Fernanda Margarida de Sá
A presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia, extinta no sábado, Fernanda Margarida de Sá, lamentou hoje...

A responsável, que iniciou o tratamento em novembro de 2017, disse ter informado dos resultados que obteve a todas as entidades públicas com responsabilidade na área da Saúde em Portugal, incluindo o Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.

"Nove dias depois [de informar as autoridades], o medicamento deixou de ser comparticipado", disse.

Enquanto presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia (APDF) disse ter insistido com o Infarmed no sentido de voltar a comparticipar o fármaco em causa, por considerar que, “ao preço que está, poucos são os doentes que o podem adquirir. Um frasco, cujo custo ronda os nove euros, dura apenas uma semana”.

Tendo em atenção que o medicamento, que tem como princípio ativo a citicolina, estava a ter resultados “muito positivos, na maioria dos doentes questionados” pela associação, a dirigente da APDF enviou em junho, de 2018, um email questionando o Infarmed sobre as razões da retirada da comparticipação desde 01 de dezembro de 2017.

Na resposta, a que a Lusa teve acesso, o Infarmed explicou que “a exclusão da comparticipação da DCI citicolina foi promovida ao abrigo do artigo 15.º, n.º 1, alínea a) do Decreto-Lei n.º 97/2015, de 1 de junho, na sua redação atual – exclusão da comparticipação por eficácia ou efetividade não demonstrada para efeitos de comparticipação”.

“Nesta avaliação concluiu-se não existir demonstração robusta e consistente de eficácia da citicolina nas indicações clínicas do RCM (AVC isquémico e traumatismos cranianos), seja em formulações injetáveis, soluções orais ou formas orais sólidas pelo que se propôs a descomparticipação de todos os medicamentos contendo citicolina (…). Importa aqui referir que nenhum RCM [Resumo das Características do Medicamento] contém indicação terapêutica específica para fibromialgia”, refere.

O Infarmed acrescenta que “uma eventual renovação da comparticipação do medicamento (…) está dependente da submissão de um pedido de comparticipação por parte do Titular de AIM [autorização de introdução no mercado] com apresentação de documentação técnico-científica demonstrativa da inovação ou equivalência terapêutica para as indicações terapêuticas reclamadas”.

À Lusa, Fernanda de Sá disse que a APDF encerrou a sua atividade por diversos motivos, mas, sobretudo, por não fazer sentido continuar a lutar pelos direitos dos doentes, quando “descobriu”, por “um simples acaso”, um medicamento que a faz sentir-se “curada”.

Garantiu, contudo, que não irá parar o seu trabalho e que irá continuar a acompanhar e a informar os doentes, para o que criou uma outra página na rede social Facebook: ‘Fibromiálgicos unidos pela saúde’.

A responsável quer agora falar em nome individual, e “com liberdade”, de um fármaco que lhe foi receitado há um ano para um problema que, aparentemente, não estava relacionado com a fibromialgia.

Fernanda de Sá disse que, desde que começou a falar no medicamento, tem sido alvo de “graves insultos e acusações falsas” à sua pessoa e à APDF.

“Fomos acusados de receber uma avultada verba do laboratório e que estávamos a pagar aos doentes que mencionavam que estavam a sentir a cura. Isto foi ofensivo demais e, a partir daí, comecei a sentir que a APDF tinha de acabar”, sublinhou.

Fernanda Margarida de Sá, que começou a sofrer de fibromialgia há 25 anos, disse que “após a primeira toma do medicamento, à noite” o seu acordar “foi surpreendente”.

Acordou “com o corpo, e principalmente as mãos, desinchadas, sem qualquer sinal de dor correspondente à fibromialgia e com vontade de sair, de se mexer e de fazer coisas que há muitos anos não conseguia”, situação que se mantém até hoje.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou em 2016 a norma “Abordagem Diagnóstica da Fibromialgia”, reconhecendo oficialmente a doença que, segundo dados da APDF, atinge mais de 300 mil pessoas em Portugal.

Porto
O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto vai lançar a 2.ª edição do Prémio Inovação, uma...

“Esta é uma tentativa de elevar algum padrão e promover as tecnologias na área da saúde em Portugal. Este prémio é um veículo para colocarmos as tecnologias portuguesas no mapa internacional”, adiantou João Cortez, responsável pela iniciativa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto.

A 2.ª edição do Prémio Inovação em Saúde, que junta o i3S e a Hovione Capital visa assim distinguir “ideias inovadoras” e incentivar a criação de ‘startups’ [empresa de base tecnologia em fase de desenvolvimento] relacionadas com novos dispositivos médicos, sistemas de diagnóstico e tecnologias de monitorização do estado de saúde.

“Esta plataforma é também uma forma de conseguirmos apoiar ideias que já tenham alguma prova de conceito e assim, alavancar estas tecnologias. Neste evento podem concorrer ‘startups’, mas também investigadores que nem sequer têm uma empresa formada”, frisou.

João Cortez revelou que vão ser selecionados oito projetos, sendo que o “grande vencedor” vai receber um prémio no valor de 35 mil euros e aos restantes projetos podem ser atribuídos prémios “adicionais” pelos parceiros que vão estar presentes no evento como a Agência Nacional de Inovação (ANI).

“Estamos certos de que no evento de seleção e entrega do prémio, muitas outras oportunidades de investimento irão surgir, quer para os premiados quer para os restantes a concurso, dado o interesse de vários investigadores e parceiros já associados desde a criação desta distinção”, sublinhou.

Segundo João Cortez, esta segunda edição vai “trazer à cena outros parceiros” que vão permitir “encurtar o caminho entre a obtenção de conhecimento e a chegada ao mercado” de inovações que trazem benefícios para a saúde.

“O i3S ao rodear-se de parceiros que estão envolvidos neste ecossistema e que podem apoiar estas boas ideias, pretende, de facto, dar visibilidade ao bom conhecimento que resulta destas tecnologias”, acrescentou.

A cerimónia de atribuição do Prémio Inovação em Saúde, que está agendada para dia 04 de fevereiro, nas instalações do instituto da Universidade do Porto, conta também com apresentações de quatro ‘startups’ “mais maduras” e que “estão à procura de investimento”.

Durante o evento, a ANI vai também atribuir um troféu, a ‘Árvore do Conhecimento’, e um prémio monetário no valor de cinco mil euros ao vencedor no âmbito do programa Born from Knowledge (BfK) Awards.

DGS
Cerca de um milhão de doses de vacinas da gripe foram já administradas gratuitamente nos centros de saúde, segundo um balanço...

A vacina contra a gripe está disponível e a ser administrada desde 15 de outubro, sendo gratuita e dispensando receita médica para pessoas a partir dos 65 anos e algumas pessoas com patologias específicas, como doença pulmonar obstrutiva crónica.

De acordo com um comunicado da Direção-Geral da Saúde (DGS) hoje divulgado, os centros de saúde já administraram um milhão de doses, sendo que o Serviço Nacional de Saúde tinha 1,4 milhões de doses de vacinas este ano.

Além de administradas de modo gratuito nos centros de saúde a grupos específicos, as vacinas são também dadas gratuitamente a pessoas institucionalizadas, como a idosos em lares.

A gripe é uma doença contagiosa que infeta todos os anos cerca de 10% dos adultos e um terço das crianças e, geralmente, apresenta uma evolução benigna. Contudo, pode trazer complicações associadas, tais como a pneumonia e a descompensação de doenças subjacentes, sobretudo em pessoas com doenças crónicas ou mais de 65 anos.

A DGS recomenda a vacinação às pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e às pessoas com algumas doenças crónicas, grávidas, profissionais de saúde.

Para quem não está nos grupos prioritários e com acesso à vacina gratuita, a vacina pode ser comprada nas farmácias, mediante receita médica e com uma comparticipação de 37%.

Fibromialgia
A presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia revelou hoje ter encerrado a sua atividade que considera já...

Fernanda Margarida de Sá, que começou a sofrer de fibromialgia há 25 anos, garantiu, contudo, que não irá parar o seu trabalho, só porque ficou “curada”, como contou, e irá continuar a acompanhar e a informar os doentes para o que criou uma outra página na rede social Facebook: ‘Fibromiálgicos unidos pela saúde’.

A responsável quer agora falar em nome individual, e “com liberdade”, de um fármaco que tem como princípio ativo a citicolina, que lhe foi receitado há um ano para um problema que, aparentemente, não estava relacionado com a fibromialgia.

Conta que no dia seguinte a iniciar o tratamento, acordou “sem inchaço nas mãos e na cara e sem ponta de dor”.

“Arrumei a casa e fui passear durante horas, sem me queixar (…). Bem podem dizer que aquilo não faz nada, mas eu e dezenas de doentes que já experimentaram podemos provar o contrário”, afirmou.

Fernanda de Sá disse que, desde que começou a falar no medicamento, tem sido alvo de “graves insultos e acusações falsas” à sua pessoa e à Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia (APDF).

