Estudo
Um estudo desenvolvido por uma equipa de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde...

De acordo com o estudo agora publicado no Health Information Management Journal, os hospitais públicos poderão sofrer graves consequências a nível de financiamento se não registarem devidamente as comorbilidades dos doentes, isto é, as condições preexistentes ou adquiridas durante o internamento, que influenciam a gravidade dos doentes e os custos.

Júlio Souza, primeiro autor deste estudo, analisou uma base de dados de internamentos no Serviço Nacional de Saúde relativa a seis anos e concluiu que, ao não reportarem corretamente estas comorbilidades, os hospitais não estão a ser devidamente reembolsados pelos seus gastos. O mesmo é dizer que estão a ser subfinanciados.

Além disso, os problemas detetados podem comprometer a reutilização dos dados clínicos de saúde para cálculo de indicadores de qualidade, bem como para gestão clínica e hospitalar e para investigação biomédica.

Para o investigador do CINTESIS, a solução pode passar pela criação de “guidelines” para os profissionais, incluindo os médicos codificadores, que incluam regras claras sobre a forma como proceder à codificação das comorbilidades.

Em Portugal, os pagamentos aos hospitais têm por base os GDH – Grupos de Diagnósticos Homogéneos, “um sistema de classificação de doentes internados que agrupa doentes em grupos coerentes e clinicamente similares do ponto de vista do consumo de recursos”. O sistema começou a ser aplicado em Portugal em 1984 e existe em vários países do mundo.

“Não existe um sistema perfeito, sempre vai haver falhas, mas o sistema de GDH só irá funcionar, só vai haver um financiamento adequado e justo, se os dados estiverem bem, se tiverem qualidade, o que nem sempre acontece”, afirma o responsável.

Se alguns hospitais estão a perder dinheiro, a verdade é que outros poderão estar a receber financiamento a mais devido à prática de “upcoding”.  Por isso, Júlio Souza alerta para a necessidade de implementar sistemas ou metodologias de deteção automática de discrepâncias na codificação entre hospitais com padrões de complexidade semelhantes, permitindo que os casos suspeitos sejam sujeitos a auditorias para apurar a existência de más práticas.

Entrevista
Tudo o que provoca dor num adulto, também provoca dor numa criança.

Considerada como 5º sinal vital, desde 2003, a dor como doença ou sintoma é um dos principais motivos de preocupação para os pais e, ainda hoje, representa um desafio para os profissionais de saúde. Neste sentido, desde que foi a implementado o Programa Nacional de Controlo da Dor, o que mudou em matéria de diagnóstico, tratamento ou controlo da dor na infância e o que pode ainda melhorar?

Melhorou significativamente a valorização da dor – a integração da sua avaliação no dia-a-dia, a melhoria das prescrições dos fármacos analgésicos em contexto hospitalar, a inclusão de intervenções não-farmacológicas. No entanto, a abordagem da dor ainda não é a ideal, porque a implementação das intervenções para a prevenção e tratamento da dor ainda é muito desigual, e ainda não são aplicadas de forma sistemática.  

Sobretudo nos últimos 30 anos tem expandido imenso o conhecimento científico acerca da dor graças a uma crescente investigação. Sabe-se mais sobre a neurobiologia da dor - como funcionam as vias da dor, como funciona o cérebro face à dor; sobre a natureza multifactorial da dor; das consequências a curto e longo prazo da dor inadequadamente tratada; formas de avaliar a dor através de escalas específicas; novos fármacos para o tratamento da dor; a importância e eficácia de intervenções não-farmacológicas para o alívio da dor; a importância do tratamento multidisciplinar na dor crónica, etc. Tudo isto é resultado de imensa investigação tanto nas ciências básicas, como na clínica.

Mas ainda há muito para fazer e que permite cada vez mais que a prevenção, o diagnóstico e o tratamento da dor sejam mais eficazes, quando se introduz na prática clínica o que já se demonstrou na investigação científica.

Quais as principais causas da dor pediátrica? E qual a sua prevalência?

Se falarmos de dor aguda, consideramos a dor associada a algumas situações de doença aguda, a traumatismos, mas também a dor associada a procedimentos diagnósticos e terapêuticos que as crianças muitas vezes têm de realizar – ex. colheitas de sangue para análises, tratamentos e exames realizados no hospital. Até a dor associada ao procedimento da vacinação deve ser uma preocupação dos profissionais de saúde, porque existem medidas simples que permitem reduzir esta dor.

Quando falamos de dor crónica temos a dor que pode existir associada a uma doença crónica. Mas existe um outro tipo de situações que é mais prevalente, como as cefaleias, dor abdominal recorrente, dor músculo-esquelética localizada ou difusa. Nestas situações não existe lesão ou doença orgânica, mas existe dor que surge por alterações no sistema de sinalização da dor – como se o processamento do sistema nociceptivo estivesse alterado. É como se existisse uma alteração do “software” e não do “hardware”. Estas situações são agora recentemente designadas de doenças ou disfunções de dor primárias.

O que distingue a dor crónica da dor aguda?

A dor aguda é uma dor de curto prazo, que dura minutos, horas ou dias, sempre de duração inferior a 3 meses. Está associada a traumatismo, infeção, inflamação. A dor aguda tem uma função protetora do organismo porque pode ser um sinal de alerta de algum problema (alguma doença, inflamação, infeção), ou que nos pode “avisar” de alguma situação de perigo (ex. se pisamos um objeto cortante ou tocamos em algo a ferver – a dor que sentimos protege-nos porque nos afasta do perigo contra a integridade do corpo), ou pode funcionar para nos “dar um sinal” que temos de repousar (ex. depois de um traumatismo no pé devemos dar tempo para a recuperação dos tecidos que ficaram magoados, e não usar excessivamente aquela parte do corpo, na fase inicial da recuperação).

A dor crónica tem uma duração superior a 3 meses, ou estende-se para além do período esperado de cura, ou seja, a dor persiste para além do tempo normal de cicatrização tecidular, depois de desaparecer a lesão que a causou. Esta dor deixa de servir como sinal de alerta e de proteção do corpo. É como se a dor se transformasse num fenómeno independente e autónomo em relação à sua origem, deixando de ser um mero sintoma e passando a ser ela própria uma doença.

De que forma é possível medir a intensidade da dor na infância, sobretudo quando as crianças ainda não verbalizam o que sentem?

A investigação em dor pediátrica fez também evoluir a forma como podemos avaliar a dor, mesmo em crianças pequenas sem capacidade de verbalização, através de escalas de avaliação específicas e validadas. São chamadas escalas de heteroavaliação ou escalas observacionais. Usam parâmetros comportamentais (ex. expressões da face, posturas das pernas ou do corpo, atividade, choro, consolabilidade, etc.).

A partir dos 4 anos já é possível começar a usar escalas de autoavaliação (ex. uma escala de faces). A partir dos 7 anos as crianças já começam a usar uma escala numérica.

As crianças sentem a dor da mesma forma que um adulto? Ou é um mito achar que existem diferenças?

Tudo o que provoca dor num adulto, também provoca dor numa criança. As vias anatómicas e neuro-químicas começam a formar-se na vida intrauterina e pelas 28 semanas de gestação já estão formadas. Por outro lado, existem umas vias de controlo descendentes inibitórias da dor que ainda não estão totalmente formadas nos prematuros e, por isso, estes podem ainda ter hipersensibilidade aos estímulos dolorosos.

As crianças sentem dor e guardam memória da dor. Sabe-se, atualmente, que a dor não tratada pode ter consequências na vida da criança a curto e a longo prazo.

Quais os principais desafios quanto ao seu diagnóstico?

Os desafios quanto ao diagnóstico de situações de dor crónica (sobretudo, as situações de disfunções ou doenças de dor primárias) é que ainda permanecem pouco reconhecidas e subdiagnosticadas. Quando não se encontra um problema ou lesão orgânica ainda se tende a dizer que a dor é psicológica ou “é da cabeça” da pessoa.

Que complicações podem surgir associadas à dor, sobretudo quando esta não é tratada ou controlada…?

Experiências precoces e repetidas de dor (ex. no período neonatal) parecem exercer influência sobre as experiências posteriores de dor, no que respeita à sensibilidade dolorosa, quer no que respeita à forma de lidar com o stress.

A dor crónica na infância e adolescência não adequadamente tratadas aumenta a probabilidade de persistir ou desenvolver dor crónica na idade adulta.

A curto prazo, a dor não adequadamente tratada pode aumentar o tempo de recuperação de uma doença, de uma cirurgia, pode aumentar as complicações, aumenta a ansiedade e o stress, que condiciona maior ansiedade e stress também em situações futuras.

Como se trata a dor pediátrica?

