A Cátia
Antes de mais, é preciso salientar que vou tentar ser neutra, não sendo possível evitar, pela pessoa
Enfermagem arábia saudita

O Hospital...

Senti medo? Muito...Até pânico senti... É Mágico? Demais...É Bizarro? No mínimo estranho...É confuso? Desnorteante... Porquê todos estes sentimentos? 

Leiam o texto que se segue de coração aberto, sem medos, sem juízos de valor...tentem apenas entrar de coração dentro do cenário que vos vou descrever...

O Hospital... Imenso, enorme em todos os sentidos...dizem os americanos que é considerado o maior e melhor 4º centro de trauma do mundo...é verdade? Se dizem...não sendo isso relevante para mim...Tecnologia de ponta, acesso a todos os exames auxiliares de diagnóstico...algumas técnicas das quais, desconhecia que existiam...na realidade estamos a falar de um hospital com a dimensão de Santa Maria ou os Hospitais da Universidade de Coimbra...1000 camas...a diferença? Aqui na Arábia Saudita, tudo é majestoso... fazem tudo em grande escala... corredores imensos e largos (sendo um hospital militar, tem que estar preparado, em caso de algum ato terrorista ou seja pelo que for, preparado para permitir a entrada de tanques militares), para além disso, também neste aspeto, se começa logo a sentir a diferença cultural... Muito dinheiro, tudo tem que ser majestoso... salas enormes... para terem uma ideia, são usados carros de golf para circular dentro do hospital. Por exemplo a equipa de reanimação intra-hospitalar usa um carro de golf para se deslocar rapidamente para o doente, onde quer que esteja - é sempre longe...

O sistema orgânico e funcional? Todo ele baseado no sistema Americano mas, obviamente ajustado ao país e à cultura...

Ok, deixemos agora o hospital no geral, e vamos para o "mundo" profissional da Cátia... Serviço de urgência...

 

A cultura e a religião

Esperem! Seria desastroso e de difícil entendimento, se não vos falar de alguns aspetos culturais... SIM TEMOS QUE PERCEBER E RESPEITAR A CULTURA, de outra forma não conseguirás trabalhar...até podes não aceitar alguns aspetos culturais - problema teu! Mas tens que respeitar...

Nota bem, tudo o que vos disser daqui para a frente em relação à cultura e religião é porque tem implicações diretas na minha prática como enfermeira.

Estamos num país 100% islâmico...e profundamente religioso... à religião acrescentam-se algumas regras específicas deste país que o tornam, de todos os países muçulmanos, sem sombra para dúvida, o mais restrito e fechado... Apenas por curiosidade, este é o único país no mundo que não tem uma igreja... Existem mesquitas em todo o lado, por lei. Onde quer que estejas localizado, tem que existir uma mesquita com uma distância máxima de 200 metros.

Mesquitas essas que não sendo muçulmano não podes entrar.

Mas já descobri, ainda que não seja de conhecimento de muitos, um espaço, autorizado pelo rei, onde se praticam celebrações cristãs... Eu já assisti... É um imenso pavilhão, desprovido de quaisquer sinais religiosos, sem imagens, sem cruzes, apenas um espaço amplo, onde nesse dia encontras, europeus, sul-africanos, americanos, canadianos, australianos... e onde se vive uma atmosfera de grande Amor, entrega e muita emoção... todos eles cristãos, não importa se católico ou de outra qualquer religião.

Não há cinema, música, bares ou discotecas... é proibido... Não podes estar a cantar ou dançar ou apenas a tocar guitarra num qualquer parque da cidade, em público quero eu dizer... Recordo que tenho um amigo turco, engenheiro, que ao fim de duas semanas de cá estar foi preso porque estava a tocar guitarra num qualquer parque/jardim da cidade.

A religião é o condutor deste país... A religião está em tudo, na política, nas leis, no modo de viver e estar... em tudo mesmo... e por isso eu como enfermeira tive que entender a cultura e religião - de outra forma não levaria a cabo, nem um único turno...

Para vos fazer pensar em como a religião tem peso em absoluto, comecem logo pela bandeira... na bandeira do país está escrito... "Não existe Deus, mas Alla, e Maomé é o seu profeta."

Segundo o Islão, existem 5 pilares fundamentais, que todos os sauditas irão cumprir... Forçados?  Não me parece...

Os 5 pilares são:

  • tem que se assumir como islâmicos e ter Fé,
  • tem que ir, pelo menos uma vez na vida, a Meca,
  • tem que rezar pelo menos 5 vezes ao dia,
  • tem que praticar a caridade,
  • tem que cumprir o ramadão...

 

Ok, agora em traços gerais, alguns aspetos culturais, mas de que precisam de ter conhecimento, para chegarmos ao meu "mundo" profissional...

Só vos posso prometer, que no final tudo fará e terá o seu sentido...

Então, as mulheres na arábia saudita, não podem conduzir, nem sequer uma bicicleta...

Todas as mulheres têm que andar com lenço a tapar o cabelo, e usar abaya - túnica preta que as cobre totalmente não deixando qualquer pista da silhueta da mulher... E mais, todas elas usam burca... até podem andar com a cara destapada - mas em paralelismo com o nosso país - uma mulher sem burca, com a cara destapada, é o mesmo que uma mulher em Portugal com um decote abusivo e uma minissaia extra curta - fiz-me entender? Aqui as mulheres casam cedo... É raro encontrar uma mulher com 30 anos que não seja casada e já com três, quatro filhos...e, então aí, a maior parte delas depois de casarem para além da abaya, lenço, burca, ainda usam um véu que lhes tapa os olhos, e já não é tão comum, mas sim acontece, também usarem luvas... Atenção, que é sempre, sempre, tudo preto...

Quando é que começam a usar abaya? Quando passam a ser menstruadas... mas há aquelas, que à semelhança de qualquer criança por esse mundo fora, querem imitar as mães, e então facilmente vês meninas de 6 anos com abaya e lencinho - e felizes que elas andam!...

As ocidentais, como é o meu caso, para sairmos à rua tem que ser, e sempre, com abaya, e convém andar com o lenço na carteira, para o caso de seres abordada por algum Mutawa ("polícia religiosa", na realidade não tem poder policial, mas para a população são mais que polícias - são pessoas muito envolvidas no Islão, que estudaram numa escola religiosa...bom, para facilitar a compreensão, são mais ou menos como os nossos padres, mas têm aqui um poder imenso. Devo acrescentar que já fui várias vezes abordada por eles e sempre foram delicados - apenas me pedem para tapar o cabelo).

O álcool é proibido, considerado crime... o porco é proibido, claro que nem sequer é comercializado...

 

 

Execução da pena de morte em praça pública e anunciada na TV

Existe a pena de morte, em praça pública... às sextas feiras... normalmente é anunciada na televisão árabe com um dia de antecedência ou um dia depois, que vai ser executada determinada pessoa e a razão... Pena de morte é praticada em casos de rapto, violação, assassínio, pedofilía... E para casos de roubo, a pena é a amputação da mão...atenção que tudo isto é sujeito a rigorosa investigação, e no caso de roubo, se foi por exemplo comida e que se prove que a pessoa é muito pobre, talvez seja perdoada... E na praça, para o caso de apenas amputação, está prontamente uma ambulância para transportar a vítima para o hospital mais próximo...

Aqui vive-se um absoluto patriarcado... a ponto de que o homem, seja pai, irmão ou marido, é o responsável pela mulher, sendo que, se ela quiser sair do país para uma viajem de férias, o marido tem de dar permissão...

Aqui tudo muda a uma velocidade galopante... tens por exemplo um pai que é analfabeto e o filho já estudou na América e é médico... A própria cidade cresce a uma velocidade desnorteante... Convido-vos a ver uma fotografia de Riade há 30 anos atrás e comparem com uma atual...

 

A Mulher, a Família

Porque falar desta mudança? As mulheres até há poucos anos não trabalhavam... ou seja, o papel da mulher nesta sociedade era casar, ter filhos e cuidar da família...

As famílias são muito numerosas e acrescenta-se o facto de um homem poder casar com quatro mulheres, mas atenção, "... não há cá confusões - todas vivem em casas diferentes, se não andavam sempre em conflitos"... dizia-me um doente 64 anos, na semana passada, com 22 filhos...

Hoje algumas mulheres, principalmente aquelas que estudaram no estrangeiro, já começam a trabalhar, mas na generalidade não são respeitadas pela sociedade... o que pode pôr em causa a capacidade dela para casar... Sim, por aqui mistura-se outro aspeto relevante... ainda hoje, e é hoje de que falo, os casamentos aqui são "arranjados"... ou seja, a mãe do rapaz é que escolhe a mulher para o filho... Pode ser por exemplo num casamento, em que os homens e mulheres não tem contacto visual, e então aí elas tiram as abayas, lenços burcas e estão altamente produzidas para tentarem conquistar a mãe de um qualquer rapaz casadoiro... Pois... são poucas as mães que concordam que a mulher do filho trabalhe... Portanto, ou não casam, ou algumas delas deixarão de trabalhar para casar e ter filhos... A mãe também pode escolher uma prima, por exemplo, e isso aqui é muito comum, escolherem noivas com ligação familiar. O que vos posso adiantar desde já, e isto, dando um saltinho ao hospital, existem muitas doenças estranhas e totalmente desconhecidas para nós, e pessoas com malformações incríveis - tudo ligado à consanguinidade.

Outro aspeto muito importante a salientar, é o facto de que desde que se começa na escola, as meninas e os meninos são separados - espaços geográficos diferentes! E desde então nunca mais as meninas vão conviver com os meninos... Apenas em casa se vive um ambiente relaxado e com a "nossa" normalidade... ou seja a mãe, e meninas ou mulheres, não se tapam para os irmãos e pai, e podem conviver...

 

Restaurantes com entradas e espaços distintos para homens famílias e mulheres

Nos restaurantes existe uma entrada e espaço apenas para homens, e outra entrada e espaço para famílias e mulheres. O mesmo acontece no zoo, museus... Existem dias para os homens e dias para famílias e mulheres...

Se tiverem convidados em casa, as mulheres estão sempre retiradas, normalmente na cozinha a preparar iguarias para os convidados, e se vêm à sala trazer a comida, obviamente que vêm totalmente tapadas, e nunca confraternizam...

Não podes andar na rua acompanhada com o sexo oposto, apenas podes andar na rua com o teu marido, pai, irmão ou filho... Portanto, aqui faz parte da nossa documentação que trazes na carteira o certificado de casamento.

A maioridade? Parece que é aos 18 anos... mas, lá está, a religião e costumes sobrepõem-se muitas vezes às leis... Outro dia tinha um doente de 14 anos, que ele próprio tinha vindo de carro... Se algum polícia o vir? Não haverá problema, pois é homem... e que homem!... tão emancipado que é!... Que orgulho tem aquela família de ter um elemento de 14 anos que já é um Homem...

