Doenças da tiroide

Hipertiroidismo e Hipotiroidismo: as principais disfunções da Tiroide

Atualizado: 
22/05/2019 - 15:17
Estima-se que, em Portugal, cerca de um milhão de pessoas sofra de alguma patologia relacionada com a Tiroide. Neste artigo, o especialista em Endocrinologia e Nutrição, Luís Raposo explica o que é e quais os principais distúrbios que atingem este órgão.

A tiroide é um órgão endócrino com a forma de uma borboleta, que se localiza na base da face anterior do pescoço imediatamente adiante da traqueia e que é responsável pela produção das hormonas tiroideias tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4). A produção das hormonas tiroideias é estimulada pela TSH (hormona estimulante da tiroide) de origem hipofisária. Por outro lado a secreção da TSH é influenciada pelas hormonas tiroideias.

As hormonas tiroideias exercem amplas ações através de recetores nucleares influenciando assim a expressão de imensos genes em todas as nossas células. As hormonas tiroideias têm um importante papel no desenvolvimento neurológico fetal e neonatal, no crescimento e no metabolismo dos lípidos, proteínas e glúcidos. Para além disso, têm efeitos cardiovasculares e influenciam o humor e a atividade cognitiva, assim como o sistema reprodutor.

As doenças da tiroide podem ser divididas em estruturais e funcionais. As doenças estruturais que envolvem as alterações da morfologia e da localização da tiroide podem associar-se ou não a disfunção da tiroide.

A tiroide pode ser alvo de anomalias congénitas do desenvolvimento da tiroide em que se incluem a agenesia (ausência da tiroide), a hemiagenesia, o quisto do canal tireoglosso e a tiroide ectópica sublingual.

Muitas destas doenças acompanham-se de hipotiroidismo congénito e são diagnosticadas precocemente através do rastreio neonatal (teste do “pézinho”).

O aumento de volume da tiroide denomina-se bócio. Quando se identificam nódulos num individuo com bócio falamos em bócio nodular (multinodular se há mais do que um nódulo). Os nódulos da tiroide são muitos frequentes podendo ser encontrados em 50 a 60% dos indivíduos saudáveis; em geral não se acompanham de sintomas e a função tiroideia é normal. A presença de nódulos da tiroide obriga a uma investigação do estado da função tiroideia e a uma avaliação do risco de cancro da tiroide. Em alguns casos é necessária a realização de uma citologia aspirativa com agulha fina da tiroide (vulgar “biopsia da tiroide”) para exclusão de malignidade.

A disfunção da tiroide inclui o hipotiroidismo e o hipertiroidismo. O hipotiroidismo que resulta da perda de função da glândula tiroideia é o tipo de disfunção mais frequente. De acordo com o estudo PORMETS, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, a sua prevalência em Portugal é de cerca de 5% e atinge 4 vezes mais as mulheres do que os homens. O diagnóstico laboratorial do hipotiroidismo é feito através do doseamento da TSH que se encontra aumentada. Se os níveis sanguíneos das hormonas tiroideias também forem baixos falamos em hipotiroidismo clinico, que como o nome indica se pode fazer acompanhar de sintomatologia clinica. Se apenas a TSH está aumentada falamos de hipotiroidismo subclínico, uma forma inicial da doença em que os sintomas são escassos ou ausentes, porque a produção deficiente das hormonas tiroideias é compensada à custa de uma maior estimulação pela TSH.

Os sintomas e sinais do hipotiroidismo são variados e poucos específicos, podendo incluir alterações da memória e concentração, depressão, astenia, fadiga muscular, mialgias, ganho ponderal, pele seca, cabelo fino, intolerância ao frio, bradicardia, obstipação, rouquidão e irregularidades menstruais.

As formas subclínicas predominam sobre as formas clínicas (prevalência de 3.3% e 1.6% respetivamente). Devido à presença de sintomatologia pouco específica ou ausente o hipotiroidismo passa muitas vezes despercebido não sendo diagnosticado em cerca de 71% dos casos.

A principal causa do hipotiroidismo é a tiroidite crónica autoimune, cujo diagnóstico é feito através do doseamento dos anticorpos anti-tiroideus (anticorpos anti-tireoglobulina e anti-peroxidase tiroideia) no sangue. A prevalência desta doença aumenta com a idade e é cerca de 3 vezes maior na mulher do que no homem.

O hipotiroidismo clínico tem sempre indicação para terapêutica hormonal de substituição. No tratamento é usada apenas a T4, a principal hormona produzida na tiroide. A T4 pode converte-se no nosso organismo em T3 a hormona tiroideia mais ativa. Esta conversão depende de um sistema de deiodinases que tem em vista as necessidades celulares, permitindo assim uma disponibilização mais fisiológica das hormonas em falta.

O hipotiroidismo subclínico não tem sempre indicação para tratamento hormonal. A indicação para o tratamento depende dos valores da TSH, da presença de uma patologia causal (em particular a tiroidite autoimune), da presença de sintomatologia sugestiva de hipotiroidismo, da idade, de doenças associadas e de fatores relacionadas com a fertilidade e gravidez.

A tireotoxicose é uma entidade clinica resultante do excesso de hormonas tiroideias a nível dos tecidos e tem uma prevalência aproximada de 2.5%. O hipertiroidismo é uma forma de tireotoxicose em que existe hiperfunção da glândula tiroideia e em que a TSH se encontra diminuída no sangue. Tal como no hipotiroidismo podem existir formas clínicas e subclínicas de acordo com a presença ou não de elevação dos níveis sanguíneos de alguma das hormonas tiroideias.

Os principais sintomas e sinais do hipertiroidismo incluem o emagrecimento, irritabilidade, intolerância ao calor, palpitações, taquicardia, hipersudorese e hiperdefecação.

As principais causas de hipertiroidismo são a doença de Graves e o bócio nodular tóxico. No caso da doença de Graves, de etiologia autoimune, em que toda a glândula apresenta uma produção aumentada de hormona tiroideias, para além da tiroide podem ser atingidos outros tecidos, nomeadamente o olho provocando exoftalmia. No bócio nodular tóxico, um ou mais nódulos produzem hormonas tiroideias em excesso.

O tratamento do hipertiroidismo depende da sua causa e numa fase inicial envolve o tratamento com um fármaco inibidor da síntese das hormonas tiroideias, habitualmente o tiamazol.

 

Dr. Luís Raposo
Assistente Graduado de Endocrinologia-Nutrição do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental / Investigador da EPIUnit – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto
Endocrinologista na Clínica de Santo António 

Nota: 
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