Liderado pela Universidade de Coimbra
Identificar e compreender as causas da violência baseada no género e da violência no trabalho e, consequentemente, promover...

O projeto de investigação, em curso até 31 de outubro de 2027, vai ser financiado com mais de dois milhões de euros (mais precisamente 2 286 281,99 euros) no âmbito do programa Citizens, Equality, Rights and Values da Comissão Europeia, que nesta chamada vai apoiar projetos que tenham a missão de lutar contra a violência baseada no género e contra as crianças.

A equipa de investigação do BRAVE-WOW vai estudar a violência no trabalho em organizações do setor da saúde – como hospitais, lares de idosos e centros de cuidados primários – em quatro países, Eslovénia, Espanha, Itália e Portugal. A decisão de estudar em concreto esta área prende-se com o facto “de ser uma das áreas profissionais mais expostas à violência de género no trabalho”, explica a docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), Leonor Pais, que coordena o projeto.

Ao longo dos próximos dois anos e meio, a equipa de investigação vai fazer recolha e análise de informação sobre o contexto europeu, considerando as diversas áreas que se relacionam com a temática da violência em contexto laboral, como raça, classe, orientação sexual, deficiência, género, entre outras.

A partir desta análise, o consórcio vai adotar uma abordagem participativa e inclusiva, através da realização de grupos focais, entrevistas e mesas-redondas com diversas partes interessadas e envolvidas na temática – incluindo trabalhadores, gestores e profissionais de recursos humanos – e vai desenvolver também análise de sentimento nas redes sociais, com o intuito de levantar informações veiculadas nestas plataformas por trabalhadores e entidades empregadoras.

Com base neste trabalho de campo, a equipa de investigação vai criar ferramentas, como o Questionário de Violência de Género no Trabalho, que vai ser aplicado em organizações de saúde na Eslovénia, Espanha, Itália e Portugal para testar a sua eficácia junto de profissionais de saúde, gestores e inspetores do trabalho. “Esta ferramenta pretende melhorar a compreensão e a prevenção da violência e do assédio no local de trabalho e será complementada pelo Questionário de Trabalho Decente”, avança Leonor Pais.

Entre as atividades do projeto estão também uma campanha de comunicação à escala europeia para a prevenção da violência no trabalho e o desenvolvimento de uma plataforma para a disseminação de resultados e para a formação de profissionais e gestores. Os resultados da investigação vão ser também dirigidos a decisores políticos, uma vez que se pretende definir linhas orientadoras para a promoção do trabalho digno e da igualdade de género e para o combate à violação de direitos humanos em contexto laboral.

O projeto BRAVE-WOW vai ainda criar uma comunidade europeia de práticas para prevenir o assédio e a discriminação no contexto laboral à escala europeia, que vai potenciar a partilha de conhecimento e de boas-práticas. 

Atualmente, “a violência de género no trabalho não é devidamente identificada e, por isso, pouco reportada”, destaca a docente da FPCEUC. Assim, “são necessárias novas abordagens a este fenómeno que permitam entender as suas causas. Isso passa pela revisão da informação já existente e pela promoção de novas intervenções capazes de estimular mudanças estruturais no longo prazo”, acrescenta.

O projeto junta 19 organizações dos quatro países parceiros. Em Portugal, além da UC, conta com a participação da Universidade de Évora, da SHINE2Europe, da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, da Autoridade para as Condições de Trabalho e da Unidade Local de Saúde do Alentejo Central. A Universidade de Barcelona, a Fundação para a Promoção da Investigação Científica Aplicada e Tecnologia nas Astúrias, o Serviço de Saúde do Principado das Astúrias, a Fundação CTIC – Centro Tecnológico para o Desenvolvimento das Tecnologias da Informação nas Astúrias e o Departamento de Saúde do Principado das Astúrias são as entidades parceiras em Espanha. Já em Itália, os parceiros são o Instituto Nacional de Saúde, o Instituto Nacional de Seguros de Acidentes de Trabalho, o Instituto de Internamento e Serviços de Assistência ao Idoso e a Fundação Rigel ET. As entidades beneficiárias na Eslovénia são o Centro Médico Universitário Maribor, o Ministério da Saúde e a Associação de Enfermeiras e Parteiras da Eslovénia.

Na UC, participam também no projeto as docentes da FPCEUC, Carla Carvalho e Sílvia Lopes. 

Chegou a Primavera
A Primavera já chegou e com ela chegam também as “tradicionais” alergias. Para além dos sintomas respiratórios comuns mais...

Os desconfortos da alergia ocular incluem comichão, lacrimejar, vermelhidão, sensação de ardor, inchaço das pálpebras, visão turva e sensibilidade à luz.

“Detetar e tratar precocemente os sintomas de alergia ocular é fundamental para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida", explica Vânia Fernandes, Optometrista na MultiOpticas. A especialista reforça ainda que “pequenos cuidados diários podem fazer uma grande diferença” e partilha algumas recomendações simples e eficazes para proteger os olhos nesta estação:

  1. Use óculos de sol nos dias de maior vento e com maior concentração de pólen no ar;
  2. Lave frequentemente as mãos e evite tocar nos olhos, para impedir que o pólen entre em contacto com a zona ocular;
  3. Opte por arejar a casa nas horas centrais do dia e evite abrir as janelas ao início da manhã ou ao final da tarde, por serem alturas com maior concentração de pólen;
  4. Use lágrimas artificiais para manter os olhos hidratados e minimizar as agressões externas;
  5. Limpe suavemente os olhos com banhos oculares ou soro fisiológico. Se o desconforto persistir, consulte um especialista e evite automedicar-se com anti-histamínicos.

Não espere que os sintomas se agravem! Proteja os seus olhos desde os primeiros sinais de alergia e desfrute da Primavera com maior conforto.

Opinião
A esofagite eosinofílica (EE) é uma patologia inflamatória crónica do esófago, de natureza imunomedi

Estima-se que a EE afete cerca de 1 em cada 2000 indivíduos, sendo uma condição cada vez mais reconhecida, com incidência crescente. Predomina no sexo masculino, com maior frequência na adolescência e início da idade adulta, e está fortemente associada a antecedentes pessoais ou familiares de atopia, nomeadamente rinite alérgica, asma ou dermatite atópica. Entre os desencadeantes mais comuns encontram-se alergénios alimentares como leite, trigo, soja e ovos, embora também se considerem fatores ambientais na sua fisiopatologia.

Sem tratamento adequado, a EE pode evoluir para formas mais graves, com estenoses persistentes e disfagia progressiva, aumentando o risco de desnutrição e comprometimento do estado geral. Para além das manifestações físicas, a EE pode ter um impacto psicológico e social significativo. Os doentes podem desenvolver comportamentos de evitação alimentar, medo de engasgar, redução do apetite e perda ponderal. Estes sintomas interferem com o bem-estar emocional e social, estando descritas associações com ansiedade, depressão e isolamento. As limitações alimentares impostas pela doença afetam frequentemente o convívio social, refeições em grupo, prática desportiva, viagens e até a comunicação em público.

O diagnóstico precoce da esofagite eosinofílica é fundamental, não só para aliviar os sintomas e evitar complicações, como também para restaurar a capacidade de alimentação normal e melhorar a qualidade de vida. Um diagnóstico atempado permite ainda evitar terapêuticas ineficazes e exames complementares desnecessários, dado que muitos doentes são inicialmente tratados como se tivessem doença do refluxo gastroesofágico, atrasando o reconhecimento da esofagite eosinofílica.

