Ministro da Saúde
O ministro da Saúde disse que, “em breve, o Governo estará em condições de cumprir o que prometeu” relativamente à capacidade...

“Foi criado um grupo de trabalho e o presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação [IPST] tem um mandato para executar um conjunto de políticas e de alterações instrumentais que visem corrigir a situação que levou ao desperdício do plasma português”, disse o ministro Adalberto Campos Fernandes.

Questionado pelos jornalistas, à margem do Fórum Nacional Serviço Nacional de Saúde, a decorrer hoje em Santo Tirso, o presidente do IPST garantiu que, a partir de maio, os hospitais portugueses poderão comprar plasma ao instituto.

A partir desse mês, “os hospitais que necessitem de plasma para transfusão ou de medicamentos derivados do plasma terão de recorrer aos mecanismos que estão previstos e que estão contemplados na circular informativa onde estão explicados todos os procedimentos a fazer”, afirmou o responsável.

“Temos indicação concreta de que todo o plasma que temos com um dos métodos de inativação já está todo comprometido para os hospitais portugueses. E, portanto, o IPST já acautelou e está a desenvolver todos os procedimentos para que sejamos, a breve trecho, reabastecidos desse tipo de plasma que é, repito, português, exclusivamente português”, frisou.

Segundo explicou aos jornalistas, o “país é autossuficiente em plasma, mas não tem quantidade que permita o fracionamento de plasma que satisfaça todas as necessidades em medicamentos derivados. Em plasma para transfusão sim, o país é autossuficiente”.

“O que pretendemos com o plano estratégico operacional é que todo o plasma português seja aproveitado, que não haja qualquer desperdício. Hoje estamos a tomar todas as medidas, todas as cautelas e todos os mecanismos estão previstos para que isso aconteça”, frisou.

Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde vai disponibilizar 35 milhões de euros para um programa que pretende fomentar a articulação e integração...

O Programa de Incentivo à Integração de Cuidados e à Valorização dos Percursos dos Utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi aprovado pelo ministério e pretende “fomentar a articulação e a integração entre prestadores de cuidados de saúde, incentivando as entidades a apresentarem iniciativas conjuntas de mudança organizacional que assegurem elevados níveis de acesso, qualidade e eficiência”.

Segundo um comunicado da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), o programa terá um total de 35 milhões de euros e tem como objetivo central colocar os cidadãos e as famílias nos centros das intervenções de todos os profissionais e serviços do SNS.

Para serem elegíveis, os projetos devem estar enquadrados numa destas áreas: rastreios ou diagnóstico precoce; redução de internamentos, consultas e urgências evitáveis; programas de apoio domiciliário; valorização do percurso do utente no SNS; articulação para exames e meios de diagnóstico.

O programa destina-se a centros de saúde, hospitais ou centros hospitalares, a instituições públicas que integrem a rede de cuidados continuados ou às administrações regionais de saúde que apresentem candidaturas na área dos rastreios.

As candidaturas devem ser apresentadas até final de maio deste ano.

Organização Mundial de Saúde
Cerca de meio milhão de pessoas morre todos os anos devido ao consumo de drogas, segundo a diretora-geral da Organização...

“A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o consumo de drogas seja responsável por cerca de meio milhão de mortos a cada ano. Mas esta estimativa representa apenas uma pequena parte dos danos causados pelo problema mundial das drogas”, disse Margaret Chan na sua intervenção na Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, que se reúne em Viena.

Estas estimativas da OMS são superiores às divulgadas pela secção das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, que o ano passado apontava para que as mortes pelo consumo de droga andariam pelas 200 mil por ano.

“Em alguns aspetos a situação está a piorar e não a melhorar. Muitos países estão a experimentar uma crise de emergência sanitária devido a mortes por ‘overdose’”, acrescentou a diretora-geral da OMS.

Margaret Chan não adiantou mais detalhes sobre as estimativas da OMS, mas um recente relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes indicava que nos Estados Unidos quase duplicaram as mortes por ‘overdose’ entre 2013 e 2014.

Em Portugal, 40 pessoas morreram por ‘overdose’ em Portugal em 2015, o segundo ano em que se deu um aumento consecutivo deste tipo de mortalidade, segundo o relatório anual sobre a situação em matéria de drogas e toxicodependência apresentado em fevereiro.

Dessas 181 mortes com presença de droga no organismo detetadas em Portugal em 2015, 40 foram consideradas 'overdoses', o que representa 22% do total desse tipo de mortalidade.

“Pelo segundo ano consecutivo que se constata um aumento no número de 'overdoses' (mais 21% face a 2014), apesar de os valores dos últimos cinco anos se manterem aquém dos registados entre 2008 e 2010”, refere o relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

Durante a sua intervenção hoje na Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, a diretora-geral da OMS pediu, perante os 53 países presentes, que se aborde a questão da droga como um problema de saúde pública e não com medidas penais.

Universidade de Coimbra
Uma equipa internacional de investigadores criou um dispositivo que replica a contração e distensão dos vasos sanguíneos,...

“Um novo dispositivo que replica a contração e distensão dos vasos sanguíneos”, que acelera “a descoberta de doenças e medicamentos” e “permite reduzir a utilização de modelos animais em experiência”, foi desenvolvido por uma equipa internacional de investigadores, anunciou a Universidade de Coimbra (UC).

Do grupo de especialistas faz parte o português João Ribas, investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, sublinha a Universidade.

O novo dispositivo ou chip, concebido no âmbito de um estudo já publicado na revista científica Small, é feito de um material derivado do silicone, com recurso a técnicas de microfabricação.

Quando as células estão neste ambiente dinâmico, neste ‘órgão-num-chip’, “as respostas são completamente diferentes das obtidas pelos dispositivos tradicionais porque as suas características assemelham-se às das células in vivo”, afirma a UC.

Apesar dos elevados investimentos na pesquisa de novos fármacos na área cardiovascular, “poucos são os que chegam ao mercado”, refere a UC, considerando que a situação se deve, “em parte, à falta de modelos que reproduzam as condições do coração e vasos sanguíneos observadas no corpo humano, como o batimento cardíaco”.

Este estudo, salienta a UC, procurou desvendar as diferenças que existem entre modelos que simulam as condições do corpo humano e modelos estáticos de cultura celular utilizados atualmente.

“A solução criada resulta da combinação de várias técnicas de engenharia, biologia e medicina, e poderá ser utilizada por centenas de laboratórios em todo o mundo, respondendo a várias linhas de investigação associadas a doença e envelhecimento vascular”, explica João Ribas, aluno do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina do CNC, citado pela UC.

João Ribas salienta que “o dispositivo poderá ainda ser utilizado pela indústria farmacêutica na descoberta e teste de novos fármacos na área cardiovascular, acelerando o processo de descoberta e reduzindo a utilização de modelos animais”.

