Ordem dos Enfermeiros:
No próximo dia 30 de Outubro a Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros realiza uma conferência para divulgar o seu...

A Secção Regional do Centro (SRC) da Ordem dos Enfermeiros (OE) realiza quinta-feira, 30 de Outubro, em Viseu uma conferência para divulgar o seu Modelo de Desenvolvimento Profissional (MDP), que visa a melhoria dos contextos da prática e dos cuidados prestados aos cidadãos.

A conferência intitulada “Política de Formação Contínua de Enfermeiros” está programada para as 16h30 no auditório do Centro Hospitalar Tondela Viseu, E.P.E.. Terá como palestrante o Enf.º Rui Pereira, Vogal do Conselho de Enfermagem da Ordem dos Enfermeiros.

A iniciativa insere-se num ciclo de conferências “Acreditação dos Contextos de Prática Clínica Passo a Passo…”, que decorre até Janeiro de 2015 nas seis capitais de distrito da Região Centro e na cidade da Covilhã. Teve início a 14 de Abril em Aveiro.

Cada uma das sessões será dedicada a um dos “sete pilares” do MPD, e visam dotar os enfermeiros de mais informação sobre um modelo já aprovado pela Assembleia da Republica, com a publicação da Lei nº111/2009 de 16 de Setembro, no seu artigo 7º e que aguarda apenas a sua operacionalização por parte do Ministério da Saúde, integrada na nova alteração estatutária, actualmente em fase discussão.

“Pretendemos que os colegas entendam melhor as vantagens que o MDP tem para si, para as instituições de saúde e para a população”, sublinha o Presidente do Conselho de Enfermagem Regional do Centro (CERC), Enf.º Hélder Lourenço.

É convicção de que o novo Modelo de Desenvolvimento Profissional (MDP) trará “uma melhoria efectiva da qualidade dos cuidados prestados” aos cidadãos.

 

De três anos
Portugal foi eleito pela Assembleia Geral das Nações Unidas para um mandato de três anos no Conselho de Direitos Humanos.

Trata-se da primeira vez que Portugal é eleito para este órgão das Nações Unidas, numas eleições consideradas das mais importantes e difíceis no universo da ONU.

Portugal recebeu 184 votos, um número muito acima dos 97 votos exigidos, sendo esta a mais elevada votação que um país do grupo eleitoral WEOG (Western European and Others Group) jamais recebeu para este órgão.

Esta eleição foi o culminar de uma intensa e bem sucedida campanha da candidatura portuguesa, uma prioridade do Governo que envolveu activamente toda a rede diplomática portuguesa. Reflecte, ainda, o reconhecimento internacional da importância que o nosso país atribui ao multilateralismo e, em particular, ao sistema multilateral de defesa de direitos humanos das Nações Unidas.

 

Ébola:
A Direcção-Geral da Saúde disponibiliza a partir de hoje um site com informação sobre o vírus do Ébola e que permite o...

A apresentação do site foi realizada durante uma reunião do dispositivo de Coordenação da Plataforma de Resposta à Doença por Vírus Ébola, que analisou as várias iniciativas em curso com vista à prevenção e resposta a eventuais casos em Portugal.

A informação disponibilizada neste site – que pode ser acedido por morada própria (www.ebola.dgs.pt) ou no da Direcção-Geral da Saúde (DGS) (www.dgs.pt) – engloba algumas dúvidas sobre a doença, como as formas de contágio, os tratamentos e a protecção.

Os cibernautas podem ainda aceder a dados sobre os riscos em viagem, qual o plano de resposta português, a situação em Portugal e os países afectados.

É disponibilizada ainda uma secção onde podem ser enviadas perguntas que serão respondidas por elementos da DGS, bem como material – folhetos e pósteres – para eventual impressão e exposição.

De acordo com os números oficiais, o vírus Ébola já terá afectado em todo o mundo mais de 10 mil pessoas, das quais 4.900 morreram.

 

Organização Mundial da Saúde
A Organização Mundial da Saúde estima que os casos de poliomielite (paralisia infantil) diminuíram 99% em 25 anos, para 416...

Dados hoje publicados na página daquela agência da ONU na Internet indicam que em 1988 foram notificadas 350 mil ocorrências de poliomielite em 125 países, número que no ano passado baixou para 416 casos.

Esta diminuição “é o resultado do esforço global para erradicar a doença”, considera a Organização Mundial da Saúde (OMS) em comunicado, onde assinala que os esforços dos Estados membros das Nações Unidas fizeram com que, “em 2014, apenas três países permanecessem com pólio-endémica, com menos 125 casos se comparados com 1988”.

“Os casos de pólio diminuíram em 99% desde 1988, de uma estimativa de 350 mil casos em mais de 125 países endémicos, para 416 casos notificados em 2013. Estes incluíram apenas 160 casos em países endémicos”, refere a nota.

“Em 2014, apenas três países no mundo continuam endémicos, com a doença a ocupar a menor área geográfica na sua história”, assegura a OMS.

A poliomielite, vulgarmente denominada paralisia infantil, é uma doença infecciosa viral aguda transmitida de pessoa para pessoa, principalmente pela via fecal-oral, que afecta o sistema nervoso e pode causar paralisia irreversível em poucas horas em uma em cada 200 infecções. A enfermidade atinge maioritariamente menores de cinco anos.

Em 1994, a região da América foi declarada livre da pólio, seguida da região Pacífico Ocidental, em 2000, e Europa em Junho de 2002. Em Março deste ano a OMS assinalou a região do sudeste asiático como livre da doença.

“Essa conquista marca um salto significativo na erradicação global, com 80% da população mundial a viver em regiões certificadas como livres da pólio”, refere o comunicado da OMS.

Mas a agência da ONU alerta para a possibilidade de ocorrência de 200 mil novos casos por ano dentro de 10 anos em todo o mundo se não forem travados os focos que ainda existem no Afeganistão, Nigéria e Paquistão.

 

Em Lisboa
As obras de reabilitação do antigo Hospital do Desterro para o transformar num espaço cultural, estão paradas e não há prazo...

“No que respeita a prazos, no momento não conseguimos dar uma indicação de datas concretas”, informou a Mainside, empresa parceira do projecto de reabilitação do Convento do Desterro, em resposta escrita à Lusa. Em Novembro do ano passado, fonte da empresa disse à Lusa que a reabilitação deveria estar terminada antes do verão deste ano.

A Câmara Municipal de Lisboa, a Estamo (empresa que gere património imobiliário do Estado) e a Mainside (empresa promotora da Lx Factory, em Alcântara) assinaram em Maio de 2013 um protocolo, “tendo em vista a reabilitação e reutilização do Hospital do Desterro”, que passará a ser um “território experimental aberto ao mundo”.

A Mainside, responsável pela gestão do novo espaço, disse à Lusa estar a “aguardar respostas por parte da entidade proprietária do espaço, a Estamo, para dar continuidade aos trabalhos de obra”.

“Respostas [que são] fundamentais para o normal andamento do processo”, acrescentou.

A empresa garante que o projecto “continua em desenvolvimento” e que, “apesar do compasso de espera dos trabalhos de obra, o conceito tem evoluído e está cada vez mais forte e coerente”.

Em 2013, “foi realizado um conjunto de obras enquadradas numa primeira fase de trabalhos que visavam uma limpeza do espaço e algumas demolições de elementos que não faziam parte do edifício original do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro, nomeadamente acrescentos sem valor patrimonial resultantes das necessidades de uso hospitalar”.

Em Maio do ano passado, o presidente da Mainside revelou que o investimento para a primeira fase era de um milhão de euros.

“Depois avaliaremos a segunda fase”, disse na altura José Carvalho, referindo, ainda, que a concessão daquele espaço é de dez anos e que poderá ser prolongada.

