Nem crime público nem particular
É uma das questões mais sensíveis no debate em curso no parlamento e, também por isso, que mais divide não só os partidos como...

O projecto de lei apresentado pelo Bloco de Esquerda - que foi aprovado na generalidade, mas foi entretanto chumbado - avançava nesse sentido, que é também o apontado pela Convenção de Istambul. Para a deputada bloquista Cecília Honório, esta é "uma alteração de paradigma que se impõe". Mas os restantes partidos mostram reservas, e no grupo de trabalho tem-se apontado para uma posição intermédia, que já foi usada para o crime de maus-tratos, antes de este se tornar público - uma espécie de crime quase público, em que a decisão caberá ao Ministério Público, levando em conta a vontade da vítima.

"Excessivo"
Para a deputada socialista Isabel Moreira a definição da violação como crime público será uma alteração "muito brusca" e "excessiva" como passo inicial. "Tenho dificuldades em entender que o Estado possa avançar, diga a vítima o que disser", afirmou, sublinhando que neste quadro há uma "substituição da vontade da vítima pela vontade do Estado". "Acho excessivo, a vontade da vítima é irrelevante", refere a parlamentar do PS e constitucionalista, que defende que será de ponderar uma solução intermédia. Um cenário que foi também sugerido pelo penalista Rui Pereira, numa audição no parlamento: "Talvez valha a pena encarar, como plataforma transitória, a transformação da violação num crime dessa natureza, quase público, em que o Ministério Público possa dar início ao processo, tendo em conta que, em muitas situações, a estigmatização, vergonha e até pressões dos criminosos impedem que uma mulher violada faça a respectiva queixa".

Para Teresa Anjinho, do CDS, esta é uma proposta "sensata". "Deve haver uma protecção da vontade da própria vítima", refere, sublinhando o perigo de uma "vitimização secundária", um alerta que também foi deixado por algumas das entidades que têm colaborado com o grupo de trabalho. Carla Rodrigues, do PSD, também aponta para uma solução intermédia: a vontade da vítima não deve ser irrelevante, mas "é importante que se dê ao Ministério Público o poder de actuar, para protecção da comunidade". "Temos que encontrar aqui uma solução intermédia", sublinha a deputada.

Entre as entidades ouvidas no grupo de trabalho as posições são divergentes. Para o Conselho Superior da Magistratura (CSM) "deverá ser à vítima que deve caber sempre a decisão". A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), no parecer que enviou ao parlamento, diz acompanhar "as preocupações manifestadas pelo CSM quanto à natureza pública deste crime quando cometido sobre adultos, por não estarmos certos de que essa seja a melhor forma de acautelar os interesses da vítima". Já a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas e a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) manifestam-se favoráveis à tipificação da violação como crime público.

Cientistas tentam saber porquê
A introspecção é uma capacidade exclusiva do ser humano, mas não gostamos da experiência. Cientistas tentam perceber porque é...

Pensar ou causar dor em si próprio? Os cientistas do departamento de Psicologia da Universidade de Virgínia demonstraram que a maioria prefere a segunda hipótese. A conclusão é surpreendente e agora será preciso perceber porquê. Os investigadores de um dos núcleos de psicologia social mais conceituados nos Estados Unidos acreditam que os estudos publicados este mês na revista "Science" são agora mais um passo para entender melhor uma das contradições da existência humana. Por um lado, as neurociências percebem cada vez melhor como é que estamos equipados para nos abstrairmos do mundo real, mergulhando nos pensamentos. Por outro, esse é um dom que não parece ser do nosso agrado, apesar de sermos a única espécie com essa capacidade.

Numa síntese de 11 estudos que explora este paradoxo, os psicólogos perceberam que a aversão vai ao ponto de 67% dos homens e 25% das mulheres não hesitarem em apanhar choques eléctricos quando a alternativa é ficar sozinho 15 minutos numa sala com a simples tarefa de pensar. E isto apesar de terem assegurado instantes antes que pagariam para evitar essa autopunição.

Autores clássicos, como o inglês Bertrand Russell, já tinham percebido que haveria um qualquer duelo do homem com a sua capacidade de autoconsciência. "A maior parte das pessoas prefere morrer a pensar; na verdade, é isso que fazem", escreveu o filósofo. Em pleno século XXI, contudo, esta equipa acredita que está na altura de voltar à pergunta, até porque alguma coisa tem atraído cada vez mais pessoas para técnicas como a meditação, aparentemente porque isso as faz sentir bem.

Resultados O método dos 11 estudos foi relativamente simples. Era pedido às cobaias - estudantes universitários e posteriormente pessoas recrutadas num mercado e numa igreja local - que estivessem períodos entre seis e 15 minutos sentados numa sala sem decoração e sem ter por perto objectos pessoais. Durante esse tempo poderiam pensar no que quisessem. Numa primeira fase, mais de metade dos participantes informou ter sido difícil concentrar-se, mesmo sem haver nada a distrai--los. Quase cinco em dez (49,3%) considerou a experiência desagradável.

Para perceber se era o ambiente asséptico de laboratório que dificultava o desfrutar do tempo a sós, os investigadores desafiaram 15 cobaias a fazer a experiência em casa, seguindo as instruções para ficarem em estado de introspecção por um quarto de hora. No fim, um terço admitiu ter feito batota e não ter resistido a mexer no telemóvel ou a ouvir música.

A descoberta de que a aversão a estar sozinho com os pensamentos foi a mais surpreendente, explicou Erin Westgate, uma das autoras, a investigação visa tentar estudar porque é que parece ser tão difícil pensar e, por outro lado, porque é que há pessoas que lidam melhor com a experiência.

E aqui, os resultados mostram que ainda há muito por perceber. Uma das teorias seria que as pessoas, ao ficarem sozinhas com os seus pensamentos, poderiam começar a "ruminar" sobre os seus defeitos, o que explicaria o desconforto. Mas, ao testar a ideia, a equipa percebeu que pensar em si próprio não estava correlacionado com mais ou menos satisfação. Outro problema poderia ser terem de pensar no próprio momento em como iriam ocupar a cabeça. Porém, quando deram tempo para planear, os resultados não se alteraram.

A única ligação que, para já, dá pistas tem a ver com o tipo de personalidade dos participantes, mas ainda assim as correlações encontradas foram limitadas. Após testes psicológicos, perceberam apenas que quem consegue direccionar os pensamentos para sentimentos de felicidade tem 20% mais probabilidade de encontrar prazer na experiência.

Erin Westgate conta que avaliaram também se usar mais ou menos o telemóvel no dia-a-dia tinha alguma correlação com a capacidade de desfrutar do devaneio mental, o que também não se verificou. O que leva a outra conclusão do estudo: "O uso parece ser um sintoma de um problema, não a causa. Talvez os telemóveis e as redes sociais sejam tão apelativos precisamente porque somos tão maus a entretermo-nos com as nossas cabeças. Se algumas pessoas até preferem electrocutar-se, obviamente que a maioria de nós prefere mexer no telemóvel a pensar."

A investigadora acredita que estamos perante um problema, que não sendo novo está a aumentar e só agora começa a ser estudado: "Dantes havia outras distracções. Ao longo dos séculos, líderes religiosos têm pedido às pessoas para passarem mais tempo em contemplação e silêncio: se fosse fácil aderir a isso, não estaríamos sempre a ouvir a mensagem."

A ideia do grupo é conseguir respostas e encontrar uma forma de treino que permita contrariar o que parece ser a dificuldade natural de desfrutar do pensamento. Enquanto não há novas experiências, Westgaste explica, qualquer adulto pode fazer a experiência em casa. Desde que, por precaução, substitua os choques eléctricos por algo mais inofensivo: uma fotografia desagradável ou uma gravação de um barulho enervante.

Basta escolher um momento do dia em que se esteja sozinho, ir para um corredor sem decoração e deixar todos os bens pessoais, dos telefones ao relógio, na sala ao lado. Se conseguir estar 12 minutos sozinho sem olhar para a fotografia ou ligar o som e apreciar a experiência faz parte de uma minoria. A mente do comum dos mortais, concluí a equipa, "se não for disciplinada não gosta de estar sozinha com ela própria."

Violência contra as mulheres
A Assembleia da República está a preparar um conjunto de alterações legislativas em matéria de violência doméstica e violência...

Desde Março que um grupo de trabalho com deputados de todos os partidos está a analisar as implicações, para a legislação nacional, da Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica - ou, resumidamente, a Convenção de Istambul, já ratificada por Portugal e que entrará em vigor a 1 de Agosto. O objectivo passa por identificar as lacunas no quadro legal, face ao que está definido na Convenção. Os trabalhos vão-se estender para a próxima sessão legislativa. O jornal i fez o ponto da situação sobre as alterações que estão a ser analisadas.

Perseguição (stalking)
Se alguém telefonar todos os dias de madrugada para casa de uma pessoa, se lhe mandar insistentemente mensagens, se frequentemente a seguir nos locais que frequenta, o visado terá dificuldades em travar este comportamento na Justiça - a perseguição não está prevista no ordenamento jurídico português. Mas vai deixar de ser assim: quer entre as entidades ouvidas no parlamento, quer entre os vários partidos, a opinião geral é que este crime deve ficar previsto na lei.

O stalking - já criminalizado em vários países - pode ser traduzido como uma perseguição persistente que, podendo não envolver actos que, por si, constituam uma ameaça, se traduz numa invasão da privacidade. "Representa uma inibição da autodeterminação e da liberdade das pessoas", sublinha a deputada social-democrata Carla Rodrigues (que preside ao grupo de trabalho parlamentar), destacando que "face ao que está hoje no Código Penal não é possível um juiz condenar uma pessoa a manter-se afastada". Esse é, aliás, um dos pedidos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) - "medidas de protecção e penas acessórias que façam face às concretas necessidades levantadas por este fenómeno", nomeadamente a proibição de contacto com a vítima.

Também o cyberstalking - a perseguição, mas na versão aberta pelas novas tecnologias, nomeadamente através das redes sociais - está a ser analisado.