Através de três pilares fundamentais: intervenções farmacológicas, físicas e psicológicas.

Dentro do tratamento farmacológico, que medicamentos são utilizados para tratar a dor? São sempre seguros?

Os medicamentos usados para tratar a dor são o paracetamol, os anti-inflamatórios não esteroides e os opioides. Usados de forma controlada e orientada pelo médico são seguros, mesmo os opioides. Os opioides devem ser usados em situações de dor aguda muito intensa – exemplo, uma queimadura extensa, um politraumatizado, uma fractura grave, um pós-operatório de algumas cirurgias.

Existem ainda outro grupo de fármacos que são usados para controlar a dor associada a procedimentos – são fármacos com propriedades sedativas e analgésicas.

São sempre seguros quando usados nas doses adequadas ao peso da criança e sob condições de segurança padronizadas.

Quanto ao tratamento não farmacológico, em que consiste e em que casos é aconselhado?

O tratamento não-farmacológico inclui intervenções físicas e psicológicas. Estas podem ser usadas para a dor aguda (ex. relacionada com procedimentos, em situação pós-operatório, etc.) e também para a dor crónica.

Dentro das estratégias físicas podemos resumir em massagem ou toque terapêutico, medidas e posicionamentos de conforto (ex. ao colo dos pais), contacto pele com pele (nos recém-nascidos), swaddling (contenção com lençol). Nos pequenos latentes, sucção não-nutritiva (chucha) e sacarose (< 12 meses), aplicação de calor ou frio, acupunctura, acupressão, reflexologia e aromoterapia.

Nas intervenções psicológicas existe: 1) a distração (desviar a atenção da criança do estímulo doloroso, em direção a um estímulo alternativo e mais agradável). Pode usar-se música, desenhos animados, livros, jogos, bonecos, histórias, bolas de sabão, moinhos de vento, brinquedos interativos, etc. 2) Estimular a imaginação. 3) Informação preparatória (ex. explicar o que se vai passar durante um procedimento), que deve ser adequada à idade. 4) Técnicas de relaxamento – relaxamento muscular progressivo, exercícios de respiração (abdominal). 5) Hipnose clínica (na criança existem várias técnicas para alívio da dor aguda e crónica, como a luva mágica, o lugar favorito, o interruptor da dor.

Como funciona a terapia cognitivo-comportamental e quais os seus resultados?

Dentro do tratamento da dor crónica estão incluídos vários tipos de tratamento, para além do farmacológico (que nem sempre tem de existir): a reabilitação – inclui fisioterapia, terapia ocupacional, exercício físico; tratamento psicológico – terapia cognitivo comportamental, técnicas de distração, relaxamento, respiração, biofeedback, etc; Terapias integrativas ou complementares (acupunctura, hipnose, musicoterapia, arte-terapia, meditação e mindfulness, etc).

A terapia cognitiva comportamental pretende diminuir a ansiedade e sentimentos negativos – trabalha com os pensamentos e comportamento. Deve ser feita por psicólogos com formação específica. Existem outro tipo de abordagens dentro da psicologia para lidar com estas situações.

No âmbito deste tema, que recomendações deixa aos profissionais de saúde que lidam com esta problemática?

É muito importante que a dor seja valorizada e não ignorada. Esta deve ser prevenida e tratada. Para isso, os profissionais de saúde devem incluir sempre intervenções farmacológicas, físicas e psicológicas para o tratamento da dor.

E quais os principais conselhos aos pais?

Os pais podem aprender como podem ajudar a reduzir a dor, a ansiedade e o medo das suas crianças. Podem perguntar aos profissionais de saúde como podem ajudar, podem colaborar e ser elementos participativos na aplicação das intervenções não-farmacológicas.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Iniciativa legislativa
Alargar o acesso a bombas de insulina a todas as pessoas com diabetes tipo 1 que tenham indicação para usar bomba de insulina,...

Até ao final de 2019 cessa o despacho, criado no âmbito do Programa Nacional para a Diabetes, que promoveu o acesso ao tratamento com bombas de insulina para as crianças e jovens até 18 anos.  Tendo em conta o término deste despacho e as limitações do mesmo, uma vez que não inclui as pessoas com diabetes tipo 1 com mais de 18 anos, a associação Diab(r)etes, em conjunto com mais 14 associações de pessoas com diabetes e com o apoio da Sociedade Portuguesa Diabetologia e da Federação Portuguesa das Associações de Pessoas com Diabetes, preparou uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos que pretende não só manter o acesso às bombas de insulina para as crianças e jovens até 18 anos, mas também alargar este acesso a todas as pessoas com diabetes tipo 1 que tenham indicação para usar bomba de insulina, independentemente da idade.

As” bombas” de insulina são dispositivos médicos que permitem a infusão contínua de insulina sub-cutânea de acordo com as necessidades das pessoas com Diabetes tipo 1, substituindo a necessidade das várias injeções diárias. Além disso, permitem, na maioria dos casos, um melhor controlo da doença. Apesar destas bombas de insulina existirem há muitos anos, o seu acesso por parte dos portugueses com diabetes tem sido muito difícil ao contrário do que acontece em outros países europeus.

A Iniciativa Legislativa traduz-se no texto de um projeto de lei que, assim que recolher as 20 mil assinaturas de cidadãos necessárias, será admitido para discussão e votação no parlamento. Esta pode ser assinada aqui e podem ser encontradas mais informações aqui, sendo que defende que a estratégia de Acesso a Tratamento com Dispositivos de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (PSCI) - correntemente denominadas de Bombas de Insulina - deve prosseguir os seguintes objetivos:

  • Assegurar que até ao final de 2022, todos os utentes elegíveis para tratamento com Dispositivos de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina inscritos na Plataforma PSCI da DGS, independentemente da sua idade, serão abrangidos pela atribuição de um dispositivo PSCI;
  • Assegurar anualmente, a partir do início de 2023, a cobertura de todos os utentes elegíveis para tratamento
  • Assegurar que todas as mulheres grávidas ou em preconceção têm acesso imediato ao tratamento com dispositivos de PSCI, desde que elegíveis.”

Sérgio Louro, responsável da associação Diab(r)etes, destaca que “a diabetes tipo 1 não escolhe idades, podendo ser diagnosticada tanto em crianças com em adultos, sendo, portanto, injusto que só as crianças e jovens até aos 18 anos tenham acesso a esta tecnologia que tanto contribui para a qualidade de vida das pessoas que precisam de insulina diariamente para viver”.

“O acesso a bombas de insulina é um direito que tem de ser garantido a todas as pessoas com diabetes tipo 1, independentemente da idade”, completa Rui Duarte, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), que reforça que “a lei atual é muito limitadora, uma vez que deixa de fora milhares de pessoas com diabetes que poderiam beneficiar desta tecnologia. Pelo menos 20 a 30% das pessoas com diabetes tipo 1 beneficiariam do uso das bombas de insulina, mas simplesmente não lhes é garantido este direito de escolha”.

Em Portugal, a utilização dos dispositivos de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina para administração da insulina às pessoas com diabetes tipo 1 tem permitido uma melhoria do seu controlo metabólico, com redução das hipoglicemias graves e dos episódios de cetoacidose.

Esta abordagem terapêutica proporciona uma assinalável melhoria da qualidade de vida, refletindo-se em vantagens relevantes para os doentes, como a redução da fobia às agulhas em crianças, adolescentes e adultos, com consequente aumento da adesão à terapêutica; a melhoria do tratamento quando a pessoa tem turnos e horários irregulares.

Não tendo acesso a este dispositivo, as pessoas com diabetes tipo 1 têm de injetar insulina várias vezes ao dia, fazendo a gestão desta administração de acordo com os valores adquiridos com a medição da glicemia, que também pode exigir picadas no dedo, no caso das pessoas que não têm acesso ao dispositivo de monitorização de glicemia.

Alimentos
As Aflatoxinas são um dos mais potentes e perigosos grupos de micotoxinas no mundo.

Nos dias atuais não existe ninguém que ainda não se tenha apercebido da importância de optarmos pelos alimentos ditos “biológicos”, que ganham cada vez mais terreno nas prateleiras de todos os supermercados, graças à maior procura e consciencialização pela população uma vez que se tratam de alimentos obtidos através de uma produção ecosustentável, que se preocupa com a preservação climática e dos recursos naturais, assim como o bem-estar animal.

Existe no entanto, um inimigo à espreita em alguns dos alimentos mais procurados nesta categoria, que por serem produzidos com limitados produtos químicos sintéticos, permitem que a natureza seja capaz de invadir e produzir compostos extremamente perigosos à saúde humana. Estamos a falar de aflatoxinas!