Estas plataformas miniaturizadas representam “uma solução acessível para testar condições de microgravidade no espaço e como estas afetam a saúde dos astronautas”, acrescenta o investigador.

No âmbito do estudo foi também utilizado um modelo celular de envelhecimento prematuro, com células provenientes de doentes, refere a UC, adiantando que “os resultados obtidos mostram que o dispositivo permite estirar exageradamente estas células, obtendo-se vários marcadores de inflamação e doença vascular elevados”.

Se as células “fossem manipuladas em culturas estáticas não se observariam estes marcadores. Contudo, sabe-se que esta inflamação acontece em doentes, sendo especialmente importante durante o processo de envelhecimento e necessitando de ser compreendida para que se possam descobrir fármacos adequados”, esclarece João Ribas.

A investigação testou ainda alguns medicamentos que provam que o sistema funciona, podendo ser “usado na descoberta e teste de novos fármacos para combater doenças e envelhecimento vascular”.

Além do CNC, a pesquisa envolveu o Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC, as instituições norte-americanas Brigham and Women’s Hospital /Harvard Medical School e Harvard-MIT Division of Health Sciences and Technology, e holandesa MIRA/Institute for Biomedical Technology and Technical Medicine da Universidade de Twente.

A participação do investigador João Ribas foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela Defense and Threat Reduction Agency, dos EUA.

Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
A troca de seringas nas prisões continua sem adesão, quase dez anos após o início do programa experimental que visou diminuir a...

Em entrevista, o diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) explicou que um dos entraves que este programa teve desde o início foi o facto de implicar a autodelação dos consumidores.

“Desde o início que eu e outros técnicos fomos da opinião de que isso não ia ser eficaz. Tanto quanto sei não houve alteração a esse desenho”, adiantou João Goulão.

O programa experimental de troca de seringas para reclusos nas prisões portuguesas iniciou-se em setembro de 2007 “na vertente teórica” nas cadeias de Lisboa e Paços de Ferreira.

Apesar da falta de adesão a este programa, João Goulão congratulou-se com o facto de, segundo alguns inquéritos em meio prisional, “a tendência ser de um decréscimo muito significativo do consumo por via injetável, quer no período prévio à detenção quer dentro das prisões. Esse decréscimo continua a ocorrer".

Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
Cerca de 16.000 toxicodependentes tomam diariamente metadona nos centros de tratamento nacionais e mais 2.500 em outros locais,...

Em entrevista, o diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), João Goulão, enalteceu o facto de o sistema português permitir o regresso a estes programas de dependentes que entretanto voltaram a consumir drogas.

“Temos a felicidade de ter um sistema de tratamento que tem um leque bastante vasto de opções, desde as terapêuticas de substituição, com metadona, até a possibilidade de uma desabituação física”, disse.

Segundo João Goulão, são duas as vias: “Ou paramos completamente o consumo do opiáceo e depois o trajeto é apenas o acompanhamento em ambulatório com psicoterapia, com ou sem algum suporte medicamentoso, ou então transferimos esta dependência de um opiáceo de rua [como a heroína], para um medicamento usado sob supervisão médica, com uma dose ajustada e que evita a síndrome da privação, ativa por via oral e que deixa as pessoas perfeitamente funcionais e a produzir e a ter uma vida perfeitamente integrada”.

“Há uma percentagem muito significativa de pessoas que fazem um trajeto bastante longo de substituição opiácea, seja com metadona ou buprenorfina [medicamentos opióides de síntese] e que de acordo com o seu terapeuta decidem libertar-se também desta dependência e fazem então uma desabituação física, da metadona, por exemplo. É frequente”, adiantou.

Para o diretor-geral do SICAD, “quando as pessoas sentem dentro de si a força para o fazer ensaiam-no muitas vezes, algumas são bem-sucedidas, outras voltam a sentir o tal ‘craving’ [um desejo intenso por uma substância] e voltam outra vez a ser admitidas”.

“Há sistemas, nomeadamente os nórdicos, em que as coisas são formatadas de uma forma muito rígida. Temos uma atitude de muito maior flexibilidade e de aceitação e de inclusão das pessoas nestes programas, se as coisas não correrem bem”, sublinhou.

Os centros de tratamento distribuem diariamente metadona a 15.000 ou 16.000 toxicodependentes. Além destes, entre 2.000 e 2.500 fazem esta terapia de substituição em outros locais.

Só em Lisboa, existem entre 1.200 e 1.400 pessoas que fazem diariamente a sua toma de metadona em carrinhas que param em pontos específicos - os chamados programas de baixo linear de exigência.

“Não os rotulamos de programas terapêuticos, são programas em que a exigência de abstinência não é total, diferentemente dos programas de tratamento, mas são programas de redução de danos”, especificou.

Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
As autoridades estão a analisar a integração nos cuidados continuados de toxicodependentes recuperados que recaíram nos...

“Estamos a falar de pessoas de 50 e 60 anos”, disse em entrevista o diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), referindo-se a uma população de toxicodependentes envelhecidos e que vai precisar de cuidados continuados.

Houve recentemente um ressurgimento de uma realidade que os especialistas julgavam extinta, com a recaída por parte de antigos consumidores que, com o período de crise económica e o aumento do desemprego, viram as suas vidas a desmoronar.

Regressaram então aos consumos em contextos de desorganização, à semelhança dos tempos do Casal Ventoso nas décadas de 80 e 90 do século passado.

“A realidade do nosso imaginário do Casal Ventoso e de outros casais ventosos deste país está agora a deflagrar de novo, muito à custa desta população mais velha que não aceita a aproximação pelas equipas de rua, por acharem que já falharam uma vez”, tendo em conta que voltaram ao consumo, afirmou o diretor-geral do SICAD.

O especialista lembra que uma das caraterísticas da adição é a fraca resiliência perante a frustração, procurando o alívio do sofrimento com o uso de substâncias.

Foi o desemprego, sobretudo, com o consequente desmoronamento de vidas, o motor para as recaídas, numa população que tinha anteriormente conseguido sobreviver e ter empregos graças à intervenção dos serviços.

Para João Goulão, o grande desafio agora é acompanhar as pessoas que recaíram “prestando cuidados de saúde, ajudando-as a envelhecer”.

A resposta deve passar pela possibilidade de permitir o acesso destes toxicodependentes aos cuidados continuados, para que seja assegurada a prestação de cuidados de saúde, quer físicos, quer mentais.

Segundo João Goulão, no Ministério da Saúde há abertura para se discutir o assunto e encontrar formas de operacionalizar esta pretensão.

Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
Cerca de 10 mil pessoas em Portugal pediram num ano para ser impedidas de jogar nos jogos online, um número “surpreendentemente...

O jogo e apostas online estão regulados e legalizados em Portugal há menos de dois anos, o que trouxe vários benefícios, como a existência de empresas com rosto e a sua consequente fiscalização.

Em entrevista, João Goulão considera que o estabelecimento de regras para autorizar os operadores de jogo é outra das vantagens da legalização, possibilitando por exemplo que um utilizador peça a autoexclusão de um determinado site de jogos.

O diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) admite que nos 10 mil pedidos de barramento possa haver uma pequena percentagem de casos feitos de forma inadvertida, carregando sem querer no botão que permite essa opção. Mas a maioria será de pessoas que temem a dependência ou já tiveram problemas de adição.

Contudo, João Goulão confessa que o número é surpreendente, estando muitíssimo acima dos casos mais isolados de pessoas que pedem para que não as deixem entrar em casinos ou outros locais de jogo mais tradicionais.

Quanto a casos de dependência de jogo, o responsável refere que há poucos pedidos de ajuda especificamente ligados a essa adição, que se desvenda ou surge geralmente associada a outras dependências ou consumos.

“Como alguém que pede ajuda para um problema de alcoolismo, mas quando se começa a esgravatar um pouco as condicionantes e condições de vida percebe-se que ali também há um problema relacionado com o jogo, que normalmente é mantido escondido da família”, exemplificou.

Lembrando que a área do jogo foi a última a entrar na alçada do SICAD, João Goulão diz que é necessário estudar a realidade, ouvir os especialistas internacionais e os parceiros da área: “É um mundo novo para nós e temos participado e aprofundado quanto possível a parte do conhecimento, dos meandros deste mundo”.

Inicialmente o SICAD – então Instituto da Droga e da Toxicodependência - dedicava-se apenas às substâncias ilícitas, nas quais, do lado da oferta, não havia faces visíveis com os quais dialogar.

Depois, juntou-se o álcool às competências deste organismo público e passou a haver interlocutores – produtores e distribuidores de bebidas - com os quais construir um caminho para o consumo responsável.

No álcool, pode haver por vezes interesses divergentes, mas João Goulão frisa que se tem conseguido acordo quanto às mensagens a passar, o que permite reduzir danos.

“Em relação ao jogo estamos ainda numa fase incipiente, mas que nos remete para isso. O apelo ao jogo responsável é uma atitude que podemos comparar a um ‘beba com moderação’”, exemplificou.

O diretor do SICAD considera que é evidente que as empresas de jogos querem que as pessoas joguem, mas acredita que são também sensíveis à necessidade de desenvolver formas de jogo que não induzam adição e sofrimento à população.

Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
A legislação que há quatro anos veio proibir novas substâncias psicoativas teve como consequência o encerramento das lojas...

“É evidente que essas substâncias continuam a circular, em parte nos circuitos ilícitos a par das cocaínas ou heroínas, e também através do mercado se faz na internet, em ‘sites’ específicos”, admitiu, em entrevista, o diretor-geral do organismo responsável pelas dependências, João Goulão, sublinhando contudo que é um mercado relativamente residual em Portugal.

O efeito prático e imediato da legislação que em 2013 proibiu a venda destas novas substâncias psicoativas foi o encerramento das ‘smartshops’, mas houve outros impactos positivos, como uma diminuição dos casos que chegavam às urgências hospitalares decorrentes do consumo daquelas drogas.

João Goulão recorda que a comercialização daquelas substâncias em lojas de porta aberta transmitia uma certa sensação de segurança que estava a disseminar-se e a ter impactos “muito significativos”.

O encerramento dessas lojas trouxe assim uma redução do consumo das substâncias psicoativas, que em Portugal têm um mercado que “não é muito grande” mas que tem vindo a crescer noutros países europeus.

“Temos de continuar a acompanhar e monitorizar, estar atentos, porque de um momento para o outro [o fenómeno] pode explodir”, afirmou o diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

No mercado destas drogas reina a confusão, sendo complicado perceber o que se está a vender ou a comprar, com muitas das substâncias a ser comercializadas como se fossem ecstasy ou anfetaminas.

“Eu diria que há uma espécie de indústria parafarmacêutica que todos os dias lança no mercado novas substâncias”, disse João Goulão.

As novas substâncias psicoativas são uns parentes próximos de outras substâncias que, mercê de uma alteração molecular, se tornam novas e não constas das listas de substâncias sujeitas a controlo.

“Isto acontece a um ritmo avassalador”, reconhece o diretor do SICAD.

Portugal está incluído num sistema de alerta rápido onde estão ligados todos os estados da União Europeia. Quando é detetada uma nova substância nalgum país, todos os outros ficam alerta.

“No nosso país, destas substâncias identificadas, têm aparecido relativamente poucas e os impactos têm diminuído”, segundo Goulão, referindo-se novamente ao decréscimo de casos de situações de urgência ou emergência, como surtos psicóticos ou ataques de pânico.

Segundo o responsável, não é do conhecimento das autoridades que haja produção destas novas substâncias psicoativas em Portugal.

Quando a lei surgiu, em 2013, passou a ser proibida a venda, produção e publicidade a mais de 150 substâncias psicoativas. Mas o ritmo de produção destas substâncias obrigou a acautelar atualizações periódicas à tabela das substâncias proibidas.

Assim, sempre que exista suspeita de grave risco para a saúde num produto que possa ser considerado nova substância psicoativa, as autoridades devem analisá-lo e proibir a sua venda até se concluir se é ou não incluída nesta lista de produtos proibidos.

Procriação medicamente assistida
Perto de 50 pessoas ofereceram-se desde janeiro para doar óvulos e espermatozoides nos três centros públicos que fazem estas...

Os gâmetas têm sido um recurso para alguns casais com problemas de infertilidade, mas desde o ano passado que os gâmetas podem também ser usados por mulheres solteiras ou casais de lésbicas, não exigindo a existência de doença.

Tendo em conta o previsível aumento da procura deste material genético que o alargamento do acesso às técnicas veio permitir, o Governo lançou uma campanha de promoção das dádivas e aumentou de um para três os centros de colheita em hospitais públicos.

Atualmente, os candidatos a dadores podem oferecer-se para doar gâmetas no Centro Hospitalar do Porto (que já o fazia), no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e no Centro Hospitalar Lisboa Central (Maternidade Alfredo da Costa).

Segundo Caldas Afonso, que dirige o Centro Materno Infantil do Norte, onde funciona o Banco Público de Gâmetas, desde janeiro disponibilizaram-se quatro homens e 10 mulheres para doarem gâmetas.

Este centro tinha realizado uma campanha de promoção de dádivas que arrancou em setembro do ano passado, mais dirigida à população estudantil da região.