Casamentos Forçados
No actual quadro legal um casamento forçado pode reportar-se aos crimes de sequestro ou coacção, mas não está tipificado no Código Penal. A Convenção de Istambul impõe a "criminalização da conduta de quem intencionalmente forçar um adulto ou uma criança a contrair matrimónio", e também de "quem intencionalmente atrair uma criança ou um adulto" para outro Estado, com o "intuito de os forçar a contrair matrimónio".

Na audição realizada no parlamento, o penalista Rui Pereira defendeu que se "devia criar um ilícito criminal novo", com penas "mais severas que as previstas para o crime de coacção". Entre os partidos, é ponto assente que este crime deve ficar previsto na lei. A Inglaterra criminalizou no mês passado os casamentos forçados, que passaram a ser punidos com a pena máxima de sete anos de prisão.

Mutilação genital feminina (MGF)
É o tema mais consensual dos vários que estão a ser analisados. Em cima da mesa estão dois projectos de lei - do CDS e PSD - já aprovados na generalidade, estabelecendo que a mutilação genital feminina seja autonomizada como crime (público) na lei. Actualmente, a MGF enquadra-se no crime de ofensas à integridade física - a ofensa corporal grave tem uma moldura penal entre os dois e os dez anos de prisão. Os diplomas em discussão estipulam penas até aos 12 anos para quem "mutilar genitalmente, total ou parcialmente, pessoa do sexo feminino, através de clitoridectomia (extracção total ou parcial do clítoris), de infibulação, de excisão ou de qualquer outra prática". Os projectos prevêem ainda punições para quem constranger, incitar ou providenciar meios para esta prática. De acordo com números avançados pela secretária de Estado da Igualdade, Teresa Morais, registaram-se nove casos de MGF em Portugal desde Março.

Violação
Sobre este ponto há apenas uma certeza: o crime de violação vai sofrer alterações, nomeadamente quanto à obrigatoriedade de queixa da vítima (ver texto ao lado). Por decidir está outra alteração de peso: o crime deixar de assentar na existência de violência ou ameaça grave, tal como exige actualmente o Código Penal, passando a ser definido pelo não consentimento. A alteração constava de um projecto de lei do BE que chegou a ser aprovado na generalidade, mas foi depois chumbado em comissão (com as bancadas a apontarem uma questão de timing da votação e não de conteúdo). O BE garante que vai voltar a apresentar o projecto em Setembro, pelo que o tema vai voltar ao grupo de trabalho. O projecto do Bloco - que assenta também na Convenção de Istambul - refere que é no "não consentimento que se configura o atentado à autodeterminação e liberdade sexual, e as demais formas de violência usadas para a consecução do ato só podem ser entendidas como agravantes".

Violência doméstica
No âmbito das audições e pareceres que têm sido enviadas ao grupo de trabalho, outras questões têm vindo a ser levantadas. Uma delas reiteradamente, pelas associações que trabalham nesta área. É o caso da APAV, que destaca a necessidade de medidas de protecção imediata para as vítimas de violência doméstica. "Os tempos judiciais não se coadunam com as necessidades de segurança e protecção das vítimas", destaca a associação, sugerindo que os órgãos de polícia criminal passem a ter a possibilidade de emitir ordens de afastamento imediato do agressor - o "que pode corresponder ao afastamento de residência ou a uma proibição de contactos sob qualquer forma". A APAV sugere que a medida tenha um limite temporal, ficando entretanto sujeita à decisão de um juiz. Também a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) aponta a "necessidade urgente" de uma "medida de polícia", "a aplicar imediatamente pelas autoridades policiais aquando da denúncia ou conhecimento do crime, que imponha ao agressor o seu afastamento da residência". 

Organização não-governamental
Entre projectos de sensibilização, acções de rastreio ou mesmo tratamentos, a organização não-governamental Mundo a Sorrir -...

Só em Portugal, o presidente da organização não-governamental (ONG) adianta que foram feitos quase 12 mil rastreios e mais de 21 mil tratamentos, sobretudo a populações vulneráveis. Miguel Pavão acredita que, de futuro, o trabalho passará cada vez mais pela “aposta na prevenção em saúde”, numa área “muito carenciada” no país.

No mês em que a Mundo a Sorrir completa nove anos de actividade, Miguel Pavão conta que o projecto, que nasceu de uma experiência pessoal de voluntariado que este médico dentista teve em Cabo Verde com a colega Mariana Dolores, acabou por caminhar para vários países e que continua a lutar por garantir o “direito universal de acesso” a cuidados de saúde oral, trabalhando junto dos grupos de maior risco, como idosos, crianças, grávidas ou pessoas com poucos recursos financeiros. De 12 voluntários iniciais, passaram para mais de 600, entre médicos, médicos dentistas, higienistas e nutricionistas.

“Continuam a existir poucos cuidados em termos de saúde oral no país e pouca aposta na prevenção, mesmo em termos nutricionais. Temos um sistema muito voltado não para o direito à saúde mas para o direito a tratar da doença. Penso que é essa a grande viragem que temos de fazer, não tratar as doenças por si só mas olhá-las de forma interligada”, descreve o dentista, que salienta o trabalho feito neste sentido pelo Programa para a Inclusão e Vida Saudável da Mundo a Sorrir. O projecto, que conta com fundos europeus, já chegou através de acções de formação e de rastreios a 54 mil crianças e jovens e deverá terminar o ano com 70 mil.

Desde que começaram a trabalhar em 2005, só em Portugal já deram 2332 palestras de promoção de saúde e cuidados de higiene e é precisamente na “educação não formal e na introdução de conceitos de forma lúdica” que o especialista mais acredita. Para Miguel Pavão, a cobertura do país em termos de saúde oral tem melhorado, sobretudo com os chamados cheques-dentista, atribuídos a alguns grupos definidos como prioritários pelo Plano Nacional de Promoção de Saúde Oral.

O problema, diz, é que a aposta tem estado pouco do lado da prevenção. “Só 3% dos orçamentos de saúde na União Europeia é que são dedicados à promoção e prevenção em saúde”, adianta, exemplificando que tratar um cancro oral, entre cirurgia, quimioterapia e radioterapia, pode custar 100 mil euros, um valor que diz que daria para fazer acções de formação nesta área em todo o país. A ONG não tem ligações directas ao cheque-dentista, mas o médico dentista diz que têm tido uma “lógica de concertação” e adaptado os programas para “ajudar a que políticas como esta sejam melhor executadas” e sem que o trabalho dos voluntários “se sobreponha ao que existe no Estado”. “Nem toda a gente sabe que tem direito aos cheques ou como os utilizar e nos rastreios e acções ajudamos nesse sentido”, ilustra.

As iniquidades no acesso a cuidados de saúde oral continuam a ser um problema em Portugal, com a maior parte dos tratamentos a realizarem-se fora do Serviço Nacional de Saúde. Aliás, em Junho a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) publicou um estudo onde se pronuncia sobre os cheques-dentista disponibilizados a alguns grupos de risco no âmbito do Plano Nacional de Promoção de Saúde Oral. No documento, a ERS defende que o programa deveria ser alargado a crianças e jovens de escolas privadas e também aos idosos não beneficiários do complemento solidário e ainda às grávidas que não são seguidas no Serviço Nacional de Saúde.

Por agora, só as crianças de 7, 10 e os jovens de 13 e de 16 anos que frequentam as escolas públicas têm direito a receber estes cheques no valor de 35 euros cada. Até aos seis anos os cheques só devem ser dados a casos graves. O estudo destaca, ainda, outros limites deste plano, como os que se prendem com a definição de um número máximo de cheques-dentista a atribuir a cada grupo. A ERS acrescenta, aliás, que a maioria dos médicos dentistas considera que o número de cheques e o valor destes “não são compatíveis com as necessidades dos beneficiários”.

Transplantados
António Correia Bernardo vive há três décadas com um rim de um jovem que foi vítima de um acidente de moto. “Ganhei uma segunda...

Se continuasse na hemodiálise – fazer diálise nos anos 1980 era um processo complexo, “puxava pelo coração” –, António acredita que não conseguiria ter sobrevivido durante muito tempo. Por isso, quando os médicos do Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, lhe fizeram o desafio, com as ressalvas absolutamente legítimas na altura – “você vende saúde, mas isto é 50% ciência e 50% sorte” –, nem hesitou. “Tive sorte e também tenho que agradecer à ciência”, reconhece, enquanto se lembra da noite em que foi operado, 30 de Novembro, e do que lhe segredaram ao ouvido quando acordou, horas depois: “Hoje é o dia da independência” (era já 1 de Dezembro, feriado). “E foi mesmo a minha independência”, remata, cheio de entusiasmo.

Nestes 30 anos, na tal segunda vida que o novo órgão lhe proporcionou, fez muitas coisas, tirou “uma nova licenciatura, uma pós –graduação em ciências empresariais e um MBA”.  Um percurso que lhe permitiu dar aulas na universidade Lusíada e na Academia da Força Aérea ainda antes de se reformar. Hoje, António continua atento a tudo o que pode ajudar a prolongar a vida do órgão herdado e da sua vida, por inerência (nestas idades já não se fazem novos transplantes).

O seu “parceiro” (é assim que designa o doente que recebeu o rim direito do mesmo dador) morreu, entretanto. Com a imunidade reduzida, António tem consciência de que necessita de seguir “um plano de vida regrado”. Bebe muita água e praticamente não come carne nem peixe. “Sou lacto-ovo-vegetariano”, descreve, repetindo que tem que “estimar muito este órgão” e que a regra básica é não lhe “dar muito trabalho”.

