Causas e sintomas

Obstipação

Atualizado: 
04/04/2016 - 12:17
A obstipação é uma situação frequente considerando-se que afeta cerca de ¼ da população mundial, é mais frequente no género feminino, atingindo cerca de 40% dos idosos.

Afeta pessoas de qualquer idade e género, sendo mais frequente na mulher, idosos, não caucasianos e pessoas com nível socioeconómico reduzido. É um problema comum durante a gravidez, após o parto ou cirurgia, podendo ser ocasionada por medicamentos analgésicos opioides e anticolinérgicos, entre outros.

A frequência normal dos movimentos intestinais varia de 2 movimentos diários até um de 3 em 3 dias, pelo que a obstipação difere de indivíduo para indivíduo, daí que seja necessário perguntar a quem se queixa de obstipação, como eram os seus hábitos de defecação anteriores. Para se considerar as queixas como obstipação há 2 critérios:

  • Haver uma mudança na frequência de movimentos intestinais;
  • Existência de fezes duras com dificuldade de eliminação.

Pode haver outros sintomas como a sensação de esvaziamento incompleto dos intestinos, dor ou desconforto abdominal e flatulência.

Uma obstipação duradora pode ocasionar doença hemorroidária, impacto fecal no colon ou reto, obstrução intestinal ou complicações do trato urinário, pelo que deve ser corrigida atempadamente.

A obstipação pode surgir abruptamente e ser de curta duração ou ser crónica permanecendo durante muito tempo, até anos. A maioria dos casos de obstipação aguda não é grave e a compreensão das causas da obstipação ajuda a corrigi-la.

Causas de Obstipação
Embora possam existir diversas causas para a ocorrência de obstipação, podem ser subdivididas em 2 tipos. Na obstipação simples ou funcional não existe patologia indutora, contrariamente à secundária que requer referência do doente ao médico. A obstipação simples ou funcional pode ser induzida pela ingestão insuficiente de líquidos ou fibras que reduzem o volume fecal e/ou a motilidade intestinal, uso ou abuso de laxantes e de medicamentos indutores da obstipação. As dietas de emagrecimento causam habitualmente obstipação.

Avaliação Sintomática
Para uma indicação farmacêutica adequada o doente deve ser avaliado em diversos parâmetros para caracterizar a obstipação e decidir se deve ser dirigido ao médico para avaliação ou se a obstipação pode ser corrigida com indicação farmacêutica com MNSRM. Para caracterização da obstipação deve ser conhecida a sua duração e como se iniciou.

Duração: uma obstipação até 4 dias resolve-se espontaneamente a menos que haja sintomas. Contrariamente, se for mais prolongada pode corrigir-se com Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) e, caso não se resolva o doente deve ser referenciado ao médico.

As crianças e os idosos podem apresentar obstipação por preguiça em defecar, o que pode ocasionar uma obstipação crónica. Quando não tratada, esta obstipação pode conduzir a perda ou redução do tónus intestinal e progredir para megacólon (dilatação permanente) dificultando o peristaltismo e a atividade de laxantes, conduzindo a movimentos intestinais com uma frequência que pode ser inferior a um por semana.

Início: devem analisar-se alterações de estilos de vida que possam ter ocorrido e sejam responsáveis pela obstipação, como mudanças da dieta com redução da ingestão de fibras, ou de líquidos. A toma de diuréticos também pode contribuir para obstipação pela perda de fluídos. Outras alterações nos estilos de vida como o stresse, a mudança de emprego, viagens, mudança do local de toma de refeições, alterações de exercício, entre outras. Algumas doenças podem ocasionar obstipação assim como alterações de estados fisiológicos como a gravidez e a geriatria. A tabela 1 resume os medicamentos que mais frequentemente podem ocasionar obstipação bem como as restantes causas possíveis.

Tabela 1 – Principais causas indutoras de obstipação

Sintomas Associados
É conveniente identificar sintomas que se associam à obstipação e caracterizá-los para melhor poder intervir. Deve ser analisado se existem sintomas como os referidos abaixo:

Indisposição: quando a indigestão impede as atividades diárias durante as crises de obstipação, o doente deve ser dirigido ao médico para identificar eventual causa orgânica da obstipação. Pode ainda surgir febre ou suores noturnos.

Sangue nas fezes: não é raro observar-se a presença de sangue fresco na superfície fecal na crise de obstipação, habitualmente ocasionado por doença hemorroidária ou fissura no canal anal porque as fezes de difícil eliminação podem afetar os tecidos do reto e ânus. Quando o sangue está misturado com as fezes é escuro e descrito como “borras de café” pode significar uma situação grave, como as resultantes de diverticulose, cancro, úlcera péptica e requer que o doente seja dirigido ao médico. Doentes submetidos a terapêutica com sais de ferro também apresentam obstipação e fezes coradas de negro, o que não apresenta problemas.

Dor: quando surge dor contínua ou grave, durante 2 ou mais dias juntamente com a obstipação, o doente deve ser dirigido ao médico para avaliação das causas possíveis, havendo possibilidade de uma obstrução intestinal por eventual tumor.

Náuseas e vómitos: dado que não é comum a ocorrência de náuseas ou vómitos associados à obstipação e, podendo relacionar-se com obstrução intestinal, os doentes devem ser dirigidos ao médico.

Perda de peso: quando a perda de peso é marcada e, por poder relacionar-se com doença grave, o doente deve ser referenciado ao médico.

Diarreia: períodos de alternância entre diarreia e obstipação podem refletir síndroma de intestino irritável nos jovens. No idoso, a obstipação pode relacionar-se diarreia por abuso de laxantes, que esvaziou os intestinos e se reflete em obstipação posterior. Casos de resolução difícil devem ser referenciados ao médico.

Doenças concomitantes: o hipotiroidismo associa-se a obstipação, letargia e sonolência. Doentes com depressão, pela medicação que tomam, bem como doentes com angina de peito ou enfarto do miocárdio recente podem apresentar obstipação por evitar a força de defecar. Também é comum a obstipação em doentes de Parkinson. 

Autor: 
Prof. Doutora Maria Augusta Soares
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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