Outro facto muito importante, e para mim o mais delicioso, terno, romântico, de profundo Amor... O conceito FAMÍLIA. Aqui ninguém põe o idoso no lar... Toda a gente, cuida do pai, avô, tio, irmão... em casa. E o respeito? Imenso... Todos se respeitam mutuamente, amam e cuidam... Não há doentes sozinhos no hospital... todos eles tem o acompanhante do filho, do neto, da sobrinha... Estão lá 24h sobre 24h e são eles que querem prestar cuidados de higiene, alimentares, e acompanhar... Quantos cuidadores estão? Normalmente, e no mínimo dois... E durante as 24 horas chegam mais e mais elementos da família... Os netinhos pequeninos chegam felizes para visitar o avô, beijam-lhe a mão, e estão ali, permanecem, querem eles também cuidar e prestar cuidados diretos...

Agora imaginem só...estão três mulheres a acompanhar o doente... a esposa e duas filhas... se chega um homem, que não é irmão ou tio... apenas amigo, primo distante... as mulheres têm que se retirar, enquanto aquele homem está presente... Só quando ele sai, então elas voltam a entrar.

 

Os rituais da morte

A MORTE? Bom aqui esta área já é mais delicada... geralmente eles aceitam com aparente serenidade a morte do seu ente querido... porquê? Óbvio, eles são profundamente religiosos e acreditam que Alla assim decidiu e quis, e que agora ele está no "paraíso" junto a Alla... É sempre assim? Claro que não...ainda que sejam "treinados" assim, são pessoas que sentem, que tem coração...e muitas vezes, naquele momento, vês faces de angústia, medo, desespero, um olhar de profunda tristeza e dor, com choro...

O corpo é preparado por nós, como o preparamos em Portugal, mas com uma grande diferença!...Não o lavamos...apenas retiramos o excesso de fluidos...Pois o corpo é levado para a morgue e dali segue para uma mesquita...não uma qualquer, uma mesquita com pessoas preparadas para o fazer... Fazer o que? Lavar, purificar o corpo... É limpo, é perfumado com um pó com uma essência especial... é envolvido por um manto branco, e aí sim está preparado para a celebração... Aí as mulheres também estão presentes... colocam o corpo com a cabeça virada para Meca. Entre Meca e os restantes, é onde está o corpo... Celebram, rezam... Depois? Bom, a partir daí as mulheres vão para casa (defendem que o ato de sepultar no cemitério é doloroso demais para uma mulher conseguir suportar, e então elas são protegidas desta forma - não assistem à sepultura)... O corpo vai para o cemitério... a cremação é proibida, e o corpo é sepultado sem caixão. Todos os corpos são sepultados com a cabeça virada para Meca, e desprovidos de qualquer campa, fotos, inscrições, flores... apenas é coberto com terra, e colocada uma pedra na parte da cabeça... seja o rei, seja a pessoa mais pobre do reino... as sepulturas são todas iguais. O que eles dizem é que no final, SOMOS TODOS IGUAIS... E não é verdade?

 

Vamos agora, e finalmente, para o "mundo" da Cátia enfermeira...

Conseguem já perceber com o que descrevi para trás que não é fácil trabalhar por aqui, no início... mas a acrescentar à obrigatoriedade de me adaptar ao doente e seus costumes, tive também que me ajustar aos meus colegas... Assim sendo, e pelo que descrevi anteriormente, torna-se fácil de perceber que as enfermeiras sauditas são ainda em número muito reduzido. A escola de enfermagem com os moldes da nossa escola, com estrutura, investigação e bases científicas, apenas existe há cerca de 10 anos, e ainda assim, dizem-me que nos primeiros anos quase não tinham alunas...

Isso obrigou obviamente a recrutar enfermeiros de fora... Só para terem conhecimento, existem neste hospital cerca de 55 diferentes nacionalidades de enfermeiros... agora imaginem, também tens que te adaptar a 55 maneiras diferentes de estar, de sentir, de viver...

Complexo? Que acham?

Vamos lá à prática... hoje vou trabalhar e vocês vão comigo! Saio do meu luxuoso compound - imaginem uma pequena aldeia, cercada por altos muros, com câmaras de vigilância por todo o lado, e rodeada de militares devidamente aprovisionados de metralhadora e afins... Sempre que entras no compound de carro... passas por duas barreiras... a primeira das quais tem um elemento que inspeciona o carro - vê a mala, abre o capô, vai com um espelho inspecionar o veículo por baixo (acho que já vi esta cena em algum filme!). Depois cá dentro vivemos em vivendas totalmente equipadas, enormes (claro está!), onde o meu apartamento caberia, seguramente, numa das salas que tenho... Temos supermercado, ginásio, cortes de ténis, restaurante, SPA, squash, piscina interior, três piscinas exteriores... E aqui, só para ocidentais, podemos vestir e agir como ocidentais que somos. Tudo gratuito! - Cá tenho na ideia que é para nos motivar a suportar todas as contrariedades deste país!

La vamos nós de autocarro (o autocarro é estritamente só para nós funcionários e gratuito. Aqui na Arabia Saudita não existem transportes públicos)...15 minutos... se páras no semáforo... o que é raro, pois aqui não se respeitam as regras de trânsito... podes facilmente ver o carro parado ao teu lado com uma família a olhar para ti com ar surpreendido... Meu Deus, aquele autocarro vai cheio de mulheres e homens misturados, com fardas, o que lhes expõem os braços, estetoscópio ao pescoço, e cabelos descobertos... E então imagino que a conversa dentro do carro seja, dentro de muitas hipóteses válidas...:"Oh mãe que gente estranha é aquela?"

Chego ao hospital... vá agora desde a porta do hospital até ao meu serviço são 12 minutos a andar bem - pronto assumo, tive azar, a paragem dos nossos autocarros, é do lado oposto do meu serviço...

 

As línguas que podemos falar no hospital é o inglês e árabe... e Cristiano Ronaldo!

De árabe já vou sabendo umas coisas, aprendo com os doentes... raro é o doente que fala inglês. Tens um tradutor permanente para te auxiliar, mas anda sempre não sei bem onde, e por vezes se a tua doente é mulher e queres fazer perguntas mais delicadas, não chamo o tradutor - ela não vai falar com ele! O que importa é que já consigo comunicar com ele, e saber o suficiente para fazer a avaliação física do doente e garantir o discurso para manter as suas necessidades humanas básicas... Claro que ajuda-me o facto de aplicar muita linguagem gestual, que imagino, quem esteja a ver de fora, parecerá uma peça teatral... e eles entendem e esforçam-se por entender... E aqui muito me ajuda o nosso Cristiano Ronaldo, amado por estas bandas, e quando digo que sou portuguesa, eles imediatamente sorriem e já fica cortada uma primeira barreira (Obrigada Cristiano Ronaldo!).

A privacidade aqui é ouro... então todas as unidades tem cortinas a toda à volta. E seja em que circunstâncias for, as cortinas estão sempre fechadas... a não ser em situações de reanimação... Eu tenho sempre e apenas dois doentes, mas não pensem que paro... o grau de exigência aqui é muito elevado, e além do mais tudo leva mais tempo  a ser feito.... já vão entender porquê!

 

Tapetes para as rezas no hospital

Cada unidade, é tão importante como o monitor, oxigénio, aspirador...tem o Corão e uma caixa com areia especial para eles limparem as mãos, e face antes da reza... Também faz parte da nossa sala de stock, tapetes para eles rezarem... mas normalmente, a família e doente já vêm sempre providos do seu tapete....

Continuando...tenho dois doentes, um homem e uma mulher... sim, se estavam a pensar que não podia ter doentes homens, isso não é verdade... Mas, se bem que se tiver que algaliar o homem, já tenho que descobrir um enfermeiro homem para o fazer... Da mesma forma que o enfermeiro homem tenha que colocar os elétrodos numa doente mulher, já terá que ser uma enfermeira a fazê-lo...

Os meus doentes têm acompanhantes... eles querem fazer tudo... limpar, lavar, alimentar e até posicionar... Ofereço a minha ajuda mas normalmente eles recusam... não por não confiarem em mim, mas porque fazem questão de serem eles a tratar do seu ente querido...

Normalmente, o doente homem, tem acompanhantes homens, os filhos, pois não é muito desejável que aquele doente homem esteja a ser limpo pela filha mulher... mas também acontece! Como temos sempre acompanhantes, da mesma forma como pedimos dieta para o doente, também se pede para o acompanhante, mas apenas uma, pois supostamente só deverá estar um acompanhante, mas eles são tantos e querem estar, que chegas a um ponto que, simplesmente permites... e eu, da minha parte, não me importo nada.... Acho delicioso!

Ainda em relação à comida, muitas vezes eles nem comem a comida que pedi para o acompanhante pois todos eles (como demonstração de poder de consumo) trazem a comida de casa, e aí estão eles com carpete no chão, cafeteiras com café e chá, e tâmaras (estas nunca faltam) - comem tâmaras a toda a hora... É cultural e tem também algum significado religioso... Talvez assim se justifique que cerca de 85% dos meus doentes sejam de base diabéticos...e depois as panelas com arroz, borrego, galinha... e mais vos digo, se não fosse estar a escrever para uma revista científica, diria: " e pronto está o estenderete montado"...

Estão a acompanhar? Tem que ser rápidos...eu sei, é muita informação!

 

Acompanhantes comem sentados no chão enquanto doente é tratado

Ora bem, ponto da situação... temos o homem com dois acompanhantes homens, no chão a comer... o doente esta monitorizado com uma qualquer perfusão, oxigénio... orientado e colaborante... começo a por o meu árabe em prática... Cumprimento, identifico-me e peço desculpa por falar pouco árabe, mas sou nova aqui... normalmente eles são simpáticos, mas este doente, apesar de ser um doce, fica um bocadinho retraído pois sou mulher... Lá tenho, e porque são homens, de arranjar maneira de dizer que sou portuguesa. Falo no Cristiano Ronaldo, e pronto já quebrei a primeira barreira... depois com o doente homem pouco ou nada lhe toco, e tudo com muito cuidado. Peço autorização para ver a temperatura...e assim sigo em frente - tenho 12 horas pela frente para conquistar a confiança deles - É difícil? Nada... somos portugueses, marcamos a diferença pela nossa natural simpatia, delicadeza e educação e muita, muita sabedoria... sim porque aqui, não há nada que faças, o simples dar um comprimido, que a família não te pergunte o que estás a dar e o porquê (começam agora a perceber porque tudo leva um pouco mais tempo?).

