Doença Autoimune

Artrite Reumatoide: o que é?

Atualizado: 
03/09/2020 - 10:20
De origem autoimune, estima-se que a Artrite Reumatoide afete 1% da população nos países ocidentais. Em Portugal são cerca de 70 mil doentes. Neste artigo a reumatologista, Susana Fernandes, ajuda-o a compreender a doença.
Mãos com artrite reumatoide

A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença crónica, inflamatória e auto-imune que se caracteriza pela inflamação das articulações, podendo conduzir à sua destruição. Os doentes frequentemente sentem dor e dificuldade em mobilizar as articulações, o que se verifica predominantemente de manhã ou após períodos de repouso.

É uma doença sem cura mas com tratamento. Se for tratada de modo precoce eficaz, tem bom prognóstico vital e funcional e o doente poderá levar uma vida normal a longo prazo. Nos últimos anos, houve uma melhoria substancial no tratamento desta doença, com o aparecimento de novos fármacos inovadores.

Em Portugal, cerca de 0,8 a 1,5% da população tem AR. Globalmente afecta quatro vezes mais mulheres que homens e os picos de incidência ocorrem por volta dos 30-40 anos e aos 80 anos, mas pode-se desenvolver em qualquer faixa etária.

Qual a causa?

A causa é autoimune. Ocorre uma desregulação do sistema imunitário, havendo uma reacção deste sistema contra estruturas do próprio individuo. A causa dessa desregulação é desconhecida.

Quais as manifestações?

A manifestação mais característica é a presença de artrite ou inflamação das articulações. O doente sente edema, dor e, por vezes, rubor e calor das articulações. Ocorre igualmente rigidez articular ou, sensação de prisão dos movimentos, especialmente no início da manhã ou depois de períodos de repouso. Geralmente afeta as pequenas articulações das mãos e dos pés. À medida que a doença progride, mais articulações podem inflamar, incluindo punhos, ombros, cotovelos, ancas e joelhos. Os sintomas constitucionais (por exemplo, o cansaço, febre, sudorese e perda de peso) são comuns. De modo menos frequente, pode ocorrer secura ocular e inflamação ocular (esclerite e episclerite), úlceras de perna, nódulos reumatóides (localizados nos cotovelos, joelhos, dorso das mãos, pulmão) ou serosite (inflamação de pleura ou pericárdio).

Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico deve ser o mais precoce possível, tendo em vista o início atempado do tratamento. Este fator é essencial uma vez que permite evitar o dano nas articulações que artrite pode provocar se levar muito tempo sem ser tratada.

O diagnóstico é essencialmente clínico, ou seja, com base na observação médica. No entanto, é habitual realizar um estudo laboratorial que inclui parâmetros de inflamação no sangue (velocidade de sedimentação e proteína C reativa), fator reumatoide (positivo em 60-70% dos doentes com AR) e anticorpo contra péptidos citrulinados ou anti-CCP (mais específico do que o fator reumatoide). São igualmente requisitadas radiografias das articulações envolvidas e, ocasionalmente, ecografia articular.

Como se trata?

Existe atualmente vários tratamentos para a AR. O mais importante é a adesão ao tratamento escolhido, uma vez que o seu cumprimento vai permite manter inactiva a inflamação e a destruição das articulações que é causada pela doença.

Como medidas gerais, o doente com AR deverá adoptar um estilo de vida saudável, abandonar o tabagismo e perder peso em caso de excesso ponderal. A prática de exercício físico deve ser recomendada.

O tratamento específico da AR inclui os chamados DMARDs (medicamentos modificadores de artrite reumatóide), que podem ser utilizados isoladamente ou em combinação. Os fármacos mais usados são metotrexato, leflunomida, sulfassalazina, hidroxicloroquina e azatioprina. O início precoce do tratamento com DMARDs é recomendado para controlar os sintomas e sinais de AR, bem como limitar dano radiológico (diminuir o risco de deformidades). Actualmente o estado português fornece uma comparticipação de 100% a doentes sob metotrexato e leflunomida, o que traduziu um marco importante para a adesão a estes tratamentos. O metorexato é actualmente é o DMARD de primeira escolha devido ao seu bom perfil de eficácia e toxicidade. Existe a formulação oral e subcutânea, sendo que esta última tem habitualmente eficácia superior.

Outros tratamentos incluem as infiltrações intra-articulares de corticosteróides, os anti-inflamatórios, os analgésicos e os corticosteróides em doses baixas (por exemplo, prednisolona).

Em doentes que não têm resposta eficaz aos tratamentos prévios e que se mantêm com doença ativa, pode ser utilizados os agentes biotecnológicos. Estão aprovados para o tratamento da AR em Portugal os seguintes fármacos: fármacos inibidores do fator de necrose tumoral ou anti-TFN (infliximab, adalimumab, etanercept, golimumab, certolizumab), anti-recetor da interleucina 6 (tocilizumab), inibidor da activação das células T (abatacept), anti-CD20 (rituximab) e anti-interleucina-1 (anakinra). Estes tratamentos são sub-cutâneos ou endovenosos.

O programa de reabilitação dirigido (fisioterapia) tem um papel complementar importante assim como a colaboração da Ortopedia, dependendo do estadio da doença e do seu grau de dano articular. 

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Autor: 
Dra. Susana Fernandes - Reumatologista Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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