Entre setembro e janeiro deste ano, ofereceram-se 44 homens e 20 mulheres.

Dos candidatos masculinos, 13 já se encontram em fase avançada de doação e quatro têm as colheitas em quarentena (processo que demora seis meses).

No caso das mulheres, metade estão em estudo para estimulação folicular, fase do processo que antecede a recolha dos óvulos.

Caldas Afonso reconheceu que o número de candidatos conseguidos desde janeiro deste ano, e no seguimento da campanha, ainda é insuficiente, tendo em conta as necessidades que são identificadas nas consultas de infertilidade.

“Entre 10 a 15% dos casos que chegam à consulta de infertilidade têm necessidade de gâmetas”, disse.

Contudo, este responsável reconheceu que ainda é cedo e que só no final do ano é que poderá ser avaliado o impacto do aumento de centros de colheita e também da campanha de promoção da dádiva.

Em Coimbra ofereceram-se para dadores oito homens e quatro mulheres.

Segundo Teresa Almeida Santos, que dirige o centro de colheitas do CHUC, um dos homens já efetuou a primeira colheita (das sete que tem de realizar).

Sobre a resposta ao apelo à doação, a especialista em medicina da reprodução disse estar a ser a esperada, prevendo-se que só ao final de cerca de nove meses é que o material genético deva estar disponível.

Em Lisboa, foram, até ao momento, selecionados 12 dadores: sete homens e cinco mulheres.

Graça Pinto, responsável pelo centro de colheita na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), sublinhou que o processo da dádiva tem várias etapas: contactos com potenciais dadores, avaliação (que inclui uma consulta médica, psicológica, análises de sangue, avaliação de qualidade espermática, no caso dos homens) e agendamento das dádivas.

No caso dos homens, a amostra de esperma tem de submeter-se a uma quarentena de seis meses. Os óvulos colhidos às mulheres são congelados de imediato após a recolha.

Além dos centros públicos, as clínicas privadas também disponibilizam gâmetas, provenientes de dádivas ou importadas, pelos quais é cobrado um preço no âmbito da técnica aplicada.

Procriação medicamente assistida
A filha de Inês foi concebida com sémen de dador, os de Francisca cresceram numa “barriga de aluguer” e Maria doou recentemente...

Estas três mulheres nunca se conheceram e, apesar de terem idades próximas, abaixo dos 40 anos, tiveram motivos diferentes para recorrer à ciência na altura de serem mães, ou de ajudar alguém a sê-lo.

Quando Inês decidiu ser mãe a lei que permite o acesso às técnicas de procriação medicamente assistida a mulheres solteiras e sem problemas de infertilidade ainda não estava em vigor em Portugal, o que só aconteceu em junho de 2016.

A viver no estrangeiro por motivos profissionais, Inês sempre esperou que a maternidade, assim como o casamento, acontecesse naturalmente.

Para Inês, o desejo de um filho nasceu “de um dia para o outro” e várias relações amorosas falhadas contribuíram por optar por ser mãe sozinha.

Foi assim que partiu à procura de um filho através de inseminação com sémen de dador numa clínica de um país onde vive e que na altura já permitia a procriação medicamente assistida para mulheres solteiras.

Para Inês, “a escolha do dador é possivelmente o momento mais complicado de todo o processo para uma futura mãe”.

“É uma decisão extremamente pessoal e obriga-nos a pensar muito sobre todo o processo, sobre o que estamos a fazer e porquê. É intenso, emocionalmente”.

A inseminação artificial correu bem e a gravidez surgiu à primeira tentativa. “O momento mais forte e intenso para mim foi quando entrei na clínica para a inseminação. Depois do procedimento, a gravidez era uma possibilidade na minha cabeça”, contou.

A viver num país onde estes procedimentos são há muito banais, Inês sentiu sempre a compreensão dos amigos que acharam a sua decisão perfeitamente normal.

No entanto, reconhece que em Portugal, o seu país, “ainda há muita gente com dificuldade em conceber este conceito”.

A filha de Inês irá conhecer as suas origens. “Tem esse direito”, diz.

“Nos países onde a pma para mães solteiras é praticada há mais tempo, há comunidades e grupos de apoio onde se discutem as melhores formas de explicar às crianças. Vou procurar ajuda, preparar-me para as perguntas dela e seguir o instinto”.

A filha de Inês, tal como milhares de outras crianças, só nasceram graças a material genético de dador. Estas doações ainda são pouco frequentes em Portugal, razão porque o Ministério da Saúde lançou, em janeiro, uma campanha de promoção da dádiva de óculos e espermatozoides.

Para Maria, doar óvulos sempre foi uma ideia muito presente e com um objetivo muito definido: “Ajudar uma mulher a ter um filho, ajudar uma família que o quisesse muito a ser mais feliz e completa”.

Curiosa por natureza, foi-se informando dos procedimentos e só foi surpreendida com a parte física.

“Sabia que teria de fazer injeções com hormonas, mas os seus efeitos foi o que mais me surpreendeu: inchaço na barriga, algum desconforto na zona abdominal, algumas tonturas num ou dois dias”.

Até doar os seus óvulos, Maria foi submetida a um batalhão de exames físicos e psicológicos e várias consultas. O procedimento foi realizado numa clínica privada, pelo qual recebeu uma compensação de 630 euros.

No final do processo, ficou satisfeita por sentir que tinha contribuído para algo “muito importante”.

Por esta razão, não entende como os críticos falam de “caprichos” das recetoras.

“Não me parece haver grande lugar a caprichos quando uma mulher se submete a tratamentos, muitas vezes falhados, com toda a tristeza e ansiedade que isso acarreta”, disse.

Para Maria, “estas crianças são muito desejadas, o que é logo um bom princípio para serem bem cuidadas e felizes. Não deixam de ser crianças como as outras. Oxalá todas tivessem uma família que as desejou tanto e que se esforçou tanto para recebê-las”.

O desejo de ser mãe de Francisca levou-a mais longe, até à Ucrânia, onde recorreu a uma barriga de aluguer – prática legal nesse país e pela qual pagou 50 mil euros.

Esta foi a única forma que encontrou para poder ter filhos com o seu material biológico, bem como o do seu marido.

O processo médico (exames e estimulação ovárica) foi realizado em Portugal, tendo depois o casal viajado até à Ucrânia, onde foram recolhidos os seus gâmetas (óvulos e espermatozoides), dos quais resultaram os embriões implantados na gestante de substituição.

O casal foi vendo as ecografias das crianças (um par de gémeos) por e-mail e Francisca pode assistir ao nascimento dos filhos biológicos. Foi essa a altura em que viu pela última vez a gestante de substituição.