“Fomos acusados de receber uma avultada verba do laboratório e que estávamos a pagar aos doentes que mencionavam que estavam a sentir a cura. Isto foi ofensivo demais e, a partir daí, comecei a sentir que a APDF tinha de acabar”, sublinhou.

Considerou que “seria uma falta de honestidade e de seriedade”, porque a APDF “nasceu para melhorar a qualidade de vida dos doentes e a partir do momento em que existem provas de um medicamento que tira todos os sintomas da fibromialgia, não há razão de ser para a existência de uma associação a lutar pelos doentes”.

O laboratório responsável pelo medicamento, que inicialmente mostrou “grande interesse” no que lhe foi descrito, veio mais tarde “proibir a APDF de continuar a fazer questionários aos doentes para saber como reagiam ao mesmo tratamento”.

Fernanda de Sá garante que “a maior parte dos doentes manifesta euforia, por se sentirem curados, outros apontam melhorias significativas e poucos são os que dizem não sentir evolução positiva, provavelmente porque sofrerão de outros problemas associados ou porque não estão a fazer o tratamento da maneira correta”.

“Inicialmente [o laboratório] ficou satisfeito, mas depois informou-nos que ainda seria cedo para entrar em investigação e que era necessário esperar mais tempo até que houvesse mais provas, coisa que não nos agradou”, disse.

Num email enviado à presidente da APDF, e a que a Lusa teve acesso, a laboratório dizia que “este tipo de ‘questionários’ vão contra qualquer regulação ou normativa sobre a utilização de medicamentos”.

“Quero que fique bem claro, a total desvinculação por parte do Laboratório (…) de esta ou qualquer tipo de práticas de este tipo que possam pôr em dúvida as regras de ética e ‘compliance’ que marcam a nossa conduta como empresa relacionada com a saúde”, lê-se no email.

Fernanda de Sá acrescentou que “exigiram que a APDF retirasse o questionário”, o que foi recusado.

“Estão na minha cabeça os milhares de doentes que não estão felizes como eu, e por eles dei preferência a acabar com a instituição que criei, para ter a possibilidade de, através de um novo processo, continuar a ajudá-los, podendo falar daquilo que quero”, afirmou.

Contactada pela Lusa, a médica de família de Fernanda de Sá contou que a conhece “há pelo menos 20 anos, que era professora de educação física naquela altura” e que “era muitas vezes obrigava a ausentar-se do trabalho porque nem sempre estava capaz de cumprir com os compromissos profissionais, por dores incapacitantes”.

Entretanto, “há alguns anos foi feito o diagnóstico a esta senhora por um neurologista de Lisboa, que teve a amabilidade de esclarecer” a médica, possibilitando "um processo de reforma antecipada”, contou Conceição Macedo.

“Desde o ano transato tive conhecimento pela própria que estava a fazer citicolina (…) e, desde aí, deixou de ter dores, dorme bem, não se sente cansada (…) e tem uma energia nunca vista anteriormente, por mim confirmada pessoalmente em consulta”, assinalou, realçando que “se há ou não relação com a citicolina, caberá aos investigadores estudar”.

A Lusa contactou outros especialistas e investigadores que se escusaram a comentar a situação descrita por Fernanda de Sá, incluindo o médico que há um ano lhe receitou o fármaco à base de citicolina, alegando “não existir evidência científica” ou porque “a investigação ainda se encontra numa fase muito precoce”.

A Lusa ouviu algumas doentes a tomar o fármaco, que referiram “alívio nas dores” e “melhoras nas funções cognitivas”.

Susana Ferreira, de 48 anos, antropóloga, foi diagnosticada há oito anos, embora já sofresse desde há muitos anos. Disse que quando iniciou o tratamento, há cerca de um ano, descobriu “um admirável mundo novo”.

“Cheguei a tomar dez comprimidos por dia, alguns para conseguir dormir. As dores que sinto agora são provocadas pelas artroses, distintas das dores musculares provocadas pela fibromialgia”. Atualmente, contou, toma apenas um comprimido.

Rute Campos, professora, de 49 anos, relatou ter iniciado o tratamento há cerca de dois meses, não se sente “curada”, mas “as dores aliviaram um bocadinho” e melhorou “muito no que se refere à falta de memória e lucidez”.

Maria Filipe Martins, 68 anos, disse que “as dores diminuíram muito” e que já consegue “dormir e viajar” o que representa “um grande salto” na sua qualidade de vida”.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou em 2016 a norma “Abordagem Diagnóstica da Fibromialgia”, reconhecendo oficialmente a doença, que, segundo dados da APDF, atinge mais de 300 mil pessoas em Portugal.

Em 2021
Debater os temas prioritários, desafios e oportunidades do setor da distribuição farmacêutica na Europa são os principais...

“É um reconhecimento do trabalho relevante e construtivo que a ADIFA – Associação de Distribuidores Farmacêuticos tem vindo a desenvolver no setor da distribuição farmacêutica, quer a nível nacional como europeu. É com muito orgulho que seremos anfitriões deste importante evento internacional. A Associação continuará a trabalhar em prol do desenvolvimento da distribuição farmacêutica, enquanto elo vital do circuito dos medicamentos, dispositivos médicos e produtos de saúde, assegurando a sua disponibilização nos locais certos e ao tempo certo.”, foram as palavras do Presidente da ADIFA, Diogo Gouveia, na sequência da escolha de Portugal para acolher a 62nd Annual Meeting & Conference do GIRP (European Healthcare Distribution Association), no ano de 2021. A aprovação da candidatura da ADIFA realizou-se em Assembleia Geral do GIRP, em Bruxelas, no dia 7 de novembro.

O GIRP, fundado em 1960, é a organização não-lucrativa europeia que representa os distribuidores farmacêuticos full-line, reunindo na sua esfera mais de 750 empresas de 33 países europeus. Segundo a Diretora Geral, Monika Derecque-Pois, “este é um evento anual estratégico para o GIRP, sendo a oportunidade ideal para reunir os nossos membros e parceiros do circuito do medicamento, assim como diversos decisores políticos nacionais e europeus, para debater os temas prioritários, desafios e oportunidades do setor da distribuição farmacêutica na Europa, tendo como objetivo final o desenvolvimento contínuo da cadeia de abastecimento, a valorização da intervenção da distribuição farmacêutica para a criação de uma verdadeira cadeia de valor e, fundamentalmente, a promoção da saúde pública”.

A realização do 62nd Annual Meeting & Conference (AMC) do GIRP coincide com a presidência portuguesa do Conselho Europeu, durante o primeiro semestre de 2021, esperando-se, assim, uma envolvência ativa no evento, promovendo o trabalho realizado pela ADIFA no fortalecimento do sector a nível nacional e europeu, bem como o do GIRP na definição e desenvolvimento das políticas setoriais europeias.

A próxima edição da GIRP AMC, a 60ª, realizar-se-á, em 2019, na Suécia, entre 26 e 28 de Maio. Irá focar-se no tema da inteligência artificial e no seu impacto nas tendências, técnicas e perspetivas do sistema de saúde. Mais de 200 executivos de topo e líderes do setor farmacêutico e da saúde vão estar presentes nesta edição do evento.

Esclareças as suas dúvidas
Sabia que a dislexia é uma disfunção neurológica, que se manifesta ao nível da dificuldade de aprend
Dislexia criança

A Dislexia é um défice apenas da infância.

Esta afirmação reproduz um mito generalizado e que é importante desmistificar. Sendo uma perturbação do neurodesenvolvimento é, por definição, um problema que se manifesta na infância, no entanto o seu carácter permanente indica-nos que percorrerá todo o ciclo de vida da pessoa, ainda que o seu impacto na trajetória desenvolvimental e na qualidade de vida seja maior na infância. É ainda importante salientar que o facto de ser uma perturbação permanente não lhe confere imutabilidade, sendo passível de substanciais melhorias com a implementação de medidas de intervenção ajustadas. A investigação feita neste domínio, com planos longitudinais, revela que os sintomas da Dislexia se mantêm ao longo do desenvolvimento, sobretudo no que se reporta ao desempenho ortográfico pobre e à baixa velocidade de leitura. Do mesmo modo, nos estudos longitudinais, constata-se que o perfil neuropsicológico do adulto é muito semelhante ao que havia sido observado quando ele era criança. Neste contexto, observa-se uma tendência crescente para proporcionar medidas educativas especiais a estes alunos durante toda a escolaridade, incluindo o ensino superior, nomeadamente através de acomodações curriculares. Por exemplo, utilização de diferentes modalidades e instrumentos de avaliação e/ou adaptações de materiais e recursos educativos.

A Dislexia é hereditária.

