir as instruções que lhe forem dadas. Não deve tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios, porque este poderá ser um centro sem capacidade para realizar o tratamento mais adequado.

 

SPMI
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) acaba de abrir as inscrições e submissão de resumos para o 32.º Congresso...

“Do Algarve para o Futuro – Inovação em Medicina Interna, é este o repto a que nos propomos responder neste congresso. Inovar, transformar, criar, modernizar... serão palavras-chave no nosso programa científico, onde pretendemos traçar com a participação dos internistas portugueses um caminho de futuro para a nossa especialidade, um caminho que seja gerador de Valor em Saúde, um caminho guiado pela nossa missão... Ser o Médico do Doente” afirma Nuno Bernardino Vieira, Presidente do 32º Congresso Nacional de Medicina Interna

A Comissão Organizadora, que junta os Serviços de Medicina Interna do Algarve, tanto do sector público como do sector privado, está a preparar um programa científico diversificado, que vai privilegiar os hot topics da Medicina Interna e que estará orientado para a inovação e para o futuro. Aposta em sessões científicas com formatos mais apelativos e interativos, que além da atualização científica, possam gerar novas ideias e novos caminhos a seguir.

“Acima de tudo, trabalhamos para que este congresso seja um verdadeiro ponto de encontro dos Internistas portugueses e um ponto de partida para o caminho de valorização da Medicina Interna. Para além do nosso programa científico, teremos ainda para oferecer a quem nos visita nossa hospitalidade, o nosso Sol, o mar e as nossas praias, a beleza das nossas terras, a nossa cultura e tradições, a nossa gastronomia, o nosso património vinícola... em suma... o nosso Algarve!”, afirma Nuno Bernardino Vieira. 

O 32º CNMI realiza-se no novo centro de congressos de Lagoa, nas margens do Arade, que alia atratividade e funcionalidade.

Toda a informação em - https://cnmi.spmi.pt/

 

Opinião
O “christmas blues” (ou tristeza natalícia) descreve um estado emocional transitório caracterizado p

Introdução

A época natalícia é habitualmente associada a alegria, união familiar e celebração, mas para muitas pessoas é um período de sofrimento psicológico acrescido.  A discrepância entre o ideal cultural de “Natal Feliz” e a experiência subjetiva de perda, solidão ou sobrecarga, pode precipitar ou agravar a sintomatologia ansiosa e depressiva pré-existente.

 

Definição e enquadramento conceptual

O “christmas blues” pode ser definido como um conjunto de sintomas emocionais de intensidade ligeira a moderada (tristeza, nostalgia, choro fácil, desmotivação, irritabilidade, desesperança) que surgem ou se agravam na proximidade do Natal e do Ano Novo, com carácter reativo e limitado no tempo.  Distingue-se de um episódio depressivo major pela menor intensidade, menor duração e menor repercussão global no funcionamento, embora possa coexistir com perturbações do humor já diagnosticadas.

Do ponto de vista psicopatológico, o “christmas blues” situa-se num contínuo entre respostas emocionais normativas a datas significativas e perturbações de humor clinicamente relevantes, podendo constituir um fator de risco para agravamento sintomático em pessoas vulneráveis.  As manifestações incluem alterações do sono, fadiga, dificuldade de concentração, aumento do consumo de álcool ou comida e retraimento social, frequentemente interpretados pelo doente como “não gostar do Natal”.

 

Fatores de risco e determinantes

Diversos fatores se associam a maior vulnerabilidade ao “christmas blues”, incluindo história de depressão, luto recente, isolamento social, dificuldades financeiras e conflitos familiares crónicos.  As expectativas irrealistas de harmonia familiar, reforçadas pelos media e pela publicidade, amplificam o sentimento de fracasso pessoal quando a realidade quotidiana é marcada por perda, doença ou precariedade.

A comercialização intensiva do Natal, com pressão para o consumo e oferta de presentes, aumenta o stresse financeiro e a comparação social, particularmente em contextos de crise económica.  Por outro lado, para pessoas migrantes ou afastadas da rede familiar, a época festiva pode acentuar a experiência de solidão e desinserção, potenciando sentimentos de não pertença.

 

Mecanismos psicossociais

Entre os mecanismos explicativos salientam‑se os processos de luto e de recordação de perdas, dado que o Natal funciona como marcador temporal de quem “já não está à mesa”.  As memórias negativas de Natais anteriores, associados a violência, alcoolismo ou conflitos, podem ser reativadas, contribuindo para respostas emocionais de ansiedade antecipatória e evitamento.

A sobrecarga de papéis, sobretudo em cuidadores e em quem assume a organização logística das festividades, traduz‑se em fadiga e sentimento de insuficiência.  Em alguns casos, a diminuição da exposição à luz solar e as alterações de rotina nesta época podem ainda interagir com vulnerabilidades biológicas associadas a perturbações afetivas sazonais, intensificando sintomas depressivos.

 

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico clínico deve privilegiar a avaliação dimensional dos sintomas e a sua relação temporal com a época festiva, distinguindo o “christmas blues” de: perturbação depressiva major, perturbação afetiva sazonal, perturbações de adaptação e luto complicado.  É fundamental avaliar a ideação suicida, consumo de substâncias e impacto funcional, uma vez que a banalização da “tristeza natalícia” pode atrasar o reconhecimento de quadros depressivos graves.

Importa igualmente considerar comorbilidades frequentes, como perturbações de ansiedade, perturbações relacionadas com substâncias e doenças crónicas (por exemplo, dor crónica), que podem ser descompensadas nesta época.  A utilização de instrumentos de rastreio validados para a depressão e ansiedade, adaptados ao contexto cultural, podem auxiliar na clarificação do quadro.

 

Prevenção e intervenção

As intervenções psicoeducativas focam‑se na normalização da ambivalência emocional nesta época e na desconstrução de expectativas perfeccionistas em torno do “Natal ideal”.  A promoção de estratégias de coping adaptativas, como planear atividades com significado pessoal, manter rotinas de sono e exercício e estabelecer limites ao consumo e às obrigações sociais, mostra‑se útil para reduzir a sintomatologia.

Em casos de maior vulnerabilidade, recomenda‑se reforço da rede de apoio (família, amigos, grupos comunitários) e, quando indicado, acompanhamento em saúde mental, privilegiando intervenções de curta duração (por exemplo, terapias cognitivo‑comportamentais focadas em reestruturação de crenças e gestão de stresse).  A comunicação nos media e em contextos de cuidados de saúde deve evitar a trivialização do fenómeno, sensibilizando para sinais de alarme e facilitando o acesso a ajuda especializada.

 

Perspetivas para investigação

Apesar da ampla divulgação mediática, a literatura científica específica sobre “christmas blues” é ainda escassa e heterogénea, existindo sobretudo trabalhos descritivos e textos de opinião.  São necessários estudos epidemiológicos que quantifiquem a prevalência e caracterizem perfis de risco, bem como investigação longitudinal que avalie a transição entre tristeza reativa e perturbações depressivas estruturadas.

Investigações futuras poderão explorar intervenções preventivas em populações de risco (por exemplo, pessoas em luto, idosos isolados, cuidadores informais), integrando abordagens digitais e comunitárias que permitam a monitorização e apoio durante a época festiva.  A clarificação conceptual do “christmas blues” poderá ainda contribuir para uma abordagem mais sensível e centrada na pessoa, evitando tanto a patologização excessiva como a minimização de sofrimento clinicamente relevante.

 

Referências Bibliográficas

CUF. Já ouviu falar de “Christmas Blues”? Lisboa: CUF; 2019.​

Oficina de Psicologia. Christmas blues. Lisboa: Oficina de Psicologia; s.d.​

Psicologia Aliados. Christmas Blues. Porto: Gabinete Psicologia Aliados; s.d.​

Visão. Christmas Blues: quando o Natal é a época mais stressante, depressiva e solitária. Lisboa: Revista Visão; 2022.​

Notícias ao Minuto. Christmas Blues: o que é e quais os sintomas? Lisboa: Notícias ao Minuto; 2022.​

CNN Portugal. “Manuel” sofre de Christmas Blues e não está sozinho. Lisboa: CNN Portugal; 2022.​

Observador. Natal infeliz: o que são “Christmas Blues”? Lisboa: Observador; 2021.​

Saúde e Bem‑Estar. Christmas Blues: tristeza, solidão e ansiedade. Lisboa: Saúde e Bem‑Estar; s.d.​

SAPO Viral. Christmas Blues: como combater a “tristeza natalícia”? Lisboa: SAPO; s.d.​

MAGG. Porque é que sentimos “Christmas Blues”? Lisboa: MAGG; 2022.​

Psiworks. “Christmas Blues” – A tristeza que vem com o frio. Lisboa: Psiworks; s.d.

 

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Universidade de Coimbra
Uma equipa de investigação internacional, liderada pela Universidade de Coimbra (UC), identificou novas informações sobre a...

Esta doença caracteriza-se pela acumulação anormal de “lixo” celular nos neurónios, o que conduz à degeneração progressiva do sistema nervoso e, inevitavelmente, à morte celular. Clinicamente, a doença de Batten caracteriza-se pela perda de visão na infância, convulsões e declínio cognitivo e, em fases avançadas, incapacidade de movimentos e de comunicação. Estima-se que, à escala mundial, a doença afete cerca de 1 em cada 100 mil nascimentos.

A forma mais comum da doença está associada a mutações no gene que codifica a proteína CLN3, uma proteína lisossomal chamada batenina. No estudo liderado pela investigadora auxiliar do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA-Portugal) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB), Neuza Domingues, e pelo investigado principal do MIA-Portugal e do CiBB, Nuno Raimundo, é revelado o papel crucial desta proteína durante a sinalização envolvida na morte celular.

Em concreto, neste novo estudo publicado na revista científica EMBO Reports, os cientistas “demonstram que a ausência ou alteração da batenina, evento que acontece na doença de Batten, desencadeia uma disfunção lisossomal que provoca danos no material genético (ADN) e ativa vias de sinalização responsáveis pela promoção da morte celular”, explicam os cientistas da Universidade de Coimbra.

“Quando o centro de reciclagem da célula (os lisossomas) não funciona corretamente devido a alterações ou ausência da batenina, certos tipos de detritos acumulam-se e perturbam as vias de sinalização celular – como se os semáforos de uma avenida estivessem descontrolados. Essas perturbações, que incluem danos genéticos, levam à ativação de processos de autodestruição da célula”, explica Nuno Raimundo, que lidera o grupo de investigação Comunicação entre Organelos no Envelhecimento e na Doença do MIA-Portugal.

Neuza Domingues, primeira autora do estudo, sublinha que foi possível identificar também “dois intervenientes nas vias que promovem a morte celular na doença de Batten: as proteínas c-Abl e YAP1”. “Acreditamos que o bloqueio destas vias poderá abrir novas oportunidades de investigação para minimizar ou retardar os efeitos patológicos associados à perda de função da batenina”, acrescenta.