António Correia Bernardo destacava-se domingo entre os mais de três dezenas de transplantados que subiram ao palco da Biblioteca Almeida Garrett, no Palácio de Cristal (Porto) para serem homenageados. Como forma de assinalar o 45º aniversário do primeiro transplante em Portugal e o dia do transplante , a Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT) decidiu atribuir diplomas a pessoas que receberam rins há mais de 25 anos e conseguiu encher a biblioteca com os homenageados, respectivos familiares e alguns profissionais de saúde que se dedicam a esta actividade. Mesmo assim, os presentes na cerimónia não passam de uma gota do oceano de portugueses que já receberam um transplante de rim. Foram 10 mil pessoas e, destas, cerca de 6600 estão vivas, estima Fernando Macário, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação.

Os especialistas não se cansam de dizer que um órgão transplantado não é eterno e acaba por vir a ser perdido. Mas os transplantados que se concentraram domingo na biblioteca do Porto são a prova de que é possível ter uma vida prolongada e com qualidade após o transplante. Apesar de ser difícil de definir, o tempo máximo que um órgão transplantado resiste oscila, em média, entre os 12 e os 15 anos, no caso do rim.

Maria Augusta Mendes é outro caso que demonstra que as médias existem para serem ultrapassadas. Foi em plena lua-de-mel que a ex-operária metalúrgica de Marco de Canavezes descobriu que estava doente, tinha então “vinte e poucos anos”. Ainda fez hemodiálise no Hospital de S. João, no Porto, até ser transplantada já lá vão 28 anos. “Nasci de novo”, sintetiza, emocionada, a mulher que depois do transplante teve um filho e conseguiu “fazer uma vida normal”. Aos 62 anos, Maria Araújo Martins, também transplantada há 28 anos, vai mais longe e declara, pomposa, que a experiência, “a quem corre bem , é muito melhor do que o Euromilhões”.

Para Rosa Nascimento, que aos 36 descobriu que padecia da mesma doença que vitimou a mãe (“rins poliquísticos”), o transplante, após o inferno da diálise de “um ano que mais pareceram 11” no Hospital de Curry Cabral, foi também como “ nascer de novo”. “Até me esqueço que tenho um rim novo”, confidencia Rosa, 69 anos, enquanto acaricia a barriga (o órgão transplantado é colocado na fossa ilíaca, sem que haja necessidade de retirar os rins do doente). Rosa sabe que esta benesse não dura para sempre. Dois irmãos seus, afectados pela mesma doença, receberam transplantes mas acabaram por morrer alguns anos depois.  

Crescimento depois de anos de quebra
A aventura dos transplantes em Portugal começou, porém, alguns anos antes de estes doentes terem recebido rins Foi a 20 de Julho de 1969, “no mesmo dia em que o homem foi à Lua”, que em Portugal se fez o primeiro transplante renal, recordou Fernando Macário, durante a cerimónia.

O urologista Linhares Furtado, no Hospital Universitário de Coimbra, arriscou muito para transplantar em condições então bastante complicadas um rim de uma mulher de Sever de Vouga que tentou, desta forma, salvar o irmão gravemente doente. Meses depois, o homem acabou por morrer, e, só passados 11 anos, em 1980, é que iniciou a transplantação renal a partir de dador cadáver, lembrou Fernando Macário. “No início quase incipiente, a actividade veio a impôr-se” e hoje, em Portugal, além do rim, já se fazem transplantes de coração, fígado, pulmão, pâncreas, córnea, medula e osso.

Fernando Macário aproveitou a cerimónia para voltar a defender a necessidade de se facilitar o acesso dos doentes às consultas e tratamentos, porque, se os transplantados faltarem, põem em risco o novo órgão. “É transversal a todas as áreas da saúde: existe alguma dificuldade de acesso dos doentes aos cuidados de saúde”, alertou.

João Cadete, da Associação Portuguesa de Insuficientes Renais, corroborou a denúncia, notando que a associação de doentes que representa, se tem empenhado numa “luta muito grande” pelo direito a transporte pago para as consultas pós-transplante. "Este direito existe para doentes que provem insuficiência económica, mas, mesmo assim, há casos em que lhes é negado o acesso ao pagamento e isto é gravíssimo”, disse.

Para ultrapassar este problema, a SPT reivindica há muito tempo a descentralização do seguimento de doentes transplantados, mas só recentemente é que o Ministério da Saúde decidiu arrancar com esse trabalho.

Hélder Trindade, presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação, adiantou a propósito que essa recolha está em curso e que vai facilitar o atendimento dos doentes.

De resto, a cerimónia de ontem serviu também para alertar de novo que é preciso continua a apostar nesta actividade, que está a recuperar, depois de uma quebra acentuada em 2011 e 2012. A transplantação de órgãos em geral recuperou no ano passado e este ano voltou a aumentar. Hélder Trindade disse mesmo acreditar que há condições para que Portugal consiga chegar este ano ao "3º lugar por milhão de habitantes" nas colheitas, depois de vários anos complicados.

Os números de transplantes e de dadores vinha a cair desde 2010. Mas em 2013 já houve recuperação e os dados do primeiro semestre apontam para um aumento de 20% nos transplantes e de 19% nas colheitas de órgãos, anunciou.

Fernando Macário lembrou que é fulcral optimizar a colheita de órgãos, até no caso do rim, onde a lista de espera continua a ser grande (cerca de duas mil pessoas que aguardam em média quatro anos). "Portugal tem uma razoável taxa de colheita a partir de cadáver, mas quanto mais cedo for feito transplante melhor, sobretudo se o doente for transplantado antes de iniciar a diálise", explicou.

A SPT está empenhada em promover o transplante renal de dador vivo, uma tarefa que começou com a campanha "Doar um Rim Faz Bem ao Coração". Os doentes agradecem.

Estudo
Um estudo recente publicado na revista Sleep Medicine revela que uma noite de sono perturbado pode ser tão prejudicial para a...

O Centro de Terapias Chinesas (CTC) alerta para a existência de mais riscos associados a uma má noite de sono e admite ser no Verão que os portugueses mais sentem dificuldades em dormir. A explicação parece estar na energia e não no calor.

O estudo que foi realizado na Faculdade de Ciências Psicológicas da Universidade de Telavive explica que um sono interrompido (ou simplesmente quando não se consegue descansar) pode significar quatro horas sem dormir no nosso organismo.

Para Wenqian Chen, especialista em Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e directora há mais de 20 anos do CTC: “É muito comum as pessoas procurarem-nos porque sentem que não descansam e que acordam cansadas. Uma noite a acordar constantemente é quase igual a uma noite sem dormir. Significa que o nosso corpo está desequilibrado e que é preciso tratar; regular. Felizmente é uma coisa simples. Em duas ou três sessões, consoante o caso, a pessoa volta a descansar e a ter uma boa noite de sono. Mas é muito importante não deixar adiar porque as consequências depois serão maiores e já não terá que se tratar apenas uma insónia.”

Segundo a Medicina Chinesa, os casos de insónia estão associados a distúrbios energéticos no coração e no fígado que podem ser de excesso de Yang e de Ying manifestando-se em sintomas como taquicardia, palpitações, tensão alta, tonturas, enxaquecas.

Chen recomenda ainda que não se consumam alimentos com excesso de picante, nesta altura, e que se procurem vegetais amargos, algo que afirma “os ocidentais quase não consomem”. O exercício físico também deve realizar-se durante a manhã e, no final do dia, ser apenas moderado e relaxante com actividades como reiki, yoga ou pilates.

Em países desenvolvidos
As pessoas adultas que vivem com o VIH nos países desenvolvidos enfrentam risco substancialmente reduzido de morte por doenças...

As pessoas infectadas com o vírus que causa a SIDA, residentes na Europa, Austrália e Estados Unidos, estão também em menor risco de morte por doenças cardiovasculares e hepáticas, refere a revista científica, que publicou uma edição especial com os resultados de um estudo internacional na véspera da Conferência internacional sobre a SIDA, que decorreu este fim-de-semana em Melbourne, na Austrália.

Embora a maioria das mortes por essas causas tenha diminuído ao longo da última década, período em que decorreu a pesquisa, não houve registo de redução das taxas de mortalidades por cancros não relacionados com a SIDA.

Para o coordenador do estudo, Colette Smith, da Universidade de Londres, "estas reduções recentes nas taxas de mortes relacionadas com a SIDA prendem-se com a melhoria contínua na contagem de CD4 (usado para avaliar o progresso da doença) e fornecem mais evidências dos benefícios líquidos substanciais dos antirretrovirais".

"Mas, apesar destes resultados, a doença relacionada com a SIDA continua a ser a principal causa de morte nesta população. Esforços contínuos para garantir uma boa aderência aos antirretrovirais e para diagnosticar os indivíduos numa fase mais precoce, antes do desenvolvimento de imunodeficiência grave, são importantes", referiu Colette Smith.

Segundo o estudo, actualmente, o cancro é responsável por 23 por cento de todas as mortes nestas três regiões do globo, enquanto as mortes por SIDA mantiveram-se estáveis nos últimos 10 anos: de 1,6 mortes por 1000 anos, de 1999-2000, para 2,1 mortes por 1000 anos, em 2009-2011.

O estudo envolveu cerca de 50.000 adultos VIH-positivos que recebem cuidados e terapia antirretroviral em mais de 200 clínicas em toda a Europa, Estados Unidos e Austrália.

Este grupo descobriu que as taxas globais de mortalidade caíram quase para metade desde 1999, enquanto as mortes por causas relacionadas com a SIDA e doenças cardiovasculares diminuíram em cerca de 65 por cento e as mortes relacionadas com o fígado para mais de 50 por cento.

Também foram registadas reduções similares em mortes relacionadas com doença hepática (2,7 mortes por 1000 pessoas-ano para 0,9) e doença cardiovascular (1,8 mortes por 1000 pessoas-ano para 0,9).

A proporção de todas as mortes devido à SIDA também diminuiu ao longo da última década (de 34 para a 23 por cento) e doenças do fígado (de 16 para 10 por cento), enquanto a proporção de óbitos por doenças cardiovasculares permaneceu constante, neste período, na ordem dos 10 por cento.

Os pesquisadores observam que a redução substancial das taxas de mortalidade por fígado e doença cardiovasculares não pode ser completamente explicada por mudanças na demografia do paciente ou melhorias na supressão viral ou contagem de CD4.

