Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência
Uma equipa de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência descobriu que uma bactéria benéfica do intestino produz açúcar...

Segundo a investigação, liderada por Miguel Soares, o parasita da malária, o "Plasmodium", expressa uma molécula de açúcar, a "alfa-gal", que também se manifesta na superfície de uma estirpe da bactéria "E.coli", que existe também no intestino humano saudável. A molécula induz uma "resposta imune muito forte que protege contra a malária", afirmou à Lusa o investigador-principal.

Numa experiência com ratinhos, Bahtiyar Yilmaz, aluno do programa de doutoramento do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) no laboratório de Miguel Soares, verificou que a expressão da "alfa-gal" pelas estirpes benéficas de "E.coli", quando existentes no intestino, "é suficiente para induzir a produção de anticorpos naturais anti-alfa-gal, que reconhecem a mesma molécula de açúcar na superfície do Plasmodium", refere uma nota do instituto.

Os anticorpos ligam-se à molécula de açúcar na superfície do parasita imediatamente após a sua propagação à pele através do mosquito que transmite a malária, explica o IGC, acrescentando que o parasita morre antes de conseguir sair da pele.

"O efeito protector é tal que, quando presentes em altos níveis no momento da picada do mosquito, os anticorpos anti-alfa-gal conseguem impedir que o parasita transite da pele para a corrente sanguínea, e, ao fazê-lo, bloqueiam a transmissão da malária", assinala a mesma nota.

Na experiência, quando eram vacinados contra uma molécula sintética de açúcar "alfa-gal", que, de acordo com os investigadores, é fácil de fabricar a custos baixos, os ratinhos produziam "elevados níveis" de anticorpos anti-alfa-gal "altamente protectores contra a transmissão de malária por mosquitos".

A produção de uma vacina deste tipo seria, para Miguel Soares, promissora, sobretudo para crianças das regiões endémicas da malária, com menos de 3 anos, que "são muito susceptíveis à doença", porque, a seu ver, provavelmente "não têm uma resposta imunitária" tão vincada como a dos adultos.

A equipa chefiada por Miguel Soares, em colaboração com uma outra, dos EUA e do Mali, concluíra que numa região endémica de malária, no Mali, pessoas que apresentam níveis mais baixos de anticorpos contra a molécula de açúcar "alfa-gal" são também as mais propensas a ter a doença.

O estudo, que é publicado na revista Cell, foi realizado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, em parceria com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, o Instituto Nacional para as Alergias e Doenças Infecciosas de Maryland, nos EUA, e as universidades de Melbourne (Austrália), Chicago (EUA) e de Bamako (Mali).

O trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelo Conselho Europeu de Investigação e pala Fundação Bill e Melinda Gates.

“Portugal – Saúde Mental em Números 2014”
Especialistas em saúde mental alertaram para o excesso de prescrição e prescrição errada de psicofármacos, considerando que...

O alerta foi deixado durante a apresentação do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2014”, que revela que “a intervenção psicofarmacológica” é a “resposta predominante, mesmo nas situações em que não está particularmente indicada”.

O psiquiatra Álvaro de Carvalho, coordenador do Programa Nacional para a Saúde Mental e responsável pelo relatório, manifestou-se “muito preocupado” com o facto de “pessoas com perturbações do humor consumirem mais benzodiazepinas [ansiolíticos] do que anti-depressivos”, quando deveria ser ao contrário.

Dados de 2013 relativos ao consumo de psicofármacos revelam que entre os entrevistados com “qualquer perturbação de humor”, 50% das mulheres e 31,8% dos homens tomaram benzodiazepinas, enquanto apenas 38,2% de mulheres e 25,5% dos homens tomaram anti-depressivos.

O relatório indica ainda que o consumo de ansiolíticos desceu em 2011, mas depois voltou a subir. “Portugal é o único país em que o consumo de benzodiazepinas continua elevado e a subir”, alertou Álvaro de Carvalho.

O director do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, Daniel Sampaio, considerou também que o “dado mais preocupante é o uso de ansiolíticos em perturbações de humor”, já que estes são “fármacos geradores de dependência”. “O consumo de psicofármacos tem que ser avaliado”, considerou.

Segundo o relatório, Portugal é um dos países europeus com maior consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, sendo o alprazolam e o lorazepam as duas substâncias que mais se destacam e que integram o subgrupo das benzodiazepinas com maior potencial de induzirem tolerância e dependência.

Estas substâncias têm registado acréscimos anuais de consumo, contrariando a tendência verificada no resto da União Europeia, pelo que o relatório recomenda uma “análise da prática sobre a prescrição e utilização destes fármacos”.

O secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde considerou, por sua vez, que “na área da prescrição de psicofármacos é preciso fazer mais e formar mais, porque algo está errado quando se prescrevem tantas benzodiazepinas”.

O governante considerou, contudo, que este é um problema alargado a outras áreas da saúde, já que também se prescrevem muitos antibióticos.

Álvaro de Carvalho chamou ainda a atenção para o “preocupante uso de estimulantes inespecíficos do sistema nervoso central em casos de pseudo-hiperatividade”.

O psiquiatra explicou, citando Allen Frances, responsável pela coordenação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), que as taxas de prevalência anual de síndromes de hiperactividade infantil (entidade formal distinta de comportamentos ocasionalmente instáveis) andam em valores médios mundiais de 2% a 3%.

No entanto, há estudos publicados na Holanda que apontam para taxas de 32% e outros, nos EUA, que entre os 11% e os 15%.

“Para além de pôr em causa a idoneidade destes valores, [Allen Frances] interroga-se sobre as consequências no funcionamento mental das crianças medicadas, precoce e continuadamente, com psicofármacos, quando chegarem a adultas”, refere Álvaro de Carvalho.

Álvaro Carvalho critica a existência de “crianças e adolescentes medicadas com metanfetaminas para supostas hiperactividades”, obtidas em “diagnósticos rápidos feitos por educadores, professores e pais” - quando “é natural que as crianças se mostrem instáveis em ambiente onde não se sentem bem” - contribuindo, muito provavelmente, para o significativo aumento de consumo do metilfenidato.

Sobre esta matéria, o relatório deixa no ar a questão: “será que esta fúria farmacoterapêutica está isenta de consequências no funcionamento mental futuro de quem é alvo passivo de decisões tão pouco prudentes?”.

Álvaro Carvalho considera que estas crianças e adolescentes têm um risco acrescido de desenvolver défices cognitivos ou doenças que possam aumentar a morbilidade e a mortalidade.

No Alentejo
Um projecto inovador de acompanhamento dos doentes com alta hospitalar pós-AVC vai “nascer” no Alentejo, numa iniciativa do...

O projecto designa-se “Seguimento Integrado do Doente com AVC” e pretende optimizar a comunicação entre os Cuidados de Saúde Primários (CSP) e os hospitais para um melhor acompanhamento de todos os doentes com alta hospitalar após Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A directora executiva do ACES do Alentejo Central, Teresa Caldas, explicou hoje à agência Lusa que a iniciativa, “pioneira a nível nacional”, está em preparação e, “se tudo correr bem”, vai ser implementada “a partir de Fevereiro” do próximo ano, numa primeira fase através de um projecto-piloto.

“Vamos arrancar com a Unidade de AVC do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) e cinco unidades do nosso lado”, disse, referindo-se às Unidades de Saúde Familiar Lusitânia (Évora) e REMO (Reguengos de Monsaraz e Mourão) e às Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados de Estremoz, Mora e Vendas Novas.

A ideia, segundo Teresa Caldas, “é muito simples, mas pode fazer a diferença para o doente”, que “passa a ir aos sítios certos na altura certa”, permitindo atingir um dos objectivos principais do projecto que é “diminuir a recorrência por AVC”.

A directora do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) explicou que, no Alentejo, “a hipertensão, a diabetes e a obesidade têm uma expressão muito forte” e existem “taxas muito altas de AVC e muitos internamentos” devido a este problema “no Hospital de Évora”. “E percebemos que, quando tinham alta do hospital, perdíamos os doentes nesta passagem, ou seja, não havia uma comunicação eficaz entre uns cuidados e outros”, disse.

Segundo a clínica, “não era dada uma notícia de alta que permitisse aos cuidados de saúde primários retomarem rapidamente o doente a seu cargo para fazerem o controlo dos factores de risco, das questões ligadas à terapêutica ou das questões de reabilitação” destas situações pós-AVC.

O novo projecto quer eliminar esta “lacuna da referenciação e da comunicação” para contribuir para a existência de “menos recaídas e re-internamentos”, adoptando uma comunicação directa entre HESE e as unidades de saúde de cuidados primários.

“O HESE vai passar a dar, 24 horas antes, a notícia de alta do doente aos cuidados de saúde primários e nós vamos agendar uma primeira consulta pós-AVC logo na primeira quinzena depois da alta, informando o hospital”, afirmou. Tal como até agora, o doente vai ser reavaliado no HESE, dois meses após a alta, mas a habitual consulta dos seis meses, caso essa avaliação do hospital assim o indique, pode passar a ser feita na unidade do ACES.

E, na área da reabilitação, o projecto prevê que o plano de intervenção proposto pelo Serviço de Fisiatria do HESE, igualmente envolvido na iniciativa, possa ser posto em prática “por fisioterapeutas do ACES”, sendo o doente avaliado numa consulta hospitalar aos três meses.

O projecto vai ser apresentado no IV Workshop de Boas Práticas de Governação, em Lisboa, e os seus promotores esperam poder alargá-lo a outras áreas alentejanas e especialidades médicas, à medida que os resultados positivos forem sendo atingidos.

Na Figueira da Foz
O projecto "Figueira Respira" pretende travar o sub diagnóstico da doença pulmonar obstrutiva crónica, que abrange...

"É um projecto de articulação entre cuidados de saúde primários e cuidados de saúde hospitalares, no âmbito da doença pulmonar obstrutiva crónica", da qual se observa, na Figueira da Foz, distrito de Coimbra, uma taxa de cerca de 80% de sub diagnóstico, explicou à agência Lusa Lígia Fernandes, pneumologista no Hospital da Figueira da Foz.

O projecto arranca com a ligação entre o Hospital da Figueira da Foz e os centros de saúde familiar São Julião e Buarcos, pretendendo no início intensificar o diagnóstico a fumadores e ex-fumadores, onde a prevalência da doença é "maior", disse Lígia Fernandes.