Tratam-se de toxinas produzidas por determinadas espécies de fungos, a Aspergillus flavus e a Aspergillus parasiticus, assim como outras espécies de micotoxinas produzidas por Fusarium e Penicillum.

Estas espécies de fungos são extremamente resistentes ao calor e reproduzem-se em condições de humidade, representando um elevado risco para a saúde quando presentes nos alimentos, tais como os frutos secos, especiarias, milho e outros cereais diversos, comummente utilizadas na nossa dieta.

O sulfato de cobre é um fungicida orgânico amplamente utilizado nas agriculturas biológicas, no entanto, (pasme-se!) é menos eficaz e mais tóxico para as pessoas, pequenos mamíferos, minhocas, aves e peixes, comparativamente ao seu equivalente sintético Ditiocarbamato; aumentando não apenas o risco de desenvolvimento de micotoxinas mas ainda a produção de outras toxinas antimicrobianas, pela própria planta enquanto mecanismo de defesa, sendo algumas destas mais prejudiciais aos seres humanos do que o antifúngico sintético que as poderia combater (DeGregori, 1996 citado por Riches E., 2013).

Desta forma, estaremos todos a privilegiar uma alimentação biológica em prol da ecosustentabilidade comportando riscos elevados de contaminação fúngica e ingestão de toxinas, prejudiciais à nossa saúde?

A resposta não é certa! Da mesma forma que existe a comparação relativamente à eficácia de vários tipos de fungicidas, existem igualmente estudos que demonstram não existir diferença significativamente estatística nos níveis de contaminação fúngica entre amostras alimentares de produção orgânica e convencionais, ainda que tenham sido identificados em ambos a existência das espécies de fungos acima referidas (Gourama H., 2015); ou seja, é inevitável a nossa exposição à aflatoxina independentemente do tipo de agricultura realizada.


Fungo do género Arpergilus
Fonte: FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations

A questão é que a problemática das aflatoxinas vai muito além dos campos agrícolas – é na fase de armazenamento que o problema se agrava pelo risco de humidade aumentada, podendo ainda desenvolver-se nas fases de embalamento, transporte, no local de venda e consumo do produto, e inclusive em casa do consumidor.


Nozes contaminadas com aflatoxinas
Fonte: Organização Mundial de Saúde  

Mas afinal qual o problema desta aflatoxina?

A contaminação em humanos pode ocorrer sob duas formas – através da via alimentar, pela ingestão de alimentos contaminados, ou através da via pulmonar pela aspiração.

O contacto entre a célula humana e a aflatoxina provoca quatro mecanismos base de todas as manifestações clínicas:

  • Apoptose, ou seja um processo em que a própria célula se autodestrói até à sua morte;
  • Inibição de ácidos nucleicos DNA e RNA, fundamentais à boa reprodução celular, levando portanto ao risco de mutações genéticas e cancro;
  • Redução da síntese proteica a nível dos ribossomas celulares, conduzindo a estados de desnutrição celular, desregulação hormonal, deficiente manutenção tecidular, afetando portanto todo o nosso funcionamento biológico;
  • Instabilidade da membrana celular, levando a danos na própria célula.

Dessa forma, a aflatoxicose – intoxicação pela aflatoxina, pode ser aguda, subaguda ou crónica, manifestando-se nas mais variadas formas e nos diversos sistemas orgânicos:

Digestivo – diarreia, obstipação, dificuldade na digestão e absorção proteica e lipídica, gastroenterites;

Renal – patologias de diferentes graus, até à insuficiência;

Imune e endócrino – esplenomegália (aumento do baço) e redução da imunidade geral, hiperestrogenismo (produção excessiva de hormonas sexuais femininas com todo um consequente desequilíbrio hormonal), dores de cabeça, alergias;

Sistema nervoso – depressão, alterações do sono e alteração de comportamento;

Sistema reprodutor – redução quantitativa de espermatozoides e infertilidade, diminuição do crescimento fetal e baixo peso nos recém-nascidos.

Salienta-se no entanto que o órgão descrito como o mais afetado é sem dúvida o fígado tendo sido encontradas desde alterações mais comuns, como a esteatose hepática (comummente conhecido como “fígado gordo”), até danos mais graves como necrose aguda, cirrose e carcinoma hepático que se acompanham de uma série de sintomas típicos: náuseas, vómitos, icterícia (pele amarela), abdominalgia (dor abdominal), anorexia e/ou edemas das extremidades.

Além de uma série de alimentos que estão na base da alimentação humana, a própria ingestão pelos animais, de rações contaminadas produz um estado de intoxicação nestes, que por sua vez, também constituem fonte alimentar para os humanos.

A Agência Internacional de Pesquisa no Cancro (IARC - International Agency for Research on Cancer), enquanto organismo da Organização Mundial de Saúde, classificou já em 2012 as aflatoxinas enquanto carcinogénico de Classe I para os humanos, ou seja, é um composto com relação direta no desenvolvimento de cancro no fígado nos seres humanos (e não apenas uma “probabilidade de” ou “possibilidade de” que corresponderiam a outras classes de carcinogénicos humanos).

Apesar deste enorme alerta, a frequência relativa de aflatoxicose em humanos é ainda desconhecida. A pouca informação relativamente a estes casos deve-se à imensa variabilidade de sinais clínicos que levam a dificuldade diagnóstica, à dificuldade na correlação entre os dados clínicos e a sua relação com a dieta, assim como à ineficácia dos sistemas de vigilância das regiões onde os níveis de contaminação são mais elevados.

Nesse sentido, vários estudos têm sido conduzidos por instituições máximas de controlo alimentar. Num parecer científico emitido pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar - EFSA (European Food Safety Authority) sobre o efeito na saúde pública de um possível aumento do nível máximo de “aflatoxina total” em amendoins e produtos transformados derivados destes (originários de países europeus), concluiu um risco aumentado e excessivo no desenvolvimento de cancro, para estes consumidores, particularmente crianças e jovens que foram identificados enquanto população mais exposta.

No que diz respeito à contaminação de seres humanos pela via pulmonar, existe já identificada uma patologia, designada por Aspergilose, que tal como o nome indica, é provocada pela inalação do fungo Aspergillus, o que habitualmente (e em quantidades mínimas) é inofensivo para pessoas saudáveis mas pode ser mortal para pessoas imunodeprimidas.

No entanto, e para nossa tranquilidade, o contacto com esta toxina é minimizado pela capacidade natural que o nosso organismo tem de se proteger eliminando organismos estranhos e desintoxicando-se de toxinas existentes; para tal é essencial potencializar estas capacidades mantendo bons níveis de funcionamento do sistema imunitário e dos nossos emunctórios, ou seja, de todas as vias que promovem a eliminação do nosso organismo, tais como o intestino, sistema renal, pulmões, pele e de forma indireta, o fígado pela sua capacidade de processar e filtrar o sangue.

O que podemos então fazer?

As palavras-chave são “Prevenção e vigilância”! Vamos por partes:

Prevenção a dois níveis: potencializando o funcionamento do nosso organismo e prevenção com vigilância na redução à exposição da aflatoxina.

Prevenção - Maximizar o poder de desintoxicação do nosso organismo

Quanto maior a proliferação do fungo, maior a concentração liberta de micotoxina, assim, quanto mais rapidamente o nosso organismo o eliminar, menor será a exposição à mesma.

Para tal, como acima referido é fundamental manter os nossos emunctórios no seu melhor desempenho:

Certifique-se junto do seu naturopata que mantem uma permeabilidade intestinal adequada, evitando a passagem para a circulação sanguínea de substâncias e microrganismos que irão desencadear uma ativação do sistema imunitário e uma resposta exagerada do mesmo com inflamação, podendo ainda manifestar-se através de sintomas autoimunes, dores articulares e musculares, e/ou localizados a nível intestinal com distensão e desconforto abdominal frequentes.

Mantenha uma flora intestinal adequada ao seu perfil, que permita idas regulares e eficazes ao sanitário evitando a proliferação de uma flora intestinal putrefacta que é prejudicial ao ponto de se manifestar em infeções urinárias, vaginais ou problemas cutâneos – mantendo bactérias protetoras em elevado número no seu organismo evitará a multiplicação das que são prejudiciais e de outros microrganismos, como os fungos.

Além de um pró e prébiótico adequado ao seu perfil, estudos recentes demonstram que o consumo de alimentos fermentado, tais como miso, umeboshi, chucrute, kombucha e pickles, reduzem a contaminação de aflatoxinas em larga escala.

Mantenha uma alimentação e hidratação que resguarde um bom funcionamento renal.

Proteja os seus pulmões. Não se exponha ao fumo do tabaco ou outros gases tóxicos, reserve tempo regularmente para respirar ar puro em florestas e jardins, utilize algumas gotas de óleo essencial de eucalipto no duche, realize lavagens nasais.