Para os investigadores essa diminuição pode resultar de uma melhor gestão dos factores de risco tradicionais, nomeadamente o consumo do tabagismo, o uso de álcool, ou então a utilização de antirretrovirais menos tóxicos.

Sociedade de Transplantação
O presidente Sociedade Portuguesa de Transplantação, Fernando Macário, defendeu ontem a necessidade facilitar o acesso dos...

“É preciso que os doentes tenham acesso facilitado aos seus cuidados. É transversal a todas as áreas da saúde: existe alguma dificuldade de acesso dos doentes aos seus cuidados de saúde. Está a fazer-se um esforço para não onerar o doente no seu seguimento porque, se começar a faltar, corre o risco de perder o seu órgão”, descreveu o responsável, no Porto, à margem das celebrações do Dia do Transplante.

Fernando Macário lembrou que a Sociedade de Transplantação(SPT) reivindica “há muito tempo, a descentralização do seguimento dos doentes transplantados”, elogiando o processo “em curso para que doentes transplantados renais possam ser seguidos perto de casa”.

Autoridades chinesas
As autoridades de Xangai encerraram uma fábrica subsidiária do grupo alimentar norte-americano OSI por vender carne fora da...

A televisão de Xangai, que reportou o escândalo alimentar, informou que os trabalhadores da fábrica OSI China misturavam carne fora da validade com produto fresco e deliberadamente engavam os inspectores de qualidade da McDonald's.

Outros clientes da OSI China incluíam o Burger King, Papa John's Pizza, Subway, e a cadeia de cafés Starbucks, informou o jornal Shanghai Daily.

Tudo o que precisa saber
Informações úteis dedicadas a todas as futuras mamãs!

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Papel do Enfermeiro
Dar a conhecer a realidade psicopatológica e jurídico-penal do doente inimputável, o seu processo de
Reabilitação Psicossocial Doente Inimputável

Resumo
O presente artigo reporta-se à temática do doente inimputável portador de patologia mental grave. A sua condição de doente mental e simultaneamente “preso”, em consequência ao ato ilícito cometido, atribui-lhe uma dupla estigmatização. O Serviço de Psiquiatria Forense, através do trabalho desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, na qual o enfermeiro desempenha um papel preponderante, visa reverter esta condição negativa e depreciativa, promovendo a sua reinserção comunitária por um processo de reabilitação psicossocial. Este procedimento pressupõe a incursão num novo paradigma, no qual emergem novas conceções como a de “empowerment” e de “recovery”, que subentendem uma evolução no papel do doente, família, comunidade e prestadores de cuidados de saúde. Trata-se de um artigo científico, elaborado a partir de uma revisão bibliográfica sistemática e atual, complementada por uma longa experiência profissional na área da saúde mental e psiquiatria. O objetivo prioritário é dar a conhecer a realidade psicopatológica e jurídico-penal do doente inimputável, o seu processo de reabilitação psicossocial, pondo em relevo o papel preponderante do enfermeiro, promovendo, desta forma, a redução da estigmatização perante a família, comunidade e sociedade.

Palavras-Chave: Doença mental; estigma; doente inimputável; reabilitação psicossocial.

Abstract
This article refers to the theme of the sick unimputable carrier severe mental illness. This condition mentally ill and simultaneously “stuck” in consequence the tort committed, gives him a double stigmatization. The Forensic Psychiatry Service, through the work of a multidisciplinary team, in which the nurse plays a key role, aims to reverse this negative condition and derogatory, promoting their reinsertion community by a process of psychosocial rehabilitation. This procedure assumes the incursion of a new paradigm, in which emerging new concepts such as “empowerment” and “recovery”, which imply an evolution in the role of the patient, family, community and health care providers. It is a scientific article, drawn from a systematic literature review and current, complemented by long professional experience in the area of the mental health and psychiatry. The primary objective is to inform the reality psychopathological and criminal legal of the sick unimputable, their psychosocial rehabilitation, emphasizing the key role of the nurse, promoting, in this way, the reduction of stigmatization before the family, community and society, fomenting the maximization process social and familial reintegration.

Keywords: Mental illness; stigma; sick unimputable; psychosocial rehabilitation.

Os problemas de Saúde Mental constituem a principal causa de incapacidade e morbilidade da nossa sociedade. As perturbações psiquiátricas são uma das principais causas da carga total das doenças nas sociedades, no entanto, só se reconheceu a verdadeira dimensão do seu impacto, quando se verificou a enorme extensão de incapacidade provocada por estas doenças na atualidade (OMS, 2001).

A Doença mental abrange uma larga panóplia de alterações patológicas que atingem a mente, frequentemente com repercussões ao nível da cognição, comportamento e emoções das pessoas. A cada doença corresponde um quadro psicopatológico individual, muitas vezes com sintomatologias sobreponíveis, com cursos e prognósticos distintos, no entanto com a similitude, em maior ou menor grau, na disfuncionalidade que induz, ao doente, nas dimensões biopsicossocial. A sua conceptualização, face à multiculturalidade, nem sempre é de fácil universalidade. Townsend (2002, p.15), a respeito de doença mental explana que se trata de “ (…) respostas desajustadas a factores de stress do ambiente externo e interno, evidenciados por pensamentos, sentimentos e comportamentos que não são congruentes com as normas locais e interferem no funcionamento social, ocupacional e/ou físico do individuo.”

A sociedade, ao longo dos tempos, sempre isolou os doentes mentais. Este isolamento, associado a uma forma de tratamento, caraterizava-se por longos internamentos em hospitais psiquiátricos, que afastavam o doente da família, da sociedade e de uma realidade externa à instituição, atribuindo-lhe um estatuto passivo e submisso em detrimento de um papel proativo. Este paradigma contribuiu inequivocamente para a estigmatização do doente portador de doença mental, conotando-o como um ser incapaz, dependente, indesejável e agressivo, diferente do padrão de normalidade instituído em determinada sociedade.

O estigma está, deste modo, associado ao reconhecimento de algumas características díspares que o doente mental detém e que culminam na sua desvalorização através da veiculação de uma resposta emocional negativa. Trata-se de uma criação social que isola certos atributos, que os classifica como indesejáveis e desvaloriza as pessoas que os possuem. O estigma tende a tornar-se predominantemente importante e a superar as outras características da identidade da pessoa, que assim, fica “deteriorada”. O estigmatizado sofre discriminação de muitas maneiras diferentes e é caracteristicamente rejeitado pelos seus semelhantes (Goffman, 1978 apud Tadvald, 2007).

O doente com patologia mental acaba, com intensidade diversa e de acordo com as suas capacidades cognitivas e emocionais, por arranjar estratégias para evitar esta segregação da comunidade, recorrendo ao segredo sobre a sua condição psicopatológica, muitas vezes através da limitação dos contactos sociais, ou seja, através do isolamento social. Assim sendo, o estigma ao conduzir à omissão da doença por parte do doente e mesmo da família, acaba por perpetuá-la, tornando o seu diagnóstico, tratamento e prognóstico mais difíceis.

Quando se fala na estigmatização da pessoa com doença mental não se está a referenciar um fenómeno apenas de natureza individual, mas sim com um carácter associativo, dado que tal conotação e discriminação negativas propagam-se aos seus familiares diretos e aos cuidadores. No caso do doente inimputável, o estigma da doença mental é reforçado pela carga negativa subjacente ao ato ilícito cometido e consequente medida de internamento judicial que, em maior ou menor dimensão, acabam por excluir o doente da sua comunidade local ou mesmo do seu núcleo familiar, estigmatizando-o duplamente. Paralelamente, a conotação de perigoso, associada aos crimes cometidos, reforça a concepção e estereótipo de perigosidade do doente mental relativamente à sociedade.

A evidência científica e o conhecimento prático demonstram que uma elevada percentagem destes doentes apresenta como diagnóstico subjacente aos atos ilícitos cometidos, a esquizofrenia paranoide, num contexto de sintomatologia psicótica/positiva, algumas vezes coincidente com um primeiro episódio da doença. Esta fase de agudização é caracterizada, essencialmente, pela presença de alterações ao nível sensoperceptivo e do conteúdo do pensamento, manifestadas, respectivamente, pela presença de alucinações auditivas e visuais, assim como delírios persecutórios, místicos e auto-referênciais. É de salientar que, frequentemente, a fase prodrómica que caracteriza o início do curso da doença, qualificada por sintomas inespecíficos como a irritabilidade, diminuição da atenção, insónia, anedonia, apatia, alterações do humor, etc., e sobretudo uma crescente disfunção social por isolamento, acaba por passar despercebida ou de etiologia díspar, sendo o primeiro episódio psicótico da doença o precursor da sua classificação.

A concretização dos atos ilícitos num contexto psicótico, no qual o doente não detém insight ou juízo crítico relativamente aos atos praticados, pressupõe a condição de inimputabilidade. De acordo com o Código Penal Português, artigo 20, a inimputabilidade é consagrada como: “É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, for incapaz, no momento da prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa avaliação”.

De entre os crimes praticados podem referenciar-se os crimes contra a integridade física (ofensas à integridade física), crimes contra a liberdade das pessoas (crimes de ameaça), crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual (violação e abusos sexuais) e os crimes contra a vida (homicídio e homicídio na forma tentada).

No momento do internamento no Serviço de Psiquiatria Forense, normalmente já decorreu algum tempo sobre o ato ilícito cometido, em virtude do natural decurso do processo judicial e das perícias psiquiátricas complementares. O doente é internado, através da Direcção Geral dos Serviços Prisionais, como preventivo ou para cumprir uma medida de segurança de internamento imposta pelo Tribunal Judicial e executada pelo Tribunal de Execução de Penas (TEP), apresentando-se neste momento, regra geral, já compensado da crise psicótica e numa fase residual da doença. A sintomatologia negativa, consequente do curso da doença, deterioração cognitiva e efeitos secundários da terapêutica antipsicótica instituída, manifesta-se ao nível do défice comportamental, designadamente por embotamento afetivo, isolamento social, avolia e anedonia, com consequências drásticas ao nível do funcionamento social e do próprio auto-cuidado.

