Opinião
A internet revolucionou as nossas vidas.

O que é o vício em compras online?

Embora seja comum gostarmos de comprar algo novo de vez em quando, o vício em compras é muito mais do que um ato prazeroso e consciente. Trata-se de uma compulsão incontrolável para comprar, mesmo quando o ato não é necessário e, muitas vezes, quando há prejuízos evidentes para a vida financeira e emocional. Numa compulsão há a perda de controlo, como se uma força maior nos dominasse e não fosse possível contrariar o desejo ou impulso.

No ambiente online, o vício em compras pode intensificar-se devido à facilidade e conveniência que a internet oferece. Com algumas pesquisas e cliques, é possível adquirir produtos que nos chegam diretamente à porta, num ambiente visual apelativo, muitas vezes com ditas promoções e descontos que incentivam ainda mais o comportamento impulsivo.

Como é que o ambiente digital facilita a compulsão em compras? A resposta está em três fatores principais: acessibilidade, anonimato e gratificação instantânea.

  1. Acessibilidade: Qualquer pessoa com um smartphone ou computador pode aceder a lojas online a qualquer momento, em qualquer lugar. A facilidade de pagamento por meio de cartões de crédito, aplicativos de pagamento e plataformas de compras rápidas elimina obstáculos que poderiam dar ao comprador tempo para refletir sobre a real necessidade de determinada compra. Não se vê o dinheiro, simplesmente carregam-se em botões.
  2. Anonimato: No ambiente online, não há a sensação de julgamento ou desconforto que pode ocorrer numa loja física. Não há um vendedor que observa ou o olhar de um desconhecido, o que cria uma sensação de privacidade, permitindo que o comprador se entregue mais facilmente ao impulso.
  3. Gratificação instantânea: As plataformas de compras muitas vezes oferecem entregas rápidas, atualizações constantes sobre o pedido e ofertas na sequência da compra que mantêm o comprador num ciclo de excitação e expectativa, reforçando o comportamento de compra contínuo.

Quando o hábito vira patologia

Para muitas pessoas, comprar online é uma prática inofensiva, ocasional e prática. Para outras pode transformar-se numa patologia chamada oniomania ou compra compulsiva. A compra compulsiva online caracteriza-se pela necessidade de comprar constantemente, sem controlo sobre o comportamento e, muitas vezes, com prejuízo para outras dimensões da vida, como o trabalho, relacionamentos e/ou a saúde financeira.

Há sinais importantes que podem indicar quando o ato de comprar online está a tornar-se um problema patológico:

  • Preocupação excessiva com compras: Pensar constantemente em adquirir novos produtos, navegar por sites de compras mesmo sem intenção concreta de adquirir algo, e sentir-se ansioso(a) ou frustrado(a) quando não é possível comprar.
  • Compras como regulação emocional: A compra online passa a ser uma maneira de lidar com emoções desconfortáveis, como a solidão, a ansiedade ou o tédio. A compra surge como estratégia distratora e de evitamento, que promove um alívio temporário do desconforto experienciado.
  • Culpa e arrependimento: Logo após a compra, pode surgir uma sensação de culpa, vergonha ou arrependimento, mas ainda assim, não se consegue evitar repetir o comportamento.
  • Endividamento: Mesmo sabendo que as compras estão a causar um dano financeiro, a pessoa continua a adquirir produtos, aumentando dívidas no cartão de crédito e compromissos financeiros que não consegue honrar, podendo inclusivamente endividar elementos da família para perpetuar o vício.

O impacto psicológico e emocional do vício em compras online

O vício em compras online pode ter efeitos devastadores na vida pessoal e financeira, além de impactar profundamente a saúde mental. A oniomania está frequentemente associada a outros transtornos, como ansiedade, depressão e distúrbios de controlo de impulso. Muitas das pessoas com compras compulsivas relatam sentir-se presas num ciclo vicioso: compram para aliviar emoções desconfortáveis, mas as consequências dessas compras geram ainda mais stress e ansiedade, com o agravamento da culpa e vergonha.

Este ciclo de comportamento pode ser comparado a outras formas de dependência, como a de substâncias ou o vício em jogos. O prazer imediato da compra é seguido por sentimentos desagradáveis, que alimentam a necessidade de comprar novamente para obter um alívio. Com o tempo, o comportamento compulsivo pode gerar isolamento social, danos na dimensão profissional, perda de controlo financeiro e crises conjugais e familiares, uma vez que o comprador compulsivo muitas vezes oculta as suas compras e dívidas dos mais próximos.

A neurociência por trás das compras compulsivas

Quando compramos algo, especialmente online, o nosso cérebro liberta dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer e recompensa. Essa libertação cria uma sensação momentânea de satisfação. No entanto, em pessoas propensas à compra compulsiva, essa recompensa temporária pode levar a um comportamento repetitivo, como se o cérebro estivesse constantemente à procura de mais dopamina.

Além disso, muitos sites de e-commerce utilizam estratégias psicológicas para manter os consumidores interessados. Notificações constantes, ofertas limitadas no tempo, descontos exclusivos e gratificação instantânea são apenas alguns dos mecanismos que reforçam o comportamento compulsivo.

Como identificar e superar o vício em compras online

Identificar um comportamento compulsivo de compra é o primeiro passo para superá-lo. Aqui estão algumas estratégias práticas para quem se vê numa espiral de compras ou conhece alguém com este padrão de comportamento:

  1. Procura ajuda profissional: Qualquer tipo de adição e doença psicológica necessita de apoio psicoterapêutico, complementado em casos moderados e severos com medicação. É um erro achar-se que é possível ultrapassar este padrão patológico de comportamento sem ajuda especializada. Felizmente existem várias abordagens eficazes, quer a nível de intervenção individual quer com intervenção em grupo.
  2. Autoconsciência: Manter um registo das compras feitas online, com anotações sobre o motivo da compra, o estado emocional no momento e o impacto financeiro pode ajudar a identificar padrões de comportamento impulsivo.
  3. Limitar o acesso: Desinstalar aplicativos de lojas online, cancelar subscrições a newsletters promocionais e definir limites de gasto mensais são maneiras de reduzir a tentação de comprar.
  4. Substituir o comportamento: Devem encontrar-se outras formas saudáveis de lidar com as emoções, como o exercício físico, hobbies e psicoterapia, para que as emoções mais intensas ou desagradáveis deixem de constituir um gatilho.
  5. Rotinas que fomentem equilíbrio: Se o nosso cérebro gosta de serotonina e dopamina, então vamos ajudar a produzir estes neurotransmissores de formas mais saudáveis seja com um sono de qualidade, uma alimentação nutricionalmente completa, atividade física moderada, socialização prazerosa e uma atividade profissional que nos concretize.

Conclusão

As compras online são uma das grandes facilidades da era digital, mas, para algumas pessoas, podem transformar-se num problema sério de saúde mental. É fundamental compreender que o vício em compras online não é uma questão de fraqueza de caráter ou falta de autocontrolo, mas sim uma condição de saúde complexa que exige tratamento especializado. Para quem sofre com o problema, há soluções e caminhos para recuperar o controlo perdido. Reconhecer o problema, procurar apoio e adotar novas formas de lidar com as emoções e de organizar o dia-a-dia são passos essenciais para superar a compulsão e viver de uma forma mais equilibrada e saudável.

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
10 anos de Hospitalização Domiciliária em Portugal
O internamento domiciliário é uma realidade já com 10 anos em Portugal.

As noites no conforto da sua casa, as refeições em família na sua cozinha ou na sua sala, a privacidade da higiene na sua casa de banho, sem comprometer o seu tratamento, a sua saúde.

A hospitalização domiciliária é uma extensão do hospital para cada casa de cada doente que necessita de internamento, mas simultaneamente reúne condições de segurança para que o mesmo possa decorrer na sua casa, às vezes até no seu jardim.

É um compromisso de não inferioridade no tratamento e de segurança, confirmado por uma equipa constituída por médicos e enfermeiros, que avaliam cada doente internado em Hospitalização Domiciliária.

É um trabalho de equipa com um papel primordial do próprio doente ou cuidador que concordam com esta modalidade de internamento e simultaneamente se comprometem em cumprir as indicações terapêuticas fornecidas. É um trabalho de equipa em que cada elo é essencial para o sucesso.

As visitas da equipa, com periodicidade mínima diária, e uma disponibilidade assistencial 24 horas por dia, sete dias por semana, asseguram os cuidados médicos e a segurança do tratamento necessários.

