Opinião

Perturbação do Espetro do Autismo: sinais de alerta e a importância de uma equipa multidisciplinar

Atualizado: 
11/12/2019 - 16:55
A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento que se caracteriza por alterações ao nível da interação social e comunicação aliadas a padrões restritos e/ou repetitivos do comportamento, geralmente com início antes dos 3 anos (de acordo com a DSMV).

 

Os primeiros sinais, que aparecem habitualmente antes dos 3 anos, são referidos pelos pais na primeira consulta que indicam habitualmente que a criança terá tido um desenvolvimento normal até ao primeiro ou segundo ano de vida apresentando, posteriormente, uma regressão ao nível das aquisições da linguagem e comportamento:

  • Apresenta o contacto ocular alterado, comummente os pais referem que a criança deixou de olhar para eles;
  • Não aponta;
  • Não usa o gesto;
  • Não sorri em resposta à interação do outro;
  • Não responde ao nome;
  • Apresenta ecolália (discurso caracterizado por repetição de sons, palavras);
  • Tem pouco interesse pelas outras crianças, isola-se;
  • Imita pouco;
  • Não brinca ao faz de conta, ou brinca pouco;
  • Tem comportamentos/movimentos repetitivos (ex. abanar os braços);
  • Tem dificuldades em tolerar as mudanças nas rotinas;
  • Gosta de objetos estranhos;
  • Tem interesses muitos restritos, específicos;
  • Reage excessivamente às novas sensações, dor e temperatura ou demonstra pouca reatividade.

A sinalização e acompanhamento precoces são importantes para um bom prognóstico, pelo que consideramos essencial que professores/educadores e famílias sejam sensibilizados para o reconhecimento de sinais de alerta e para atuar de imediato para

responder às necessidades destas crianças. Perante estes sinais, e para uma correta avaliação, a criança deve ser avaliada por pediatra de desenvolvimento.

E perante o diagnóstico, o que fazer?

O diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo não é uma notícia fácil para as famílias que têm que lidar com uma realidade desconhecida e ajustar toda uma dinâmica familiar às necessidades da criança.

Quando olhamos para a criança com Perturbação do Espetro do Autismo (ou com outro tipo de alterações no desenvolvimento), precisamos de ver mais além do diagnóstico. Devemos observar aquela criança com as suas competências e dificuldades permitindo assim definir um perfil de funcionalidade global e o encaminhamento para as respostas de intervenção mais adequadas. É essencial o trabalho em equipa multidisciplinar, a definição de prioridades a cada fase do processo de desenvolvimento e objetivos realistas. Equipa médica e equipa terapêutica (psicólogos, terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, …), a escola e a família, deverão ser aliados, parceiros nesta jornada que é potenciar o desenvolvimento das crianças com PEA. Assim, a intervenção com a criança não poderá ser meramente um trabalho de competências individuais, mas a capacitação da comunidade escolar e o apoio e desenvolvimento das famílias.

Margarida Sabino
Terapeuta Ocupacional pós-graduada em Neurodesenvolvimento em Pediatria. Trabalha na equipa terapêutica Fale Connosco Saúde Personalizada com psicólogas, terapeutas da fala, fisioterapeuta e musicoterapeuta, sendo a sua intervenção maioritariamente com crianças com PEA, ADPM e outras perturbações do neurodesenvolvimento.

Fonte: 
Miligrama
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay