Por ocasião do Dia Mundial de Combate à Obesidade, que se assinala a 11 de outubro, o especialista chama a atenção para a necessidade de esclarecer a população sobre o tema, deitando por terra esta e outras ideias preconcebidas e erradas.
“Esse paradigma ainda existe, sobretudo em países onde há algum atraso no que diz respeito às cirurgias”, esclarece o especialista. “Há ainda muita gente que pensa: eu vou ficar gordo, mas depois opero e resolvo o problema. Não é isto. É que, tal como sabemos hoje, os problemas de peso têm muito a ver com questões metabólicas. O que significa que o facto só de operar não adianta”, acrescenta, reforçando que é aqui que entra o acompanhamento especializado, essencial para uma intervenção bem-sucedida.
Outra ideia que se tem mantido é a de que a intervenção cirúrgica como tratamento da obesidade é o ‘fim da linha’, ou seja, a última alternativa, a que os doentes recorrem depois de terem tentado outras opções, como as dietas. “Mas a questão não é esta”, refere o Prof. Doutor Rodrigo Oliveira, que insiste na necessidade de “uma avaliação metabólica ao doente”, como a que é feita no Hospital da Cruz Vermelha, “que determina se ele é candidato ou não à cirurgia. O doente não tem que fazer um tratamento e depois operar. Até porque esses tratamentos não resolvem nada quando a doença metabólica tem uma componente genética”.
Porque as cirurgias são, hoje, muito divulgadas, subsiste a ideia de que são agressivas, “de que podem pôr em risco a vida do doente, causar défice de vitaminas e por aí fora”. Mais uma vez, uma ideia errada, assegura o especialista que, em setembro, foi o primeiro português a realizar uma cirurgia ao vivo no congresso da Federação Internacional para a Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO), que se realizou no Dubai, onde deu a conhecer algumas das inovações nesta área, já utilizadas no Hospital da Cruz Vermelha.
É importante também acabar com a ideia de que a cirurgia é uma opção. “A cirurgia bariátrica, hoje metabólica, não é uma opção, ela é uma indicação médica. Não estamos a falar de algo do género da cirurgia plástica, em que a pessoa, se não está satisfeita, pode mudar. Quando o doente começa a perceber as doenças que tem e o final de vida que vai ter, ele percebe que a cirurgia é algo que tem de fazer.”
São muitas e diferentes as indicações para as intervenções cirúrgicas, assim como são também diferentes as opções ao dispor do doente, umas mais invasivas do que outras. Mas ao contrário do que ainda muitos pensam, “só com a avaliação metabólica é que eu vou saber qual a melhor técnica indicada para aquele caso. O que resultou num amigo ou familiar, pode não ser adequado para outros”.
Muito importante é ainda, segundo Rodrigo Oliveira, informar os doentes que a cirurgia não é isolada. “À cirurgia tem de se seguir o acompanhamento da equipa multidisciplinar, nomeadamente de endocrinologia e a nutrição”. De acordo com o especialista, “a cirurgia não é uma técnica que reduz o estômago e, por conta disso, a pessoa come menos e vai emagrecer”. O que acontece, explica, é que “há uma alteração metabólica. Ao longo de dois anos, o doente perde peso, até chegar a um ponto em que fica estável. Durante esse período de dois anos ele tem de ser acompanhado pela equipa multidisciplinar por causa das alterações metabólicas”.