É o internamento com menos complicações; menos infeções hospitalares, menos quadros confusionais, menos quedas, menos agravamento nutricional ou do grau de dependência. É o internamento com maior grau de satisfação de doentes e familiares com melhor relação custo /beneficio nas várias vertentes clínica e financeira.

A segurança do internamento em casa começa com a verificação da situação clínica, da terapêutica necessária, da distância do domicílio ao hospital para uma assistência adequada e atempada em caso de descompensação. A segurança mantém-se no compromisso de retorno ao hospital em caso de agudização ou se forem necessários procedimentos ou tratamentos que não possam ser administrados no domicílio. A segurança assenta também na articulação de cuidados pós alta. Esta é feita por vezes diretamente, mas em todos os internamentos, através da elaboração da nota alta entregue aos doentes e encaminhada para os cuidados de saúde primários. A segurança existe também na articulação dos cuidados entre as várias especialidades hospitalares, assistente social ou referenciação à RNCCI sempre que a situação clínica ou social o justifique.

Estão atualmente internados em hospitalização domiciliária, todos os dias, mais de quatro centenas doentes. A HD em Portugal, tem por isso a dimensão equivalente à de um hospital de média dimensão, com possibilidade de expansão apenas limitada pelos recursos humanos alocados a este internamento.

Por cada doente internado em casa, permanece no hospital uma cama livre para os doentes cuja situação clínica ou cuidados necessários obriguem à permanência hospitalar.

No hospital ou em casa, cada doente deve ter direito ao melhor tratamento possível. Em Portugal, nos últimos 10 anos, a Hospitalização domiciliária tem crescido, afirmando-se hoje como um internamento de excelência.

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
21 de novembro | Dia Mundial da Anafilaxia
Pela segunda vez, a European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) assinala o Dia Mundial da Anafilaxia, a 21 de...

Segundo a presidente da EAACI, Maria Torres, esta é uma oportunidade para colocar a anafilaxia no topo da agenda mediática e para reforçar a sensibilização de profissionais de saúde e da população em geral para uma das mais graves e potencialmente fatais, reações alérgicas.

A anafilaxia é uma reção de hipersensibilidade sistémica (generalizada), de início rápido e potencialmente fatal. Segundo Natacha Santos, imunoalergologista e representante do grupo de Interesse em Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), os, felizmente, raros casos de morte estão associados a edema da glote, broncospasmo ou hipotensão grave.

Segundo a especialista, “vários fatores podem interferir com a gravidade da reação anafilática, entre os quais o próprio alergénio, a quantidade e forma de contacto com o alergénio, a sensibilidade individual, outras doenças como a asma ou doenças cardíacas e vários cofatores que podem, em alguns casos, aumentar a gravidade da reação, como as infeções, a toma de anti-inflamatórios não esteróides, o exercício e até a falta de sono no dia da reação”, pelo que “numa pessoa que já teve um episódio de anafilaxia, não conseguimos prever a gravidade do episódio seguinte”.

Há, contudo, sinais de alerta para que de imediato sejam ativados os serviços de socorro. A anafilaxia desenvolve-se de forma súbita, “com uma reação de urticária (manchas vermelhas no corpo) e/ou angioedema (inchaço), acompanhada de sintomas respiratórios (ex.: aperto na garganta - edema da glote, falta de ar, pieira), sintomas cardiovasculares (hipotensão, tonturas, desmaio/perda de consciência) e/ou gastrointestinais (dor abdominal, vómitos ou diarreia)”. Mais raramente, podem ocorrer os outros sintomas, sem haver necessariamente reação cutânea. “Se tiver o início imediato de um ou vários dos sintomas descritos, deve recorrer imediatamente a observação médica”, alerta Natacha Santos. Em qualquer idade um indivíduo pode desenvolver uma doença alérgica e a primeira manifestação pode ser uma anafilaxia.

De acordo com a imunoalergologista, “o tratamento mais rápido e eficaz é a adrenalina intramuscular na coxa, administrada em caneta autoinjetável ou, por profissional de saúde, com seringa e agulha, na dose de 0,01mg/kg até ao máximo de 0,5mg de adrenalina 1mg/mL. A administração de adrenalina intramuscular pode ser repetida após 5-15 minutos, se necessário. Podem também ser utilizados outros medicamentos, de acordo com os sintomas, como antihistamínicos, broncodilatadores, soroterapia e corticoides, mas que nãos substituem nem devem atrasar a administração de adrenalina”.

Após a ocorrência de um primeiro episódio de anafilaxia, é importante investigar a causa, de forma a poder evitar os desencadeantes específicos de cada pessoa. “Em alguns casos, como na alergia ao veneno de abelhas ou vespas, é possível fazer imunoterapia (vacinas), e na alergia a alguns alimentos como o leite, o ovo e o amendoim, também existem tratamentos de imunoterapia oral com o próprio alimento, com o objetivo de diminuir a reatividade. Vários estudos têm também demonstrado que podemos diminuir a probabilidade de desenvolver alergia alimentar, se não atrasarmos a introdução de alimentos como o leite (ou derivados), ovo e amendoim (em formas adequadas à idade) nos bebés”, explica a especialista.

Do ponto de vista epidemiológico, a nível global, a incidência de anafilaxia é de 50 episódios por 100.000 pessoas-ano, pelo que se estima que em Portugal possam ocorrer cerca de 5000 episódios por ano.

As três causas mais frequentes de anafilaxia são os alimentos, os medicamentos e a picada de insetos (sobretudo abelhas e vespas). Em Portugal, os alimentos que mais frequentemente causam alergia nas crianças com menos de 6 anos são o leite, o ovo e os frutos secos e, nas crianças mais velhas e adultos, as três principais causas de anafilaxia alimentar são o marisco, a fruta fresca, nomeadamente o pêssego, o kiwi e a maçã, e em terceiro lugar os frutos secos”.

 

Associações de Doentes alertam
Carta Aberta dirigida à Ministra da Saúde, Secretária de Estado da Saúde e Deputados da Assembleia da República apela ao...

Apesar dos avanços recentes na legislação portuguesa, milhares de doentes continuam a enfrentar graves barreiras no acesso a medicamentos biológicos. Por isso, a Plataforma Saúde em Diálogo, a Associação de Asma Grave, a Associação de Doentes com Lúpus e a Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas, tornaram pública uma Carta Aberta dirigida à Ministra da Saúde, à Secretária de Estado da Saúde e aos Deputados da Assembleia da República, exigindo medidas urgentes para corrigir as desigualdades existentes.

A Portaria n.º 261/2024/1, publicada em outubro de 2024, uniformizou as condições de prescrição e dispensa de medicamentos relativas ao tratamento de doentes com Artrite Reumatóide, Espondilite Anquilosante, Artrite Psoriática, Artrite Idiopática Juvenil Poliarticular, Psoríase em Placas, Doença de Crohn e Colite Ulcerosa, permitindo o acesso às terapêuticas biológicas no setor privado, através de um regime excecional de comparticipação. Contudo, excluiu doentes com Asma Grave, Lúpus e Dermatite Atópica, que permanecem dependentes exclusivamente do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para o acesso a estas terapêuticas, enfrentando listas de espera muito superiores às previstas nos Tempos Máximos de Resposta Garantidos (TMRG).

Os dados mais recentes revelam que, para uma primeira consulta em Imunoalergologia, os tempos de espera são 224 dias (+87% face ao TMRG de 120 dias) e, para Pneumologia, 215 dias (+79%), especialidades indicadas para o seguimento de doentes com Asma Grave. Já para uma primeira consulta de Reumatologia ou Medicina Interna, duas especialidades que tratam a Doença de Lúpus, os tempos de espera são de 193 dias (+61%) e 98 dias, respetivamente, sendo que para a última especialidade o cenário agrava-se, por exemplo, na ULS do Estuário do Tejo, onde a espera atinge 401 dias (TMRG ultrapassados em 234%). Perante este cenário, as entidades signatárias consideram que “não é aceitável que os doentes com Asma Grave e Lúpus, elegíveis para terapêutica biológica, continuem a ser discriminados, vendo a sua qualidade de vida comprometida indefinidamente”.