Desativado progressivamente desde 2006, o Hospital do Desterro foi vendido à Estamo, empresa pública que gere o património imobiliário do Estado, por 9,24 milhões de euros.

 

Estudo “VIH/Sida – Financiamento e Contratualização assente na eficiência e qualidade”
Um grupo de peritos, na sua maioria administradores hospitalares e médicos, é contra a transferência dos tratamentos de doentes...

A ideia consta das conclusões do estudo “VIH/Sida – Financiamento e Contratualização assente na eficiência e qualidade”, realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), com o apoio de um laboratório, que serão hoje apresentadas em Lisboa.

O principal objectivo deste estudo foi “compreender se o modelo de financiamento do VIH/Sida se adequa às boas práticas definidas para esta área de tratamento”.

Para tal, foram convidados 295 peritos de diferentes áreas profissionais, sendo que o painel é composto maioritariamente por administradores hospitalares (33%) e médicos (31%).

Sobre a articulação entre hospitais e cuidados de saúde primários, 71% do painel considera que “não se deve equacionar a transferência dos doentes para o médico de medicina geral e familiar, mesmo com menor complexidade de tratamento”.

No entanto, 87,1% dos peritos refere a importância dos cuidados de saúde primários para o diagnóstico precoce, concluindo que “o tratamento é reservado aos hospitais” e que os médicos especialistas têm dificuldade em dar alta para o tratamento nos centros de saúde.

Em relação aos indicadores sugeridos para monitorização do modelo de financiamento, uma larga maioria propõe o tempo desde a infecção e detecção, a adesão à terapêutica e o acesso à inovação.

Os peritos reconheceram igualmente a obrigatoriedade de ser levada em conta a avaliação do próprio utente, relativamente ao sistema.

“Em termos da articulação de cuidados é consensual que a reorganização passa por uma liderança clínica forte (74,2%) e pelo abandono de uma lógica de serviços em favor de uma abordagem multidisciplinar (83,9%)”, lê-se nas conclusões.

Uma larga maioria dos peritos (93,5%) refere que “os utentes devem poder saber se estão a ser tratados numa unidade que segue o estado da arte e consideram que deve ser implementado um mecanismo de auditoria ao cumprimento das Normas de Orientação Clínica (NOC)”. A sua avaliação deve ser do domínio público, indicam 74,2% dos peritos.

Bastonário considera
O Bastonário da Ordem dos Enfermeiros disse ser “inconcebível” que um processo de contratação de profissionais para...

O Governo, e o Ministério da Saúde, "têm de perceber de uma vez por todas que a contratação de enfermeiros, nomeadamente para substituições temporárias, tem de ser célere [e] não pode estar sujeita a processos burocráticos que demoram meses”, criticou Germano Couto à margem de uma visita ao Centro Materno Infantil do Norte.

Para o bastonário, que divulgou terem hoje entrado “22 novos enfermeiros” no Centro Hospitalar do Porto, “é inconcebível que um processo de substituição demore oito, 10, 12 meses”.

Em causa está um processo de contratação de enfermeiros para substituição no Centro Hospitalar do Porto pedido “há um ano atrás”, tendo sido agora autorizado pela tutela a “contratação de cerca de 50 enfermeiros para fazer face aos cerca de 70 ausentes neste momento”. O bastonário explicou que agora “o centro hospitalar vai abrir uma bolsa [interna] para contratar os restantes 30 que faltam”.

Por causa da falta de recursos humanos naquela unidade, cada enfermeiro está actualmente, em média, “a fazer um turno a mais por semana, que lhe é pago depois em tempo, caso contrário o hospital teria fechado muito mais camas que as que fechou até ao momento”.

“Neste momento, o Centro Hospitalar tem, desde Janeiro até ao final do mês de Outubro, cerca de 1.300 horas em débito, o que é muito, e isso significa que os enfermeiros vão ter que gozar estas horas”, salientou.

Segundo Germano Couto, há enfermeiros a trabalhar “15 dias sem uma folga” pelo que “mais dia, menos dia menos dia acontece o erro, e o erro tem consequências graves”.

Considerando “lamentável” que se continue a “assistir à burocratização da saúde”, o responsável acrescentou que a falta de recursos humanos “é transversal por todo o país”, havendo situações “piores que o Centro Hospitalar do Porto”, nomeadamente os hospitais Santa Maria e São Francisco Xavier.

Destacou que “o centro hospitalar do médio Tejo está a contratar enfermeiros a 510 euros por mês, mas pagam a uma empresa de subcontratação 1.300 euros”, sendo este “estratagema” usado pela administração “porque a tutela impede a contratação”.

A nível nacional disse que o número de enfermeiros em falta “é muito incerto” e que só depois da publicação em Diário da República, e aplicação, da norma para cálculo de dotações seguras aprovada pela Ordem será possível a sua quantificação.

A norma em causa “tem por base o sistema de classificação de doentes que foi aprovado e que está implementado desde 2005/2006 pelo Ministério da Saúde em cerca de 50 hospitais em todo o país”, explicou.

“O número que falamos anteriormente, de cerca de 25 mil enfermeiros em falta, é tendo como referencial a OCDE e o número de enfermeiros por mil habitantes”, realçou.

29 de Outubro - Dia Mundial do AVC
15 milhões de pessoas sofrem um acidente vascular cerebral por ano.

Desafio o leitor a imaginar-se numa cama de hospital, sem força num braço, sem conseguir falar, incapaz de andar… Tudo isto devido a um acidente vascular cerebral (AVC).

Como poderá o Enfermeiro de Reabilitação ajudá-lo? E, se afinal todos vestem fardas brancas e passam 24 horas perto de si, o que o diferenciará dos outros profissionais de saúde e mesmo dos outros enfermeiros?

O Enfermeiro de Reabilitação é aquele que o ajuda a persistir, mesmo quando o utente só tem vontade de desistir. Este profissional de saúde procura melhorar a qualidade de vida dos utentes, promovendo a sua independência funcional ou a sua adaptação à deficiência, resultante de doença, trauma ou sequelas, ajudando-o com dignidade e fomentando-lhe a autoestima. A Reabilitação faz parte dos cuidados de Enfermagem enquanto especialidade, centrando a sua ação no utente-cuidador/familiar.

Como profissionais de saúde especializados, é indispensável pensar no significado das nossas ações. Na saúde, o “ajudar” e o “cuidar” não são um simples facto do senso comum enraizado nas boas intenções de quem ajuda. É preciso atuar com vocação, sabedoria e entrega científica, pois esse fazer, é uma forma de arte!

Na atualidade, ser Enfermeiro de Reabilitação requer uma autêntica vocação pessoal, prestando cuidados não só com a técnica, mas também com sensibilidade, considerando o utente como um todo e não apenas como um caso.

É importante que sejam criadas condições favoráveis à promoção de autonomia e, para isso, a pessoa deve ser estimulada a utilizar as suas capacidades. O caminho nem sempre é fácil. Pode ser lento e moroso, mas pequenos ganhos, tal como beber um copo de água, são autênticas conquistas!

Cada vez mais é reconhecido o papel determinante dos Enfermeiros Especialistas de Reabilitação, designadamente na prevenção de complicações, na manutenção ou recuperação da independência nas atividades diárias, na diminuição do impacto das incapacidades instaladas (quer por doença, quer por acidente), ou no aumento da qualidade de vida da pessoa e da família, factos estes, que têm vindo a contribuir positivamente para ganhos, tanto ao nível da saúde como da economia.

A prática de enfermagem de reabilitação tem, neste contexto, um âmbito abrangente, intervindo ao nível das disfunções neurológicas, respiratórias, cardíacas, ortopédicas, traumatológicas e nas deficiências e incapacidades, tornando-se imprescindível, nomeadamente, em Unidades de AVC, Serviços de Medicina, Cardiologia, Pneumologia, Neurologia, Neurocirurgia e serviços com grande número de idosos e/ou dependentes.