A deterioração a este nível, no caso dos doentes que preservam insight para a sua condição psicopatológica, estará com certeza, também, relacionada com o reconhecimento da discriminação e estigma de que são objecto, levando-os a isolar-se dos contactos sociais e, deste modo, reduzindo drasticamente as oportunidades de interação social. A este processo de auto-reconhecimento de estigmatização, não é alheio a perceção dos reais efeitos secundários da terapêutica antipsicótica instituída, os quais são, só por si, limitadores dos contactos sociais, condicionando as oportunidades de desenvolvimento ou manutenção das competências cognitivas, sociais e funcionais.

Relativamente ao tratamento psicofarmacológico da esquizofrenia, nomeadamente em relação aos neurolépticos administrados com o objectivo de reduzir ou anular a sintomatologia psicótica, tem havido, nas últimas décadas, uma evolução exponencial no que concerne à sua farmacocinética e farmacodinâmica, efeitos terapêuticos e secundários. Os antipsicóticos clássicos, apenas antagonistas dos recetores dopaminérgicos e actuando na sintomatologia produtiva, com todos os efeitos extrapiramidais conhecidos como a sialorreia, acatísia, discinésias, distonia, sedação, etc, vieram, a partir da década de 90, a ser substituídos pelos antipsicóticos atípicos, estes com uma múltipla ação antagonista, designadamente a nível dos recetores dopaminérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos, etc. Estes últimos, dada a sua eficiência sobre a sintomatologia positiva e negativa, assim como a redução dos efeitos extrapiramidais conhecidos dos neurolépticos clássicos, têm, apesar do seu custo superior, ganho espaço no processo terapêutico destes doentes, com melhores expectativas no prognóstico da doença e no seu processo reabilitativo.

O Serviço de Psiquiatria Forense tem como objectivo primordial a promoção da reabilitação psicossocial destes doentes, através da manutenção ou desenvolvimento das capacidades e competências psicossociais e funcionais, com vista à sua consequente reintegração na sociedade. De acordo com Dec. Lei nº. 115/2009, Código de Execução de Penas e Medidas Privativas da Liberdade, “A execução da medida privativa da liberdade aplicada a inimputável ou a imputável internado, por decisão judicial, em estabelecimento destinado a inimputáveis orienta-se para a reabilitação do internado e a sua reinserção no meio familiar e social, prevenindo a prática de outros factos criminosos e servindo a defesa da sociedade e da vítima em especial”, acrescentando ainda que estas medidas deverão ser executadas preferencialmente em unidades de saúde mental não prisionais.

A reabilitação psicossocial, é um processo que consiste em “(…) ajudar o doente com doença mental grave a voltar ou adquirir um nível mais elevado de funcionamento. A sua orientação é ensinar pessoas incapacitadas pela doença mental, a trabalhar e a viver independentemente, a superar bloqueios, tanto em oportunidades quanto na motivação, e a sugerir regimes de vida que tendem a ou restaurar o nível mais alto possível de bem-estar”. Stuart e Laraia (2001, p.275).

Existem diversos modelos de reabilitação psicossocial, porém eles partilham um conjunto de princípios que guiam o processo reabilitativo do doente e família, a saber:

- Os objetivos centram-se na melhoria da qualidade de vida, sendo identificados pelo doente e família;

- A reabilitação ocorre em parceria com o doente e família;

- As diferenças individuais devem ser reconhecidas e respeitadas;

- A reabilitação deve ajustar-se às mudanças que os doentes apresentam no tempo;

- A reabilitação abrange todos os serviços de que os doentes necessitam para viver com sucesso na comunidade.

Os modelos de reabilitação psicossocial subentendem, desta forma, uma evolução no papel do doente mental e da família, enquanto agentes proativos no processo psicoterapêutico, através da incursão de novos princípios que valorizam o seu potencial de desenvolvimento ao invés da doença. A introdução de novas conceções, como a de recovery e empowerment, impõem-se como agentes preponderantes na evolução da conotação depreciativa e estigmatizante do doente mental, assumindo simultaneamente uma nova visão de intervenção dos prestadores de cuidados.

O conceito de recovery surgiu na década de oitenta, a partir dos escritos de pessoas com experiência de doença mental, nomeadamente, em relação à forma de como aprenderam a lidar com os seus sintomas, recuperaram uma saúde mental estável, adquiriram uma nova “identidade” e participação comunitária. Este conceito traduz uma mudança de paradigma, caracterizado pela esperança e renovação, no qual as pessoas com doença mental são vistas como agentes positivos, com capacidades/possibilidades e competências para recuperarem a sua autodeterminação, autonomia, independência e participação na vida social, utilizando para tal os recursos e suportes comunitários. Nas diversas perspetivas de recovery é possível identificar algumas dimensões comuns:

- O recovery é um processo evolutivo, não linear, caracterizado por pequenos passos concretos que se podem traduzir em avanços ou retornos;

- Apresenta uma perspetiva holística, centrada no bem-estar geral, autodeterminação e participação social, em oposição à focagem na doença e nos seus sintomas;

- O recovery está relacionado com o empowerment, dado que implica que as pessoas tenham acesso à informação, opções de escolha, poder de decisão sobre o seu percurso pessoal para o recovery;

- Os recursos da comunidade como habitação, alimentação, emprego, rendimento, educação, etc., são fundamentais para o alcance e manutenção do bem-estar;

- É uma experiência individual, processada coletivamente, através do apoio de redes de suporte como, a família, amigos, pares, colegas, vizinhos, etc. (Ornelas, 2008).

No que concerne ao empowerment, de acordo com o Empowerment Group da University of Cornell (1989) apud Ornelas (2008, p.47), este pode ser conceptualizado como “ (…) um processo intencional e contínuo que envolve o respeito mútuo, a reflexão critica, o apoio e a participação em grupos, através dos quais as pessoas mais isoladas e com menos acessos aos recursos disponíveis podem aumentar a sua acessibilidade e controlo sobre esses mesmos recursos”.

Na reabilitação psicossocial está envolvida uma equipa multidisciplinar, constituída por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de reabilitação, terapeutas ocupacionais, etc., onde o doente, família e a própria comunidade assumem um papel primordial. A este respeito, Liberman (1988) apud Campos (2006), salienta que estes técnicos devem possuir os conhecimentos básicos na área da saúde mental, nomeadamente, terapia comportamental, psicopatologia, técnicas comunicacionais e de relacionamento interpessoal, gosto em trabalhar com doentes com doença mental, etc.

O enfermeiro, enquanto elemento detentor de múltipla diversidade de saberes, nomeadamente no âmbito da psicopatologia, psicofarmacologia, psicoterapia, treino de aptidões sociais e funcionais, etc., aliado ao facto de passar mais tempo com o doente, será com certeza um técnico com amplo conhecimento holístico do doente, nas suas dimensões biopsicossocial, devendo, deste modo, assumir um papel preponderante no seu processo de reabilitação psicossocial e sua desestigmatização. Para Stuart e Laraia (2001), os enfermeiros têm o dever de agir como defensores dos doentes, criando um ambiente ético que os respeite e intervindo na satisfação das suas necessidades psiquiátricas e de saúde mental.

É neste contexto que o Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria deve realizar intervenções, nomeadamente autónomas, e demonstrar competências científicas, ao nível técnico e relacional, que o diferem dos outros técnicos. A visão holística do doente, numa perspetiva de interdependência biopsicossocial, a utilização do processo de enfermagem, o estabelecimento da relação terapêutica e de ajuda, o desenvolvimento de técnicas de intervenção psicoterapêutica, etc., são bons exemplos dessa distinção. Bower (1992) apud Townsend (2002), identificou cinco papéis do enfermeiro para cuidar do doente com doença mental crónica, que coincidem com as etapas do processo de enfermagem.

Interacção

O enfermeiro desenvolve um relacionamento de confiança com o doente, família e prestadores de serviços;

Histórico

O enfermeiro constrói a história acerca da saúde física, funcional e mental do doente, sistemas de apoio social e comunitário, recursos financeiros e condições ambientais;

Planeamento

Elaboração de um plano de cuidados, devendo incluir metas acordadas, ações especificas, selecção de recursos e serviços essenciais, em colaboração com o doente, outros técnicos de saúde, família e comunidade;

Implementação

O doente recebe os cuidados, necessários para a sua integração, provenientes dos prestadores de cuidados. Em alguns casos o enfermeiro (gerente) é também o prestador de cuidados, noutros, ele assume-se “apenas” como coordenador dos cuidados;

Evolução

O gerente do caso monitoriza e avalia as respostas do doente relativamente às prescrições e o seu progresso no sentido da concretização dos objetivos delineados. O contacto regular é mantido com o doente, família e prestadores de serviços diretos. A coordenação dos cuidados continuados mantém-se até que os objetivos sejam alcançados.

Neste sentido, os cuidados de enfermagem no âmbito da saúde mental e psiquiátrica têm sempre subjacentes as concepções de empowerment e recovery, respectivamente através do desenvolvimento de contextos em que as pessoas isoladas ou silenciadas possam ser compreendidas, ouvidas e participar nas decisões que lhes dizem diretamente respeito e, deste modo, serem vistos como agentes positivos, com capacidades/possibilidades e competências para recuperarem a sua autodeterminação, autonomia, independência e participação na vida social.

Em Portugal, ao contrário de outros países, nomeadamente anglo-saxónicos, a enfermagem forense ainda não é considerada uma especialização em enfermagem, porém o contexto teórico-prático é responsável pelo desenvolvimento de algumas dimensões que não estão presentes na enfermagem psiquiátrica generalista, tal como o conhecimento de alguns aspetos médico-legais e jurídico-penais, a manutenção de um setting terapêutico seguro pela gestão de comportamentos de risco e a promoção da reabilitação psicossocial num contexto duplamente estigmatizado.