As terapêuticas biológicas permitem reduzir gradualmente o uso de corticoterapia, bem como diminuir agudizações e internamentos, devolvendo maior qualidade de vida aos doentes e aliviando a pressão a que o SNS está sujeito. No entanto, o seu acesso em Portugal “permanece marcado por obstáculos injustos e evitáveis”, já que “o sistema de aprovação continua fragmentado, com critérios que variam entre hospitais do SNS, normas clínicas desatualizadas, falta de informação para os doentes e uma dupla penalização para quem reside longe dos grandes centros urbanos”.

Assim, as associações de doentes defendem o alargamento do regime excecional de comparticipação aos doentes com Asma Grave, Lúpus e Dermatite Atópica e a uniformização nacional dos critérios de acesso, de modo a garantir justiça, celeridade e igualdade de tratamento para todos os doentes, independentemente da sua situação clínica, condição financeira ou local de residência.

A Carta Aberta “Por um Sistema de Saúde mais Inclusivo e Universal: Equidade no Acesso a Medicamentos Biológicos em Portugal” é um alerta e um apelo aos decisores políticos, por parte de milhares de doentes, para que a atual situação de iniquidade e discriminação no acesso aos medicamentos biológicos, que constitui uma segregação inaceitável entre doenças e fragiliza os pilares da equidade e da justiça social que devem sustentar o nosso sistema de saúde, sejam eliminadas e que se honre o compromisso de assegurar o acesso equitativo à saúde para todos os cidadãos, sem exceções nem discriminações.

21 novembro | Dia Mundial da Anafilaxia
Estudo português analisou produtos alimentares disponíveis nos supermercados e seis dos 14 principais alergénios não fazem...

Esta sexta-feira, 21 de novembro, assinala-se o Dia Mundial da Anafilaxia, uma ocasião importante para um alerta sobre as alergias alimentares e a necessidade de se introduzirem os alergénios (os ovos, os frutos secos – como amendoins –, o peixe, entre outros) nas crianças o mais cedo possível, de modo a prevenir estas alergias alimentares e evitar maiores riscos para a saúde quando são mais velhas.

Pode parecer contraditório com o que está socialmente instituído, mas esta ideia está alinhada com as recomendações internacionais: “Deve-se incorporar em vez de excluir estes alimentos alergénicos”, refere um artigo publicado neste mês de novembro na European Annals of Allergy and Clinical Imunology por investigadoras do Instituto Universitário de Ciências da Saúde, da CESPU.

Esta equipa, composta por Inês Pádua, Rita Barbosa Silva, Ângela Moreira e Beatriz Pimenta, analisou os ingredientes presentes nos rótulos dos alimentos para bebés até 15 meses disponíveis em dez cadeias de supermercados, como purés de fruta, iogurtes, papas, snacks.

Foram analisados 492 produtos, e dos 14 principais alergénios, foram detetados apenas oito. O trigo estava presente em 132 produtos, o leite de vaca em 112, peixe em 16 e ovos em seis. A soja estava listada em 11 produtos. Apenas dois diziam ter frutos secos e um continha amendoim. Nenhum produto continha os restantes seis alergénios (crustáceos, sésamo, mostarda, tremoço, aipo e sulfitos).

“As recomendações de introdução alimentar atuais sugerem a introdução dos alergénios alimentares mais comuns aos 12 meses. Embora seja recomendável o consumo de refeições caseiras, existe uma crescente procura por soluções comerciais complementares” (CACF, na sigla original em inglês), notam as investigadoras. É também assinalado que, apesar de serem escassos os estudos sobre as tendências alimentares na primeira infância, na maior parte dos países europeus regista-se um consumo destes produtos nos primeiros dois anos de vida.

“As últimas recomendações portuguesas para alimentação complementar datam de 2019 e, apesar de alertarem que a introdução de alimentos potencialmente alergénicos não deve ser atrasada, nada diz sobre o imperativo de se introduzirem estes alergénios com o propósito da prevenção alérgica”, lê-se no artigo disponível aqui.

Esta análise excluiu o leite em pó, produtos alimentares para bebés acima dos 15 meses e para crianças com alergias alimentares e intolerância.

Universidade de Coimbra
As investigadoras do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), Ana Eulálio e Cristina...

Os projetos vão investigar a sobrevivência intracelular e resistência microbiana do Staphylococcus aureus (um dos principais agentes responsáveis por infeções adquiridas em meio hospitalar e comunitário) e os mecanismos cerebrais do comportamento social e da empatia, e vão receber, em conjunto, cerca de 1,5 milhões de euros.

A investigação de Ana Eulálio, líder do grupo de investigação RNA & Infeção do CNC-UC, vai estudar a sobrevivência intracelular e a resistência aos antibióticos da bactéria Staphylococcus aureus. “O objetivo deste projeto é identificar os fatores genéticos que permitem ao Staphylococcus aureus invadir, sobreviver e replicar-se em diferentes tipos de células hospedeiras”, explica a investigadora principal do CNC-UC. O projeto visa melhorar as estratégias terapêuticas contra as infeções provocadas por este patógeno, e pode vir a contribuir para uma mudança de paradigma no tratamento das infeções por Staphylococcus aureus. O projeto “Estudo da sobrevivência intracelular e da resistência aos antibióticos de Staphylococcus aureus” é financiado com 473 902,70 euros.

O projeto de Cristina Márquez, líder do grupo de investigação Circuitos Neuronais do Comportamento Social do CNC-UC, procura descodificar os mecanismos cerebrais subjacentes à empatia e ao comportamento social, isto é, descobrir como é que o cérebro compreende e responde às emoções das outras pessoas. “Apesar da sua importância, os mecanismos cerebrais responsáveis pelo processamento da informação social continuam em grande parte por desvendar”, explica a investigadora principal do CNC-UC. Compreender como o cérebro percebe os estados de recompensa dos outros pode abrir caminho a tratamentos para perturbações como a depressão e o autismo. O projeto resulta de um consórcio estabelecido com o investigador Alexandre Charlet, do Instituto de Neurociência Celular e Integrativa (Institute for Cellular and Integrative Neuroscience). O projeto “Circuitos neurais subjacentes à perceção das emoções dos outros” é financiado em 999 930 euros.

Na oitava edição do concurso promovido pela Fundação ”la Caixa”, foram apresentadas 714 propostas de investigação básica, clínica e translacional. Os projetos selecionados em 2025 são liderados por 25 centros de investigação, universidades e hospitais espanhóis, e 9 portugueses. O concurso conta com a colaboração da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que destina 1,8 milhões de euros para financiar três dos nove projetos portugueses premiados nesta edição.

A cerimónia de entrega das bolsas decorre hoje, dia 20, no Museu de Ciência CosmoCaixa, em Barcelona.

AEPAD
As empresas de apoio domiciliário em Portugal continental têm capacidade para mais 9 638 utentes, o equivalente a cerca de 10...

Atualmente, o país conta com 297 empresas licenciadas e uma capacidade instalada para 16 527 utentes. A análise, porém, conclui que apenas 6 889 idosos ou pessoas dependentes beneficiam destes serviços, o que representa uma taxa de utilização de 41,7% e 9 638 vagas por preencher.

No que diz respeito à distribuição territorial, 66 por cento das empresas licenciadas concentram-se nos distritos de Lisboa (100 empresas), Porto (72) e Braga (26), que são também as regiões com maior número de oportunidades para as famílias, respetivamente, 3879, 1 999 e 1186 vagas. Mais de metade dos distritos têm dez ou menos empresas de apoio domiciliário: Vila Real (10), Santarém (8), Viseu e Leiria (7), Castelo Branco (3), Bragança e Évora (2), Portalegre e Viana do Castelo (1). Um indicador que demonstra as desigualdades de acesso das famílias a este serviço.

“Todos os dias, milhares de profissionais garantem higiene, alimentação, medicação e acompanhamento a pessoas que podem e preferem continuar em casa. Apoiamos perto de 7 mil pessoas, mas temos capacidade para ainda mais 10 mil famílias”, afirma Nuno Afonso, presidente da AEPAD, ao que acrescenta: “Somos a diferença entre envelhecer com autonomia, mas acompanhado, nas casas que sempre conheceram, ou ser depositado num lar, onde se ocupa a vaga de quem realmente necessita, ou na cama de um hospital, por falta de alternativa”.

Quanto a dados de ocupação, Lisboa (3 490 utentes), Porto (1 477) e Faro (408) lideram em número de pessoas apoiadas em casa, enquanto Setúbal (63,7%), Bragança (52,4%) e Faro (49,3%) registam as taxas de ocupação mais elevadas face às vagas existentes.