O diagnóstico requer a realização de uma endoscopia digestiva alta com colheita de múltiplas biópsias esofágicas, essenciais para a identificação da infiltração eosinofílica. Embora exames laboratoriais e testes de alergia possam ser úteis em contextos selecionados, sobretudo em idade pediátrica, o seu valor no diagnóstico da EE em adultos é bastante limitado e não devem ser usados isoladamente com esse fim.

O tratamento da EE pode envolver abordagens dietéticas, farmacológicas e, em alguns casos, terapêutica endoscópica. As dietas de exclusão têm como objetivo identificar alimentos responsáveis pela inflamação, sendo uma opção segura, mas que exige tempo, dedicação e seguimento conjunto por Gastrenterologia e Imunoalergologia. A terapêutica farmacológica com inibidores da bomba de protões ou corticoides tópicos mostra-se eficaz na maioria dos casos, permitindo maior flexibilidade alimentar. Em situações mais graves ou com estenoses refratárias, pode ser necessária dilatação endoscópica. Mais recentemente, em doentes com resposta inadequada à terapêutica convencional, está disponível uma opção de tratamento biológico aprovada a nível europeu, com eficácia demonstrada na indução e manutenção da remissão.

Perante a suspeita clínica de EE, é essencial encaminhar o doente precocemente para a Gastrenterologia, de modo a confirmar o diagnóstico, instituir terapêutica apropriada e prevenir a progressão da doença.

A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia assinala o Dia Mundial da Esofagite Eosinofílica por forma a aumentar a consciencialização para esta doença, o seu diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Para mais informações consulte: www.saudedigestiva.pt

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Observatório da Despesa em Saúde
Apesar da crescente utilização do setor privado e da sua relevância como opção de escolha para os cidadãos, o Serviço Nacional...

Esta é uma das principais evidências reveladas na mais recente Nota Informativa do Observatório da Despesa em Saúde: As relações entre o setor público e setor privado na saúde, realizada pelos investigadores Carolina Santos e Pedro Pita Barros, detentor da Cátedra BPI | Fundação ‘la Caixa’ em Economia da Saúde, no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação ‘la Caixa’, o BPI e a Nova SBE.

A análise, que pretende compreender como funcionam as diferentes componentes do sistema de saúde em Portugal e como se articulam as responsabilidades do Estado, das famílias e das entidades privadas, foi elaborada tendo como referência dois planos distintos: a origem dos fundos utilizados para pagar os cuidados de saúde (financiamento) e quem presta esses cuidados (a prestação).

Financiamento: setor público mantém papel central, mas famílias pagam cada vez mais

Em Portugal, o financiamento das despesas em saúde continua a ser garantido, sobretudo, por impostos, refletindo o papel central do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como seguro público. Em 2022, o seguro público representava 55,37% do total do financiamento em saúde – um ligeiro recuo face aos 58,62% registados em 2000. Simultaneamente, os pagamentos diretos das famílias ganharam expressão, passando de 24,98% em 2000 para 29,65% em 2022, revelando um aumento do esforço financeiro direto das famílias. Já os subsistemas públicos, como a ADSE, registaram uma diminuição na sua representatividade, descendo de 6,27% para 3,02% no mesmo período.

Apesar do crescimento percentual do seguro privado de saúde, este mantém ainda um peso relativo limitado no financiamento global.

Prestação de cuidados: reforço da presença do setor privado, mas o SNS mantém-se como pilar do sistema

No plano da prestação de cuidados de saúde, observa-se uma crescente utilização do setor privado, o que evidencia a procura por maior diversidade e rapidez no acesso a serviços. Ainda assim, os dados indicam que o SNS permanece como o pilar estruturante do sistema de saúde, garantindo a universalidade, a equidade e a solidariedade no acesso.

Entre 2013 e 2025, verificou-se um crescimento consistente da utilização do setor privado, que passou de 7,61% para 15,34% no total de acessos registados. Após a pandemia, assistiu-se a uma retoma progressiva da procura de serviços de urgência hospitalar privados, culminando, em 2025, com um aumento significativo das consultas em consultórios privados. Contudo, mesmo perante este crescimento do setor privado, a maioria da população continua a procurar apoio no SNS, frequentemente em articulação com serviços como a linha SNS24, cuja utilização aumentou substancialmente durante e após a pandemia.

Um sistema em evolução, mas estruturalmente estável

Os dados analisados refletem um sistema de saúde onde o setor público continua a ser o pilar central dos cuidados de saúde na doença, mas que partilha cada vez mais o seu espaço com o setor privado. Esta realidade verifica-se tanto na ótica agregada – analisando as despesas com prestadores – como na perspetiva individual, através das decisões dos cidadãos no momento em que necessitam de cuidados.

Apesar das mudanças nas preferências de utilização e do crescimento do setor privado, a estabilidade do sistema de saúde manteve-se ao longo dos últimos 10 a 15 anos, com a prestação pública e o recurso ao SNS a continuarem predominantes.

O futuro desta articulação entre setores dependerá da capacidade de desenhar políticas públicas que reconheçam as tensões e interdependências existentes, sem abdicar dos princípios fundamentais que regem o SNS: universalidade, equidade e solidariedade.

 

Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), vai promover uma aula aberta sobre vacinação, no próximo dia 14 de...

A iniciativa vai contar com a presença de Graça Freitas (ex-Diretora Geral da Saúde), Fátima Ventura (representante de Portugal na EMA - Agência Europeia do Medicamento), Miguel Prudêncio (Investigador em vacinação, Professor na FMUL, GIMM) e Luís Graça (investigador no GIMM e sub-diretor da FMUL).

Nesta aula aberta vão ser abordados temas como a importância da vacinação na saúde pública, o processo de licenciamento e garantia de segurança das vacinas, como são tomadas as recomendações de vacinação em Portugal e a ameaça da desinformação sobre vacinas.

Após breves intervenções iniciais, terá lugar uma conversa aberta entre os palestrantes, moderada pela jornalista de ciência Teresa Firmino (jornal Público).

Esta aula destina-se a estudantes, profissionais de saúde, e ao público em geral.

 

Opinião
A Hipertensão arterial continua a ser motivo de notícia, seja em artigos científicos ou em conversa

A Hipertensão arterial (HTA), ou “tensão alta”, diagnostica-se quando os valores de pressão arterial são persistentemente acima dos 140/90mmHg na medição em consultório, ou 135/85mmHg em casa. Esta medição é um ato simples, ao alcance de todos, mas que deve ser avaliado logo a partir dos 3 anos de idade na consulta do pediatra – algo que nos alerta desde logo que é uma doença sem idade, apesar de ser mais frequente com o avançar dos anos. Deve também ser uma medição feita corretamente, seguindo as orientações dos aparelhos, de preferência validados e de braçadeira (braçadeira bem colocada, braço desnudo, costas encostadas, pernas não cruzadas, sem falar, etc). É uma doença com componente genético, e como tal mais frequente quando há familiares com HTA, mas tem acima de tudo um componente ambiental e comportamental muito forte: o elevado consumo de sal, o sedentarismo, o tabaco, uma alimentação rica em gorduras, o excesso de peso, o stress, até um sono não reparador e a poluição, são fatores que contribuem significativamente para o desenvolvimento ou o mau controlo da doença.