Um dos mecanismos jurídico-penais de grande importância no processo reabilitativo do doente, no qual o enfermeiro desempenha um papel relevante no âmbito da sua preparação e decisão do seu deferimento ou indeferimento, são as licenças, especialmente as administrativas e jurisdicionais. Durante o processo de internamento, o doente pode gozar licenças de saída jurisdicionais ou administrativas, como forma de preservar ou desenvolver competências sociais e funcionais, laços afetivos com os familiares e comunidade local, promovendo assim a sua reinserção sociofamiliar. As licenças de saída jurisdicionais são concedidas e revogadas pelo TEP, em função de alguns critérios como a duração da pena e o comportamento do doente, não podendo ultrapassar o limite máximo de sete dias consecutivos, a gozar de quatro em quatro meses. As licenças administrativas podem ser concedidas pela equipa multidisciplinar, de três em três meses, até ao máximo de três dias seguidos, abrangendo preferencialmente os fins de semana. Antes do gozo destas licenças, o enfermeiro realiza, em parceria com o doente e família, um trabalho essencial na sua preparação, através da implementação de intervenções autónomas, em especial psicoterapêuticas, que visam o desenvolvimento de aptidões e competências sociais e funcionais. Estas competências assumem-se como fundamentais para que as licenças decorram sem incidentes e cumpram o seu papel de agente potenciador e experienciador da interacção sociofamiliar, diminuam o estigma e promovam a reabilitação psicossocial do doente. No âmbito destas intervenções podem ser nomeadas, a educação para a saúde, a psicoeducação, o treino de aptidões sociais e funcionais, o relaxamento, etc.

A preparação da alta do doente, definitiva no caso do cumprimento da totalidade da medida de segurança, ou para prova se sai antes do término da medida de segurança, inicia-se no dia da sua admissão no serviço. O conhecimento holístico, de cada doente, detido pelo enfermeiro, consubstanciado pela elaboração da sua história biopsicossocial, revela-se indispensável na maximização de todo o processo reabilitativo. A elaboração de relatórios de enfermagem que caracterizam o doente nas dimensões biopsicossocial são veículos promotores da continuidade dos cuidados, reintegração e desestigmatização do doente na comunidade. Estes instrumentos são frequentemente solicitados por instituições, no caso de doentes com deficiente ou nulo suporte familiar, no sentido de perceberem as suas reais capacidades e competências, com vista à sua admissão após a alta do serviço de psiquiatria forense. Do mesmo modo, no caso de integração do doente na sua comunidade de origem, estes relatórios são enviados, aquando da sua alta, para as estruturas de saúde e acompanhamento locais, contribuindo para a continuidade dos cuidados de saúde. O papel do Instituto de Reinserção Social é de máxima relevância, em especial quando o doente perde o contacto com o serviço de psiquiatria forense, pois serve de suporte familiar e comunitário, permitindo uma monitorização contínua do processo de reinserção.

A reabilitação psicossocial e consequente reinserção do doente inimputável nem sempre são ocorrências de absoluto sucesso, se entendermos como tal a perfeita integração do doente no meio sociofamiliar, com desempenho de um papel profícuo e pautado pela autonomia. Existem alguns fatores que acabam por influenciar negativamente este objetivo, designadamente o grau de deterioração induzido pela doença e consequente dependência, a idade do doente, a inexistência de suporte familiar e comunitário e sobretudo o duplo estigma associado à condição de doente mental e “preso”.

Referências Bibliográficas:

CAMPOS, Ricardo – Reabilitação Psicossocial e Relação. Lisboa: Hospitalidade, nº271 (Janeiro - Março, 2006), p.21-24.
Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial de Saúde 2001 – Saúde Mental: Nova concepção, nova esperança.1ª ed. Lisboa: Ministério da Saúde, Abril 2002.
ORNELAS, José – Psicologia Comunitária. Lisboa: Fim de Século, 2008. 478p.
PORTUGAL. Ministério da Justiça. Decreto-Lei Nº 48/95 – Código Penal: Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica. D. R. I Série. 63 (95-03-15).
PORTUGAL. Ministério da Justiça. Decreto-Lei Nº 115/2009 – Código da execução de penas e medidas privativas da liberdade. D. R. I Série. 197 (09-10-12).
STUART, Gail e LARAIA, Michele – Enfermagem Psiquiátrica: Princípios e Prática. 6ª Edição. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
TADVALD, Marcelo – Marcas Sociais da Insanidade: Os Efeitos do Estigma para Ex-Internos de Instituições Manicomiais. Paraíba: Revista Ártemis. Vol. 7, Dezembro 2007, p. 69-78.
TOWNSEND, Mary – Enfermagem Psiquiátrica: Conceitos e Cuidados. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara  koogan, 2002.

Paulo Jorge Santos Rosa - Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

Maria Fernanda Batista Rodrigues - Enfermeira Chefe (Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica)

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Projecto Geração XXI
Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto apresenta livro que ensina pais a alimentarem crianças de forma saudável.

Aos quatro anos, mais de 90% das crianças ultrapassa já “os valores toleráveis de sal” para a sua idade, com a sopa e o pão a destacarem-se como os alimentos que mais contribuem para este consumo elevado. Este é o resultado mais alarmante de uma investigação baseada em dados do projecto Geração XXI, que acompanha uma extensa amostra de crianças desde o seu nascimento, e que foi apresentado no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP). “O sal é um problema em Portugal”, sublinhou Carla Lopes, do ISPUP, para quem a legislação existente (e que estabelece limites para o sal no pão) talvez já “não chegue”.

De uma forma muito sintética, a avaliação aos quatro anos de uma amostra da coorte (grupo de pessoas que nasceram na mesma altura) do projecto Geração XXI (que avalia quase 8700 crianças desde 2005) permitiu perceber que o consumo de alimentos de elevada densidade energética é elevado desde idades precoces e influencia mais tarde um padrão alimentar mais desequilibrado. Num olhar menos aprofundado, até parece que tudo estará bem, porque estas crianças ingerem em média 1600 calorias por dia, com uma componente adequada de proteínas, hidratos de carbono e gordura, além da maior parte dos micronutrientes, como se conclui da análise de uma subamostra dos diários alimentares de mais de 2500 crianças.

Os problemas começam quando se aprofunda a análise. Percebe-se, por exemplo, que apenas quatro em dez crianças nesta idade atingem as recomendações diárias de cinco porções de fruta e hortícolas diárias recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De resto, o relatório sobre o consumo alimentar e nutricional em crianças em idade pré-escolar que resultou deste trabalho do ISPUP prova também que nesta idade o consumo da carne é já muito superior ao de peixe (42% consome carne diariamente e 9%, pescado), ainda que o consumo de carnes brancas suplante o de carnes vermelhas, excluindo charcutaria.

Preocupante é também o facto de mais de metade destas crianças (52%) consumirem refrigerantes e néctares diariamente e 65% comerem bolos e doces pelo menos uma vez por dia. A agravar, quase três quartos ingere snacks salgados (pizza, hambúrguer, batatas fritas e outros snacks de pacote) entre uma a quatro vezes por semana. O refrigerante mais consumido é o ice-tea, com um quinto das crianças nesta idade a consumir esta bebida todos os dias. “Os pais pensam que estão a dar chá aos filhos”, lamenta Carla Lopes.

“São dados que nos devem fazer pensar”, defende o presidente do ISUPUP e coordenador científico do projecto Geração XXI, Henrique Barros, que adiantou que outras avaliações entretanto feitas a esta coorte permitiram já perceber que é elevada a proporção de crianças com uma pressão arterial demasiado alta.

Na educação para uma alimentação saudável, a família tem um papel crucial, mas também o jardim-de-infância tem um papel relevante, destacaram a propósito os especialistas, que notam que “ padrões sociais mais desfavoráveis se relacionam com um consumo alimentar mais desadequado”.

A boa notícia é a de que este relatório acabou por dar o mote para um livro. Os pais e cuidadores de crianças em idade pré-escolar passam agora a ter uma nova ferramenta ao seu dispor, o e-book “Da mesa à horta: aprendo a gostar de fruta e vegetais!”, um guia prático que pode ser descarregado em www.ispup.up.pt. A elaboração desta obra foi possível graças ao projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e contou ainda com o apoio da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Louvando a iniciativa, o pediatra António Guerra lembrou que aprendizagem de uma alimentação correcta é muito importante “neste período-janela tão sensível” e aconselhou as pessoas “a serem pedagógicas e criativas”, a diversificarem, “sem pressionarem”. Também Pedro Graça, coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS, elogiou o livro e adiantou ser sua intenção promover a sua divulgação. “Estes dados são relativamente comuns ao que se passa noutros países do Sul da Europa, a diferença está no sal, temos que ganhar a luta contra o sal”, destacou o responsável.

 

Infarmed alerta
O Infarmed emitiu o alerta de suspeita de medicamento falsificado - Gardasil, vacina contra o papilomavírus humano (tipos 6, 11...

A Autoridade Competente alemã Paul-Ehrlich-Institute reportou a suspeita de falsificação do lote n.º H022246/IT3, validade 06/2015, do medicamento Gardasil, vacina contra o papilomavírus humano (tipos 6, 11, 16, 18), suspensão injectável.

Apesar de não ter sido detectada a existência deste lote de medicamento em Portugal, o Infarmed recomenda:

- as entidades que tenham adquirido este lote de medicamento não procedam à sua venda, dispensa ou administração, devendo comunicar de imediato ao Infarmed;

- os utentes que disponham de medicamentos deste lote não os utilizem, devendo entregar as embalagens em causa na farmácia para posterior destruição

 

Campanha inédita alerta para a prevenção do VIH
Arranca na próxima segunda-feira, 21 de Julho, uma campanha inédita de prevenção e sensibilização para o VIH nas praias do...