A investigadora salienta que estas descobertas contribuem igualmente para melhor compreender o processo de envelhecimento: “tendo em conta as semelhanças entre os sintomas dos doentes com Batten e os sinais associados ao envelhecimento – como a demência e a perda de visão –os resultados do nosso estudo poderão contribuir para uma melhor compreensão do envolvimento do lisossoma em doenças relacionadas com o envelhecimento”

Este estudo contou ainda com a colaboração de outros investigadores do MIA-Portugal e do CiBB, e também de cientistas do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra, da Universidade de Nápoles (University of Naples Federico II, Itália), da Faculdade de Medicina Baylor (Baylor College of Medicine, Houston, Estados Unidos da América) e do Centro Médico Universitário de Göttingen (University Medical Center Göttingen, Alemanha).

O artigo científico Loss of the lysosomal protein CLN3 triggers c-Abl-dependent YAP1 pro-apoptotic signaling está disponível em https://doi.org/10.1038/s44319-025-00613-3

 

SERaro celebra
Foi com o objetivo de dar uma voz ativa e estruturada às doenças excecionalmente raras e às pessoas sem diagnóstico que nasceu,...

A motivação da criação da SERaro - “garantir que ninguém fica para trás” - mantem-se inalterada, uma vez que “as pessoas com doença rara continuam a enfrentar barreiras enormes no diagnóstico, tratamento e inclusão”, afirma o vice-presidente da Associação.

Segundo um estudo da DGS (2023), estima-se que existam entre seis a oito mil doenças raras e que cerca de um milhão de portugueses viva com uma delas. O diagnóstico demora, em média, cinco a sete anos e, em 70% dos casos, a doença manifesta-se na infância. André Correia acrescenta que estas “são doenças complexas que exigem cuidados multidisciplinares. Os centros de referência nem sempre cobrem todas as necessidades e no ensino a inclusão ainda é um desafio diário. Para os cuidadores, somam-se o peso emocional e financeiro, algo que precisa de ser mais reconhecido. Mas é precisamente essa realidade que nos faz levantar todos os dias com vontade de mudar”.

É perante este contexto que se torna premente o papel que as associações como a SERaro podem ter no apoio a doentes e cuidadores: “somos um verdadeiro porto de abrigo. Estas associações são feitas por pessoas que vivem as mesmas dores e compreendem o que as outras famílias passam. A SERaro orgulha-se de equilibrar "realismo" e "esperança" porque sabemos que acreditar é terapêutico, mas precisa de base sólida. Além do apoio humano, temos um papel fundamental de advocacy, somos a ponte entre os cidadãos e os decisores públicos. Colaboramos com a indústria farmacêutica, universidades e redes europeias, contribuindo com dados do mundo real e experiências de vida que ajudam a orientar políticas, investigação e ensaios clínicos”.

Apesar da grande prevalência das doenças raras, a direção da SERaro considera que a população em geral ainda não está sensibilizada para estas patologias, com grande parte das pessoas a nunca ter ouvido falar da maioria destas doenças e é também nesse sentido que a SERaro tem desenvolvido o seu trabalho “para educar de forma positiva e acessível, desmistificando conceitos e aproximando o público.  A nossa campanha #SERExcecional e o webinar sobre inovação na saúde foram bons exemplos porque deram rosto a várias doenças e chegou a escolas e meios de comunicação, num tom inspirador e realista. Além disso, participamos em projetos como “Informar sem Dramatizar”, da RD-Portugal, que leva as doenças raras às escolas. Só com literacia e empatia conseguiremos uma sociedade verdadeiramente inclusiva”.

Ao assinalar o seu quarto aniversário, o balanço é francamente positivo: “nestes quatro anos, a SERaro passou de uma ideia à ação. Representa, atualmente, mais de 20 patologias diferentes, incluindo doenças ultra raras e pessoas sem diagnóstico, em todo o continente e ilhas. Realizámos eventos e sessões de sensibilização e somos reconhecidos pela nossa voz ativa nas comunidades de doenças raras, pela academia e pela indústria farmacêutica. Um marco importante foi a participação da SERaro na revisão do Plano Nacional de Doenças Raras 2025-2030, um sinal claro do reconhecimento institucional do nosso trabalho”. 

Apesar deste balanço positivo, há desafios que são enfrentados pela associação diariamente, sendo o principal priorizar: “há tanto por fazer, desde apoio direto, sensibilização, projetos de educação e investigação, mas os recursos humanos e financeiros são limitados. O voluntariado é uma força essencial, mas exige estrutura e sustentabilidade”. A isto somam-se “a burocracia e a lentidão dos processos públicos, que dificultam o acesso rápido a apoios e parcerias”, no entanto, de acordo com a direção da associação, estes obstáculos são “oportunidades para inovar e encontrar novas formas de fazer mais com menos”.

Para festejar o aniversário, além de um tradicional almoço convívio, “teremos uma mini-exposição artística com obras criadas pelos nossos membros e familiares, representando a realidade das doenças raras através da arte. Será um dia de celebração, mas também de reflexão e partilha, marcado para 13 de dezembro, em Lisboa. O evento pretende reforçar uma mensagem: celebrar a vida, mesmo quando o caminho é raro”, conclui o vice presidente da associação.

Uso dos medicamentos para a obesidade
Associação considera a decisão um marco na prevenção e controlo da diabetes, mas urge ação do Ministério da Saúde para garantir...

A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) aplaude a nova diretriz global da Organização Mundial da Saúde (OMS) que recomenda o uso de uma classe de medicamentos usados no tratamento da diabetes e perda de peso (terapias com péptidos semelhantes ao glucagon-1, GLP-1) para o tratamento da obesidade em adultos. A APDP reforça que este é um passo histórico no combate a uma das principais epidemias do século XXI e um avanço significativo na prevenção e controlo da diabetes, uma vez que o excesso de peso e a obesidade são os seus fatores de risco principais.