O que a torna tão difícil de controlar passa por um lado pelo seu caráter silencioso, dado que a HTA por norma não dá sintomas, e quando dá já é tarde demais. Mas este mau controlo da HTA passa também pela dificuldade das pessoas com este diagnóstico em cumprir de forma regular um estilo de vida saudável e a toma da medicação prescrita pelo médico/a. Esta não adesão à prescrição não tem um só culpado, mas implica por um lado conhecermos bem os riscos da HTA mal controlada – AVC, enfarte agudo do miocárdio, problemas na visão, disfunção eréctil, insuficiência renal, demência mais precoce, entre outros, que causam incapacidade por vezes irreversível, ou mesmo a morte – e por outro perceber que é uma doença crónica, e geralmente implica estes cuidados a muito longo prazo.

Hoje em dia, o tratamento é cada vez mais simples, com menos efeitos adversos, e com várias terapêuticas disponíveis: há muitas opções que combinam 2 ou 3 medicamentos num só comprimido, facilitando o cumprimento da medicação prescrita, de forma fácil de adaptar às rotinas de cada pessoa e no horário mais conveniente. E se dúvidas há, devem ser sempre colocadas ao médico/a no ato da prescrição. A comunicação médico-utente é fundamental para que melhor se entenda a doença, a responsabilidade de cada um no seu tratamento, e os objetivos de valores de pressão arterial a atingir. Estes valores-alvo de pressão arterial estão hoje em dia situados abaixo dos 140/90mmHg, e se possível mais próximo dos 120-130/80mmHg (pode depender de outras doenças presentes ou determinadas características de cada pessoa).

O bom controlo da pressão arterial contribui para uma vida mais saudável, com menos risco de doenças cardio e cerebrovasculares, e é facilmente atingido com um bom seguimento médico e cumprimento regular das indicações dadas, aliado à responsabilidade de cada um.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Opinião
Porque pode ser necessário realizar um transplante endotelial de córnea? Nas doenças do endotélio d

Alguns transplantes de córnea não são realizados devido ao potencial risco de complicações, nomeadamente de rejeição; devido a um pós-operatório muito exigente, com muitas consultas e complexidade da terapêutica medicamentosa ou devido a limitações para exercer determinadas atividades profissionais.

Qual o motivo para se optar por um transplante de toda a córnea quando é possível substituir apenas uma fina camada de células?

 

O QUE É A CÓRNEA?

A córnea é um tecido avascular, sem vasos sanguíneos, transparente que está exposto ao ambiente externo, cobrindo o segmento anterior do olho.

Situa-se à frente da íris e da pupila.

É a “janela” por onde entra a luz, permitindo que possamos ver.

Além de proteger o interior do globo ocular, a córnea tem também um papel essencial ao focar a luz que entra no olho e chega à retina. É mesmo a principal “lente” do olho.

O diâmetro horizontal da córnea mede cerca de 12 milímetros, e o diâmetro vertical mede 11,5 milímetros.

A espessura do centro da córnea é cerca de 550 micras, ou um pouco mais de meio milímetro.

A maioria dos erros de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo, deve-se à curvatura ou simetria inadequada da córnea. A presbiopia por outro lado, ocorre devido a alterações no cristalino relacionadas com a idade (“vista cansada”).

A córnea é composta por várias camadas, sendo uma das mais importantes o endotélio.

Esta é a camada mais interna da córnea.

O endotélio tem apenas uma única camada de células de espessura e mede cerca de 5 micras. As células do endotélio são hexagonais e agrupam-se no mosaico endotelial.

O endotélio de um adulto jovem tem uma densidade celular de cerca de 3500 células/mm2. Este número diminui com a idade, mas a um ritmo muito lento.

A principal função do endotélio é assegurar a manutenção da desidratação e transparência da córnea, condições indispensáveis para uma visão nítida. Quando há falência do endotélio, a córnea torna-se opaca e a visão fica turva.

 

O que é o transplante endotelial da córnea?

O transplante endotelial da córnea consiste em substituir seletivamente o endotélio da córnea.

Durante muito tempo, a única opção era substituir toda a córnea. Um procedimento conhecido como transplante penetrante, que implica a remoção total da córnea doente e a sua substituição por uma córnea dadora.

Hoje, graças aos avanços da medicina, já é possível realizar um transplante apenas do endotélio.

Embora o transplante penetrante tenha sido a cirurgia padrão durante muitos anos, o transplante endotelial tem vindo a ganhar destaque devido às inúmeras vantagens. Este conceito foi introduzido em 1956 com o primeiro transplante endotelial, mas só na década de 1990 e início de 2000, este procedimento começou a ter resultados promissores.

Desde então o transplante endotelial tem evoluído para uma cirurgia minimamente invasiva, com muito pouco dano para o endotélio do tecido de córnea transplantado e enxertos microscopicamente finos. Os resultados clínicos foram-se tornando cada vez melhores e as recuperações cada vez mais rápidas.

 

Quais as vantagens do transplante endotelial em relação ao penetrante?

Menor risco de complicações pós-operatórias

  • O transplante penetrante é um procedimento mais invasivo. É uma cirurgia realizada a “céu aberto” porque todo o “botão” de córnea do doente é removido. Isto implica um risco maior de complicações como infeções e catarata.
  • O transplante endotelial como é um procedimento mais seletivo e com micro incisões, o risco de complicações pós-operatórias é menor.

Menor risco de rejeição

  • Como o transplante penetrante envolve a substituição de toda a córnea, o risco de rejeição é maior. A córnea transplantada é um tecido "estranho" para o organismo, e o sistema imunológico pode reconhecê-la como tal.
  • No transplante endotelial o risco de rejeição é muito menor, porque apenas uma camada da córnea é transplantada.

Recuperação visual mais rápida

  • A recuperação da visão após um transplante penetrante é mais demorada, podendo levar vários meses até que a visão comece a estabilizar. O processo de cicatrização é mais complexo, uma vez que envolve todas as camadas da córnea.
  • No transplante endotelial a recuperação visual é mais rápida, com os doentes a notarem melhorias na visão em algumas semanas ou poucos meses.

Melhores resultados visuais

  • No transplante penetrante toda a espessura da córnea é substituída com maior assimetria entre o tecido do dador e do recetor. Também a necessidade de pontos de sutura pode levar a astigmatismos irregulares e menor qualidade visual.
  • No transplante endotelial apenas a camada posterior da córnea é substituída. O transplante é realizado com poucas ou nenhumas suturas e o astigmatismo pós-operatório é muito menor.

Menor necessidade de seguimento médico e medicação

  • Os doentes que realizam um transplante penetrante geralmente precisam de um acompanhamento médico mais frequente e de um regime de medicação mais intensivo, incluindo o uso prolongado de corticoides.
  • No transplante endotelial o seguimento pós-operatório e o uso de medicação são menos intensivos.

 

Quais as técnicas de transplante endotelial?

Existem duas técnicas principais:

  • DSAEK (Descemet Stripping Automated Endothelial Keratoplasty): técnica em que se substitui o endotélio e parte do estroma posterior da córnea.
  • DMEK (Descemet Membrane Endothelial Keratoplasty): técnica ainda mais precisa, em que se substitui apenas a membrana de Descemet e o endotélio, com resultados visuais superiores.

Ambas as técnicas são realizadas com recurso a microcirurgia, através de uma pequena incisão, e muitas vezes sem necessidade de pontos.

 

Para quem está indicado?

Este tipo de transplante é indicado sobretudo para doenças que afetam apenas o endotélio, nomeadamente:

  • Distrofias endoteliais, como a Distrofia endotelial de Fuchs;
  • Queratopatia bolhosa;
  • Cirurgia complicada do segmento anterior (como cirurgia de catarata, de glaucoma ou implante de lente intraocular) ou posterior (como cirurgia de descolamento da retina) resultando em descompensação endotelial;
  • Falência endotelial após uma primeira cirurgia endotelial ou penetrante.