A acção tem início junto à Piscina Oceânica de Cascais, onde permanecerá entre os dias 21 e 27 de Julho, das 15h às 19h. O quiosque instalado junto ao posto Maré Viva terá preservativos masculinos e femininos gratuitos e material informativo sobre o VIH. A acção vai percorrer mais cinco locais até ao dia 31 de Agosto.

“O Verão é, geralmente, a época do ano em que se adoptam comportamentos mais impulsivos, por isso, o nosso objectivo é alertar a população para as consequências desses mesmos comportamentos, informando sobre os métodos de prevenção do VIH e os factores de risco”, refere Andreia Pinto Ferreira, coordenadora da SER+.

E acrescenta: “Queremos sobretudo informar as pessoas, principalmente os jovens, porque o maior conhecimento sobre o VIH é fundamental para a prevenção, para desmistificar a doença e evitar o estigma e o preconceito associados”.

Esta iniciativa resulta de uma parceria com o Programa Maré Viva, Geração C da Câmara Municipal de Cascais.

 

Calendarização da campanha:

Piscina Oceânica de Cascais: 21/07 a 27/07;

Carcavelos (Avenida Jorge V): 28/07 a 03/08;

Praia do Tamariz: 04/08 a 10/08;

Praia da Parede: 11/08 a 17/08;

Praia de São Pedro do Estoril: 18/08 a 24/08;

Carcavelos (Campos de Futebol): 25/08 a 31/08

 

Sabia…

· Que dos 34 milhões de adultos que vivem com o VIH, em todo o mundo, metade são mulheres?

· Que em Portugal, 26.4% dos 41 035 casos notificados, são mulheres?

· Que numa relação sexual, por razões biológicas, as mulheres incorrem, duas vezes mais do que os homens, num risco de se infectarem?

· Que as mulheres objecto de violência sexual estão no topo da vulnerabilidade à infecção devido à falta da utilização de preservativos e aos traumatismos das violações?

· Que o preservativo feminino é o único instrumento actualmente existente que pode, se usado de forma correcta, ajudar a mulher a proteger-se da infecção apesar de a sua utilização implicar algum nível de cooperação por parte do homem?

 

Sobre a SER+

A SER+, Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social fundada em 1997. É uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que pretende promover respostas integradas que envolvam e capacitem as populações mais vulneráveis à infecção, em conjunto com todas as partes interessadas, nomeadamente com as pessoas que vivem com o VIH, e tendo em conta as orientações nacionais e internacionais. Que Portugal seja um país que respeite os direitos humanos das pessoas que vivem com o VIH, garantindo o acesso à prevenção, tratamento, apoio e cuidados de saúde é a visão da SER+.

 

No âmbito do Programa Gilead GÉNESE
Está aberta a fase de candidaturas ao Programa Gilead GÉNESE para o ano de 2014.

Este programa, criado em 2013, conta com o apoio da Gilead Sciences de 200 mil euros a projectos nacionais de natureza científica e de iniciativa comunitária. Instituições, organizações, sociedades ou associações ligadas à Saúde são os destinatários deste programa que pretende, a nível nacional, incentivar a investigação, a promoção de conhecimento, o desenvolvimento científico, a geração de dados e a implementação de boas práticas de acompanhamento dos doentes nas áreas de infecção por VIH/SIDA, hepatites virais crónicas B e/ou C, infecções fúngicas invasivas e fibrose quística.

À primeira edição do Programa Gilead GÉNESE, em 2013, concorreram 43 projectos nacionais, tendo sido seleccionados 14 pela Comissão de Avaliação, entre os quais o projecto de iniciativa comunitária “Diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde” das Associações AJPAS, GAT e Ser+, e o projecto “Diagnóstico, Prognóstico e Tratamento Personalizado de Fibrose Quística” da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, coordenado por Margarida Amaral.

“Este Programa de 2014 deverá atrair um número ainda maior de candidaturas dada a amplitude dos temas escolhidos e a sua adequação ao que vão fazendo - e desejam fazer ainda mais e melhor - os diversos grupos de trabalho que têm estado activos nos temas seleccionados” explica o Professor Doutor Daniel Serrão, membro da Comissão Consultiva da edição de 2014 do Programa Gilead GÉNESE.

O Programa Gilead GÉNESE destina-se a apoiar projectos de natureza científica e de iniciativa comunitária, nas seguintes temáticas:

Rastreio, diagnóstico precoce e educação para a saúde, incluindo prevenção;

Adesão e persistência aos antivirais com geração de resultados avaliados pelos doentes (qualidade de vida, preferência);

Resultados em saúde em Portugal — estudos clínicos, epidemiológicos, de avaliação económica ou financiamento;

Investigação básica e translacional que possibilite a geração de resultados com aplicação clínica;

Intervenção comunitária e cívica, tendo em vista uma melhoria dos cuidados de saúde prestados e uma melhor literacia.

Este ano, a avaliação dos projectos submetidos será efectuada por duas Comissões de Avaliação, uma dedicada à área científica e outra à avaliação de projectos de iniciativa comunitária, que integram Profissionais experientes e Peritos em diferentes áreas que serão os responsáveis pela apreciação da pertinência e carácter inovador das candidaturas, bem como da sua qualidade, organização e metodologia, de acordo com os critérios definidos e o regulamento aplicável.

“Esperamos que os apoios concedidos ao abrigo do Programa Gilead GÉNESE representem um válido contributo ao nível da optimização da prática clínica, da melhoria da qualidade de vida dos doentes e dos resultados em saúde”, explica Cristina Bernardo, Directora Geral da Gilead Sciences Portugal.

A submissão de candidaturas poderá ser efectuada até ao dia 17 de Agosto e os projectos seleccionados serão divulgados durante o mês de Novembro.

Para obter mais informações sobre o Programa Gilead GÉNESE pode ser consultada a página oficial www.gileadgenese.pt.

 

Ordem dos Nutricionistas alerta
A Organização Mundial da Saúde apresentou um estudo acerca dos progressos alcançados na prevenção e controle de doenças...

Embora muitos países tenham já feito progressos na luta contra a "epidemia" das DCNT, incluindo doenças cardíacas, cancro, diabetes e doença pulmonar crónica, a mortalidade global actual das DCNT permanece “inaceitavelmente elevado e está a aumentar” demonstrando que os progressos têm sido insuficientes e desiguais, refere o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) agora divulgado.

O “Noncommunicable diseases country profiles 2014” foi apresentado na Assembleia Geral da ONU e traçou um quadro de tendências recentes e respostas governamentais a DCNT em 194 países. O relatório revela que 38 milhões de pessoas (28 milhões nos países em desenvolvimento) morrem anualmente de doenças crónicas não transmissíveis (DCNT), quase 16 milhões prematuramente - antes de atingirem os 70 anos de idade. O número de mortes por DCNT tem aumentado em todo o mundo e em todas as regiões desde 2000, a maioria no Sudeste Asiático e nas Regiões do Pacífico Ocidental.

“Estas mortes prematuras seriam, em grande parte evitáveis, caso os governos aplicassem medidas simples para reduzir os factores de risco para DCNT e permitissem que os sistemas de saúde pudessem responder”, refere o relatório. “Medidas mais ousadas são urgentes para acelerar os esforços para enfrentar as doenças não transmissíveis e mitigar seus impactos”.

O relatório incluiu a estimativa sobre a carga actual e as tendências recentes em mortes por DCNT e factores de risco, como o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a hipertensão arterial e a obesidade. O relatório avaliou também a capacidade dos países de tomarem medidas. Muitos dos 178 países que participaram na investigação, fizeram progressos na luta contra a epidemia.

A directora-geral da OMS, Margaret Chan refere: “Eu não vejo nenhuma falta de compromisso. Vejo uma falta de capacidade de agir, especialmente no mundo em desenvolvimento”, apontando para os dados que mostram que 85% das mortes prematuras por DCNT ocorrem em países em desenvolvimento. “Os desafios continuam enormes e exigem uma mudança fundamental na forma como o progresso social é medido, a forma como os governos trabalham, a forma como as responsabilidades são atribuídas e a forma como as fronteiras de diferentes sectores do governo são definidos”, refere Chan.

Destacando que estas doenças crónicas têm ultrapassado as doenças infecciosas como a principal causa de morbidade e mortalidade, a directora-geral da OMS pediu uma “mudança sísmica” que exige mudanças radicais na própria mentalidade da saúde pública. A responsável apelidou a Declaração Política da Assembleia Geral de 2011, sobre a prevenção e controle de DCNT, como “um divisor de águas”, destacando que esta declaração levou a compromissos corajosos para agir colocando a prevenção à frente, como pedra angular, de uma resposta global.

No que respeita a Portugal, pode ler-se no relatório, estima-se que as DCNT são responsáveis por 86% das mortes prematuras, sendo as doenças cardiovasculares e o cancro as principais responsáveis.

Para a Ordem dos Nutricionistas, este relatório assume uma grande importância na medida em que Portugal também se encontra na lista dos 178 países analisados. “A prevenção é a única forma de travarmos estas doenças crónicas não transmissíveis”, refere Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas. “Enquanto os nossos governantes não entenderem que a maior fatia do investimento em saúde deve ser feito na prevenção, e não no tratamento, nunca teremos, por um lado, a diminuição da doença e por outro a diminuição dos encargos na saúde no tratamento destas doenças.” Dada a grande relação entre a alimentação desadequada e o aparecimento das DCNT, nomeadamente aquelas que mais matam em Portugal, como as doenças cardiovasculares, é fundamental uma política alimentar e nutricional que envolva todos os intervenientes, desde logo o Governo, mas também as autarquias, as escolas, a indústria agro-alimentar, a distribuição alimentar, o consumidor, entre outros. Desde 2012 que Portugal tem o Programa Nacional de Promoção de Alimentação Saudável sob a alçada da Direcção-Geral da Saúde e coordenado pelo Nutricionista Prof. Doutor Pedro Graça, contudo, ainda muito há a fazer.

 

Elevados custos
Estudo sustenta que o elevado custo associado às novas terapêuticas exige novos modelos de financiamento e negociação.

