Picadas de animais marinhos

Todas as pessoas que visitam a praia podem estar expostas a acidentes provocados pela picada, mordedura ou contacto com os diversos animais que habitam o mar. A gama de animais marinhos que podem causar problemas é muito ampla, como o peixe-aranha e a raia, as medusas, e outros cnidários como as anémonas e os ouriços-do-mar. É necessário insistir na utilização de medidas preventivas, como é o caso da utilização de proteção solar, que não só protege contra as radiações solares, mas, também, auxilia na prevenção de reações da pele aquando do contacto com as medusas.
Por exemplo, a picada de peixe-aranha é habitualmente bastante dolorosa, mas as lesões que provoca, geralmente, não são graves e podem ser tratadas de imediato, sem que seja necessária assistência médica. No entanto, há exceções e, por vezes, dirigir-se a um hospital é a melhor decisão.
Debaixo da água e areia podem, ainda, encontrar-se outros animais marinhos que o podem picar. Alforrecas, ouriços-do-mar e caravelas-portuguesas, apresentam espinhos ou tentáculos como mecanismos de defesa. De seguida, aprenda a prevenir estes acidentes e saiba como deve agir quando acontecerem. Se for picado(a) por um destes animais marinhos, saiba o que deve fazer de imediato.
Picadas por Peixes Venenosos - Peixe-Aranha
Com a aproximação do verão, iniciam-se as idas à praia e, consequentemente, surgem os casos de picada por peixe-aranha, animais muito comuns na costa portuguesa. A maioria das picadas são de peixes-aranha de menores dimensões (<14 cm), que se escondem a poucos centímetros de profundidade nas áreas mais próximas da costa e, através dos seus espinhos venenosos localizados no dorso e guelras, perfuram a pele dos pés de quem, inadvertidamente, os pisa. Após a sua picada ocorre, quase imediatamente, dor intensa, erupção cutânea com zona vermelha e, por vezes, hemorragia.
O que fazer se for picado(a) por um Peixe-aranha?
Mantenha a calma e peça ajuda aos familiares ou amigos que o acompanham e ao nadador-salvador para seguir estes passos:
- Logo que possível coloque a zona da picada na areia quente;
- Coloque a área da picada em imersão em água quente, durante cerca de 30 minutos. Idealmente, a temperatura da água deve estar acima dos 40º C, porque o veneno degrada-se com o calor. No entanto, cuidado com a água a altas temperaturas para não provocar uma queimadura. Este procedimento só terá efeito se for realizado nos primeiros 30 minutos depois da picada. Se não tiver possibilidade de usar água quente, tente aproximar outra fonte de calor à zona picada, por exemplo, um isqueiro ou cigarro aceso, com muito cuidado e sem tocar diretamente na lesão;
- Pode, ainda, ser feita terapêutica oral para alívio da dor com analgésicos ou anti-inflamatórios, como paracetamol ou ibuprofeno, respetivamente;
- Verifique se algum espinho do peixe-aranha se partiu e ficou na pele. Se assim for, será necessário removê-lo. Os espinhos visíveis devem ser retirados sem utilizar as mãos diretamente, por exemplo, com uma pinça;
- Desinfete o local da picada, como faz com outra ferida vulgar;
- Se depois destes passos não sentir alívio da dor, deve procurar ajuda médica.
Atenção: a anestesia local, por exemplo em forma de sprays que frequentemente estão disponíveis, não deve ser usada. Está contraindicada, porque no início a dor alivia devido à vasoconstrição, mas não impede que o veneno do peixe-aranha continue a circular na corrente sanguínea.
O que nunca deve fazer quando se é picado por um peixe-aranha?
- Colocar gelo na zona picada;
- Tocar com as mãos nos espinhos diretamente sobre a lesão;
- Cobrir a ferida da picada;
- Urinar sobre a lesão.
Como evolui a dor...
A dor da picada do peixe-aranha pode durar entre 2 e 24 horas, sendo que a maioria das pessoas picadas por peixes-aranha não precisa de ser observada por um médico.
Se tiver algum dos sintomas a seguir indicados precisará de cuidados médicos, pelo que deve recorrer a um serviço de atendimento urgente (antes de ir à urgência ligue sempre SNS24 808 24 24 24):
- Hipersensibilidade ao veneno, com inchaço e dor exuberantes;
- Dor intensa e permanente, após tratamento com imersão em água quente e medicação oral;
- Febre persistente após as primeiras 24 horas;
- Enjoos, vómitos, tonturas ou dores de cabeça;
- Hipersudorese (suor excessivo);
- Contratura muscular na zona da picada;
- Incapacidade em remover espinho visível na pele;
- Picada no rosto ou zona genital.
Atenção: Devem ser ativados imediatamente os serviços médicos de emergência, através do número de telefone 112, quando uma pessoa picada por um peixe-aranha tiver sinais de falta de ar, perda de consciência, convulsões, rash cutâneo intenso (manchas vermelhas na pele), edema (inchaço) com alteração da voz ou dor no peito.
Como evitar a picada de peixe-aranha?
Uma solução para evitar a picada do peixe-aranha é utilizar sapatos próprios para andar na água, com solas de plástico, que se vendem em lojas de desporto ou nas grandes superfícies comerciais.