Francisca lamenta que tenha tido de viajar para tão longe e de gastar tanto dinheiro para ser mãe, o que se deveu a razões clínicas.

Atualmente, a gestação de substituição por razões de saúde é legal em Portugal, embora a sua aplicação ainda não seja possível, por se aguardar a publicação da regulamentação da legislação. Estes casos não poderão em caso algum ser passíveis de qualquer tipo de pagamento.

Estudo
Cerca de 1,7 milhões de pessoas desenvolvem atualmente uma infeção fúngica em Portugal, concluiu um estudo do Departamento de...

Segundo o estudo, do total de pessoas afetadas em Portugal, 1,5 milhões desenvolvem uma infeção fúngica cutânea.

A segunda infeção fúngica mais frequente no país é a candidíase vaginal, afetando anualmente mais de 150 mil mulheres com idades entre os 15 e os 50 anos, adianta este trabalho do Instituto Ricardo Jorge, publicado no âmbito de um projeto internacional que tem como objetivo estimar a incidência das infeções fúngicas a nível mundial.

“Como não são doenças de declaração obrigatória, foram utilizados dados publicados e outros estimados. Muitos destes dados foram baseados em diferentes populações de risco de forma a conseguir estimar a incidência ou prevalência das infeções fúngicas em Portugal”, explicou Raquel Sabino, uma das autoras do estudo e representante portuguesa da rede Fundo Global de Ação para Infeções Fúngicas.

O Instituto Ricardo Jorge conclui também que, quando comparado com outros países europeus, Portugal apresenta “a mais elevada incidência anual de meningite criptococica, mas uma das mais baixas incidências de pneumonia por Pneumocystis”.

“Uma vez que a asma afeta cerca de 10 por cento da população adulta, estima-se que cerca de 17 mil pessoas sofram de asma severa por sensibilização fúngica e 13 mil sofram de aspergilose broncopulmonar alérgica”, refere ainda o trabalho do Instituto Ricardo Jorge.

Segundo a investigadora portuguesa, a metodologia usada neste estudo “tem vindo a ser aplicada em mais 65 países por todo o mundo, cobrindo cerca de 5,6 mil milhões de pessoas até agora”.

As estimativas globais mostram que mais de 300 milhões de pessoas são afetadas por infeções fúngicas, afetando entre 1,8 a três por cento da população de cada país, e que ocorram anualmente mais de 1 milhão e meio de mortes causadas por infeção fúngica grave.

A investigador considerou ainda que estes estudos são uma “forma de alerta e sensibilização de extrema importância, uma vez que as infeções fúngicas são ainda muito negligenciadas e são responsáveis, anualmente, por mais mortes que, por exemplo, a tuberculose”.

Hospital de Santa Marta
Um doente com insuficiência cardíaca recebeu quinta-feira no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, um dispositivo de assistência...

Miguel Abecassis, cirurgião cardiotorácico que dirigiu a intervenção no Hospital de Santa Cruz (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental), disse que a operação “correu bem” e que o doente está a recuperar, apesar das dificuldades de um pós-operatório desta natureza.

O médico começou por esclarecer que este dispositivo, apesar de ser conhecido como tal, não é um verdadeiro coração artificial, pois estes são usados de forma definitiva.

No entanto, em situações como a deste doente, de 71 anos e com um quadro de insuficiência renal e hepática, o dispositivo acaba por funcionar como “de destino”, ou seja, dificilmente será substituído.

“Este é um dispositivo de assistência circulatória interno. Ao contrário dos que temos utilizado até hoje, que são dispositivos de assistência circulatória externos, estes têm a enorme vantagem de, por um lado dar mais liberdade ao doente e, por outro, não ter as complicações dos dispositivos externos”, explicou o cirurgião.

Tal como a equipa de José Fragata, que terça-feira anunciou a pioneira implantação em Portugal deste dispositivo, que tinha ocorrido na véspera, a equipa de Santa Cruz deslocou-se a Lausanne (Suíça) para tomar conhecimento da técnica.

O doente, que recebeu quinta-feira o dispositivo, “sofre de insuficiência cardíaca avançada, com vários internamentos no hospital por essa razão, o último dos quais sete dias antes da implantação, em que havia claramente um quadro de insuficiência renal e hepática em evolução”.

“Uma vez que este seria sempre um recetor marginal - se é que alguma vez seria um candidato a transplante, que não é - achámos que era um candidato a este tipo de dispositivos”, adiantou o cirurgião.

A cirurgia durou cerca de três horas e meia e, além da implantação do sistema de apoio circulatório, os cirurgiões tiveram de reconstruir a válvula do lado direito do coração do doente.

Para Miguel Abecassis, a maior dificuldade durante a cirurgia deu-se na correção das alterações de coagulação, devido ao quadro de insuficiência hepática do doente, já que do ponto de vista técnico “não existiu qualquer problema e a bomba funcionou sempre a 100 por cento”.

O doente, que tem “um prognóstico reservado, como todos estes doentes”, tem registado “uma evolução muito positiva nas últimas horas”.

Segundo Miguel Abecassis, existem já outros candidatos a este dispositivo.

Administração Regional de Saúde
O diagnóstico precoce e a monitorização da doença pulmonar obstrutiva crónica e da asma são os objetivos de um projeto-piloto,...

O “Projeto-Piloto das Espirometrias nos Cuidados de Saúde Primários” é da responsabilidade da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, através do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Alentejo Central.

A iniciativa, explicou hoje a ARS, consiste na realização de espirometrias (exame à função respiratória) para efeitos de diagnóstico e monitorização de utentes, principalmente aqueles que têm doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e asma brônquica.

A diretora executiva do ACES Alentejo Central, Laurência Gemito, destacou hoje à agência Lusa que “as doenças respiratórias crónicas são, atualmente, uma importante causa de morte em Portugal, sobretudo de mortalidade intra-hospitalar”.

“E a DPOC e a asma são as doenças crónicas mais relevantes. Daí, a nossa aposta, com este projeto, no diagnóstico precoce, através de rastreios, e na monitorização”, acrescentou.

O diagnóstico precoce destas patologias, nos cuidados de saúde primários, explicou a ARS, “permite melhorar a qualidade de vida dos utentes, reduzir a frequência e o impacto de exacerbações, bem como a mortalidade e morbilidade associadas a estas doenças”.

O projeto em curso, desde outubro, nos 14 concelhos do distrito de Évora, integrados no ACES Alentejo Central, pretende, precisamente, dar resposta às requisições dos médicos de família para a realização das espirometrias que permitam um diagnóstico atempado destas doenças.

“Este rastreio, no caso do ACES, era feito no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE)”, mas esta unidade “não tinha capacidade para dar resposta ao número de requisições dos médicos de família”, explicou Laurência Gemito.