Mantenha a sua pele limpa. Utilize esfoliantes naturais, se utilizar cosmética opte por produtos biológicos, utilize um creme hidratante suave, biológico e que contenha um pH adequado à sua pele.

Purifique e desintoxique o fígado pelo menos 2 vezes por ano, seguindo as recomendações do seu naturopata.

Ainda que não se considere enquanto via de eliminação, não podemos deixar de referir a importância de manter um pH estomacal adequado, uma vez que se trata da primeira barreira protetora do sistema digestivo na eliminação de microrganismos estranhos, e portanto fundamental no combate de possíveis fungos que possam existir nos alimentos.

Outra medida preventiva, prática e natural é a suplementação diária de clorofila, que já demonstrou cientificamente ter a capacidade de reduzir a biodisponibilidade da aflatoxina, prevenir o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, entre outras patologias induzidas pelo seu consumo.

Prevenção e Vigilância – Reduzir a exposição

Este ponto é essencial pela elevada capacidade que a toxina tem em permanecer nos alimentos mesmo após altas temperaturas de cozimento, que podem matar o fungo mas não inativa as toxinas libertas pelo mesmo.

É importante salientar que esta situação fica agravada quando os tipos de confecção privilegiados são as baixas temperaturas ou o crudivorismo, ainda que sejam plausíveis todos os benefícios deste tipo de alimentação ao nível da preservação dos nutrientes.

Não sendo possível eliminar a 100% a presença de micotoxinas nos alimentos, o teor limite de aflatoxinas permitido é regulamentado1, tanto no conjunto dos vários grupos de aflatoxinas designadas por B1, B2, G1 e G2; assim como o teor individual da aflatoxina B1 que é considerada a de maior risco para a saúde humana.

Anualmente são recolhidas e analisadas, pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), amostras dos seguintes géneros alimentícios para controlo destes teores máximos:

  • Amendoins
  • Frutos de casca rija
  • Frutos secos
  • Cereais e todos os produtos derivados destes
  • Milho
  • Leite cru, leite tratado termicamente e leite para o fabrico de produtos lácteos
  • Especiarias das seguintes espécies:
  • Capsicum spp. (o fruto seco, inteiro ou triturado, incluindo a malagueta, a
  • Malagueta em pó, a pimenta de Caiena e o pimentão-doce)
  • Piper spp. (pimenta branca e a pimenta preta)
  • Myristica fragrans (noz moscada)
  • Zingiber officinale (gengibre)
  • Curcuma longa (curcuma)
  • Alimentos à base de cereais transformados e alimentos para bebés destinados a lactentes e crianças jovens;
  • Fórmulas para lactentes e fórmulas de transição, incluindo leite para bebés e leite de transição;
  • Alimentos dietéticos destinados a fins medicinais específicos especificamente destinados a lactentes.

Todos os géneros alimentares supracitados estão sujeitos a análise anual pela ASAE, no entanto, pelos frequentes elevados níveis de humidade, poderão ainda ser encontrados em algumas frutas tais como uvas, frutos silvestres, sementes de linhaça, ervilhas, sementes de abóbora, feijões de soja, arroz, grãos de cacau, cana do açúcar, tomate e vegetação diversa em decomposição. Muitos destes alimentos ainda não sujeitos a análise anual, são objeto de investigação bioquímica muito recente, todos com presença de aflatoxinas, sendo importante salientar que OMS aponta uma extensa exposição à aflatoxina em áreas onde as pessoas obtêm grande parte de sua ingestão calórica diária pelo milho uma vez que este constitui um dos grãos mais afetados pela micotoxina.

A FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) desenvolveu em 1994 um Código Internacional de Práticas de Higiene Recomendada para Nozes (CAC / RCP 6-1972) (FAO / WHO, 1994b) e um programa de prevenção de contaminação fúngica e produção de aflatoxina que considera várias etapas desde o cultivo até a colheita, manuseio pós colheita, secagem, armazenamento pós-secagem, processamento, armazenamento pós processamento, transporte e comercialização. Todas estas práticas deverão ser tidas em conta pelos produtores, transportadoras e comerciantes; no entanto, o consumidor necessita estar alerta e para tal, o Departamento de Segurança Alimentar e Zoonoses da Organização Mundial de Saúde (2018) aponta medidas preventivas que o consumidor deve ter em consideração e que se revelam a seguir:

  1. Inspecionar cuidadosamente todos os grãos inteiros e nozes de forma a verificar a possível existência de descoloração, de um aspeto enrugado, de “bolor” ou “mofo”, uma espécie de pó (que na verdade é o fungo) com uma tonalidade amarelado-esverdeado, com cheiro típico de humidade (evite cheirar se já visível de forma a não aspirar os esporos do fungo), devendo deitar fora de imediato uma vez que a toxina penetra profundamente no alimento não se cingindo apenas à superfície;
  2. Comprar os géneros alimentícios o mais fresco possível, e de preferência perto da zona de compra evitando produtos que tenham sido armazenados e transportados durante muito tempo;
  3. Comprar apenas “marcas respeitáveis”, particularmente no que diz respeito às manteigas de oleaginosas que são dos produtos com maior probabilidade de conterem estas micotoxinas. Diríamos até que o ideal será o leitor realizar a sua própria manteiga de amendoim/noz/caju/amêndoa bastando apenas torrar o grão no forno alguns minutos e triturar num processador de alimentos até obter uma consistência cremosa;
  4. Certifique-se de que os alimentos são armazenados em ambiente seco e não são mantidos por longos períodos de tempo antes de serem utilizados;
  5. Mantenha uma dieta diversa, reduzindo assim a exposição à aflatoxina e melhorando o seu estado nutricional e saúde em geral.

Conclusão

Todas as doses de contacto da aflatoxina têm um efeito acumulativo na saúde, com o risco de desenvolvimento patológico ligeiro a grave. Até ao momento, não existe uma forma de produção agrícola ou de manuseamento posterior que permita garantir ao consumidor a inexistência de micotoxinas. Desta forma, a comunidade científica e diversas instituições à escala mundial tem os olhos voltados para este problema de saúde pública.

O consumidor tem um papel fundamental na observação e seleção dos seus alimentos, devendo estar informado das melhores opções ao seu alcance, assim como das diferentes estratégias de saúde naturais que permitam manter o seu organismo num nível máximo de equilíbrio e defesa imunitária.

As Clínicas Viver dispõem de uma equipa multidisciplinar, alerta para todas as questões que estão na mira científica atual, procurando conjugar neste conhecimento, estratégias holísticas tradicionais com métodos avançados e tecnológicos de diagnóstico e tratamento.

Referências:
Organização Mundial de Saúde
Departamento de Segurança Alimentar e Zoonoses da Organização Mundial de Saúde
IARC - International Agency for Research on Cancer – Organização Mundial de Saúde
Autoridade de Segurança Alimentar e Económica
Regulamento (CE) nº1881/2006 da Comissão, de 19 de dezembro de 2006 que fixa os teores máximos de certos contaminantes presentes nos géneros alimentícios
Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo
© 2018 European Food Safety Authority. EFSA Journal published by John Wiley and Sons Ltd on behalf of European Food Safety Authority.
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations
Riches E. (2013) Organic Food – The Hazard of Mycotoxins, retirado de CABI - Nutrition and Food Sciences através do website: https://www.cabi.org/nutrition/news/11833
Gourama H. (2015) A Preliminary Mycological Evaluation of Organic and Conventional Foods - Food Protection Trends; Vol 35, No. 5, p.385-391;
International Association for Food Protection
Wacoo AP; Mukisa IM; Meeme R.; Byakika S.; Wendiro D.; Sybesma W. e Kort R. (2019) Probiotic Enrichment and Reduction of Aflatoxins ina Traditional
African Maize-Based Fermented Food. Nutrients Jan 25; 11(2) pii: E265. doi: 10.3390/nu11020265.
Alshannaq AF.; Gibbons JG.; Lee MK.; Han KH.; Hong SB.; Yu JH (2018) Controlling aflatoxin contamination and propagation of Aspergillus flavus by a soy-fermenting Aspergillus oryzae strain. Scientific Reports. Nov 15;8(1):16871. doi: 10.1038/s41598-018-35246-1.
Egner PA.; Wang JB.; Zhang BC.; Wu Y.; Zhang QN.; Qian GS.; Kuang SY.;Gange SJ.; Jacobson LP.; Helzsouer KJ.; Bailey GS.; Groopman JD.; Kensler TW. (2001) Chlorophyllin intervention reduces aflatoxin-DNA adducts in individuals at high risk for liver cancer. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America Dec 4;98(25):14601-6. Epub 2001 Nov 27.