"Figueira Respira" irá centrar-se na formação de profissionais de saúde para o diagnóstico da doença, na sensibilização da população para os factores de risco, em que "há um grande desconhecimento", e na informação partilhada sobre os doentes entre centros de saúde e hospital, aclarou.

Segundo a pneumologista, quando o diagnóstico é tardio, esta doença leva a uma "muito maior limitação", "tratamento mais difícil", "redução da sobrevida [tempo de vida em estado terminal]" e possibilidade de "dependência de oxigénio".

"Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais facilmente travamos e desaceleramos a progressão da doença", sublinhou.

O maior factor de risco "é o tabagismo", por esta ser uma doença de carácter progressivo, em que a dificuldade em expirar surge como consequência de "exposição a agentes tóxicos que vão lesar os brônquios" dos pulmões, referiu Lígia Fernandes.

O projecto "Figueira Respira" está integrado no programa "Boas Práticas de Governação", da Universidade Nova de Lisboa e da farmacêutica Novartis, e é apoiado pela Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC).

Estudo
A obesidade pode reduzir em até 8 anos a esperança de vida das pessoas e em 19 o número de anos sem doenças, apurou um estudo...

Investigadores do Instituto de investigação do centro de saúde da Universidad McGill de Montreal, no Canadá, dirigido por Steven Glover, elaboraram um modelo informático da incidência de doenças segundo o peso, com dados retirados de um estudo sobre alimentação e saúde, realizado nos EUA.

Os cientistas calcularam o risco de contrair diabetes e doenças cardiovasculares para adultos com pesos diferentes, analisando depois o efeito do peso a mais e da obesidade nos anos de vida perdidos e nos anos com saúde perdidos nos adultos dos EUA, com idades entre 20 e 79 anos, comparados com pessoas com peso normal.

A investigação revelou que as pessoas com peso a mais, correspondente a um índice de massa corporal (IMC) de 26, perdiam de zero a três anos de expectativa de vida, conforme a idade e o género.

As pessoas obesas (IMC de 30) perdiam entre um a seis anos, enquanto a muito obesas (IMC de 35) tinham as suas vidas reduzidas entre um e oito anos, comparado com pessoas com um IMC ajustado à sua altura e dimensões.

Considera-se que um IMC abaixo de 18,5 indica desnutrição ou algum problema de saúde, enquanto um acima de 25 revela peso a mais. Acima de 30 há obesidade leve e de 40 obesidade pesada.

“O nosso modelo informático prova que a obesidade está associada a um risco mais alto de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes que, em média, vão reduzir drasticamente a esperança de vida das pessoas e os seus anos de vida saudável”, disse Grover.

Segundo o estudo, o efeito do peso a mais na perda dos anos de vida é maior entre os jovens com idades entre 20 e 29 anos, tendo ascendido mesmo a 19 anos em dois casos de obesidade extrema, diminuindo com a idade.

O excesso de peso reduz a esperança de vida, mas também os anos com vida saudável, definidos no estudo como os anos sem doenças associadas ao peso, como a diabetes de tipo 2 e as doenças cardiovasculares.

“O quadro está claro: quanto mais uma pessoa pesa e quanto mais jovem é, maior é o efeito na sua saúde, pois tem mais anos à frente em que os maiores riscos de saúde associados à obesidade podem ter um impacto negativo na sua vida”, disse.

Bastonário da Ordem dos Enfermeiros
O Bastonário da Ordem dos Enfermeiro lamentou que Portugal esteja a desperdiçar o conhecimento dos profissionais que forma, mas...

“Portugal, de alguma forma, tem desperdiçado os enfermeiros, ao não aplicar o conhecimento em proveito próprio, em território nacional”, afirmou o Enf. Germano Couto, ao intervir hoje, em Coimbra, na cerimónia de abertura do Colóquio Cuidar 14, que premeia projectos de melhoria da qualidade da enfermagem.

Contudo, referiu que quem permanece em Portugal «tem de dar provas do seu valor», um valor que “não pode ser deixado ao livre arbítrio das mudanças legislativas ou prazos eleitorais”.

Na sua perspectiva, a profissão da enfermagem “evoluiu de forma ímpar nos últimos 25 a 30 anos” em termos académicos e científicos.

“As boas práticas são necessárias à profissão. Uma profissão que não se fundamente em investigação e boas práticas terá dificuldade em comprovar o seu valor aos decisores políticos, à sociedade e a si mesmo”, acrescentou na cerimónia organizada pela Secção Regional do Centro (SRC) da Ordem dos Enfermeiro (OE).

Aproveitou para elogiar os autores dos três trabalhos concorrentes aos prémios Cuidar 14, que distingue projectos de melhoria da qualidade dos cuidados de Enfermagem prestados aos cidadãos em instituições dos distritos de Coimbra e Leiria.

Na sua primeira edição, em 2012, o concurso Cuidar recebeu 19 candidaturas a concurso, da autoria de profissionais ligados a instituições de saúde dos distritos de Castelo Branco e Guarda. Em 2013, edição dedicada a Viseu e Aveiro, foram recebidas 34 candidaturas. Este ano foram 3 as candidaturas de Coimbra e Leiria, e todas elas foram seleccionadas como candidatas a prémio.

Na sua intervenção de abertura do colóquio o Presidente do Conselho de Enfermagem Regional do Centro, Enf. Hélder Lourenço, disse que a apresentação de apenas três candidaturas a concurso na edição deste ano dá uma “imagem pouco abonatória e não consentânea” com a realidade dos cuidados de saúde nos dois distritos.

Para a Enfª Isabel Oliveira, presidente do Conselho Directivo da SRC, independentemente do seu número, o mais importante é o valor que os projectos trazem para o sistema português de saúde.

Os “três excelentes projectos” apresentados reflectem uma resposta adequada e efectiva das necessidades das famílias e das comunidades onde estão implementados, dando um excelente contributo para a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de enfermagem, afirmou o Enfª Hélder Lourenço,

Sobre as edições anteriores do concurso Cuidar, a Enfª Isabel Oliveira elogiou a postura dos enfermeiros, que decidiram aplicarem os prémios pecuniários recebidos a favor das instituições, e dos serviços onde trabalham, no sentido da melhoria dos cuidados que prestam às populações.

O concurso distingue anualmente três projectos, com os prémios “Excelência”, “Competência” e “Inovação”, atribuindo-lhes montantes pecuniários de 1.500, 1.000 e 500 euros, respectivamente.

“Literacia e educação terapêutica: Capacitar a pessoa com diabetes tipo2 a lidar com a sua condição de saúde”, da Unidade Cuidados de Saúde Personalizados de Eiras – Agrupamento de Centros de Saúde de Saúde do Baixo Mondego, é o único projecto este ano candidato do distrito de Coimbra.

Do distrito de Leiria foram apresentados “Aprender SBV para Salvar…Início de um Percurso”, da Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar do Oeste, Caldas da Rainha, e “Assistência personalizada pelo Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica em Bloco de Partos”, do Bloco de Partos do Centro Hospitalar Leiria Pombal.

Na Região Centro
Três projectos de melhoria da qualidade dos cuidados de Enfermagem prestados aos cidadãos na Região Centro vão ser premiados...

O Concurso CUIDAR, que este ano realiza a terceira edição, dedicada aos distritos de Coimbra e Leira, foi criado pela Secção Regional do Centro (SRC) da Ordem dos Enfermeiros (OE) para premiar projectos que se destinem a obter ganhos em Saúde sensíveis aos Cuidados de Enfermagem.

Na sua primeira edição, em 2012, recebeu 19 candidaturas a concurso, da autoria de profissionais ligados a instituições de saúde dos distritos de Castelo Branco e Guarda. Em 2013, edição dedicada a Viseu e Aveiro, foram recebidas 34 candidaturas. Este ano foram 3 os projectos apresentados de Coimbra e Leiria, e todos eles foram seleccionados como candidatos aos prémios.

“Literacia e educação terapêutica: Capacitar a pessoa com diabetes tipo2 a lidar com a sua condição de saúde”, da Unidade Cuidados de Saúde Personalizados de Eiras – Agrupamento de Centros de Saúde de Saúde do Baixo Mondego, é o único projecto candidato do distrito de Coimbra.

Do distrito de Leiria foram apresentados “Aprender SBV para Salvar…Início de um Percurso”, da Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar do Oeste, Caldas da Rainha, e “Assistência personalizada pelo Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica em Bloco de Partos”, do Bloco de Partos do Centro Hospitalar Leiria Pombal.

No colóquio do dia 4, a decorrer no auditório da sede da SRC, em Coimbra, os três projectos vão disputar os prémios “Excelência”, “Competência” e “Inovação”, atribuindo-lhes montantes pecuniários de 1.500, 1.000 e 500 euros, respectivamente.

O colóquio inicia-se pelas 15h00 com uma intervenção do Bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Enf. Germano Couto, que precede as da Presidente do Conselho Directivo Regional, Enf. Isabel Oliveira, e do Presidente do Conselho de Enfermagem Regional, Enf. Hélder Lourenço.

A conferência inaugural, intitulada “Qualidade no cuidado: do contexto à prática”, está a cargo do Enf. Francisco Mendes, Coordenador da Estrutura de Idoneidades da OE. A encerrar o colóquio, pelas 18h00, serão entregues os prémios.

O Concurso CUIDAR foi lançado em 2012 pelo Conselho de Enfermagem Regional da SRC da OE para incentivar e premiar projectos de melhoria contínua da qualidade desenvolvidos por Enfermeiros nas instituições de saúde dos seis distritos da Região Centro, abrangidos pela SRC.

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A Cátia
Antes de mais, é preciso salientar que vou tentar ser neutra, não sendo possível evitar, pela pessoa
Enfermagem arábia saudita

O Hospital...

Senti medo? Muito...Até pânico senti... É Mágico? Demais...É Bizarro? No mínimo estranho...É confuso? Desnorteante... Porquê todos estes sentimentos? 

Leiam o texto que se segue de coração aberto, sem medos, sem juízos de valor...tentem apenas entrar de coração dentro do cenário que vos vou descrever...