É uma ideia relativamente generalizada e que vai encontrando eco na investigação, ao constatar-se que a prevalência da Dislexia entre elementos da mesma família é elevada. De um modo geral, refere-se que cerca de 2/3 das crianças com Dislexia apresentam antecedentes familiares, considerando-se que a história da família é um factor de risco importante. A investigação demonstra que 23 a 65% das crianças que têm pais com Dislexia poderão também apresentar Dislexia, e entre irmãos a percentagem é de 40%. Outros autores referem que a probabilidade de um rapaz apresentar Dislexia é de cerca de 50%, no caso do pai ser disléxico, e de 40%, no caso de ser a mãe. Este aspecto poderá ter implicações no protocolo de avaliação e diagnóstico da Dislexia, que deverá incluir um questionário referente à história de desenvolvimento da leitura dos pais da criança. Por seu turno, a eventual natureza hereditária poderá ter implicações ainda a outros níveis, nomeadamente na planificação do processo terapêutico ou reeducativo, pois inviabiliza frequentemente que um dos progenitores possa assumir o papel de coterapeuta. No entanto, também poderá traduzir-se em algumas vantagens, nomeadamente pelo facto de os pais estarem muito mais sensibilizados para o problema, conduzindo a uma sinalização e intervenção mais atempada e, consequentemente, mais eficaz. Será ainda importante referir, no que se reporta à gravidade do problema, que o facto de haver antecedentes familiares não conduz diretamente ao aumento do grau da perturbação.

Os estudos no domínio da genética propõem uma relação entre nove regiões cromossómicas e a Dislexia.

A Dislexia tem cura.

Sendo esta afirmação um mito é sobretudo importante que ela não gere o contra mito de que ela não tem cura. Ou seja, a Dislexia é uma perturbação permanente, mas que não é evolutiva ou progressiva, sendo susceptível de grandes melhorias após a implementação de programas de reabilitação neuropsicológica e educativa. De um modo geral, a maior parte dos programas de intervenção incorporam, na totalidade ou parcialmente, os seguintes princípios: multissensorialidade (ouve-se, vê-se e sente-se); repetição com vista à automatização (neste domínio os programas de treino da leitura repetida começam a ser uma estratégia muito frequente); programas altamente estruturados e de base fonológica, estando demonstrado que os métodos globais não são indicados para as crianças com Dislexia.

Relativamente ao prognóstico, de um modo geral, poderemos dizer que o quadro se modifica com a idade. Assim, os erros mais bizarros ou arcaicos desaparecem em maior ou menor grau na leitura de textos, mas encontram-se frequentemente na leitura de pseudopalavras ou na aprendizagem de uma língua estrangeira. Com o avançar da idade, a criança com Dislexia acaba por dominar o princípio da decodificação (que conduzirá a uma leitura com adequado grau de precisão), mas apresentará dificuldades na fluência ou velocidade de leitura. No desempenho ortográfico terão sempre mais dificuldades. De um modo geral, poderemos dizer que os automatismos da actividade leitora não são completamente integrados e subsistirão as dificuldades na compreensão das mensagens escritas.

Todas as crianças que têm dificuldade em aprender são disléxicas.

É um mito e provavelmente será uma das questões que maior confusão tem gerado no seio da temática das dificuldades/perturbações da aprendizagem. Assim, deveremos ter presente a ideia de que o insucesso escolar (ou os problemas na aprendizagem) é um sintoma comum a diferentes quadros clínicos e que não podemos confundir o sintoma com a doença. Ou seja, os problemas de aprendizagem (sintoma) encontram explicação em factores de natureza diversa, individual e contextual. Por exemplo, na terceira infância, puberdade e adolescência o insucesso escolar está muitas vezes associado a estados depressivos. Estima-se que em cerca de 50% dos casos, as dificuldades na aprendizagem são o motivo expresso da consulta da criança deprimida. Do mesmo modo, deverá ficar clara a ideia de que a Dislexia é na sua essência uma Perturbação da Aprendizagem Específica. Saliente-se que esta é uma questão importante do ponto de vista teórico e também do ponto de vista prático ou da intervenção, pois dificilmente se poderá delinear uma planificação educativa eficaz se não tivermos em conta a natureza/etiologia das dificuldades/insucesso escolar.

Dislexia é sinónimo de baixa inteligência.

Estamos face a mais um mito, que importa combater, pois, por vezes, apresenta um forte impacto na saúde mental da criança com Dislexia, levando-a estruturar um conjunto de atribuições negativas e generalizadas sobre as suas capacidades cognitivas. Refira-se que até há pouco tempo atrás, a discrepância entre o nível de espectativa (resultado alcançado numa escala de inteligência) e o desempenho na leitura (resultado obtido num teste aferido de leitura) constituía o critério fundamental do diagnóstico da Dislexia, impondo-se como limiar mínimo um valor de QI igual ou superior a 90 num teste de inteligência. Atualmente, esse valor é bem mais condescendente mas continua a excluir as dificuldades intelectuais como factor etiológico primário da Dislexia.

A referência à capacidade intelectual da criança e o papel que essa parece apresentar na aquisição e desenvolvimento da leitura pode também ser encontrada na literatura, embora a sua importância e impacto varie nos diferentes estudos. De um modo geral, a literatura da especialidade reporta uma associação fraca a moderada entre leitura e inteligência e essa relação tende a ser maior nos primeiros anos de escolaridade. Assim, o QI medido durante o Jardim de Infância parece explicar 15 a 22% da variância observada na leitura no 1º ano de escolaridade, passando, com o decorrer dos anos escolares, a adquirir um peso residual e a correlacionar-se de modo mais significativo com a compreensão da leitura.

Não existe diferença entre um aluno com Dislexia ou um aluno que tem dificuldades a ler.

Estamos face a uma questão ainda em aberto e que remete para especificidade da Dislexia enquanto perturbação do neurodesenvolvimento. A questão que se coloca é a de saber se os processos neurocognitivos que caracterizam as crianças com Dislexia (défices na consciência fonológica, dificuldades em evocar rapidamente códigos fonológicos, memória de trabalho verbal, etc.) são notoriamente diferentes daqueles que apresentam as crianças com problemas na leitura (leitores fracos ou leitores pobres) mas que não são diagnosticadas como disléxicas. Neste domínio, os dados da investigação demonstram alguma divergência. Assim, alguns estudos revelam a ausência de diferenças entre leitura das crianças disléxicas e a das crianças de baixo desempenho na leitura (não consideradas disléxicas) em medidas de linguagem, soletração e memória. Ou seja, nestes casos as crianças com Dislexia partilham défices neurocognitivos com as crianças que apresentam baixo desempenho na leitura sem serem disléxicas. No entanto, outro grupo de investigações refere resultados que desenham diferenças no perfil neurocognitivo dos dois grupos, em particular no que se refere à velocidade de processamento de informação verbal que penaliza sobretudo as crianças com Dislexia.

Mais pacífica é a análise diferencial entre os indivíduos com Dislexia e aqueles que apresentam uma compreensão pobre da leitura (“poor comprehenders”). Nestes casos, a criança com Dislexia apresenta um perfil diferenciado dos indivíduos com compreensão pobre (“poor comprehenders). Assim, uma criança disléxica apresentará dificuldades na capacidade de decodificação, défices fonológicos marcados e poderá retirar algum benefício da qualidade global da leitura quando apoiada no contexto. Por seu turno, uma criança com défices na compreensão da informação lida terá um desempenho normativo na componente fonológica mas apresenta dificuldades no processamento semântico; não demonstra ganhos significativos na leitura quando apoiada no contexto; frequentemente, manifesta alterações na compreensão da linguagem oral e que poderão ser enquadráveis numa perturbação da linguagem.

Em síntese, esta é efetivamente uma questão cuja resposta carece de mais investigação.

Não há como saber se uma criança é disléxica antes de ir para a escola.

À semelhança da anterior, esta é uma questão igualmente em aberto. De facto, os precursores/preditores da Dislexia de Desenvolvimento carecem de mais investigação. Algumas dificuldades podem fazer-se sentir durante a idade pré-escolar, mas a maior parte só se torna evidente mais tarde. As narrativas parentais acerca desta questão demonstram o “carácter oculto” do problema até à entrada na escola e a surpresa que ele provoca “­antes de entrar para a escola era muito esperto. Tão esperto que pensámos que viesse a ser um bom aluno”. Mesmo assim, a investigação permite elencar os preditores mais fiáveis: (i) A consciência fonológica (a capacidade para identificar, reter e manipular os sons da linguagem oral) tem sido apontada como melhor preditor da exactidão e fluência da leitura; (ii) O conhecimento do nome das letras tem sido identificado como um dos preditores mais importantes na fase inicial de aquisição de competências de leitura, surgindo como bom preditor de dificuldades de leitura; (iii) a velocidade de nomeação, também conhecida como nomeação rápida automatizada (RAN) ou velocidade de acesso ao léxico mental, é analogamente considerada um importante preditor da capacidade de leitura, sobretudo da fluência. É uma competência que se refere à velocidade de acesso e recuperação dos códigos fonológicos arquivados na memória a longo prazo; (iv) o desempenho em tarefas de fluência verbal também se tem apresentado como um bom preditor da Dislexia.

Por último, será importante referir que comportamentos como a leitura e escrita em espelho de números e letras ou as perturbações na articulação da fala, que são frequentemente motivo de preocupação para os pais da criança em idade pré-escolar, apresentam fraco valor preditivo.

