Diabetes & Bem-Estar
No dia 14 de novembro assinala-se o Dia Mundial da Diabetes, uma data criada pela Federação Internac

A diabetes mellitus é uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue, resultantes da deficiência na produção ou na ação da insulina. Embora existam diferentes tipos de diabetes, todos requerem uma gestão contínua que envolve monitorização da glicemia, alimentação equilibrada, prática de exercício físico e, muitas vezes, toma de medicação. Quando não controlada, pode causar complicações graves, como doenças cardiovasculares, renais, oculares e neuropatias. Em Portugal, estima-se que cerca de 13% da população adulta tem diabetes, sendo que muitos casos permanecem por diagnosticar.

Impacto da Diabetes no Local de Trabalho

O estigma pode manifestar-se de várias formas: comentários depreciativos, falta de compreensão sobre a doença, desconfiança em relação à capacidade profissional da pessoa com diabetes ou até mesmo a ausência de condições adequadas para gerir a sua saúde durante o horário laboral. Por exemplo, colaboradores com diabetes podem ser criticados por necessitarem de comer fora de horas, medir a glicemia ou administrar insulina. Outros podem sentir-se forçados a esconder a sua condição por receio de discriminação ou de serem vistos como “menos capazes”. Estas situações geram ansiedade, isolamento e menor adesão ao tratamento, comprometendo tanto o bem-estar individual como o ambiente organizacional.

O ambiente de trabalho é onde grande parte da vida adulta se desenvolve, e é um ponto estratégico para promover o bem-estar. O estigma, a falta de compreensão e a discriminação no ambiente de trabalho podem dificultar a gestão da doença e afetar o bem-estar físico e emocional. É vital que os locais de trabalho sejam ambientes inclusivos e informados, onde exista apoio para a monitorização da glicemia, pausas para alimentação adequada e compreensão em relação às necessidades específicas de quem vive com diabetes. Pequenas adaptações e atitudes empáticas podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida e produtividade dos colaboradores.

Medidas para reduzir o estigma e promover ambientes inclusivos

Educação e sensibilização:

  • Explicar causas, cuidados e formas de convivência;
  • Envolver profissionais de saúde;
  • Realizar sessões informativas ou campanhas internas.

Flexibilidade e compreensão:

  • Permitir pausas para medir a glicemia, administrar insulina e fazer refeições;
  • Adaptar horários ou tarefas em momentos de descompensação;
  • Promover bem-estar e produtividade.

Promoção de estilos de vida saudáveis:

  • Disponibilizar opções alimentares equilibradas;
  • Incentivar pausas ativas e prática de exercício físico;
  • Beneficiar todos os colaboradores.

Ambiente de empatia:

  • Estimular a partilha de necessidades sem medo de julgamento;
  • Valorizar o respeito e a compreensão;
  • Reduzir isolamento e estigma.

Políticas laborais inclusivas:

  • Reconhecer as necessidades das pessoas com doenças crónicas;
  • Garantir igualdade de oportunidades;
  • Assegurar condições de trabalho seguras.
     

Importância da prevenção e do acompanhamento

Nos Cuidados de Saúde Primários e na Comunidade, o papel dos profissionais de saúde é essencial na educação para a saúde, na vigilância e no acompanhamento contínuo das pessoas com diabetes. A adoção de estilos de vida saudáveis, com uma alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e monitorização periódica da glicemia, são pilares fundamentais na prevenção e controlo da doença.  Através de ações de promoção da saúde, rastreios e acompanhamento individualizado, é possível não apenas controlar a doença, mas também reduzir o preconceito e aumentar a literacia em saúde.

A abordagem comunitária permite levar o conhecimento até às pessoas, criando pontes entre os serviços de saúde, as famílias e as empresas. Uma comunidade informada é uma comunidade mais justa e mais saudável! Neste Dia Mundial da Diabetes, deixamos o convite a toda a população: informe-se, participe e apoie quem vive com esta condição. A mudança começa com o conhecimento e cada gesto de compreensão e apoio é um passo em direção a uma vida melhor.

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Opinião
A diabetes é uma condição crónica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e que, quando mal con

Em indivíduos saudáveis, o fígado ajuda a regular os níveis de glicose no sangue, armazenando glicose em excesso sob a forma de glicogénio e libertando-a quando os níveis de açúcar no sangue caem. No entanto, na diabetes tipo 2, o corpo não utiliza a insulina de forma eficaz (resistência à insulina), o que impede que a glicose seja absorvida adequadamente pelas células. Como resultado, o fígado pode produzir mais glicose do que o necessário, exacerbando os níveis elevados de açúcar no sangue, um dos principais problemas da diabetes.

Além disso, a resistência à insulina tem um impacto direto no fígado, favorecendo o acúmulo de gordura hepática. A esteatose hepática não alcoólica ou fígado gordo, é uma condição comum em pessoas com diabetes tipo 2. Nessa condição, as células do fígado acumulam gordura, o que pode levar à inflamação e originar danos progressivos ao fígado, eventualmente evoluindo para doenças mais graves, como a cirrose e até o cancro do fígado. A resistência à insulina também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de doenças hepáticas graves, já que o fígado desempenha um papel central na regulação do metabolismo e na gestão da glicose.

A relação entre diabetes e fígado é complexa e bidirecional. Por um lado, o fígado pode agravar o controlo glicémico em pessoas com diabetes, mas por outro, a presença de doenças hepáticas pode dificultar o controlo da glicose. Em pessoas com cirrose hepática, por exemplo, pode ocorrer uma desregulação dos níveis de glicose no sangue, o que pode levar a flutuações perigosas, com episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia.

A prevenção e o tratamento eficazes da diabetes são fundamentais para evitar complicações hepáticas. O controlo rigoroso da glicose no sangue, através de uma dieta equilibrada, exercício físico regular e, quando necessário, medicamentos, pode reduzir o risco de desenvolvimento de doenças hepáticas. A perda de peso em pessoas com sobrepeso ou obesidade, que são comuns entre os diabéticos, também é uma medida eficaz na prevenção da esteatose hepática e de outras complicações associadas.

Além disso, a consciencialização para a importância da monitorização regular da função hepática em pessoas com diabetes é fundamental. Exames de sangue, como a avaliação das enzimas hepáticas, podem ajudar a detetar precocemente sinais de dano hepático. Em alguns casos, a realização de uma ecografia hepática ou outros exames de imagem pode ser necessária para avaliar o grau de gordura acumulada no fígado.

A relação entre a diabetes e o fígado é fundamental para a saúde metabólica geral. Assim, o controle rigoroso da glicose, aliado a um estilo de vida saudável, pode não só ajudar a controlar a diabetes, como também a proteger a saúde do fígado e a evitar complicações a longo prazo.

Neste Dia Mundial da Diabetes, assinalado no dia 14 de novembro, a Associação para o Estudo do Fígado reforça a importância da prevenção da diabetes e das suas complicações. Lembre-se de que uma alimentação saudável, o controle do peso, a prática regular de exercício e a adesão ao tratamento recomendado pelos profissionais de saúde são as chaves para controlar a diabetes e proteger a saúde do fígado. Para aqueles que já convivem com a diabetes, é essencial monitorizar a saúde hepática regularmente para evitar danos maiores e promover um envelhecimento saudável.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Em Portugal e no mundo
Médicos e Associação de Doentes apelam ao diagnóstico precoce e à prevenção dos cancros do fígado e das vias biliares.

Os cancros do fígado e das vias biliares continuam a ser das doenças oncológicas com maior taxa de mortalidade em Portugal e no mundo1,2, em grande parte devido ao diagnóstico tardio e à ausência de programas de rastreio populacionais3,4. Especialistas e a Europacolon refletem sobre estas questões e reforçam o apelo à prevenção e ao aumento da literacia em saúde.

O Dr. José Presa, Hepatologista, Diretor do Serviço de Medicina Interna da Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro – Vila Real, alerta que o número de casos de carcinoma hepatocelular (CHC) em Portugal “tem vindo a aumentar a cada ano, sem que haja ainda um reflexo direto no número de óbitos”. Entre os principais fatores de risco, destaca “o consumo excessivo e abusivo de álcool e o número crescente de casos de doença metabólica hepática associada à obesidade, que constituem um grande motivo de preocupação.”5,6

Segundo o especialista, a doença frequentemente evolui sem sintomas relevantes: “quando surgem, são inespecíficos, como perda de peso e apetite, aumento do volume abdominal ou então os doentes ficam com uma tonalidade amarelada, designada icterícia”.7

A assinalar os avanços no diagnóstico por imagem, com recurso a Tomografia Computorizada (TAC) e Ressonância Magnética (RMN) de alta resolução. O especialista reforçou também a evolução no tratamento, com a “introdução da imunoterapia nos esquemas terapêuticos disponíveis”.8

O médico sublinha que os principais desafios residem na “consciencialização para a doença entre profissionais de saúde, para reconhecerem em primeiro lugar a cirrose hepática e incluírem posteriormente os doentes em programas de rastreio semestral. Outro grande desafio consiste na adesão dos doentes e na capacidade do sistema hospitalar para garantir o rastreio atempado”.