A mulher, a outra doente... acabou de chegar, na realidade é uma jovem tem 18 anos, vem com a mãe, e duas irmãs... ela acabou de chegar ainda vai haver muita gente a entrar e a sair daquele cubículo... portanto elas se mantêm completamente tapadas... vem a técnica de ECG - sorte a minha é mulher, não tenho que estar com ela... Vem o médico para reavaliar... é homem... aí já tenho que entrar no cubículo, avisar que está o médico do lado de fora, confirmar que estão tapadas e esperar por sinal verde para ele entrar... mando-o entrar, tenho que estar sempre presente, não posso sair em circunstância alguma! Entretanto já falei com ela, identifiquei-me, e coloquei-a monitorizada com algumas dificuldades pois tenho que, por baixo daquelas roupas todas, descobrir com muita delicadeza se estou a colocar os elétrodos no sítio certo... até então apenas confirmei o nome dela pela pulseira... Não faço ideia de como ela é, e não consigo retirar qualquer informação observando a doente... Tenho que vos confessar! Este foi o meu maior obstáculo... Desde a minha escola de enfermagem, e pela minha carreira sempre me ensinaram - "não olhes tanto para o monitor, olha para o doente, olha com olhar clínico... ele tem muito para te dizer"... Subitamente, e ao fim de tantos anos, nada mais me resta, senão olhar para o monitor...

 

Interrompe-se tratamento enquanto rezam. Setas indicam Meca e macas alinham-se

O médico pede para extrair sangue... preparo tudo e vou fazê-lo, mas quando entro no cubículo e ao fundo da maca tenho a mãe no tapete a rezar, virada para Meca... Não devo interromper - é uma falta de respeito! Então tenho que aguardar que ela acabe de rezar para poder tirar sangue à doente... São 20, 30 minutos... se for algum procedimento mais urgente, lá tenho que ir, mas sempre em silêncio, e tenho que passar por detrás da pessoa que está a rezar - a pessoa está em conexão a Meca como todos os outros, em união, não posso "cortar" essa ligação... Naquele momento apenas desejo que a pessoa a rezar me tenha reservado um espacinho para que possa passar por detrás...

Pois, é a hora da reza, e em todo o hospital, assim como em toda a cidade se ouve em uníssono a reza... e o meu doente também quer rezar, mas não se pode levantar... está com as tensões elevadíssimas - tem dinitrato em perfusão, tento explicar, mas nada a fazer... se logisticamente não for possível, há que parar perfusões, até retirar o doente do monitor, para se criarem condições para virar a maca para Meca... Nas enfermarias, existe em todos os quartos umas sinalizações - uma seta - que indica a direção de Meca.

Bom, passaram duas horas.. já todos os exames foram feitos à minha doente mulher, e ela vai ficar pelo menos nas próximas 24 horas... agora já não há tanta gente a entrar e sair.

Elas começam a ficar mais desinibidas e como confiam em mim, sabem que cada vez que alguém quiser entrar eu vou avisar... então já retiram a burca e o véu... e comunicamos, e rimos muito... elas ficam deliciadas comigo, com a nossa natural espontaneidade e estou tão exposta! Sou-lhes um ser tão estranho mas amigável... não resistem... lá me pedem para uma selfie... e garanto-vos que neste momento já terei umas boas dezenas de selfies por aí espalhadas...

Em jeito de agradecimento, estão sempre a oferecer-me comida, chá, café, tâmaras... e eu aceito! Aceito, como com elas e agradeço muito! Seria uma tremenda falta de respeito recusar algo que nos ofereçam - é mesmo ofensivo! (Fico encantada e com o meu coração cheio, o único detalhe é que não gosto de tâmaras nem do café deles, o que me obriga a comer, degustar, deglutir e sempre com um sorriso franco, nunca dando a entender o meu sacrifício!)

Aqui, quem faz a gestão das camas a nível hospitalar e seus internamentos são os enfermeiros... Ou seja, existe uma equipa de enfermeiros que a sua função é ver quantas camas, e em que enfermarias, estão livres, e decidem se o doente reúne ou não condições para ir para a enfermaria...

Eis que me dizem que a minha doente mulher vai para uma enfermaria... Preparo tudo e quando chego lá, o quarto era duplo... tinha lá outra doente mulher, mas cujo acompanhante era homem - e pela situação particular daquela doente, ele tinha autorização para permanecer... A mãe, acompanhante da minha doente imediatamente disse que não podia ficar naquele quarto, ainda que tivesse cortinas o que lhes garantia toda a privacidade, mas ela recusou em definitivo. Ok, temos um problema...o que se faz aqui? Dá-se extrema importância aos apelos do doente e da família... e nada do que eles pedem será recusado, ou pelo menos reúnem-se todos os esforços nesse sentido... Aqui existe um elemento que é o gestor de problemas dos doentes... Ele é imediatamente chamado, bem como a enfermeira supervisora do hospital, envolve-se ainda o enfermeiro que faz a gestão das camas, num esforço conjunto para respeitar a doente e família e solucionar o problema... Após 35 minutos de conversações, conseguiram arranjar uma outra cama disponível numa outra enfermaria, e desta vez apenas e só mulheres...

Aqui, e a propósito do respeito e envolvimento das famílias, quando há um doente que pelo seu estado se põe a hipótese de não reanimação, para além de terem que ser três médicos a decidir em conjunto, ainda se chama a família, se não estiver presente, ou se apenas estiver uma filha, chamam-se familiares homens e a situação é explicada em pormenor no sentido de eles entenderem que pela situação clínica tudo se fará ao doente, mas em caso de paragem, não se faz uma reanimação... Se a família decidir não aceitar, por norma o doente continua a ser um doente para reanimar.

Outro aspeto muito interessante é, se a família não está satisfeita com o tratamento, ou que lhe digam que naquela situação em particular já nada mais podem fazer, mas tiverem, imaginem, na Alemanha um médico que depois de analisar a situação, lhes diga que tem tratamento para oferecer ao doente, então o rei paga todas as despesas de hospital, viagens, e alojamento para os acompanhantes! Fantástico não? Acreditam? Acreditem que é verdade!

 

Se o problema é ginecológico e não há médica a doente não é observada

Quando chego ao serviço já tenho outra doente admitida... a doente tem um qualquer problema ginecológico... o médico chega e é homem... o marido recusa de imediato que a sua esposa seja observada por um homem. Aqui, nem se levanta um problema, pois o médico aceita com serenidade e compreende... e então tentam a todo o custo encontrar uma médica no hospital disponível para observar a doente... se isso não for possível, a doente pura e simplesmente não é observada e vai embora... Já me aconteceu assistir a um momento desesperante de uma mulher em franco trabalho de parto, já num período de iminente expulsão e o marido pura e simplesmente não autorizava o médico homem a aproximar-se da mulher, mais uma vez, não se entram em discussões, mas o desespero para encontrar uma médica já era enorme... estavam duas vidas em perigo... mas sim, conseguiram encontrar uma colega disponível não sei bem onde, e em 15 minutos ela estava lá e correu tudo bem... nem quero imaginar outro cenário!

Aqui se consegue perceber e demarcar bem o patriarcado sempre presente... se tens doente o homem e a mulher, e se é o que precisa, por exemplo de uma transfusão de sangue, têm que assinar um consentimento, mas só um homem o pode fazer... ou seja, se o doente não estiver capaz de consentir e assinar, terá que ser o pai, irmão, tio, sobrinho, filho... mas nunca uma mulher!

 

O ramadão

Estando eu prestes a terminar este dia, não posso deixar de escrever alguns aspetos ligados ao Ramadão... muito haveria para descrever sobre o ramadão, mas desta vez ficamos por aqui...

O ramadão, o que é? É uma altura do ano, e tem a ver com o calendário que eles usam, e com as luas... em que durante um mês os muçulmanos têm que praticar jejum... E porquê? Explicaram-me eles, que é uma altura nobre de reflexão, sacrifício, de purificação da alma... Passando tu pelo jejum de tantas horas consegues dar mais valor aos que nada têm para comer! A partir da primeira reza da manhã, que vai variando, mas será cerca das 4:00 da manha, já não comem, nem bebem, nem fumam... até ao pôr-do-sol, que será na ultima reza do dia, por volta das 18:30... Estão isentos de fazer jejum os idosos, os doentes, as grávidas, as mulheres menstruadas... mas ainda assim, ainda que totalmente contraindicado, temos por vezes doentes, na maioria idosos que insistem em fazer o jejum... O problema poderia ser grande... mas aqui isso não se encara como um problema e então todo o hospital assume uma orgânica diferente... ou seja, respeita o jejum do doente, o pequeno almoço é pedido para as 18:30 e assim se começa o dia... o almoço vem às 2:00 da manhã e depois as 3:30 tem uma refeição ligeira... E a medicação? A que é oral tem que ser toda invertida... Durante o dia o hospital fica muito calmo, menos acompanhantes pois eles optam por ficar sossegados a dormir, para não gastar muita energia e suportarem o jejum... Quando começa a chegar a hora de quebrar o jejum é a alegria total... À porta do hospital as pessoas preparam comida, o próprio hospital põe nas entradas caixas com garrafas de água e comida. A caminho do hospital oferecem-nos caixas de comida... É uma alegria contagiante, e também um momento de partilha, entrega e solidariedade pelo próximo...

Assim sendo, nós ocidentais não temos que jejuar, mas por respeito aos muçulmanos, e por lei... Não podemos beber água, comer, nem sequer mascar uma pastilha elástica em público...

Pois, também eu tive possibilidade de passar pela experiencia do ramadão... Até sou capaz de passar 12 horas do turno sem tocar na garrafa de água que tenho comigo... Mas no ramadão estava sempre cheia de sede. O psicológico a funcionar! Houve um dia que tinha tanta, tanta sede, e ainda faltavam duas horas para a minha pausa, que fui à casa de banho, olhei em volta, não vi ninguém, e comecei a beber água do lavatório (que apesar de potável ninguém a consome pelo seu mau sabor), e com as mãos debaixo da torneira, comecei a beber água como se estivesse no meio do deserto (que por acaso até estou! Feliz coincidência!) a caminhar há horas, e encontrasse um lago num oásis. Nunca uma água me soube tão bem! Mas fui logo apanhada, teriam passado talvez cinco segundos quando entra uma muçulmana na casa de banho... Olhámos uma para a outra, não sabia se rir ou outra coisa qualquer. Ela olhou para mim com olhar terno, e sem uma única palavra, disse-me com todas as letras: "Vai lá, eu não digo a ninguém e compreendo-te"... Correu bem!

E assim se passaram as minhas/nossas 12 horas. Vamos para casa... estou cansada... fisicamente sim, mas mais psicologicamente, com tanta informação, gestão de conflitos interiores, turbilhão de sentimentos. No final tudo acaba bem... E já agora e porque até temos à noite aquelas temperaturas dos nossos antigos verões, vamos relaxar para a piscina...

Enfermeira Cátia

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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Tendo em conta a previsão de queda acentuada de temperatura nos próximos dias, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recorda que a exposição a baixas temperaturas, no interior ou exterior, pode causar “riscos sérios ou letais para a saúde”.

Mesmo dentro de casa, o INEM avisa que é necessário ter cuidados na utilização de lareiras e outros sistemas de aquecimento, uma vez que aumenta o risco de incêndio e de intoxicação por monóxido de carbono.