Sónia Godinho – Natural Health Coach nas Clínicas Viver®
Formação Avançada em Naturopatia pela Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches (4 anos – 240 ECTS)
Terapeuta de Reflexologia e Hidroterapia do Cólon
Licenciada em Enfermagem
Mestre em Cuidados Paliativos, na área da comunicação/counselling

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Terapia individual e de casal
Respeitar, aceitar diferenças, gerir a ansiedade, comunicar. Eis alguns dos desafios que os casais têm de ultrapassar no dia a...

O projeto conta com profissionais nas áreas da psicologia, terapia de casal, sexologia e psiquiatria, sob coordenação da psicóloga clínica Catarina Lucas, diretora clínica do Centro Catarina Lucas.

Trata-se de um projeto pioneiro em Portugal, que consiste em dar espaço para que o casal possa falar sobre as dificuldades sentidas nestas alturas e ajudá-los a planear todo o processo de forma tranquila.

Este acompanhamento decorre sob a forma de terapia individual ou de casal, definindo-se os objetivos e necessidades.

“Em Portugal, não existia até agora nenhum projeto tão direcionado para o acompanhamento dos noivos, mas noutros países, como no Brasil, esta é já uma prática comum. A PsiNoivos segue os fundamentos da terapia de casal, aos quais se acrescentam as questões mais práticas, como a gestão da ansiedade, as dúvidas relativas ao casamento em si mesmo, os problemas de comunicação. É importante que o casal se sinta apoiado nestes momentos e que tenha alguém fora do círculo familiar para expor questões mais sensíveis”, sublinha Catarina Lucas.

 

Estudo
Uma dieta alimentar rica em alimentos processados causa alterações metabólicas desde cedo, concluiu um estudo do ISPUP,...

O trabalho da equipa de investigação da Universidade do Porto quis “perceber qual o efeito da alimentação no seu todo (padrão alimentar) nos níveis futuros de parâmetros metabólicos”.

Segundo Andreia Pinto, uma das autoras deste estudo, já se sabia que a alimentação tem influência sobre marcadores metabólicos, como o colesterol, triglicerídeos e pressão arterial sistólica e diastólica. “Mas não sabíamos até que ponto é que esta relação se estabelecia em idades precoces”, explica a investigadora.

A investigação usou os dados de 3.350 crianças que pertencem ao estudo longitudinal Geração XXI, o qual segue, desde 2005, 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.

Os investigadores analisaram os padrões alimentares das crianças aos 7 anos de idade e os seus indicadores metabólicos aos 10, verificando que as crianças que consumiam alimentos de elevada densidade energética e menos sopa de legumes apresentavam já aos 10 anos um padrão cardiometabólico alterado, nomeadamente, níveis mais elevados de triglicerídeos e menor concentração de colesterol HDL (colesterol bom).

Constataram ainda que aquelas que praticavam este padrão alimentar, tinham maior resistência à insulina e maiores níveis de pressão arterial diastólica, independentemente do seu peso aos 10 anos.

Para a investigadora, estes resultados são especialmente úteis para os educadores e para os pais. Estes devem ter consciência “da importância de colocar regras na alimentação dos filhos, uma vez que os hábitos alimentares que adotam precocemente vão influenciar a sua saúde mais tarde. A adoção de um padrão alimentar saudável é, por isso, muito relevante”.

De sublinhar que as alterações metabólicas em idades precoces podem levar ao desenvolvimento futuro de doença instalada, como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e doença cardiovascular.

Opinião
O desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e de melhor aceitabilidade e tolerabilidade, quase to

Mais uma vez está em curso o processo de candidaturas às Bolsas Celgene 2019. A Bolsa, no valor de 10.000 Euros, distingue o melhor projeto elaborado por entidades nacionais que seja uma iniciativa centrada nas pessoas com doença e que demonstre excelência na procura de soluções inovadoras, respondendo a necessidades dos doentes e dos seus cuidadores. Os projetos, como diz o regulamento, “devem preferencialmente ser concebidos com o envolvimento de doentes ou cuidadores de modo a demonstrar resultados mensuráveis e indicadores de sucesso que traduzam o seu impacto junto da sociedade e também das pessoas com doença”, sendo idealmente replicáveis em várias áreas das necessidades em saúde. No entanto, as Bolsas destinam-se a projetos nas áreas da Oncologia, especialmente a áreas relacionadas com tumores hematológicos, e doenças crónicas debilitantes do sistema nervoso.

Em qualquer destas áreas há muitas necessidades ainda não respondidas a que urge dar contributos. Temos tido uma sociedade civil pujante, muito em especial através de ONGs que se têm dedicado aos problemas do cancro e das doenças neurológicas debilitantes, além de intervenções da Academia e, como sempre, do setor social com especial destaque para as organizações religiosas. Em todas elas poderão surgir ideias que precisem de financiamento que aqui poderão encontrar.

A evolução biológica natural de cada pessoa, aquilo a que chamamos envelhecimento, é um processo complexo e multifacetado. Não é sincrónico e varia muito de indivíduo para indivíduo. No entanto, o passar do tempo torna-nos vulneráveis a noxas, por um lado, e suscetíveis ao processo físico e termodinamicamente inultrapassável da degenerescência, a entropia normal de cada organismo vivo, por outro. Ora, por causa desses processos, há uma crescente probabilidade de surgir uma doença celular grave que pode ser de natureza oncológica, perdidos os mecanismos de controlo da função e divisão das células, o que designamos de cancro, ou de natureza neurológica, o que inclui as demências e outros fenómenos de perda de função neuronal central ou periférica. Infelizmente, no caso das doenças crónicas degenerativas do sistema nervoso há também um largo conjunto de doenças que afetam pessoas mais novas, sejam elas hereditárias ou de cariz imunológico, que condicionam fortemente a qualidade de vida dos doentes e de quem os rodeia, em especial da família mais próxima, como os pais, irmãos, esposos, filhos e todos os que partilharem o dia a dia destas pessoas. E também há os impactos no trabalho e até nos colegas que têm de ser minorados, já que o interesses das pessoas doentes e de quem as trata é a manutenção de uma vida tão normal quanto possível. E hoje é muito mais possível do que há poucos anos.

O desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e de melhor aceitabilidade e tolerabilidade, quase todos orais e menos tóxicos, tem contribuído para que estes doentes possam viver mais e melhor. Mas a farmacoterapia não resolve tudo. Por isso, sendo certo que não é desejável esperar que outros venham resolver os nossos problemas, apelo a todos os interessados que se disponham a concorrer à Bolsa Celgene de 2019. Ainda vão a tempo, até ao fim de junho. Quem sabe, sendo vencedores, quanto não poderão fazer a mais com esta ajuda da Bolsa que está ao vosso dispor. Os doentes e os seus cuidadores certamente que vos agradecerão por terem concorrido.

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Breast Centres Network
A Unidade de Senologia (Serviço de Ginecologia/Obstetrícia) do Hospital Distrital de Santarém obteve a certificação como membro...

A Breast Centres Network consiste numa rede internacional de centros clínicos dedicados exclusivamente ao diagnóstico e ao tratamento do cancro da mama e que integra todas as Unidades de Mama distinguidas como centros de referência.

A Breast Center Network oferece um diretório online de Unidades de Senologia que fornece informações detalhadas sobre os seus membros, na tentativa de transmitir os padrões internacionais de última geração para o cuidado multidisciplinar do cancro da mama.

Em comunicado, o Hospital de Santarém refere que o “reconhecimento é prestigiante e motivo de orgulho para a Unidade de Senologia do Hospital de Santarém, para todos os profissionais que a integram e para as utentes que aqui são tratadas”.

“É o corolário do empenho e dedicação de uma vasta equipa multidisciplinar com formação altamente qualificada, que ao longo de mais de 20 anos da existência desta Unidade, sempre se pautou pela prestação de cuidados de saúde de excelência às suas utentes”, pode ler-se no documento.

 

Assistência em casa
O Hospital Dr. Francisco Zagalo – Ovar (HFZ-Ovar) arranca este mês com o serviço de hospitalização domiciliária. A nova unidade...

Com o objetivo de contribuir para o melhor nível possível de saúde e bem-estar dos indivíduos da área de abrangência do HFZ-Ovar, que necessitem transitoriamente de cuidados de nível hospitalar, a nova unidade disponibilizará um serviço de qualidade com o rigor clínico e a visão holística e humanizada da medicina interna, sempre que a permanência no hospital seja prescindível.

Esta unidade conta com uma equipa de 10 elementos que garantem a cobertura médica e de enfermagem, durante 24 horas, todos os dias do ano, inclusive nos feriados e fins de semana, em regime de presença física e prevenção.