 

Banco de Córneas

Tal como qualquer outro transplante, o transplante de córneas só é possível devido à doação de tecidos. Os bancos de córneas, que preparam e armazenam as córneas de dadores, desempenham um papel fundamental neste processo.

Em Portugal, o programa para colheita e transplante de córneas está muito bem organizado e otimizado para permitir uma boa disponibilidade de tecidos para transplante.

Também existe a possibilidade de importar tecidos de bancos de córneas provenientes de outros países.

 

Olhar o mundo com outros olhos

A oftalmologia está a evoluir a uma velocidade impressionante. O transplante endotelial é um exemplo claro de como estes avanços podem oferecer soluções mais eficazes, menos invasivas e com melhores resultados.

Para muitos doentes, esta cirurgia representa não apenas o regresso da visão, mas também o regresso à vida ativa, ao trabalho e aos prazeres simples do dia-a-dia como ler um livro, ver um filme ou admirar uma paisagem.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Estudo revela
A leishmaniose canina continua a ser uma das doenças infeciosas mais graves que afetam cães na Península Ibérica e representa...

A leishmaniose canina, causada pelo parasita Leishmania infantum e transmitida pela picada do flebótomo, pode afetar gravemente os cães e, até, ser transmitida aos humanos. Os sintomas podem revelar-se através da perda de peso, lesões cutâneas, anemia, insuficiência renal e, se não tratada, pode mesmo levar à morte. É considerada endémica na Península Ibérica, mas o aumento das temperaturas aliado ao crescimento da população canina urbana tem elevado o risco de transmissão.

No entanto, a mais recente edição do Estudo de Conhecimento sobre a Leishmaniose 2024, promovido pela LETI Pharma revela que a perceção de risco por parte dos tutores de cães permanece baixa, tanto em Portugal como em Espanha.

Com base numa amostra de 2.010 tutores de cães, o estudo identificou padrões preocupantes de desinformação, subvalorização da doença e escassa adesão a medidas preventivas eficazes.

Principais conclusões do estudo:

  • Baixo reconhecimento da leishmaniose canina como ameaça relevante: Cerca de 70% dos tutores não identificam espontaneamente a leishmaniose como uma doença infeciosa grave, mesmo em zonas de alta prevalência. Este número é praticamente idêntico ao observado em 2022, o que revela falta de evolução na consciencialização.
  • Desconhecimento sobre casos próximos: O estudo mostra um baixo nível de conhecimento de casos de leishmaniose em animais do círculo próximo dos tutores, o que contribui para a ausência de perceção de risco real.
  • Veterinários como fonte de informação – mas com margem de atuação: Apesar de o veterinário ser identificado como o principal canal de informação, 43% dos tutores afirmam nunca ter recebido orientações sobre como prevenir a doença. Este dado repete-se desde 2022, evidenciando a necessidade de uma atuação mais proativa na comunicação em consultório.
  • Medidas de prevenção: Quando questionados de forma direta, os tutores demonstram elevada aceitação da vacinação, como uma das medidas do plano anual de prevenção da leishmaniose canina, que é preferida por 90% dos entrevistados. Além disso, o conhecimento da possibilidade de transmissão da leishmaniose ao ser humano aumenta significativamente a propensão à vacinação.
  • Perceção da gravidade, mas não da proximidade: Apesar de haver consciência generalizada de que a leishmaniose é grave, os tutores não a veem como uma ameaça próxima ou provável, o que reduz a adesão a medidas preventivas.
  • Consolidação do perfil do tutor: O estudo perfila o tutor como um homem jovem, com um cão de porte médio, que visita o veterinário duas vezes por ano e realiza a vacinação regular, mas não tem consciência clara das doenças infeciosas que podem afetar o seu animal de companhia.

De acordo coma LETI Pharma, “É preciso transformar o conhecimento em ação. Quando os tutores compreendem o risco para os seus animais — e para si próprios — a prevenção, com a vacinação e antiparasitários externos com ação repelente, deixa de ser opcional para se tornar essencial. Com as medidas preventivas, não estamos apenas a proteger os animais, mas também a nós próprios e a todos os que nos rodeiam”.

O estudo também aponta que a falta de informação alimenta a perceção de que a doença não está presente nos meios urbanos, o que está em contradição com os dados de prevalência em regiões como Lisboa, Algarve, Andaluzia ou Madrid.

Com base nos dados obtidos, conclui-se que é urgente desenvolver campanhas de informação contínuas dirigidas aos tutores, com especial incidência nas zonas de maior prevalência; apoio aos veterinários com ferramentas educativas e aconselhamento sobre o plano de prevenção para a leishmaniose canina, incluindo o plano de vacinação contra a leishmaniose e uma proteção adequada contra as picadas dos flebótomos; promoção do conhecimento sobre o risco zoonótico como elemento central para incentivar a prevenção.

Associação RESPIRA
A Associação RESPIRA, em parceria com a Linde Saúde, acaba de lançar a terceira edição do Prémio Luísa Soares Branco,...

As candidaturas estão abertas até ao dia 30 de setembro e podem concorrer projetos de instituições públicas ou privadas que prestem serviços e cuidados de saúde a doentes respiratórios crónicos, em especial pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC).   

“O Prémio Luísa Soares Branco traduz a nossa missão de promover a saúde respiratoria em Portugal, nomeadamente através da prevenção do tabagismo. Ao reconhecer e premiar projetos inovadores e eficazes, impulsionamos a criação de soluções concretas que melhoram a qualidade de vida das pessoas com DPOC e outras doenças respiratórias. Esta iniciativa pretende ser um catalisador para a mudança e um incentivo para que mais instituições se juntem a nós nesta luta. A redução do impacto do tabaco na saúde respiratória é um passo fundamental para construir um futuro mais saudável e sustentável, com menos fumadores”, refere José Albino, Presidente da Associação RESPIRA.  

“Na Linde Saúde, a nossa prioridade é melhorar a vida dos doentes respiratórios através de soluções inovadoras e de um compromisso sólido com a qualidade. A parceria com a Associação RESPIRA no âmbito do Prémio Luísa Soares Branco reflete este compromisso, ao incentivar e apoiar projetos que demonstram um impacto real na prevenção do tabagismo e no tratamento da DPOC”, afirma Patrícia Mendes, Senior Sales & Marketing Manager da Linde Saúde em Portugal. Este é um reconhecimento essencial para as instituições que trabalham diariamente na melhoria da qualidade de vida dos doentes respiratórios crónicos que pode impulsionar avanços significativos na prestação de cuidados de saúde”, explica a responsável da empresa de cuidados respiratórios domiciliários. 

O júri será presidido por Cristina Bárbara, responsável pelo programa de Doenças Respiratórias da Direção-Geral da Saúde, e será composto por oito elementos, reunindo especialistas de diversas entidades ligadas à saúde respiratória em Portugal, como a Associação Respira, a Linde Saúde - empresa líder em cuidados respiratórios domiciliários –, a Comissão de Trabalho do Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP).  

O Prémio e a Menção Honrosa serão entregues em novembro. A cerimónia realizar-se-á em data e local posteriormente comunicados pela Associação RESPIRA. 

As inscrições devem ser feitas através da submissão do formulário online disponível em: Respira. Para esclarecimento de dúvidas, as entidades poderão contactar a organização através do email: [email protected].

16 de maio | Dia Mundial do Angioedema Hereditário
O Dia Mundial do Angioedema Hereditário (AEH) é assinalado a 16 de maio. Nesta data, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e...