Trata-se de um processo de cuidar precoce, abrangente e holístico enquanto um modelo assistencial, mas essencialmente educativo. As preocupações do Enfermeiro de Reabilitação passam cada vez mais, por dar conforto ao utente, controlar sintomas indesejados e ensiná-lo a reaprender a viver com as incapacidades adquiridas, estimulando assim a autonomia e promovendo a independência, fatores estes, fundamentais na estruturação do seu autoconceito de qualidade de vida.

Atuando na saúde e na doença, aguda ou crónica, este profissional contribui para maximizar o potencial funcional e de independência física, emocional e social das pessoas, minimizando as incapacidades, nomeadamente através da reeducação funcional respiratória, reabilitação funcional motora, treino de atividades de vida diária, ensino sobre a otimização ambiental e utilização de ajudas técnicas.

Compete-nos a nós, profissionais da saúde, encarar os utentes como seres humanos únicos, compreendendo as suas limitações e dando-lhes pistas que tornem o seu dia-a-dia mais risonho. Cada ser humano é um ser ímpar, que deve ser tratado especificamente, sem descurarmos as suas capacidades, incapacidades, motivações e desmotivações.

Neste sentido, os Enfermeiros Especialistas em Reabilitação, abordam cada utente numa perspetiva que ultrapassa a compreensão única de uma condição de saúde, estando-lhes implícita uma forte componente de humanidade, dedicação e paixão, que se reflete no seu desempenho, onde dão sempre o máximo de si.

Carina Rebelo, Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação, Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros

 

 

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Menopausa ou Menopausas?
“… a menopausa não existe – não mais do que a mulher ou, ainda, o feminino como natureza ou paradigm

A menopausa é um acontecimento que marca o início de mais uma etapa na vida da mulher. Não sendo unicamente um fenómeno biológico, esta etapa deve ser, também, perspetivada considerando o contexto sócio-cultural em que a mulher está inserida. Neste sentido, assumem especial relevo, os valores sociais que configuram estereótipos sobre o papel que a mulher desempenha em cada sociedade.

Nas diferentes sociedades e culturas, o significado da menopausa está intrinsecamente relacionado com os conceitos de sexualidade, feminilidade, fecundidade e maternidade. Assim, nas sociedades ocidentais existem estereótipos sociais e culturais, influenciados pelo modelo biomédico, que proporcionam uma visão negativa, e mesmo patológica da menopausa, já que esta é associada a um processo de perda e envelhecimento. Porém, noutras culturas, a mulher nesta etapa adquire um estatuto, reconhecimento e prestígio social, uma vez que os tabus que envolvem a menstruação perdem todo o seu significado. Considerando estes factos, é indiscutível a influência que a cultura exerce na resposta individual de cada mulher, isto é, na atitude positiva ou negativa face a esta nova etapa da sua vida.

 

Objectivos

  • Analisar as representações sociais da menopausa noutras culturas;
  • Sensibilizar os profissionais de saúde para a importância que os fatores culturais desempenham na vivência da menopausa.

 

Metodologia

Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados Medline, Porbase, Scielo, Academic Search Premier, utilizando as seguintes palavras-chave: menopause, vasomotor symptoms, menopausal treatments, hormone therapy e cultural variations. A pesquisa foi limitada a artigos escritos em inglês, espanhol e português, selecionando-se o período que compreendia produções científicas realizadas desde janeiro de 1994 até ao presente. Foi também efetuada uma pesquisa no Índex de Revistas Médicas e de Enfermagem Portuguesas, com as seguintes palavras-chave: menopausa, cultura e enfermagem transcultural.

 

Resultados

  • É um facto indiscutível que a menopausa é universal, bem como a época da vida em que aparece e as suas consequências. Todavia, existem diferenças na manifestação da sintomatologia específica da menopausa nas mulheres das várias culturas, como por exemplo:
  • os sintomas referidos pelas mulheres orientais são menores e menos intensos, comparados com os das mulheres ocidentais;
  • as manifestações das mulheres japonesas não são os afrontamentos ou a sudação abundante, mas a rigidez dos ombros e as dores que isso provoca e, ainda, a fadiga, o nervosismo e a irritabilidade;
  • para as mulheres tailandesas as queixas mais apontadas, também não são só os afrontamentos, mas as lombalgias, cefaleias, tonturas e cansaço;
  • no que respeita à América Latina, um estudo com mulheres peruanas demonstrou que as queixas por elas referidas estavam relacionadas com a satisfação do seu papel na família;
  • cerca de 80% das mulheres americanas experimentam afrontamentos;
  • em Portugal, um estudo divulgado pela Sociedade Portuguesa da Menopausa em 2006 concluiu que os sintomas mais referidos pelas mulheres portuguesas são a irritabilidade (55%), os suores noturnos (52,7%), os afrontamentos (49,4%) e as insónias (49,1%).

 

Discussão

A explicação para esta disparidade de sintomatologia entre culturas pode, segundo o modelo sócio-cultural de explicação da menopausa, dever-se aos estereótipos sociais relativos ao envelhecimento. Ou seja, nas culturas onde o envelhecimento é enaltecido e, é visto à luz de um ganho de estatuto, a menopausa consiste numa transição natural da vida, um marco biológico sem significado expressivo na experiência subjetiva de cada mulher. Enquanto nas culturas onde se valoriza a juventude e a beleza da mulher, a menopausa é encarada como uma perda da feminilidade e, em casos extremos associada a uma «doença» passível de ser tratada.

Desta forma, e como parece evidente nos estudos, as crenças, opiniões e estereótipos que as mulheres têm em relação a esta fase parecem condicionar a presença ou ausência de sintomatologia física e psicossocial.

 

Conclusão

A análise dos estudos sobre esta temática, leva-nos a concluir que as atitudes das mulheres relativamente à menopausa, são fortemente influenciadas pelas dimensões sociais e culturais. Assim e enquanto profissionais de saúde, estamos na posição ideal para fornecer informação adequada que permita à mulher a vivência natural desta etapa da sua vida, minimizando, por um lado, as expectativas negativas relativamente a este evento e, por outro, ajudar a refletir e a flexibilizar os papéis sexuais e sociais, pois o facto de a mulher ser «menopáusica» não deixa de ser mulher, de ter a sua feminilidade, de ter a capacidade de sedução, de amar e de sentir prazer nas relações que estabelece.

Maria Helena Junqueira, Enfermeira Graduada, Centro Hospitalar de Leiria, EPE

Pedro Quintas, Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, ACES Baixo Mondego

Bibliografia

AdeKunle, A. O. (2000), “Perceptions and Attitudes of Nigerian Women about the Menopause”, in Journal of Obstetrics & Gynaecology, vol. 20, nº 5, pp. 525-530.

Chaby, L. (1995), La Ménopause, France: Flammarion.

Freeman, E. W. & Sherif, K. (2007), “Prevalence of Hot Flushes and Night Sweats around the world: a systematic review”, in Climateric, nº 10, pp. 197-214.

Lock, M. (1994), “Menopause in Cultural Context”, in Experimental Gerontology, vol. 29, nº 3/4, pp. 303-317.

Sociedade Portuguesa de Menopausa (2006), Estudo de Mercado, Lisboa: Dendrite.

World Health organization (1996), Research on the Menopause in the 1990’s: Report of a Who Scientifc Group, Geneva: WHO.

 

“Menopausa”

Não a conheço

mas, até agora,

todas as mulheres do mundo lhe sobreviveram.

Seria por estoicismo

ou então porque

ninguém lhes reconheceu

o direito a queixarem-se

que as nossas avós

chegaram à velhice

frágeis de corpo

mas fortes de alma.

Pelo contrário, agora

escrevem-se tratados

e, desde os trinta,

começa o sofrimento,

o pressentimento da catástrofe.

O corpo é muito mais que as hormonas.