O Hospital... Imenso, enorme em todos os sentidos...dizem os americanos que é considerado o maior e melhor 4º centro de trauma do mundo...é verdade? Se dizem...não sendo isso relevante para mim...Tecnologia de ponta, acesso a todos os exames auxiliares de diagnóstico...algumas técnicas das quais, desconhecia que existiam...na realidade estamos a falar de um hospital com a dimensão de Santa Maria ou os Hospitais da Universidade de Coimbra...1000 camas...a diferença? Aqui na Arábia Saudita, tudo é majestoso... fazem tudo em grande escala... corredores imensos e largos (sendo um hospital militar, tem que estar preparado, em caso de algum ato terrorista ou seja pelo que for, preparado para permitir a entrada de tanques militares), para além disso, também neste aspeto, se começa logo a sentir a diferença cultural... Muito dinheiro, tudo tem que ser majestoso... salas enormes... para terem uma ideia, são usados carros de golf para circular dentro do hospital. Por exemplo a equipa de reanimação intra-hospitalar usa um carro de golf para se deslocar rapidamente para o doente, onde quer que esteja - é sempre longe...

O sistema orgânico e funcional? Todo ele baseado no sistema Americano mas, obviamente ajustado ao país e à cultura...

Ok, deixemos agora o hospital no geral, e vamos para o "mundo" profissional da Cátia... Serviço de urgência...

 

A cultura e a religião

Esperem! Seria desastroso e de difícil entendimento, se não vos falar de alguns aspetos culturais... SIM TEMOS QUE PERCEBER E RESPEITAR A CULTURA, de outra forma não conseguirás trabalhar...até podes não aceitar alguns aspetos culturais - problema teu! Mas tens que respeitar...

Nota bem, tudo o que vos disser daqui para a frente em relação à cultura e religião é porque tem implicações diretas na minha prática como enfermeira.

Estamos num país 100% islâmico...e profundamente religioso... à religião acrescentam-se algumas regras específicas deste país que o tornam, de todos os países muçulmanos, sem sombra para dúvida, o mais restrito e fechado... Apenas por curiosidade, este é o único país no mundo que não tem uma igreja... Existem mesquitas em todo o lado, por lei. Onde quer que estejas localizado, tem que existir uma mesquita com uma distância máxima de 200 metros.

Mesquitas essas que não sendo muçulmano não podes entrar.

Mas já descobri, ainda que não seja de conhecimento de muitos, um espaço, autorizado pelo rei, onde se praticam celebrações cristãs... Eu já assisti... É um imenso pavilhão, desprovido de quaisquer sinais religiosos, sem imagens, sem cruzes, apenas um espaço amplo, onde nesse dia encontras, europeus, sul-africanos, americanos, canadianos, australianos... e onde se vive uma atmosfera de grande Amor, entrega e muita emoção... todos eles cristãos, não importa se católico ou de outra qualquer religião.

Não há cinema, música, bares ou discotecas... é proibido... Não podes estar a cantar ou dançar ou apenas a tocar guitarra num qualquer parque da cidade, em público quero eu dizer... Recordo que tenho um amigo turco, engenheiro, que ao fim de duas semanas de cá estar foi preso porque estava a tocar guitarra num qualquer parque/jardim da cidade.

A religião é o condutor deste país... A religião está em tudo, na política, nas leis, no modo de viver e estar... em tudo mesmo... e por isso eu como enfermeira tive que entender a cultura e religião - de outra forma não levaria a cabo, nem um único turno...

Para vos fazer pensar em como a religião tem peso em absoluto, comecem logo pela bandeira... na bandeira do país está escrito... "Não existe Deus, mas Alla, e Maomé é o seu profeta."

Segundo o Islão, existem 5 pilares fundamentais, que todos os sauditas irão cumprir... Forçados?  Não me parece...

Os 5 pilares são:

  • tem que se assumir como islâmicos e ter Fé,
  • tem que ir, pelo menos uma vez na vida, a Meca,
  • tem que rezar pelo menos 5 vezes ao dia,
  • tem que praticar a caridade,
  • tem que cumprir o ramadão...

 

Ok, agora em traços gerais, alguns aspetos culturais, mas de que precisam de ter conhecimento, para chegarmos ao meu "mundo" profissional...

Só vos posso prometer, que no final tudo fará e terá o seu sentido...

Então, as mulheres na arábia saudita, não podem conduzir, nem sequer uma bicicleta...

Todas as mulheres têm que andar com lenço a tapar o cabelo, e usar abaya - túnica preta que as cobre totalmente não deixando qualquer pista da silhueta da mulher... E mais, todas elas usam burca... até podem andar com a cara destapada - mas em paralelismo com o nosso país - uma mulher sem burca, com a cara destapada, é o mesmo que uma mulher em Portugal com um decote abusivo e uma minissaia extra curta - fiz-me entender? Aqui as mulheres casam cedo... É raro encontrar uma mulher com 30 anos que não seja casada e já com três, quatro filhos...e, então aí, a maior parte delas depois de casarem para além da abaya, lenço, burca, ainda usam um véu que lhes tapa os olhos, e já não é tão comum, mas sim acontece, também usarem luvas... Atenção, que é sempre, sempre, tudo preto...

Quando é que começam a usar abaya? Quando passam a ser menstruadas... mas há aquelas, que à semelhança de qualquer criança por esse mundo fora, querem imitar as mães, e então facilmente vês meninas de 6 anos com abaya e lencinho - e felizes que elas andam!...

As ocidentais, como é o meu caso, para sairmos à rua tem que ser, e sempre, com abaya, e convém andar com o lenço na carteira, para o caso de seres abordada por algum Mutawa ("polícia religiosa", na realidade não tem poder policial, mas para a população são mais que polícias - são pessoas muito envolvidas no Islão, que estudaram numa escola religiosa...bom, para facilitar a compreensão, são mais ou menos como os nossos padres, mas têm aqui um poder imenso. Devo acrescentar que já fui várias vezes abordada por eles e sempre foram delicados - apenas me pedem para tapar o cabelo).

O álcool é proibido, considerado crime... o porco é proibido, claro que nem sequer é comercializado...

 

 

Execução da pena de morte em praça pública e anunciada na TV

Existe a pena de morte, em praça pública... às sextas feiras... normalmente é anunciada na televisão árabe com um dia de antecedência ou um dia depois, que vai ser executada determinada pessoa e a razão... Pena de morte é praticada em casos de rapto, violação, assassínio, pedofilía... E para casos de roubo, a pena é a amputação da mão...atenção que tudo isto é sujeito a rigorosa investigação, e no caso de roubo, se foi por exemplo comida e que se prove que a pessoa é muito pobre, talvez seja perdoada... E na praça, para o caso de apenas amputação, está prontamente uma ambulância para transportar a vítima para o hospital mais próximo...

Aqui vive-se um absoluto patriarcado... a ponto de que o homem, seja pai, irmão ou marido, é o responsável pela mulher, sendo que, se ela quiser sair do país para uma viajem de férias, o marido tem de dar permissão...

Aqui tudo muda a uma velocidade galopante... tens por exemplo um pai que é analfabeto e o filho já estudou na América e é médico... A própria cidade cresce a uma velocidade desnorteante... Convido-vos a ver uma fotografia de Riade há 30 anos atrás e comparem com uma atual...

 

A Mulher, a Família

Porque falar desta mudança? As mulheres até há poucos anos não trabalhavam... ou seja, o papel da mulher nesta sociedade era casar, ter filhos e cuidar da família...

As famílias são muito numerosas e acrescenta-se o facto de um homem poder casar com quatro mulheres, mas atenção, "... não há cá confusões - todas vivem em casas diferentes, se não andavam sempre em conflitos"... dizia-me um doente 64 anos, na semana passada, com 22 filhos...

Hoje algumas mulheres, principalmente aquelas que estudaram no estrangeiro, já começam a trabalhar, mas na generalidade não são respeitadas pela sociedade... o que pode pôr em causa a capacidade dela para casar... Sim, por aqui mistura-se outro aspeto relevante... ainda hoje, e é hoje de que falo, os casamentos aqui são "arranjados"... ou seja, a mãe do rapaz é que escolhe a mulher para o filho... Pode ser por exemplo num casamento, em que os homens e mulheres não tem contacto visual, e então aí elas tiram as abayas, lenços burcas e estão altamente produzidas para tentarem conquistar a mãe de um qualquer rapaz casadoiro... Pois... são poucas as mães que concordam que a mulher do filho trabalhe... Portanto, ou não casam, ou algumas delas deixarão de trabalhar para casar e ter filhos... A mãe também pode escolher uma prima, por exemplo, e isso aqui é muito comum, escolherem noivas com ligação familiar. O que vos posso adiantar desde já, e isto, dando um saltinho ao hospital, existem muitas doenças estranhas e totalmente desconhecidas para nós, e pessoas com malformações incríveis - tudo ligado à consanguinidade.

Outro aspeto muito importante a salientar, é o facto de que desde que se começa na escola, as meninas e os meninos são separados - espaços geográficos diferentes! E desde então nunca mais as meninas vão conviver com os meninos... Apenas em casa se vive um ambiente relaxado e com a "nossa" normalidade... ou seja a mãe, e meninas ou mulheres, não se tapam para os irmãos e pai, e podem conviver...

 

Restaurantes com entradas e espaços distintos para homens famílias e mulheres

Nos restaurantes existe uma entrada e espaço apenas para homens, e outra entrada e espaço para famílias e mulheres. O mesmo acontece no zoo, museus... Existem dias para os homens e dias para famílias e mulheres...

Se tiverem convidados em casa, as mulheres estão sempre retiradas, normalmente na cozinha a preparar iguarias para os convidados, e se vêm à sala trazer a comida, obviamente que vêm totalmente tapadas, e nunca confraternizam...

Não podes andar na rua acompanhada com o sexo oposto, apenas podes andar na rua com o teu marido, pai, irmão ou filho... Portanto, aqui faz parte da nossa documentação que trazes na carteira o certificado de casamento.

A maioridade? Parece que é aos 18 anos... mas, lá está, a religião e costumes sobrepõem-se muitas vezes às leis... Outro dia tinha um doente de 14 anos, que ele próprio tinha vindo de carro... Se algum polícia o vir? Não haverá problema, pois é homem... e que homem!... tão emancipado que é!... Que orgulho tem aquela família de ter um elemento de 14 anos que já é um Homem...