A imunoalergologista explica que esta “é uma doença genética autossómica dominante que afeta genes que codificam uma enzima – o C1 inibidor. Esta enzima regula proteínas de diferentes sistemas, incluindo o complemento, e a sua falta leva a que a síntese da bradicinina não seja eficazmente controlada, o que se reflete no seu aumento e no aparecimento do angioedema. Clinicamente, manifesta-se por episódios recorrentes e imprevisíveis de edema cutâneo ou da submucosa, atingindo as mãos, pés, face, genitais, trato gastrointestinal e laringe”. Estima-se que, em Portugal, existam cerca de 200 a 300 pessoas com angioedema hereditário.

O impacto que o AEH tem na qualidade de vida dos doentes não pode ser esquecido, incluindo os efeitos físicos, psicológicos e sociais das crises recorrentes, imprevisíveis, desfigurantes, dolorosas e potencialmente fatais. “São doentes que apresentam normalmente níveis mais elevados de stress e ansiedade quando comparados com a população normal. Nos períodos entre as crises agudas, o doente enfrenta um impacto psicossocial significativo, marcado pelo receio constante de um novo episódio – seja um ataque abdominal doloroso ou o risco de um edema laríngeo potencialmente fatal. Esse medo pode levar muitos indivíduos a adaptarem suas rotinas de forma permanente, ajustando os seus estilos de vida para acomodar a condição, o que pode resultar em limitações nas escolhas profissionais, relacionamentos e atividades de lazer”.

Quanto à possibilidade de prevenir as crises, Ana Morête destaca que “a abordagem desta doença evoluiu positivamente na última década com a disponibilidade de novos tratamentos e com a mudança no paradigma de gestão para uma abordagem individualizada e centrada no doente. Segundo as mais recentes recomendações nacionais e internacionais, os objetivos do tratamento são atingir o controlo completo da doença - o que implica a ausência de episódios de angioedema e a normalização da vida dos doentes”.

No que diz respeito ao diagnóstico, define-o como “desafiante, dada a variedade das manifestações clínicas que estão associadas a um enorme desconhecimento entre a comunidade médica”. A imunoalergologista relembra que “no passado, os doentes passavam anos sem um diagnóstico correto, enfrentando episódios recorrentes de edema sem uma explicação clara. Atualmente, a maior consciencialização para esta doença leva a uma maior brevidade no diagnóstico”. 

Para a especialista é importante que os médicos dos serviços de urgência estejam atentos a sinais críticos de uma crise de AEH “como o edema laríngeo que pode comprometer a respiração e evoluir para obstrução das vias aéreas, a dor abdominal intensa e o edema cutâneo ou subcutâneo que afeta diferentes partes do corpo sem provocar lesões maculopapulares ou prurido. Além disso, a ausência de resposta clínica a anti-histamínicos e corticosteroides é um indicativo de AEH, pois a doença não é mediada por histamina. A presença da doença num familiar direto também pode ajudar a diferenciar o AEH de outras formas de angioedema”.

Como mensagem final para este dia, a presidente da SPAIC destaca a importância “do reconhecimento precoce dos sintomas, o acesso ao diagnóstico correto e às terapêuticas adequadas. Se conhece alguém, ou se houver suspeita de AEH, o encaminhamento deve ser feito para um imunoalergologista que fará o diagnóstico e irá garantir a abordagem e o tratamento adequados”.

Dia Mundial das DII assinala-se a 19 de maio
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) está a promover uma campanha nacional de consciencialização para as Doenças...

Segundo Marília Cravo, vice-presidente da SPG, “o diagnóstico destas doenças ainda demora, em média, dois anos. O acesso atempado a consultas de Gastrenterologia, exames como colonoscopias ou ressonâncias e a monitorização rigorosa da resposta terapêutica continua a ser um entrave grave para evitarmos formas avançadas e complicadas destas doenças. Apesar dos avanços significativos no tratamento, sobretudo com os fármacos biológicos, subsistem dificuldades no acesso aos cuidados.”

A campanha inclui o lançamento de um podcast intitulado “Vamos falar de DII”, que conta com sete episódios, e aborda temas tais como a prevalência e fatores de risco das DII, a nutrição, o estilo de vida, a saúde mental, o tratamento e a cirurgia. O primeiro episódio já está disponível em: https://saudedigestiva.pt/vamos-falar-de-dii/

As Doenças Inflamatórias do Intestino incluem a Doença de Crohn e a Colite Ulcerosa. Estas doenças envolvem o tubo digestivo, manifestando-se habitualmente com diarreias crónicas, sangue nas fezes, dores abdominais, falta de apetite e emagrecimento.

58.ª edição do Vodafone Rally de Portugal
A Associação Portuguesa de Neuromusculares (APN), com o apoio do Automóvel Club de Portugal (ACP), estará presente na 58.ª...

Em Portugal, estima-se que existam vários milhares de pessoas afetadas por doenças neuromusculares. Apesar de constituírem o maior grupo de doenças raras, as doenças neuromusculares permanecem largamente desconhecidas pelo público em geral.

Neste sentido, durante os quatro dias do evento, a Associação Portuguesa de Neuromusculares (APN) contará com um espaço próprio no recinto, onde estará disponível um veículo de demonstração equipado com diversas adaptações atualmente existentes no mercado e onde serão disponibilizadas duas cadeiras de rodas elétricas, permitindo aos visitantes experimentar, durante cerca de 10 minutos, a experiência de mobilidade de uma pessoa com uma doença neuromuscular, promovendo assim uma maior empatia e compreensão pela sua realidade.

De acordo com Ana Gonçalves, vice-presidente da APN, "A maioria das pessoas com doenças neuromusculares depende de cadeiras de rodas elétricas para se deslocar e necessita de apoio contínuo por parte de terceiros, 24 horas por dia, devido às limitações severas da sua mobilidade, que comprometem a sua autonomia. É fundamental que a sociedade compreenda estas limitações e esteja devidamente informada sobre estas patologias, de forma a promover uma resposta mais adequada, inclusiva e solidária."

Para o Automóvel Club de Portugal, “esta iniciativa é um exemplo do trabalho que fazemos pela mobilidade eficiente para todos. O apoio a causas que visam contribuir efetivamente para melhorar as condições de mobilidade dos mais vulneráveis é um constante e presença assídua nos nossos eventos desportivos, dada a forte afluência de público”, refere Mafalda Moraes, coordenadora de responsabilidade social do clube.

As doenças neuromusculares englobam um vasto e heterogéneo conjunto de mais de 200 patologias identificadas, entre as quais se incluem Miopatias, Neuropatias e Doenças do Neurónio Motor, como as atrofias e distrofias musculares, miastenias, miosites, ataxias e distonias, entre outras. Estas condições, maioritariamente raras, caracterizam-se por um curso progressivo e, na generalidade dos casos, sem cura, comprometendo de forma severa a função motora e provocando uma acentuada perda de autonomia. Para além da limitação física, muitas destas patologias afetam também músculos vitais, como os respiratórios e cardíacos, podendo originar complicações respiratórias graves e problemas cardiovasculares associados.

HIPRA
A HIPRA HUMAN HEALTH, com o apoio do Observador, reuniu especialistas de referência na Ordem dos Médicos para uma reflexão...

Carlos Cortes enfatizou a necessidade de uma visão mais holística e colaborativa sobre a saúde, alertando para o impacto da degradação ambiental no bem-estar humano: “Não podemos continuar a tratar a saúde humana como uma ilha isolada da realidade ecológica e da vida animal”. “Não há verdadeira saúde humana num planeta doente. Nenhuma resposta será eficaz se não formos capazes de pensar e agir em conjunto e em proximidade”, destacou o Bastonário da Ordem dos Médicos na intervenção de abertura.