A Dislexia afeta mais os meninos que as meninas.

De um modo geral, as perturbações do neurodesenvolvimento, nas quais a Dislexia se inclui, apresentam uma maior prevalência no sexo masculino ainda que numa relação variável e que gradualmente tem decrescido. Assim, na década de 70 do século XX apontava-se para o predomínio dos rapazes na ordem de 4:1. Mais recentemente esse rácio varia entre 3:1 e 1,3:1. Tal facto poderá encontrar explicação em factores de natureza diversa, nomeadamente os que se referem aos critérios de constituição das amostras, sendo mais facilmente sinalizados os rapazes porque apresentam mais problemas de comportamento do que as raparigas. Isto explicaria, por exemplo, o facto do diferencial do rácio aumentar quando se trata de amostras clínicas e diminuir nos estudos de natureza epidemiológica. Uma outra explicação poderá encontrar-se na hipotética maior vulnerabilidade dos rapazes para as disfunções cerebrais, que poderão estar na origem da Dislexia ou ainda a alegada maturação cortical mais lenta nos rapazes.

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A equipa de investigação desenvolveu e validou duas pontuações para a identificação da asma em adultos.

“Para isso, foram avaliados dados de mais de 700 adultos com e sem asma, de todo o país. Os doentes foram avaliados por um especialista em consulta médica estruturada e meios auxiliares de diagnóstico”, explica, em comunicado, a investigadora Ana Sá Sousa, primeira autora do trabalho.

Os dois questionários de identificação de asma desenvolvidos e agora tornados públicos demonstraram ser boas ferramentas de triagem da asma em adultos, possibilitando também, pela primeira vez, a utilização de pontuações cientificamente robustas em estudos epidemiológicos de asma.

Os questionários são curtos (com seis ou oito questões) e fáceis de usar, sendo o resultado dado pela soma do número de respostas positivas. A performance desta ferramenta tem entusiasmado a comunidade médica, estando já a ser planeados “novos estudos noutras populações, incluindo no sudoeste asiático”, acrescenta João Fonseca, líder da equipa de investigação e especialista em imunoalergologia.

A asma constitui um importante problema de saúde pública a nível mundial, afetando pessoas de todas as idades e apresentando custos avultados para os sistemas de saúde e para os próprios doentes e familiares.

De acordo com o CINTESIS, só em Portugal estima-se que a doença afete 700 mil pessoas e que custe ao Estado cerca de 550 milhões de euros por ano – 929 euros por criança e de 708 euros por adulto -, valores que duplicam quando se fala de doentes com asma não controlada.

Segundo João Fonseca, “embora seja uma doença muito comum e muito estudada, a asma ainda não dispunha de nenhum instrumento de triagem simples e fiável, desenvolvido de forma exigente”.

A falha que este trabalho vem agora colmatar, além de dificultar a identificação de casos de asma, “prejudicava a robustez dos estudos sobre esta doença e estará, até, por detrás de algumas disparidades encontradas entre a prevalência de asma reportadas por diferentes trabalhos”.

Segundo o especialista, “faltava um modelo de classificação válido que permitisse distinguir, de forma simples, as pessoas nas quais a existência de asma é provável, daquelas cuja confirmação da doença requer uma avaliação médica e das que é muito pouco provável terem asma”.

O trabalho onde esta ferramenta é apresentada à comunidade médica internacional foi recentemente publicado no The Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice – considerada uma das mais importantes revistas científicas na área da alergia.

Até 23 de dezembro
A população pode experimentar, gratuitamente, as novas termas de Amarante, até ao dia 23 de dezembro, período que antecede a...

A abertura do equipamento chegou a estar prevista para outubro deste ano, mas atrasos na entrega de alguns materiais de decoração motivaram o adiamento.

"Agora está tudo pronto e operacional", assegurou José Luís Gaspar, acrescentando que decorre a fase de testes.

A fruição da piscina termal nesta fase, apesar de gratuita, carece de marcação prévia.

A adesão da população ao atual período experimental, referiu, tem superado as expetativas, com a inscrição, na primeira fase, de 400 pessoas.

O autarca recorda, por outro lado, que as termas de Amarante, totalmente construídas de raiz junto ao rio Tâmega (margem direita), nos terrenos do antigo parque de campismo, representarão ganhos económicos para a cidade e para a região, nomeadamente em termos económicos, porque terão capacidade para tratar cerca de 3.600 pessoas por ano, nas áreas de saúde e bem-estar.

O equipamento representou um investimento de 1,5 milhões de euros da câmara municipal, contemplando a construção de dois edifícios, ligados entre si, e a requalificação da área ribeirinha envolvente.

Diário da República
Um diploma que altera o apoio financeiro do Governo da República ao futuro Hospital Central da Madeira, ao incluir o valor do...

O documento altera a resolução do conselho de ministros n.º 132/2018, de 10 de outubro, que aprovou o apoio financeiro do Estado, através de transferência orçamental para a Região Autónoma da Madeira, com vista à construção, fiscalização da empreitada e aquisição de equipamento médico e hospitalar estrutural do futuro Hospital Central da Madeira.

A resolução publicada ontem, "atendendo às dúvidas entretanto suscitadas", clarifica que "a referida transferência orçamental inclui também um valor correspondente ao IVA à taxa legal em vigor, tendo em conta o respetivo escalonamento plurianual, uma vez que tal aspeto não havia ficado expressamente contemplado" na primeira resolução.

Assim, o novo diploma determina que a transferência orçamental para a Região Autónoma da Madeira para a construção do futuro hospital é de 265.983.447,05 euros, dos quais 55.045.871,56 são para equipamento médico e hospitalar.

Entre 2019 e 2020 será transferido o montante correspondente a 50% do valor das faturas, com os limites de 14.062.505,03 euros em 2019 e de 21.093.757,55 euros em 2020, "a que acresce o correspondente valor do respetivo IVA à taxa legal em vigor".

Entre 2021 e 2024 será transferido o montante correspondente a 50% do valor das faturas, "após a dedução de um quarto do valor de avaliação global a devoluto dos Hospitais Dr. Nélio Ferraz Mendonça e dos Marmeleiros".

Os limites de transferência previstos são de 15.331.365,24 euros em 2021, de 15.331.365,24 euros em 2022, de 15.331.365,24 euros em 2023 e de 15.331.365,24 euros em 2024.

A estes montantes também "acresce o correspondente valor do respetivo IVA à taxa legal em vigor, e ainda o valor de metade do IVA à taxa legal em vigor associado à faturação correspondente a um quarto do valor dos imóveis".

O projeto do novo hospital da Madeira, orçado em 340 milhões de euros, foi aprovado no final de outubro pelo Conselho do Governo Regional, estando o lançamento do concurso público internacional previsto para breve, mas o pagamento do novo equipamento tem estado envolto numa polémica entre o Governo da República e o Governo regional.

Em 27 de setembro, o Conselho de Ministros anunciou que iria comparticipar o novo Hospital da Madeira até um montante de 132 milhões de euros, correspondente a uma comparticipação de “metade” da construção e equipamentos desta unidade, mas na resolução publicada em 10 de outubro em Diário da República aparece apenas o valor de 96 milhões de euros e distribuído por seis anos.

Na prática, a resolução do Conselho de Ministros que deliberou o financiamento da República ao novo hospital inclui o valor dos atuais edifícios devolutos dos atuais hospitais Dr. Nélio Mendonça (Funchal) e Marmeleiros (Monte), o que reduz o valor da comparticipação do Estado central para 96,5 ME (13%).

Esta percentagem resulta, segundo o presidente do Governo regional da Madeira, Miguel Albuquerque, do facto de o Estado não assumir as expropriações dos terrenos, nem a aquisição dos equipamentos.

“A palavra de um primeiro-ministro não vale nada em Portugal”, acusou Miguel Albuquerque.

Entretanto, o parlamento aprovou a 26 de novembro, em Lisboa, duas propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2019 sobre a construção do novo Hospital da Madeira, apresentadas pelo PCP e BE, que preveem a assunção pelo Estado de 50% do valor da obra.

O BE propõe que o Governo socialista “assegura apoio financeiro correspondente a 50% do valor da construção, fiscalização da empreitada e aquisição de equipamento médico e hospitalar estrutural do futuro Hospital Central da Madeira”, de acordo com a programação financeira da região autónoma, “estimada em 265.983.447,05 euros, através de transferências anuais de verbas” para a Madeira, “tendo o limite de 14.062.505,03 euros na verba a transferir no ano de 2019".

A alteração do PCP estipula que "os apoios financeiros à construção do novo Hospital Central da Madeira devem corresponder aos compromissos assumidos pelo primeiro-ministro de comparticipação pelo Estado em 50% do valor do total da obra".

Duas outras propostas apresentadas pelo PSD e pelo CDS relativas à mesma questão foram chumbadas no parlamento.

Até 2030
A diretora-adjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, a cabo-verdiana Maria Helena Semedo,...