Menopáusica ou não,

uma mulher continua a ser uma mulher;

muito mais que uma fábrica de humores

ou de óvulos.

Perder a menstruação não é perder o estatuto,

nem as faculdades;

não é meter-se qual caracol

numa concha

e enclausurar-se para morrer.

Se há depressão,

não será nada de novo;

cada sangramento menstrual trouxe lágrimas

e a sua dose irracional de raiva.

Não há pois nenhuma razão

para sentir-se desvalorizada.

Deita fora os tampões,

os pensos higiénicos.

Faz uma fogueira com eles no pátio da tua casa.

Despe-te.

Baila a dança ritual da maturidade.

E sobrevive

como sobreviveremos todas.

Gioconda Belli

 

 

 

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Gerar melhoria da eficiência da utilização de recursos públicos
A Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP, UNL) e a Assembleia da República promovem, no dia 28 de Outubro, uma sessão de...

A Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP, UNL) e a Assembleia da República promovem, no dia 28 de Outubro, uma sessão de apresentação e debate das principais conclusões do “Think Tank” - Pensar a Saúde - Promover e Disponibilizar a Inovação aos Cidadãos, um grupo de reflexão multidisciplinar, formado para apontar caminhos que permitam o acesso à inovação em saúde, assegurando a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A sessão irá decorrer a partir das 14h30, no Auditório do Edifício Novo da Assembleia da República.

A introdução da inovação em sistemas complexos, como o SNS, é muitas vezes um desafio. Ana Escoval, Professora da Escola Nacional de Saúde Pública e coordenadora do “Think Tank”, considera que “a situação financeira de Portugal condiciona o volume de recursos a afectar à inovação terapêutica e às despesas na saúde. Sabemos que “verdadeiras” inovações produzem potencialmente melhor saúde, optimização de processos e melhorias de eficiência e satisfação dos doentes e profissionais. É, por isso, naturalmente previsível a dimensão dos impactos desta redução de recursos na inovação, a médio e longo prazo, nomeadamente nos indicadores de saúde e na qualidade de vida dos cidadãos”.  

Para além de Ana Escoval, a sessão de apresentação conta com intervenção de Luís Costa, Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, Director do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte e Investigador Principal no Instituto de Medicina Molecular, sobre a importância da inovação no tratamento do cancro, com o testemunho de dois doentes, cujo prognóstico mudou graças às terapêuticas inovadoras e com a apresentação da perspectiva dos deputados dos vários partidos com assento parlamentar - PSD, PS, CDS-PP, PCP, Bloco de Esquerda, PEV.

 

Sensibilidades e expressões
A dor, ou o que é entendido como “dor”, manifesta-se diferentemente nas infindas relações entre os i
Pessoas com dor

Embora singular e única para quem a sente, as dores dos “estigmas” inserem-se num universo de referências religiosas e simbólicas restritas. Neste caso, o estigmatizado, ou num sentido lato, o próprio doente, possui um modo específico de manifestar a sua dor. Nos estigmas evidenciam-se, portanto, os profundos laços da fé, das crenças e da devoção nas dores do próprio indivíduo.

De entre as múltiplas definições para o conceito de “dor” referidas por Hellman, a título de exemplo, entre outros, pode depreender-se como um conjunto de sensações desagradáveis, localizadas em qualquer parte do organismo humano. A dor actua e é reconhecível como um sinal de alarme, ou que adverte para um determinado perigo, pretendendo-se evitá-lo. A dor deve ser pensada como uma experiência individual e subjectiva, mas que pode ser entendida não só em termos de danos físicos, mas também como uma vivência emocional real ou sentida, de facto. A percepção da dor é, não obstante, aproximadamente idêntica em todas as pessoas.

No entanto, como é compreensível, o grau de reacção emocional varia consideravelmente de indivíduo para indivíduo e depende de muitas circunstâncias e condicionantes variáveis, entre as quais se destacam os aspectos da personalidade e o cômputo das experiências anteriores. Por conseguinte, a dor reveste-se de uma experiência psicofisiológica, pois envolve factores psicológicos e emocionais que podem alterar a sensação da dor ou, em última instância, ser os únicos causadores da dor sentida.

No sentir intrínseco do factor “dor” existe sempre um componente psicológico: ressentimento, depressão, ansiedade, carência de afecto [características frequentes em pacientes com dor crónica]. Por outro lado, a dor psicogénica, na opinião de A. Barbosa, p. ex., pode originar-se em consequência de uma disfunção fisiológica induzida emocionalmente, devido à qual se excitam as terminações nervosas da dor. Pode ainda ser do tipo alucinatório, ou seja, onde não existe qualquer causa orgânica que a justifique – tem a sua origem na mente, mas é experienciada no corpo.

Quando a dor é crónica, deixa de ser um sintoma de algo sensorial para passar a ser a doença, em si mesma. A dor é causada por uma perturbação física, no que se diferencia de outras emoções, como a alegria, a culpa, o remorso, o amor. É neste ponto que lançamos a debate a questão dos estigmas, um fenómeno escondido dos ambientes religiosos, mas com manifestações crescentes na nossa actualidade.

E que tipologias de dores se referem os estigmas? Será qualquer dor um estigma? A doença é um sinónimo de estigma, per si? A dor necessita de uma representação sociocultural? Pertencem os estigmas, em sentido restrito, aos fenómenos religiosos dos nossos tempos? Questões infindas, mas pautadas pelas certezas etnocêntricas europeias, e que mais não são do que alertas para uma questão quase esquecida nos domínios da compreensão da dor.

Problematização/Desenvolvimento

Para uma sucinta definição do conceito de «estigma» [do grego: stígma, stigmatós, “marca de ferro em brasa”, pelo latinismo stigma, -àtis, “estigma; ferrete”] refiram-se algumas das suas conotações linguísticas: pode significar uma marca desonrosa feita com um ferro em brasa ou uma cicatriz, um ferrão ou ferrete, para não referir os termos análogos em Botânica ou na Zoologia. Todavia, interessa-nos discorrer um pouco sobre o polémico tema dos “estigmas”: as feridas nas mãos, nos pés e no peito, semelhantes às cinco chagas de Cristo crucificado, uma das imagéticas dominantes do Cristianismo. Mas convém não esquecer que a própria doença é, por inerência, um estigma, como é tantas vezes aludida, inclusive na comunidade médica.

Do prisma sociológico, o conceito geral de “estigma” refere-se quase sempre ao significado que Erving Goffman [1922-1982] lhe atribui na obra Stigma – Notes on the Management of Spoiled Identity [1963]. Na Antiguidade Clássica, a designação de “estigma” designava todos os “sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou de mau acerca do estatuto moral de quem os apresentava”: tratava-se de marcas corporais, efectuadas com cortes ou com o fogo, que identificavam imediatamente um escravo, um proscrito ou um criminoso, por exemplo. Numa outra linha, Michel Foucault refere precisamente as atribulações dos estigmatizados sociais em Vigiar e Punir [1975].

Por conseguinte, Goffman distingue três tipos de “estigmas”: as deformações físicas [deficiências motoras, auditivas, visuais, desfigurações do rosto, etc.]; os desvios de carácter [distúrbios mentais, os vícios, toxicodependências, doenças associadas ao comportamento sexual, a reclusão prisional, etc.] e os estigmas tribais [relacionados com a pertença a uma raça, nação ou religião]. Todos esses estigmas, obviamente, são causadores de “dor”.

Ao invés, o conceito actual de “estigma” tornou-se mais amplo e de difícil discernimento. Considera-se “estigmatizante” qualquer característica, não necessariamente física ou visível, que não se harmoniza com o quadro de expectativas sociais acerca de um determinado indivíduo. Todas as sociedades definem determinadas exigências acerca dos atributos considerados naturais, normais e comuns do ser humano. O indivíduo estigmatizado é aquele cuja identidade social real inclui um qualquer atributo que frustra as expectativas da normalidade. Tudo o que é alheio à norma, é passível de ser, ipso facto, um “estigma”.