Como já havia “à volta de 300 pedidos atrasados” e “atendendo à importância destas doenças crónicas na mortalidade e morbilidade da população”, o ACES avançou com o projeto-piloto, para “ir ao encontro dos utentes”, e equipou a unidade móvel que já possuía e contratou uma técnica cardiopneumologista.

“A unidade móvel vai a todos os centros e extensões de Saúde. Assim, os exames são realizados mais rapidamente e os utentes não têm de se deslocar”, o que, numa região como o Alentejo, “com uma área muito extensa e uma população envelhecida, muito dispersa e com poucos recursos económicos”, faz “toda a diferença”, frisou a diretora executiva do ACES.

O projeto, concebido “nestes moldes, com uma unidade móvel a deslocar-se até aos utentes, e com esta dimensão, é inovador a nível nacional”, sublinhou Laurência Gemito.

Até final de janeiro, foram efetuadas 221 espirometrias. “A maioria dos utentes (148) não tinha alterações do padrão ventilatório, mas foram verificadas alterações em 70 pessoas”, sendo ainda inconclusivos três dos exames, referiu a diretora.

“O médico de família recebe o resultado da espirometria e, então, decide se envia o utente para uma consulta de especialidade ou qual a terapêutica mais indicada”, explicou, revelando que o ACES, satisfeito pelos resultados do projeto, já está “a adquirir mais equipamentos” para o alargar.

Diabetes e saúde cardiovascular
De acordo com o Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, estima-se que cerca de 1 milhã

Considerada uma epidemia do século XXI, a diabetes afeta um milhão de portugueses, estimando-se que este número aumente se se tiver em consideração os casos de pré-diabetes. De acordo, com Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, “cerca de 3,1 milhões de pessoas entre os 20 e os 79 anos têm diabetes ou pré-diabetes”.

Obesidade e sedentarismo são os principais fatores de risco de uma doença que, só em Portugal, tem registado um aumento anual de 3% .

“A diabetes tipo 2 e a obesidade são as duas epidemias gémeas do século XXI que têm aumentado ao longo dos anos de forma paralela. Em Portugal, mais de 50% da população tem obesidade ou pré-obesidade. No que diz respeito à diabetes mellitus, cerca de 90 a 95% dos casos são de diabetes mellitus tipo 2. Esta é a forma mais comum, mais prevalente, sendo que cerca de um em cada 10 portugueses tem este tipo de diabetes”, revela a médica endocrinologista do Centro Hospitalar de São João (CHSJ).

Com um impacto considerável junto da população, quando não é bem tratada ou controlada a doença pode dar origem a várias complicações tardias resultando na perda de qualidade de vida.

“A diabetes é a principal causa de cegueira, insuficiência renal, amputação de membros inferiores e das doença cardiovasculares”, refere a especialista.

Em termos financeiros, segundo o último Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, a doença custa ao Estado mais de 200 milhões de euros. “No entanto, estima-se que os custos do tratamento de complicações e hospitalizações rondem os 1550 milhões de euros anuais, quase 1% do PIB, sendo que é um custo que tende a aumentar ao longo dos anos”, revela Paula Freitas que afirma que este custo é o único que pode ser controlável.

Entre as medidas para reduzir este impacto, a presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade destaca como primordial a prevenção da doença.

Por outro lado, o tratamento precoce “correto e eficaz da hiperglicemia e de todos os outros fatores de risco cardiovasculares associados”, contribuirá e muito para a redução de custos, uma vez que evitará o aparecimento de complicações tardias “quer micro e macrovasculares”cujos tratamentos são caros.

“O tratamento eficaz também garante uma melhor qualidade de vida dos doentes, o que se traduz em redução dos custos diretos e indiretos relacionados com a diabetes tipo 2”, afirma reforçando a necessidade de se apostar no controlo glicémico e “dar ferramentas aos doentes, nomeadamente, a nível de educação para a sua doença, bem como o acesso ao tratamento mais adequado para cada indivíduo”.

Acresce ainda a importância da inovação terapêutica, que nestes casos, gera poupanças a longo prazo, uma vez que para além de contribuirem para uma melhor qualidade de vida, evitam ainda “as complicações causadas pelas doenças cardiovasculares neste doentes”.

Diabetes e o risco de doença cardiovascular

A diabetes provoca um conjunto de alterações no organismo que torna mais frequentes e mais graves as doenças cardiovasculares. “A hiperglicemia, stress oxidativo, disfunção endotelial, alterações no processo inflamatório, alterações do fluxo sanguíneo e permeabilidade vascular, fenómenos vaso-oclusivos e isquémicos, alterações epigenéticas consequentes ao mau controlo glicémico com repercussão na memória metabólica, e múltiplas outras vias complexas aumentam a susceptibilidade da ocorrência de fenómenos de oclusão e que podem originar acidentes cardiovasculares”, enumera Paula Freitas.

De acordo com a especialista, os doentes com diabetes mellitus tipo 2, para além da obesidade, também têm dislipidemia, hipertensão, hiperuricemia “e todos os outros múltiplos fatores constituintes ou associados ao síndrome metabólico” o que aumenta o risco de doença cardiovascular.

Os dados disponíveis sobre esta relação mostram que a diabetes de tipo 2 aumenta quatro vezes mais o risco de doença cardíaca e enfarte, estimando-se que cerca de 50% das mortes entre a população diabética esteja relacionada com problemas cardiovasculares.

“Para reduzir o risco cardiovascular é necessário fazer uma intervenção multifatorial com intervenção ao nível do estilo de vida, com promoção de uma alimentação saudável, prática regular de exercício físico, promoção da cessação tabágica e perda de peso”, começa por explicar a presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade.

Por outro lado, é essencial a aplicação de tratamento correto “e com os fármacos adequados” da hiperglicemia, hipertensão, dislipidemia e “fazer antiagregação plaquetária, quando indicado”.

“De facto, as complicações crónicas da diabetes, e nomeadamente as macrovasculares – a doença cardiovascular – podem ser prevenidas ou atrasada a sua progressão, ou controladas se já ocorreram, se o médico e a pessoa com diabetes gerirem de forma a adequada a sua doença desde o início”, reforça.

No que diz respeito ao seu tratamento, a especialista afirma que o médico deve escolher os fármacos que são eficazes mas seguros do ponto de vista cardiovascular, ou que, pelo menos, já tenham demonstrado a sua eficácia na redução dos eventos ou a mortalidade cardiovascular em doente de alto risco.

“Relativamente aos doentes diabéticos tipo 2, com elevado risco cardiovascular, é de destacar os resultados do estudo LEADER que mostrou uma redução significativa nos eventos cardiovasculares major, assim como uma redução na mortalidade por todas as causas e mortalidade cardiovascular”, acrescenta.