O especialista recorda ainda que, apesar da dificuldade no rastreio, nos últimos anos registaram-se avanços importantes: “a adição da imunoterapia à combinação de quimioterapia melhorou a sobrevida em doentes com colangiocarcinoma avançado e a medicina personalizada, com terapias alvo dirigidas a mutações genéticas como a Isocitrato Desidrogenase 1 (IDH1) e o Recetor do Fator de Crescimento de Fibroblastos tipo 2 (FGFR2), trouxe novas perspetivas de esperança.”9,10

O Dr. Nuno Bonito, Diretor do Serviço de Oncologia Médica do Instituto Português de Oncologia de Coimbra, chama a atenção para o aumento dos tumores das vias biliares (colangiocarcinoma e carcinoma da vesícula biliar), “uma entidade clínica rara, mas agressiva.”11,12 Em Portugal, segundo dados do Registo Oncológico Nacional (RON) e estimativas do GLOBOCAN, o cancro das vias biliares “mantém uma incidência baixa, mas com tendência crescente, refletindo o envelhecimento populacional e o aumento da capacidade diagnóstica.”2,13

Estima-se que o colangiocarcinoma represente cerca de 3% dos tumores gastrointestinais. E que a maioria dos casos ocorre entre os 50 e os 70 anos.12,14

Relativamente a sintomas, o Dr. Nuno Bonito explica que “a ausência de sinais específicos nas fases iniciais constitui um dos principais obstáculos ao diagnóstico precoce. Icterícia progressiva, prurido cutâneo, dor abdominal, cansaço extremo, perda acentuada do apetite, perda de peso inexplicada ou urina escura devem motivar uma avaliação médica célere.”15,16

Nos últimos anos, registaram-se avanços significativos na abordagem a esta patologia. Estes avanços incluem tanto o diagnóstico, como o tratamento desta doença: “a adição da imunoterapia à combinação de quimioterapia melhorou a sobrevida em doentes com colangiocarcinoma avançado. A identificação de alterações genéticas específicas tem permitido o acesso a terapias alvo, com impacto positivo na sobrevida e qualidade de vida.”10,17,18

Apesar da “natureza não prevenível da maioria dos casos”14, o especialista refere a importância de “manter um estilo de vida saudável, evitando álcool e tabaco, o controlo de doenças crónicas do fígado e a vigilância médica regular em grupos de maior risco”.

O Eng.º Vítor Neves, presidente da Europacolon, reforça que a consciencialização sobre o cancro do fígado continua a ser “muito limitada em Portugal”, apontando que a solução passa por “apostar numa comunicação clara, contínua e acessível, capaz de informar, sensibilizar e mobilizar a sociedade para a prevenção e o diagnóstico precoce.”

Aponta para a existência de fragilidades no percurso do doente com cancro do fígado em Portugal: “O diagnóstico tardio, a baixa literacia em saúde, a falta de planos para a sensibilização para a doença, o apoio psicossocial insuficiente e as desigualdades territoriais no acesso a equipas multidisciplinares e tratamentos inovadores são alguns exemplos das lacunas existentes”.

Sobre o papel da Europacolon, salienta que é “estar ao lado do doente e família em todas as fases da doença”, disponibilizando serviços tais como a Linha de Apoio ao Cidadão e a Linha de Apoio Psicológico para Cuidadores Informais, assim como consultas de psicologia e nutrição gratuitas aos Associados, formação específica para cuidadores ou ainda apoio jurídico e social”.

O presidente da Europacolon deixa alguns pedidos: “Às autoridades de saúde, para que priorizem os cancros digestivos dentro das estratégias nacionais, com reforço da prevenção, diagnóstico precoce e acesso rápido às terapêuticas; aos profissionais de saúde, em especial aos médicos de família, para que valorizem os sintomas e fatores de risco associados ao cancro do fígado e à sociedade, lembrando que a saúde do fígado também depende de escolhas individuais: hábitos saudáveis, vacinação contra hepatite B, rastreio nos grupos de risco.”

Na luta contra o cancro do fígado, é importante que “nenhum doente ou cuidador se sinta esquecido ou sozinho. O silêncio à volta destas doenças tem de ser quebrado, e a Europacolon Portugal está cá para dar voz a essa causa há quase 20 anos”, conclui.

 

Referências:

1. International Agency for Research on Cancer (IARC). Portugal – Fact Sheet 2022. GLOBOCAN. Disponível em: https://gco.iarc.who.int/media/globocan/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheet.pdf, consultado em outubro de 2025.

2. International Agency for Research on Cancer (IARC). Portugal – Fact Sheet 2022. GLOBOCAN. Disponível em: 11-liver-and-intrahepatic-bile-ducts-fact-sheet.pdf, consultado em outubro de 2025

3. Tejada-Maldonado J, et al. Diagnosis and treatment of hepatocellular carcinoma: An update. World J Hepatol. 2015 Mar 27;7(3):362–376. 

4. Ahn JC, et al. Hepatocellular carcinoma surveillance: current practice and future directions. Hepatoma Res. 2022 Mar 11;8:10.

5. Llovet JM, et al. Hepatocellular carcinoma. Nat Rev Dis Primers. 2021;7(1):6.

6. Shah PA, et al. NAFLD-related hepatocellular carcinoma: The growing challenge. Hepatology. 2023 Jan1;77(1):323-338.

7. Amin N, et al. Hepatocellular Carcinoma: A Comprehensive Review. Diseases. 2025 Jul 2;13(7):207.

8. Amin N, et al. Hepatocellular Carcinoma: A Comprehensive Review. Diseases. 2025 Jul 2;13(7):207.

9. Pellino A, et al. Precision medicine in cholangiocarcinoma. Transl Gastroenterol Hepatol. 2018 Jul 12:3:40.

10. Zhao L-M, et al. Advances in molecular and cell therapy for immunotherapy of cholangiocarcinoma. Front Oncol. 2023 Mar 29;13:1140103.

11. Mirallas O, et al. Advances in the systemic treatment of therapeutic approaches in biliary tract cancer. ESMO Open. 2022 Jun;7(3):100503.

12. Ghidini M, et al. Biliary tract cancer: current challenges and future prospects. Cancer Manag Res. 2019; 11: 379–388.

13. Registo Oncológico Nacional 2021. Disponível em: https://ron.min-saude.pt/media/2229/ron-2021.pdf, consultado em outubro de 2025.

14. Menachem T-B, et al. Risk factors for cholangiocarcinoma. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2007 Aug;19(8):615-7.

15. Liu XF, et al. Cholangiocarcinoma: Present Status and Molecular Aspects of Diagnosis. Oncol Res. 2015 Sep 15;22(4):177–183.

16. Shin D-W, et al. Diagnosis of Cholangiocarcinoma. Diagnostics (Basel). 2023 Jan 8;13(2):233.

17. Oh DY, et al. Durvalumab plus Gemcitabine and Cisplatin in Advanced Biliary Tract Cancer. NEJM Evid. 2022;1(8):EVIDoa2200015.

18.  Parisi A, et al. Pemigatinib for patients with previously treated, locally advanced or metastatic cholangiocarcinoma harboring FGFR2 fusions or rearrangements: A joint analysis of the French PEMI-BIL and Italian PEMI-REAL cohort studies. Eur J Cancer. 2024 Mar:200:113587

Condição tende a agravar-se no inverno
O frio e o mau tempo estão à porta e isso significa que muitos idosos passam a ficar mais tempo em casa, menos ativos e mais...

O inverno está a chegar e, com ele, uma realidade que se repete todos os anos: o isolamento crescente entre os mais velhos. As temperaturas baixas e o mau tempo levam muitos idosos a reduzir o contacto social e a permanecer mais tempo em casa, uma tendência que tem impacto direto na sua saúde física e emocional.

De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatística e dos Censos 2021, quase 40% dos idosos com mais de 80 anos vivem sozinhos. No total, mais de meio milhão de portugueses com 65 ou mais anos vivem sós, um número que continua a aumentar de ano para ano. Além disso, a população idosa em Portugal cresce cerca de 2% ao ano, o que coloca o nosso país entre os mais envelhecidos da União Europeia2.

O isolamento, a redução da atividade física e, muitas vezes, o menor apetite são fatores que, combinados, aumentam o risco de malnutrição, uma condição que muitas vezes passa despercebida. De acordo com especialistas em nutrição clínica, 1 em cada 3 idosos que vivem em casa pode estar em risco de malnutrição, valor que sobe ainda mais em contexto hospitalar ou institucional.1

Neste contexto, Fortimel, marca da Danone Nutricia dedicada à gestão nutricional da malnutrição associada a doença, desafiou a Dra. Margarida Graça Santos a explicar como reconhecer e combater esta condição: “Muitos familiares associam a perda de apetite, o cansaço ou a perda de peso simplesmente à idade, quando, na verdade, podem ser sinais precoces de malnutrição”, explica Margarida Graça Santos, Médica Especialista em Medicina Geral e Familiar, acrescentando que “Mesmo pequenas perdas de peso em idosos podem ter um grande impacto na força e na recuperação de doenças. Por isso, é fundamental agir cedo”.

A malnutrição pode ter múltiplas causas, desde a falta de apetite e dificuldades em mastigar ou engolir, até à solidão e à redução dos rendimentos, que limitam a qualidade da alimentação. Esta condição aumenta o risco de internamentos prolongados, perda de autonomia, além de comprometer a recuperação de cirurgias e doenças sazonais, como as gripes e viroses típicas do inverno.

“Garantir uma boa nutrição é um dos pilares mais importantes para envelhecer com saúde”, esclarece a profissional de saúde. “Refeições pequenas, densas em energia e proteína, com cores e sabores apelativos, podem fazer toda a diferença. E, quando não são suficientes, o médico ou nutricionista pode recomendar a toma de suplementos nutricionais orais, alimentos para fins medicinais específicos para a gestão nutricional da malnutrição de forma a reforçar a ingestão de energia e nutrientes”.

Num país cada vez mais envelhecido, o desafio é coletivo: olhar com atenção para os sinais de malnutrição nos nossos pais, avós e vizinhos, sobretudo nesta época do ano. Estar atento é cuidar e pode fazer toda a diferença na qualidade de vida e na autonomia de quem mais gostamos.

 

1Suominen MH, et al. How well do nurses recognize malnutrition in elderly patients? Eur J Clin Nutr. 2009; 63(2):292-6. Kaiser MJ, et al. Frequency of malnutrition in older adults: a multinational perspective using the mini nutritional assessment. J Am Geriatr Soc. 2010; 58(9):1734-8. Lelovics Z, et al. Results of nutritional screening in institutionalized elderly in Hungary. Arch Gerontol Geriatr. 2009; 49(1):190-6.