 

César Jesus, Associate Director da Hipra, reforçou a importância do conceito One Health num mundo em constante mudança, onde as interações entre humanos e animais se intensificam: “Para nós é muito importante trazer este tema à discussão. Neste momento faz todo o sentido falar sobre as interligações entre a saúde humana e animal, este conceito de One Health. É um tema muito apetecível, mas que traz muitos desafios. Na Hipra estamos firmemente comprometidos em continuar a investir em tecnologia e continuar a desenvolver as melhores respostas”.

 

O evento contou com três painéis, que abordaram o conceito de One Health em diferentes perspetivas. O primeiro painel, sob o mote “One Health: Inter-relações e desafios”, contou com a participação de Rita Sá Machado, Diretora- Geral da Saúde, Susana Guedes Pombo, Diretora- Geral da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, José Pimenta Machado, Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, e Carlos Robalo Cordeiro, Presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas.

 

Rita Sá Machado falou das doenças que têm origem nos animais e afetam os seres humanos, como o H5N1 (gripe aviária). Chamou a atenção para o papel dos mosquitos como vetores de transmissão e a necessidade de uma vigilância epidemiológica reforçada para mitigar riscos sanitários. Salientou também que a discussão sobre One Health “é uma excelente demonstração da interligação institucional e operativa da DGS com instituições da área da saúde, da alimentação e da veterinária”.

 

Susana Guedes Pombo destacou o papel dos médicos veterinários: “A atuação dos médicos veterinários tem sido cada vez mais importante, mais crítica, não apenas para detetar as doenças nos animais, mas para agir como sinalizadores ou sentinelas de problemas potenciais de saúde pública”. Além da gripe aviária, mencionou também a febre do Nilo Ocidental, que afeta equídeos e humanos e já registou casos em Portugal.

José Pimenta Machado, Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, alertou para o impacto das alterações climáticas na saúde pública, referindo-se aos eventos extremos cada vez mais frequentes, como temperaturas recordes, cheias, secas e incêndios. Falou ainda sobre o impacto da poluição na qualidade do ar e o aumento das doenças associadas à exposição a plásticos e outros agentes contaminantes.

No segundo painel, dedicado à discussão “Saúde Humana e Animal: Do Conhecimento à Prevenção”, os participantes foram Paulo Costa, Professor e Investigador no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, Gabriela Saldanha, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, Bernardo Gomes, Presidente da Associação Nacional Médicos de Saúde Pública, e Jorge Barroso Dias, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho. Foram discutidos os efeitos da resistência antimicrobiana (AMR), a prevenção de zoonoses, o impacto da circulação global e do movimento internacional de pessoas na transmissão de doenças, e a globalização do mercado de trabalho e novos riscos.

No terceiro e último painel, a discussão foi sobre “Lições recentes e políticas de preparação para futuras pandemias”, e o alinhamento de participantes foi o mais alargado: Filipe Froes, membro do ACPHE-EC, Ana Margarida Alho, perita nacional destacada na DG HERA (Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias), Fernando Almeida - Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Ricardo Jorge (INSA), Ricardo Baptista Leite – CEO da Agência Global para a Inteligência Artificial Responsável na Saúde, Pedro Fabrica, Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, e Hélder Mota Filipe, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. Neste painel foi discutido o papel da vigilância epidemiológica, o que aprendemos com o SARS-CoV-2 e o H5N1, o desenvolvimento e acesso a vacinas, o papel da Inteligência Artificial no combate às crises de saúde, como antecipar e preparar o sistema de saúde, a importância da articulação global e como pode ser feito um investimento sustentável na prevenção.

Filipe Froes abordou a importância estratégica da autonomia científica e tecnológica, tanto a nível europeu como nacional. Defendeu a criação de uma fábrica de vacinas em Portugal, reforçando que o país deve garantir uma produção própria para responder a futuras crises sanitárias. Além disso, questionou: “Se estamos a falar de uma percentagem mínima do PIB para defesa, porque não uma percentagem do PIB para investigação científica?”.

Ricardo Baptista Leite trouxe para a discussão o papel fundamental da inteligência artificial na deteção de riscos e na antecipação de respostas eficazes. “Temos de ter um futuro no qual ambicionamos não ter pandemias”, declarou. Alertou ainda para um dos maiores desafios da saúde global: a resistência aos antibióticos: Uma das próximas pandemias pode ser provocada por uma resistência aos antibióticos. Pensar num mundo sem antibióticos é um regresso às trevas”, afirmou, sublinhando a necessidade de uma ação urgente para garantir o uso responsável destes medicamentos e prevenir futuras crises.

Além da troca de ideias, a conferência realçou a importância da colaboração entre instituições e a necessidade de ultrapassar obstáculos operacionais e institucionais que, por vezes, dificultam a implementação de soluções eficientes. A eliminação de barreiras e a promoção de uma visão integrada são essenciais para garantir um futuro mais seguro e sustentável.

Opinião
A prática desportiva, seja de alta competição ou de lazer, traz benefícios físicos e psicológicos am

A realidade das lesões desportivas

Dados internacionais apontam que mais de 30% dos praticantes de desporto experienciam, pelo menos uma vez por ano, uma lesão com necessidade de acompanhamento médico. Luxações, entorses, roturas musculares e tendinites são algumas das situações mais comuns, afetando não só o desempenho, mas também a motivação para continuar a prática desportiva.

Por outro lado, as lesões mal diagnosticadas ou tratadas de forma inadequada estão na origem de inúmeras situações crónicas, que comprometem articulações essenciais como o joelho, tornozelo, ombro ou coluna lombar.

 

O papel da prevenção: um investimento inteligente

A boa notícia é que grande parte das lesões desportivas pode ser evitada. A prevenção é, cada vez mais, reconhecida como uma área fundamental da Medicina Desportiva e deve ser encarada como um investimento — não apenas em performance, mas em longevidade funcional.

A chave está nos detalhes. Um plano de treino mal estruturado, a ausência de aquecimento adequado, o uso de calçado impróprio ou a negligência de sinais precoces (como dor ou rigidez) são fatores que aumentam exponencialmente o risco de lesão.

Ao contrário do que se possa pensar, prevenir lesões não é apenas uma preocupação dos atletas de elite. Cada vez mais, praticantes amadores, corredores ocasionais, jogadores de padel, ciclistas ou frequentadores de ginásio estão conscientes da importância de manter as articulações e estruturas musculares protegidas.

 

Estratégias simples. Resultados duradouros

A medicina preventiva oferece hoje um conjunto de recomendações baseadas na evidência, que podem fazer toda a diferença:

  • Avaliação médica prévia, especialmente em caso de retoma ou início de atividade
  • Aquecimento e alongamentos regulares
  • Fortalecimento muscular com foco nas articulações mais sujeitas a impacto
  • Respeito pelos períodos de descanso e recuperação
  • Boa hidratação e alimentação equilibrada
  • Acompanhamento técnico adequado à modalidade praticada
  • Escuta ativa dos sinais do corpo, especialmente a dor persistente

Além disso, a vigilância médica permite identificar variações anatómicas ou desequilíbrios musculares que podem predispor a lesões — um conhecimento essencial para adaptar o treino e evitar complicações.

 

Conclusão: mudar o jogo começa na prevenção

A prevenção de lesões no desporto é um pilar essencial da saúde musculoesquelética. Com acompanhamento especializado e medidas simples, é possível reduzir o risco, melhorar o desempenho e, sobretudo, garantir uma prática desportiva segura, prazerosa e sustentável ao longo do tempo.