“Infelizmente, os últimos dados não são tão promissores”, referiu Maria Helena Semedo, em declarações à margem de uma cerimónia em Lisboa, tendo acrescentado que a “fome continua a aumentar”, a nível global.

A diretora-adjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) referiu ainda que é necessário “um esforço maior” no combate à fome, mas também uma integração a nível político e intelectual para que em 2030 "os objetivos [das Nações Unidas] de desenvolvimento duráveis possam ser atingidos".

Maria Helena Semedo recebeu ontem, no Auditório Camões, o grau de Doutora ‘Honoris Causa’ pela Universidade Aberta, tornando-se na primeira mulher cabo-verdiana a ser agraciada com esta distinção académica.

As Nações Unidas consideram que alimentar um planeta faminto é cada vez mais difícil, porque as mudanças climáticas e o esgotamento dos solos e outros recursos estão a enfraquecer os sistemas alimentares.

Um relatório da FAO divulgado em 28 novembro diz que são necessárias melhores políticas para alcançar a “fome zero”, acrescentando que o aumento da população exige o fornecimento de alimentos mais nutritivos a preços acessíveis.

Mas, prossegue o documento, o aumento da produção agrícola é difícil, tendo em conta o "estado frágil da base de recursos naturais", uma vez que os seres humanos ultrapassaram a capacidade de carga da Terra em termos de solos, água e alterações climáticas.

Cerca de 820 milhões de pessoas estão desnutridas, refere o relatório, divulgado pela FAO e o Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares numa conferência global destinada a acelerar os esforços para alcançar a fome zero em todo o mundo.

A segurança alimentar continua fraca para muitos milhões de pessoas que não têm acesso a dietas acessíveis e adequadamente nutritivas por uma variedade de razões, sendo a mais comum a pobreza.

De acordo com o relatório, a segurança alimentar está igualmente ameaçada por conflitos civis e outro tipo de disputas.

A FAO estima que a procura global por alimentos crescerá 50% entre 2013 e 2050. Os agricultores podem expandir o uso da terra para ajudar a compensar parte da diferença, mas essa opção é restrita em lugares como a Ásia e o Pacífico e a urbanização está a consumir ainda mais terras do que aquelas que poderiam ter sido usadas para agricultura.

Aumentar a produção agrícola além dos níveis sustentáveis pode causar danos permanentes aos ecossistemas, segundo o relatório, que sublinha a erosão do solo, a poluição com cobertura de plástico, os pesticidas e fertilizantes e a perda de biodiversidade.

De acordo com o documento, a China destrói 12 milhões de toneladas de sementes contaminadas por ano, com uma perda de quase 2,6 biliões de dólares.

61º Congresso Português de Oftalmologia
Chama-se presbiopia e é, a partir dos 40 anos, uma situação que afecta muitos portugueses. A presbiopia e outras doenças...

Isabel Almasqué, oftalmologista, membro da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e presidente honorária do encontro, explica que a presbiopia resulta de “uma evolução fisiológica do nosso sistema visual”, caracterizada por “uma perda progressiva e fisiológica da capacidade de ver ao perto a partir da quarta década de vida”.

E ainda que não seja uma doença, “obriga habitualmente ao uso de uma correcção óptica para ver ao perto e a maior parte das pessoas não gosta de usar óculos”, acrescenta a especialista. “O surgimento de várias alternativas cirúrgicas inovadoras, que permitem resolver esta situação sem recorrer ao uso de óculos tem, por isso, atraído a atenção do público em geral e concentrado o interesse de muitos oftalmologistas que se dedicam a esta área.”

Um problema que se inclui nas consequências do envelhecimento, outro dos temas a que o congresso da SPO vai dar especial atenção. Isto porque “o nosso sistema visual tem exactamente a mesma idade de cada um de nós”, explica Isabel Almasqué. O que significa que o envelhecimento da população, que se tem verificado nos países desenvolvidos, entre os quais Portugal, corresponde a um “aumento do número das doenças oculares mais frequentes em idades avançadas, nomeadamente a Degenerescência Macular relacionada com a Idade (DMI), a retinopatia diabética, as cataratas ou o glaucoma”.

Os números confirmam esta tendência e confirmam também a importância crescente destes problemas de saúde. “Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a DMI constitui a principal causa de cegueira nos países industrializados. Se extrapolarmos para Portugal a prevalência de DMI nestes países, teremos um total de cerca de 85.000 casos, estimando-se que, anualmente, surjam cerca de 3.000 novos casos de DMI exsudativa no nosso país”, refere a especialista.

Quanto ao glaucoma, “é considerado a segunda maior causa de cegueira a nível mundial (a seguir às cataratas) e a primeira causa de cegueira irreversível. Embora os dados atuais não sejam rigorosos, devido ao grande número de casos por diagnosticar (cerca de 50% ), estima-se que cerca de 3% da população mundial com mais de 40 anos tenha glaucoma e que existam atualmente cerca de 7 milhões de cegos bilaterais por glaucoma”.

Doenças progressivas que, “quanto mais tarde são diagnosticadas, mais interferem de maneira negativa na vida pessoal e social dos doentes e mais recursos económicos exigem para o seu tratamento. Por isso, nunca é demais insistir na importância da vigilância regular pelo oftalmologista”.

Essa é, de resto, uma das grandes preocupações dos oftalmologistas, o facto de poderem diagnosticar estas doenças “o mais precocemente possível, de modo a poderem tratar as que são tratáveis e a retardar a evolução daquelas que ainda são consideradas incuráveis”. Até porque, confirma a médica, “há muitas patologias oculares cuja evolução, lenta e silenciosa, só afecta a visão tardiamente, como é o caso do glaucoma ou de algumas doenças degenerativas da retina. Por isso, é necessário que as pessoas consultem regularmente o seu oftalmologista, mesmo quando aparentemente não têm dificuldades visuais, ou quando pensam que uma simples mudança de lentes pode eventualmente resolver o problema”.

Do programa do congresso da SPO fazem ainda parte vários outros temas, um encontro que este ano se realiza em paralelo com a reunião do BIOPSY 2018, “uma sociedade científica de grande prestígio, ligada à Universidade de McGill, em Montreal”, criada em 2008 e que se “dedica à investigação anatomo-clínica na área da oftalmologia e promove reuniões de dois em dois anos em vários países”. Um acontecimento que demonstra, segundo Isabel Almasqué, “o reconhecimento do nível da oftalmologia portuguesa”.

Mais de 25 mil vacinas
O Governo Regional dos Açores vai reforçar, este mês, a campanha de apelo à vacinação contra a gripe, esperando atingir uma...

“Temos vindo a aumentar em cada uma das campanhas que fazemos ao longo dos últimos anos. Este ano pensamos que vamos chegar aos 60%”, adiantou o secretário regional da Saúde, Rui Luís, em declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, à margem do relançamento da campanha.

“Gripe? Não corra para as urgências” e “Não se deixe apanhar pela gripe. Vacine-se” são as frases dos cartazes que serão distribuídos, este mês, por todas as unidades de saúde da região e pelas casas do povo e juntas de freguesia.

Segundo Rui Luís, o objetivo da campanha é sensibilizar a população para a importância da vacinação e evitar uma maior afluência às urgências.

“A grande mensagem para a época da gripe 2018/2019 é esta: não se dirija às urgências. Por um lado, vacine-se e, por outro, sempre que tiver algum problema, utilize a Linha de Saúde Açores, porque efetivamente a gripe trata-se em casa”, frisou.

O governante salientou que a Linha de Saúde Açores (808 24 60 24) registou um aumento de chamadas de 110%, entre 2017 e 2018, acrescentando que este ano foi iniciado um serviço de aconselhamento, após a primeira chamada, com a contratação de mais quatro enfermeiros.

“Numa fase posterior, se for necessário, iremos tomar outras medidas, como fizemos no ano passado, nomeadamente abrir mais consultas nos centros de saúde, mas isso vamos deixar mais para a frente. Se a campanha tiver sucesso não será necessário fazer esse reforço de consultas abertas nos centros de saúde”, adiantou Rui Luís, referindo-se às consultas destinadas aos utentes sem médico de família.

Nos últimos dois anos, a adesão à vacina contra a gripe entre a população com mais de 65 anos, que representa o “grupo mais vulnerável”, segundo o diretor regional da Saúde, Tiago Lopes, ficou abaixo da meta: 47%, em 2016/2017, e 51,9%, no ano passado.

Nas ilhas de São Miguel, Graciosa, São Jorge e Flores a taxa de cobertura vacinal ficou mesmo abaixo dos 50%, mas o executivo açoriano conta com uma evolução positiva na época 2018/2019.

“A verdade é que até sexta-feira passada, 30 de novembro, temos uma taxa de cobertura vacinal muito satisfatória - 43,8% é bastante satisfatório neste momento para a região”, afirmou Tiago Lopes.

O diretor regional da Saúde sublinhou que “em determinados contextos” ainda não existe uma “real perceção” do risco da gripe, por isso realçou a importância da sensibilização.

“A evidência científica é que neste momento é a medida de saúde mais eficaz em termos de prevenção da doença e promoção da saúde”, apontou.