2Instituto Nacional de Estatística. Estimativas de população residente em Portugal 2023 [Internet]. Lisboa: INE; 2024 [citado 11 de novembro de 2025]. Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=645507713&DESTAQUESmodo=2&xlang=pt

Dia Mundial da Diabetes | 14 de novembro
No âmbito do Dia Mundial da Diabetes, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) apela à ação urgente sobre o...

A Lei n.º 75/2021, que consagra o direito ao esquecimento, foi um marco histórico para as pessoas que, como as que vivem com diabetes, tenham “superado ou mitigado situações de risco agravados de saúde ou de deficiência”. Esta legislação proíbe a discriminação no acesso a crédito e seguros, um passo fundamental para a inclusão. No entanto, a APDP tem recebido queixas que indicam que a lei não está a ser totalmente implementada, com pessoas com diabetes a serem penalizadas neste acesso.

Paralelamente, apesar do processo de auscultação pública para a regulamentação da lei já ter terminado, a APDP “gostaria de contribuir ativamente, nomeadamente na sensibilização e defesa dos direitos das pessoas com diabetes, cuja situação clínica não deve constituir motivo de exclusão ou agravamento injustificado em contratos de crédito ou seguros. É fundamental que a regulamentação final desta lei salvaguarde os princípios de equidade, inclusão e não discriminação que estiveram na sua origem”, explica João Filipe Raposo, Diretor Clínico da APDP.

José Manuel Boavida, Presidente da APDP, acrescenta: "Uma pessoa com diabetes controlada não pode ser tratada como um cidadão de segunda classe. A sua condição não a define, e não pode ser um obstáculo para a concretização de projetos de vida, como a compra de uma casa."

A APDP realça ainda a importância do bem-estar no trabalho para a gestão eficaz da diabetes. As leis laborais que garantem a segurança e a saúde no trabalho são cruciais, mas é preciso ir mais além. A flexibilidade para consultas médicas, a possibilidade de fazer pausas para monitorizar a glicemia ou administrar insulina, e um ambiente de trabalho psicologicamente seguro são essenciais para que a pessoa com diabetes possa conciliar a sua condição com uma carreira profissional de sucesso. O apoio da família é igualmente um pilar fundamental para o controlo da diabetes e para o bem-estar geral do indivíduo.

Em última análise, a APDP defende o direito à felicidade e a uma vida normal para todas as pessoas com diabetes. Com acompanhamento médico adequado, educação terapêutica e o apoio da sociedade, a diabetes pode ser gerida de forma a permitir uma vida plena e ativa.

"Neste Dia Mundial da Diabetes, a nossa mensagem é clara: é tempo de passar da lei à prática. É tempo de garantir que o direito ao esquecimento seja uma realidade para todos e que as pessoas com diabetes tenham as mesmas oportunidades de serem felizes e realizadas", remata José Manuel Boavida.

A propósito da efeméride, a APDP irá também realizar rastreios gratuitos à diabetes tipo 1 em crianças e jovens, entre os 3 e os 17 anos, e à diabetes tipo 2 em adultos. A iniciativa de prevenção decorrerá na sede da associação, em Lisboa, dia 14 de novembro, das 9h30 às 16h00.

 

Opinião
A solidão é frequentemente associada a sentimentos de vazio, abandono ou tristeza.

Estar sozinho não tem, forçosamente, de ser um tempo angustiante. Quando cultivado com intenção, pode tornar-se um momento de encontro connosco próprios. Claro que o silêncio pode, por vezes, confrontar-nos com pensamentos e emoções difíceis. No entanto, é precisamente essa introspeção que nos permite crescer, processar vivências e tomar decisões mais conscientes.

Há quem evite estar sozinho com receio dos seus próprios pensamentos, ideias ou memórias. Mas fugir de si mesmo é apenas adiar um encontro inevitável. A psicologia ensina-nos que evitar o desconforto emocional perpetua o sofrimento. Já o enfrentamento consciente permite transformação e alívio.

Estar sozinho não deve ser apenas um recurso em momentos de crise. Pelo contrário, a solitude é um componente essencial do bem-estar psicológico. Permite-nos organizar a mente, processar emoções, reencontrar o equilíbrio e retomar o rumo da vida com maior clareza.

Este tempo é particularmente importante após mudanças ou perdas significativas,quando sentimos confusão ou exaustão mental, em momentos de tomada de decisão e sempre que sentimos necessidade de "recarregar" emocionalmente.

Aprender a usufruir do próprio tempo, seja a ler, caminhar, viajar ou simplesmente estar, é um sinal de maturidade emocional. A psicologia reconhece o desejo de estar só como uma necessidade legítima e, muitas vezes, saudável. Pessoas com maior autorregulação emocional, autonomia e consciência de si próprias tendem a valorizar este tempo. O estar só é, frequentemente, o espaço onde surge a criatividade, a cura emocional e o verdadeiro autoconhecimento. O tempo a sós é uma prática de autocuidado, e não um sinal de isolamento. É na solitude que nos reencontramos, que ganhamos força e que, nos tornamos mais disponíveis para nós mesmos, para os outros e para a vida.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Opinião
A dor nas costas é muitas vezes vista como algo banal, quase inevitável com a idade.

Estas fraturas ocorrem frequentemente após esforços mínimos — levantar um saco, tossir ou até espirrar. O que as torna perigosas é a sua natureza discreta: muitas passam despercebidas, confundidas com “mais uma dor nas costas”, até que o doente começa a perder altura, a postura se inclina para a frente e a autonomia se esvai pouco a pouco.

Quando uma vértebra colapsa, todo o corpo se ressente. Surge dor intensa, dificuldade em respirar profundamente, perda de apetite e de energia. A imobilidade instala-se — e com ela a sarcopenia, a perda de massa muscular — que aumenta ainda mais o risco de novas quedas e fraturas. É um círculo vicioso que pode ser travado apenas com diagnóstico precoce e uma abordagem ativa.

O diagnóstico começa com uma radiografia, mas a tomografia computorizada (TAC) e a ressonância magnética (RMN) são muitas vezes essenciais para melhor as caraterizar e para excluir causas mais graves, como tumores ou infeções. É um erro comum tratar apenas a dor e ignorar a causa subjacente — a osteoporose. Uma fratura vertebral é quase sempre um sinal de alerta de uma doença silenciosa que precisa de ser tratada.

Na maioria dos casos, o tratamento é conservador: controlo da dor, tratamento da osteoporose e regresso gradual à atividade. É importante sublinhar que existe muito pouca evidência científica de que os coletes sejam eficazes — e o seu uso prolongado pode até estar associado a atrofia muscular e a uma recuperação mais lenta. O essencial é não perder a mobilidade nem a autonomia, pois o repouso prolongado é um dos principais inimigos da recuperação.

Quando, apesar do tratamento conservador, a dor se mantém e impede o doente de retomar a sua vida normal, pode estar indicada uma pequena intervenção cirúrgica chamada cifoplastia. Este procedimento minimamente invasivo consiste em injetar cimento ósseo na vértebra fraturada, estabilizando-a e aliviando a dor quase de imediato. É uma cirurgia segura, realizada frequentemente em regime de ambulatório e apenas com anestesia local, que permite recuperar rapidamente o movimento e reduzir complicações associadas à imobilidade.

Mas o essencial vem depois: prevenir a próxima fratura. Isso implica tratar a osteoporose com a medicação adequada, garantir uma alimentação rica em proteínas e vitamina D, e sobretudo manter o corpo em movimento. O treino de força e de equilíbrio têm mostrado, em múltiplos estudos, reduzir o risco de quedas e fraturas, mesmo em pessoas com idade avançada. Envelhecer com força é possível — e deve ser um objetivo.

As fraturas osteoporóticas da coluna não são um destino inevitável. São um sinal de que precisamos de cuidar da nossa mobilidade, da nossa postura e da nossa saúde óssea.

Olhar pelas costas é olhar pela vida.

 

Nota: 
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“Minutos Rosa”
Ao longo do mês de novembro, vão ser abordados temas como prevenção, diagnóstico, tratamento e bem-estar no cancro da mama....

O NorteShopping juntou-se ao Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) para lançar uma série especial de conversas curtas, pensadas para informar e sensibilizar o público sobre o cancro da mama. Com o nome “Minutos Rosa”, esta iniciativa traz especialistas de diferentes áreas médicas para falar, de forma clara e direta, sobre prevenção, diagnóstico, tratamento e bem-estar durante todo o percurso da doença.

Cada episódio tem entre dois a três minutos de duração e ficará disponível nas redes sociais do NorteShopping (Instagram, TikTok e Facebook). Os dois primeiros episódios, já lançados, contam com a participação da especialista em medicina geral e familiar, Dra. Maria de Sousa Miranda e com a médica oncologista Dra. Ana Ferreira, respetivamente, abordando mitos, sinais de alerta, tipos de tratamento e opções de apoio às pacientes.

Nos próximos episódios, que continuam até ao final do mês, serão abordados temas essenciais como diagnóstico por imagiologia com a Dra. Cláudia Carneiro Bilber, cirurgia oncológica com o Dr. Pedro Antunes, cirurgia plástica com a Dra. Matilde Ribeiro, saúde mental e acompanhamento psicológico com Dra. Sónia Castro e a experiência de uma paciente do IPO Porto.  

“Esta parceria com o IPO do Porto reflete o papel que o NorteShopping é capaz de assumir em temas relevantes para a sociedade, como é o caso da literacia em saúde. Acreditamos que um centro comercial pode – e deve – ser um espaço de partilha e de informação útil, quando se alia a parceiros de referência capazes de gerar um impacto positivo. E este projeto é uma prova disso”, afirma Paulo Valentim, diretor do NorteShopping.

Os episódios são gravados no espaço Galleria do NorteShopping, reforçando o compromisso do Centro com a informação, a saúde e o bem-estar da comunidade, unindo conhecimento, ciência e sensibilidade, desde a prevenção até à experiência do tratamento.