De acordo com as ópticas sociais e também do ponto de vista da Medicina, interessará, principalmente, compreender as relações que se estabelecem entre os elementos “estigmatizados” e os indivíduos ditos “normais”. Os contactos sociais com o portador de um estigma tendem a levar à insegurança e dificuldades múltiplas dos “normais” – por exemplo: não saber como reagir; se olhar ou não directamente para o defeito visível; se auxiliar ou não essa pessoa; se contar ou não uma anedota acerca desse “tipo” de pessoa; sem esquecer tantas outras questões e ambiguidades.

Qualquer que seja a conduta adoptada por ambas as partes, a sensação de que o outro não consegue entender as diferenças latentes entre si, será uma constante. Esta é uma das razões que levam a que os indivíduos estigmatizados desenvolvam estratégias de encobrimento, de forma a garantir ao máximo uma vida normal. Será ainda esse o caso extremo dos “verdadeiros estigmatizados”, uma temática deveras polémica sobre os “estigmas” e que envolve a Igreja Católica Romana.

Sendo um fenómeno raro e desde sempre conotado com logros e embustes, razão pela qual a própria Igreja sempre encarou com extrema cautela, os estigmas são cada um dos cinco sinais que surgem no corpo de um crente, ou não, exactamente nos mesmos pontos onde a tradição refere a crucificação de Jesus Cristo, isto é, nos pés, nos punhos, tornozelos e no tórax, reproduzindo as cinco chagas de Jesus e as dores do martírio de Deus.

De acordo com a própria História da Igreja, o primeiro estigmatizado teria sido São Francisco de Assis [1182-1226], sendo que as suas marcas perduraram por algum tempo. Inspirado por este peculiar acontecimento, desde então o fenómeno dos “estigmas” já se terá manifestado em largas centenas de indivíduos e em diferentes regiões do mundo. Alguns cientistas colocam a hipótese dos estigmatizados usarem vários processos e substâncias para produzirem as suas chagas, o que tem ludibriado muitos crentes. Obviamente que não existe nenhum fundamento científico para a ocorrência destes estigmas e tendo em conta que os casos registados ao longo da História não foram provados cientificamente ou submetidos a um escrutínio científico, não podem ser considerados verosímeis.

Tanto os crentes como os não-crentes consideram os indivíduos estigmatizados como pessoas de fé extraordinária, que possuem uma conduta ética irrepreensível [defensória das “virtudes cardeais”, segundo os dogmas católicos], uma profunda adoração a Cristo e uma convicção profundíssima nas chagas de Jesus Cristo. Trata-se de um símbolo máximo de honra transcendental e que os fazem aproximar da misericórdia de Deus, a tal ponto que as chagas serão como um sinal de reconhecimento por tais méritos. Desse ponto de vista, a dor do estigma é, simultaneamente, uma bênção.

Embora não consensuais, as controvérsias em torno dos estigmas levantam múltiplas questões de natureza médica, social, psiquiátrica, religiosa, cultural, entre outras tantas perspectivas: serão os estigmas provocados pelo Criador? Ou somente uma manifestação patológica da mente do crente fervoroso? Serão fruto de acções que denunciam a crença humana, em detrimento da intervenção divina? Serão uma paranóia extrema do indivíduo? Uma farsa, no fim de contas?

O primeiro estigmatizado foi, segundo rezam as crónicas históricas, S. Francisco de Assis e viveu entre os séculos XII e XIII. Porquê só nestas datas? Como é que não existem relatos de estigmatizados anteriores a essa data? Até ao século XIII as representações da crucificação mostravam um Cristo sorridente. Cristo, pregado na cruz, olhava para as pessoas e sorria. É nestes séculos que se dá um alteração da representação artística de Cristo na cruz. Desaparece o olhar frontal e o sorriso amigável e surge a dor, a tristeza, representada por uma pessoa de cabeça caída. Este é o aspecto histórico que nos permite associar o aparecimento de estigmas com representações de dor do Cristo crucificado. É lógico que nos finais da Idade Média, marcada pelas fomes, pestes e guerras, onde as Ars Moriendi e os seus cortejos de horrores imperavam, o mundo devia ser representado com um local de imensa dor.

Conclusões

Sendo uma matéria tão vasta, é sabido que o surgimento dos estigmas está intrinsecamente relacionado com a representação da dor na arte religiosa. Existe uma correlação entre o aparecimento dos estigmas e as representações artísticas a que o crente se encontra sujeito, assim como existem contradições entre o aparecimento de estigmas e as descrições bíblicas e históricas da morte de Cristo. Apelando à lógica e à probidade, não existe qualquer fundamento rigoroso para provar a veracidade dos estigmas, baseado em factos científicos.

Então, porque persistem em existir? Porque causam dores de natureza física, mas, sobretudo, espiritual, emocional e psíquica, não só para o doente como para o profissional que o acolhe? Será o profissional de saúde capaz de lidar com esta situação sem fazer um “juízo de valor”? De entre as inúmeras questões que poderíamos colocar, na verdade todas as respostas continuam em aberto, quase com tantas incertezas como no século XIII…

Bibliografia Especializada

Barbosa, António – «A dimensão psicocultural da dor», in Dor: do neurónio à pessoa, edição de T. RICO e António BARBOSA, Permayer Portugal, Lisboa, 1995, pp. 253-260.

BIOT, René – The Enygma of the Stigmata, tradução inglesa de P. J. Hepbume-Scott, Howthom Books, Nova Iorque, 1962.

Christos. Enciclopédia do Cristianismo, prefácio de D. José da Cruz POLICARPO, tradução de Miriam GODINHO, Henrique Barrilaro RUAS, [et al.], Editorial Verbo, 2004.

Do desvio à instituição total: sub-cultura, estigma, trajectos. Projecto de investigação, direcção de Carlos Laranjo Medeiros, vols. I-II, Centro de Estudos Judiciários, Lisboa, 1989-1990.

FILORAMO, Giovanni – Dicionários das Religiões. Cristianismo I & II, colecção dirigida por Matilde BATTISTINI, tradução de Manuel del PINO, Electa/MEDIApromo, Milão/Lisboa, 2011.

FOUCAULT, Michel – Vigiar e Punir: nascimento da prisão, 36.ª edição, tradução de Raquel RAMALHETE, Editora Vozes, Petrópolis, 2009.

GOFFMAN, Erving – Estigma. Notas sobre a manipulação de identidade deteriorada, tradução de Márcia Bandeira de Leite Nunes, «Biblioteca de Antropologia Social», Koogan Editores, Rio de Janeiro, 1988.

GUIMARÃES, Ana – Estudo exploratório da estigmatização num grupo da população geral e num grupo de familiares de pessoas com doença mental: estigma público, de cortesia e auto-estigma, dissertação de mestrado em Reabilitação Psicossocial – Perturbação Mental, Universidade Católica Portuguesa, [versão policopiada], Lisboa, 2010.

HELMAN, C. G. – «Dor e Cultura», in Cultura, Saúde e Doença, 3.ª edição, Artes Médicas, Porto Alegre, 1994, cap. III, pp. 165-175.

MARTINS, Raquel Campos – Estigma face a familiares de pessoas com doença mental: estudo piloto de uma amostra da população geral, dissertação de mestrado em Reabilitação Psicossocial – Perturbação Mental, Universidade Católica Portuguesa, [versão policopiada], Lisboa, 2010.

NICKELL, Joe – Looking for a miracle: weeping icons, relics, stigmata, visions & healing cures, Prometheus Books, Nova Iorque, 1993.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Níveis de evidência científica comparada
A doença venosa crónica (D.V.C.) afeta aproximadamente ¼ da população adulta do mundo ocidental e co
Varizes

O tratamento da Doença Venosa Crónica é variado e depende da sua manifestação clínica e a eficácia terapêutica é difícil de avaliar, dependendo da extensão da apresentação clínica.