Porque, no desporto como na vida, prevenir continua a ser o melhor remédio.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Nos dias 9 e 10 de maio
A Fisioterapia centrada na pessoa, o seu papel na saúde pública, a regulação profissional, as inovações tecnológicas e o...

Organizado pela Ordem dos Fisioterapeutas, o Congresso, que termina amanhã, tem como mote 360º Identidade e Valor e reúne profissionais, nacionais e internacionais, e também estudantes que irão refletir sobre a identidade profissional e debater os desafios e inovações que moldarão o futuro da Fisioterapia. Portugal conta com mais de 13.000 Fisioterapeutas, dos 72,5% são mulheres.

O papel da Fisioterapia na saúde pública em Portugal será um dos temas em destaque durante os trabalhos. Hoje existem apenas 1500 Fisioterapeutas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e destes só 150 estão envolvidos com os cuidados de saúde primários. A Ordem dos Fisioterapeutas defende

que os recursos humanos e os serviços das Unidades Locais de Saúde (ULS) sejam reorganizados com serviços e unidades de fisioterapia, com modelo de organização e funcionamento semelhante ao que já está a ser implementado para outras profissões de saúde, como psicólogos e nutricionistas.

Os Fisioterapeutas atuam na promoção da saúde e na educação para a saúde, na redução do risco e prevenção da lesão, perturbação ou doença e na manutenção, recuperação, habilitação, reabilitação e paliação de pessoas, grupos ou comunidades. Intervêm na saúde ocupacional, no envelhecimento ativo e na saúde mental.

O XII Congresso acontece na mesma altura em que foi homologado, pelo Ministério da Saúde, o Regulamento Geral de Especialidades Profissionais de Fisioterapia. É uma etapa relevante para o reconhecimento e a valorização das especialidades dentro da profissão, permitindo que os Fisioterapeutas possam obter, para já, o título de especialista nas áreas de Fisioterapia Cardiorrespiratória, Fisioterapia Músculo-Esquelética, Fisioterapia Neurológica e Fisioterapia.

O regulamento estabelece ainda a criação dos colégios de especialidade e define claramente as competências exigidas dos profissionais, bem como o processo para obtenção e renovação do título de especialista. O processo de criação de especialidades é um reflexo da constante evolução da profissão e visa, principalmente, melhorar a excelência, a qualidade e segurança dos cuidados prestados aos utentes.

Aumentar a acessibilidade aos cuidados dos Fisioterapeutas a partir da referenciação por médicos de qualquer especialidade, aprofundar a elaboração de normas técnicas e estabelecer protocolos de intervenção em colaboração com as várias especialidades médicas e outros profissionais de saúde e promover o desenvolvimento da investigação científica são algumas das metas da Ordem para os próximos anos.

Para António Lopes, Bastonário da Ordem, o Congresso será “um evento de enorme importância para todos nós, em que celebramos a nossa identidade profissional, refletindo sobre o impacto que a Fisioterapia tem tido e continuará a ter na vida dos cidadãos e no sistema de saúde português”. 

Na Maia
O MaiaShopping volta a assinalar o “Mês do Coração” com rastreios de saúde, realizados em parceria com a Farmácia Sousa Torres....

Sob o mote “O seu coração fala. Escute-o.”, esta campanha visa sensibilizar a população para a importância da prevenção das doenças cardiovasculares, incentivando hábitos de vida saudáveis e o controlo regular de parâmetros de saúde essenciais.

Durante os dois dias, estarão presentes no Centro profissionais de saúde para realizar rastreios completos que incluem a medição do perímetro abdominal, avaliação da pressão arterial (sistólica e diastólica), análise dos níveis de colesterol total, HDL e LDL, bem como triglicéridos. Será ainda feita a medição da glicémia em jejum e pós-prandial, e pesagem.

Com esta iniciativa o MaiaShopping reforça o seu papel ativo na promoção da saúde junto da comunidade, proporcionando um acesso simples, gratuito e conveniente a rastreios fundamentais para a prevenção de doenças cardiovasculares.

 

Agenda:

Local: Maia, MaiaShopping, Praça do Lago, Piso 1

Datas: 12 e 13 de maio

Horário: das 09h00 às 18h00

 

Com foco na comunidade sénior
A prevenção em segurança e saúde assume uma importância vital para o bem-estar das comunidades. Neste sentido, o MAR Shopping...
Esta 4ª edição decorre entre 8 e 10 de maio e contará com várias ações de formação e de sensibilização, tendo por objetivo envolver a comunidade em geral, com destaque para a comunidade sénior, uma vez que uma população informada contribuirá para alcançar uma melhor qualidade de vida.
 
Nas três últimas edições, o evento atraiu um número considerável de visitantes, contando com a participação de cerca de 15 mil visitantes, o que demonstra o envolvimento da comunidade neste tipo de iniciativas.
 
Este ano, o evento tem como foco principal a promoção de uma vida ativa, segura e saudável para a comunidade sénior, fortalecendo os laços comunitários e garantindo o bem-estar de todos. Esta iniciativa está alinhada com a estratégia de impacto social do MAR Shopping Matosinhos, que reconhece os desafios enfrentados pela população sénior em Portugal, e a importância da promoção de uma vida ativa.
Entre as ações planeadas para esta edição, destacam-se a peça de teatro “A Raposa Chama”, que faz parte de um projeto educativo e de sensibilização sobre a prevenção de incêndios rurais em Portugal, e uma peça de teatro desenvolvida e apresentada pela Universidade Sénior da Senhora da Hora; a participação da Banda da PSP na inauguração da ação; demonstrações de cães de assistência e resgate, exposições de viaturas de emergência e apresentações de viaturas de resgate animal pela Associação Portuguesa de Busca e Salvamento (APBS); atividades educativas com sessões de contos, divulgação de programas de segurança como "Eu estou aqui" pela PSP, informações sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável do Município de Matosinhos; rastreios de saúde promovidos pela ULSM (Unidade Local de Saúde de Matosinhos); exposição de meios, tapete simulador teste de álcool e sistema de retenção de cadeiras auto de transporte de crianças apresentados pela Polícia Municipal; Suporte Básico de Vida com Interpretação em Língua Gestual Portuguesa pela Cruz Vermelha Portuguesa; entre outras.
 
Participam nesta 4ª edição entidades como ÂNIMAS - Cães de Assistência, Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), , Associação Portuguesa de Busca e Salvamento (APBS), Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, Cruz Vermelha Portuguesa, Guarda Nacional Republicana (GNR), Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Polícia de Segurança Pública (PSP), Serviço Municipal de Proteção Civil, Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), Universidade Sénior da Senhora da Hora, entre outras.
 
O acesso a todas as atividades é gratuito.
 
PROGRAMA
Consulte a programação completa em MAR Shopping Matosinhos. Programa sujeito a alterações.
 
LOCAL
Atrium MAR Shopping Matosinhos, piso 0
Parque de estacionamento exterior, MAR Shopping Matosinhos
Novo episódio de “À Conversa sobre Diálise”
O novo episódio do podcast “À Conversa sobre Diálise”, da Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL), assinala o Dia...

A conversa centra-se no papel da Medicina Geral e Familiar, enquanto centro de cuidados primários, na prevenção, diagnóstico e gestão da Doença Renal Crónica (DRC) em Portugal. Durante o episódio, o entrevistado aborda as características desta doença e o papel do médico de família no seu acompanhamento, destacando ainda a importância da prevenção e diagnóstico precoce, sinais de alerta e as principais preocupações dos doentes renais crónicos.