 

Agenda

Episódio 3 | O papel da imagiologia no diagnóstico precoce do cancro da mama e a importância dos rastreios regulares

Data: 13 de novembro, quinta-feira

Convidado: Dra. Cláudia Carneiro Bilber | Imagiologista

 

Episódio 4 | Cirurgia oncológica: quando é necessária, opções disponíveis e recuperação pós-operatória

Data: 16 de novembro, domingo

Convidado: Dr. Pedro Antunes | Cirurgião Oncológico

 

Episódio 5 | Reconstrução mamária: técnicas, momento ideal do procedimento e recuperação da autoestima

Data: 20 de novembro, quinta-feira

Convidado: Dra. Matilde Ribeiro | Cirurgiã Plástica

 

Episódio 6 | Impacto emocional do diagnóstico e estratégias de apoio ao longo do tratamento

Data: 24 de novembro, segunda-feira

Convidado: Dra. Sónia Castro | Psicóloga Clínica

 

Episódio 7 | Testemunho pessoal: coragem, esperança e superação do cancro da mama

Data: 28 de novembro, sexta-feira

Convidado: Sofia Neves | Paciente do IPO do Porto

 

Universidade de Coimbra
O investigador principal do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento da Universidade de Coimbra (MIA-Portugal) e do King’s...

Este galardão, atribuído pela Associação para Avaliação e Acreditação do Cuidado de Animais de Laboratório (Association for Assessment and Accreditation of Laboratory Animal Care International, em inglês), distingue anualmente contribuições inovadoras para a substituição, a redução e o refinamento (os chamados 3Rs) do uso de animais na ciência, tanto na academia como na indústria, apoiando o avanço ético da investigação. É atribuído em três categorias: Europa, África e Médio Oriente; América do Norte, América Central e América do Sul; e Ásia-Pacífico.

O prémio reconhece o trabalho desenvolvido por Alessio Vagnoni no MIA-Portugal, onde lidera o Grupo de Biologia Celular do Envelhecimento Neuronal, que investiga de que forma o tráfego intracelular influência a função neuronal e contribui para o envelhecimento saudável e a neurodegeneração.

Em particular, distingue a utilização da mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster) que tem um papel essencial na investigação em biologia. O investigador explica que “embora o contributo fundamental dos organismos modelo invertebrados, como a mosca-da-fruta, para o avanço do conhecimento científico básico seja amplamente reconhecido, o seu papel essencial na substituição e redução da utilização de espécies animais protegidas na investigação permanece menos valorizado, embora seja igualmente vital”.

Um dos exemplos concretos desta utilização ética da mosca-da-fruta pode ser observado no artigo científico Tracking spatiotemporal distribution of organelle contacts in vivo with SPLICS reporters, publicado na revista Cell Death & Disease, editada pela Nature. Neste trabalho, a mosca-da-fruta foi usada para “rastrear, pela primeira vez, o movimento de compartimentos subcelulares específicos no sistema nervoso de um animal adulto vivo. Focámo-nos no comportamento ‘social’ das mitocôndrias – as fábricas de energia especializadas da célula – estudando como estabelecem ligações físicas com outros compartimentos celulares”, contextualiza Alessio Vagnoni.

“Refletir sobre o impacto ético da investigação é fundamental para uma ciência de qualidade. Essa reflexão influencia a perceção pública da experimentação animal e apoia a criação de políticas que promovam os princípios dos 3Rs”, sublinha o investigador.

O galardão foi entregue ontem, dia 12, numa cerimónia que decorreu em Long Beach, na Califórnia, durante o 76.º Encontro Nacional da Associação Americana de Ciência de Animais de Laboratório (American Association for Laboratory Animal Science).

Alessio Vagnoni vai receber 10 mil dólares para prosseguir com investigações orientadas para a substituição, a redução e o refinamento do uso de animais na ciência.

 

Dia Mundial da Diabetes, 14 de novembro
– António Guerra nasceu em 1964 e aos 11 anos foi diagnosticado diabetes tipo 1, tendo os médicos na altura dito que teria uma...

Atualmente com 61 anos, para além de se ter tornado fotógrafo, António também dá aulas de fotografia na Lisbon School of Desing. Engenheiro agrónomo de formação, a fotografia tronou-se a sua paixão e representa também um percurso de superação. “Disseram-me que em 7 anos poderia ficar cego e hoje estou aqui, consigo conduzir, sou mais do que independente e descobri a fotografia”, aponta, acrescentando que “não podemos deixar que a doença nos vença, temos que ter sempre uma atitude positiva”.

António sabe, por experiência própria, que “esta é uma doença silenciosa que nos pode tirar a vida e a visão”, mas apesar da sua gravidade, o que recomenda é “muito cuidado e, em termos de prevenção para os diabéticos, muitas visitas ao oftalmologista para despistes e controlo”. “Não devemos deixar de viver, mas temos que viver com cuidado e sempre alerta”, acrescenta.

Num cenário em que, só em Portugal, a diabetes é uma das principais causas de morte e incapacidade, sendo que a prevalência da doença continua a crescer, especialmente entre adultos com mais de 45 anos, a prevenção da Retinopatia Diabética é de extrema importância para controlar a doença oftalmológica que afeta aproximadamente um terço dos diabéticos, sendo que quase metade das pessoas com diabetes desconhece que tem a doença porque não vai ao oftalmologista com regularidade.

Por isso, e a propósito do Dia Mundial da Diabetes, que se assinala no dia 14 de novembro, António Guerra decidiu juntar-se ao Grupo de Estudos da Retina, à Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, à Sociedade Portuguesa de Diabetologia, e à Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal na campanha “Se vive com diabetes, vigie os seus olhos, proteja a sua visão, alertando para a importância da educação em saúde, da deteção precoce e da adoção de estilos de vida saudáveis.

A campanha já está disponível nas redes sociais e, em breve, terá mais abrangência. O protagonista da campanha é António Guerra, doente com retinopatia diabética que deixa o alerta: “Não podemos deixar que esta doença silenciosa nos vença. Quem tem diabetes deve ir regularmente ao oftalmologista”.

A campanha utiliza um medidor de glicémia “especial” que, para além de dar os valores de glicose no sangue, alerta para a importância do exame oftalmológico.

João Figueira, presidente do Grupo de Estudos da Retina-Portugal, aponta que “desenvolvemos esta campanha à volta deste medidor - que não existe na realidade - mas que recorda que todos os  diabéticos devem fazer um controle oftalmológico regular”. Para maior impacto, “a campanha em video utiliza, em vez de atores, um paciente com retinopatia diabética e uma médica oftalmologista” sublinha.

Pedro Menéres, presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, salienta que “esta é uma das complicações mais graves e silenciosas da diabetes em Portugal. Dados do Programa Nacional para a Diabetes (DGS) indicam que entre 20% e 25% das pessoas com diabetes apresentam sinais de retinopatia, sendo esta a principal causa de cegueira evitável em idade ativa e um problema premente de saúde pública em Portugal.” afirma.

Daí ser fundamental alertar todos os doentes para que não basta medir a glicémia todos os dias. É fundamental que “todos os doentes com diabetes façam anualmente um exame ocular para rastreio de retinopatia diabética. Os doentes com diabetes tipo 1 devem começar o rastreio anual 5 anos depois do diagnóstico. Doentes com diabetes tipo 2 devem começar os exames anuais logo após o diagnóstico", acrescenta João Figueira.

No entanto, sempre que surja alguma alteração da visão, deve procurar-se um médico oftalmologista o mais rapidamente possível, para evitar a progressão da doença já que, como acrescenta João Filipe Raposo, diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, “mais de 1 milhão de pessoas vivem com diabetes em Portugal, mas com a doença bem controlada, com a tensão arterial e o colesterol dentro dos valores recomendados, e com um estilo de vida saudável, pode reduzir-se significativamente o risco de desenvolver complicações oculares”.

A campanha pode ser vista aqui: https://youtu.be/60ZSH7jxpNs

As fotografias do António Guerra podem ser vistas no Instagram: @toguerra0364

Recorde-se que, em 2024, a prevalência estimada da Diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (8,1 milhões de indivíduos) foi de 14,2%, isto é, cerca de 1,2 milhões de portugueses neste grupo etário tem diabetes. No mesmo ano, observou-se a existência de 781,8 novos casos da doença por cada 100 000 habitantes, assistindo-se a um aumento significativo da incidência da diabetes nos últimos 3 anos.

 

Universidade de Coimbra
A Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL), em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), acaba de...

A equipa premiada é composta por Filipe Mira, investigador principal, e pelos investigadores colaboradores Ilda Ribeiro, Bárbara Oliveiros, Isabel Carreira e Rui Alves.

Segundo Filipe Mira, “este projeto propõe a identificação de variantes genéticas associadas à progressão para doença renal crónica terminal em doentes portugueses sem causa conhecida, tendo como propósito o desenvolvimento de um modelo de risco genético com aplicabilidade real na prática nefrológica nacional. Ao identificar assinaturas genéticas específicas da nossa população, poderá contribuir para um acompanhamento mais eficaz, equitativo e custo-efetivo dos doentes renais crónicos.”

Este ano, o prémio de investigação “ANADIAL-SPN” atribuiu também uma menção honrosa ao trabalho intitulado “The Neptune Study”, desenvolvido na Nova Medical School, pela equipa composta por David Navarro, investigador principal, e pelas investigadoras supervisoras Ana Carina Ferreira e Sofia Azeredo Pereira.

Segundo David Navarro, “em Portugal, a prevenção da DRC e a melhoria dos resultados clínicos com impacto real na progressão até ao estadio terminal são prioridades explícitas. Este estudo ataca precisamente este elo, antecipando o diagnóstico de envolvimento renal nos doentes com lúpus eritematoso sistémico, permitindo a monitorização não invasiva da resposta terapêutica com potencial para reduzir biópsias, internamentos e, em última análise, a progressão da DRC.”