A hipotermia (temperatura do corpo excessivamente baixa) é uma das emergências médicas relacionadas com o frio, situação classificada como perigosa e que afecta sobretudo idosos com fraca alimentação ou pouca roupa, bebés que dormem em quartos frios, pessoas que ficam muito tempo ao ar livre e consumidores de álcool e drogas.

Tremores, exaustão, mãos inquietas, sonolência, perda de memória ou fala lenta são os principais sinais de aviso da hipotermia em adultos, enquanto nas crianças se deve ter atenção à pele muito vermelha e fria e à apatia.

Perante estes sinais, deve procurar-se ajuda médica ou ligar o 112 em caso de emergência, além de procurar aquecer a pessoa.

O INEM emite ainda alertas sobre queimaduras provocadas pelo frio, que podem ser reconhecidas por uma área da pele branca ou acinzentada, pele invulgarmente firme ou cerosa e por formigueiro. Também nestas situações é necessário procurar ajuda médica.

No início da semana, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera avisou que as temperaturas mínimas começariam a descer gradualmente no início da semana devido a uma massa de ar frio, prevendo-se que sexta-feira se atinjam valor de temperatura mínima na casa dos 0 graus, ou mesmo abaixo, em especial nas regiões do norte e centro.

Governo anuncia
O secretário de Estado Adjunto da Saúde afirmou que os Cuidados Continuados Integrados em Saúde Mental vão avançar ainda...

A promessa foi deixada hoje durante a apresentação pública do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2014”, que revela uma elevada prevalência de perturbações mentais em Portugal e alerta para a necessidade de criação de uma rede de cuidados continuados nesta área. "Estou perfeitamente convicto de que será nesta legislatura que serão dados passos significativos com experiências duradouras na área dos cuidados continuados, e que ganhem a relevância que não puderam ter”, disse Fernando Leal da Costa.

O relatório apresentado considera “inevitável e premente falar nos Cuidados Continuados Integrados em Saúde Mental (CCISM), sistematicamente anunciados e adiados por conhecidos constrangimentos financeiros, com muitos a interrogarem-se se a situação presente não sai mais onerosa”. O documento lembra que o aumento do risco de dependência não é isento de custos para o Serviço Nacional de Saúde e acrescenta que neste contexto se registam "as declarações recentes da tutela de que, ainda em 2014, vão estar no terreno as primeiras tipologias de cuidados continuados de saúde mental”.

“Prometemos que arranjaremos estruturas de cuidados continuados”, afirmou hoje Leal da Costa.

O governante sublinhou também a importância dos cuidados comunitários para apoiar estes doentes, mas reconheceu o défice de cuidados ao nível de recursos humanos, bem como a dificuldade de gestão do património dos doentes internados.

Esta preocupação ganha mais volume com a prevalência total de perturbações mentais, reveladas no relatório e que levaram o director do serviço de psiquiatria do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Daniel Sampaio, a considerar este um “problema de saúde pública da maior importância”. “É preciso uma resposta para este magno problema, que deveria ser uma prioridade nacional”, frisou.

Como solução transitória
O Ministério da Saúde defendeu a criação de enfermarias para adolescentes com perturbações psiquiátricas, evitando o seu...

Durante a apresentação pública do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2014”, foi manifesta a preocupação dos profissionais de saúde mental com a falta de respostas para a infância e a adolescência, quer ao nível de recursos humanos como físicos.

A falta de camas para internamento, a existência de apenas duas unidades de saúde específicas e a escassez de médicos direccionados para esta problemática da saúde mental foram os temas que mais preocupação e debate suscitaram.

O director do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, Daniel Sampaio, considerou que a situação é “dramática” e “exige uma tomada de decisão”, em que a “resposta ao nível das camas é determinante”. O psiquiatra alertou que os jovens são internados em alas psiquiátricas de adultos, o que cria problemas aos adolescentes e aos serviços.

Esta preocupação foi partilhada por outros profissionais na sala, que afirmaram não só assistir a um aumento do número de adolescentes em unidades de adultos, como alertaram para os “imensos riscos” que tal circunstância acarreta.

A necessidade de formar mais pedopsiquiatras também foi amplamente referida, embora tenha sido igualmente reconhecido que para tal é preciso que existam mais centros para a infância e a adolescência.

Respondendo ao repto lançado pelos profissionais de saúde, o secretário de Estado Leal da Costa reconheceu que a resposta em ambulatório ainda é insuficiente e que “o internamento está em situação paupérrima e de depauperamento”.

Para o governante, a criação de uma unidade de internamento em Coimbra, para dar resposta à zona Centro, é necessária e urgente, mas não se comprometeu com prazos, afirmando que “em alguns momentos o óptimo é inimigo do bom”.

“Temos que encontrar algumas soluções enquanto não conseguimos chegar ao óptimo. Os internamentos em unidades de adultos é obviamente uma péssima solução em que não podemos continuar a insistir”, afirmou.

Como tal, lançou um desafio aos especialistas, no sentido da “criação de enfermarias próprias para adolescentes”.

“Estou a pensar numa solução transitória, em vez do internamento em unidades de adultos”, sublinhou Leal da Costa. O relatório apresentado indica que em Portugal existem apenas 24 camas de internamento psiquiátrico para crianças e jovens: 10 na zona Norte e 14 na zona de Lisboa e Vale do Tejo.

Tendo em conta esta escassez, o relatório refere que muitos casos acabam por ser internados noutras estruturas, nomeadamente em serviços pediátricos e psiquiátricos.

Relativamente às duas unidades especializadas existentes no país (uma em Lisboa e outra no Porto), “verifica-se, em ambas, uma alarmante incapacidade das estruturas da comunidade (quer famílias quer instituições) em gerirem adequadamente os casos mais sensíveis, endossando-os mais frequentemente aos serviços de urgência com frequente pedido de internamento”.

O relatório revela ainda que a região do Porto referenciou mais primeiros surtos psicóticos, enquanto a região de Lisboa e Vale do Tejo registou um aumento de tentativas de suicídio, oriundas sobretudo de classes sociais médias e médias/altas.

Esta mesma unidade de Lisboa assinalou também um aumento de pressão no Serviço de Urgência no último trimestre de 2013, muito superior ao tradicional – de Maio a Julho.

Alteração da composição
O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida vai contar com um representante da Ordem dos Farmacêuticos, alteração que...

Esta alteração da composição do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) é proposta num projecto de lei dos partidos PSD, PS e CDS-PP, que justificam a mudança com o facto de a área farmacêutica ser uma daquelas em que se “colocam as mais variadas questões éticas, até pelo constante acesso científico a novos meios de diagnóstico e de tratamento de doenças”.

Actualmente, o CNECV é composto por “seis pessoas de reconhecido mérito que assegurem especial qualificação na reflexão ética suscitada pelas ciências da vida, eleitas pela Assembleia da República”.

Fazem ainda parte do Conselho “oito pessoas de reconhecido mérito que assegurem especial qualificação no domínio das questões da bioética”, designadas pelas Ordens dos Médicos, dos Enfermeiros, dos Biólogos, dos Advogados, pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a Academia das Ciências de Lisboa, o conselho médico-legal do Instituto Nacional de Medicina Legal e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

O CNECV conta ainda com três pessoas de “reconhecido mérito científico nas áreas da biologia, da medicina ou da saúde em geral e das ciências da vida e duas pessoas de reconhecido mérito científico nas áreas do direito, da sociologia ou da filosofia, todas designadas pelo Governo”.

Na justificação do projecto de lei, é recordado que a composição do CNECV foi sendo paulatinamente alargada”, passando a incluir membros designados pelas Ordens dos Biólogos e dos Enfermeiros.

Os autores do documento consideram “injustificada” a ausência de um representante da Ordem dos Farmacêuticos, tendo em conta que a actividade do CNECV “se reportar a matérias com uma importante componente de novas terapêuticas e, também, de inovação farmacológica”.

“Acresce que os farmacêuticos constituem uma das mais importantes profissões da saúde que interage quotidianamente com os cidadãos, seja ao nível da farmácia comunitária ou hospitalar ou, ainda, das análises clínicas”, lê-se no projecto de lei.

A inclusão de um representante dos farmacêuticos no CNECV responde a uma pretensão da Ordem destes profissionais que já a tinha solicitado à Assembleia da República.

Em Julho, numa carta dirigida à presidente da Assembleia da República, com conhecimento dos grupos parlamentares, o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos lamentava que na composição do CNECV não constasse um farmacêutico.

“Tal lacuna torna-se ainda mais incompreensível na medida em que o CNECV integra na sua composição membros designados pelas Ordens dos Médicos, dos Enfermeiros, dos Biólogos e dos Advogados - profissões que é certo lidam directa e diariamente com questões éticas, morais, técnicas e científicas relativas às ciências da vida”.

Estas profissões, na opinião do bastonário, não lidam com estas questões “em maior grau do que os farmacêuticos, que igualmente se deparam no seu dia-a-dia com questões desta natureza, sendo aliás muitas vezes a primeira linha de intervenção no contacto directo com os cidadãos”. Para amanhã [5 de Dezembro] está igualmente marcada a eleição de membros para o CNECV, uma vez que o mandato da actual equipa já terminou.

Estudo conclui
O tratamento de mulheres grávidas poderia evitar a infecção por VIH de 107 mil bebés anualmente na África subsaariana, revela...

O estudo, realizado pelo Guttmacher Institute e pelo Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), refere que apenas 27% dos 1,4 milhões de mulheres grávidas infectadas com o vírus da SIDA naquela região, que inclui Moçambique e Angola, recebem medicamentos que protegeriam a sua saúde e evitaria a transmissão aos recém-nascidos.

Como resultado, 115.000 crianças são infectadas com VIH anualmente durante a gravidez, número que poderia ser reduzido em 93%, para apenas oito mil, se fossem prestados cuidados de saúde adequados.

Segundo o documento, intitulado "Somar: Custos e Benefícios de Investir em Serviços de Saúde Reprodutiva" e apresentado hoje em Londres, custaria 3,1 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros) testar e tratar com medicamentos anti-retrovirais durante seis semanas todas as grávidas e recém-nascidos.

Ao todo, estima-se que 183 mil mulheres morram na África subsaariana de causas relacionadas com a gravidez, 1,2 milhões de bebés não sobrevive para além do primeiro mês, valores que podem ser reduzidos em 69 e 82%, estimam os autores.

Todavia, dar resposta a todas as necessidades de serviços de contracepção, medicamentos, acompanhamento médico e instalações médicas para grávidas implicaria gastar 17,2 mil milhões de dólares (14 mil milhões de euros), cinco vezes mais do que o valor gasto actualmente.

O estudo conclui que, globalmente, as necessidades das mulheres ao nível da saúde reprodutiva estão abaixo das necessidades, nomeadamente o uso de contraceptivos: 225 milhões de mulheres querem, mas não têm acesso a meios de planeamento das gravidezes.