“Com quase 300 empresas espalhadas pelo território continental, as empresas de apoio domiciliário são já uma alternativa concreta aos internamentos desnecessários e à sobrecarga dos lares. É uma resposta sustentável, próxima e humanizada, parte essencial da solução para o envelhecimento digno e a coesão social”, conclui Nuno Afonso.

###

Indicadores da Carta Social:

  • Total de empresas – 297
  • Capacidade Instalada – 16 527 utentes
  • Capacidade ocupada – 6 889 utentes
  • Vagas disponíveis – 9 638 utentes

Distritos com mais empresas de Serviço de Apoio Domiciliário:

Lisboa (100), Porto (72) e Braga (26).

Distritos com maior capacidade instalada:

Lisboa (7 369), Porto (3 476) e Braga (1 411).

Distritos com mais utentes em Apoio Domiciliário:

Lisboa (3 490), Porto (1 477) e Faro (408).

Distritos com maior taxa de ocupação:

Setúbal (63,7%), Bragança (52,4%), Faro (49,3%) 

Opinião
Nos últimos 20 anos a saúde intestinal tem vindo a ocupar um lugar de destaque na esfera científica

Temos mais genes e células de origem microbiana do que de origem humana. Os genes humanos não mudam ao longo da vida, já os genes de origem microbiana mudam ao longo da nossa vida. A espécie humana evoluiu o que estes microorganismos nos permitiram evoluir como espécie.

A evolução deste conhecimento científico e médico, com aplicação clínica, vem colocar de parte a visão de patogenicidade associada às bactérias (noção de que todo o ‘bicho’ é mau).

O microbiota em 3 esferas: é responsável pela síntese de vitaminas, como vitamina K, folato, vitamina D, entre outras; exerce funções digestivas, resultando uma sintonia entre as funções das enzimas digestivas que são produzidas pelas células do aparelho digestivo, humanas, e as enzimas que são de origem bacteriana. Aqui fica já muito claro que alterações na composição deste ecossistema microbiano provavelmente terá impacto no processo digestivo, com falhas, o que pode levar a processos. E ainda exerce funções de regulação da expressão de genes, como por exemplo estimulam que células do intestino produzam GLP1 ou mesmo genes relacionados com a permeabilidade intestinal e ainda função do sistema imunitário. A imunotolerância que deve ser desenvolvida nos primeiros anos de vida desenvolve-se muito à custa de um microbiota intestinal competente: sistema imunológico, para a nossa defesa, deve saber reconhecer o que ‘é do próprio’, o que ‘não é do próprio’, e deste, o que é uma ameaça, e o que não é uma ameaça. Aliás, se há compromisso do desenvolvimento desta imunotolerância, podemos ter aqui uma relação com asma, dermatite atópica ou mesmo doenças autoimunes da vida adulta.

É particularmente fascinante o papel do microbiota intestinal na regulação do peso. Seja ao nível do controlo do apetite, atingir ou não a saciedade, como também se deve ao microbiota intestinal muitas das ‘decisões’ de prioridade metabólica, ou seja, se teremos mais ou menos estimulada a acumulação de gordura.

Desde o nosso nascimento, até à fase em que começamos a fazer diversificação alimentar, o microbiota vai passando por transições, muito dependentes da idade gestacional da nossa mãe, do tipo de parto (cesariana ou vaginal) e se alimentados com leite materno ou de fórmula. Nesta fase as diferenças interindividuais são grandes, mas aos 2-3 anos de vida, o microbiota atinge a sua composição de base, e as diferenças são menores. Ainda na infância, a vida urbana ou rural, com ou sem animais domésticos, com ou sem exposição a antibióticos e o tipo de alimentação praticada, têm impacto na forma como o microbiota é moldado. Outros fatores que se fazem sentir ao longo da vida, como o exercício físico (ou a falta dele), a alimentação, o stresse e alguma da medicação que tomamos, também têm impacto no nosso microbiota. Todo este conhecimento sublinha a importância do papel modulador que a dieta, e em particular os prebióticos (ingredientes ou alimentos que estimulam o crescimento e atividade das bactérias boas) e os probióticos (microrganismos que auxiliam na digestão e protegem o organismo contra as bactérias nocivas) podem exercer de benéfico neste contexto.

A disbiose é um desequilíbrio do microbiota intestinal em que existe alteração na quantidade e na distribuição de bactérias no intestino, que por sua vez pode provocar doenças como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares ou autismo.

Em suma, alterando a comunidade do nosso microbiota intestinal, através de prebióticos, probióticos, antibióticos ou, mesmo, o transplante de microbiota fecal, poderá vir a ser uma esperança no tratamento de diversas doenças.

Importa, assim, fazer o diagnóstico correto. Tudo se relaciona e nos faz refletir como muitas vezes o microbiota intestinal é negligenciado. Relacionar o microbioma com os mecanismos das doenças, numa visão mais holística, poderá ajudar na prevenção ou tratamento das principais causas de morte da atualidade.

 

 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Sinais de alerta e cuidados a ter
A constipação é uma infeção aguda das vias respiratórias superiores muito comum nas crianças: crianç

As "constipações comuns" são causadas por vírus, sendo o rinovírus o mais comum; outros, como o coronavírus, o vírus sincicial respiratório (VSR) e o vírus Influenza podem dar quadros semelhantes, embora com algumas particularidades, como a COVID19, a bronquiolite aguda e a Gripe, respetivamente.

As infeções respiratórias são mais frequentes no outono e inverno, resultado das características de circulação e sobrevivência dos vírus no meio ambiente "frio" típico destas épocas.

A transmissão ocorre diretamente por inalação de partículas infetadas transmitidas "pessoa-a-pessoa", ou por auto-inoculação dos vírus na mucosa respiratória após contacto com pessoas ou objetos contaminados. É importante lembrar que os vírus podem persistir vivos em superfícies até 2 horas, daí a importância de higienizar bem também objetos partilhados ou em contacto frequente entre pessoas!

Nas crianças, a proximidade e o contacto físico mais frequente entre os pares, a frequência em locais com maior circulação de vírus (ex. infantário), e a sua imaturidade imunológica aumentam a frequência da infeção.

Sintomas e evolução

Num quadro "típico", os sintomas têm início ~24-72h após a inoculação, são variados, e dependem da imunidade de cada criança.

Entre eles temos, mais frequentemente, a congestão nasal ("nariz entupido", "espirros" e "pingo/ranho no nariz") e ocular ("olhos vidrados/molhados"), a tosse, e a febre, que habitualmente cede bem ao antipirético e resolve em até 3 dias.

Assim, na maioria dos casos, o quadro é ligeiro - com "pico de gravidade" no 2º-3º dia -, e autolimitado - com melhoria gradual e espontânea (sem tratamento) até aos 10-14 dias. No entanto, a tosse pode persistir mais tempo, resolvendo habitualmente em 3-4 semanas.

 

Tratamento

Os aspetos mais importantes no tratamento das infeções respiratórias víricas são aliviar os sintomas - promovendo o bem-estar da criança - e não tratar o vírus em si.

Entre as medidas mais eficazes destacam-se:

  • a desobstrução nasal (ex. lavagem e aspiração nasal com soro fisiológico);

  • a elevação da cabeceira da cama a 30º;

  • a hidratação e nutrição adequadas;

  • o paracetamol, se tiver febre;

  • e, potencialmente, o ar frio humidificado e o mel (>24m).
     

Convém relembrar que nestas situações, dada a natureza vírica da infeção "base", os antibióticos não são indicados por rotina, ficando reservados para o tratamento de complicações associadas a sobreinfeção por bactérias (infeção bacteriana "por cima" da vírica inicial).

 

Sinais de alerta

Apesar da evolução habitualmente benigna, é importante vigiar sinais de gravidade ou complicação na presença dos quais a criança deverá ser observada em contexto urgente; são eles:

  • febre alta (>39ºC retal), com dificuldade em ceder ao antipirético, ou persistente (sem melhoria ao final de 72h);

  • sinais de dificuldade respiratória (respiração acelerada, "covinhas" nas costelas/pescoço, adejo nasal (abrir e fechar das narinas), pieira ("chiadeira" na respiração"));

  • recusa alimentar ou da hidratação importantes;

  • alteração no estado geral (irritabilidade ou prostração);

  • ou outros sinais que suscitem preocupação dos cuidadores.