O júri foi composto por Pedro Ponce, Artur Mendes, Ana Paiva e José Diogo Barata, indigitados pela Anadial, e ainda Manuela Almeida, Maria Guedes Marques e Ana Azevedo indigitados pela SPN.

O Prémio “ANADIAL-SPN”, de atribuição anual, visa promover a realização de estudos clínicos e avaliações epidemiológicas na área da Investigação em Insuficiência Renal Crónica, com particular relevância para a identificação de fatores de risco e intervenções preventivas da evolução da doença renal crónica. Informação adicional: www.anadial.pt

 

Dia Mundial da Diabetes, 14 de novembro
No dia 14 de novembro assinala-se o Dia Mundial da Diabetes. A diabetes é uma doença crónica frequentemente associada aos seres...

A diabetes é uma condição em que o organismo não consegue produzir ou utilizar adequadamente a insulina, hormona responsável por regular a glicose no sangue. Nos animais, a doença pode surgir tanto em cães como em gatos, sendo mais comum em animais adultos e idosos. Alguns fatores de risco incluem obesidade, predisposição genética, doenças pancreáticas e determinados medicamentos.

Identificar a diabetes nos animais pode ser desafiante, pois os sintomas nem sempre são óbvios. Alguns sinais a observar incluem:

  • Sede e urina em excesso (polidipsia e poliúria)
  • Perda de peso apesar do apetite normal ou aumentado
  • Letargia ou cansaço
  • Mudanças de comportamento, como maior irritabilidade ou isolamento
  • Infeções recorrentes na pele ou no trato urinário

Detetar a doença precocemente faz a diferença para iniciar o tratamento adequado e evitar complicações.

História real: Um olhar sobre a prática clínica

Em maio de 2025, um gato adulto de oito anos foi internado no AniCura +Ani+ Hospital Veterinário com dificuldade respiratória severa e excesso de peso. Após estabilização respiratória, exames revelaram um quadro compatível com asma felina e valores consistentemente elevados de glicose e corpos cetónicos, levando ao diagnóstico de diabetes mellitus.

Tratava-se, portanto, de um caso de diabetes com a agravante de coexistir uma doença respiratória, cuja gestão clínica pode comprometer o controlo da diabetes: crises asmáticas exigem frequentemente o uso de corticoides, medicamentos essenciais para evitar episódios respiratórios, mas que aumentam a glicemia e dificultam a estabilização da diabetes.

Para equilibrar estes dois desafios, a equipa recorreu a uma abordagem personalizada, combinando terapêutica inalatória, redução gradual da corticoterapia oral, administração de insulina, dieta específica e controlo de peso. Após cinco dias de internamento e monitorização contínua, o animal teve alta e evoluiu positivamente, alcançando estabilidade respiratória e um melhor controlo da glicemia.

Este caso demonstra como o acompanhamento veterinário especializado permite gerir com sucesso doenças crónicas que se influenciam mutuamente, garantindo qualidade de vida ao animal.

“Com um plano de tratamento personalizado, monitorização constante e adaptação da alimentação, conseguimos que o animal mantenha uma vida ativa e feliz. A diabetes não precisa ser sinónimo de sofrimento”, afirma a Dra. Paula Couto, médica veterinária do AniCura +Ani+ Hospital Veterinário.

Administração correta de insulina, monitorização regular da glicemia, alimentação adequada e consultas regulares no veterinário são essenciais para controlar a doença e manter o bem-estar do animal. Além disso, a colaboração do cuidador é crucial para observar alterações no comportamento ou nos hábitos do animal e para ajustar o plano de cuidados conforme necessário.

12 de novembro | Dia Mundial da Pneumonia
Assinala-se a 12 de novembro o Dia Mundial da Pneumonia, doença que continua a ser a principal causa de mortalidade...

A taxa de mortalidade por pneumonia em Portugal é uma das mais elevadas da Europa, com valores superiores a 57 mortes por 100 mil habitantes, sendo responsável por, aproximadamente, 4,2% da mortalidade total no país. Em 2023, registaram-se cerca de 5042 óbitos por pneumonia, o que representa um aumento face ao ano anterior. “Esta mortalidade elevada está relacionada com o envelhecimento da população, o elevado número de comorbilidades e fatores de risco, como o tabagismo e a imunossupressão”, explica a médica pneumologista.

A pneumonia é ainda responsável por cerca de 80 internamentos hospitalares diários e, de acordo com Pilar Azevedo, apesar de os dados mostrarem “uma ligeira diminuição recente nas taxas de internamento, a prevalência continua elevada devido ao envelhecimento populacional e à persistência dos fatores de risco”. A idade média dos doentes internados por pneumonia é de 76,8 anos, sendo que a maioria apresenta pelo menos uma comorbilidade e 8,9% têm três ou mais comorbilidades associadas.

Idosos com idade igual ou superior a 65 anos (devido ao envelhecimento do sistema imunitário e comorbilidades frequentemente associadas), crianças (especialmente com idade inferior a dois anos), pessoas com doenças crónicas (como insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crónica, diabetes e insuficiência renal, imunocomprometidos, incluindo portadores de HIV), pessoas com doença oncológica em tratamento, fumadores e doentes com história de alcoolismo são as populações mais suscetíveis. Estes grupos “têm também maior probabilidade de desenvolver complicações graves, como insuficiência respiratória, sepsis e consequente morte, caso a pneumonia não seja tratada precocemente”, alerta a médica pneumologista.

Quanto aos principais sintomas aos quais a população deve estar alerta, por indicarem “a necessidade de avaliação clínica para diagnóstico e tratamento adequado”, Pilar Azevedo destaca: febre alta persistente e calafrios, tosse produtiva (especialmente com expetoração purulenta, amarelada, esverdeada ou com sangue), dificuldade respiratória com sensação de falta de ar, dor no peito ao respirar fundo ou tossir, cansaço extremo, sudorese intensa, perda do apetite, confusão mental (particularmente em idosos que pode ser um sinal precoce de gravidade), incapacidade de permanecer ativo ou pioria rápida dos sintomas.

 

Em nome da SPP, a coordenadora da Comissão de Trabalho de Infecciologia Respiratória deixa ainda a recomendação de algumas medidas preventivas que podem ser adotadas para minimizar o impacto epidemiológico da pneumonia no nosso país:

- Vacinação antipneumocócica - cuja adesão nacional é alta nas crianças, mas em adultos ainda insuficiente para alcançar proteção de grupo ideal;

- Vacinação contra gripe anual: reduz o risco de pneumonia secundária após infecção viral;

- Promoção da higiene respiratória e das mãos para diminuir a transmissão;

- Combate ao tabagismo e ao consumo excessivo de álcool, fortalecendo a imunidade respiratória;

- Educação pública sobre o reconhecimento dos sintomas da pneumonia e a necessidade de recorrer ao médico.

 

Universidade de Coimbra
Uma equipa de investigação da Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver o projeto BLINC – Melhores espaços verdes e azuis...

“Sabemos que os espaços verdes e azuis urbanos – como os parques – podem ser elementos centrais das paisagens urbanas, com um papel crucial na promoção do bem-estar e da saúde das populações. No entanto, não sabemos em que medida este impacto varia entre espaços e esse é um aspeto que pretendemos estudar neste projeto: ou seja, perceber quais os lugares que mais contribuem para o bem-estar da população”, revela o docente da Faculdade de Letras da UC (FLUC) e investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento (CEGOT) da UC, Ricardo Almendra.

“Não sabemos também quão conhecida é a biodiversidade que compõe os espaços verdes e azuis e de que modo a sua perceção influencia um usufruto regular e se esse usufruto se traduz em saúde e bem-estar”, refere a investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC), Anabela Marisa Azul.

A investigação centra-se na cidade de Coimbra e pretende “contribuir para o planeamento integrado de infraestruturas e espaços naturalizados em ambiente urbano que promovam melhor qualidade de vida e estilos de vida mais sustentáveis”, avança Ricardo Almendra. De forma a compreender como é que os cidadãos se relacionam com os espaços verdes urbanos em Coimbra, a equipa de investigação está a desenvolver diversas atividades com a população.

Durante o mês de novembro, vão ter lugar duas iniciativas. No dia 18 de novembro, vai decorrer um BioBlitz de Cogumelos, evento durante o qual “os participantes terão oportunidade de identificar cogumelos, abordar aspetos ecológicos, culturais, científicos sobre os fungos, e relacionar essas perceções com o modo como habitualmente desfrutam do espaço em que estarão a desenvolver esta atividade”, explica Anabela Marisa Azul. A atividade vai decorrer no Jardim da Sereia, a partir das 9h30. É dirigida a toda comunidade, sendo necessária inscrição prévia em https://arcg.is/0vbbPi0.

A segunda atividade vai decorrer ao longo do mês de novembro e “pretende medir os impactos da utilização de espaços verdes nos níveis de stress da população jovem que os utiliza”, adianta Ricardo Almendra. Para tal, em colaboração com a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da UC (FCDEFUC), vai ser realizada a medição de padrões de movimento e stress, através de amostras de saliva de pessoas que utilizem espaços verdes e azuis em Coimbra, como a Mata Nacional do Choupal e o Parque Verde do Mondego. Podem participar na atividade pessoas com entre 18 e 30 anos de idade, sem diagnóstico prévio de doenças cardiovasculares, respiratórias, metabólicas ou neuropsiquiátricas, e com capacidade para realizar uma caminhada. As inscrições para participação são feitas em https://forms.gle/wbkpnxjaoTuAzbF29.

A equipa de investigação do BLINC integra especialistas da Universidade de Coimbra das áreas de geografia, ecologia, arquitetura paisagística, biologia, bioquímica, medicina, políticas públicas e ciências do desporto.

O projeto BLINC é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Concurso de Projetos Exploratórios em Todos os Domínios Científicos.

 

Dia Mundial da Diabetes
A propósito do Dia Mundial da Diabetes, que se assinala no dia 14 de novembro, pela primeira vez, 4 entidades da sociedade...