A vacinação contra a gripe nos Açores iniciou-se em 15 de outubro e idealmente deve ser feita até dezembro.

O executivo açoriano disponibiliza 25.500 vacinas para administração gratuita a grupos de risco, como pessoas com mais de 65 anos, com doenças crónicas, institucionalizadas ou com apoio domiciliário, pessoas em estabelecimentos prisionais e profissionais de saúde.

Projeto-piloto arranca no Dia Internacional do Voluntariado
O Núcleo Regional do Sul (NRS) da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) vai lançar um novo serviço humanitário e de apoio...

O novo serviço tem como objetivo estar mais próximo do doente ao nível das atividades lúdicas e de companhia: conversar; ler; ver filmes; jogar jogos de tabuleiro/cartas, contar histórias, entreter. Pretende também promover o descanso do familiar e/ou cuidador, muitas vezes sobrecarregado.

Uma equipa de dois voluntários, com experiência nos diversos serviços de voluntariado hospitalar e com formação específica adequada, vai visitar, em simultâneo, os doentes oncológicos nas suas residências, onde também prestam auxílio aos seus familiares e/ou cuidadores.

O projeto-piloto vai funcionar na zona metropolitana da cidade de Lisboa, de 2ª a 6ª feira, entre as 10:00 e as 20:00 horas. As visitas têm a duração máxima de 2 horas.

Os cerca de 20 voluntários formados para dar início a este novo serviço - em fase de projeto piloto mas que pode vir a alargar-se de acordo com as solicitações - prestam também informações acerca dos vários serviços promovidos pelo NRS da LPCC, fora do ambiente hospitalar (Apoio Jurídico, Consultas de Psico-Oncologia, entre outros). Inclusivamente, podem fazer o encaminhamento e/ou agendamento de acesso a estes serviços. Os voluntários também estão preparados para apoiar os doentes/familiares no preenchimento e processamento de documentação.

Desde a sua génese o serviço voluntário hospitalar oferece apoio em diversas áreas no âmbito hospitalar, tanto aos doentes em ambulatório, como em internamento, dentro das instalações do IPO de Lisboa, tentando humanizar a relação dos doentes com o hospital.

 

Conselho de Ética
O Conselho de Ética para as Ciências da Vida de Portugal condena o anúncio de uma modificação genética com embriões humanos...

Numa tomada de posição hoje tornada pública, e que vai ser divulgada internacionalmente, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) afirma que condena de forma veemente o anúncio sobre a realização “com sucesso” de uma modificação genética efetuadas em embriões humanos, com recurso à técnica de “edição de genoma”.

“Embora não existindo prova científica suficiente e fiável de que o anúncio feito pelo investigador [He Jiankui, da Universidade de Shanzen] corresponda à efetiva concretização do que afirma ter sido realizado, a gravidade do propósito levou a comunidade científica internacional, através de instituições idóneas e respeitadas, a condenar os “resultados científicos” e a essa condenação associa-se o Conselho”, refere o documento hoje divulgado.

Para o CNECV, a situação reportada é “tecnicamente imprudente, tem graves insuficiências de fundamentação científica, configura uma situação moralmente irresponsável e eticamente inaceitável”.

A situação relatada pelo investigador pode, no entender do Conselho de Ética português, implicar riscos reais imprevisíveis e potencialmente irreversíveis para as duas crianças nascidas após manipulação do genoma.

“Novas tecnologias direcionadas à modificação do genoma humano com o propósito de evitar doenças e malformações transmitidas devem ser encaradas com extrema prudência na fase atual do conhecimento científico”, adverte o CNECV.

As manipulações do genoma humano do género da anunciada pelo investigador chinês estão proibidas nos países que subscreveram em 2010 a Convenção Nacional dos Direitos do Homem e da Biomedicina do Conselho da Europa, entre os quais Portugal.

Ainda assim, o Conselho de Ética entende que deve “reforçar-se a necessidade de se desenvolverem esforços adicionais de regulação científica e bioética” a nível internacional para “salvaguardar situações similares” no futuro.

O CNECV é composto por mais de 20 personalidades, onde se incluem elementos da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Biólogos, da Ordem dos Farmacêuticos, da Ordem dos Enfermeiros ou do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, entre outras instituições.

Na semana passada, o cientista chinês He Jiankui afirmou que ajudou a criar os primeiros bebés geneticamente manipulados do mundo, gémeas cujo ADN disse ter alterado com tecnologia capaz de reescrever o 'mapa da vida'.

O cientista, He Jiankui, da cidade de Shenzhen, disse que alterou os embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez até agora.

Jiankui afirmou que o objetivo não é curar ou prevenir uma doença hereditária, mas tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infeção futura de VIH-Sida.

O cientista adiantou que os pais envolvidos não quiseram ser identificados ou entrevistados e não disse onde estes moram ou onde o trabalho foi realizado.

A universidade a que pertence o cientista já anunciou que vai investigar o caso e que desconhecia a experiência.

O Governo chinês também já ordenou uma investigação ao caso.

Associação exige ao Governo regulamentação e inclusão de optometristas no SNS
A Associação de Profissionais Licenciados de Optometria (APLO) acaba de convocar uma manifestação junto do Ministério da Saúde,...

Em causa está uma proposta de Regulamentação e Integração de Optometristas no SNS rejeitada ontem na Assembleia da República, com o voto contra da bancada do Partido Socialista e com a abstenção dos deputados do Partido Social Democrata. A proposta 448C contou com os votos favoráveis do Partido Comunista Português, do Bloco de Esquerda e do Centro Democrático e Social-Partido Popular.

“Após vários anos de debate parlamentar, inúmeras audiências e esclarecimentos com diferentes deputados, acreditamos que não podemos continuar a explicar, no Parlamento, os benefícios para os utentes da regulamentação e integração de optometristas no SNS. Chegou a altura do Governo se responsabilizar, e muito especificamente, o Ministério da Saúde, pelas limitações no acesso a cuidados de saúde visual”, refere Raúl Sousa, presidente da APLO. “Continua a ser complacente com o exercício da profissão de Optometrista por qualquer pessoa, sem qualquer validação das suas competências, facto denunciado pela APLO inúmeras vezes. De notar que esta situação conta também com a complacência de quem simultaneamente se opõe à regulamentação, permitindo o exercício por qualquer pessoa e depois acusa a classe optométrica de heterogeneidade, perpetuando o estado atual da situação dos cuidados da saúde da visão em Portugal. O país tem de levar em conta as recomendações da Organização Mundial de Saúde e da prática da profissão de Optometrista na União Europeia e no mundo.”

E acrescenta: “O Governo não está a agir na defesa dos interesses da população e ainda não apresentou uma única solução viável para a redução das listas de espera para primeira consulta de Oftalmologia, que já ultrapassa as 200 mil consultas anuais”.

A APLO defende que a integração de Optometristas no Serviço Nacional de Saúde é a solução para resolver o problema crónico na lista de espera de Oftalmologia e para melhorar o acesso de todos os portugueses aos cuidados necessários para a saúde da visão. Essa é também a solução defendida pela Organização Mundial de Saúde e pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira.

Na categoria de ‘Healthcare and Life Science’
É o segundo reconhecimento que a empresa recebe da multinacional de consultoria, que há três anos concedeu o prémio Rising Star...

A empresa especializada em teranóstica (terapia e diagnóstico) do cancro, OncoDNA, foi a vencedora do prémio Technology Fast 50 2018 da divisão belga da Deloitte, na categoria ‘Healthcare and Life Science’, focada no campo das ciências da saúde e no cuidado médico. Este prémio reconhece as 50 empresas de maior e mais rápido crescimento na Bélgica nos últimos quatro anos.

Um prémio que vem três anos depois de a OncoDNA ter recebido outro reconhecimento da empresa de consultoria Deloitte: o prémio Rising Star para a empresa inovadora mais disruptiva no setor de atendimento ao doente.

Durante a entrega dos prémios, Nikolaas Tahon, sócio-gerente da Deloitte Private, disse: "Embora os prémios e a celebração das conquistas dos participantes sejam importantes, o Technology Fast 50 é mais do que apenas uma competição. O nosso objetivo é construir uma comunidade e oferecer a todos os seus membros a oportunidade de construir a sua própria rede de contactos, partilhar as melhores práticas e trabalhar os seus conhecimentos para aprofundar os problemas críticos dos seus negócios".

Desde o seu lançamento em 2016, o Fast 50 Business Forum tornou-se uma referência. A edição deste ano, organizada em conjunto pela Oracle/Netsuite e Fortino Capital, contou com a participação de 230 empresas de tecnologia, 50 parceiros e representantes e investidores do mundo da inovação tecnológica, com o objetivo de partilhar experiências e incentivar oportunidades de crescimento.

Projetos de sucesso

Esta primeira posição alcançada pela OncoDNA foi reconfirmada nas últimas semanas pelas muitas iniciativas em que participa, como a sua inclusão no programa nacional do Governo do Luxemburgo de análise de perfis moleculares, financiado pela administração pública. Ou também o reembolso de alguns dos seus testes genéticos pelo primeiro fundo mútuo belga para cancros em estadio III e IV em segunda linha.