Outro facto muito importante, e para mim o mais delicioso, terno, romântico, de profundo Amor... O conceito FAMÍLIA. Aqui ninguém põe o idoso no lar... Toda a gente, cuida do pai, avô, tio, irmão... em casa. E o respeito? Imenso... Todos se respeitam mutuamente, amam e cuidam... Não há doentes sozinhos no hospital... todos eles tem o acompanhante do filho, do neto, da sobrinha... Estão lá 24h sobre 24h e são eles que querem prestar cuidados de higiene, alimentares, e acompanhar... Quantos cuidadores estão? Normalmente, e no mínimo dois... E durante as 24 horas chegam mais e mais elementos da família... Os netinhos pequeninos chegam felizes para visitar o avô, beijam-lhe a mão, e estão ali, permanecem, querem eles também cuidar e prestar cuidados diretos...

Agora imaginem só...estão três mulheres a acompanhar o doente... a esposa e duas filhas... se chega um homem, que não é irmão ou tio... apenas amigo, primo distante... as mulheres têm que se retirar, enquanto aquele homem está presente... Só quando ele sai, então elas voltam a entrar.

 

Os rituais da morte

A MORTE? Bom aqui esta área já é mais delicada... geralmente eles aceitam com aparente serenidade a morte do seu ente querido... porquê? Óbvio, eles são profundamente religiosos e acreditam que Alla assim decidiu e quis, e que agora ele está no "paraíso" junto a Alla... É sempre assim? Claro que não...ainda que sejam "treinados" assim, são pessoas que sentem, que tem coração...e muitas vezes, naquele momento, vês faces de angústia, medo, desespero, um olhar de profunda tristeza e dor, com choro...

O corpo é preparado por nós, como o preparamos em Portugal, mas com uma grande diferença!...Não o lavamos...apenas retiramos o excesso de fluidos...Pois o corpo é levado para a morgue e dali segue para uma mesquita...não uma qualquer, uma mesquita com pessoas preparadas para o fazer... Fazer o que? Lavar, purificar o corpo... É limpo, é perfumado com um pó com uma essência especial... é envolvido por um manto branco, e aí sim está preparado para a celebração... Aí as mulheres também estão presentes... colocam o corpo com a cabeça virada para Meca. Entre Meca e os restantes, é onde está o corpo... Celebram, rezam... Depois? Bom, a partir daí as mulheres vão para casa (defendem que o ato de sepultar no cemitério é doloroso demais para uma mulher conseguir suportar, e então elas são protegidas desta forma - não assistem à sepultura)... O corpo vai para o cemitério... a cremação é proibida, e o corpo é sepultado sem caixão. Todos os corpos são sepultados com a cabeça virada para Meca, e desprovidos de qualquer campa, fotos, inscrições, flores... apenas é coberto com terra, e colocada uma pedra na parte da cabeça... seja o rei, seja a pessoa mais pobre do reino... as sepulturas são todas iguais. O que eles dizem é que no final, SOMOS TODOS IGUAIS... E não é verdade?

 

Vamos agora, e finalmente, para o "mundo" da Cátia enfermeira...

Conseguem já perceber com o que descrevi para trás que não é fácil trabalhar por aqui, no início... mas a acrescentar à obrigatoriedade de me adaptar ao doente e seus costumes, tive também que me ajustar aos meus colegas... Assim sendo, e pelo que descrevi anteriormente, torna-se fácil de perceber que as enfermeiras sauditas são ainda em número muito reduzido. A escola de enfermagem com os moldes da nossa escola, com estrutura, investigação e bases científicas, apenas existe há cerca de 10 anos, e ainda assim, dizem-me que nos primeiros anos quase não tinham alunas...

Isso obrigou obviamente a recrutar enfermeiros de fora... Só para terem conhecimento, existem neste hospital cerca de 55 diferentes nacionalidades de enfermeiros... agora imaginem, também tens que te adaptar a 55 maneiras diferentes de estar, de sentir, de viver...

Complexo? Que acham?

Vamos lá à prática... hoje vou trabalhar e vocês vão comigo! Saio do meu luxuoso compound - imaginem uma pequena aldeia, cercada por altos muros, com câmaras de vigilância por todo o lado, e rodeada de militares devidamente aprovisionados de metralhadora e afins... Sempre que entras no compound de carro... passas por duas barreiras... a primeira das quais tem um elemento que inspeciona o carro - vê a mala, abre o capô, vai com um espelho inspecionar o veículo por baixo (acho que já vi esta cena em algum filme!). Depois cá dentro vivemos em vivendas totalmente equipadas, enormes (claro está!), onde o meu apartamento caberia, seguramente, numa das salas que tenho... Temos supermercado, ginásio, cortes de ténis, restaurante, SPA, squash, piscina interior, três piscinas exteriores... E aqui, só para ocidentais, podemos vestir e agir como ocidentais que somos. Tudo gratuito! - Cá tenho na ideia que é para nos motivar a suportar todas as contrariedades deste país!

La vamos nós de autocarro (o autocarro é estritamente só para nós funcionários e gratuito. Aqui na Arabia Saudita não existem transportes públicos)...15 minutos... se páras no semáforo... o que é raro, pois aqui não se respeitam as regras de trânsito... podes facilmente ver o carro parado ao teu lado com uma família a olhar para ti com ar surpreendido... Meu Deus, aquele autocarro vai cheio de mulheres e homens misturados, com fardas, o que lhes expõem os braços, estetoscópio ao pescoço, e cabelos descobertos... E então imagino que a conversa dentro do carro seja, dentro de muitas hipóteses válidas...:"Oh mãe que gente estranha é aquela?"

Chego ao hospital... vá agora desde a porta do hospital até ao meu serviço são 12 minutos a andar bem - pronto assumo, tive azar, a paragem dos nossos autocarros, é do lado oposto do meu serviço...

 

As línguas que podemos falar no hospital é o inglês e árabe... e Cristiano Ronaldo!

De árabe já vou sabendo umas coisas, aprendo com os doentes... raro é o doente que fala inglês. Tens um tradutor permanente para te auxiliar, mas anda sempre não sei bem onde, e por vezes se a tua doente é mulher e queres fazer perguntas mais delicadas, não chamo o tradutor - ela não vai falar com ele! O que importa é que já consigo comunicar com ele, e saber o suficiente para fazer a avaliação física do doente e garantir o discurso para manter as suas necessidades humanas básicas... Claro que ajuda-me o facto de aplicar muita linguagem gestual, que imagino, quem esteja a ver de fora, parecerá uma peça teatral... e eles entendem e esforçam-se por entender... E aqui muito me ajuda o nosso Cristiano Ronaldo, amado por estas bandas, e quando digo que sou portuguesa, eles imediatamente sorriem e já fica cortada uma primeira barreira (Obrigada Cristiano Ronaldo!).

A privacidade aqui é ouro... então todas as unidades tem cortinas a toda à volta. E seja em que circunstâncias for, as cortinas estão sempre fechadas... a não ser em situações de reanimação... Eu tenho sempre e apenas dois doentes, mas não pensem que paro... o grau de exigência aqui é muito elevado, e além do mais tudo leva mais tempo  a ser feito.... já vão entender porquê!

 

Tapetes para as rezas no hospital

Cada unidade, é tão importante como o monitor, oxigénio, aspirador...tem o Corão e uma caixa com areia especial para eles limparem as mãos, e face antes da reza... Também faz parte da nossa sala de stock, tapetes para eles rezarem... mas normalmente, a família e doente já vêm sempre providos do seu tapete....

Continuando...tenho dois doentes, um homem e uma mulher... sim, se estavam a pensar que não podia ter doentes homens, isso não é verdade... Mas, se bem que se tiver que algaliar o homem, já tenho que descobrir um enfermeiro homem para o fazer... Da mesma forma que o enfermeiro homem tenha que colocar os elétrodos numa doente mulher, já terá que ser uma enfermeira a fazê-lo...

Os meus doentes têm acompanhantes... eles querem fazer tudo... limpar, lavar, alimentar e até posicionar... Ofereço a minha ajuda mas normalmente eles recusam... não por não confiarem em mim, mas porque fazem questão de serem eles a tratar do seu ente querido...

Normalmente, o doente homem, tem acompanhantes homens, os filhos, pois não é muito desejável que aquele doente homem esteja a ser limpo pela filha mulher... mas também acontece! Como temos sempre acompanhantes, da mesma forma como pedimos dieta para o doente, também se pede para o acompanhante, mas apenas uma, pois supostamente só deverá estar um acompanhante, mas eles são tantos e querem estar, que chegas a um ponto que, simplesmente permites... e eu, da minha parte, não me importo nada.... Acho delicioso!

Ainda em relação à comida, muitas vezes eles nem comem a comida que pedi para o acompanhante pois todos eles (como demonstração de poder de consumo) trazem a comida de casa, e aí estão eles com carpete no chão, cafeteiras com café e chá, e tâmaras (estas nunca faltam) - comem tâmaras a toda a hora... É cultural e tem também algum significado religioso... Talvez assim se justifique que cerca de 85% dos meus doentes sejam de base diabéticos...e depois as panelas com arroz, borrego, galinha... e mais vos digo, se não fosse estar a escrever para uma revista científica, diria: " e pronto está o estenderete montado"...

Estão a acompanhar? Tem que ser rápidos...eu sei, é muita informação!

 

Acompanhantes comem sentados no chão enquanto doente é tratado

Ora bem, ponto da situação... temos o homem com dois acompanhantes homens, no chão a comer... o doente esta monitorizado com uma qualquer perfusão, oxigénio... orientado e colaborante... começo a por o meu árabe em prática... Cumprimento, identifico-me e peço desculpa por falar pouco árabe, mas sou nova aqui... normalmente eles são simpáticos, mas este doente, apesar de ser um doce, fica um bocadinho retraído pois sou mulher... Lá tenho, e porque são homens, de arranjar maneira de dizer que sou portuguesa. Falo no Cristiano Ronaldo, e pronto já quebrei a primeira barreira... depois com o doente homem pouco ou nada lhe toco, e tudo com muito cuidado. Peço autorização para ver a temperatura...e assim sigo em frente - tenho 12 horas pela frente para conquistar a confiança deles - É difícil? Nada... somos portugueses, marcamos a diferença pela nossa natural simpatia, delicadeza e educação e muita, muita sabedoria... sim porque aqui, não há nada que faças, o simples dar um comprimido, que a família não te pergunte o que estás a dar e o porquê (começam agora a perceber porque tudo leva um pouco mais tempo?).