A recomendação da OMS surge num momento em que a prevalência da obesidade continua a aumentar em todo o mundo, incluindo em Portugal. A evidência científica demonstra que a obesidade é uma doença complexa, intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de inúmeras outras condições de saúde, como a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro. Para a APDP, tratar a obesidade é também gerir o aparecimento e desenvolvimento da diabetes.

A associação alerta que, para esta decisão ter um impacto real na vida dos portugueses, é imperativo que o Ministério da Saúde atue de forma consequente. Por isso, defende que o próximo passo tem de ser a criação de condições para um acesso equitativo a estes tratamentos a nível nacional, nomeadamente através de comparticipação, para que as pessoas com indicação clínica, incluindo com diabetes, não sejam excluídas por barreiras económicas.

"A decisão da OMS é uma vitória da ciência e da saúde pública. Reconhecer a obesidade como uma doença que pode e deve ser tratada com as terapêuticas mais inovadoras terá um impacto direto na vida das pessoas", afirma José Manuel Boavida, Presidente da APDP. "No entanto, esta diretriz de pouco servirá se ficar nas intenções. É tempo de garantir que o acesso à inovação no tratamento da obesidade seja uma realidade para todos, e não um privilégio de alguns. Não é aceitável que só uma pequena parte das pessoas com diabetes possam ter acesso a estes fármacos.", remata.

A APDP revela ter total disponibilidade para colaborar com o Ministério da Saúde e demais entidades competentes no desenvolvimento de uma estratégia nacional que integre estas novas recomendações, garantindo que a sua implementação seja feita de forma justa, eficaz e centrada nas necessidades reais da população. Alerta, ainda, para a necessidade de redução de custos, através da negociação com as empresas produtoras ou da intervenção direta da Comissão Europeia.

SPOT promove
O Grupo de Estudo de Modelos de Organização e Gestão (GEMOG) da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT anuncia...

“É com enorme satisfação que a SPOT promove mais um webinar, desta vez dedicado à gestão de crise, uma área de importância crescente no panorama da saúde. Esta iniciativa constitui uma oportunidade privilegiada para aprofundar conhecimentos, ouvir especialistas e esclarecer dúvidas”, explica Paulo Felicíssimo, presidente da SPOT.

A sessão de abertura será moderada pelo Prof. Dr. Pedro Dantas e pelo Dr. Acácio Ramos, que fará também uma apresentação sobre os fundamentos da gestão de crise em saúde. Seguir-se-á a intervenção do Dr. Cristiano Gante, dedicada à comunicação em contextos de alta pressão. A Dr.ª Ana Correia abordará a coordenação interinstitucional e o papel do INEM na resposta hospitalar. Por fim, será a vez do Dr. António Rebelo que apresentará um estudo de caso sobre o incêndio no Hospital de Ponta Delgada e o seu impacto no serviço de Ortopedia.

O evento culminará com uma sessão de debate, promovendo uma troca de ideias enriquecedora sobre o tema.

A participação neste webinar é gratuita, mas as inscrições são limitadas. Inscreva-se através do seguinte link: https://zoom.us/webinar/register/WN_ghFdyOKHRZqWPKg9Aiu6Ew

 

Opinião
A época natalícia aproxima-se, e é para muitos, sinónimo de abundância: mesas repletas de pratos tra

A esteatose hepática, conhecida como “gordura no fígado”, é uma condição cada vez mais comum e não afeta apenas quem consome álcool de modo excessivo. Está associada a obesidade, hábitos sedentários e dietas ricas em açúcares e gorduras. A acumulação de gordura no fígado pode evoluir silenciosamente, sem causar sintomas no imediato, e quando não detetada e tratada a tempo, progredir para doenças graves como cirrose e cancro do fígado.

É precisamente em épocas como o Natal, que devemos estar mais atentos aos factores de risco para esteatose hepática. De facto, nos múltiplos convívios, os excessos alimentares e alcoólicos são, muitas vezes, socialmente aceites ou até incentivados. Encontrar um equilíbrio é desafiante, mas é possível desfrutar sem comprometer a saúde, lembrando que a moderação é uma forma de autocuidado. Servir porções mais pequenas, incluir fruta fresca em vez de sobremesas repetidas, escolher métodos de confeção mais leves (como assados e cozidos em vez de fritos), e lembrar a ingestão de água são gestos simples que podem fazer a diferença.

Por outro lado, o exercício físico, mesmo que apenas sob a forma de caminhadas após as refeições, ajuda a compensar o excesso calórico, ao melhorar a digestão e manter o metabolismo ativo. Dormir bem e gerir o stress típico da quadra são igualmente importantes para proteger e melhorar o nosso bem-estar físico e emocional.

Importa sublinhar que estes cuidados e a escolha consciente de um estilo de vida saudável devem ser encarados como um compromisso que possamos manter ao longo do ano. Consultas médicas regulares, análises de rotina e atenção ao peso corporal são essenciais para detetar precocemente alterações hepáticas e prevenir complicações futuras.

Celebrar não tem de significar descuidar. Ao optarmos por consumir menos e dar prioridade ao que importa - partilha, encontro e presença, o Natal torna-se mais significativo. E cuidarmos de nós e de quem está connosco, é talvez o melhor presente que podemos oferecer.

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
ANAUDI alerta
A ANAUDI — Associação Nacional de Unidades de Diagnóstico por Imagem alerta para o risco crescente de rutura no acesso dos...

