Opinião

A surpreendente aliada invisível: como a nossa pele se defende naturalmente do Sol

Atualizado: 
09/06/2025 - 09:15
Nos dias quentes de Verão, há um gesto que já faz parte da nossa rotina: aplicar protector solar antes de sair para a rua ou para a praia. Mas e se soubéssemos que, além do creme, temos um aliado natural e invisível a proteger-nos? Uma recente descoberta científica revela que certas bactérias que vivem na nossa pele ajudam a defender-nos dos danos provocados pelo sol — uma verdadeira “barreira biológica” que actua como um protector solar natural.

O que diz a ciência?

Um estudo publicado recentemente no ‘Journal of Investigative Dermatology’ trouxe novas luzes sobre o papel do nosso microbioma cutâneo — o conjunto de microrganismos que vive na pele. Investigadores descobriram que uma bactéria comum e inofensiva, Staphylococcus epidermidis, possui a capacidade de produzir uma enzima chamada urocanase. Esta enzima decompõe um composto chamado ácido cis-urocânico, que se forma na pele quando exposta aos raios ultravioleta B (UVB).

Porquê esta descoberta é importante? O ácido cis-urocânico, quando acumulado, pode enfraquecer as defesas da pele, diminuir a imunidade local e promover inflamações. Ao degradar esta substância, as bactérias actuam como uma espécie de escudo natural, reduzindo os efeitos nocivos da exposição solar. Para além disso, o estudo destaca que este mecanismo ajuda a regular a resposta imunitária da pele, tornando-a mais resistente e equilibrada.

 

O valor do nosso microbioma cutâneo

Durante muitos anos, associámos bactérias a doenças e sujidade. Hoje, a ciência tem vindo a mostrar que, no equilíbrio certo, estas pequenas criaturas são essenciais para a nossa saúde. No caso da pele, as bactérias “boas” ajudam a manter a barreira cutânea, combatem microrganismos patogénicos e, como agora sabemos, até participam na defesa contra os raios solares.

Esta nova descoberta pode abrir caminho a futuras terapias ou produtos que reforcem o papel protector do microbioma. Imagina-se, por exemplo, o desenvolvimento de cosméticos ou probióticos tópicos que aumentem a presença destas bactérias benéficas — uma abordagem complementar à protecção solar tradicional.

 

Protecção natural… mas não suficiente!

É importante, contudo, não criar uma falsa sensação de segurança. Apesar do potencial protector destas bactérias, este mecanismo natural não substitui o uso de protector solar com factor de protecção adequado. Os danos provocados pelos raios UV — incluindo o envelhecimento precoce da pele e o risco de cancro cutâneo — exigem medidas activas e comprovadas de protecção.

Portanto, mesmo com este fascinante escudo biológico, o conselho dos especialistas mantém-se: usar protector solar, evitar exposição prolongada nas horas de maior intensidade solar e cuidar da saúde da pele em geral, incluindo o respeito pelo seu microbioma.

 

Reflexão final:

Esta descoberta recorda-nos que o nosso corpo é uma verdadeira maravilha da natureza — um ecossistema complexo e inteligente. Saber que a nossa pele alberga bactérias que trabalham silenciosamente para nos proteger reforça a importância de cuidarmos dela de forma equilibrada, sem excessos de limpeza que possam perturbar este delicado equilíbrio.

Ao mesmo tempo, devemos manter uma atitude informada e responsável: celebrar as capacidades naturais do nosso corpo, sim — mas nunca esquecer que a protecção solar convencional continua a ser indispensável.

 

Autor: 
António Ricardo Miranda - Engenheiro Electrotécnico e de Computadores de Controlo e Robótica e Pessoa com Deficiência Auditiva e Visual
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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