A mulher, a outra doente... acabou de chegar, na realidade é uma jovem tem 18 anos, vem com a mãe, e duas irmãs... ela acabou de chegar ainda vai haver muita gente a entrar e a sair daquele cubículo... portanto elas se mantêm completamente tapadas... vem a técnica de ECG - sorte a minha é mulher, não tenho que estar com ela... Vem o médico para reavaliar... é homem... aí já tenho que entrar no cubículo, avisar que está o médico do lado de fora, confirmar que estão tapadas e esperar por sinal verde para ele entrar... mando-o entrar, tenho que estar sempre presente, não posso sair em circunstância alguma! Entretanto já falei com ela, identifiquei-me, e coloquei-a monitorizada com algumas dificuldades pois tenho que, por baixo daquelas roupas todas, descobrir com muita delicadeza se estou a colocar os elétrodos no sítio certo... até então apenas confirmei o nome dela pela pulseira... Não faço ideia de como ela é, e não consigo retirar qualquer informação observando a doente... Tenho que vos confessar! Este foi o meu maior obstáculo... Desde a minha escola de enfermagem, e pela minha carreira sempre me ensinaram - "não olhes tanto para o monitor, olha para o doente, olha com olhar clínico... ele tem muito para te dizer"... Subitamente, e ao fim de tantos anos, nada mais me resta, senão olhar para o monitor...

 

Interrompe-se tratamento enquanto rezam. Setas indicam Meca e macas alinham-se

O médico pede para extrair sangue... preparo tudo e vou fazê-lo, mas quando entro no cubículo e ao fundo da maca tenho a mãe no tapete a rezar, virada para Meca... Não devo interromper - é uma falta de respeito! Então tenho que aguardar que ela acabe de rezar para poder tirar sangue à doente... São 20, 30 minutos... se for algum procedimento mais urgente, lá tenho que ir, mas sempre em silêncio, e tenho que passar por detrás da pessoa que está a rezar - a pessoa está em conexão a Meca como todos os outros, em união, não posso "cortar" essa ligação... Naquele momento apenas desejo que a pessoa a rezar me tenha reservado um espacinho para que possa passar por detrás...

Pois, é a hora da reza, e em todo o hospital, assim como em toda a cidade se ouve em uníssono a reza... e o meu doente também quer rezar, mas não se pode levantar... está com as tensões elevadíssimas - tem dinitrato em perfusão, tento explicar, mas nada a fazer... se logisticamente não for possível, há que parar perfusões, até retirar o doente do monitor, para se criarem condições para virar a maca para Meca... Nas enfermarias, existe em todos os quartos umas sinalizações - uma seta - que indica a direção de Meca.

Bom, passaram duas horas.. já todos os exames foram feitos à minha doente mulher, e ela vai ficar pelo menos nas próximas 24 horas... agora já não há tanta gente a entrar e sair.

Elas começam a ficar mais desinibidas e como confiam em mim, sabem que cada vez que alguém quiser entrar eu vou avisar... então já retiram a burca e o véu... e comunicamos, e rimos muito... elas ficam deliciadas comigo, com a nossa natural espontaneidade e estou tão exposta! Sou-lhes um ser tão estranho mas amigável... não resistem... lá me pedem para uma selfie... e garanto-vos que neste momento já terei umas boas dezenas de selfies por aí espalhadas...

Em jeito de agradecimento, estão sempre a oferecer-me comida, chá, café, tâmaras... e eu aceito! Aceito, como com elas e agradeço muito! Seria uma tremenda falta de respeito recusar algo que nos ofereçam - é mesmo ofensivo! (Fico encantada e com o meu coração cheio, o único detalhe é que não gosto de tâmaras nem do café deles, o que me obriga a comer, degustar, deglutir e sempre com um sorriso franco, nunca dando a entender o meu sacrifício!)

Aqui, quem faz a gestão das camas a nível hospitalar e seus internamentos são os enfermeiros... Ou seja, existe uma equipa de enfermeiros que a sua função é ver quantas camas, e em que enfermarias, estão livres, e decidem se o doente reúne ou não condições para ir para a enfermaria...

Eis que me dizem que a minha doente mulher vai para uma enfermaria... Preparo tudo e quando chego lá, o quarto era duplo... tinha lá outra doente mulher, mas cujo acompanhante era homem - e pela situação particular daquela doente, ele tinha autorização para permanecer... A mãe, acompanhante da minha doente imediatamente disse que não podia ficar naquele quarto, ainda que tivesse cortinas o que lhes garantia toda a privacidade, mas ela recusou em definitivo. Ok, temos um problema...o que se faz aqui? Dá-se extrema importância aos apelos do doente e da família... e nada do que eles pedem será recusado, ou pelo menos reúnem-se todos os esforços nesse sentido... Aqui existe um elemento que é o gestor de problemas dos doentes... Ele é imediatamente chamado, bem como a enfermeira supervisora do hospital, envolve-se ainda o enfermeiro que faz a gestão das camas, num esforço conjunto para respeitar a doente e família e solucionar o problema... Após 35 minutos de conversações, conseguiram arranjar uma outra cama disponível numa outra enfermaria, e desta vez apenas e só mulheres...

Aqui, e a propósito do respeito e envolvimento das famílias, quando há um doente que pelo seu estado se põe a hipótese de não reanimação, para além de terem que ser três médicos a decidir em conjunto, ainda se chama a família, se não estiver presente, ou se apenas estiver uma filha, chamam-se familiares homens e a situação é explicada em pormenor no sentido de eles entenderem que pela situação clínica tudo se fará ao doente, mas em caso de paragem, não se faz uma reanimação... Se a família decidir não aceitar, por norma o doente continua a ser um doente para reanimar.

Outro aspeto muito interessante é, se a família não está satisfeita com o tratamento, ou que lhe digam que naquela situação em particular já nada mais podem fazer, mas tiverem, imaginem, na Alemanha um médico que depois de analisar a situação, lhes diga que tem tratamento para oferecer ao doente, então o rei paga todas as despesas de hospital, viagens, e alojamento para os acompanhantes! Fantástico não? Acreditam? Acreditem que é verdade!

 

Se o problema é ginecológico e não há médica a doente não é observada

Quando chego ao serviço já tenho outra doente admitida... a doente tem um qualquer problema ginecológico... o médico chega e é homem... o marido recusa de imediato que a sua esposa seja observada por um homem. Aqui, nem se levanta um problema, pois o médico aceita com serenidade e compreende... e então tentam a todo o custo encontrar uma médica no hospital disponível para observar a doente... se isso não for possível, a doente pura e simplesmente não é observada e vai embora... Já me aconteceu assistir a um momento desesperante de uma mulher em franco trabalho de parto, já num período de iminente expulsão e o marido pura e simplesmente não autorizava o médico homem a aproximar-se da mulher, mais uma vez, não se entram em discussões, mas o desespero para encontrar uma médica já era enorme... estavam duas vidas em perigo... mas sim, conseguiram encontrar uma colega disponível não sei bem onde, e em 15 minutos ela estava lá e correu tudo bem... nem quero imaginar outro cenário!

Aqui se consegue perceber e demarcar bem o patriarcado sempre presente... se tens doente o homem e a mulher, e se é o que precisa, por exemplo de uma transfusão de sangue, têm que assinar um consentimento, mas só um homem o pode fazer... ou seja, se o doente não estiver capaz de consentir e assinar, terá que ser o pai, irmão, tio, sobrinho, filho... mas nunca uma mulher!

 

O ramadão

Estando eu prestes a terminar este dia, não posso deixar de escrever alguns aspetos ligados ao Ramadão... muito haveria para descrever sobre o ramadão, mas desta vez ficamos por aqui...

O ramadão, o que é? É uma altura do ano, e tem a ver com o calendário que eles usam, e com as luas... em que durante um mês os muçulmanos têm que praticar jejum... E porquê? Explicaram-me eles, que é uma altura nobre de reflexão, sacrifício, de purificação da alma... Passando tu pelo jejum de tantas horas consegues dar mais valor aos que nada têm para comer! A partir da primeira reza da manhã, que vai variando, mas será cerca das 4:00 da manha, já não comem, nem bebem, nem fumam... até ao pôr-do-sol, que será na ultima reza do dia, por volta das 18:30... Estão isentos de fazer jejum os idosos, os doentes, as grávidas, as mulheres menstruadas... mas ainda assim, ainda que totalmente contraindicado, temos por vezes doentes, na maioria idosos que insistem em fazer o jejum... O problema poderia ser grande... mas aqui isso não se encara como um problema e então todo o hospital assume uma orgânica diferente... ou seja, respeita o jejum do doente, o pequeno almoço é pedido para as 18:30 e assim se começa o dia... o almoço vem às 2:00 da manhã e depois as 3:30 tem uma refeição ligeira... E a medicação? A que é oral tem que ser toda invertida... Durante o dia o hospital fica muito calmo, menos acompanhantes pois eles optam por ficar sossegados a dormir, para não gastar muita energia e suportarem o jejum... Quando começa a chegar a hora de quebrar o jejum é a alegria total... À porta do hospital as pessoas preparam comida, o próprio hospital põe nas entradas caixas com garrafas de água e comida. A caminho do hospital oferecem-nos caixas de comida... É uma alegria contagiante, e também um momento de partilha, entrega e solidariedade pelo próximo...

Assim sendo, nós ocidentais não temos que jejuar, mas por respeito aos muçulmanos, e por lei... Não podemos beber água, comer, nem sequer mascar uma pastilha elástica em público...

Pois, também eu tive possibilidade de passar pela experiencia do ramadão... Até sou capaz de passar 12 horas do turno sem tocar na garrafa de água que tenho comigo... Mas no ramadão estava sempre cheia de sede. O psicológico a funcionar! Houve um dia que tinha tanta, tanta sede, e ainda faltavam duas horas para a minha pausa, que fui à casa de banho, olhei em volta, não vi ninguém, e comecei a beber água do lavatório (que apesar de potável ninguém a consome pelo seu mau sabor), e com as mãos debaixo da torneira, comecei a beber água como se estivesse no meio do deserto (que por acaso até estou! Feliz coincidência!) a caminhar há horas, e encontrasse um lago num oásis. Nunca uma água me soube tão bem! Mas fui logo apanhada, teriam passado talvez cinco segundos quando entra uma muçulmana na casa de banho... Olhámos uma para a outra, não sabia se rir ou outra coisa qualquer. Ela olhou para mim com olhar terno, e sem uma única palavra, disse-me com todas as letras: "Vai lá, eu não digo a ninguém e compreendo-te"... Correu bem!