Na sequência do recente Alerta de Supervisão da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e das notícias que lhe seguiram, a ANAUDI sublinha que não existe qualquer tolerância para práticas de discriminação, reafirmando que as unidades convencionadas cumprem integralmente os princípios da equidade, universalidade e não discriminação.

Um setor que suporta diariamente o SNS

Os dados de atividade dos Associados da ANAUDI demonstram a dimensão do seu contributo para a saúde dos portugueses. Em 2024, as unidades associadas realizaram 9,7 milhões de exames, dos quais 6,7 milhões (69%) ao abrigo de convenções com o SNS. Dos 6,8 milhões de utentes atendidos, cerca de 5 milhões (70%) são beneficiários do SNS. Estes números confirmam que a rede convencionada é indispensável para o acesso dos cidadãos ao diagnóstico por imagem e que não existem situações de discriminação na sua atividade.

A origem dos problemas de acesso não está na discriminação

As diferenças nos tempos de resposta resultam, na esmagadora maioria dos casos, de limitações estruturais e contratuais impostas pelo próprio Estado: capacidade contratada insuficiente, horários distintos para diferentes financiadores, atos excluídos da tabela e falta de recursos humanos especializados disponíveis para trabalhar no regime convencionado, devido à ausência de condições remuneratórias competitivas.

“Confundir limitações contratuais com discriminação é injusto e desvirtua o problema real: a rede convencionada tem suportado o SNS durante décadas, apesar de trabalhar com tabelas de atos e valores convencionados, definidos unilateralmente pelo Estado, desatualizados há mais de 12 anos, em condições cada vez mais exigentes e com recursos humanos cada vez mais difíceis de reter”, refere Eduardo Moniz, Presidente da ANAUDI.

Rede convencionada em risco real de colapso

A manutenção de tabelas desatualizadas, a pressão crescente sobre os profissionais, a perda de cobertura territorial e a redução progressiva da capacidade instalada colocam o setor convencionado num ponto crítico. Sem intervenção urgente, os utentes do SNS enfrentarão atrasos ainda maiores, afetando o diagnóstico precoce, o seguimento terapêutico e os rastreios oncológicos.

A ANAUDI apela a que o debate público se centre nos fatores estruturais que ameaçam a rede convencionada, cuja sustentabilidade é essencial para garantir diagnósticos em tempo clinicamente aceitável, assegurar rastreios e acompanhamento de patologias graves, evitar desigualdades territoriais e socioeconómicas, proteger a liberdade de escolha dos utentes consagrada na lei e a concorrência entre os prestadores de cuidados de saúde.

A Associação mantém total disponibilidade para colaborar com as autoridades públicas na identificação de soluções imediatas e estruturais que permitam reforçar a capacidade contratada, atualizar as tabelas e proteger o acesso dos utentes do SNS a exames indispensáveis para a sua saúde.

 

Dar voz às pessoas com Esclerose Múltipla
Com cerca de três anos de atraso no diagnóstico e 1 em cada 5 doentes afastados do trabalho, Dia Nacional da EM marca...

O Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla, assinalado a 4 de dezembro, marca este ano o lançamento do concurso de pintura “Ver alEM”, uma iniciativa conjunta da SPEM, ANEM e TEM, com o apoio da Merck, que pretende dar visibilidade à experiência emocional, social e humana das pessoas que vivem com esta doença.

Quando dados recentes revelam que, em Portugal, o diagnóstico continua a demorar, em média, três anos e que o início do tratamento pode levar quase dois, o concurso “Ver alEM” surge como uma resposta simbólica e cultural para reforçar a voz da comunidade de doentes e mostrar o que existe para lá da condição clínica.

O estudo europeu “Impacto dos Sintomas da Esclerose Múltipla”, expõe um cenário preocupante: 7% das pessoas com EM não sabem que tipo de esclerose têm; uma em cada cinco está afastada do mercado de trabalho devido aos sintomas; e os doentes relatam, em média, 13 sintomas distintos que afetam a sua autonomia, qualidade de vida e participação social. Apesar disso, 19% referem não receber qualquer tipo de tratamento ou acompanhamento para gerir a doença. É neste contexto que o concurso “Ver alEM” nasce, procurando transformar em expressão artística aquilo que muitas vezes permanece invisível aos olhos da sociedade.

A iniciativa desafia pessoas com Esclerose Múltipla, familiares e amigos, maiores de 18 anos, a criarem uma pintura original que represente o seu mundo interior: as emoções, os medos, os sonhos, as motivações e as vivências que marcam o percurso com a doença.

O objetivo é revelar histórias que raramente chegam à esfera pública e mostrar que, mesmo perante as limitações da condição de saúde, persistem formas profundas de imaginação, criatividade e liberdade. As inscrições decorrem entre 4 de dezembro de 2025 e 1 de fevereiro de 2026, e o concurso terá um limite máximo de 80 participantes.

As obras serão avaliadas por um júri composto por representantes das três associações, por um representante da Merck e pelo artista plástico convidado, Nuno Miles, que se junta ao projeto para reforçar a credibilidade artística e o impacto cultural da iniciativa. As 30 melhores pinturas serão apresentadas numa exposição pública em março de 2026, seguindo depois para uma mostra itinerante em centros comerciais e hospitais de norte a sul do país. Todas as obras selecionadas serão posteriormente vendidas, revertendo as receitas a favor das associações de doentes.

Com este concurso, as associações pretendem sensibilizar a sociedade para as múltiplas dimensões da Esclerose Múltipla e reforçar a necessidade de políticas públicas que promovam diagnósticos mais rápidos, acesso equitativo a tratamentos, melhor literacia em saúde e maior apoio aos cuidadores.