Segundo o estudo, houve uma redução de 22% de morte cardiovascular “e reduções de enfarte de miocardio não fatal e de AVC não fatal em doentes em tratamento com liraglutido”.

Deste modo, tal como adianta a especialista, estes resultados levam a uma nova perspectiva para o tratamento da diabetes tipo 2.  “De facto, os novos fármacos trazem um enorme avanço na qualidade de vida dos doentes com diabetes. Os resultados deste estudo são promissores e têm potencial para alterar a prática clínica na área da diabetes, uma vez que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nesta população, no mundo inteiro”, conclui.

Quanto aos sintomas, sabe-se que a doença cardiovascular pode ser silenciosa e permanecer assitomática durante vários anos. No entanto, Paula Freita alerta para aqueles que são os principais sinais de alerta: cansaço fácil, palpitações, taquicardia, tonturas, hipertensão arterial, dispneia, claudicação intermitente e disfunção sexual.

A Diabetes em Congresso                                           

O 13º Congresso Português da Diabetes, que contará com a presença de especialistas de várias áreas – desde a Endocrinologia, Medicina Interna ou Medicina Geral e Familiar – e investigadores nacionais e internacionais, levará à discussão estas e outras matérias.

Neste evento pode-se esperar a apresentação do relatório Factos e Números do Observatório Nacional da Diabetes, bem como de guidelines sobre as cirurgias metabólicas para o tratamento da diabetes ou algoritmos de tratamento da diabetes tipo 2, entre outros.

De acordo com Paula Freitas, “o Congresso Nacional da Diabetes é um dos eventos nacionais mais relevantes nesta área e que marca o panorama nacional de forma muito posivita”.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Campanha de sensibilização
Nos próximos dias 11 e 12 de março decorre, no Centro Colombo, a primeira campanha de sensibilização nacional “Na Bexiga Mando...

Estima-se que atualmente em Portugal existem cerca de 1 milhão e 700 mil portugueses com bexiga hiperativa, uma doença que afeta homens e mulheres, de todas as idades, e tem um grande impacto na qualidade de vida dos doentes.

Para a embaixadora da campanha Custódia Gallego “é uma grande honra estar associada a esta campanha que pretende mostrar que é possível controlar a bexiga, antes que a bexiga controle a vida dos doentes.” A atriz explica ainda que “a doença condiciona muito a vida social, sexual, familiar e mesmo laboral dos doentes. Existem muitas pessoas que não sabem que é possível controlar a doença e veem a sua vida ser afetada pela doença a nível psicológico e emocional. Muitos doentes auto estigmatizam-se, vivem com uma grande ansiedade e acabam por se isolar e mesmo desistir do trabalho. É importante que todos fiquem a saber que é possível controlar os sintomas e ter melhor qualidade de vida”.

Irá decorrer no Centro Colombo a 11 e 12 de Março a primeira campanha nacional de sensibilização, que para além da presença da embaixadora, conta ainda com a presença de profissionais de saúde que vão estar disponíveis durante os dois dias para esclarecer mitos e dúvidas de todos os visitantes bem como prestar aconselhamento sobre os sintomas da doença. 

Estudo
Medicamento inovador evita que muitos destes tumores terminem numa cirurgia. Estudo é apresentado neste sábado.

Chama-se histerectomia e ainda é a cirurgia mais comum na área da ginecologia. Traduz-se em retirar a totalidade do útero à mulher. No entanto, esta opção extrema é cada vez menos seguida em Portugal – devido à evolução na forma como as intervenções cirúrgicas são feitas e ao surgimento de medicamentos inovadores criados, por exemplo, para o tratamento dos miomas uterinos. Um estudo, que será apresentado neste sábado na 188.º Reunião Da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, na Figueira da Foz, estima que um novo fármaco para estes tumores benignos, e que agora está a ser mais utilizado no Serviço Nacional de Saúde, reduza os sintomas dos miomas em mais de 60% das mulheres, o que se traduz em menos cirurgias.

“Antes fazíamos histerectomias quando as mulheres tinham miomas uterinos com sintomas graves e neste momento este novo medicamento, o acetato de ulipristal, representa uma grande arma que nos permitirá reduzir muito o número de cirurgias”, explicou ao jornal Público Fernando Fernandes, diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Évora, e um dos responsáveis pela condução do estudo em Portugal, país em que se estima que dois milhões de mulheres tenham miomas.

A presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, Fernanda Águas, lembra que um trabalho apresentado no final do ano passado já mostrava que as histerectomias são cada vez menos uma opção. De acordo com esse estudo que coordenou, entre 2000 e 2014 houve um total de 166.177 mulheres às quais foi retirado o útero. Em 2014 foram cerca de 9000, o que representou uma quebra de 20% no período estudado.

Evolução nas cirurgias
Fernanda Águas acredita que com a ajuda de medicamentos inovadores é possível reduzir ainda mais este número, mas lembra que na maioria dos casos nem é preciso fazer nada aos miomas. E destaca que a forma como as cirurgias são feitas também tem evoluído. Aliás, na Reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia o foco também vai estar nas cirurgias feitas por laparoscopia (em que a incisão é feita através do abdómen da mulher) ou por endoscopia (em que a operação é feita através do colo do útero, o que permite uma recuperação menos dolorosa e mais rápida.

Em relação ao novo trabalho agora publicado no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, Fernando Fernandes disse que contou com uma amostra de 1473 mulheres de mais de 70 centros europeus de países como Alemanha, França, Reino Unido, Roménia, Suécia, Polónia, Hungria, Eslovénia e Áustria. Portugal foi um dos países com mais participantes no estudo, num total de 60 mulheres. Todas as doentes tinham miomas uterinos que provocavam sintomas considerados moderados a graves e que se traduziam, sobretudo, em grandes hemorragias ou em dores abdominais. Com estes tumores, as mulheres podem também ter o abdómen inchado ou dores nas relações sexuais.

“Fomos um dos centros na Europa com um maior número de mulheres incluídas no estudo e que foram acompanhadas entre Dezembro de 2012 e Maio de 2014. Os resultados foram muito positivos. Cerca de 70% das mulheres referiram grandes melhorias nos sintomas após o tratamento e só uma pequena percentagem de 4% é que não revelaram esse tipo de melhorias”, acrescentou Fernando Fernandes, sublinhando que o fármaco também ajuda a reduzir o volume dos miomas.