E assim se passaram as minhas/nossas 12 horas. Vamos para casa... estou cansada... fisicamente sim, mas mais psicologicamente, com tanta informação, gestão de conflitos interiores, turbilhão de sentimentos. No final tudo acaba bem... E já agora e porque até temos à noite aquelas temperaturas dos nossos antigos verões, vamos relaxar para a piscina...

Enfermeira Cátia

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Pode causar "riscos sérios"
O Instituto Nacional de Emergência Médica emitiu um conjunto de alertas sobre os cuidados a ter com o frio, avisando que...

Tendo em conta a previsão de queda acentuada de temperatura nos próximos dias, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recorda que a exposição a baixas temperaturas, no interior ou exterior, pode causar “riscos sérios ou letais para a saúde”.

Mesmo dentro de casa, o INEM avisa que é necessário ter cuidados na utilização de lareiras e outros sistemas de aquecimento, uma vez que aumenta o risco de incêndio e de intoxicação por monóxido de carbono.

A hipotermia (temperatura do corpo excessivamente baixa) é uma das emergências médicas relacionadas com o frio, situação classificada como perigosa e que afecta sobretudo idosos com fraca alimentação ou pouca roupa, bebés que dormem em quartos frios, pessoas que ficam muito tempo ao ar livre e consumidores de álcool e drogas.

Tremores, exaustão, mãos inquietas, sonolência, perda de memória ou fala lenta são os principais sinais de aviso da hipotermia em adultos, enquanto nas crianças se deve ter atenção à pele muito vermelha e fria e à apatia.

Perante estes sinais, deve procurar-se ajuda médica ou ligar o 112 em caso de emergência, além de procurar aquecer a pessoa.

O INEM emite ainda alertas sobre queimaduras provocadas pelo frio, que podem ser reconhecidas por uma área da pele branca ou acinzentada, pele invulgarmente firme ou cerosa e por formigueiro. Também nestas situações é necessário procurar ajuda médica.

No início da semana, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera avisou que as temperaturas mínimas começariam a descer gradualmente no início da semana devido a uma massa de ar frio, prevendo-se que sexta-feira se atinjam valor de temperatura mínima na casa dos 0 graus, ou mesmo abaixo, em especial nas regiões do norte e centro.

Governo anuncia
O secretário de Estado Adjunto da Saúde afirmou que os Cuidados Continuados Integrados em Saúde Mental vão avançar ainda...

A promessa foi deixada hoje durante a apresentação pública do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2014”, que revela uma elevada prevalência de perturbações mentais em Portugal e alerta para a necessidade de criação de uma rede de cuidados continuados nesta área. "Estou perfeitamente convicto de que será nesta legislatura que serão dados passos significativos com experiências duradouras na área dos cuidados continuados, e que ganhem a relevância que não puderam ter”, disse Fernando Leal da Costa.

O relatório apresentado considera “inevitável e premente falar nos Cuidados Continuados Integrados em Saúde Mental (CCISM), sistematicamente anunciados e adiados por conhecidos constrangimentos financeiros, com muitos a interrogarem-se se a situação presente não sai mais onerosa”. O documento lembra que o aumento do risco de dependência não é isento de custos para o Serviço Nacional de Saúde e acrescenta que neste contexto se registam "as declarações recentes da tutela de que, ainda em 2014, vão estar no terreno as primeiras tipologias de cuidados continuados de saúde mental”.

“Prometemos que arranjaremos estruturas de cuidados continuados”, afirmou hoje Leal da Costa.

O governante sublinhou também a importância dos cuidados comunitários para apoiar estes doentes, mas reconheceu o défice de cuidados ao nível de recursos humanos, bem como a dificuldade de gestão do património dos doentes internados.

Esta preocupação ganha mais volume com a prevalência total de perturbações mentais, reveladas no relatório e que levaram o director do serviço de psiquiatria do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Daniel Sampaio, a considerar este um “problema de saúde pública da maior importância”. “É preciso uma resposta para este magno problema, que deveria ser uma prioridade nacional”, frisou.

Como solução transitória
O Ministério da Saúde defendeu a criação de enfermarias para adolescentes com perturbações psiquiátricas, evitando o seu...

Durante a apresentação pública do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2014”, foi manifesta a preocupação dos profissionais de saúde mental com a falta de respostas para a infância e a adolescência, quer ao nível de recursos humanos como físicos.

A falta de camas para internamento, a existência de apenas duas unidades de saúde específicas e a escassez de médicos direccionados para esta problemática da saúde mental foram os temas que mais preocupação e debate suscitaram.

O director do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, Daniel Sampaio, considerou que a situação é “dramática” e “exige uma tomada de decisão”, em que a “resposta ao nível das camas é determinante”. O psiquiatra alertou que os jovens são internados em alas psiquiátricas de adultos, o que cria problemas aos adolescentes e aos serviços.

Esta preocupação foi partilhada por outros profissionais na sala, que afirmaram não só assistir a um aumento do número de adolescentes em unidades de adultos, como alertaram para os “imensos riscos” que tal circunstância acarreta.

A necessidade de formar mais pedopsiquiatras também foi amplamente referida, embora tenha sido igualmente reconhecido que para tal é preciso que existam mais centros para a infância e a adolescência.

Respondendo ao repto lançado pelos profissionais de saúde, o secretário de Estado Leal da Costa reconheceu que a resposta em ambulatório ainda é insuficiente e que “o internamento está em situação paupérrima e de depauperamento”.

Para o governante, a criação de uma unidade de internamento em Coimbra, para dar resposta à zona Centro, é necessária e urgente, mas não se comprometeu com prazos, afirmando que “em alguns momentos o óptimo é inimigo do bom”.

“Temos que encontrar algumas soluções enquanto não conseguimos chegar ao óptimo. Os internamentos em unidades de adultos é obviamente uma péssima solução em que não podemos continuar a insistir”, afirmou.

Como tal, lançou um desafio aos especialistas, no sentido da “criação de enfermarias próprias para adolescentes”.

“Estou a pensar numa solução transitória, em vez do internamento em unidades de adultos”, sublinhou Leal da Costa. O relatório apresentado indica que em Portugal existem apenas 24 camas de internamento psiquiátrico para crianças e jovens: 10 na zona Norte e 14 na zona de Lisboa e Vale do Tejo.

Tendo em conta esta escassez, o relatório refere que muitos casos acabam por ser internados noutras estruturas, nomeadamente em serviços pediátricos e psiquiátricos.

Relativamente às duas unidades especializadas existentes no país (uma em Lisboa e outra no Porto), “verifica-se, em ambas, uma alarmante incapacidade das estruturas da comunidade (quer famílias quer instituições) em gerirem adequadamente os casos mais sensíveis, endossando-os mais frequentemente aos serviços de urgência com frequente pedido de internamento”.

O relatório revela ainda que a região do Porto referenciou mais primeiros surtos psicóticos, enquanto a região de Lisboa e Vale do Tejo registou um aumento de tentativas de suicídio, oriundas sobretudo de classes sociais médias e médias/altas.

Esta mesma unidade de Lisboa assinalou também um aumento de pressão no Serviço de Urgência no último trimestre de 2013, muito superior ao tradicional – de Maio a Julho.

Alteração da composição
O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida vai contar com um representante da Ordem dos Farmacêuticos, alteração que...

Esta alteração da composição do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) é proposta num projecto de lei dos partidos PSD, PS e CDS-PP, que justificam a mudança com o facto de a área farmacêutica ser uma daquelas em que se “colocam as mais variadas questões éticas, até pelo constante acesso científico a novos meios de diagnóstico e de tratamento de doenças”.

Actualmente, o CNECV é composto por “seis pessoas de reconhecido mérito que assegurem especial qualificação na reflexão ética suscitada pelas ciências da vida, eleitas pela Assembleia da República”.

Fazem ainda parte do Conselho “oito pessoas de reconhecido mérito que assegurem especial qualificação no domínio das questões da bioética”, designadas pelas Ordens dos Médicos, dos Enfermeiros, dos Biólogos, dos Advogados, pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a Academia das Ciências de Lisboa, o conselho médico-legal do Instituto Nacional de Medicina Legal e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

O CNECV conta ainda com três pessoas de “reconhecido mérito científico nas áreas da biologia, da medicina ou da saúde em geral e das ciências da vida e duas pessoas de reconhecido mérito científico nas áreas do direito, da sociologia ou da filosofia, todas designadas pelo Governo”.

Na justificação do projecto de lei, é recordado que a composição do CNECV foi sendo paulatinamente alargada”, passando a incluir membros designados pelas Ordens dos Biólogos e dos Enfermeiros.

Os autores do documento consideram “injustificada” a ausência de um representante da Ordem dos Farmacêuticos, tendo em conta que a actividade do CNECV “se reportar a matérias com uma importante componente de novas terapêuticas e, também, de inovação farmacológica”.

“Acresce que os farmacêuticos constituem uma das mais importantes profissões da saúde que interage quotidianamente com os cidadãos, seja ao nível da farmácia comunitária ou hospitalar ou, ainda, das análises clínicas”, lê-se no projecto de lei.

A inclusão de um representante dos farmacêuticos no CNECV responde a uma pretensão da Ordem destes profissionais que já a tinha solicitado à Assembleia da República.

Em Julho, numa carta dirigida à presidente da Assembleia da República, com conhecimento dos grupos parlamentares, o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos lamentava que na composição do CNECV não constasse um farmacêutico.

“Tal lacuna torna-se ainda mais incompreensível na medida em que o CNECV integra na sua composição membros designados pelas Ordens dos Médicos, dos Enfermeiros, dos Biólogos e dos Advogados - profissões que é certo lidam directa e diariamente com questões éticas, morais, técnicas e científicas relativas às ciências da vida”.