Esteja sempre atento às informações que constem nas entradas das praias ou dos nadadores-salvadores, uma vez que costuma existir indicação do risco de picada de peixe-aranha. Assim, poderá tomar as precauções necessárias. Não se esqueça, vigie as crianças!
Ouriço-do-mar
Os ouriços encontram-se em águas rasas, rochas ou algas. Têm um corpo pequeno e redondo, coberto de espinhos afiados e rijos, que podem perfurar a pele.
O que fazer se for picado por um ouriço-do-mar...
A extração dos espinhos do ouriço-do-mar deve fazer-se com cuidado, rapidez e de forma imediata, já que esta é a forma mais simples. Se o fizer mais tarde, primeiro amoleça a zona com água tépida e salgada, pois os espinhos são frágeis e partem-se com facilidade. Retire o espinho com pinça e assegure-se de que sai inteiro. Não deve mexer nem apertar a zona da pele onde está cravado. Depois, lave a zona com vinagre.
Medusas, alforrecas & caravelas portuguesas
As picadas de medusas são responsáveis por mais de 60% dos incidentes que ocorrem em áreas costeiras no verão. É uma das espécies mais temidas pelos banhistas e a que mais frequentemente causa ferimentos.
Atualmente sabemos que o aumento de picadas deste animal se devem às mudanças climáticas e ao aumento da pesca intensiva. Devido a esses fatores, houve um aumento da presença de medusas e novas famílias marinhas surgiram.
As medusas provocam lesões na pele quando entramos em contacto com os seus tentáculos ou filamentos. Produzem dor muito intensa e uma lesão avermelhada em forma de chicotada com bolhas que podem deixar cicatriz para a vida.
Em relação às alforrecas estas têm um corpo em forma de cogumelo, de aspeto gelatinoso, com tentáculos longos e finos na parte de baixo do seu corpo, cobertos de pequenas bolsas venenosas que provocam queimaduras. As alforrecas vivem em várias zonas do mundo e podem ser encontradas em águas de profundidade variável.
Enquanto a caravela-portuguesa, da família das alforrecas, tem uma bolsa cheia de gás de cor roxa-azulada e flutua à superfície da água. A sua picada é muito dolorosa e passível de provocar queimaduras com gravidade.
O que fazer se for picado por um destes animais marinhos?
- Saia da água rapidamente. Não esfregue a zona afetada, nem com areia nem com a toalha;
- Retire com cuidado os tentáculos que ainda permaneçam pegados à pele. Utilize uma pinça ou luvas protetoras;
- Depois lave a zona com água salgada abundante. Não utilize nunca água doce ou água fria porque facilita a descarga do veneno dos tentáculos;
- Aplique frio sobre a zona afetada durante uns 15 minutos;
- Depois aplique compressas embebidas em vinagre durante vários minutos;
- Pode tomar um analgésico, se precisar;
- Realize tratamentos diários da lesão.
Por último, já ouviu falar da erupção cutânea do banhista do mar!?
A erupção cutânea dos banhistas do mar ("seabather's eruption") é um exantema maculopapular com ardor e prurido, que atinge nadadores em algumas regiões do Atlântico. É causada por hipersensibilidade às mordidas de larvas da anémona do mar (p. ex., Edwardsiella lineate) ou medusa dedal (Linuche unguiculata). O exantema é pior nos locais de pressão em que as roupas de banho apertam a pele. Pessoas expostas a essas larvas devem tomar banho após tirar as roupas de banho. As manifestações cutâneas podem ser tratadas com loção de hidrocortisona e, se necessário, um anti-histamínico oral. Reações mais graves requerem o acréscimo de prednisolona oral ou endovenosa. A prescrição desta medicação carece de avaliação médica.
Algumas precauções para evitar picadas de animais marinhos:
- Nunca toque nestes animais, mesmo que pareçam mortos, pois podem conter veneno;
- Verifique se existem sinais de alerta nas praias;
- Use sapatos à prova de água se estiver a caminhar na maré vazia;
- Vigie sempre as crianças.
Deve dirigir-se ao hospital sempre que:
- Sentir febre, arrepios, dor no peito, dificuldade em respirar, vómitos e tonturas;
- Desmaiar ou em caso de hemorragia severa;
- Tiver um grande inchaço à volta da lesão;
- A picada for nos órgãos genitais ou na cara;
- A dor for intensa e não desaparecer ou diminuir com a medicação convencional.
Informe no serviço de urgência se for alérgico a algum tipo de veneno ou medicamento.
Em caso de intoxicação ou se necessitar de ajuda contacte o CIAV – Centro de Informação AntiVenenos através do número 800 250 250.
Boas férias! Disfrute do mar, do sol e da natureza...
Mas Sempre em Segurança. Cuide-se!
Bibliografia
APMCG (2013), Guia Prático de Saúde - da semFYC (Sociedad Española de Medicina de Familia y Comunitaria). Traduzido e adaptado pela APMGF (Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar).
BEIRÃO, Liliana (2020), Picada de peixe-aranha: o que fazer?, disponível em https://www.hospitaldaluz.pt/pt/saude-e-bem-estar/picada-peixe-aranha-que-fazer
SEMES (2023), La picadura de medusa y pez araña o la erupción del bañista: cómo evitar que arruinen nuestras vacaciones, disponível em