“Os médicos de família desempenham um papel fundamental no diagnóstico precoce desta doença, através da monitorização da tensão arterial, dos níveis de açúcar no sangue e da função renal. Após o diagnóstico, a maioria dos doentes continua a ser acompanhada nos cuidados de saúde primários, sendo encaminhada para nefrologia apenas nos estádios mais avançados da DRC. Mesmo nesses casos, o seguimento no centro de saúde deve ser mantido em paralelo”, destaca Nuno Jacinto.

Outros temas abordados incluem os benefícios da prática de exercício físico para os doentes renais crónicos, o impacto da doença nas dinâmicas familiares, a ausência de indicadores específicos para a DRC nos cuidados de saúde primários e a colaboração entre os setores público e privado.

O podcast “À conversa sobre Diálise” comemora o 40.º aniversário da ANADIAL, tendo como objetivo abordar a evolução do tratamento da doença renal crónica ao longo das últimas quatro décadas. Convida mensalmente um especialista para debater temas relevantes para doentes renais, profissionais de saúde e o público em geral.

O episódio já está disponível nas plataformas YouTube e Spotify.

Testado na UMinho
Uma equipa do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da Universidade do Minho...

Os resultados do estudo, agora publicado na prestigiada revista “Biomedicine & Pharmacotherapy”, mostram que o fármaco experimental NLX-101 pode aliviar dois dos sintomas mais graves: a respiração irregular e os défices cognitivos.

A Síndrome de Rett afeta aproximadamente uma em cada 10.000 meninas no mundo. Estas doentes têm, geralmente, um desenvolvimento normal nos primeiros meses de vida, mas acabam por perder gradualmente capacidades já adquiridas como o andar e o falar. Muitas apresentam também episódios de apneia (paragens na respiração), que têm um forte impacto na sua qualidade de vida e podem agravar outros sintomas.

O novo estudo do ICVS demonstrou que uma administração precoce e continuada do fármaco num roedor que replica vários aspetos da doença prevenia os seus défices cognitivos. Além disso, após uma só administração do fármaco, os episódios de apneia foram significativamente reduzidos. Este fármaco foi desenhado para atuar exclusivamente num subtipo de recetores do neurotransmissor serotonina, chamados 5-HT1A, em zonas específicas do cérebro ligadas à cognição e ao controlo da respiração, permitindo obter os efeitos terapêuticos desejados e evitando efeitos adversos.  

 

Estudos prosseguem

“Apesar de a terapia genética ser muito promissora, recuperando os níveis da proteína afetada pela mutação causadora da doença, a sua aprovação e estabelecimento demorarão vários anos”, explica a investigadora Daniela Monteiro-Fernandes. “O NLX-101 poderá contribuir para a melhoria significativa de sintomas debilitantes da doença, como o défice cognitivo ou as apneias, que colocam muitas vezes em risco a vida das doentes”, acrescenta. Além de poder ter um efeito significativo na vida das doentes, indiretamente impactará a qualidade de vida da família e de cuidadores destas meninas, já que esta doença “afeta profundamente toda a estrutura familiar”.

O trabalho no ICVS envolveu ainda as cientistas Sara Guerreiro, Daniela Cunha Garcia, Joana Pereira Sousa, Stéphanie Oliveira, Andreia Teixeira Castro, Sara Duarte Silva e Patrícia Maciel e contou com a parceria de colegas da Universidade de Bristol (Reino Unido) e da farmacêutica Neurolixis (EUA).

São necessários mais estudos para avaliar a segurança e a eficácia do fármaco em humanos. No entanto, este trabalho abre caminho para novas terapias direcionadas, com potencial para transformar os cuidados prestados a quem vive com esta doença rara e complexa.

Dia Mundial da Hipertensão
Quando as doenças são silenciosas, o desafio do tratamento é ainda maior, como mostram os dados do estudo 'Adesão à...

No caso da hipertensão arterial, a ausência de sintomas leva muitos a subestimarem a gravidade da sua condição e a importância do tratamento. É para combater esta realidade que a Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) organiza, no âmbito do Dia Mundial da Hipertensão, uma campanha de rastreios gratuitos, com um duplo objetivo: identificar novos casos desta doença silenciosa e sensibilizar para a importância de manter os seus valores tensionais controlados, prevenir complicações cardiovasculares e melhorar a adesão ao tratamento.

No próximo dia 10, a edição deste ano da Feira da Educação e da Saúde, que se realiza no Jardim Vasco da Gama, em Belém, vai ser palco, entre as 10h00 e as 17h00, de rastreios e partilha de informação. Rastreios que vão também decorrer no dia 15, no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, abertos a toda a comunidade.

“A questão da hipertensão está longe de estar resolvida”, refere Fernando Gonçalves, presidente da SPH. “Temos problemas de prevenção, problemas de diagnóstico e temos problemas de adesão à terapêutica, assim como dificuldades de acesso dos doentes aos médicos”, pelo que considera iniciativas como estas importantes para sensibilizar e informar, não só a população em geral, mas também os profissionais de saúde.

Ações que ajudam a reforçar a partilha de informação e a literacia em saúde, que é um dos objetivos da Missão 70/26, uma iniciativa pioneira da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), em parceria com a Servier Portugal, que tem como objetivo controlar, até 2026, 70% dos doentes hipertensos com idades entre os 18 e os 64 anos, vigiados nos Cuidados de Saúde Primários*, e que, a menos de um ano de chegar ao fim, mostra uma tendência muito positiva. “Temos notado uma evolução crescente e acreditamos que vamos atingir o nosso objetivo. Começámos com um valor de metade, ou seja, só 52% daquelas pessoas entre os 18-64 anos que eram seguidas nos Cuidados de Saúde Primários tinham os seus valores controlados e podemos dizer que neste momento estamos com uma evolução positiva”, confirma Rosa de Pinho, presidente cessante da SPH para o biénio 2023-2025. Resultados que não deixam dúvidas: a Missão está no caminho certo.

Há ainda muito a fazer, sobretudo no que diz respeito às barreiras que os doentes hipertensos enfrentam no controlo da sua doença. Barreiras que, segundo Rosa de Pinho, se prendem com o facto de “a hipertensão ser uma doença silenciosa, que não dá sintomas, pelo que a pessoa, se não for procurar alguém para lhe medir a pressão arterial, não vai perceber se esta está elevada. Depois, sobretudo para algumas pessoas mais jovens, é ainda um pouco confuso terem de tomar medicação quando não sentem nada”.

Aqui, junta-se o facto de os doentes hipertensos não terem só hipertensão, mas, “muitas vezes, outros problemas de saúde, que fazem com que tenham a pressão arterial mais alta, nomeadamente excesso de peso. Em termos de custos, o nosso Ministério da Saúde comparticipa, em muitos, estes fármacos, mas a comparticipação poderia ser superior, como acontece com outras patologias, assim como podia haver também mais apoio para a aquisição dos aparelhos de medição da pressão arterial, que tornaria mais fácil medir em casa”.

Há ainda, refere a médica, a questão da literacia, ou falta desta. “Apesar das pessoas estarem mais conscientes hoje em dia, penso que ainda temos muito trabalho para fazer, porque ainda não percebem bem o impacto que a hipertensão pode ter, sobretudo em termos de incapacidade”, refere Rosa de Pinho, que defende “uma parceria com o Ministério da Educação, para que se possa começar mais cedo, nas escolas, a falar sobre estes temas”.

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