Em relação ao prémio recebido, Jean-Pol Detiffe, Diretor Executivo da OncoDNA, disse: "Estamos orgulhosos não só desta distinção que recebemos, mas também de ter conquistado pela segunda vez o reconhecimento da Deloitte desde a nossa fundação em 2012. Mas este é apenas o começo da nossa história, esperamos alcançar muitos outros marcos farmacomecânicos significativos através do financiamento da nossa solução de perfil de tumores por seguradoras privadas e entidades públicas”.

Entrevista
Estima-se que, em Portugal, cerca de 90% dos doentes com VIH estão diagnosticados e que quase todos

De acordo com os dados oficiais, mais de 90% das pessoas que vivem com VIH estão diagnosticadas. Destas, 85% encontram-se a receber tratamento e quase todas apresentam carga viral indetetável. Que conclusões se podem retirar destes números? Está Portugal, de facto, no bom caminho no que diz respeito à luta contra a SIDA?

Portugal está claramente no bom caminho. E, ainda que nos últimos dados apresentados falte um dos três “90”, acredito que, neste momento, já tenha sido alcançado.

No entanto, apresentamos uma taxa de diagnóstico superior à média europeia. Neste sentido, o que falta fazer ou o que falha em matéria de prevenção e diagnóstico?

A taxa de novos diagnósticos em Portugal é cerca do dobro da média europeia. No entanto, nos últimos anos, tem-se verificado uma tendência decrescente. Ainda temos muito caminho pela frente, mas com a absoluta certeza de que muito já foi feito. A melhoria destes números passará por continuar a investir na prevenção e no diagnóstico e as estratégias traçadas terão de continuar a ser ajustadas a uma epidemia que evolui com o tempo. Os maiores esforços, atualmente, devem ser orientados para as populações em maior risco e que englobam o maior número de novos diagnósticos: homens que fazem sexo com homens (HSH) e heterossexuais com idade igual ou superior a 50 anos.  

O que explica que, numa altura em que não falta informação sobre o tema, o número de casos diagnosticados se mantenham elevados quando comparados aos de outros países?

O problema não passa pela quantidade de informação, mas antes pela qualidade da informação e pela forma como é transmitida. Não basta passar informação, é necessário que ela alcance, sobretudo, as populações alvo e o faça da forma mais adequada, eficaz e fidedigna. O estigma associado a esta doença ainda é demasiado pesado e os tabus ainda são muitos.

Se a total falta de informação ou conhecimento é prejudicial, a disposição de informação errónea não o é menos, por conduzir a atitudes baseadas em pressupostos incorretos e levar a uma falsa sensação de segurança.

O portal VIHDA da MSD é um bom exemplo de como plataformas de informação, fidedigna e cientificamente validada, podem ajudar profissionais de saúde, doentes e cuidadores a entender a doença, a preveni-la e tratá-la, bem como melhorar a qualidade de vida de quem vive com VIH.

Neste sentido, e uma vez que ainda exista alguma confusão entre estas duas entidades clínicas, o que é a infeção por VIH e o que é a SIDA?

Quando falamos de infeção por VIH, referimo-nos à condição de estar infetado pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH). SIDA significa síndrome de imunodeficiência humana adquirida e é causada pelo VIH, tratando-se da fase mais avançada da infeção, em que o sistema imunitário se encontra muito comprometido. 

Ainda de acordo com os dados oficiais, é nas grandes cidades que se regista um maior número de casos da doença. Qual a sua prevalência e quais as faixas etárias mais atingidas?

No ano de 2017, a área metropolitana de Lisboa registou uma taxa de 17.4 novos casos por 100.000 habitantes (a taxa nacional é de 10.4 novos casos por 100.000 habitantes), representando 46.4% dos novos diagnósticos de infeção por VIH. Nos últimos cinco anos, seis municípios da área metropolitana de Lisboa, Porto e Portimão estão entre os concelhos do país com taxas mais elevadas. O conhecimento destas diferenças territoriais permitirá uma melhor adequação das medidas a adotar, como é o caso da estratégia “Cidades na via rápida para acabar com a epidemia de VIH”. 

A idade mediana ao diagnóstico foi de 39 anos. A taxa mais elevada de novos diagnósticos foi observada no grupo etário dos 25 aos 29 anos (24.8 casos por 100.000 habitantes). É importante ressaltar igualmente o facto de que 28% dos novos casos foram registados em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos.

Tendo em conta os meios de transmissão, quais os grupos de risco?

A via de transmissão mais frequente é a sexual, principalmente heterossexual. No entanto, fazendo uma avaliação mais detalhada dos dados relativos aos homens, verifica-se um aumento do número de casos nos homens que fazem sexo com homens, representando a maioria dos novos diagnósticos no sexo masculino.

Simultaneamente, também a proporção de novos diagnósticos de infeção VIH em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos tem vindo a aumentar e, na maioria das situações, com critérios de diagnóstico tardio (doença avançada e/ou sistema imunitário gravemente comprometido).

Relativamente às suas manifestações clínicas, e tendo em conta que esta infeção é muitas vezes assintomática ou apresenta sintomas que facilmente se confundem com outras patologias, a que sinais devemos estar atentos?

Esta infeção pode não apresentar sintomas quer na sua aquisição, quer durante os primeiros anos. Os sintomas, quando surgem, podem ser inespecíficos, como uma gripe, e comuns a muitas outras doenças, como o cancro. O teste de VIH deve ser sempre abordado com a mesma normalidade com que se abordam outros testes laboratoriais. 

Esta particularidade pode ajudar a explicar o facto de muitos casos serem diagnosticados tardiamente?

A ausência de sintomas ou a presença de sintomas ligeiros e inespecíficos podem dificultar um diagnóstico precoce. No entanto, o reconhecimento de comportamentos de risco e a predisposição para a realização do teste, quer por parte dos doentes, quer por parte dos profissionais que os acompanham, poderá constituir um dos passos mais importantes para um diagnóstico atempado.

Os diagnósticos realizados tardiamente, para além das potenciais implicações para o próprio doente, têm repercussão do ponto de vista da saúde pública ao perpetuar a cadeia de transmissão.

Na sua opinião, o acesso ao teste rápido de diagnóstico nas farmácias comunitárias, por exemplo, pode ajudar a contrariar esta tendência? Qual a importância desta medida?

Todas as medidas que promovam a realização de mais rastreios e, por conseguinte, também aumentar a capacidade de diagnóstico são positivas, sempre e quando assentem em estratégias robustas de referenciação adequada para o Serviço Nacional de Saúde, em caso de reatividade.

Quanto ao seu prognóstico, quais as principais complicações associadas à infeção por VIH?

Hoje em dia, em virtude de todos os progressos científicos logrados, a infeção VIH é considerada uma doença crónica. A terapêutica antiretrovírica é altamente eficaz e bem tolerada, permitindo o controlo da doença. Atualmente, o principal foco clínico é a prevenção e gestão de comorbilidades, na sua maioria decorrentes da própria idade e da terapêutica: problemas cardiovasculares, renais, ósseos e do sistema nervoso central. 

Em que consiste o tratamento e que novidades têm existido relativamente a esta matéria?

A investigação médica na infeção por VIH é uma das áreas de maior produção científica nas últimas décadas. Neste momento, dispomos de fármacos altamente eficazes, pouco tóxicos e simples de tomar.

Por fim, que mitos persistem relativamente à infeção por VIH e SIDA que considera importante clarificar? E que mensagem gostaria de deixar, no âmbito do Dia Mundial da Luta Contra SIDA?

Os mitos só poderão ser combatidos com mais e melhor informação, para todos, profissionais e comunidade em geral. É necessário continuar a apostar em maior literacia em saúde.

O VIH pode ser transmitido através de uma relação sexual, mas não se transmite através de um beijo ou um abraço ou por partilhar o mesmo copo. Não se passa através do ar, nem por um aperto de mão. Todos podemos e devemos contribuir para a desmistificação da doença.

As estratégias de prevenção, rastreio e diagnóstico, sempre numa abordagem combinada, são cruciais para o controlo da epidemia. Mas, depois de feito o diagnóstico, o nosso foco recai no doente que requer o nosso maior cuidado. A terapêutica antiretrovírica é altamente eficaz, mas há vida para além do VIH e devemos procurar o quarto “90” – viver com qualidade de vida.  

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Estudantes de Engenharia Informática
Uma aplicação desenvolvida por estudantes de engenharia informática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de...

Seis alunos do terceiro ano da licenciatura em engenharia informática da FCTUC criaram a aplicação ‘clave de fala’, cujo objetivo é “possibilitar que as pessoas limitadas da voz comuniquem de forma eficaz no seu quotidiano”, afirma aquela faculdade, numa nota enviada hoje à agência Lusa.