 

Saiba mais sobre as Consultas de Pediatria no Douro Centro Médico (clínica médica no Porto).
 

Prevenção

As medidas comprovadamente eficazes na prevenção da constipação e que podemos ensinar aos nossos pequenos são:

  • a lavagem frequente das mãos com água e sabão;

  • a desinfeção das mãos e superfícies com solução de álcool;

  • as regras de "etiqueta respiratória";

  • e limitar o contacto com pessoas doentes.
     

Não é recomendada a evicção escolar se o quadro for ligeiro e a criança estiver bem!

 
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
10 anos de Hospitalização Domiciliária em Portugal
A Hospitalização domiciliária (HD) representa uma modalidade assistencial que combina a complexidade

A importância da literacia em saúde na HD

Ao longo destes dez anos de atividade em Hospitalização Domiciliária, temos testemunhado diariamente o impacto transformador da literacia em saúde.

Cuidar em casa implica uma participação mais ativa do doente e da sua rede de apoio — cuidadores e familiares — no processo terapêutico. Promover a literacia em saúde é, por isso, valorizar o papel da família e do cuidador, prevenindo a rejeição, o abandono e a institucionalização, e reforçando a autonomia e a dignidade de quem cuidamos.

A comunicação entre os profissionais de saúde e o doente adquire uma dimensão ainda mais delicada e atenta. A linguagem técnica, frequentemente utilizada nas instituições de saúde, precisa ser adaptada para um discurso claro e culturalmente adaptado ao doente e aos familiares presentes. Assim, os profissionais devem estar capacitados para avaliar o nível de literacia dos doentes e cuidadores e ajustar as suas estratégias de comunicação, de forma personalizada.

Tecnologias de apoio à literacia

O recurso a tecnologias de informação e comunicação em saúde (eHealth), como o uso de aplicações móveis, plataformas de telemonitorização, vídeos e sistemas de mensagens instantâneas, podem apoiar a gestão da informação e facilitar o contacto entre a equipa de saúde e o doente.  Estas ferramentas digitais, quando bem aplicadas, reforçam a autonomia e a confiança do doente, além de promoverem uma comunicação mais eficaz e contínua entre os intervenientes.

O papel educativo da equipa de HD

A equipa da HD assume um papel educativo essencial. Nas visitas diárias são prestados não apenas cuidados clínicos, mas também momentos de aprendizagem, reforçando a autonomia do doente e a confiança da família.  A literacia em saúde é entendida como um processo contínuo e flexível, ajustado às necessidades e ao ritmo de aprendizagem de cada pessoa. A empatia e o respeito são tão importantes quanto a técnica.

A  literatura demonstra que a HD está associada a uma redução dos custos na ordem dos 26,5%, a uma diminuição das infeções hospitalares e da mortalidade em cerca de 38% em 6 meses. Mas mais do que números, são as histórias humanas que confirmam o valor deste modelo: famílias mais confiantes, cuidadores mais capacitados e doentes mais envolvidos no seu processo de recuperação.

Desafios e estratégias práticas

É indiscutível que o sucesso dessa modalidade de internamento depende fortemente do nível de literacia em saúde dos envolvidos, ou da recetividade para adquirir conhecimento,  já que o doente e os cuidadores tornam-se corresponsáveis pela execução de procedimentos, monitorização de sinais e comunicação com a equipa de saúde.

É frequente encontrarmos famílias com baixa literacia académica, mas com enorme disponibilidade afetiva para cuidar. Ensinar, reforçar e acompanhar são atos profundamente gratificantes. À data da alta, estas famílias estão quase sempre mais fortes, mais autónomas e mais seguras. Quando necessário, prolongamos o internamento para consolidar ensinos e garantir segurança. Estes ganhos são incalculáveis, tanto no plano individual, como no social.

Dimensões da literacia em saúde na HD

A literacia em saúde na HD assenta em quatro dimensões essenciais: a capacidade de aceder à informação, compreender as orientações clínicas, aplicar o conhecimento na prática quotidiana e manter a motivação para aprender. Esta última dimensão, embora menos formalmente descrita na literatura, é determinante, pois o envolvimento emocional e a vontade de aprender são motores essenciais da recuperação.

Os desafios variam com a idade, o contexto sociocultural, o nível educacional e as condições habitacionais. As equipas de médicos e enfermeiros procuram dar resposta a estas limitações de forma individualizada. Por vezes, é necessário simplificar esquemas terapêuticos com administrações únicas diárias, adaptando horários à disponibilidade da vizinha do lado, utilizar imagens representativas nos recipientes dos medicamentos, realizar ensinos de cuidados no leito ou propor adaptações nos quartos, para facilitar a prestação dos cuidados e reduzir o risco de quedas.

São muitas as histórias que refletem a criatividade e a proximidade da HD. Recordamos, por exemplo, um doente com necessidade crónica de broncodilatadores, cuja filha, cuidadora principal, era invisual. Os ensinos foram dirigidos ao neto de nove anos, que assumiu com orgulho e competência a administração do tratamento. Este caso mostra como a hospitalização domiciliária se molda à realidade de cada família e promove a literacia funcional desde cedo.

O papel dos cuidadores informais

A capacitação dos cuidadores informais é um pilar essencial. Cuidadores formados e apoiados contribuem para prevenir agudizações, reduzir internamentos e aliviar a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde. A sua ação diária — gerir a medicação, apoiar na alimentação, higiene e cuidados básicos — é decisiva para a qualidade de vida do doente. Além do cuidado físico, prestam também apoio emocional e social, tornando-se parte integrante do processo terapêutico.

Promoção e políticas de literacia em saúde

Promover a literacia em saúde em contexto de HD exige uma abordagem global. É necessário que a educação em saúde seja reconhecida politicamente como componente essencial do plano terapêutico e da sustentabilidade do sistema de saúde. A formação dos profissionais deve incluir competências pedagógicas e de comunicação, e as Unidades de HD devem continuar a criar materiais educativos acessíveis, programas de capacitação de cuidadores e indicadores que permitam avaliar o impacto desta aposta.

A transição de um modelo centrado no hospital para um modelo centrado no doente, na família e na comunidade é um caminho de futuro. A literacia em saúde é o alicerce desse percurso — o que transforma cuidados em conhecimento, e conhecimento em autonomia.

Em suma, ao celebrar dez anos de Hospitalização Domiciliária, celebramos também uma década de confiança, proximidade e partilha de saberes. Investir na literacia em saúde no contexto da hospitalização domiciliária é investir na sustentabilidade do SNS, na dignidade dos doentes e na construção de uma sociedade mais informada, solidária e saudável.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
19 de novembro – Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)
Assinala-se a 19 de novembro o Dia Mundial da DPOC, uma doença prevenível, tratável, mas que representa uma das principais...

- O que é a DPOC?

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma doença respiratória crónica caracterizada pela obstrução persistente e progressiva das vias aéreas, que dificulta a passagem do ar. Associa-se normalmente a inflamação, produção excessiva de muco e a destruição dos alvéolos. É uma doença prevenível e tratável, ainda que subdiagnosticada.

 

- Como se manifesta?

Os sintomas são, muitas vezes, desvalorizados no início por se atribuírem a outras causas como o tabaco ou a idade, por exemplo. Normalmente, as pessoas com DPOC queixam-se de falta de ar, inicialmente para esforços, mas que se vai acentuando e até poder surgir em repouso. Referem também tosse crónica, com expetoração persistente, fadiga e, ocasionalmente, pieira. Com o evoluir da doença pode manifestar-se por agudizações frequentes (crises de falta de ar e tosse agravadas face o habitual), muitas vezes associadas a infeções respiratórias.

 

- Quais os principais fatores de risco?

O principal fator de risco é o tabagismo, mas está longe de ser o único. A exposição a poluição (lareiras e fogueiras a lenha, químicos inalados no trabalho) e mesmo poluição atmosféricas são também fatores de risco para DPOC. Pode também surgir DPOC por características próprias do indivíduo como suscetibilidade genética, infeções respiratórias na infância, prematuridade ou até mesmo desenvolvimento pulmonar anormal.

 

- É uma doença potencialmente fatal?