“Ver alEM” procura, acima de tudo, mostrar que, por detrás da doença, existem pessoas com histórias ricas, complexas e cheias de emoção, pessoas que continuam a ver, imaginar, criar e viver intensamente.

Mais informação sobre o Concurso e Regulamento disponível em: www.veralem.pt 

VII Congresso da Associação Portuguesa de Ciências Forenses
Criar um estatuto próprio do Especialista Forense e abordar a possibilidade de criação de uma Ordem Profissional. Este é o...

“As palestras são pensadas para trazer profissionais das ciências forenses e aumentar a capacidade de resposta de profissionais nos tribunais. Existe muito amadorismo de quem se apresenta como perito, não o sendo, e os cidadãos ficam muito desprotegidos”, refere o presidente da APCF, Ricardo Dinis Oliveira. Para o também professor catedrático e Coordenador do 1º Ciclo de Estudos em Ciências Forenses, na CESPU, “as pessoas autointitulam-se e a palavra perito banalizou-se, pelo que é necessário afirmar a profissionalização da Ciência Forense, através de um estatuto próprio e certificação dos especialistas. O passo seguinte, que também será debatido no congresso, é a possibilidade de criação da Ordem Profissional dos Especialistas Forenses.

A Ciência Forense inclui já cerca de três dezenas de subespecialidades, da toxicologia, à entomologia, sinistralidade rodoviária, lofoscopia, antropologia, genética, balística, entre muitas outras. Tendo em vista a afirmação pública da profissão e a certificação de áreas tão técnicas, a APCF desenvolveu nos últimos anos, com o apoio dos primeiros especialistas doutorados nestas áreas no país, um trabalho de escrita das guidelines que definem as competências gerais e o código de ética do especialista forense, estando também já em fase avançada a elaboração específica das proficiências destas cerca de 30 subespecialidades.

Durante o próximo ano, pretende-se continuar a apresentar o projeto a todos os grupos parlamentares.

A Reformulação da Atividade Pericial em Portugal: Das Ciências Forenses à Ciência Forense, é o tema do congresso, que conta já com cerca de 260 inscritos, e que se realizará no E2S na Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (Rua Dr. António Bernardino de Almeida nº 400, 4200-072 Porto).

Entre os temas abordados, num programa que pode ser consultado na íntegra aqui, está a investigação na cena do crime, o crime fiscal e económico, a veterinária forense e a psicologia forense.

Nos dois dias de trabalho também se vai discutir o papel da Inteligência Artificial para aumentar a capacidade destes especialistas e a sua utilização no seio das forças de segurança. Geoffrey Stewart Morrison, do Forensic Data Science Laboratory da Aston University, vai apresentar as mais atuais práticas internacionais na área das Ciências Forenses.

“Este é um congresso marco que assinala os 10 anos de existência da APCF, fundada em 2015, e que se tem sempre preocupado com a evidência científica de apoio à prova pericial”, afirma Ricardo Dinis Oliveira.

 

Estudo
– A Aon, empresa líder mundial de serviços nas áreas de Risk Capital e Human Capital, divulga o 2026 Global Medical Trend Rates...

Portugal está em linha com as tendências globais que apontam para uma pressão contínua sobre os seguros de saúde corporativos. Na análise realizada, os custos associados aos seguros de saúde disponibilizados pelas empresas em Portugal aos seus colaboradores registam uma tendência estável de crescimento, mantendo-se nos 10% face ao período homólogo. Em termos globais, a tendência mundial sofre uma ligeira diminuição do crescimento, com previsão de 9,8% em 2026, face a 10% em 2025.

As empresas em todo o mundo, inclusive em Portugal, estão a adotar estratégias para mitigar o impacto do aumento dos custos dos seguros de saúde. Reforço na prevenção e programas de bem-estar, atualizações no desenho dos planos e nas regras de financiamento, bem como uma aposta nos planos de benefícios flexíveis, promovendo uma lógica de contribuição definida que permite maior controlo de custos e benefícios personalizados para atrair e reter talento, são algumas das medidas que estão a ser implementadas.

“O mercado português de seguros de saúde continua a enfrentar uma pressão ascendente sobre os prémios de saúde, impulsionada pela elevada inflação médica, crescente prevalência de doenças crónicas associadas ao envelhecimento da população e pelo aumento da utilização. Este facto alinha-se com a previsão da Aon de uma taxa média de crescimento dos prémios de 10% para 2026, destacando-se a necessidade de uma gestão de custos inovadora e de análises cada vez mais baseadas em dados para apoiar estratégias de mitigação e controlo de custos que permitam manter os benefícios de saúde a níveis sustentáveis em Portugal”, afirma João Dias, Health Solutions Manager da Aon Portugal.

Quando analisadas as tendências relativamente às coberturas nos seguros de saúde, verifica-se que as mais procuradas em Portugal são hospitalização, consultas e exames, estomatologia e oftalmologia, mantendo-se em linha com a tendência registada em 2025. Por sua vez, os fatores de risco que mais contribuem para a subida dos custos são o envelhecimento da população, ausência de rastreios clínicos antecipados, hipertensão, sedentarismo e fatores genéticos.

O relatório destaca ainda que as patologias que mais têm contribuído para o aumento dos custos dos seguros de saúde são as doenças oncológicas e cardiovasculares, que se têm mantido no topo nas últimas quatro edições do estudo, seguindo-se as musculoesqueléticas, problemas respiratórios e saúde mental. Comparativamente com outros países em análise, Portugal segue a tendência global, onde estas condições continuam a liderar como principais causas de pressão nos custos.