André Correia, António Eloi, Cláudio Gomes, Joana Lameiras, Pedro Silva e Telma Portugal são os autores da aplicação (app) que, a partir de quarta-feira, pode ser “descarregada gratuitamente na Play Store, nesta fase, em versão Android”, adianta a FCTUC.

A ‘clave de fala’ foi criada no âmbito da cadeira de Processos de Gestão e Inovação (PGI), uma unidade curricular do curso, e “a ideia surgiu justamente porque um dos elementos do grupo tem um problema auditivo e já “sentiu na pele” alguns embaraços na comunicação”, explicam os inventores da aplicação.

Coisas tão simples como “ir à farmácia pedir um medicamento para a gripe pode ser uma tarefa complicada”, sustentam, citados pela FCTUC, os criadores da app.

Muitas vezes, prosseguem, “devido às suas dificuldades de comunicação, as pessoas limitadas da voz, pessoas com limitações na fonação, tendem a isolar-se. Por isso, a nossa missão é ajudar”, através desta aplicação, que dá “uma nova voz a quem mais precisa” e, assim, “promove a inclusão”.

Intuitiva, prática, rápida e ‘user friendly’ são algumas das características desta nova aplicação, dividida por seis categorias – saúde, transportes, direitos, alimentação, compras e direções, explicita a FCTUC.

Cada uma daquelas categorias “gera frases rápidas de acordo com as necessidades do utilizador, não sendo necessário escrever”, mas “a qualquer momento, a frase pode ser editada”, adianta a faculdade, referindo que a aplicação “também tem uma opção para transformar o texto em mensagem de voz”.

Por outro lado, sublinham os estudantes da FCTUC, “a aplicação possui uma ‘backend’ que aprende continuamente com o perfil e com as ações do utilizador, de forma a sugerir a melhor frase possível a qualquer momento”.

O processo de desenvolvimento da ‘clave de fala’ contou com o apoio da Associação Portuguesa de Limitados da Voz (APLVoz).

“Foi essencial ouvir a APLVoz. Percebemos melhor as reais necessidades destas pessoas e permitiu dotar a aplicação com as respostas mais adequadas”, salientam.

Para que a aplicação possa ser melhorada, os autores vão colocar o código (software) em domínio público. Deste modo, concluem os criadores da app, “outros estudantes, investigadores ou simplesmente pessoas com curiosidade e vontade de ajudar vão poder contribuir para este projeto social”.

“Não há serviços de saúde sem profissionais”
A ministra da Saúde, Marta Temido, disse, em Faro, que a greve de 40 dias convocada pelos enfermeiros é lícita, mas advertiu...

Marta Temido falou aos jornalistas à margem da inauguração oficial da Unidade de Saúde Familiar Golfinho, que vai permitir dar aos cerca de 71.000 utentes de Faro uma cobertura de 100% em médicos de família, e remeteu para o esclarecimento que o Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República (PGR) fez na sexta-feira, a pedido do ministério, sobre a licitude da greve convocada pelos enfermeiros.

“Aquilo que o Conselho Consultivo da PGR refere é que o pré-aviso de greve não enferma de nenhuma ilicitude, mas de facto o concreto exercício do direito à greve pode, no seu desempenho e na forma como é executado –ou seja, se se revelar que cada profissional, de uma forma não gerida, entra e sai de greve e escolhe o dia, a hora, o momento e, em última instância, a atividade relativamente à qual opta por exercer o direito à greve –, configurar um exerício tipo ‘self-service’ e configurar uma forma ilícita de exercer este direito”, afirmou a governante.

Marta Temido garantiu que o Governo está “muito concentrado em procurar fazer pontes com a profissão da enfermagem”, remeteu para uma reunião que vai realizar com estruturas sindicais representativas da profissão, na quarta-feira, mas alertou para o facto de os sindicatos que convocaram a greve terem deixado a mesa das negociações.

“O Governo não está a negociar com estruturas sindicais que estão em greve. Essas estruturas fizeram a sua opção e a nossa expectativa é que consigamos reforçar a proposta que já foi apresentada, mas isso será feito, discutido, trabalhado e aprofundado com as estruturas que se mantêm em diálogo e com quem temos tido um relacionamento profícuo”, esclareceu.

A ministra reconheceu que “não há serviços de saúde sem profissionais”, mas sublinhou que é necessário “equilibrar isto com outras coisas que o serviço também precisa, como equipamentos, medicamentos e vários profissionais de saúde”, e lamentou que os sindicatos em causa - Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (SINDEPOR)-tenham “abandonado a mesa das negociações e avançaram para a greve”.

“Tenho a certeza que ninguém dos portugueses perdoaria ao Governo se não soubesse escolher as prioridades. E as nossas prioridades são as pessoas, por importantes que sejam as profissões com as quais contamos. E tenho a certeza de que irão conseguir compreender que temos que estabelecer pontes, não podemos queimar pontes e temos que nos manter em diálogo e, acima de tudo, há aqui deveres éticos, deontológicos e deveres de serviço que temos de preservar e o Ministério da Saúde não abdicará de os preservar”, garantiu.

Marta Temido disse que o Governo já atendeu a “duas reivindicações nucleares”, uma “da inserção na categoria de enfermeiro coordenador/gestor” e outra relativa a um suplemento salarial de 150 euros, mas lamentou que os sindicatos que convocaram a greve “continuarem a insistir que querem uma categoria”, o que “vale o que vale”.

A governante lembrou que a enfermagem tem 42.000 no Serviço Nacional de Saúde e mexidas de 150 euros neste universo tem “um impacto significativo” de 17 milhões de euros por ano” e recordou que o ministério propôs o reforço deste suplemento e a reivindicação de categoria “vale o que vale”.

Bastonária da Ordem dos Nutricionistas
Todos os hospitais públicos vão passar a fazer, a partir de 31 de março, o rastreio ao estado nutricional dos adultos e das...

No passado dia 01 de junho, Dia Mundial da Criança, a Ordem dos Nutricionistas lançou a “Norma de Orientação Profissional para Identificação do Risco Nutricional em Idade Pediátrica” acompanhada da ferramenta ‘STRONGkids’, que permite aos profissionais de saúde avaliar o estado nutricional das crianças.

Fazendo um balanço da iniciativa, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, afirmou que a norma ainda não está a ser aplicada a todos os hospitais, mas em 31 de março de 2019 terá de estar, na sequência de um despacho do Ministério da Saúde.

A norma da Ordem dos Nutricionistas está “perfeitamente alinhada” com o despacho 6634/2018 do Ministério da Saúde, que determina as ferramentas a utilizar para a identificação do risco nutricional dos doentes internados, com vista ao desenvolvimento de estratégia de combate à desnutrição hospitalar.

No caso de doente adulto, a ferramenta de identificação do risco nutricional é a ‘Nutritional Risk Screening 2002 (NRS 2002)’ e no caso de doente em idade pediátrica é a ‘STRONGkids’.

A ‘STRONGkids’ tem como objetivo “identificar o risco nutricional nas crianças internadas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde e noutros hospitais que tenham serviço de pediatria, possibilitando uma intervenção atempada nestas crianças”, disse Alexandra Bento.

“As crianças classificadas com um risco elevado devem ser referenciadas para intervenção pelo nutricionista”, explicou.

Para a bastonária dos nutricionistas, foi “um marco importantíssimo” a “determinação de obrigatoriedade” deste rastreio “ter visto a luz do dia” e “o Ministério da Saúde ter percebido que é uma de importância extrema a identificação deste risco nutricional”.

Destacou ainda o facto de ter sido determinada a adaptação das plataformas informáticas do registo de saúde eletrónica para poderem alojar estas ferramentas.

“Se as plataformas informáticas não estiverem adaptadas para alojar estas ferramentas torna-se quase impossível operacionalizarmos a identificação do risco nutricional”, sublinhou.

Citando alguns estudos, Alexandra Bento disse que a prevalência da desnutrição em crianças e adolescentes em internamento hospitalar é elevada em Portugal.

A bastonária explicou que “a desnutrição é um desequilíbrio entre aquilo que são as necessidades das crianças em termos alimentares, em termos nutricionais, e o que a criança ingere para a satisfação das suas necessidades”, prejudicando o seu crescimento e desenvolvimento, mas também a sua recuperação atempada.

No despacho de julho, o Ministério da Saúde afirma que “a desnutrição em doentes internados em hospitais representa um grave problema de saúde que é frequentemente encoberto por outras situações clínicas” e está associada a um aumento do risco de infeções e de outras complicações e a uma necessidade acrescida de tratamentos hospitalares e de reinternamentos.

“Trata-se de uma situação que amplifica a necessidade de cuidados de saúde e influência marcadamente a qualidade de vida dos doentes, com elevados custos a nível pessoal, para a sociedade e para o sistema de saúde”, lê-se no diploma.

Considera ainda “fulcral que a prestação de cuidados nutricionais por parte dos estabelecimentos hospitalares, através da sua oferta alimentar, auxilie na recuperação, aumente a qualidade de vida do doente e reduza a incidência de deficiências nutricionais e de desnutrição”.

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