"O relatório indica que existe esta necessidade substancial para mulheres que querem evitar gravidezes indesejadas. Há uma grande variedade de métodos eficientes, mas a nossa recomendação é que seja a mais variada possível", disse a presidente do Guttmacher Institute, Ann Starrs.

Susheela Singh, responsável pela investigação da mesma instituição, admitiu que estes números acompanharam o crescimento populacional, mas não só.

"Há cada vez mais mulheres querem ter famílias pequenas ou controlar a altura em que têm filhos, em particular em África", vincou.

Em Matosinhos
A associação Nomeiodonada prevê abrir no início de 2015 o “Kastelo”, um projecto pioneiro de cuidados continuados e paliativos...

“Se não fosse este prémio [BPI Capacitar] não conseguíamos abrir no primeiro trimestre de 2015, porque não tínhamos verba para o equipamento da unidade de fisioterapia. Prevemos que a entrega da obra seja feita na terceira semana de Janeiro e precisamos de pelo menos mais um mês para equipar”, disse Teresa Fraga, a enfermeira responsável pelo projecto e pelo equipamento situado no concelho de Matosinhos, distrito do Porto.

A associação foi a “grande vencedora” da 5.ª edição do prémio BPI Capacitar, ao arrecadar um quinto do valor total de 500 mil euros entregues a 25 instituições para projectos de inclusão social, depois de uma selecção de 264 candidaturas apresentadas.

Com capacidade para 30 crianças, o “Kastelo” vai acolher 22 a necessitar de cuidados continuados, quatro a precisar de cuidados paliativos (nos casos em que as doenças ou processos crónicos e incuráveis estão em fase terminal) e quatro no centro de dia, adiantou Teresa Fraga.

A responsável esclareceu ainda que foi devido a questões “legais” que as obras começaram em Abril, mais tarde do que estava previsto e que apontava a abertura do projecto no verão de 2014.

A intenção é que a unidade esteja aberta 24 horas por dia, com uma unidade de dia e outra de internamento, destinado a crianças e jovens dos zero aos 18 anos com o objectivo de servir também “para descanso do cuidador”.

“Tratar de uma criança 24 horas por dia, muitas vezes com outros filhos, é muito difícil”, justificou Teresa Fraga quando foi lançada a primeira pedra do “Kastelo”, em Novembro de 2013.

“Esta casa vai contribuir para isso. Os pais podem deixar as crianças durante um período para descansarem, podem deixar e vir buscar ao fim de semana, podem vir ao fim do dia. E estará aberta durante 24 horas por dia, portanto podem vir à hora que quiserem, de acordo com os seus horários de trabalho”, frisou a responsável na cerimónia.

Na altura, o projecto precisava de um milhão de euros para obras de reabilitação da casa e adaptação do jardim doados ao Hospital Maria Pia, que o Centro Hospitalar do Porto cedeu à Associação Nomeiodonada.

A benemérita, Marta Ortigão, deixou o legado “há 35 anos” com o objectivo de apoiar crianças doentes, explicou Teresa Fraga, a enfermeira responsável.

Câmara de Oleiros
A Câmara de Oleiros vai financiar a formação em medicina de jovens naturais do concelho que se queiram formar, tanto em...

Para o efeito, a autarquia fez um regulamento, já aprovado pelo executivo, no qual se estabelecem as regras para que os jovens naturais do concelho de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, possam beneficiar deste apoio virado para a especialidade de medicina familiar.

"Uma das condições para os jovens usufruírem deste apoio é que sejam naturais do concelho e que, após a conclusão do curso de medicina, se fixem em Oleiros, com residência permanente", disse o presidente da Câmara de Oleiro.

O regulamento estipula também que caso o jovem conclua a licenciatura e que por uma razão que não lhe possa ser directamente imputada não se possa vir a fixar em Oleiros, terá que indemnizar a câmara pelo valor do dinheiro investido.

Mas, caso o médico opte, propositadamente, por não fixar residência no concelho, além de ter que indemnizar a autarquia sobre o valor do financiamento, irá ainda sofrer outras penalizações acentuadas.

Fernando Marques Jorge referiu que o município optou por colocar esta medida do terreno, porque "sucessivamente, os médicos colocados no centro de saúde local não ocupam as vagas". "Há mais de 30 anos que não há um médico residente no concelho de Oleiros", sublinhou.

O autarca explicou ainda que, neste momento, já há dois jovens interessados neste apoio do município que, em números redondos, irá rondar os 30 mil euros por ano a cada beneficiário. "A câmara avança com o financiamento, sendo que parte dele será a fundo perdido (cerca de 40%) e outra parte reembolsada (60%) quando o jovem já estiver a exercer medicina", referiu.

Segundo o presidente da Câmara de Oleiros, com esta decisão pretende não só resolver uma questão fundamental para o concelho (a presença de médico), como também fixar jovens. "Esta é uma medida pioneira e inédita de fixar médicos e jovens no concelho, nunca foi feito em Portugal", concluiu o autarca.

“Portugal – Saúde Mental em Números 2014”
O número de vítimas mortais em acidentes de viação com substâncias psicotrópicas no organismo, nomeadamente álcool e drogas,...

O relatório do Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que será hoje apresentado em Lisboa, refere que, entre 2009 e 2013, o número de vítimas mortais em acidentes de viação com resultados positivos no rastreio para a presença de substâncias psicotrópicas aumentou, representando 11,2% dos rastreios feitos no ano passado pelo Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses (IMLCF).

A combinação de álcool e droga é mais frequente nestas vítimas mortais em acidentes de viação, atingindo os 53,8%, refere o documento.

Em 2013, foram identificadas 26 vítimas mortais de acidente de viação (condutor do veículo) com substâncias psicotrópicas no organismo, detectadas por autópsia no IMLCF.

Destas 26 vítimas mortais, 11,5 por cento tinham canabinóides no organismo, 26,9% opiáceos, 3,8% cocaína e metabolitos e 3,8% várias drogas.

Em 2012, registaram-se 154 óbitos com suspeita de suicídio, dos quais 23 deram positivo para etanol, quatro para canabinóides, quatro para opiáceos e três para cocaína.

Os autores do documento identificaram, em 2012, 2.288 óbitos por doenças atribuíveis ao álcool.

No mesmo ano, foram ainda registados 93 óbitos atribuídos a perturbações mentais e comportamentais devidas ao uso de álcool.

Direcção-Geral da Saúde
Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas, doenças que mais contribuem para anos de vida perdidos, a...

De acordo com o relatório, que cita o 1º Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental divulgado em 2013, as perturbações psiquiátricas afectam mais de um quinto da população portuguesa. Com os valores mais altos de prevalência anual destacam-se as perturbações da ansiedade (16,5%) e as perturbações depressivas (7,9%).

"Em comparação com outros países ocidentais, Portugal apresenta dos mais altos valores de prevalência de perturbações psiquiátricas (22,9%), apenas comparáveis com a Irlanda do Norte (23,1%) e com os EUA (26,4%).

Reportando-se aos dados mais recentes disponíveis sobre os anos perdidos de vida saudável, relativos a 2010, o relatório revela que as doenças psiquiátricas representaram 11,75% da carga global de doença, logo atrás das doenças cérebro-cardiovasculares (13,74%) e com mais peso do que as doenças oncológicas (10,38%).

Em relação à carga de morbilidade, quantificada através dos anos vividos com incapacidade, as perturbações mentais e do comportamento constituem um "motivo acrescido de preocupação" face ao valor apurado (20,55%), em relação às doenças que se lhe seguem: respiratórias (5,06%) e diabetes (4,07%).

Quanto à taxa de mortalidade por suicídio, o relatório aponta para um aumento em 2012, último ano com dados disponíveis.

Entre 2008 e 2012, esta taxa variou entre 9,7 e 10,1 por 100 mil habitantes, sendo que os valores mais expressivos se verificam na faixa etária acima dos 65 anos, com uma taxa de 21,1 casos por 100 mil habitantes.

O relatório sublinha, contudo, a existência de "fortes indícios de sub notificação" do suicídio como causa de morte, devido ao grande número de mortes por "causa indeterminada", uma realidade que deverá mudar em 2014, com a entrada em vigor em Janeiro do sistema SICO (Sistema de Informação de Certificados de Óbito), que permite conhecer dados mais actualizados e mais rigorosos.

O relatório da Direcção-Geral da Saúde revela ainda que as equipas comunitárias de saúde mental em Portugal continuam num patamar de desenvolvimento inferior ao dos restantes países da Europa Ocidental, considerando que o modelo de financiamento e composição continua a ser um dos maiores obstáculos à evolução do funcionamento dos serviços.

"Enquanto este aspecto não se modificar, a intervenção psicofarmacológica tenderá a continuar a ser a resposta predominante, mesmo nas situações em que não está particularmente indicada".

Portugal é também um dos países europeus com maior consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, sendo o alprazolam e o lorazepam as duas substâncias que mais se destacam e que integram o subgrupo das benzodiazepinas com maior potencial de induzirem tolerância e dependência.

Estas substâncias têm registado acréscimos anuais de consumo, contrariando a tendência verificada no resto da União Europeia, pelo que o relatório recomenda uma "análise da prática sobre a prescrição e utilização destes fármacos".

O documento aponta ainda para a necessidade de reforçar e descentralizar médicos especialistas, quer para adultos quer para crianças e adolescente

Direcção-Geral da Saúde
Portugal precisa de mais camas de internamento psiquiátrico para crianças e jovens, dado existirem apenas 24 para todo o país,...

O documento aponta para a necessidade de mais camas no sector público destinadas ao grupo de crianças e jovens, uma vez que existem apenas 10 para a zona Norte e 14 para a zona de Lisboa e Vale do Tejo.

“Tendo em conta a escassez de camas nas duas estruturas de psiquiatria da infância e adolescência com unidades de internamento”, o relatório refere que muitos casos acabam por ser internados noutras estruturas, nomeadamente em serviços pediátricos e psiquiátricos.

Relativamente às duas unidades especializadas existentes no país (uma em Lisboa e outra no Porto), “verifica-se, em ambas, uma alarmante incapacidade das estruturas da comunidade (quer famílias, quer instituições) em gerirem adequadamente os casos mais sensíveis, endossando-os mais frequentemente aos serviços de urgência com frequente pedido de internamento”.

O relatório revela ainda que a região do Porto referenciou mais primeiros surtos psicóticos, enquanto a região de Lisboa e Vale do Tejo registou um aumento de tentativas de suicídio, oriundas sobretudo de classes sociais médias e médias/altas.

Esta mesma unidade de Lisboa assinalou também um aumento de pressão no Serviço de Urgência no último trimestre de 2013, muito superior ao tradicional – de Maio a Julho.