A hospitalização domiciliária é uma prática recente em Portugal, tendo sido o Hospital Garcia de Orta o primeiro a ter uma unidade com esta valência, um modelo usado em vários países e que traz vantagens, como evitar infeções hospitalares multirresistentes ou reduzir os custos de internamento.

Genericamente, a hospitalização domiciliária serve como uma alternativa ao internamento convencional, mediante assistência contínua, tendo de ter a concordância do doente e da família.

O doente que esteja hospitalizado no domicílio tem acesso aos medicamentos exatamente como se estivesse internado no hospital.

Este modelo de assistência é diferente do apoio social no domicílio que já existe no Serviço Nacional de Saúde, uma vez que incide sobre a fase aguda de uma doença ou sobre a agudização da doença crónica.

 

Obras de requalificação
O Hospital Santa Maria Maior, EPE – Barcelos (Hospital de Barcelos) vai investir mais de 260 mil euros na requalificação e...

De acordo com Joaquim Barbosa, Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Barcelos, a Urgência funciona num espaço “muito reduzido”, sendo o objetivo da intervenção, já em curso, melhorar as condições quer para os utentes quer para os profissionais de saúde.

“A Urgência funciona num espaço construído para claustros, apresentando, por isso, limitações estruturais que não é possível ultrapassar, mas vamos tentar minorar as dificuldades e constrangimentos”, explicou em comunicado-

Com as obras, vai ser possível aumentar a capacidade da área de atendimento e permanência dos utentes ao cuidado da Medicina Interna. Em vez de cinco passam a ser nove camas disponíveis.

As obras de requalificação vão estender-se ainda à casa mortuária e à urgência geral.

“As obras decorrerão em simultâneo com o funcionamento normal do Serviço de Urgência”, sublinhou Joaquim Barbosa.

A funcionar num edifício propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, o hospital dá resposta a 154 mil habitantes deste concelho e de Esposende.

 

Estudo
Atualmente, mais de 300 milhões de pessoas sofrem de problemas de saúde mental, o que implica para um setor empresarial perdas...

A Michael Page apresentou o estudo “8 tendências para executivos 2019,” sobre os atuais desafios para os líderes de negócio. O relatório, na sua 4ª edição, explica a importância em fomentar a cultura da empatia e da compreensão nas empresas, destacando o aumento dos problemas de saúde mental dos trabalhadores, incluindo os altos cargos de direção.

De acordo com o estudo, existem atualmente, mais de 300 milhões de pessoas que sofrem de problemas de saúde mental, o que pressupõe para o setor empresarial perdas significativas, que em 2017, se avaliaram em 246 mil milhões de dólares a nível mundial.

Estes resultados mostram a necessidade de se considerar a saúde mental como uma preocupação de negócio e se criarem ferramentas que permitam desenvolver ambientes de trabalho saudáveis, nos quais se possa tratar de forma adequada qualquer tipo de problema que possa afetar todos os trabalhadores, incluindo os que desempenham funções de direção.

A importância de falar sobre a saúde mental

Hoje em dia, há um estigma importante quando se trata de expor a saúde mental e os problemas associados. Segundo dados do estudo, a hesitação por parte dos trabalhadores em falarem sobre a sua saúde mental pode levar a que acabem por trabalhar em más condições, com repercussões na produtividade e, consequentemente, com impacto no desempenho e sustentabilidade da empresa.

De acordo com a investigação realizada, 36% dos trabalhadores consideram que estes temas podem prejudicar a sua carreira, 20% refere que poderão ser ultrapassados pelos colegas, e 34% afirmam que pode refletir uma imagem distorcida da realidade, mostrando incapacidade para cumprirem as suas funções. Além disso, dos 50% dos trabalhadores que já tiveram problemas de saúde mental e pediram ajuda aos seus superiores, 1 em cada 5 afirma que se sentiu incompreendido e o problema não foi solucionado.

“Face a esta situação, a solução passa necessariamente por criar ferramentas adequadas que ajudem a dar visibilidade a estes problemas e permitam oferecer soluções claras para reduzir os níveis de stress e ansiedade nas empresas”, refere Joana Barros, Senior Marketing Executive da Michael Page Portugal.

Quanto maior a responsabilidade, maiores os níveis de stress, ansiedade ou depressão

Se os problemas de ansiedade, depressão e stress são frequentes entre os colaboradores nas empresas, os níveis aumentam nas funções de direção. De acordo com o estudo “Mental Health at Work” da Business in Community, existe uma relação entre autoridade e depressão que implica um risco duas vezes maior para CEOS e altos cargos de direção. O principal motivo é que estes profissionais costumam trabalhar mais horas, sofrem de mais pressão para dar o exemplo e dispõem de muito pouco tempo livre, o que implica colocarem muitas vezes de lado a sua própria saúde mental.

Perante esta situação, os especialistas insistem em que a solução passa por tentar que os diretores falem de forma segura sobre a sua saúde mental e perceber que a depressão e o stress são problemas normais que se podem tratar.

O que se pode fazer para solucionar o problema?

Do ponto de vista pessoal, os especialistas da Michael Page propõem uma série de recomendações, tais como dormir bem, alimentação equilibrada, meditação e vida social, para poderem trabalhar de forma mais calma e concentrada.

Na perspetiva das empresas, é importante criar uma cultura empresarial aberta e de confiança, que apoie os trabalhadores, independentemente da sua função e responsabilidade. Existem várias ações fundamentais que as empresas podem realizar para motivar os seus colaboradores: reforçar a aproximação, melhorar a sua qualidade de vida no trabalho, estar disponível para ouvir para que se sintam reconhecidos e mais motivados, promover a reconciliação da vida pessoal com horários mais flexíveis, incorporar atividades lúdicas para ajudar a descontrair e a reduzir o stress, ou incluir atividades como yoga ou meditação, para ajudar a enfrentar as dificuldades com calma e serenidade.

Outras soluções passam ainda pelas empresas poderem proporcionar intercâmbios com outros países, elaborar planos de carreira à medida do empregado ou disponibilizar formação que reduza o tempo despendido com o trabalho.

Neste sentido, apesar de haver ainda um longo caminho a percorrer, já são várias as empresas que conscientes do impacto da saúde dos seus empregados na produtividade, estão a iniciar programas para incentivar os seus profissionais a uma vida sã e equilibrada.

“Muitas empresas estão a optar por programas dedicados à meditação, ao mindfulness, além de conversas sobre a importância da vida saudável, a oferecer ajuda para eliminar hábitos não saudáveis, massagens para as dores de costas ou inclusivamente a disponibilizar psicólogos que se deslocam às empresas”, concluiu Joana Barros.

Suplementação
Ainda que Portugal seja um país de sol, é reconhecido que os portugueses apresentam défice desta vitamina. Os hábitos de vida...

No âmbito da sua participação num evento de formação para profissionais de saúde, onde será abordada a temática “A Insuficiência de Vitamina D em Portugal e o papel do farmacêutico, Viriato Horta, médico de medicina geral e familiar, explica que a vitamina D tem vindo a ganhar importância ao longo do tempo.

“Primitivamente achávamos que a vitamina D só era importante para a saúde do osso e depois veio-se a verificar que é muito importante para a regulação de várias hormonas e para o bom funcionamento do aparelho cardiovascular, do cérebro e do sistema imunitário. Deste modo a vitamina D saiu do campo restrito da reumatologia e é hoje usada em muitas especialidades médicas”, acrescenta.

Esta utilização de vitamina D é obrigatória em todos os bebés durante o primeiro ano de vida, de acordo com recomendações nacionais e internacionais. As recomendações internacionais alargam-se a todas as crianças até aos 18 anos que pertençam a grupos de risco, nomeadamente com obesidade, pele escura ou com indevida exposição solar (sem atividade ao ar livre, por exemplo).

Na idade adulta, pessoas acima dos 65 anos são o principal grupo alvo das recomendações da maioria das especialidades médicas, mas, uma vez mais, os grupos de risco requerem especial atenção. Nas recomendações de suplementação para os adultos, a osteoporose é a doença que requer de forma genérica mais indicações por parte dos especialistas.

A importância da vitamina D para as várias funções fisiológicas tem vindo a  reunir cada vez mais consenso entre os vários profissionais de saúde que reforçam que parece ser cada vez mais relevante o alargamento de suplementação com vitamina D em toda a população.

 

Congresso Europeu
Terapia genética intravítrea mostra-se promissora no tratamento da Neuropatia Óptica Hereditária de Leber (LHON) e...

A Neuropatia Óptica Hereditária de Leber (LHON) esteve em destaque no primeiro dia do EUNOS 2019, o maior congresso europeu de neuro-oftalmologia, que decorre no Porto até à próxima quarta-feira. 