No que se refere à análise das tendências por região, verifica-se que a nível global o aumento médio com os custos de saúde será de 9,8%, com algumas regiões a atingir aumentos superiores, como o Médio Oriente (15,3%) e a Ásia-Pacífico (11,3%), enquanto a América do Norte regista 9,3%, abaixo da média global. A América Latina e Caraíbas deverá apresentar uma ligeira desaceleração, com uma média de 10,3%, ainda acima da média global. Em contraste, a Europa deverá apresentar uma tendência de desaceleração, com uma média de 8,2% e Portugal mantém-se estável, com uma taxa de 10%, acima da média europeia. Esta divergência entre regiões sublinha a diversidade das pressões que afetam os sistemas e os custos de saúde em todo o mundo.

“O relatório 2026 Global Medical Trend Rates Report é divulgado num contexto de incerteza económica e geopolítica, incluindo tarifas globais”, salienta ainda o responsável. “Embora a inflação esteja a abrandar em alguns mercados, os custos com cuidados de saúde continuam sob pressão significativa. Este aumento persistente tornou-se um desafio empresarial generalizado, levando as organizações a adotar medidas proativas. Ao recorrer à análise preditiva e à implementação de estratégias inovadoras de gestão de custos, as empresas podem navegar melhor na volatilidade contínua e reforçar a sua estratégia de benefícios a longo prazo.”

O 2026 Global Medical Trend Rates Report baseia-se na análise de profissionais da Aon em mais de 100 localizações, que interagem com clientes e seguradoras para avaliar tendências nos planos de saúde empresariais.

 

3 de dezembro | Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
A diferença ainda espera por nós: porque Portugal precisa de juntar educação, terapias, dados e Inte

Em Portugal, cerca de 1 milhão de pessoas vivem com uma doença rara, e muitas delas permanecem anos sem diagnóstico. Em Portugal, milhares de crianças e adultos acordam todos os dias com um desafio adicional: viver com uma doença tão rara que nem nome tem, ou permanecer anos sem diagnóstico.

No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado a 3 de dezembro, vale a pena lembrar que estas pessoas continuam invisíveis para o sistema de saúde, para a educação e, muitas vezes, para a própria sociedade.

Na SERaro, representamos pessoas que vivem na fronteira do desconhecido: crianças e adultos que enfrentam não apenas condições médicas complexas, mas também a falta de respostas, de recursos e, sobretudo, de compreensão. Nestes casos, a deficiência não é apenas física ou genética; é estrutural. Resulta de sistemas que ainda não sabem incluir quem, aos olhos da sociedade, se desvia “da norma”.

Fala-se muito de inovação, tecnologia e Inteligência Artificial, mas raramente discutimos para quem essa inovação está a ser criada. Permite identificar doenças raras mais cedo, apoiar diagnósticos complexos e adaptar percursos educativos. Pode aproximar professores, terapeutas e cuidadores. Pode dar voz a quem não a tem. Na SERaro, já participámos em projetos educativos e iniciativas de digitalização para garantir que essas ferramentas funcionem na prática.

Mas para isso, precisamos do que continua a ser o maior bloqueio nacional: uma estratégia integrada e dados fiáveis e interoperáveis. Sem estes elementos, as doenças raras tornam-se estatisticamente invisíveis, alunos “diferentes” continuam a ser tratados como exceções, e políticas públicas permanecem insuficientes.

É urgente criar plataformas seguras e éticas para recolher, estudar e partilhar informação, ao invés de catalogar pessoas, para que cada história possa acelerar um diagnóstico, melhorar acompanhamento e devolver autonomia.

A escola é talvez o espaço onde esta mudança pode ser mais transformadora. Todos conhecemos crianças que “não encaixam”: específicas demais para currículos rígidos, complexas demais para metodologias que não se adaptam. Mas hoje existem ferramentas que permitem a crianças não verbais comunicarem com IA, plataformas que adaptam conteúdos automaticamente e tecnologias que reduzem desigualdades reais.

A inclusão não nasce de decretos. Nasce de escolhas. Portugal tem agora uma oportunidade única de unir educação, ciência, inovação e literacia digital para criar um país onde ninguém fica para trás por ser excecionalmente raro.

O que está em causa não é tecnologia. É humanidade. Na SERaro acreditamos que “juntos somos menos raros” e, por isso, chamamos todos a agir: escolas, universidades, investigadores, empresas e sociedade civil. Partilhem dados, experiências e soluções; invistam em inovação educativa e ferramentas digitais que funcionem para todos. Cada ação conta. Cada colaboração é decisiva.

É tempo de transformar potencial em ação. É esse o compromisso da SERaro. E queremos fazê-lo juntos.

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
APDP apresenta
Proposta de colaboração visa reduzir internamentos evitáveis e otimizar a resposta do SNS24 numa altura de elevada pressão...

Com a aproximação do inverno e a previsível pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) apresentou ao Ministério da Saúde uma proposta de colaboração que visa, simultaneamente, reforçar a proteção das pessoas com diabetes, um grupo especialmente vulnerável nesta estação do ano, e reduzir a sobrecarga dos hospitais. A proposta prevê acompanhamento clínico especializado, presencial e telefónico, prestado pela equipa da APDP, permitindo prevenir urgências e internamentos evitáveis.

A diabetes é um dos principais fatores de agravamento de doenças infecciosas, tornando estas pessoas mais vulneráveis a descompensações que, frequentemente, resultam em idas repetidas ao serviço de urgência e, por vezes, em internamentos. A APDP quer ajudar a quebrar este ciclo através de apoio clínico especializado, antes de a situação exigir recurso hospitalar.