Durante 100 anos, a cirurgia tradicional tem sido um procedimento mais recomendado e utilizado no tratamento de varizes. A evolução da cirurgia minimamente invasiva com a correção do refluxo venoso superficial primário em pacientes com doença venosa crónica (DVC) dos membros inferiores por meio de técnicas endovenosas: Obliteração venosa por radiofrequência (ORF), por laser endovenoso (EVLA) e escleroterapia (ET),providenciou um meio propício no tratamento desta doença como um procedimento "ambulatório" com a exclusão das veias safenas e varicosidades, sob anestesia local e de recuperação rápida e regresso ao trabalho.

As drogas venoativas (DVAs) utilizadas no tratamento médico desta doença compreendem um grupo heterogéneo, algumas das quais são sintéticas, mas a maioria são de origem vegetal. O modo de ação não é totalmente compreendido e parece claro que podem agir tanto a nível da macrocirculação como da microcirculação, afetando as mudanças na parede venosa e válvulas que provocam a hipertensão venosa (HV).

Recentemente, estudos multicêntricos tem demonstrado o efeito anti-inflamatório e os flavonóides apresentam potentes propriedades antioxidantes.

A fração micronizada e purificada dos flavonóides (MRFF) neutraliza a adesão dos neutrófilos e monócitos às células endoteliais da parede venosa, em doentes com DVC, evidenciando a sua ação antiinfamatória . Por isso, o tratamento com MPFF oral, diminui os sinais de inflamação e reduz acentuadamente o refluxo venoso.

Os estudos experimentais de Bergan e Col. em 2008 mostram que algumas D.V.As como a MPFF tem pelo menos uma capacidade de prevenção do desenvolvimento e progressão da DVC nas suas diferentes manifestações.

O "lnternational Consensus Statement de 2005" e as "Guidelines de 2008" para o estudo da doença venosa crónica dos membros inferiores, avaliaram a eficácia e a segurança das DVAs.

Mais recentemente, Perrin e Ramelet numa revisão efetuada em 2011, propuseram umas recomendações para o uso das DVAs, baseadas no sistema GRADE (Grading of Recomendations Assessment, Development and Evaluation), com as recomendações classificadas como Forte (grau 1) ou Fraca (grau 2) e com a qualidade de evidência como alta (grau A), moderada (grau B) e baixa (grau C).

De acordo com as guidelines de 2014, as recomendações sobre a eficácia e segurança para as DVAs, utilizando o sistema GRADE, para o MPFF é forte (grau 1) com um grau de qualidade de evidência B (grau 1B).

Estas recomendações são aconselhadas para a melhoria dos sintomas associados à DVC em pacientes classificados nas Classes de Cos a C6s e às situações clínicas de edema.

A MPFF apresenta também recomendação forte com moderada evidência como terapêutica adjuvante das úlceras venosas. De acordo com as guidelines de 2014, a terapêutica compressiva (meias elásticas) apresenta um papel relevante no tratamento dos doentes sintomáticos nas fases iniciais da doença venosa, com exceção nos países quentes onde as DVAs constituem única alternativa viável. Num recente estudo, Colleridge-Smith, P. e Ramelet, AA, 2005, concluíram que em estados mais avançados da DVC, as DVAs, podem ser utilizadas em associação com a escleroterapia, cirurgia e/ou terapêutica de compressão, e a MPFF pode ser considerada uma terapêutica associada, em doentes com úlceras venosas ativas, principalmente as de grandes dimensões.

Num “Randomized Trial Comparing Treatments for Varicose Veins” publicado em 25 de setembro de 2014 no New England Journal of Medicine, envolvendo 798 participantes com varizes primárias de 11 centros do Reino Unido comparou-se os "follow-up" de terapêuticas com espuma, laser e cirurgia convencional. Os resultados primários ao fim de 6 meses foram relativamente à qualidade de vida medidos em várias escalas. Os resultados secundários incluíram complicações e medidas de sucesso clínico.

Os autores concluíram que, em termos de qualidade de vida, todos os grupos apresentaram resultados similares, com a exceção do pior resultado no grupo da esclerose com espuma. Todos os tratamentos tiveram a mesma eficácia clínica, mas relativamente às complicações eram menos frequentes no tratamento a laser e os índices de ablação foram menores na esclerose com espuma.

Conclusão: As recentes guidelines de 2014 servem para se concluir que as DVAs podem ser usadas para melhorar os sintomas e o edema dos doentes em qualquer estadio da doença. Nos estadios mais avançados, as D.V.As podem ser usadas em associação com a escleroterapia, cirurgia e/ou terapêutica compressiva e a MPFF pode ser considerada como terapêutica associada em doentes com úlceras venosas ativas, principalmente nas de grande extensão. Esta droga apresenta uma ação inibidora da cascata inflamatória e do stress oxidativo, prevenindo as alterações degenerativas da parede e das válvulas venosas, diminuindo a hipertensão venosa e consequentemente aliviando os sintomas e o edema da doença venosa crónica dos membros inferiores.

Bibliografia:

1- Ramelet AA, Kern P, Perrin M.- Varicose veins and telangiectasias. Paris: EIsevier, 2004
2- Nicolaides A N et aI - Management of chronic venous disorders of the lower limbs: guidelines according to scientific evidence. Int. Angiol. 2008: 27(1):1-59
3- Bergan J.J. et al - Chronic venous disease. - N Engl J Med 2006: 355(5): 488-499
4- Ramelet AA, et al- Veno-active drugs in the management of chronic venous disease. An intemational consensus statement: current medical position, prospective views and final resolution. Clin Hemorheol Microcirc 2005; 33 (4): 309-19.
5- Eberhardt RT et aI - Chronic venous insufficiency. CircuIation 2005; 111(18): 2398-409.
6- Perrin M, Ramelet AA.Pharmacological treatment of primary chronic venous disease: rationale, results and unanswered questions. Eur.J.Vasc Endovasc Surg 2011; 41(1): 117-25.
7- Jantet G. Chronic venous insufficiency: worldwide results of the RELIEF Study. Refflux assEssment and quality of life improvement with micronized Flavonoids. Angiology 2002; 53(3): 245-56.
8- Nicolaides, AN et aI. - Management of Chronic Venous Disorders of the Lower Limbs - Guidelines according to scientific Evidence. International Angiology, Vol 33 - Abril, 2014 - N° 2
9- Julie Brittenden, et aI. - Randomized Trial Comparing Treatments for Varicose Veins - N Engl J Med, 371; 13, September 25,2014.

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Fibrilhação auricular
A fibrilhação auricular, forma mais comum de arritmia cardíaca, leva à formação de grandes coágulos de sangue, que acabam por...

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa de morte em Portugal, estimando-se que a cada meia hora dê entrada num hospital português uma vítima desta doença. Mas o gatilho que faz disparar os casos fatais ou incapacitantes é silencioso e irregular, até se instalar totalmente. A fibrilhação auricular, a mais comum das arritmias cardíacas, é responsável por um em cada cinco AVC.

No seu estado normal, o coração contrai ritmicamente, em consequência de disparos eléctricos regulares. “Quando essa regularidade se perde e ocorre uma perturbação do ritmo cardíaco diz-se que existe uma arritmia”, explicou ao Correio da Manhã o especialista Victor Gil. Se essa arritmia se revelar “completa, rápida e totalmente irregular”, o diagnóstico pode levar à fibrilhação auricular, que aumenta em cinco vezes o risco de AVC.

O caminho para o AVC inicia-se no momento em que as “aurículas perdem a capacidade de contrair ritmicamente e começam a fibrilhar, deixando de enviar de forma regular sangue para o ventrículo”, diz Victor Gil, acrescentando que “o sangue, ao ficar estagnado, pode criar grandes coágulos”.