Estudo conclui
Uma nova substância, testada em ratos, revelou-se promissora na recuperação de funções perdidas na sequência de lesões na...

O composto, denominado ISP, que actua nos péptidos (biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos) que se produzem no interior das células, ajudou roedores, com lesões graves na medula espinal, a recuperarem a capacidade de urinar ou fazer movimentos.

Os cientistas que encabeçaram a investigação, da Case Western Reserve University, em Cleveland, nos Estados Unidos da América, ressalvam que são necessários mais estudos, apesar de os resultados representarem uma esperança para futuros tratamentos em humanos.

O trabalho procurou formas de resolver o dilema de quando as fibras nervosas da medula espinal estão danificadas e os sinais emitidos pelo cérebro não chegam aos músculos abaixo da zona lesionada.

As fibras nervosas tentam atravessar a área lesionada e ligar-se a outras fibras, mas ficam encurraladas devido aos proteoglicanos, proteínas que existem no interior das células.

A nova substância, ISP, foi concebida para agir no receptor das biomoléculas na superfície das células nervosas. Tal como um interruptor, “apaga” a resposta aos proteoglicanos, que causam o bloqueio.

Na experiência, 26 ratos com lesões graves na medula espinal foram tratados com ISP durante sete semanas. A maioria, 21, recuperou uma ou mais de três funções: capacidade de movimento, de equilíbrio e de controlo do ato de urinar.

Alguns dos roedores conseguiram readquirir as três funções, outros uma ou duas, e cinco nenhuma. Os investigadores não conseguiram perceber por que os animais recuperaram uma determinada função, e não outra.

Segundo o estudo, o novo composto induziu o aparecimento de ramificações de fibras nervosas, que controlam o movimento abaixo na zona lesionada.

O mecanismo pode ter tido efeito, de acordo com os cientistas, no reforço dos níveis de um importante neurotransmissor, a serotonina, entre as poucas fibras nervosas que não ficaram danificadas.

Estudo divulga
Um em cada quatro doentes com esclerose múltipla foram obrigadas a mudar o tipo de trabalho que realizavam devido à doença,...

Realizado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), o estudo analisou o impacto da esclerose múltipla (EM) nos doentes e seus cuidadores, tendo inquirido 400 doentes, 66% dos quais mulheres, com uma média de idades de 44,4 anos, e 70 cuidadores, com uma média de idades de 47,7 anos.

O estudo “‘EMpower’: Dar força aos doentes com Esclerose Múltipla”, refere que a doença “é um assunto de família, com um impacto significativo nos cuidadores informais”.

Adianta que 16,2% dos cuidadores inquiridos prestam cuidados durante 24 horas e 23,6% durante uma a duas horas por dia.

Quase 29% disseram ter alterado o tipo de trabalho realizado, o que, para 84,2% dos casos, resultou numa diminuição dos seus rendimentos, e 11% afirmaram que tiveram de reduzir as horas de trabalho.

Para 61,7% dos doentes, tarefas habituais como o trabalho, o estudo ou o lazer são feitas com muita dificuldade, e 30,7% afirmam ainda ter problemas em vestir-se ou tratar da sua higiene pessoal, refere o estudo, divulgado no Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla que se assinala hoje.

Em declarações, a secretária-geral da SPEM, Manuela Neves, destacou uma conclusão do estudo, segundo a qual nenhum cuidador classifica a respectiva qualidade de vida como muito boa, sublinhando que mais de 22% a classificam como má ou muito má.

Estes resultados “espelham toda a realidade da esclerose múltipla em Portugal”, dos doentes e dos cuidadores, afirmou.

Isto acontece porque “a esclerose múltipla é uma doença cujos pacientes estão dependentes em larga escala de familiares ou de pessoas próximas que cuidem deles e há um afastamento muito grande daquilo que é a obrigação do Estado de apoiar estes doentes, daquilo que é o apoio verificado na realidade”, explicou Manuela Neves.

“Quem tem que apoiar um doente, por exemplo, um filho ou um irmão, acaba por ter de deixar um bocadinho para trás aquilo que é a sua realização pessoal” e profissional em “prol da necessidade de ajudar alguém que precisa de uma forma premente”.

Para Manuela Neves, estes resultados concretizam o conhecimento que a associação tem, através dos relatos recebidos de doentes, e devem ser alvo de uma reflexão profunda.

“É alarmante pensar que uma pessoa com esclerose múltipla vive com menos de 500 euros por mês (como relataram 21% dos inquiridos) e que mais de 60% dos cuidadores não tem apoios na prestação de cuidados”.

Os autores da investigação referem que o estudo pretendeu obter uma “fotografia” da situação actual em Portugal sobre a vivência destes doentes, “pois a falta de dados sobre a maioria das doenças é um problema crónico” no país.

“Só assim será possível delinear medidas de melhoria a implementar e estudar o seu impacto no futuro”, sublinhou Sofia de Oliveira Martins, da Faculdade de Farmácia.

A EM é uma doença crónica e progressiva e manifesta-se geralmente em adultos jovens (20 a 40 anos), sendo mais frequente nas mulheres.

 

Doentes esperam mês e meio por primeira consulta

Os doentes com esclerose múltipla esperam, em média, um mês e meio pela primeira consulta da especialidade após o diagnóstico e a maioria apenas tem duas consultas por ano, revela o mesmo estudo.

O estudo EMpower: “Dar força aos doentes com Esclerose Múltipla”, realizado pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), analisou o impacto da doença nos doentes e seus cuidadores. O estudo revela dificuldades no acesso destes doentes aos cuidados de saúde, esperando em média um mês e meio pela primeira consulta especializada após diagnóstico.

Mais de 60% dos doentes apenas tem duas consultas por ano, uma situação que a secretária-geral da SPEM, Manuela Neves, atribui à “falta ou deficiente distribuição de especialistas” nos hospitais públicos. O estudo refere também que 14% dos inquiridos dizem ter dificuldade em obter medicamentos para o tratamento da doença.

As principais causas apontadas para esta dificuldade de acesso foram “medicamento não disponível no hospital” (60%), “medicação insuficiente para os dias de tratamento” (16%) e “dificuldade na marcação de consulta” (7%).

A responsável da SPEM disse que a espera para a consulta tem consequências, sobretudo, para “quem está com um surto e pode ficar um mês e meio sem tratamento”.

Relativamente à medicação, Manuela Neves explicou que, por uma questão de diminuição de ‘stock’ ou devido a uma menor quantidade de medicamentos nos hospitais, muitos doentes que vão levantar a medicação à farmácia hospitalar não trazem a quantidade suficiente. “A medicação que deviam trazer para um mês trazem para 15 dias ou para uma semana porque o hospital não tem quantidade suficiente”, elucidou.

Os autores do estudo afirmam que “os resultados demonstram uma realidade preocupante do impacto social da doença”, sublinhando que a ocorrência de surtos nos 400 doentes que participaram no estudo levou a que estes ficassem de baixa em média 20 dias no último ano.

O tratamento da esclerose múltipla tem como principais objectivos controlar a ocorrência de surtos e a progressão da incapacidade do doente, acrescentam.

Manuela Neves disse que este “é o maior estudo epidemiológico” realizado em Portugal nesta área.

“Tínhamos muita falta de um trabalho desta natureza”, cujos resultados permitirão a quem está no terreno (técnicos de saúde e instituições) ter “uma actuação e um olhar diferente para aquilo que são as necessidades mais prementes” dos doentes e cuidadores.

Este estudo também é importante para “alertar as pessoas, o Ministério da Saúde, a Segurança Social e a sociedade civil de que existem estas situações dramáticas de doentes de esclerose múltipla e suas famílias que precisam urgentemente de ser apoiadas”, sublinhou Manuela Neves.

A EM é uma doença crónica e progressiva e manifesta-se geralmente em adultos jovens (20 a 40 anos), sendo mais frequente nas mulheres.

Estima-se existirem cerca de 5 mil doentes em Portugal, estando em tratamento cerca de 3.500.

4 de Dezembro - Dia Nacional
Assinala-se hoje, o Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla, este ano uma data especial já que
Esclerose Múltipla

A existência de um Dia dedicado à Esclerose Múltipla (EM) representa “uma enorme ‘ajuda’ na divulgação da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), da doença e das necessidades e apoios de que carece”, explica Manuela Duarte Neves, Secretária Geral da SPEM, acrescentando que, “normalmente nesta data os meios de comunicação dão-nos uma atenção que não temos durante o resto do ano e a realização de actividades são um bom pretexto para o aumento da visibilidade externa, tanto no que diz respeito à Sociedade Civil como da parte de entidades públicas das áreas da saúde e social”.

A EM é uma doença desmielinizante crónica, inflamatória e degenerativa, que afecta o Sistema Nervoso Central (cérebro e espinal medula) através do ataque e destruição da mielina, a substância que cobre os nervos. “É a rapidez dos impulsos nervosos que permite o fluir normal de funções como o equilíbrio, andar, falar, controlo da bexiga, visão, etc.”, descreve fonte médica da SPEM.

Assim, para assinalar o Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla a 4 de Dezembro (o Dia Mundial comemora-se na última quarta-feira do mês de Maio) a SPEM realiza várias actividades um pouco por todo o país a partir das várias delegações.

“Aqui em Lisboa, teremos um lanche convívio onde os utentes do Centro de Actividades Ocupacionais que farão um recital de poesia, sob a coordenação da actriz Amélia Videira”, diz Manuela Duarte Neves. É também neste dia que a Associação de doentes comemora 30 anos de existência. “Uma data importante, pelo longo caminho percorrido pela instituição e pelo papel que já consolidou na sociedade portuguesa”, refere a responsável. Um papel em luta e defesa do bem-estar dos doentes portadores desta doença ainda sem cura, mas com tratamento que permite atrasar a progressão da doença na maioria dos casos, sobretudo se forem iniciados logo nas primeiras manifestações.

“Felizmente, com os progressos da medicina, os tratamentos vão sendo cada vez mais eficazes. Deste modo, podemos afirmar que, o diagnóstico de EM nos nossos dias é substancialmente diferente do que acontecia à 20 anos atrás, em que representava, quase sempre, uma notícia de incapacidade futura e maior sofrimento”, esclarece o especialista médico da Associação, sublinhando que, são muitos os doentes que fazem a sua vida perfeitamente normal, a nível de trabalho, família e relações sociais.

Sabe-se que a EM afecta mais mulheres do que homens, na proporção de 3 para 1, sendo que o diagnóstico surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade. Segundo o especialista “esta doença neurológica é a segunda maior causa de incapacidade nos jovens adultos, logo a seguir aos acidentes de viação”.