Catherine Vignal-Clermont, especialista do Rothschild Foundation Hospital, em Paris, França, partilhou informações sobre os avanços na investigação no sentido de uma terapêutica genética capaz de ajudar os doentes que sofrem com este problema raro, hereditário, incapacitante e que provoca uma perda de visão rápida em ambos os olhos, que poderá ser usada em conjunto com o único medicamento aprovado para o tratamento desta doença.

“A doença de LHON é uma doença hereditária mitocondrial, que causa perda bilateral da visão central”, refere a especialista, que acrescenta tratar-se de uma doença associada, em 75% dos casos, a “uma mutação pontual no gene ND4 mitocondrial”, que torna a maioria das pessoas envolvidas “legalmente cegas”, sendo as opções de tratamento “limitadas”.

Atualmente existe um medicamento, o único aprovado pela Agência Europeia do Medicamento para tratar a doença e com provas dadas de eficácia na luta contra a cegueira, ainda que o atraso no diagnóstico seja uma realidade, para a qual alertou recentemente um grupo de especialistas mundiais, num documento onde se definiram as guidelines e critérios para a gestão clínica e terapêutica da LHON. Por isso, segundo Catherine Vignal-Clermont, “devido ao início súbito da doença e ao facto de o olho ser considerado imuno-privilegiado, a terapia genética intravítrea é uma opção terapêutica promissora”.

É por este caminho que tem trilhado a ciência, com estudos pré-clínicos que acabaram por dar origem a vários ensaios clínicos, alguns já concluídos e com resultados publicados. Resultados que são, segundo a especialista, “encorajadores, indicando um benefício visual funcional numa proporção de olhos tratados”.

São, no entanto, tratamentos ainda experimentais, sem aprovação pelo que, considera Catherine Vignal-Clermont, poderá ser vantajoso para os doentes uma sinergia entre este tipo de terapêutica e aquela que está atualmente aprovada.

Saúde Oral
A doença periodontal desenvolve-se e progride, em muitos casos, de forma lenta e silenciosa.

A doença periodontal está entre as 10 doenças mais frequentes, sendo a principal responsável pela perda de dentes em adultos. A seguir à cárie dentária, é aquela com maior prevalência na cavidade oral, resultando de múltiplos fatores.

“A doença periodontal é uma doença inflamatória de caráter crónico de origem multifatorial” que perturba e afeta os tecidos periodontais podendo causar lesão irreversível no osso alveolar e no ligamento periodontal.

Entre as causas que levam ao seu desenvolvimento, o especialista em Medicina Dentária, Paulo Marques, destaca a acumulação de placa bacteriana, “acompanhada por uma higiene oral deficiente e inadequada”, como a mais frequente.

No entanto, esclarece que existem outros fatores de risco. “A doença periodontal é uma patologia inflamatória de origem multifatorial cujo aparecimento e evolução depende da interação da resposta do sistema imunitário do hospedeiro à ação patogénica dos microrganismos da placa bacteriana”, adianta revelando que esta pode surgir como consequência dos hábitos alimentares, consumo de álcool e tabaco ou por questões genéticas.

Para além dos maus hábitos de higiene oral, stress ou ansiedade, também as alterações hormonais presentes na puberdade, menopausa ou gravidez podem condicionar o seu desenvolvimento.

A doença periodontal pode surgir ainda associada a várias patologias sistémicas como é o caso da diabetes ou artrite reumatoide. Nestes casos, “as manifestações orais mais frequentemente associadas a doenças sistémicas são as lesões da mucosa oral, da língua, da gengiva, das glândulas salivares, do esqueleto facial, da pele extra oral e as lesões periodontais”. No entanto, a maioria dos doentes desconhece que a sua condição pode aumentar o risco de desenvolver doenças da cavidade oral, pelo que o especialista afirma que é essencial “alertar os profissionais de saúde e informar os doentes para que tenham mais atenção aos sinais e sintomas”.

Gengivas edemaciadas, avermelhadas e sensíveis, mau hálito e alterações no gosto, hemorragia durante a mastigação ou escovagem estão entre as principais manifestações clínicas da doença periodontal. Mas, tal como explica Paulo Marques, há outros sinais a considerar:

  • Aumento da coroa clínica devido à migração apical da gengiva marginal;
  • Aumento da sensibilidade dentária aos estímulos térmicos, doce e ácido;
  • Mobilidade e alterações no alinhamento dentário com influência na oclusão dentária;
  • Aumento da profundidade de sondagem, sem a migração do epitélio funcional, provocado pelo edema e inflamação gengival;
  • Formação de bolsas devido à migração apical do epitélio funcional.

Gengivite e Periodontite são as principais formas de doença periodontal. A primeira caracteriza-se por uma inflamação que resulta da acumulação da placa bacteriana, manifestando-se através de edema, alteração da forma e contorno e hemorragia.

“Na periodontite, desenvolvem-se bolsas periodontais com uma profundidade de sondagem superior a 3 mm”, que conduzem à recessão da comprometendo os tecidos.

Tratamento: cirurgia está indicada para casos mais avançados

A doença periodontal pode ser tratada de forma fácil e eficaz quando se encontra num estádio inicial. Destartarização, curetagem e alisamento radicular são os procedimentos realizados para o seu tratamento. “O objetivo é a remoção da placa bacteriana e dos cálculos dentários, criando-se as condições favoráveis para a reparação e regeneração dos tecidos e aumento da dificuldade de adesão da placa bacteriana à superfície dentária”, explica o especialista em medicina dentária.

Hábitos como a escovagem dentária após as refeições, o uso do fio e dos escovilhões para limpeza dos espaços interdentários, de raspador lingual e, em alguns casos, o uso regular de um irrigador oral são essenciais para a manutenção de uma boca sã após tratamento. “O uso de colutórios e elixires poderá ser importante para complementar os procedimentos de higiene oral, no entanto, o uso de antibióticos é raro senão mesmo indispensável”, acrescenta o médico dentista.

“Nos casos de doença periodontal avançada ou grave, o tratamento inicial da infeção deve iniciar-se com destartarização, curetagem e alisamento radicular, com o objetivo de controlar a progressão da doença, seguindo-se os procedimentos cirúrgicos e terapêutica antibiótica”, explica acrescentando que se recomenda a utilização de metronidazol associado à amoxicilina, como tratamento sistémico de periodontite, “quando existe resistência da flora oral às tetraciclinas”.

De acordo com Paulo Marques, a cirurgia periodontal está indicada para “criar as condições favoráveis para a curetagem e o alisamento radicular, aumentar a gengiva ou promover a regeneração da inserção epitelial perdida pela doença periodontal” e dos tecidos, entre outros.

A cirurgia de retalho, a gengivectomia e a gengivoplastia estão entre os procedimentos cirúrgicos utilizados.

“Os procedimentos cirúrgicos e a saúde periodontal estão intimamente relacionados e desempenham um papel importante na integridade biológica dos tecidos. A preservação do espaço biológico representa uma barreira de defesa entre o biofilme e a crista óssea alveolar, além da relação fisiológica que assegura a saúde periodontal”, explica.

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Gengivite 

Periodontite

Infeções das gengivas afetam metade da população adulta

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Terreno liberado
O terreno para a construção da nova ala pediátrica do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) foi “liberto do processo...

O CHUSJ revela que a sua parcela de terreno destinada à ala pediátrica está “liberta de uma ação judicial interposta pela Associação Humanitária Joãozinho, que pediu a sua retirada”, homologada em 5 de junho pelo Tribunal Judicial da Comarca do Porto.

“Estão, assim, reunidas todas as condições para os procedimentos, já iniciados, tendentes à celebração do contrato de empreitada para a construção da Ala Pediátrica. Pretende-se que, no final de junho, o projeto seja remetido às 14 empresas selecionadas para análise e apresentação definitiva das propostas”, revela o centro hospitalar.

O Hospital de São João descreve que o projeto de arquitetura da ala pediátrica está “em fase de revisão técnica”, um procedimento que tem em vista “limitar eventuais erros ou omissões, de acordo com as exigências legais em vigor”.

Entretanto, o CHUSJ convidou 14 empresas de construção para apresentarem candidaturas à obra, que tem “especial complexidade técnica”.

“As empresas foram identificadas pelo grupo de trabalho presidido por Joaquim Poças Martins, Presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Engenheiros – Região Norte e professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que cumpriu integralmente os prazos estabelecidos”, acrescenta.

De acordo com o CHUSJ, o início da obra está previsto para este ano.

Há dez anos que o Hospital de São João tem um projeto para construir uma ala pediátrica, mas desde então que o serviço é prestado em contentores.  No início deste mês, as crianças com cancro foram transferidas dos contentores para o edifício principal do São João.

 

Incêndios rurais
O Governo aprovou uma resolução em Conselho de Ministros que autoriza a realização de trabalho suplementar, para lá do limite...