São estes coágulos que acabam por se soltar, entrar na circulação sanguínea e bloquear grandes artérias do cérebro, provocando consequências devastadoras. Cerca de 50% das pessoas que sofrem um AVC devido à fibrilhação auricular ficam incapacitadas.

Também a taxa de mortalidade sofre um impulso: mais do que duplica em doentes que sofrem de fibrilhação auricular.

Até se instalar totalmente, a fibrilhação auricular passa por duas fases. A primeira é silenciosa. A segunda apresenta sintomas irregulares. Nestas etapas, a dificuldade dos médicos passa por identificar os indícios e avançar com tratamentos para controlar riscos. “Cerca de 70% dos casos de AVC com origem na fibrilhação auricular são altamente evitáveis, se forem identificados e tratados correctamente”, Victor Gil.

 

Em crianças
O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra anunciou que deixou de ter lista de espera nas cirurgias para implantes...

A 23 de Outubro foi operada a última criança que se encontrava em lista de espera no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) para ser submetida a cirurgia para implante coclear, informou o hospital, sublinhando que foi a primeira vez que tal sucedeu, tendo esta criança esperado “dois meses” para essa mesma cirurgia.

Segundo o CHUC, há mais duas cirurgias programadas e dez crianças estão em fase de estudo como candidatas a receber um implante coclear.

A Unidade Funcional de Implantes Cocleares, integrada no Serviço de Otorrinolaringologia do CHUC, colocou em 2013, 40 implantes e em 2014 o número de implantes a colocar “será de 60”, havendo a projecção de aumentar o número para 70, em 2015.

Na nota de imprensa, o CHUC refere que “o programa de implantes cocleares dá prioridade aos doentes em idade pediátrica, mas inclui uma vertente de implantação em doentes adultos” com especial atenção à “presbiacusia” (perda de audição relacionada com a idade). A unidade prevê um volume financeiro de dois milhões de euros em 2014.

José Martins Nunes, presidente do conselho de administração do CHUC, refere que o fim de lista de espera nos implantes cocleares pediátricos constitui “um enorme orgulho”. Em causa, está “a luta contra a deficiência auditiva e a defesa da plena integração dos concidadãos com deficiência”.

 

Despacho publicado em jornal oficial
O Governo dos Açores vai aumentar este ano as vagas do regime de incentivos à fixação de médicos no arquipélago açoriano,...

Segundo um despacho publicado hoje em Jornal Oficial, passam a estar previstos incentivos para “24 médicos de especialidades hospitalares, 17 de medicina geral e familiar e 9 de saúde pública”, acrescentando o executivo açoriano que a necessidade de rever o número de incentivos a conceder no corrente ano que se encontrava fixado no Despacho “surge na sequência da procura registada junto dos hospitais e das unidades de saúde em especialidades não previstas inicialmente ou em maior número que o esperado”.

Assim, para o Hospital de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, “estão consideradas para efeitos dos incentivos as especialidades de Anestesiologia, Ginecologia e Obstetrícia, Imagiologia, Urologia, Patologia Clínica, Dermatologia e Hematologia Clínica”.

No caso do Hospital da Terceira, “está prevista a concessão de incentivos para médicos das especialidades de Anatomia Patológica, Anestesiologia, Cardiologia, Ginecologia e Obstétrica, Medicina Intensiva, Nefrologia, Oncologia, Urologia e Patologia Clínica”.

Na Horta, ilha do Faial, “estão consideradas as especialidades de Cardiologia, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Imuno-Hemoterapia, Medicina Interna, Medicina Física e Reabilitação, Ortopedia, Urologia, Nefrologia, Imagiologia, Psiquiatria e Anestesiologia”, segundo uma nota do Governo regional sobre o despacho.

 

Primeiro trimestre de 2015
A Santa Casa da Misericórdia de Fátima-Ourém vai criar no primeiro trimestre de 2015, em Fátima, um centro de dia para doentes...

Fernanda Rosa, provedora da Misericórdia afirmou que o centro de dia, com capacidade para 15 utentes, vai ocupar um espaço do salão paroquial de Fátima que possui um jardim interior. “Temos, desde 2007, a funcionar na instituição, um Gabinete de Apoio ao Familiar e Doente de Alzheimer, que tem tentado acompanhar as necessidades dos utentes e respectivos cuidadores e uma das necessidades é a criação de um centro de dia”, explicou Fernanda Rosa. Segundo a responsável, “na fase inicial e intermédia da doença, as pessoas têm alguma autonomia nas actividades diárias, mas precisam de um espaço protegido que as ajude a estimular as capacidades que ainda têm”.

“O centro de dia vai ser um espaço de intervenção terapêutica e de estimulação cognitiva de forma a retardar os sinais da doença”, adiantou Fernanda Rosa, notando “estar provado que, com uma intervenção direccionada e específica para estimular as capacidades que cada doente tem, é possível manter por mais tempo a sua autonomia e qualidade de vida”.

A provedora esclareceu que, como a sede da Santa Casa da Misericórdia, em Fátima, no distrito de Santarém, “não tem condições logísticas para acolher este trabalho específico e direccionado, foi estabelecida a parceria”, possível de concretizar devido ao apoio de 40 mil euros da iniciativa “BPI Seniores 2014”.

“Um centro de dia para doentes de Alzheimer [doença neurológica degenerativa] não pode ser confundido com um centro de dia para pessoas sem demência. Não podemos tratar de forma igual o que é diferente”, defendeu Fernanda Rosa, salientando que “as necessidades de doentes com demência não são as mesmas da pessoa sem demência”.

O centro de dia, com o nome “Lembra-te de mim”, vai funcionar nos dias úteis das 09:00 às 17:00 e disponibilizar higiene pessoal, refeições (incluindo o jantar que os utentes podem levar para casa) e tratamento de roupa.

Apoio psicossocial, acompanhamento psicológico aos doentes e familiares, e intervenção não farmacológica estão entre as acções previstas no centro de dia que vai ter sessões de terapia ocupacional, fisioterapia, musicoterapia e exercício físico, além de jardinagem, canto, dança, artes plásticas e convívios inter-geracionais.

O Gabinete de Apoio ao Familiar e Doente de Alzheimer apoia cerca de 30 pessoas, entre cuidadores e doentes.

Este gabinete promove sessões de auto-ajuda para cuidadores, tem serviços de tele-assistência e localização GPS, e disponibiliza acesso gratuito ao banco de ajudas técnicas. Além desta valência, a Misericórdia tem lar, centro de convívio e apoio domiciliário.

 

Estudo diz:
Um estudo da Nature Neuroscience prova que há alimentos que podem influenciar a capacidade de memória das pessoas. O chocolate...

Há prazeres na vida aos quais temos que fugir e o chocolate é, para muitos, um deles. Um estudo recente da revista científica Nature Neuroscience dá-lhe agora motivos para não ter que fechar a boca a este alimento.

Segundo um estudo em que se compararam ressonâncias magnéticas de diferentes pessoas, investigadores da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, verificaram que uma zona do cérebro associada às perdas de memória recebe mais sangue e nutrientes quando se consome de forma regular chocolate. Significa isto que o processo de memorização é muito mais eficiente.

No ensaio levado a cabo, 37 pessoas, entre os 50 e os 69 anos, foram desafiadas, durante três meses, a beber um preparado de chocolate, confeccionado pelos cientistas. Metade das pessoas ingeriu um preparado que continha 900 miligramas de flavonoides (o principal ingrediente do chocolate) enquanto os restantes ingeriram apenas 10 miligramas deste componente.

O objectivo era analisar as mudanças que aconteciam na parte do cérebro onde se formam novas recordações, o dentate gyrus.