Pela primeira vez, o Grupo de Estudos da Retina, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, a Sociedade Portuguesa de Diabetologia, e a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal decidiram juntar-se na campanha “Se vive com diabetes, vigie os seus olhos, proteja a sua visão, alertando para a importância da educação em saúde, da deteção precoce e da adoção de estilos de vida saudáveis.

A campanha já está disponível nas redes sociais e, em breve, terá mais abrangência. O protagonista da campanha, António Guerra, tem retinopatia diabética e esteve quase a ficar cego. Por isso, deixa o alerta: “Não podemos deixar que esta doença silenciosa nos vença. Quem tem diabetes deve ir regularmente ao oftalmologista”.

A campanha utiliza um medidor de glicémia “especial” que, para além de dar os valores de glicose no sangue, alerta para a importância do exame oftalmológico.

João Figueira, presidente do Grupo de Estudos da Retina-Portugal, aponta que “desenvolvemos esta campanha à volta deste medidor - que não existe na realidade - mas que recorda que todos os  diabéticos devem fazer um controle oftalmológico regular”. Para maior impacto, “a campanha em video utiliza, em vez de atores, um paciente com retinopatia diabética e uma médica oftalmologista” sublinha.

A diabetes é uma das principais causas de morte e incapacidade no país, sendo que a prevalência da doença continua a crescer, especialmente entre adultos com mais de 45 anos. Por isso, as 4 entidades aliaram-se na prevenção da Retinopatia Diabética promovendo a importância de controlar a doença oftalmológica que afeta aproximadamente um terço dos diabéticos, sendo que quase metade das pessoas com diabetes desconhece que tem a doença.

De facto, apesar dos avanços recentes em relação ao diagnóstico e tratamento da doença ocular associada à diabetes, esta continua a ser a principal causa de cegueira na população ativa do mundo ocidental.

Pedro Menéres, presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, salienta que “esta é uma das complicações mais graves e silenciosas da diabetes em Portugal. Dados do Programa Nacional para a Diabetes (DGS) indicam que entre 20% e 25% das pessoas com diabetes apresentam sinais de retinopatia, sendo esta a principal causa de cegueira evitável em idade ativa e um problema premente de saúde pública em Portugal.” afirma.

Daí ser fundamental alertar todos os doentes para que não basta medir a glicémia todos os dias. É fundamental que “todos os doentes com diabetes façam anualmente um exame ocular para rastreio de retinopatia diabética. Os doentes com diabetes tipo 1 devem começar o rastreio anual 5 anos depois do diagnóstico. Doentes com diabetes tipo 2 devem começar os exames anuais logo após o diagnóstico", acrescenta João Figueira.

No entanto, sempre que surja alguma alteração da visão, deve procurar-se um médico oftalmologista o mais rapidamente possível, para evitar a progressão da doença já que, como acrescenta João Filipe Raposo, diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, “mais de 1 milhão de pessoas vivem com diabetes em Portugal, mas com a doença bem controlada, com a tensão arterial e o colesterol dentro dos valores recomendados, e com um estilo de vida saudável, pode reduzir-se significativamente o risco de desenvolver complicações oculares”.

A campanha pode ser vista aqui: https://youtu.be/60ZSH7jxpNs

Recorde-se que, em 2024, a prevalência estimada da Diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (8,1 milhões de indivíduos) foi de 14,2%, isto é, cerca de 1,2 milhões de portugueses neste grupo etário tem diabetes. No mesmo ano, observou-se a existência de 781,8 novos casos da doença por cada 100 000 habitantes, assistindo-se a um aumento significativo da incidência da diabetes nos últimos 3 anos.

 

Dia Mundial do Queratocone
Diagnóstico precoce permite travar a progressão da doença e preservar a visão.

No dia 10 de novembro assinala-se o Dia Mundial do Queratocone, uma doença progressiva da córnea que afeta sobretudo jovens e que, se não for diagnosticada e tratada precocemente, pode comprometer gravemente a visão.
 
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia associa-se a esta data para alertar para a importância do diagnóstico precoce, da realização de exames oftalmológicos regulares e da divulgação das opções terapêuticas atualmente disponíveis, como o crosslinking corneano, os anéis intracorneanos e o transplante de córnea em casos mais avançados.
 
O diagnóstico e tratamento atempados são essenciais, uma vez que existem atualmente terapêuticas eficazes que permitem travar a progressão da doença.
 
Estima-se que o queratocone afete entre 1 em cada 500 a 1.000 pessoas, embora estudos mais recentes, com recurso a tecnologias de diagnóstico mais sensíveis, sugiram uma prevalência até dez vezes superior. A doença tende a surgir na adolescência ou no início da idade adulta e apresenta uma evolução variável, podendo estabilizar espontaneamente ou progredir rapidamente, comprometendo gravemente a visão.
 
É fundamental aumentar a consciencialização sobre esta patologia, que pode afetar significativamente a qualidade de vida dos doentes, e reforçar o papel da Oftalmologia na prevenção, diagnóstico e tratamento do queratocone em Portugal.
 

 

A Europa tem de agir já
O cancro é a segunda principal causa de morte no continente Europeu, com 2,7 milhões de pessoas diagnosticadas e 1,3 milhões de...

A Rede Europeia de Centros Compreensivos de Cancro (EUnetCCC) divulgou hoje o White Paper: Libertar o Potencial da Futura Rede de Centros Compreensivos de Cancro, na 1ª Reunião Anual da EUnetCCC, em Paris, um documento histórico que apresenta uma visão concreta de como a Europa pode ofercer cuidados oncológicos equitativos e de alta qualidade para todos os seus cidadãos, independentemente da sua localização geográfica.

O cancro é a segunda principal causa de morte na Europa, responsável pela morte de 1,3 milhões de pessoas por ano e afetando 2,7 milhões de pessoas. O relatório apresenta um conjunto de recomendações que se traduz num cenário alarmante: se não forem tomadas medidas ousadas e coordenadas, as desigualdades entre países e regiões no que toca a prevenção, diagnóstico, tratamento e acesso a um sistema capaz de satisfazer as ambições europeias continuarão a aumentar.

Da ambição à permanência: garantindo o futuro da rede

O White Paper salienta que a atual Ação Conjunta da EUnetCCC terminará em 2028 e que o seu sucesso depende da transformação da rede numa infraestrutura europeia permanente e bem consolidada. O relatório adverte que, sem uma ação política decisiva, a Europa corre o risco de perder a mobilização sem precedentes alcançada até agora.

Para garantir o futuro da Rede, o White Paper estabelece as principais prioridades em matéria de políticas e investimentos:

•          Reconhecer a rede CCC da EU como uma prioridade estratégica e instrumento fundamental para implementar o Plano Europeu de Luta Contra o Cancro, a Missão Contra o Cancro, e criar efetivamente um Sistema de Saúde Europeu.

•          Posicionar a rede como uma plataforma unificadora e estruturada para implementar e ampliar as iniciativas da UE em matéria de cancro, para melhorar a competitividade da UE no setor da saúde e da inovação;

•          Assegurar uma base institucional e jurídica clara para a rede no âmbito da UE, a fim de garantir a sua sustentabilidade e elegibilidade para o apoio a longo prazo.

•          Estabelecer um mecanismo de governação de alto-nível, envolvendo a Comissão Europeia, os Estados-Membros e as principais partes interessadas para supervisionar a orientação estratégica e a coordenação da rede.

•          Assegurar um financiamento específico e a longo prazo da UE no futuro Fundo de Competitividade para apoiar a coordenação, manutenção e desenvolvimento da rede.

•          Estabelecer regimes de subvenções específicas da UE para apoiar o desenvolvimento de certificação e o reforço das capacidades dos CCC em desenvolvimento ou transição.

•          Garantir financiamento específico para o envolvimento dos doentes e Associações de Doentes a nível da rede e dos centros (incluindo remuneração, custos de participação, reforço das capacidades, ect.)

Ao centralizar conhecimentos especializados e reunir recursos além-fronteiras, a rede reduzirá a fragmentação, otimizará o investimento e acelerará a disponibilização de novos tratamentos. Proporcionará também uma plataforma fiável para iniciativas de saúde à escala da UE, incluindo medicina personalizada, inteligência artificial e ensaios clínicos transfronteiriços

O White Paper está disponível em: https://eunetccc.eu/files/pressKit/2025/November/eunetccc-white-paper.pdf

 

Estudo histórico quebra barreiras
Investigação internacional revela que a supervisão de exercício aumenta a massa muscular e é essencial para o tratamento.

O exercício aeróbico e de resistência pode melhorar significativamente o desempenho físico em doentes a viver com cancro da mama metastático, de acordo com novos resultados apresentados hoje (sexta-feira) na Oitava Conferência Internacional de Consenso sobre Cancro da Mama Avançado (ABC8).

Anne May, Professora de Epidemiologia Clínica da Sobrevivência ao Cancro no Centro Médico Universitário de Utrecht e no Instituto Holandês do Cancro, Países Baixos, apresentou novos resultados [1] do estudo PREFERABLE-EFFECT [2] que mostraram que um programa de exercício supervisionado de nove meses melhorou a massa muscular e a força muscular, particularmente nos braços e pernas, e o desempenho físico em doentes com cancro da mama que se tinha espalhado para outras partes do corpo (metastizado).

“Até agora, havia poucas evidências de que o exercício físico melhora a massa e força muscular em doentes com cancro metastático, em parte por serem frequentemente excluídos dos estudos”, explicou a Professora May. “A doença, os tratamentos e a inatividade contribuem para a perda de massa muscular esquelética, afetando negativamente a composição corporal e o desempenho funcional.”

“A baixa massa muscular, causada pela quimioterapia ou pela hormonoterapia, está associada a maior toxicidade dos tratamentos, reduções de dose e pior prognóstico. O exercício já demonstrou benefícios em doentes com doença não metastática. O PREFERABLE-EFFECT é o maior estudo a avaliar a viabilidade e eficácia do exercício em doentes com cancro da mama avançado.”