Durante os próximos meses, os profissionais poderão prestar trabalho suplementar até ao limite de 80% da sua remuneração base, em vez dos atuais 60%. Esta é uma situação com caráter excecional e limitada no tempo, que visa garantir uma resposta eficaz e o pronto socorro das populações em caso de necessidade.

O mecanismo está previsto na Lei de Orçamento do Estado para 2019

A medida vai aplicar-se a partir de amanhã (14 de junho), terminando a 31 de outubro. Esta alteração insere-se na Diretiva Operacional Nacional n.º 2 – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR).

No âmbito do DECIR, o INEM tem como atribuições a coordenação de todas as atividades de saúde em ambiente pré-hospitalar, a triagem e evacuações primárias e secundárias, a referenciação e transporte para as unidades de saúde adequadas, entre outras.

 

Medidas Preventivas
A Direção-Geral da Saúde promoveu, no passado dia 11 de junho, em Monchique, o evento «Juntos por um Verão Seguro 2019, onde...

“As pessoas, principalmente as crianças e os mais idosos, devem manter-se informadas, acima de tudo, hidratadas, para evitarem problemas na saúde”, sublinhou.

Na ocasião, a Diretora-Geral da Saúde apelou para que as populações evitem comportamentos de risco e tomem medidas preventivas em situações extremas de calor, de forma a não colocarem a saúde em perigo.

Na opinião de Graça Freitas, no período das férias de verão, aquele em que as pessoas estão mais descontraídas, “existem mais comportamentos de risco, que é preciso evitar para diminuir o número de acidentes”.

A existência do Plano de Contingência possibilita a comunicação de risco à população e aos parceiros do setor da saúde; permite implementar medidas no âmbito da literacia, para capacitar os cidadãos para a sua proteção individual; permite um adequado planeamento, para garantir a resposta dos serviços de saúde ao aumento da procura ou a uma procura diferente da esperada.

Graça Freitas referiu que os organismos nacionais ligados à saúde, em articulação com os regionais e locais, estão preparados para “dar resposta ao plano de contingência traçado, embora exista alguma preocupação com a resposta da capacidade dos serviços em determinadas zonas, devido ao aumento da população sazonal”.

À semelhança dos anos anteriores, a Saúde Sazonal articula-se com outros programas da Direção-Geral da Saúde, na realização de atividades no âmbito da Literacia para a Saúde. Este ano foram apresentadas as principais recomendações do Programa Nacional para a Alimentação Saudável.

 

Opinião
Doar sangue é uma dádiva!

Em 1900, descobriu-se que o sangue não era todo igual. Landsteiner ao identificar diferentes marcadores na superfície dos glóbulos vermelhos, percebeu que se transfundíssemos um sangue que não fosse do mesmo grupo que do doente, iriamos estimular uma resposta imunológica que destruiria massivamente os glóbulos vermelhos transfundidos.

Identificou-se e associou-se dois sistemas de grupos sanguíneos, AB0 e Rh, determinando a existência de 8 grupos diferentes: A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, 0+ e 0-. Sendo estes os nossos grupos de sangue.

Todavia, a Medicina Transfusional evoluiu bastante, sendo possível tratar mais e melhor, e com toda a segurança, os nossos doentes. Hoje, e concomitantemente com o avanço da tecnologia, é possível atribuir o sangue certo ao doente certo.

Tudo é aproveitado na doação: os glóbulos vermelhos, o plasma e as plaquetas. Em cada doação retira-se cerca de 450ml de sangue, que fica armazenado em plástico biocompatível.

Para sermos dadores de sangue temos que ter alguns pré-requisitos, como idade superior a 18 anos (até aos 60 anos se for a primeira dádiva), ter peso igual ou superior a 50kg e ter hábitos de vida saudáveis. Mesmo assim, antes da doação é feita uma triagem clinica, onde se pode esclarecer todas as dúvidas e onde são avaliadas outras questões clinicas que podem impedir a dádiva de sangue.

Em 2017 em Portugal, estavam inscritos 393 941 dadores, dos quais 54% chegaram a realizar a dádiva, tendo sido transfundidas 311 909 unidades de concentrado eritrocitário (dados do Instituto Português do Sangue). É sempre possível obter mais informação no site do Instituto Português do Sangue (http://ipst.pt/), como lá se pode ler “O sangue liga-nos a todos. Quem dá sangue, esperaajudar quem precisa e nunca precisar; quem recebe, conhece a verdadeira dimensão da solidariedade humana”.

E em 10 minutos é possível salvar até 4 vidas!

Dra. Ana Isabel Pedroso
Assistente Hospitalar de Medicina Interna na UCI/UCIP
Hospital de Cascais

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Em procedimentos de "alto risco"
A Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), em conjunto com as suas associações congéneres de Itália e...

“Este artigo de revisão tem como objetivo descrever os principais fatores que definem procedimentos não emergentes de alto risco e fazer um resumo dos dispositivos percutâneos de assistência ventricular esquerda, disponíveis para suporte mecânico temporário do ventrículo esquerdo, justificando o seu uso neste subgrupo de doentes”, afirma João Brum Silveira, presidente da APIC e um dos autores da investigação.

Com base nos resultados deste documento, João Brum Silveira salienta que o “uso específico destes dispositivos deve ser avaliado, por uma equipa multidisciplinar, de acordo com as características individuais de cada doente e as condições clínicas, uma vez que a sua eficácia e segurança têm variado consoante os casos relatados nos diferentes estudos”.

A intervenção coronária percutânea tem vindo a estabelecer-se como a única opção de revascularização num número crescente de doentes com doença coronária complexa, com risco cirúrgico elevado, não sendo por isso candidatos a cirurgia de revascularização do miocárdio.

Durante a última década, o pLVAD substituiu, cada vez mais, o balão intra-aórtico durante os procedimentos não emergentes de alto risco, evitando situações de colapso circulatório e de eventos adversos em procedimentos de duração prolongada e/ou complicados.

Neste documento são abordadas as indicações de utilização de pLVAD, a seleção dos doentes e dadas sugestões em relação ao uso destes dispositivos, durante os procedimentos não emergentes de alto risco, com base na experiência de três grupos de trabalho.  A comissão de redação foi constituída por cardiologistas de intervenção dos três países envolvidos no consenso.

O documento de consenso está disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0167527319306424

 

Desigualdades na carreira
Sem revisão de carreira há cerca de 20 anos, os profissionais sentem-se discriminados pelo Estado e queixam-se que o fosso...

Discriminados pelo Estado em relação a todos os trabalhadores da Administração Pública com o mesmo grau de exigência habilitacional e profissional, especialmente em relação a outros profissionais de saúde, os Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica alertam que a propagada problemática da revisão das suas carreiras nada tem a ver com a das restantes carreiras da administração pública.

Esta carreira não teve qualquer processo efetivo de revisão em 20 anos, tornando esta numa situação diferente das restantes carreiras especiais, nomeadamente na área da saúde, que foram revistas mais do que uma vez nos últimos anos.

“Pelo menos há dez anos e até à presente data, os TSDT foram prejudicados em centenas de milhões de euros. Valor este que o Estado poupou, mantendo e perpetuando desigualdades salariais dos TSDT, em relação a todos os trabalhadores da Administração Pública com o mesmo grau de exigência habilitacional e profissional, especialmente face a outros profissionais de saúde”, afirma o Presidente do STSS, Luís Dupont.

“O caso dos TSDT é particular e não é comparável a mais nenhuma carreira da função pública pelos piores motivos. O mais importante de toda esta discussão não pode ser o impacto orçamental, mas o reconhecimento por parte do Estado, e dos responsáveis políticos, que se está a promover a implementação de alterações que pretendem única e exclusivamente minorar as desigualdades que existem há décadas”, lamenta concluindo que“aquilo que sempre reivindicamos ao longo dos anos, e de sucessivos Governos, foi uma carreira digna, justa e com igualdade de tratamento que se impõe para os TSDT, que lhes é devida há mais de 20 anos”.

9.000 profissionais aguardam que o Parlamento aprove alterações e resolva o problema das desigualdades na carreira

Apesar do adiamento da votação da Assembleia da República, os TSDT acreditam na resolução de uma reivindicação que já é antiga. Embora seja considerada, pelo STSS, injusta e discriminatória face às tabelas das outras carreiras especiais, nesta discussão no Parlamento não está em causa a tabela salarial. O que alguns partidos estão dispostos a discutir são os problemas de discriminação e desigualdade criadas na carreira destes profissionais, em que 97% ficam colocados na categoria de base, apagando todos os anos de serviço de muitos destes profissionais, ficando 75% na primeira posição remuneratória, tenham 1, 10, 15, 20 ou mais anos de exercício.

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