Sim. A DPOC é uma das principais causas de morte no mundo, sendo que a mortalidade aumenta quando não é diagnosticada nem adequadamente tratada, quando existem exacerbações frequentes e também quando estão presentes outras doenças graves concomitantes, como a doença cardíaca por exemplo. Contudo, com diagnóstico precoce, cessação tabágica e tratamento adequado, é possível viver muitos anos com boa qualidade de vida.

 

- De que forma tem impacto na qualidade de vida dos doentes?

A DPOC limita progressivamente a capacidade para atividades do dia a dia, essencialmente pela magnitude dos sintomas como a falta de ar e o cansaço.  Os doentes começam a ter dificuldade de realização de tarefas básicas como subir escadas, andar ou trabalhar. Esta limitação pode também associar-se a uma ansiedade e limitação de tal ordem que faça com que os doentes nem tenham vontade de sair de casa. Também as exacerbações repetidas, muitas delas com necessidade de hospitalização, não só interferem muito com a qualidade de vida dos doentes, mas também aceleram o declínio da função pulmonar.

 

- Em que consiste o diagnóstico?

O diagnóstico baseia-se na identificação de indivíduos com fatores de risco, presença dos sintomas respiratórias e/ou agudizações frequentes já mencionados e, finalmente, na realização de uma espirometria, que é o exame que permite estabelecer o diagnóstico.

 

- O que é uma espirometria?

A espirometria é um exame da função respiratória, não invasivo (não causa dor nem desconforto) e que pretende medir a quantidade de ar que a pessoa consegue inspirar e expirar, bem como a velocidade com que o ar sai dos pulmões. Na prática, o doente sopra o mais forte e rápido possível para um aparelho (espirómetro).  É essencial para o diagnóstico e permite também avaliar a gravidade e monitorizar a evolução.

 

Opinião
A prática dos cuidados de enfermagem dirige-se a pessoas, famílias, grupos e à comunidade.

A Missão Estratégica das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC)

As UCC surgem no âmbito da reforma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e representam uma das unidades funcionais das Unidades Locais de Saúde (ULS). A sua atividade é desenvolvida com autonomia organizativa e técnica, em intercooperação com as demais unidades funcionais, exigindo também articulação interinstitucional e intersetorial para o cumprimento da sua missão.

A missão central da UCC é contribuir para a melhoria do estado de saúde da população da sua área geográfica de intervenção, visando a obtenção de ganhos em saúde, cumprindo, assim, de modo direto, a missão da ULS em que se integra.

As UCC são concebidas para assegurar respostas integradas, articuladas, diferenciadas e de grande proximidade às necessidades em cuidados de saúde da população onde estão inseridas.

As principais atribuições das UCC no contexto da comunidade são:

1. Prestar cuidados de saúde e apoio psicológico e social;

2.  Intervir no âmbito domiciliário e comunitário;

3. Focar a intervenção especialmente em pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doença que exija acompanhamento próximo;

4. Atuar na educação para a saúde;

5. Promover a integração em redes de apoio à família e a implementação de unidades móveis de intervenção.

O trabalho da UCC rege-se por princípios fundamentais, incluindo a Cooperação, exigida a todos os elementos da equipa para concretizar a acessibilidade, globalidade e continuidade dos cuidados; a Solidariedade e trabalho de equipa; a Autonomia; a Articulação com as outras unidades funcionais da ULS (como as USF, UCSP e USP); e a Parceria com estruturas da comunidade local (autarquias, segurança social, IPSS e associações).

A Carteira de Serviços das UCC deve ser definida considerando o diagnóstico de saúde da comunidade e as estratégias de intervenção definidas no Plano Nacional de Saúde (PNS), focando-se na coordenação efetiva entre os programas em desenvolvimento.

 

O Dever Deontológico do Enfermeiro para com a Comunidade (Artigo 80.º)

A prática de enfermagem na UCC está intrinsecamente ligada ao “Dever para com a Comunidade”, consagrado no Artigo 80.º do Código Deontológico do Enfermeiro. O enfermeiro assume a responsabilidade para com a comunidade na promoção da saúde e na resposta às necessidades em cuidados de enfermagem.

Este dever baseia-se na premissa de que a prática do enfermeiro se dirige a pessoas e grupos, sendo o grupo comunidade um foco de atenção. Por outro lado, os resultados dos cuidados prestados a indivíduos e famílias repercutem-se na comunidade.

Os deveres específicos para com a comunidade impõem que o enfermeiro:

1. Conheça as necessidades da população e da comunidade onde está inserido: Isto implica usar instrumentos adequados para a identificação do estado de saúde, baseando-se em dados existentes (idade, género, estatísticas) e na produção de novos dados (crenças, valores, recursos e capacidades);

2. Participe na orientação da comunidade e na busca de soluções para os problemas de saúde detetados: Esta participação é uma ação colaborativa, interagindo ativamente na busca de soluções, funcionando como parceiro na mudança e catalisador, respeitando a cultura local e capacitando a comunidade para o autocuidado e o controlo da sua saúde e ambiente;

3.  Colabore com outros profissionais em programas que respondam às necessidades da comunidade: Esta colaboração deve ser mais estreita com profissionais de disciplinas afins (multidisciplinar) para atuar sobre os fatores psicológicos, sociais, económicos e ambientais que influenciam a saúde. Esta perspetiva multidisciplinar ou transdisciplinar visa melhorar a qualidade de vida da população.

 

A Excelência do Exercício e a Responsabilidade Profissional

A concretização da missão da UCC e o cumprimento do dever para com a comunidade exigem a excelência do exercício profissional.

O enfermeiro adota o papel de “advogado do cliente”, defendendo a pessoa humana de práticas que contrariem a lei, a ética ou o bem comum. A prática na comunidade exige a capacidade de assumir responsabilidade e o compromisso para com as necessidades de saúde, focando-se na promoção da saúde, prevenção da doença e prestação de cuidados.

O enfermeiro, ao prestar cuidados, assume o dever de coresponsabilizar-se pelo atendimento do indivíduo em tempo útil, de forma a não haver atrasos no diagnóstico da doença e respetivo tratamento.

A UCC, ao intervir no âmbito comunitário e numa lógica de base populacional, assegura a defesa e proteção dos direitos das pessoas através dos cuidados de enfermagem, garantindo a sua qualidade.

Em suma, a UCC é uma unidade orgânica por excelência que permite aos enfermeiros operacionalizar o seu dever deontológico para com a comunidade, agindo de forma autónoma e complementar na identificação das necessidades de saúde da população e na implementação de soluções integradas, garantindo que os cuidados de enfermagem são prestados em proximidade, segurança e excelência.

 

Referências Bibliográficas

Cândido, A. F., Máximo, J., Cardoso, M., Cardoso, N., Gouveia, N., & Oliveira, N. (2012). Deveres para com a comunidade. Percursos, 23, 16–17.

Gabinete do Secretário de Estado da Saúde. (2009). Despacho n.º 10143/2009: Regulamento da Organização e Funcionamento da Unidade de Cuidados na Comunidade. Diário da República, 2.ª série — N.º 74 (16 de abril de 2009).

Ordem dos Enfermeiros – Conselho Jurisdicional. (2015). Deontologia Profissional de Enfermagem (Edição de 2015). Ordem dos Enfermeiros. (Originalmente elaborada no mandato 2008–2011 e adotada pelo Conselho Jurisdicional no mandato 2012–2015).

 

Foto: 
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
SPPCV promove
A Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV) realiza, no próximo dia 29 de novembro de 2025, mais uma edição...

Esta iniciativa visa promover a atualização científica e o debate multidisciplinar sobre as lesões traumáticas da coluna vertebral, um dos temas mais desafiantes e complexos na prática clínica ortopédica e neurocirúrgica. O programa inclui apresentações de vários especialistas nacionais que abordarão situações clínicas de maior controvérsia, como as fraturas complexas da charneira occipitocervical, a fratura da odontóide no idoso, a fratura-luxação F3 das facetas cervicais, as estratégias cirúrgicas nas fraturas da transição cervicodorsal, as fraturas não contíguas da coluna e as fraturas burst com lesão neurológica incompleta. Serão ainda analisadas as opções terapêuticas em casos de fratura metastática instável com prognóstico limitado e os critérios de revisão cirúrgica em situações de falência precoce da instrumentação.

De acordo com Ricardo Rodrigues-Pinto, coorganizador do evento, “as lesões traumáticas da coluna continuam a levantar grandes desafios clínicos e éticos, tanto na decisão de operar como na escolha da técnica mais adequada. Este encontro pretende proporcionar um espaço de partilha e reflexão sobre estas decisões complexas, apoiado na evidência científica mais recente e na experiência prática dos profissionais portugueses.”