O plano de colaboração consiste em duas frentes: chamadas relacionadas com diabetes para a linha SNS24 seriam encaminhadas para enfermeiros e médicos da APDP, garantindo uma orientação clínica imediata e especializada; e a criação de um projeto-piloto na região da Grande Lisboa que permitiria o acesso direto das pessoas com diabetes às instalações da APDP para resolver situações complexas que não exijam internamento.

"Sabemos que a gestão precoce e o acompanhamento por equipas especializadas podem evitar que muitos casos evoluam para situações de urgência. A nossa proposta cria uma resposta mais dirigida e segura para as pessoas com diabetes e, simultaneamente, alivia a pressão sobre o SNS nos meses mais críticos", afirma José Manuel Boavida, Presidente da APDP.

Com quase 100 anos de experiência e integrada na resposta nacional à diabetes, a APDP reforça a sua total disponibilidade para colaborar com o Ministério da Saúde na resposta aos desafios de saúde que o inverno impõe. 

Opinião
A intolerância alimentar pode provocar diversos sintomas que afetam a nossa qualidade de vida.

A eliminação dos alimentos aos quais o indivíduo apresenta hipersensibilidade proporciona uma melhoria significativa na sua sintomatologia, podendo os mesmos voltar a ser inseridos na dieta, de forma gradual, após 6 meses.

Na última década, já muito se tem falado em dietas e estilos de vidas saudáveis, como forma de prevenção de uma série de doenças. No entanto, é de salientar que estamos a viver uma transformação epidemiológica, que nos coloca novos desafios, sendo imperativo falar não apenas em alimentação adequada, mas também sustentável. Tudo isto, sem colocar de parte a importância das intolerâncias alimentares e, consequentemente, da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas, assim como da sua filosofia de vida.

Dados publicados pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas projetam que, em 2030, a população mundial aumente para 8,5 biliões e que, em 2050, seja atingido o valor de 9,7 biliões de pessoas no mundo.

Esta realidade impõe novos desafios e oportunidades, que vão no sentido de dar resposta alimentar a uma sociedade demograficamente alterada. É necessário repensar o padrão alimentar dos portugueses e da sociedade moderna, que não se reduz à ingestão de alimentos para satisfazer as necessidades fisiológicas. Pelo contrário, a alimentação tem impacto social e é influenciada pelos hábitos, que foram passados de geração em geração e, ainda, pelas novas realidades sociais, na qual o tema da sustentabilidade é realmente importante.

 

Dieta mediterrânea versus vegetarianismo:

De acordo com dados da Balança Alimentar Portuguesa (BAP), é percetível que a dieta mediterrânica ainda se mantém como pilar de uma alimentação saudável. Todavia, é também notória a integração de uma alimentação vegetariana no dia-a-dia dos portugueses.

Os dados da BAP mostram que, em Portugal, os produtos cárneos, o pescado e os ovos apresentam um desvio face às recomendações de consumo apresentadas na Roda dos Alimentos. Em comparação, em 2016, o consumo deste tipo de alimentos foi 11,5 por cento superior ao que é preconizado. Entre 2012 e 2016, os portugueses tinham disponível para consumo aproximadamente 77,8kg de carne per capita/ano.

O tema da sustentabilidade e a preocupação no impacto que os alimentos que ingerimos têm no planeta Terra levou a que o número de adeptos de uma alimentação vegetariana tenha quadruplicado, nos últimos 10 anos.

São cada vez mais os portugueses que incluem uma ou mais refeições vegetarianas na sua dieta, seja ao fim-de-semana, como forma de compensar alguns excessos, ou como alternativa durante a semana, para levar na marmita para o emprego.

A realidade é que, de facto, é essencial diminuir a fração que os produtos cárneos representam na alimentação diária. Uma grande percentagem da emissão, para a atmosfera, de gases relacionados com o efeito de estufa, envolvidos no aquecimento global a que hoje se assiste, está relacionada direta ou indiretamente com a atividade humana, nomeadamente com a pecuária.

A transição de dietas ricas em proteína animal, para dietas com um maior conteúdo de proteína vegetal é essencial, tanto em termos de sustentabilidade, como nutricionais e de saúde.

Acredito que a diminuição do consumo de carne levará a um aumento da disponibilidade de alimentos, que eram utilizados para os animais e que vão passar a ser diretamente consumidos pelo ser humano. Além disso, o consumo de produtos de origem animal, particularmente de carne vermelha ou processada, parece estar associado ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cancro e obesidade.

Antes de mais é preciso perceber a definição de alimento sustentável, que significa ser produzido com recurso a métodos que respeitam o ambiente e os animais. Do ponto de vista nutricional, considero que as leguminosas, conjugadas com os grãos, serão parte da solução. As leguminosas têm proteínas, hidratos de carbono (amido), fibras, vitaminas e minerais. No entanto, não contêm aminoácidos essenciais, o que as torna um alimento de baixo valor biológico, uma vez que são pobres em metionina e triptofano.

Os cereais complementam esta situação, pois são pobres apenas em lisina, daí a sua complementaridade com as leguminosas ser uma excelente opção. Destaco os micronutrientes presentes nas leguminosas: vitaminas do complexo B, minerais como o cálcio, o ferro, o potássio, o magnésio e o zinco.

Segundo os dados da BAP, a disponibilidade alimentar de leguminosas é deficitária face às recomendações preconizadas pela Roda dos Alimentos, representando menos 3,4 por cento do que é aconselhado. Porém, já existem diversos estudos realizados com o objetivo de avaliar o impacto ambiental da produção de alimentos e, em simultâneo, definir as melhores estratégias para a criação de uma alimentação sustentável.

 

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.

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