Este ensaio clínico internacional, randomizado e controlado, decorreu em seis países (cinco europeus e Austrália), com 357 doentes com cancro da mama metastático em estado IV recrutados entre 2019 e 2022, a maioria a receber tratamento de 1ª ou 2ª linha e 74% com metástases nos ossos. Metade recebeu cuidados padrão; a outra metade participou num programa de exercício supervisionado durante nove meses, com treino aeróbico, de força e equilíbrio. Todos os participantes usaram um activity tracker [3] e receberam aconselhamento para manterem 30 minutos diários de atividade física.

Após seis meses, o grupo de exercício registou melhorias significativas no desempenho físico, equilíbrio e força muscular. A massa magra corporal e a massa muscular nos membros aumentaram, ao contrário do grupo de controlo. Aos três meses, a massa muscular era, em média, 0,79 kg superior no grupo de exercício. O índice de massa muscular esquelética também melhorou. Não houve diferenças relevantes na gordura corporal total.

 

A Prof. May destacou que o equilíbrio melhorou, fator crucial para prevenir quedas, especialmente em doentes com metástases ósseas. “A baixa massa muscular e a neuropatia induzida pela terapia aumentam o risco de quedas e fraturas.” “Uma das nossas doentes, antes de iniciar o estudo, tinha problemas de equilíbrio e não conseguia entrar e sair de um autocarro; após ter realizado o exercício supervisionado, o problema desapareceu; agora é de novo capaz de utilizar o autocarro, o que para ela significa autonomia para ir à biblioteca. Estes resultados reforçam a importância de integrar o exercício supervisionado, com componente de resistência, nos cuidados oncológicos de doentes com cancro da mama metastático”, concluiu.

A ABC Global Alliance lançará em 2026 um Centro de Recursos de Atividade Física, com vídeos, guias e links adaptados a diferentes tipos de metástases, sintomas e níveis de aptidão. É destinado a doentes, cuidadores e profissionais de saúde e de exercício.

Isabelle Aloi-Timeus, fisioterapeuta oncológica e presidente da Salvati AC (México), coordena o grupo de trabalho responsável pelo projecto. “Como Fisioterapeuta tenho visto como o exercício traz benefícios comprovados, mas deve ser personalizado, supervisionado e seguro”, afirmou.

Eva Schumacher-Wulf, doente com ABC metastático e editora da revista Mamma Mia!, reforçou: “Todos sabemos como o exercício é importante – para a qualidade de vida mas provavelmente também para o prognóstico. No entanto, nem todos os programas são adequados para quem vive com cancro avançado. Precisamos de abordagens direcionadas.”

A Professora Fátima Cardoso, Presidente da ABC Global Alliance, concluiu: “No tratamento do cancro da mama avançado, o difícil equilíbrio entre qualidade e duração de vida é fundamental. Melhorar a qualidade de vida é tão essencial quanto desenvolver novos tratamentos. Esta investigação liderada pela Professora Anne May, é um avanço importante e capacita os doentes a recuperar algum controlo sobre a sua vida.”

 

[1] Apresentação convidada, ‘Exercício e composição corporal’, por Anne May, na sessão ‘Melhorar a qualidade de vida de doentes a viver com ABC’, Auditório 1, 09:35-10:40 GMT, Sexta-feira, 7 de Novembro. 

[2] “PREFERABLE” é um Projeto sobre Exercício para a Erradicação da Fadiga no Cancro da Mama Avançado para melhorar a Qualidade de Vida (Project on Exercise for Fatigue Eradication in Advanced Breast to improve quality of Life). “EFFECT” são os Efeitos do exercício em doentes com cancro da mama metastático (Effects of exercise in patients with metastatic breast cancer). 

[3] Fitbit.

 

Opinião
A malnutrição associada à doença é um problema de saúde pública grave que afeta milhares de portugue

O que é a Malnutrição

A malnutrição, caracteriza-se por um desequilíbrio entre as necessidades nutricionais do organismo e a ingestão ou absorção de nutrientes. No contexto hospitalar, esta condição manifesta-se frequentemente como malnutrição associada à doença, onde o processo patológico aumenta as necessidades nutricionais, que associado a um processo inflamatório, compromete a capacidade do doente se alimentar adequadamente.​

A malnutrição não afeta apenas o peso corporal. As suas manifestações incluem perda de massa muscular (sarcopenia), diminuição da força física, compromisso do sistema imunitário, cicatrização mais lenta de feridas, e deterioração da função cognitiva. Estes sinais são frequentemente interpretados erroneamente como consequências normais do envelhecimento ou da doença subjacente, quando na realidade representam uma condição tratável e reversível.

 

Incidência em Portugal

Em Portugal, a prevalência de risco nutricional em adultos internados nos hospitais atinge cerca de 28% a 42%, sendo que pode ser ainda mais elevado em especialidades de risco, com as enfermarias de Medicina Interna (chegando a 51%), com fatores como admissões prévias e comorbilidades múltiplas a aumentarem o risco.

Estes valores são particularmente preocupantes quando consideramos que Portugal possui uma das populações mais envelhecidas da Europa. A população idosa, especialmente aqueles com fragilidade ou múltiplas doenças crónicas, constitui o grupo de maior risco para o desenvolvimento de malnutrição. Estudos nacionais demonstram que entre idosos institucionalizados, 63,6% apresentam sinais de malnutrição ou risco de malnutrição

Estima-se que existam cerca de 115 mil doentes em risco ou malnutridos que necessitam de suporte nutricional, com dois em cada quatro adultos hospitalizados afetados – o dobro da média europeia.

 

Consequências Clínicas e Económicas

As consequências da malnutrição não tratada são devastadoras tanto para os doentes como para o sistema de saúde. Dados do estudo realizado na ULS Santo António demonstram que os doentes com risco nutricional que não receberam suplementação nutricional apresentaram um risco de morte intra-hospitalar 3 vezes superior comparativamente aos doentes sem risco nutricional.

As consequências não se limitam ao período de internamento. A malnutrição aumenta significativamente o risco de quedas e fraturas devido à perda de massa e força muscular, promove maior suscetibilidade a infeções com maior duração e gravidade devido ao compromisso do sistema imunitário, contribui para o declínio cognitivo e perda de autonomia, aumenta as taxas de reinternamento hospitalar, e prolonga significativamente o tempo de recuperação.

Do ponto de vista económico, o impacto é igualmente substancial. Estima-se que os custos associados à malnutrição para o Serviço Nacional de Saúde ultrapassem os 225 milhões de euros anuais. Os doentes com risco nutricional apresentam custos hospitalares 79% superiores, sendo que os custos de hospitalização diária representam o principal contributo para este aumento. Estes custos adicionais decorrem não apenas do tratamento direto da malnutrição, mas principalmente do aumento do tempo de internamento, da maior incidência de complicações, da necessidade de mais medicamentos (especialmente antibacterianos), e das readmissões hospitalares frequentes.

 

A Importância da Intervenção Nutricional

A boa notícia é que a malnutrição é uma condição reversível quando identificada e tratada adequadamente. O estudo da ULS Santo António demonstrou de forma inequívoca que a suplementação nutricional adequada neutralizou eficazmente o risco elevado de morte associado à malnutrição. Os doentes com risco nutricional que receberam suplementação apresentaram taxas de mortalidade comparáveis aos doentes sem risco nutricional, evidenciando o enorme potencial da intervenção nutricional.

A evidência económica internacional e as orientações de organização da nutrição hospitalar reforçam que estratégias sistemáticas de rastreio e suporte nutricional são custo‑efetivas e prioritárias para sistemas de saúde.

Estudos demonstram que a suplementação nutricional oral precoce melhora o risco de mortalidade, sendo que basta tratar 37 pessoas para evitar uma morte. Contudo dado a dificuldade que existe em os doentes arranjarem uma cama hospitalar, sendo que em muitos hospitais podem passar vários dias internados no serviço de urgência, essa janela de oportunidade perde-se, agravando ainda mais o estado nutricional.

 

A Baixa Codificação do Diagnóstico Hospitalar

Apesar da elevada prevalência, menos de 10% dos casos de risco nutricional são codificados com ICD-10 nas altas hospitalares, contrastando com os 28-42% detetados por rastreio sistemático. Esta subcodificação reflete a falta de implementação efetiva do rastreio obrigatório desde 2019, subestimando o problema e limitando a alocação de recursos e políticas públicas.

Estudos internacionais confirmam que esta não é uma realidade exclusivamente portuguesa, demonstrando que a codificação de malnutrição baseada apenas na impressão clínica dos médicos apresenta concordância muito baixa com ferramentas de rastreio validadas.

 

Rastreio e Avaliação Nutricional

Desde 2019, o rastreio da malnutrição está implementado eletronicamente a nível hospitalar em Portugal, através de ferramentas validadas como o Nutritional Risk Screening 2002 (NRS-2002). Este instrumento permite identificar precocemente os doentes em risco nutricional nas primeiras 48 horas de internamento, possibilitando uma intervenção atempada.​

Contudo, urge a implementação efetiva do rastreio nutricional nos Cuidados de Saúde Primários, conforme já legislado pelo Despacho n.º 9984/2023. A deteção precoce da malnutrição no ambulatório permitiria prevenir complicações e evitar internamentos hospitalares, representando uma estratégia mais custo-efetiva.

 

O Problema da Acessibilidade

Um dos maiores obstáculos ao tratamento adequado da malnutrição em Portugal é a falta de acessibilidade equitativa à terapêutica nutricional. As diretrizes europeias da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) recomendam claramente que o suporte nutricional iniciado durante o internamento hospitalar deve ser continuado durante pelo menos um mês após a alta, no contexto de ambulatório, para garantir a recuperação nutricional completa e prevenir o reinternamento.