Por sua vez, Jorge Alves sublinha que “a SPPCV mantém o seu compromisso com a formação médica contínua e a promoção do conhecimento científico. Este tipo de programas é essencial para reforçar a qualidade e a segurança dos cuidados prestados aos doentes com patologia da coluna vertebral.”

O Programa de Educação e Atualização em Patologia da Coluna é uma iniciativa regular da SPPCV, destinada a médicos especialistas e internos de Ortopedia, Neurocirurgia e áreas afins, que procura fomentar o debate técnico e clínico sobre temas relevantes e emergentes da especialidade.

 

Dias 28 e 29 de novembro
"Um Rumo para a Saúde" será o tema central do 28º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos que decorrerá nos dias 28 e...

Dois dias de debate da comunidade médica nacional com sessões dedicadas à sustentabilidade do sistema de saúde, à valorização da profissão médica, à inovação científica e tecnológica e à defesa da qualidade e da equidade no acesso aos cuidados.

O congresso "traduz a ambição de encontrar caminhos claros e sustentáveis para um sistema de saúde que responda às necessidades dos cidadãos, valorize os profissionais e incorpore a inovação científica e tecnológica sem perder de vista a centralidade da pessoa", afirma o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.

Trata-se, de acordo com o Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Manuel Teixeira Veríssimo, e anfitrião do congresso de "uma oportunidade para reafirmarmos o papel da Medicina como pilar da sociedade, para fortalecer os laços profissionais e para construirmos juntos soluções que coloquem o doente no centro dos cuidados".

Mais informações: https://www.congressonacionalom.pt/

 

Dia Europeu do Antibiótico assinala-se a 18 de novembro
Interromper o tratamento porque “já nos sentimos melhor”, tomar antibióticos para constipações, recorrer a medicação que ficou...

De acordo com Luís Miguel Farias, coordenador da Licenciatura em Farmácia na ESSATLA, estes erros repetem-se de forma persistente na prática clínica. A interrupção precoce do tratamento, uso sem receita ou automedicação, a partilha de medicamentos, a utilização de antibióticos para infeções virais e a toma em doses ou durações incorretas são, segundo o especialista, fatores que fragilizam o tratamento e alimentam um ciclo de ineficácia crescente. “Estes comportamentos, que muitas vezes resultam de desinformação ou falsa sensação de segurança, têm impacto direto na resistência antimicrobiana e devem ser eliminados da prática quotidiana”, sublinha.

O alerta surge num contexto em que Portugal continua acima da média europeia no consumo de antibióticos. Entre 2019 e 2023, o país registou um aumento de 2%, o dobro do aumento médio na União Europeia, de acordo com dados do Infarmed e da DGS. Paralelamente, embora algumas resistências tenham diminuído nos últimos anos, outras continuam a crescer: casos como Klebsiella pneumoniae (bactéria que pode causar complicações como pneumonia, endocardite e meningite) resistente a carbapenémicos (grupo de antibióticos de largo espectro) evidenciam um cenário que exige vigilância constante e políticas de uso racional cada vez mais conscientes.

A automedicação, embora não massiva, permanece documentada em estudos nacionais que apontam para prevalências entre 4% e 19% na população adulta, consoante a região analisada. Também a prescrição inadequada, sobretudo no ambulatório e em alguns contextos pediátricos, continua a ser um problema reconhecido por entidades reguladoras e sociedades científicas, associando-se frequentemente ao tratamento de infeções virais, à escolha inadequada do antibiótico ou à duração ou dosagem incorretas.

Para o coordenador, os profissionais de farmácia têm um papel essencial na sensibilização e educação da população, atuando como primeira linha junto da comunidade, promovendo uma maior literacia em saúde. “A intervenção dos profissionais de farmácia é determinante. A formação técnica dos profissionais e o aconselhamento informado e personalizado são medidas que reduzem significativamente o risco de utilização indevida”, defende Luís Miguel Farias.

Ao assinalar o Dia Europeu do Antibiótico, a ESSATLA reforça a necessidade de promover a literacia em saúde e de práticas de prescrição responsáveis, lembrando que a resistência antimicrobiana permanece como uma das maiores ameaças globais identificadas pela Organização Mundial da Saúde.

Novo episódio de “Conversa sobre Diálise”
Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), é o convidado do mais recente episódio do podcast “À...

“O envelhecimento da população pode explicar parte destes números, mas o principal problema está no controlo insuficiente de fatores de risco, como a obesidade e a hipertensão arterial, sobretudo nos cuidados de saúde primários. Temos muitos fatores de risco identificados, mas não estamos a agir de forma eficaz na prevenção primária. A missão da SPN é também investigar estas causas e intervir”, afirma Edgar Almeida.

O presidente da SPN lamenta que o último Plano Nacional de Saúde não tenha qualquer referência à doença renal, apesar de esta afetar cerca de 1 em cada 10 portugueses. “Já manifestámos essa preocupação junto das entidades competentes”, acrescenta.

Durante o episódio, revela ainda que a SPN está a trabalhar em parceria com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar para definir uma estratégia nacional de rastreio precoce da doença renal crónica.

O podcast “À conversa sobre Diálise” comemora o 40.º aniversário da ANADIAL e tem como objetivo abordar a evolução do tratamento da doença renal crónica ao longo das últimas quatro décadas. Convida mensalmente um especialista para debater temas relevantes para doentes renais, profissionais de saúde e o público em geral.

O episódio já está disponível nas plataformas YouTube e Spotify.

 

Opinião
Há algo de misterioso em saber que não começamos do zero.

O corpo sabe de coisas que a mente desconhece. Será que algumas emoções que sentimos não são totalmente nossas? A ciência chama-lhe epigenética: o estudo de como as experiências de vida deixam marcas químicas no ADN, influenciando a forma como os genes se expressam, sem alterar a sequência genética. Em 2013, um estudo da Universidade de Emory mostrou que ratos expostos a um cheiro associado a um choque elétrico tiveram filhos e netos que também reagiam com medo ao mesmo odor, sem nunca o terem experienciado. Em humanos, a investigação de Rachel Yehuda (Mount Sinai, 2015) encontrou alterações epigenéticas em descendentes de sobreviventes do Holocausto, nos genes ligados ao stresse e ao cortisol. A vida parece escrever nas margens da biologia: herdamos não apenas genes, mas tonalidades emocionais, modos de reagir, silêncios aprendidos antes de nascermos. Há, em cada um de nós, a memória de uma sobrevivência antiga.

 

“Da minha infância não me lembro de nada.”

“O meu corpo reage antes de eu perceber porquê.”

“Tenho a sensação de já ter vivido isto noutro lugar.”

 

Talvez o corpo se recorde do que a mente não pode lembrar. Podem existir sintomas que são formas antigas de falar. A psicossomática reflete que o corpo é o palco onde o invisível se torna visível: nas dores sem causa médica, nas insónias que guardam medo, nas alergias ou sintomas que surgem quando a alma não tem voz. Estudos na neurobiologia do trauma (Bessel van der Kolk, 2014) revelam que experiências traumáticas alteram a forma como o corpo regula as emoções e armazena as memórias. O sintoma torna-se então uma linguagem: um pedido de legenda. O que nos dói sem razão aparente poderá ser uma história à espera de ser escutada e traduzida?

A ciência é prudente. Confirma a transmissão de marcas epigenéticas, mas não fala de memórias conscientes. Ainda assim, a psicanálise há muito reconhece essa herança invisível - os segredos, as culpas e os medos familiares que atravessam gerações. Como dizia Françoise Dolto, “o que não é simbolizado numa geração é vivido na seguinte.” Entre a epigenética e o inconsciente relacional parece existir uma mesma linguagem: a do indizível que procura forma. Quantas vezes o corpo fala quando as palavras não chegam?

Talvez o futuro da compreensão humana esteja em unir o que antes parecia separado: a biologia e a emoção, o gene e a história, o corpo e a consciência. A memória genética poderá revelar até que ponto o nosso comportamento é moldado não apenas pelas experiências que vivemos, mas também pelas marcas emocionais e biológicas herdadas. Mostra-nos que cada pessoa é um ponto de encontro entre o passado e o presente — entre o que o ADN escreve e o que a vida pessoal reescreve.