Estas profissões, na opinião do bastonário, não lidam com estas questões “em maior grau do que os farmacêuticos, que igualmente se deparam no seu dia-a-dia com questões desta natureza, sendo aliás muitas vezes a primeira linha de intervenção no contacto directo com os cidadãos”. Para amanhã [5 de Dezembro] está igualmente marcada a eleição de membros para o CNECV, uma vez que o mandato da actual equipa já terminou.

Estudo conclui
O tratamento de mulheres grávidas poderia evitar a infecção por VIH de 107 mil bebés anualmente na África subsaariana, revela...

O estudo, realizado pelo Guttmacher Institute e pelo Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), refere que apenas 27% dos 1,4 milhões de mulheres grávidas infectadas com o vírus da SIDA naquela região, que inclui Moçambique e Angola, recebem medicamentos que protegeriam a sua saúde e evitaria a transmissão aos recém-nascidos.

Como resultado, 115.000 crianças são infectadas com VIH anualmente durante a gravidez, número que poderia ser reduzido em 93%, para apenas oito mil, se fossem prestados cuidados de saúde adequados.

Segundo o documento, intitulado "Somar: Custos e Benefícios de Investir em Serviços de Saúde Reprodutiva" e apresentado hoje em Londres, custaria 3,1 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros) testar e tratar com medicamentos anti-retrovirais durante seis semanas todas as grávidas e recém-nascidos.

Ao todo, estima-se que 183 mil mulheres morram na África subsaariana de causas relacionadas com a gravidez, 1,2 milhões de bebés não sobrevive para além do primeiro mês, valores que podem ser reduzidos em 69 e 82%, estimam os autores.

Todavia, dar resposta a todas as necessidades de serviços de contracepção, medicamentos, acompanhamento médico e instalações médicas para grávidas implicaria gastar 17,2 mil milhões de dólares (14 mil milhões de euros), cinco vezes mais do que o valor gasto actualmente.

O estudo conclui que, globalmente, as necessidades das mulheres ao nível da saúde reprodutiva estão abaixo das necessidades, nomeadamente o uso de contraceptivos: 225 milhões de mulheres querem, mas não têm acesso a meios de planeamento das gravidezes.

"O relatório indica que existe esta necessidade substancial para mulheres que querem evitar gravidezes indesejadas. Há uma grande variedade de métodos eficientes, mas a nossa recomendação é que seja a mais variada possível", disse a presidente do Guttmacher Institute, Ann Starrs.

Susheela Singh, responsável pela investigação da mesma instituição, admitiu que estes números acompanharam o crescimento populacional, mas não só.

"Há cada vez mais mulheres querem ter famílias pequenas ou controlar a altura em que têm filhos, em particular em África", vincou.

Em Matosinhos
A associação Nomeiodonada prevê abrir no início de 2015 o “Kastelo”, um projecto pioneiro de cuidados continuados e paliativos...

“Se não fosse este prémio [BPI Capacitar] não conseguíamos abrir no primeiro trimestre de 2015, porque não tínhamos verba para o equipamento da unidade de fisioterapia. Prevemos que a entrega da obra seja feita na terceira semana de Janeiro e precisamos de pelo menos mais um mês para equipar”, disse Teresa Fraga, a enfermeira responsável pelo projecto e pelo equipamento situado no concelho de Matosinhos, distrito do Porto.

A associação foi a “grande vencedora” da 5.ª edição do prémio BPI Capacitar, ao arrecadar um quinto do valor total de 500 mil euros entregues a 25 instituições para projectos de inclusão social, depois de uma selecção de 264 candidaturas apresentadas.

Com capacidade para 30 crianças, o “Kastelo” vai acolher 22 a necessitar de cuidados continuados, quatro a precisar de cuidados paliativos (nos casos em que as doenças ou processos crónicos e incuráveis estão em fase terminal) e quatro no centro de dia, adiantou Teresa Fraga.

A responsável esclareceu ainda que foi devido a questões “legais” que as obras começaram em Abril, mais tarde do que estava previsto e que apontava a abertura do projecto no verão de 2014.

A intenção é que a unidade esteja aberta 24 horas por dia, com uma unidade de dia e outra de internamento, destinado a crianças e jovens dos zero aos 18 anos com o objectivo de servir também “para descanso do cuidador”.

“Tratar de uma criança 24 horas por dia, muitas vezes com outros filhos, é muito difícil”, justificou Teresa Fraga quando foi lançada a primeira pedra do “Kastelo”, em Novembro de 2013.

“Esta casa vai contribuir para isso. Os pais podem deixar as crianças durante um período para descansarem, podem deixar e vir buscar ao fim de semana, podem vir ao fim do dia. E estará aberta durante 24 horas por dia, portanto podem vir à hora que quiserem, de acordo com os seus horários de trabalho”, frisou a responsável na cerimónia.

Na altura, o projecto precisava de um milhão de euros para obras de reabilitação da casa e adaptação do jardim doados ao Hospital Maria Pia, que o Centro Hospitalar do Porto cedeu à Associação Nomeiodonada.

A benemérita, Marta Ortigão, deixou o legado “há 35 anos” com o objectivo de apoiar crianças doentes, explicou Teresa Fraga, a enfermeira responsável.

Câmara de Oleiros
A Câmara de Oleiros vai financiar a formação em medicina de jovens naturais do concelho que se queiram formar, tanto em...

Para o efeito, a autarquia fez um regulamento, já aprovado pelo executivo, no qual se estabelecem as regras para que os jovens naturais do concelho de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, possam beneficiar deste apoio virado para a especialidade de medicina familiar.

"Uma das condições para os jovens usufruírem deste apoio é que sejam naturais do concelho e que, após a conclusão do curso de medicina, se fixem em Oleiros, com residência permanente", disse o presidente da Câmara de Oleiro.

O regulamento estipula também que caso o jovem conclua a licenciatura e que por uma razão que não lhe possa ser directamente imputada não se possa vir a fixar em Oleiros, terá que indemnizar a câmara pelo valor do dinheiro investido.

Mas, caso o médico opte, propositadamente, por não fixar residência no concelho, além de ter que indemnizar a autarquia sobre o valor do financiamento, irá ainda sofrer outras penalizações acentuadas.

Fernando Marques Jorge referiu que o município optou por colocar esta medida do terreno, porque "sucessivamente, os médicos colocados no centro de saúde local não ocupam as vagas". "Há mais de 30 anos que não há um médico residente no concelho de Oleiros", sublinhou.

O autarca explicou ainda que, neste momento, já há dois jovens interessados neste apoio do município que, em números redondos, irá rondar os 30 mil euros por ano a cada beneficiário. "A câmara avança com o financiamento, sendo que parte dele será a fundo perdido (cerca de 40%) e outra parte reembolsada (60%) quando o jovem já estiver a exercer medicina", referiu.

Segundo o presidente da Câmara de Oleiros, com esta decisão pretende não só resolver uma questão fundamental para o concelho (a presença de médico), como também fixar jovens. "Esta é uma medida pioneira e inédita de fixar médicos e jovens no concelho, nunca foi feito em Portugal", concluiu o autarca.

“Portugal – Saúde Mental em Números 2014”
O número de vítimas mortais em acidentes de viação com substâncias psicotrópicas no organismo, nomeadamente álcool e drogas,...

O relatório do Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que será hoje apresentado em Lisboa, refere que, entre 2009 e 2013, o número de vítimas mortais em acidentes de viação com resultados positivos no rastreio para a presença de substâncias psicotrópicas aumentou, representando 11,2% dos rastreios feitos no ano passado pelo Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses (IMLCF).

A combinação de álcool e droga é mais frequente nestas vítimas mortais em acidentes de viação, atingindo os 53,8%, refere o documento.

Em 2013, foram identificadas 26 vítimas mortais de acidente de viação (condutor do veículo) com substâncias psicotrópicas no organismo, detectadas por autópsia no IMLCF.

Destas 26 vítimas mortais, 11,5 por cento tinham canabinóides no organismo, 26,9% opiáceos, 3,8% cocaína e metabolitos e 3,8% várias drogas.

Em 2012, registaram-se 154 óbitos com suspeita de suicídio, dos quais 23 deram positivo para etanol, quatro para canabinóides, quatro para opiáceos e três para cocaína.

Os autores do documento identificaram, em 2012, 2.288 óbitos por doenças atribuíveis ao álcool.

No mesmo ano, foram ainda registados 93 óbitos atribuídos a perturbações mentais e comportamentais devidas ao uso de álcool.

Direcção-Geral da Saúde
Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas, doenças que mais contribuem para anos de vida perdidos, a...

De acordo com o relatório, que cita o 1º Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental divulgado em 2013, as perturbações psiquiátricas afectam mais de um quinto da população portuguesa. Com os valores mais altos de prevalência anual destacam-se as perturbações da ansiedade (16,5%) e as perturbações depressivas (7,9%).

"Em comparação com outros países ocidentais, Portugal apresenta dos mais altos valores de prevalência de perturbações psiquiátricas (22,9%), apenas comparáveis com a Irlanda do Norte (23,1%) e com os EUA (26,4%).

Reportando-se aos dados mais recentes disponíveis sobre os anos perdidos de vida saudável, relativos a 2010, o relatório revela que as doenças psiquiátricas representaram 11,75% da carga global de doença, logo atrás das doenças cérebro-cardiovasculares (13,74%) e com mais peso do que as doenças oncológicas (10,38%).

Em relação à carga de morbilidade, quantificada através dos anos vividos com incapacidade, as perturbações mentais e do comportamento constituem um "motivo acrescido de preocupação" face ao valor apurado (20,55%), em relação às doenças que se lhe seguem: respiratórias (5,06%) e diabetes (4,07%).

Quanto à taxa de mortalidade por suicídio, o relatório aponta para um aumento em 2012, último ano com dados disponíveis.

Entre 2008 e 2012, esta taxa variou entre 9,7 e 10,1 por 100 mil habitantes, sendo que os valores mais expressivos se verificam na faixa etária acima dos 65 anos, com uma taxa de 21,1 casos por 100 mil habitantes.

O relatório sublinha, contudo, a existência de "fortes indícios de sub notificação" do suicídio como causa de morte, devido ao grande número de mortes por "causa indeterminada", uma realidade que deverá mudar em 2014, com a entrada em vigor em Janeiro do sistema SICO (Sistema de Informação de Certificados de Óbito), que permite conhecer dados mais actualizados e mais rigorosos.