Com recurso às ressonâncias magnéticas de cada participante, os investigadores notaram que aqueles que consumiam maiores quantidades de flavonoides apresentavam melhorias consideráveis nesta parte do cérebro. Sujeitos a testes de memória estes participantes obtiveram resultados melhores, sendo que os três meses em que estiveram sujeitos aos testes conferiram-lhes uma capacidade para reter informações como se tivessem 30 ou 40 anos, revela o El Mundo citado pelo Notícias ao Minuto.

 

Universidade da Califórnia em Los Angeles
A técnica dita de “sequenciação do exoma” revela-se capaz de identificar mutações raras, causadoras de doença, quando os testes...

Em 2012, que a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) começou a aplicar clinicamente uma nova técnica de diagnóstico genético. Designada “sequenciação do exoma”, destina-se a identificar doenças genéticas quando os outros testes falharam mas que se suspeita que os sintomas observados são devidos a mutações muito raras num único gene. Diga-se para já que, sequenciando apenas 1% do genoma, a técnica pode detectar mutações que de outra forma passariam despercebidas, escreve o Público na sua edição digital.

Calvin tem três anos e meio. Sempre foi um bebé sorridente, aparentemente muito bem-disposto. Mas quando aos 10 meses de idade ainda não conseguia gatinhar nem rebolar, a mãe de Calvin, a norte-americana Audrey Lapidus, começou a ficar preocupada.

Como explica em comunicado aquela universidade norte-americana, em desespero de causa os pais aceitaram que Calvin, na altura com 13 meses de vida, fosse o primeiro ser humano a ser ali testado com a nova técnica. Umas semanas depois, o mistério fora desvendado. Mas as notícias não eram boas.

Mais de dois anos volvidos — e depois de ter testado várias centenas de casos tão enigmáticos como o de Calvin —, a equipa da UCLA, liderada por Stan Nelson, acaba de publicar, no Journal of the American Medical Association (JAMA), um estudo que mostra que a sequenciação do exoma pode ser mais eficiente do que os testes genéticos convencionais — e defendem que tem potencial para ser utilizada de forma rotineira no diagnóstico genético.

Por outro lado, na mesma edição da JAMA, uma outra equipa norte-americana, liderada por Yaping Yang e Christine Eng, do Colégio de Medicina Baylor, em Houston, apresenta resultados semelhantes, obtidos independentemente com base na sequenciação do exoma de cerca de 2 mil doentes.

 

Directora de pediatria no IPO defende
A directora do serviço de pediatria do IPO de Lisboa defende a criação de um espaço intermédio para o internamento de...

A solução precisa de espaço, coisa que falta ao Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, onde todos os anos dão entrada 160 crianças. As limitações de espaço, segundo a responsável, levam a que no serviço de pediatria só se tratem crianças até aos 16 anos. Com mais condições, este serviço atenderia as crianças até aos 18 anos, impedindo assim que fossem internadas com adultos e idosos.

“Podíamos fazer melhor com mais recursos financeiros”, disse Filomena Pereira, para quem a criação de um hospital pediátrico oncológico permitiria trabalhar com mais condições e atender crianças até uma idade mais avançada.

A especialista recorda que “a oncologia pediátrica é um assunto médico, dos pediatras, da oncologia, dos doentes, mas é um assunto da sociedade civil”.

“É uma área que precisa imenso do suporte da sociedade civil, não para o básico, para ter o que precisamos de ter, mas para termos suporte que nos permita avançar, em conjunto com a sociedade cientifica internacional, para formas de investigação e terapêutica que não se compadecem com a falta de recursos, nomeadamente económicos e humanos”, adiantou.

Segundo Filomena Pereira, “não é incomum em locais como os Estados Unidos ou Inglaterra existirem alas e serviços com nomes de instituições, empresas, fundações, que investiram nesse sentido”.

“É importante que toda a sociedade, nomeadamente quem tenha capacidade de intervenção, nomeadamente financeira e económica, se chegue à frente para fazer suporte, não o básico, mas aquilo que queremos que seja o excepcional e o avançado”, defendeu.

 

Crianças do IPO não recebem
As crianças com cancro tratadas no IPO/Lisboa não recebem células dendríticas por ser um tratamento experimental e faltar...

“É importante dizer que aquelas terapêuticas que não fazemos – nomeadamente as células dendríticas –, não as fazemos por falta de fundamentação científica e por não haver qualquer indicação para serem feitas”, disse Filomena Pereira.

A especialista do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, que dirige um serviço que acolhe anualmente cerca de 160 novas crianças com cancro, das quais perto de 30 acabam por morrer, sublinhou que esta opção não tem qualquer razão económica.

“Não tivemos qualquer constrangimento, corte, redução ou recusa em nenhum tipo de terapêutica”, frisou.

Filomena Pereira lamenta toda a confusão que se segue aos anúncios nas redes sociais de campanhas para a ida de crianças com cancro até clínicas onde são administradas as células dendríticas.

Alguns estudos indicam que as células dendríticas – que actuam ao nível do sistema imunitário e são usadas em tratamentos ainda experimentais – “têm alguns efeitos que mais não são do que prolongar alguns meses a vida de alguns doentes com determinado tipo de tumores, nomeadamente da próstata e alguns tipos de tumores cerebrais”.

Segundo a especialista, não há qualquer indicação para a aplicação de dendríticas em pediatria e, dentro das células dendríticas, "é importante fazer a diferenciação entre o que é investigação séria e o que é negócio”.

Para Filomena Pereira, “há um centro europeu e um nos Estados Unidos onde está a ser feita investigação séria sobre a utilização de células dendríticas e, depois, há as redes de negócios montadas, por exemplo, na Alemanha”.

“É bizarro que, na clínica tão anunciada por aí fora, os doentes [daquele país] não possam ser tratados, porque a clínica não tem autorização para tratar os doentes alemães”, sublinhou.

Questionada sobre quem, na sua opinião, ganha com esse “negócio”, a especialista enumerou: “Ganham os do transporte, os do alojamento, os tradutores, as coisas paralelas, como as chamadas alimentações saudáveis”.

“Há toda uma série de coisas que, organizadas em grupo, em peso, fazendo de certa forma o contra à medicina convencional ou científica, e pelo facto de serem chamados alternativos, imediatamente se tornam em corpo e como corpo têm mais força, não só para embater com a medicina convencional, como para poderem ganhar dividendos de natureza vária”, adiantou.

Ainda assim, Filomena Pereira acredita que “haja gente que seja o mais honesto possível quando pensa que está a fazer bem nessa área”.

“Acredito solenemente, mas, de facto, alimentam-se redes de negócio”, disse.

A especialista lembrou que já são três as crianças que apanham um avião para vir morrer em Portugal, depois de fazerem tratamentos com as células dendríticas.

“Nas redes sociais há o apelo à ida, mas depois não há o seguimento, nem sequer há muitas vezes a suspensão da angariação de fundos”, afirmou.

Filomena Pereira considera que existe “um abuso das redes sociais, nomeadamente um abuso de exposição das crianças”.

Isto, “quando, cada vez mais, nós estamos sujeitos a segredo profissional, a confidencialidade, a uma série de regras de confidencialidade”, afirmou.

“São as próprias famílias que expõem as crianças das formas mais incríveis”, disse, defendendo o fim do “vazio legislativo nesta área”.

Estas notícias mediáticas envolvendo crianças com cancro “prejudicam” o trabalho dos profissionais do IPO, mas também os pais e os próprios doentes, declarou.

“Fica sempre um pouco de descrença, de insegurança. Prejudica o nosso trabalho e, sobretudo, prejudica os outros pais, pois transmite-lhes essa mesma insegurança e descrença”.

Sobre o ato de decidir, a médica sublinha: “Não somos deuses. Mas temos que usar aquilo que acreditamos ser ou que internacionalmente se usa como melhor prática clínica”.

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