O médico lembrou que os miomas afetam sobretudo mulheres em idade fértil, pelo que se torna fundamental não partir para uma decisão extrema, como retirar o útero. “No nosso estudo tivemos três senhoras em Portugal que engravidaram”, reforçou. Para Fernanda Águas, as novas terapêuticas são “especialmente importantes para as mulheres mais jovens, em que há a questão da fertilidade associada, ainda que seja sempre bom evitar uma cirurgia”. Em geral, uma mulher precisa de um mês a cinco semanas para recuperar de uma histerectomia.

Neste tratamento, é recomendado que a administração de acetato de ulipristal seja feita no máximo por quatro ciclos de três meses e com um intervalo de dois meses entre cada ciclo – o que significa que em alguns casos, depois disso, pode ser na mesma necessária uma cirurgia. Mesmo assim, o responsável do Hospital de Évora destaca algumas vantagens. “Se recebermos na urgência uma senhora com uma grande hemorragia por um mioma uterino podemos fazer o tratamento com o medicamento e programar a cirurgia com mais segurança.”

Para o diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Évora a principal desvantagem do novo tratamento para os miomas uterinos está no preço elevado do medicamento, até porque ainda não há concorrência. Mesmo com comparticipação, as doentes pagam 90 euros por cada caixa, pelo que se fizerem vários tratamentos a fatura sobe. “Mas há hospitais públicos que estão a dar gratuitamente o medicamento às senhoras, pelo que se poupa não fazendo histerectomia”, salienta Fernando Fernandes.

Estudo
Um maior risco de calvície prematura foi adicionado à lista de doenças e condições enfrentadas por homens baixos de ascendência...

"Parece que os homens com uma altura relativamente menor têm uma possibilidade mais elevada de perder o seu cabelo", disse à agência de notícias France Presse a autora Stefanie Heilmann-Heimbach, da Universidade de Bona, na Alemanha.

"Os nossos dados indicam que alguns dos genes envolvidos na calvície estão associados, em média, a uma menor estatura", acrescentou.

Outra pesquisas já tinham mostrado que os homens calvos também são estatisticamente mais propensos a sofrer de doença cardíaca e cancro da próstata, embora o risco adicional seja pequeno. Por outro lado, segundo o Sapo, um tamanho corporal reduzido e um início precoce da puberdade também estão ligados à perda de cabelo masculina.

Alguns dos mesmos genes que regulam a altura humana também parecem desempenhar um papel no surgimento dessas condições e doenças, indica o estudo.

63 variações genéticas
Publicado na revista Nature Communications, o estudo identificou 63 variações genéticas "que aumentam o risco de perda de cabelo prematura", disse Heilmann-Heimbach. Os investigadores não se propuseram a encontrar uma ligação com a altura, nem quantificaram o risco relativo de calvície associado às diferentes estaturas, acrescentou. "Estudos futuros que avaliem a perda de cabelo e a altura do corpo podem ser capazes de responder a essa pergunta", disse a cientistas por e-mail.

Mas a ligação estatística é clara: em homens de origem europeia, a calvície geralmente começa por volta dos 30 anos. Cerca de 80% dos homens europeus são afetados em alguma medida.

Estudo
Uma equipa de investigadores dos EUA concluiu que a descida do nível de glicose no cérebro estimula os sintomas do Alzheimer, e...

A relação entre os baixos níveis de glicose no cérebro e o Alzheimer já era conhecida dos médicos, mas uma equipa de investigadores da Temple University, nos Estados Unidos, descobriu recentemente que esta ligação pode ser ainda mais profunda.

Num estudo publicado na revista Translational Psychiatry, a equipa liderada pelo investigador Domenico Praticò descobriu que a descida dos níveis de glicose acontece muito antes dos primeiros sintomas (a perda de memória e as dificuldades cognitivas) e pode até motivar o aparecimento desses sintomas. Além disto, escreve o Observador, os investigadores apontam neste artigo um tratamento que pode impedir a queda dos níveis de glicose, o que, em última análise, poderá significar a prevenção do próprio Alzheimer.

Os especialistas identificaram novas provas que apontam para uma ideia que já era conhecida: o envolvimento da proteína p38 neste processo. Segundo Domenico Praticò, “há agora muitas provas de que a proteína p38 está envolvida no desenvolvimento da doença de Alzheimer“. Por isso, propõem a utilização desta proteína na produção de um medicamento para prevenir a doença.

O estudo foi feito com recurso a ratos de laboratório. Os investigadores reduziram o nível de glicose no cérebro dos animais e observaram o resultado. O que aconteceu foi que os ratos a quem foi diminuído o nível de glicose sofreram um declínio no funcionamento das células do cérebro, falharam muito mais em testes de memória e registaram uma aceleração da morte celular no cérebro – sintomas que indicam o início da doença de Alzheimer.

Estudo
Uma revisão de estudos concluiu a existência de um vínculo entre o excesso de peso e alguns tumores, principalmente do sistema...

O cancro mata todos os anos cerca de 7,6 milhões de pessoas e esse número pode aumentar nos últimos anos devido à expansão da chamada "epidemia de obesidade", alerta a Organização Mundial de Saúde há vários anos. O número de pessoas em todo o mundo que pesam mais do que o recomendado aumentou exponencialmente em 30 anos: passou de 857 milhões em 1980 para 2.100 milhões em 2013.

Uma revisão de estudos publicada pela revista médica "British Medical Journal", e que pretende acabar com preconceitos erróneos sobre os riscos do cancro, identifica vários tipos de tumores cuja origem pode ter a ver, muito provavelmente, com a obesidade ou o excesso de peso, escreve o Sapo.

No estudo, os autores liderados por Maria Kyrgiou, investigadora do Imperial College London, no Reino Unido, lembram por exemplo o caso da diabetes tipo 2: existe a ideia vincada de que a doença provoca vários tipos de tumores, embora cientificamente essa relação esteja apenas comprovada em 14% dos casos.

Nesta investigação agora publicada, os cientistas analisaram 204 estudos científicos que se debruçaram sobre a relação entre a obesidade, o aumento de peso, a gordura abdominal e 36 tipos de cancro. De acordo com os investigadores, há pelo menos 11 tipos de cancro que podem ser relacionados com máxima certeza com a obesidade. Entre eles estão alguns dos mais frequentes: mama, ovário, pâncreas, cólon, reto, médula e rins. Os outros são os tumores das vias biliares, do endometrio, o mieloma múltiplo e o cancro gástrico.

Os cientistas também mediram o aumento do risco por cada cinco quilos por metro quadrado a mais de massa corporal. O aumento do risco variava de 9% no caso do cancro do reto em homens para 56% no caso do cancro das vias biliares.

Já o risco de cancro do endometrio aumentava 21% por cada aumento de apenas 0,1% do índice de relação cintura-quadril. Segundo o estudo, a relação entre o excesso de peso e o cancro parece maior para os tumores relacionados com o aparelho digestivo e com a atividade hormonal feminina.

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