O relatório da Direcção-Geral da Saúde revela ainda que as equipas comunitárias de saúde mental em Portugal continuam num patamar de desenvolvimento inferior ao dos restantes países da Europa Ocidental, considerando que o modelo de financiamento e composição continua a ser um dos maiores obstáculos à evolução do funcionamento dos serviços.

"Enquanto este aspecto não se modificar, a intervenção psicofarmacológica tenderá a continuar a ser a resposta predominante, mesmo nas situações em que não está particularmente indicada".

Portugal é também um dos países europeus com maior consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, sendo o alprazolam e o lorazepam as duas substâncias que mais se destacam e que integram o subgrupo das benzodiazepinas com maior potencial de induzirem tolerância e dependência.

Estas substâncias têm registado acréscimos anuais de consumo, contrariando a tendência verificada no resto da União Europeia, pelo que o relatório recomenda uma "análise da prática sobre a prescrição e utilização destes fármacos".

O documento aponta ainda para a necessidade de reforçar e descentralizar médicos especialistas, quer para adultos quer para crianças e adolescente

Direcção-Geral da Saúde
Portugal precisa de mais camas de internamento psiquiátrico para crianças e jovens, dado existirem apenas 24 para todo o país,...

O documento aponta para a necessidade de mais camas no sector público destinadas ao grupo de crianças e jovens, uma vez que existem apenas 10 para a zona Norte e 14 para a zona de Lisboa e Vale do Tejo.

“Tendo em conta a escassez de camas nas duas estruturas de psiquiatria da infância e adolescência com unidades de internamento”, o relatório refere que muitos casos acabam por ser internados noutras estruturas, nomeadamente em serviços pediátricos e psiquiátricos.

Relativamente às duas unidades especializadas existentes no país (uma em Lisboa e outra no Porto), “verifica-se, em ambas, uma alarmante incapacidade das estruturas da comunidade (quer famílias, quer instituições) em gerirem adequadamente os casos mais sensíveis, endossando-os mais frequentemente aos serviços de urgência com frequente pedido de internamento”.

O relatório revela ainda que a região do Porto referenciou mais primeiros surtos psicóticos, enquanto a região de Lisboa e Vale do Tejo registou um aumento de tentativas de suicídio, oriundas sobretudo de classes sociais médias e médias/altas.

Esta mesma unidade de Lisboa assinalou também um aumento de pressão no Serviço de Urgência no último trimestre de 2013, muito superior ao tradicional – de Maio a Julho.

Estudo conclui
Uma nova substância, testada em ratos, revelou-se promissora na recuperação de funções perdidas na sequência de lesões na...

O composto, denominado ISP, que actua nos péptidos (biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos) que se produzem no interior das células, ajudou roedores, com lesões graves na medula espinal, a recuperarem a capacidade de urinar ou fazer movimentos.

Os cientistas que encabeçaram a investigação, da Case Western Reserve University, em Cleveland, nos Estados Unidos da América, ressalvam que são necessários mais estudos, apesar de os resultados representarem uma esperança para futuros tratamentos em humanos.

O trabalho procurou formas de resolver o dilema de quando as fibras nervosas da medula espinal estão danificadas e os sinais emitidos pelo cérebro não chegam aos músculos abaixo da zona lesionada.

As fibras nervosas tentam atravessar a área lesionada e ligar-se a outras fibras, mas ficam encurraladas devido aos proteoglicanos, proteínas que existem no interior das células.

A nova substância, ISP, foi concebida para agir no receptor das biomoléculas na superfície das células nervosas. Tal como um interruptor, “apaga” a resposta aos proteoglicanos, que causam o bloqueio.

Na experiência, 26 ratos com lesões graves na medula espinal foram tratados com ISP durante sete semanas. A maioria, 21, recuperou uma ou mais de três funções: capacidade de movimento, de equilíbrio e de controlo do ato de urinar.

Alguns dos roedores conseguiram readquirir as três funções, outros uma ou duas, e cinco nenhuma. Os investigadores não conseguiram perceber por que os animais recuperaram uma determinada função, e não outra.

Segundo o estudo, o novo composto induziu o aparecimento de ramificações de fibras nervosas, que controlam o movimento abaixo na zona lesionada.

O mecanismo pode ter tido efeito, de acordo com os cientistas, no reforço dos níveis de um importante neurotransmissor, a serotonina, entre as poucas fibras nervosas que não ficaram danificadas.

Estudo divulga
Um em cada quatro doentes com esclerose múltipla foram obrigadas a mudar o tipo de trabalho que realizavam devido à doença,...

Realizado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), o estudo analisou o impacto da esclerose múltipla (EM) nos doentes e seus cuidadores, tendo inquirido 400 doentes, 66% dos quais mulheres, com uma média de idades de 44,4 anos, e 70 cuidadores, com uma média de idades de 47,7 anos.

O estudo “‘EMpower’: Dar força aos doentes com Esclerose Múltipla”, refere que a doença “é um assunto de família, com um impacto significativo nos cuidadores informais”.

Adianta que 16,2% dos cuidadores inquiridos prestam cuidados durante 24 horas e 23,6% durante uma a duas horas por dia.

Quase 29% disseram ter alterado o tipo de trabalho realizado, o que, para 84,2% dos casos, resultou numa diminuição dos seus rendimentos, e 11% afirmaram que tiveram de reduzir as horas de trabalho.

Para 61,7% dos doentes, tarefas habituais como o trabalho, o estudo ou o lazer são feitas com muita dificuldade, e 30,7% afirmam ainda ter problemas em vestir-se ou tratar da sua higiene pessoal, refere o estudo, divulgado no Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla que se assinala hoje.

Em declarações, a secretária-geral da SPEM, Manuela Neves, destacou uma conclusão do estudo, segundo a qual nenhum cuidador classifica a respectiva qualidade de vida como muito boa, sublinhando que mais de 22% a classificam como má ou muito má.

Estes resultados “espelham toda a realidade da esclerose múltipla em Portugal”, dos doentes e dos cuidadores, afirmou.

Isto acontece porque “a esclerose múltipla é uma doença cujos pacientes estão dependentes em larga escala de familiares ou de pessoas próximas que cuidem deles e há um afastamento muito grande daquilo que é a obrigação do Estado de apoiar estes doentes, daquilo que é o apoio verificado na realidade”, explicou Manuela Neves.

“Quem tem que apoiar um doente, por exemplo, um filho ou um irmão, acaba por ter de deixar um bocadinho para trás aquilo que é a sua realização pessoal” e profissional em “prol da necessidade de ajudar alguém que precisa de uma forma premente”.

Para Manuela Neves, estes resultados concretizam o conhecimento que a associação tem, através dos relatos recebidos de doentes, e devem ser alvo de uma reflexão profunda.

“É alarmante pensar que uma pessoa com esclerose múltipla vive com menos de 500 euros por mês (como relataram 21% dos inquiridos) e que mais de 60% dos cuidadores não tem apoios na prestação de cuidados”.

Os autores da investigação referem que o estudo pretendeu obter uma “fotografia” da situação actual em Portugal sobre a vivência destes doentes, “pois a falta de dados sobre a maioria das doenças é um problema crónico” no país.

“Só assim será possível delinear medidas de melhoria a implementar e estudar o seu impacto no futuro”, sublinhou Sofia de Oliveira Martins, da Faculdade de Farmácia.

A EM é uma doença crónica e progressiva e manifesta-se geralmente em adultos jovens (20 a 40 anos), sendo mais frequente nas mulheres.

 

Doentes esperam mês e meio por primeira consulta

Os doentes com esclerose múltipla esperam, em média, um mês e meio pela primeira consulta da especialidade após o diagnóstico e a maioria apenas tem duas consultas por ano, revela o mesmo estudo.

O estudo EMpower: “Dar força aos doentes com Esclerose Múltipla”, realizado pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), analisou o impacto da doença nos doentes e seus cuidadores. O estudo revela dificuldades no acesso destes doentes aos cuidados de saúde, esperando em média um mês e meio pela primeira consulta especializada após diagnóstico.

Mais de 60% dos doentes apenas tem duas consultas por ano, uma situação que a secretária-geral da SPEM, Manuela Neves, atribui à “falta ou deficiente distribuição de especialistas” nos hospitais públicos. O estudo refere também que 14% dos inquiridos dizem ter dificuldade em obter medicamentos para o tratamento da doença.

As principais causas apontadas para esta dificuldade de acesso foram “medicamento não disponível no hospital” (60%), “medicação insuficiente para os dias de tratamento” (16%) e “dificuldade na marcação de consulta” (7%).

A responsável da SPEM disse que a espera para a consulta tem consequências, sobretudo, para “quem está com um surto e pode ficar um mês e meio sem tratamento”.

Relativamente à medicação, Manuela Neves explicou que, por uma questão de diminuição de ‘stock’ ou devido a uma menor quantidade de medicamentos nos hospitais, muitos doentes que vão levantar a medicação à farmácia hospitalar não trazem a quantidade suficiente. “A medicação que deviam trazer para um mês trazem para 15 dias ou para uma semana porque o hospital não tem quantidade suficiente”, elucidou.

Os autores do estudo afirmam que “os resultados demonstram uma realidade preocupante do impacto social da doença”, sublinhando que a ocorrência de surtos nos 400 doentes que participaram no estudo levou a que estes ficassem de baixa em média 20 dias no último ano.

O tratamento da esclerose múltipla tem como principais objectivos controlar a ocorrência de surtos e a progressão da incapacidade do doente, acrescentam.

Manuela Neves disse que este “é o maior estudo epidemiológico” realizado em Portugal nesta área.

“Tínhamos muita falta de um trabalho desta natureza”, cujos resultados permitirão a quem está no terreno (técnicos de saúde e instituições) ter “uma actuação e um olhar diferente para aquilo que são as necessidades mais prementes” dos doentes e cuidadores.

Este estudo também é importante para “alertar as pessoas, o Ministério da Saúde, a Segurança Social e a sociedade civil de que existem estas situações dramáticas de doentes de esclerose múltipla e suas famílias que precisam urgentemente de ser apoiadas”, sublinhou Manuela Neves.

A EM é uma doença crónica e progressiva e manifesta-se geralmente em adultos jovens (20 a 40 anos), sendo mais frequente nas mulheres.

Estima-se existirem cerca de 5 mil doentes em Portugal, estando em tratamento cerca de 3.500.

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