O corpo é a nossa primeira casa, e a infância (a nossa e a dos antepassados) — mesmo quando não nos lembramos dela — é a casa a que voltamos sempre. Perceber essa herança pode transformar a forma como entendemos as emoções, os traumas e os padrões que se repetem. Ao reconhecer as histórias que o corpo traz consigo, abrimos espaço para uma psicologia mais integrada: aquela que acolhe tanto o que é vivido como o que é herdado. Escutar a memória genética e afetiva é aprender a ler o corpo como se lê um diário antigo: com respeito, paciência e curiosidade. Porque só quando reconhecemos o passado que vive em nós é que podemos ter a liberdade de escolher um futuro verdadeiramente novo. No futuro, talvez compreender e curar o humano passe por escutar essa memória silenciosa e transformar o que herdámos em consciência, para que o que antes era repetição se torne, finalmente, escolha.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Associação Portuguesa do Cancro no Cérebro
A Associação Portuguesa do Cancro no Cérebro (APCCEREBRO), em parceria com a farmacêutica Servier, acaba de lançar o estudo ...

O estudo tem como objetivo caracterizar a experiência de vida, o impacto clínico, social e emocional da doença, bem como identificar as principais barreiras e necessidades não satisfeitas ao longo de todo o percurso assistencial. Para tal, está a ser conduzido um inquérito nacional dirigido a doentes, familiares e cuidadores, combinando análise quantitativa e qualitativa dos dados recolhidos.

Esta iniciativa reforça o compromisso da APCCEREBRO com a produção de evidência científica que apoie a formulação de políticas públicas mais eficazes e a melhoria contínua dos cuidados de saúde dirigidos às pessoas com tumores cerebrais.

 “É fundamental recolher dados concretos sobre a experiência das pessoas que vivem com glioma. Só conhecendo a sua realidade poderemos construir respostas informadas, humanas e sustentáveis, em estreita coordenação com os profissionais e entidades de saúde, para melhorar a qualidade de vida destes doentes e das suas famílias”, afirma Renato Daniel, Presidente da APCCEREBRO.

O inquérito do estudo “Viver com Glioma 2025” está disponível para preenchimento nas redes sociais e canais digitais da APCCEREBRO até ao final de novembro.

A Associação apela à participação de todos os doentes, familiares e cuidadores, de forma a garantir uma amostra representativa e cientificamente robusta que permita compreender, com profundidade, a realidade de quem vive com esta doença em Portugal.

 

Orçamento do Estado para 2026
A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) enviou a todos os grupos parlamentares uma carta, na qual alerta para a...

A APCP considera essencial que esta medida seja alargada a todas as famílias de crianças com doença crónica complexa e com necessidades paliativas. De acordo com a presidente da APCP, Catarina Pazes, “este apoio não deve ser condicionado pelo tipo de doença, já que as famílias destas crianças enfrentam os mesmos desafios emocionais, sociais e económicos que aquelas cujos filhos têm doença oncológica”. E acrescenta: “a limitação do apoio a apenas a um grupo de diagnóstico introduz, assim, uma injustiça inaceitável, contrariando o princípio de equidade no acesso aos apoios sociais e de saúde.”

A Associação apela, por isso, “a todas as bancadas parlamentares e ao Governo que garantam justiça e equidade na aplicação desta medida, assegurando que o aumento do subsídio para assistência a filhos abrange todas as situações de crianças e adolescentes com doença crónica complexa com necessidades paliativas”, reforça Catarina Pazes.

Em Portugal, estima-se que cerca de 8000 crianças e adolescentes vivam com doenças graves, progressivas e/ou incuráveis, com necessidade de apoio de equipas de cuidados paliativos durante a sua trajetória. Além da doença oncológica, muitos outros grupos inserem-se neste texto, nomeadamente doenças neurológicas, metabólicas, genéticas, cardíacas, entre outras. São, em grande parte, crianças e adolescentes que necessitam de cuidados permanentes, internamentos prolongados e uma presença constante dos cuidadores principais, durante vários anos, podendo, inclusivamente, alcançar a idade adulta.

A APCP saúda a recente proposta dos partidos PSD e CDS-PP de aumento para 100% do subsídio para assistência a filhos com doença oncológica, mas considera imprescindível que a medida inclua todas as situações de crianças e adolescentes com doença crónica complexa com necessidades paliativas. Está, por isso, totalmente disponível para colaborar tecnicamente com os grupos parlamentares e com o Governo, na definição clara e fundamentada dos critérios de elegibilidade e no desenho de políticas públicas mais justas e sustentáveis, que protejam todas as crianças e adolescentes com doença crónica complexa e as suas famílias.

Catarina Pazes conclui que “só assim será possível construir uma resposta verdadeiramente centrada na criança e na família, conforme os princípios que regem o Serviço Nacional de Saúde e a Convenção sobre os Direitos da Criança, que Portugal subscreveu”.

 

Opinião
A 14 de novembro assinala-se o Dia Mundial da Diabetes, o lema lançado pela Federação Internacional

Falar em Diabetes e Bem Estar, sendo a Diabetes uma doença crónica, poderá até   parecer contraditório ou mesmo controverso, mas na realidade não poderá uma pessoa com Diabetes alcançar o Bem Estar? O equilíbrio e controle sobre a sua doença que lhe permitirá viver com Qualidade?

Quando abordamos a Diabetes enquanto doença o objetivo principal é tratá-la.  Alcançar um bom controle metabólico por forma a melhorar o estado de saúde da pessoa.  Reduzir todas as implicações nefastas que a Diabetes possa incutir no seu estado de saúde. Permitir que tenham um dia-a-dia semelhante a qualquer outra pessoa que não padeça de doença é a meta final desta abordagem.

Sendo que todos nós passamos a maioria do nosso dia no local de trabalho, este deverá, ter e ser, um ambiente promotor do nosso equilíbrio.   O local onde trabalhamos deve-se apresentar como um local seguro, que inspire confiança, que desafie e que permita evolução para todos.

Quando ao nosso lado, temos, como colega de trabalho, uma pessoa com uma doença crónica, como por exemplo a Diabetes, devemos ter alguns conhecimentos básicos sobre a mesma por forma a que possamos colaborar na obtenção de Saúde do nosso colega e eventualmente de toda a equipa de trabalho.

Não discriminar, mas sim incluir, fazendo escolhas que permitam a participação de todos nas mais diversas atividades, sejam laborais ou até mesmo de lazer em equipa.  

O próprio empregador ser um veículo promotor de literacia em saúde aos seus trabalhadores.

No caso da Diabetes, o conhecimento de noções básicas de atuação por exemplo numa hipoglicemia, pode prevenir acidentes e tornar o ambiente de trabalho mais seguro.

Ter em conta alguns fatores que podem contribuir para a obtenção de um adequado controle metabólico, como o trabalho por turnos que habitualmente está associado a um pior controle, o tipo de ementa que se disponibiliza no refeitório ou períodos de descanso para que possa fazer a terapêutica, devem ser considerados para estes trabalhadores, sendo que o benefício não se extingue neles.

As novas classes farmacológicas, bem como as insulinas mais recentes, que são mais estáveis e eficazes permitem um melhor controle metabólico com uma redução significativa do risco de efeitos secundários negativos nomeadamente de hipoglicemias que são habitualmente o efeito secundário mais temido em meio laboral por colocar em causa a segurança da pessoa. O desenvolvimento tecnológico de vários dispositivos para o controle da doença, nomeadamente o controle da glicemia, como os sistemas de monotorização continua de glicemia, que permitem um controle “ao momento” com alarmes vários e sistemas de predição introduziram um ambiente de segurança à pessoa com diabetes.

Tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo, mais abrangente, mais seguro e portanto, tranquilizador para toda a equipa, pessoas com diabetes e pessoas sem diabetes, permitirá alcançar um ambiente de Bem Estar para todos e certamente aumentar a Eficácia e a Efetividade de toda a Equipa de trabalho que é o objetivo no final do dia.

A realização laboral, e naturalmente pessoal, com o sentimento do dever cumprido será um dos motivos que contribuem para o Bem Estar da Pessoa com Diabetes. 

Para que a Pessoa com Diabetes obtenha este  Bem Estar, é fundamental encontrar  e manter o equilíbrio entre o Ser Físico, Social e Mental em todas as suas vertentes, individuais e coletivas, sendo que cada um de nós pode e deve contribuir para tal.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.

Páginas