É necessário aumentar o financiamento para o combate à hepatite C. A recomendação é do Consenso Estratégico para a Gestão da Hepatite C. Ricardo Baptista Leite, coordenador de um estudo, sustenta que o elevado custo associado às novas terapêuticas exige novos modelos de financiamento e negociação, que garantam o acesso aos medicamentos por parte dos doentes.

“Uma vez que estas terapêuticas prometem a cura, o Estado tem de se defender”, começa por dizer à Renascença, lembrando que existem “modelos de partilha de risco em que o Estado apenas paga em função dos resultados”. Por outro lado, devem ser definidos tectos orçamentais. “Que haja esse tecto claramente negociado com a indústria, de modo a garantir que o demais Orçamento do Estado para Saúde não fica prejudico pela introdução desta inovação”.

Ricardo Baptista Leite recorda que hoje em dia o Estado gasta cerca de 16 milhões de euros no tratamento com as terapêuticas disponíveis.

A prevalência estimada da hepatite C situa-se entre 1 e 1,5% da população portuguesa. Estudos internacionais apontam para que possam morrer no país entre 900 e 1.200 pessoas por ano, em consequência de complicações relacionadas com a doença.

Prevenção e a redução da carga de doença
Paulo Macedo anuncia projectos-piloto para gestão de centros de saúde por autarquias já em 2015, numa edição especial do...

O ministro da Saúde está a favor do aumento da tributação do consumo do álcool e do tabaco. Questionado sobre eventuais aumentos da carga fiscal para produtos prejudicais à saúde, Paulo Macedo sublinha que “ há uma clara evidência técnica que o aumento do preço do tabaco e das bebidas alcoólicas leva a uma redução do consumo. Não é uma medida que tenha apenas um aspecto financeiro”. O Ministro da Saúde foi o convidado de uma edição especial do habitual debate sobre actualidade em que participam Pedro Santos Guerreiro, Graça Franco e Henrique Monteiro.

A prevenção e a redução da carga de doença são apresentadas como uma questão “séria” para o ministro, escreve a RR na sua edição Online.

“Em termos de saúde pública o que me interessa é a redução do consumo do sal. Por exemplo, nós ganhámos imenso quando baixámos - e não foi este Governo - no pão. Há outros hábitos como por exemplo a questão do saleiro e do pimenteiro na mesa de todos os restaurantes. Ganhamos imenso se for a pedido”, sugere.

 

Avança nova experiência de gestão de centros de saúde

O Governo anunciou esta semana que estava em cima da mesa a entrega da gestão de centros de saúde a autarquias. Paulo Macedo concretiza, revelando uma “experiência-piloto em duas ou três autarquias” dentro de seis meses. “Achamos que essa maneira de descentralização pode dar frutos ao nível dos cuidados primários, que é do que estamos a falar”, justifica.

Reivindicando a construção de uma unidade de saúde por semestre, o ministro admite maus investimentos na área da saúde. “Por exemplo, o investimento planeado do Hospital da Guarda em que o novo edifício hospitalar não consegue absorver os serviços que estavam no antigo. Ou o Centro Materno-Infantil do Porto que é posto à disposição das pessoas quando nós temos a menor natalidade de sempre e que demorou 20 anos a ser planeado e construído. Ou, por exemplo, possibilitar a concessão a médicos de licenças sem vencimento para os contratar com contratos individuais de trabalho. Isto são casos de gestão indesejável”, denuncia.

Sobre o caso das demissões de directores de serviço do Hospital de S. João, no Porto, o Ministro considera que a administração do hospital está em condições de solucionar o problema. “Eu penso que isso está resolvido”, diz Paulo Macedo, que entende como desejável “uma maior autonomia, uma maior responsabilização, também maior dotação de meios e, especialmente, para aqueles hospitais que demonstraram que conseguem estar equilibrados”.

 

Consensos possíveis e impossíveis

As propostas de António José Seguro são acompanhadas com detalhe pelo ministro que sustenta que o apoio do PS é mais importante para o futuro que para as reformas em curso no sistema público de saúde.”Eu acho que há um consenso, não explícito, de que o sistema deve ser universal, deve ser como está na Constituição, deve ser baseado no financiamento por impostos progressivos como o nosso sistema fiscal e não ter outras fontes de financiamento. Por exemplo, as taxas moderadoras são moderadoras porque não cobrem mais do que 3% da despesa. Penso que aí há um relativo consenso”, defende.

As divergências surgem na forma como esses consensos são levados à prática. “O que foi mostrado foi que, até agora, nas diferentes iniciativas, em diferentes áreas - e talvez esta seja uma área mais consensual nos grandes princípios - não é nada consensual em termos do detalhe e da operacionalização. Aliás, não há qualquer proposta de nenhum partido sobre a operacionalização da reforma. Só se diz, basicamente, ou que se está contra, ou que não é por aí, ou o que falta ou a crítica. Não há alternativa concreta. Mas tentou-se noutras áreas e não houve grande sucesso, portanto, quando eu disse que tinha pena é porque eu acho que esta era uma área que merecia e que era possível”, lamenta.

 

Recomendações
Durante a gravidez, temperatura corporal das mulheres é superior ao habitual.
Gravidez calor

Durante a gravidez, a temperatura corporal das mulheres é ligeiramente superior ao seu valor habitual, pelo que os períodos de calor intenso podem agravar o desconforto.

Nestes períodos, estão recomendados cuidados especiais com a manutenção da sua temperatura corporal e níveis de hidratação. Devem ainda ter a preocupação de evitar o exercício físico em esforço.

A exposição solar pode agravar o cloasma (nome dado à hiperpigmentação da pele causada pelas hormonas da gravidez), pelo que estão indicados produtos com níveis elevados de factores de protecção solar (FPS).

Medidas gerais de prevenção:

  • Preferir roupas largas, leves e frescas, de preferência de algodão, evitando a exposição directa da pele, particularmente nas horas de maior incidência solar;
  • Utilizar chapéu de abas largas e óculos de sol com protecção contra radiação UVA e UVB;
  • Assegurar uma boa hidratação, ingerindo, preferencialmente, água e sumos de fruta naturais, sem adição de açúcar;
  • Evitar bebidas alcoólicas e bebidas com elevados teores de açúcar, com cafeína ou gaseificadas;
  • Preferir refeições leves, frescas e mais frequentes (à base de vegetais, saladas e frutas bem lavados);
  • Limitar dentro do possível a exposição solar, sobretudo nos períodos mais quentes do dia (entre as 11 e as 17 horas);
  • Utilizar um protector solar dermatologicamente seguro e hipoalergénico com um índice de protecção elevado (igual ou superior a 50);
  • Descansar e dormir com os membros inferiores ligeiramente elevados se o edema se agravar com o calor;
  • Na impossibilidade de descansar em locais climatizados, reduzir a temperatura ambiente, colocando no quarto garrafas de água gelada (em locais elevados e à cabeceira).

Durante os períodos de calor intenso, as grávidas devem evitar o exercício físico. Se pretenderem realizá-lo devem:

  • Preferir os períodos mais frescos do dia ou procurar locais climatizados;
  • Garantir uma adequada hidratação antes, durante e após o exercício;
  • Monitorizar a pressão arterial;
  • Valorizar sinais como vertigens, tonturas, fadiga crescente, aceleração ou irregularidade dos batimentos cardíacos e interromper o exercício.

Sinais de alerta e acções a desenvolver
Se estiver em presença de uma grávida com um aumento significativo da temperatura corporal, cansaço extremo, tonturas, respiração ofegante ou com boca e garganta secas, deve:

  • Deslocar a grávida para um compartimento fresco;
  • Se consciente, oferecer água para beber;
  • Avaliar a temperatura corporal. Se febril, aplicar toalhas húmidas, pulverizar o corpo com água fresca ou utilizar banho de água tépida, para facilitar a descida da temperatura.
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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Relatório norte-americano
Austrália teve o seu ano mais quente de sempre, a Argentina o segundo e a Nova Zelândia o terceiro. Conclusões de um relatório...

O ano de 2013 foi um dos mais quentes já registados, as emissões de gases de efeito estufa alcançaram níveis históricos e o gelo ártico continuou a derreter, de acordo com um relatório hoje divulgado.

O relatório anual sobre o clima, publicado no Boletim da Sociedade Meteorológica Norte-Americana, junta os dados científicos e os eventos climáticos do ano passado, resultado do trabalho de 425 cientistas, em 57 países.

O documento é comparável a um exame médico anual, explicou aos jornalistas Tom Karl, director da Agência Oceânica e Atmosférica Norte-Americana (NOAA).

“Se quiséssemos fazer uma analogia com a saúde humana, poderíamos dizer que vemos quanto engordámos e quantos quilos podemos continuar a ganhar, ano após ano”, declarou.

“O planeta, o estado do clima, está a mudar mais depressa agora do que em qualquer outro momento da civilização moderna", acrescentou Tom Karl.

De acordo com o relatório, a Austrália teve o seu ano mais quente de sempre, a Argentina o segundo e a Nova Zelândia o terceiro.

As temperaturas à superfície dos oceanos também aumentaram, levando o ano de 2013 para a lista dos dez anos mais quentes de sempre.

O Ártico conheceu o seu sétimo ano mais quente desde o início do 'ranking', no início do século XX.

O volume do gelo ártico é o sexto mais baixo no 'ranking' que começou em 1979, por meio de observações de satélite.

Por seu lado, a Antártica viu o seu volume de gelo (no mar e não na terra) a crescer a um ritmo de 1% a 2% por década.

“O facto de que a cobertura de gelo no Ártico se comportar de forma diferente do que na Antártida é um enigma”, disse James Renwick, professor na universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia.

O nível geral de água aumentou três milímetros no ano passado, respeitando o ritmo constante dos últimos vinte anos.

“Em 2013, o nível médio da água no mundo atingiu um novo recorde”, indicou Jessica Blunden, climatologista da NOAA.

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