Nas comemorações da efeméride, Manuela Duarte Neves destaca como ‘ponto alto’ das comemorações a realização do XI Congresso, na Faculdade de Farmácia, em Lisboa, que este ano debaterá o tema do ‘Acesso’ na mais alargada perspectiva. Ou seja, sob o prisma do medicamento, médico, inovação científica, barreiras arquitectónicas, etc. “O tema foi-nos proposto para ser desenvolvido, durante o ano de 2014, pela Federação Internacional de Esclerose Múltipla, de que a SPEM é membro. Teremos também, no Congresso, a presença de ilustre entidades portuguesas na área da saúde, como é o caso do Senhor bastonário da Ordem do Médicos do Senhor Director Geral de Saúde”.

Sintomas e diagnóstico
Os sintomas mais comuns da doença são “a visão enevoada ou dupla, fraqueza nas pernas e braços, desequilíbrios, alterações cognitivas e fadiga”. Porém, as manifestações variam muito de pessoa para pessoa, não só porque cada caso é um caso, mas porque “o sistema imunitário ataca a mielina e existe, em paralelo, um processo degenerativo de causas ainda desconhecidas, pelo que ficam comprometidas diferentes funções consoante a localização das lesões. Estes factos fazem com que cada doente tenha manifestações diferentes ao longo da vida, apesar da doença ser a mesma”, explica o especialista da SPEM.

A evolução da doença é imprevisível e algumas pessoas atravessam períodos de surto, que correspondem ao agravamento de um ou mais sintomas, e voltam a recuperar quase na totalidade. “Esta é a forma de EM por Surto Remissão, a mais comum, mas em alguns doentes, o padrão é progressivo logo desde o início ou agrava-se com o passar do tempo, ditando a acumulação de incapacidade e consequente perda de autonomia”, comenta o responsável médico.

Habitualmente o diagnóstico da EM é feito em média entre os 20 e os 40 anos. “Realiza-se com base nos sintomas e história clínica da pessoa e com recurso a exames complementares: Ressonância Magnética Nuclear (RMN), Estudo de Potenciais Evocados (visuais, auditivos e sensitivos) e Punção Lombar”.

Uma vez que a EM pode manifestar-se com sintomas idênticos aos de outras patologias do Sistema Nervoso Central, o diagnóstico terá de ser feito excluindo primeiro outras doenças. “Isto acontece por várias razões, nomeadamente a doença não ser muito prevalente, logo confundida com outras doenças de sintomatologia semelhante (como o caso da depressão ou problemas da coluna) e a pessoa desvalorizar os primeiros sintomas”, alerta o especialista.

Existem ainda casos em que a EM é diagnosticada ‘por acaso’, quando uma pessoa faz uma RMN por outros motivos e são descobertas lesões desmielinizantes características da doença, embora não seja o mais frequente. “O normal é serem determinados sintomas que forçam a ida ao médico de família ou de outra especialidade”, diz o mesmo especialista.

Dificuldades e constrangimentos dos doentes
“São de vária ordem as dificuldades com que se debatem os doentes de EM. Desde logo, trata-se de uma doença de gente jovem e que pode ser incapacitante”. Por essa razão existe uma elevada prevalência (número de casos) de doentes que nunca teve uma vida profissional activa, ou se a teve foi por pouco tempo. “Desta situação resulta uma carreira contributiva curta ou inexistente e, logo, pensões de valores reduzidíssimos”.

Também no que toca à aquisição de medicamentos, para além dos específicos para a doença que são 100% gratuitos para os doentes, é muito vulgar que os doentes tenham que recorrer a medicação de outras especialidades, como por exemplo, urologia ou psiquiatria. “Nestes casos, não há qualquer benefício adicional para o doente, por ter EM”.

Além do mais, a Secretária Geral da SPEM refere que, “importa não perder de vista que as necessidades de um doente que esteja incapacitado são maiores e substancialmente mais caras. Refiro-me a situações de necessidade de apoio domiciliário, seja para higiene pessoal, seja para higiene de habitação, tratamento de roupas e confecção de refeições. Por outro lado, alguns doentes têm necessidades especiais decorrentes da própria condição de incapacidade, das quais resultam graves constrangimentos económicos”.

É verdade, infelizmente, existem constrangimentos em função das dificuldades económicas do país: “Desde logo, na quantidade de medicamento disponibilizado pelos hospitais, que obriga o doente a várias deslocações à farmácia hospitalar, tantas vezes com enorme sacrifício económico e de saúde; Por outro lado, no que toca ao transporte de doentes, cada vez mais dificultado, o que acarreta, muitas vezes, a absoluta impossibilidade de deslocação dos doentes; Também pelo facto do elevado número de doentes e reduzido número de neurologistas, que impedem que as consultas a todos os doentes se processem a níveis convenientes”.

Manuela Duarte Neves explica que “chegou a haver uma tentativa, sobretudo da parte de alguns hospitais do norte, para terem apenas um medicamento disponível para todos os doentes, independentemente da decisão de prescrição do médico. Tudo isto para permitir aquisições aos laboratórios mais competitivas, sem a atenção devida à condição de cada doente”.

Graças à intervenção da SPEM junto dos poderes políticos – um dos papéis essenciais da Associação – na defesa dos direitos dos doentes de esclerose múltipla, a decisão dos hospitais “retrocedeu” e continuam a ser disponibilizados os medicamentos que existem no mercado. São sete os medicamentos disponíveis no Sistema Nacional de Saúde para a esclerose múltipla e compete ao médico que segue cada doente a prescrição do medicamento específico e adequado a cada doente.

Incidência e prevalência em Portugal
Existem poucos estudos nesta área e falta um estudo epidemiológico nacional. A estimativa aponta para que a prevalência se situe acima dos 8 mil doentes com EM.

A informação mais recente sobre a prevalência tem por base a tese de doutoramento do Prof. João Correia de Sá, intitulada ‘Captura-recaptura como método epidemiológico a aplicar à Esclerose Múltipla’. Citando o autor: "A taxa bruta de prevalência estimada, 46,3/100.000, confirma a hipótese formulada, segundo a qual a frequência da EM em Portugal havia sido previamente muito subestimada (pág. 191). Este valor sobe ligeiramente para 49,1/100.000, quando se procede ao ajuste directo à população básica europeia o que é conveniente para permitir estabelecer comparações fidedignas com outros estudos." (pág. 147, 2014).

Em 2011, o site da SPEM e o jornal Público fizeram referência ao estudo ‘EMCoDe: Esclerose Múltipla - Conhecer e Desmistificar’ da autoria do Grupo de Estudos de Esclerose Múltipla, com o apoio da Merck Serono. O estudo foi feito através de entrevistas por telefone a 20.057 indivíduos, uma amostra aleatória representativa da população portuguesa. Foram encontrados 22 doentes confirmados. Extrapoladas para a população nacional com mais de 18 anos, as contas apontam para 4.287 portugueses afectados com esta doença degenerativa. São, na maioria, mulheres: 3.163 contra 1.171 homens.

“Uma vez que se estima que actualmente mais de 5 mil doentes com EM estejam em tratamento, a prevalência deverá ser maior que os dados anteriores. Coincidente com esta informação, encontra-se o estudo sobre ‘Acesso a Tratamentos Inovadores na Esclerose Múltipla na Europa’, realizado por Gisela Kobelt e Frida Kasteng, em 2009. Segundo estas autoras, a prevalência da EM em Portugal é de 83,8/100.000, com base numa extrapolação e ajuste com os dados epidemiológicos de Espanha”, esclarece a especialista.

Com base nos dados da Organização Mundial da Saúde e do Atlas da EM existem no mundo cerca de 2.300.000 pessoas com EM.

Fontes:
www.spem.pt/esclerose-multipla/o-que-e-a-esclerose-multipla
www.msif.org/about-ms/what-is-ms
www.atlasofms.org

Estudos:
2009 – Access to innovative treatments in Multiple Sclerosis in Europe
Maior estudo de sempre descobre genes associados à esclerose múltipla
2011 - EMCode: Esclerose Múltipla – Conhecer e Desmistificar (GEEM)
Esclerose Multipla - conhecer e desmistificar
Maior estudo de sempre descobre genes associados à esclerose múltipla
www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/maior-estudo-de-sempre-descobre-genes-associados-a-esclerose-multipla_1507215
2014 - Captura-recaptura como método epidemiológico a aplicar à Esclerose Múltipla (Prof. João Correia de Sá)
Tese - Captura-recaptura como método epidemiológico a aplicar à Esclerose Múltipla

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
3 de Dezembro - Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o termo deficiência refere-se à perda ou anormalidade

A palavra deficiente é, hoje em dia, tida como inadequada e como fator estimulante do preconceito e está então a ser substituída pela expressão “pessoa especial”.

Existem diferentes tipos de deficiências, sendo elas as deficiências visual, auditiva, motora e mental.

A declaração dos direitos das pessoas deficientes foi proclamada por uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, a 9 de dezembro de 1975. Esta declaração rege como direitos as seguintes situações:

- a “pessoa deficiente” é aquela que não consegue satisfazer pessoalmente, na totalidade ou parcialmente, as suas necessidades individuais ou sociais, devido à sua incapacidade física ou mental;

- toda a pessoa deficiente se pode reger por esta declaração, independentemente de sexo, idade, raça ou religião, sem distinção nem descriminação;

- a pessoa deficiente tem direito ao respeito pela dignidade humana, independentemente da incapacidade que possui, possuindo o direito de gozar uma vida normal e digna;

- os direitos civis e políticos são iguais aos dos restantes seres humanos;

- os cidadãos com deficiência têm direito a alteração de medidas para que consigam alcançar a melhor autonomia possível;

- as pessoas deficientes têm direito ao acesso à saúde em termos de tratamentos médicos, psicológicos e funcionais, para aumentar as suas capacidades e aptidões, de forma a melhorar a sua integração social;

- têm direito à segurança económica e social, tendo direito a, de acordo com as suas capacidades, obter e manter um emprego ou uma atividade produtiva e remunerada;

- as pessoas deficientes têm direito a viver com as suas famílias e a participar em todas as atividades recreativas e culturais, sem que sejam sujeitam a exclusão ou diferenciação;

-têm o direito à proteção no que diz respeito à exploração e discriminação;

- têm direito a apoio jurídico qualificado, sempre que necessário, para a sua proteção.

 

E quando uma criança nasce com uma deficiência ou adquire uma deficiência…?

As crianças com deficiência são encontradas em todas as culturas e sociedades, estimando-se que, mundialmente, existem cerca de 120 milhões de crianças com deficiência.

Quando se fala numa criança portadora de deficiência, temos que ter em conta que, tal como qualquer outra criança, estas necessitam de muito amor, cuidados, proteção e atenção, como todas as outras crianças. Existe ainda outra necessidade no desenvolvimento saudável da criança que é o brincar. A criança com deficiência deve brincar com outras crianças para promover a aprendizagem e o seu desenvolvimento.

A criança com deficiência deve ser inserida na comunidade, deve participar em festas e atividades comunitárias para que todos a conheçam e aprendam a lidar com as suas limitações, com o respeito que merece.