 

Em Portugal, e ao contrário da maioria dos restantes países europeus, a acessibilidade aos suplementos nutricionais orais - primeira linha terapêutica efetiva e não invasiva para reverter a malnutrição - só existe gratuitamente a nível hospitalar.​

No ambulatório e domicílio, os suplementos nutricionais orais são produtos de venda livre sem qualquer comparticipação associada, o que promove uma grave iniquidade no acesso à terapêutica nutricional. Esta situação é particularmente dramática para idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconómica, que enfrentam dificuldades para manter uma nutrição adequada após a alta hospitalar devido a limitações financeiras.​

Esta descontinuidade entre o ambiente hospitalar e o ambulatório cria uma barreira crítica à recuperação nutricional dos doentes. Quando um doente recebe alta hospitalar após ter iniciado suplementação nutricional durante o internamento, deveria manter essa terapêutica por pelo menos um mês para consolidar os ganhos obtidos. Contudo, muitos doentes, especialmente idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconómica, não conseguem suportar os custos elevados destes produtos, interrompendo precocemente o tratamento e comprometendo a sua recuperação.

Recentemente, no dia 4 de março de 2025, o Ministério da Saúde criou o regime excecional de comparticipação para a nutrição entérica (Portaria n.º 82/2025/1), sendo um primeiro passo importante, embora chegado a Novembro, esta medida ainda não foi aplicada na prática. Além disso, a exclusão numa primeira fase dos suplementos nutricionais orais no regime de comparticipação representa oportunidade desperdiçada, uma vez que são a primeira linha terapêutica. A sua não inclusão apenas irá prolongar e agravar estados de malnutrição, não permitindo a otimização dos cuidados nutricionais.​

 

O Caminho a Seguir

A luta contra a malnutrição exige uma ação concertada e multidisciplinar. São necessárias várias medidas urgentes: implementação efetiva do rastreio nutricional sistemático em todos os níveis de cuidados de saúde, formação adequada dos profissionais de saúde para reconhecimento e codificação da malnutrição, garantia de acesso equitativo à terapêutica nutricional através da comparticipação de suplementos nutricionais orais, desenvolvimento de equipas multidisciplinares de nutrição clínica em todos os hospitais, e sensibilização da população para os sinais de alerta da malnutrição.​

A 7ª edição da Semana da Sensibilização para a Malnutrição, que decorrerá de 10 a 16 de novembro de 2025, com o mote "Acessibilidade equitativa à nutrição clínica", representa um momento crucial para unir esforços em torno destas questões fundamentais. Esta iniciativa, promovida pela Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP) e integrada na campanha internacional ONCA (Optimal Nutritional Care for All), pretende consciencializar profissionais de saúde, doentes, cuidadores e decisores políticos para a importância da malnutrição e das suas implicações.​

A malnutrição não é uma consequência inevitável da doença ou do envelhecimento - é uma condição clínica tratável e reversível que merece a nossa atenção urgente. Ao investir na nutrição dos grupos mais vulneráveis, estaremos não só a promover a sua saúde e bem-estar, mas também a reduzir custos associados a complicações e reinternamento, criando uma sociedade mais justa e saudável.​

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
5.ª edição do Prémio Maria de Sousa
Neuza Domingues, Bruna Meira, Ângela Fernandes, Diogo Carneiro e Catarina Lopes são os vencedores da 5.ª edição do Prémio Maria...

Já são conhecidos os cinco vencedores da 5.ª edição do Prémio Maria de Sousa, atribuído pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial. Criado em homenagem à imunologista e grande investigadora Maria de Sousa, o Prémio pretende distinguir e apoiar jovens investigadores portugueses, com idade igual ou inferior a 35 anos, em projetos na área das ciências da saúde.

O Prémio representa um valor total de até 150 mil euros, a ser distribuído por um máximo de cinco projetos de investigação. Cada projeto selecionado pode receber até 30 mil euros.

Neuza Domingues, investigadora do MIA-Portugal – Multidisciplinary Institute of Ageing da Universidade de Coimbra, foi distinguida pelo projeto “Lisossomas nucleares: desvendar a comunicação entre lisossomas e o núcleo”, que incluirá um estágio na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Este projeto pretende investigar os mecanismos moleculares que regulam os contactos entre a membrana do lisossoma e a do núcleo, identificando as proteínas envolvidas e compreendendo como influenciam a função celular em condições de stress ou doença. O lisossoma é um organelo essencial para a digestão de outros organelos e moléculas danificadas e um dos mais afetados durante o envelhecimento celular. Para além de libertar as células de elementos tóxicos, modula vias de sinalização e a função de outros organelos.

Recorrendo a modelos de disfunção lisossomal e nuclear e a células humanas “jovens” e “envelhecidas”, este projeto vai explorar de que forma a comunicação lisossoma–núcleo contribui para a manutenção da homeostase celular e poderá abrir novas perspetivas terapêuticas em doenças relacionadas com o envelhecimento, como as neurodegenerativas e as distrofias musculares.

O projeto de Bruna Meira, do Champalimaud Centre for the Unknown / Champalimaud Research and Clinical Centre / Neuropsychiatry Unit, intitulado “FOSI: Compreender os mecanismos de freezing da marcha usando a estimulação cerebral profunda”, vai estudar por que motivo algumas pessoas com doença de Parkinson, de repente, não conseguem dar um passo em frente mesmo quando querem andar - um fenómeno conhecido como freezing da marcha.

O estudo procura compreender melhor o que acontece no cérebro nesses momentos, testando diferentes formas de estimulação cerebral profunda - um tratamento com recurso a um aparelho que funciona como um “marcapasso” para o cérebro e ajuda a controlar muitos dos sintomas da doença - e analisando como estas influenciam a forma de andar e a atividade elétrica cerebral.

Com este trabalho, que inclui um estágio na Neurological Clinic and Polyclinic do Würzburg University Hospital, na Alemanha, pretende-se perceber por que razão este tratamento melhora a marcha em alguns casos e noutros pode agravá-la, contribuindo para tornar as terapias mais eficazes e adaptadas a cada pessoa. Os resultados poderão ajudar as pessoas com doença de Parkinson a manter a mobilidade, reduzir quedas e viver com mais confiança e qualidade de vida.

O projeto de Ângela Fernandes, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, intitulado “Adoçar o ataque tumoral: glicoengenharia de neoantigénios para potenciar a resposta de células T CD8+ contra o cancro colorretal”, pretende estudar de que forma a presença ou ausência de açúcares complexos (glicanos) à superfície das células tumorais pode influenciar a resposta imunológica.

Com uma componente de estágio no Centro de Investigação Científica Isla de la Cartuja – Instituto de Investigação Química do CSIC-Universidade de Sevilha, em Espanha, o objetivo do projeto é desenvolver uma nova terapia ou vacina em que os glicanos alterados serão usados como elemento-chave para educar uma melhor resposta das células T, potenciando a destruição das células do cancro colorretal (CCR).

Um dos maiores desafios no CCR é a sua heterogeneidade e capacidade de escapar ao sistema imunitário, tornando muitas terapias pouco eficazes. Este projeto irá explorar se o perfil de glicanos presentes nas células tumorais é capaz de modular a resposta imunitária. Irá também avaliar os benefícios da reprogramação desses glicanos e perspetivar a criação de uma nova vacina que possa melhorar a resposta imunitária e combater a progressão tumoral.

Diogo Reis Carneiro, investigador do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, com o projeto “CaInPark – Interocepção cardiovascular: dos fundamentos neuroanatómicos à disrupção na doença de Parkinson”, pretende estudar como a ligação entre o cérebro e os órgãos do corpo que sentimos a funcionar - designada interocepção - fica afetada na doença de Parkinson.

A investigação, que inclui um estágio no Dysautonomia Center, Division of Neurobiology, Medical University of Innsbruck, na Áustria, vai avaliar participantes com a doença através de escalas que medem aspetos interoceptivos, emocionais e sintomas de vários sistemas do corpo, recolhendo dados de imagem, atividade elétrica cerebral e sinais corporais que indiciam modificação da resposta cardíaca, respiratória e termorregulatória.

Baseando-se na hipótese de que esta comunicação entre cérebro e corpo é disfuncional na doença de Parkinson, o projeto visa caracterizar essa alteração através de uma abordagem neuroanatómica multimodal.  Este estudo poderá também abrir caminho a novas terapias de modulação interoceptiva não farmacológicas, como o mindfulness ou o biofeedback respiratório, com potencial para melhorar o bem-estar e reduzir sintomas numa população com poucas opções terapêuticas.

O projeto de Catarina Lopes, do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, intitulado “SNIFF: Compostos orgânicos voláteis em saliva para deteção não invasiva de cancro gástrico”, procura desenvolver um método simples e rápido para detetar precocemente o cancro do estômago, através da análise de pequenas moléculas libertadas pelo corpo, designadas por “compostos voláteis”.

Estas moléculas podem ser encontradas em amostras fáceis de recolher, como a saliva ou a urina, e poderão permitir a criação de um “nariz eletrónico” capaz de identificar pessoas com maior risco de cancro gástrico, encaminhando-as para diagnóstico atempado.

O trabalho, que inclui um estágio na Medical University of Gdańsk, na Polónia, visa criar uma ferramenta não invasiva, de baixo custo e escalável, que permita identificar quem deve ser encaminhado para o rastreio precoce do cancro do estômago - uma doença ainda muitas vezes detetada tardiamente -, contribuindo para aumentar o diagnóstico precoce em Portugal e abrindo caminho a novos métodos de rastreio adaptáveis a outras doenças gastrointestinais e crónicas.

A cerimónia de entrega do Prémio Maria de Sousa, na sua 5ª edição, ocorreu ontem, pelas 15:30, na Ordem dos Médicos, em Lisboa.

Os trabalhos vencedores foram escolhidos por um Júri presidido pelo neurocientista Rui Costa, presidente e diretor executivo do Allen Institute, nos Estados Unidos, que estará presente na cerimónia de entrega.

 

 

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