Os pais das crianças com necessidades especiais devem focalizar-se nas capacidades dos seus filhos, e não nas incapacidades, de forma a compreenderem o que trará mais autonomia e confiança à criança. Deve-se promover as potencialidades da criança, evitando comportamentos de superproteção, para uma maior libertação da mesma.

Relativamente ao acesso à educação os pais devem saber que todas as crianças têm direito a frequentar o ensino desde a pré-escola, não podendo haver recusas, na aceitação, na instituição. Este é um dever do Estado, assegurar um atendimento educacional adequado a estas crianças. Nunca uma criança com deficiência deve ser isolada ou tratada de maneira diferente, dado que esse é um dos fatores que mais interfere no atraso de desenvolvimento.

Para além dos direitos da pessoa com deficiência, as crianças com deficiência são também protegidas pelos Direitos da Criança declarados pelas Nações Unidas, sendo que, acima de tudo, temos o princípio da não descriminação, o interesse superior da criança, a sobrevivência e o desenvolvimento e o respeito pelas opiniões da criança.

“A verdadeira deficiência é aquela que prende o ser humano por dentro e não por fora, pois até os incapacitados de andar podem ser livres para voar.” Thaís Moraes

 

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortógráfico.

 

Ângela Quinteiro, Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria a exercer funções na USF Viriato, Viseu

 

 

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Estudo
O Ébola é a doença que mais preocupa os portugueses a seguir ao cancro, ficando à frente das cardiovasculares, que são as que...

Com base num inquérito realizado em outubro junto de mais de mil portugueses, o estudo pretendeu avaliar as perceções da população sobre o cancro e o investimento no seu tratamento.

À pergunta “qual a doença que mais o preocupa nos dias de hoje”, a maioria respondeu que era o cancro, mas no segundo lugar da lista de preocupações vem o Ébola e só depois doenças como as cardíacas, o VIH/Sida ou o AVC (acidente vascular cerebral).

Segundo o estudo, 63% dos portugueses referem o cancro como a doença que mais os preocupa, 10% aponta o Ébola, 5% as cardiovasculares, 4% VIH/Sida e Diabetes, 3% o AVC e 2% o Alzheimer.

Quanto às razões para considerar o cancro preocupante, mais de metade refere a mortalidade associada: 29% dizem que “não tem cura” e 25% afirmam que tem uma “taxa de mortalidade elevada”.

Para 17% a preocupação prende-se com o facto de ser uma doença difícil de tratar, para 13% com familiares que tiveram a doença e os restantes com o elevado número de casos conhecidos, bem como a evolução silenciosa desta patologia.

Entre os vários tipos de cancro, o estudo sugere que o da mama é o que mais preocupa as mulheres e o do pulmão os homens.

De uma maneira geral, os portugueses consideram-se pouco informados sobre o cancro – apenas 30% se afirma “muito informado” –, mas 29% não sabe que tipo de informação gostaria de receber sobre a doença. Os restantes insistem sobretudo na prevenção e diganóstico/rastreio.

A grande maioria dos portugueses (85%) considera que o investimento na área da saúde é “insuficiente” e 80% defendem mesmo um maior investimento do Estado no cancro, sendo que mais de metade (56%) acredita que actualmente se investe menos em oncologia do que há três anos.

No entanto, quase metade dos inquiridos (49%) tem noção de que o Estado gasta mais dinheiro nas doenças cancerígenas do que nas do coração, diabetes ou Sida.

Um dos principais problemas encontrados pelos portugueses diz respeito ao sentimento de que “não são ouvidos pelos políticos e que a saúde não é prioritária”.

As outras preocupações prendem-se com os tratamentos mais avançados, que “estão disponíveis”, mas “são demasiado caros para Portugal”, revela o estudo, indicando ainda que os “portugueses querem rapidez e equidades no acesso ao tratamento de cancro”.

Quando questionados sobre a comparação entre cuidados prestados pelo público e pelo privado, a grande maioria dos inquiridos não vê diferenças significativas, mas quem diferencia aponta sobretudo o público como sendo “melhor nos cuidados prestados” e o privado “melhor no atendimento”.

O estudo, desenvolvido por uma empresa de estudos de mercado através de 1.192 inquéritos presenciais, será divulgado hoje durante a sessão Think Tank 2014 “Pensar a Saúde – Acesso do Cidadão à Inovação Terapêutica – Oncologia”, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova.

Em caso de epidemia
O Instituto da Administração da Saúde e Assuntos Sociais da Madeira é a entidade responsável pela comunicação de doenças...

De acordo com o diploma, o Instituto da Administração da Saúde e Assuntos Sociais (IASAUDE) fica como a entidade responsável pelo "reporte ao sistema nacional de informação de vigilância epidemiológica", conhecido como SINAVE, em casos em que seja necessária a articulação com o continente.

"Compete em especial ao IASAUDE, sob a superintendência e tutela do secretário Regional dos Assuntos Sociais, coordenar as actividades de promoção da saúde e de prevenção e controlo da doença, bem como a vigilância epidemiológica, desenvolver programas de saúde e coordenar a produção de informação e divulgação adequada e exercer as funções de autoridade de saúde na região", acrescenta o decreto legislativo.

Na Amazónia
Uma equipa de três oftalmologistas e uma enfermeira do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra integrou uma missão na...

A missão humanitária, subsidiada pela Fundação Champalimaud, contou com uma equipa de Coimbra, uma de Hyderabad, na Índia, e outra de São Paulo, no Brasil, tendo percorrido diversas localidades de difícil acesso na região de Baixo Amazonas (norte do Brasil), onde realizaram entre "400 a 500" cirurgias oftalmológicas, disse à agência Lusa o director da Faculdade de Medicina e participante na iniciativa, Joaquim Murta.

Para além de cirurgias às cataratas e “pterigium” (crescimento anómalo de tecido sobre a córnea), a equipa disponibilizou "óculos gratuitos" às populações, referiu.

"Andámos em diferentes localidades, no meio da selva amazónica", indo sempre, através de barco, a zonas onde as pessoas não recebiam "nenhuns cuidados oftalmológicos".

Nos locais onde operou, "a principal doença é o abandono", tendo encontrado pessoas que "já estavam cegas há dez anos", devido ao não tratamento das suas doenças, disse à agência Lusa o médico de Coimbra.

O bloco de operações era montado de madrugada, "com todo o material necessário", com os doentes já preparados uma semana antes por uma equipa brasileira, contou.

Segundo Joaquim Murta, "a grande maioria das cirurgias correu muito bem", estando agora a equipa a aguardar dados dos pacientes, que estão a ser acompanhados no terreno.

"Foi uma experiência muito enriquecedora", frisou Joaquim Murta.

A equipa percorreu os rios Solimões e Amazonas e esteve em localidades como Urucará, Parintins, Barreirinha e Maués, no norte do Brasil.

Para além de Joaquim Murta, a equipa do CHUC contava com os médicos João Póvoa e Filipe Rito e a enfermeira especialista em oftalmologia, Rosário Fernandes.

Segundo especialistas
Segundo especialistas reunidos no simpósio “Balanço energético, o caminho da saúde pública”, está a aumentar a ênfase no estudo...

Podemos definir "balanço energético" como a relação entre a energia consumida (as calorias que absorvemos através da comida e da bebida) e a energia gasta (as calorias que o nosso corpo utiliza para as necessidades diárias de energia).

Segundo os especialistas participantes no simpósio, os factores que contribuem para o balanço energético são tanto genéticos como ambientais. “Entre os factores ambientais mais importantes destaca-se a dieta e o exercício, contudo as horas de sono, o stress, a temperatura ambiental, e em certa medida a micriobiota, também podem contribuir para este equilíbrio” aponta a Prof. Dra. Dolores Corella, da Unidade de Genética e Epidemiologia Molecular do Departamento de Medicina Preventiva e CIBERobn da Universidade de Valencia (Espanha). 

Peritos identificam
Os preços elevados e a dificuldade de introdução e aprovação no mercado português são os principais obstáculos ao acesso dos...

Estas são as principais conclusões de um grupo de peritos convidado pela Escola Nacional de Saúde Pública para tentar identificar as principais limitações no acesso aos medicamentos oncológicos inovadores e estudar alternativas e que serão apresentadas hoje durante o Think Tank “Pensar a Saúde. Acesso do cidadão em Portugal à inovação Terapêutica – Oncologia”.

Ana Escoval, professora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e coordenadora do “Think Tank”, explica que a falta de acesso à inovação terapêutica em oncologia se deve a vários factores, entre os quais “o elevado preço dos medicamentos inovadores e a incapacidade de gerir a entrada de novas tecnologias terapêuticas face ao contexto económico e financeiro do país”.

Em Portugal, durante o ano de 2013, a despesa com medicamentos em meio hospitalar foi de 974,8 milhões de euros, sendo que os imunomoduladores, os antivíricos e os cititóxicos representaram 58,8% da despesa, segundo dados do Infarmed.

O grupo de reflexão envolvido no estudo aponta igualmente como um dos principais obstáculos ao acesso a terapêutica inovadora “a demora na aprovação dos fármacos - o estudo de avaliação económica, formulário nacional hospitalar, comissão de farmácia e terapêutica, as barreiras administrativas na aprovação e aplicação dos ensaios clínicos”.

Em Portugal, entre 2007 e 2014, continuam a verificar-se atrasos nas avaliações e aprovações das novas terapêuticas no mercado hospitalar, criando barreiras no acesso rápido a tratamentos inovadores.

Os medicamentos oncológicos têm um tempo até aprovação superior aos restantes medicamentos hospitalares, sendo que a mediana de tempo até deferimento da aprovação prévia era de 24,8 meses, segundo os dados mais recentes da Apifarma, relativos a 2011.

As soluções propostas pelos especialistas passam pelo envolvimento dos cidadãos (através das associações de doentes) no processo de tomada de decisão, pela adopção de um modelo de financiamento que siga o doente, pela centralização da decisão terapêutica em centros de referência e pela discussão e avaliação prévia de casos.

Os especialistas sugerem ainda a alteração da forma de relacionamento do setor público com as indústrias da saúde, numa óptica de parceria e compromisso desde a investigação às relações comerciais, passando pelo acesso à informação e prestação de contas de todos os intervenientes para melhorar as tomadas de decisão.

Este estudo surge da necessidade de encontrar soluções viáveis para aceder a terapêuticas que têm contribuído para avanços no tratamento do cancro: dados de investigação estimam que os novos medicamentos contribuíram em cerca de 50%-60% para o aumento das taxas de sobrevivência do cancro desde 1975.

O problema é que os níveis de incidência de cancro continuam a aumentar devido ao envelhecimento da população, colocando esta doença no topo das prioridades nos sistemas de saúde de todo o mundo.

Paralelamente, aumentam também as novas opções de tratamento, só que este aumento levanta preocupações sobre a capacidade de financiamento público e privado dos sistemas de saúde, tornando premente “reflectir como se pode garantir o acesso”, indica o estudo.

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