Comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação
A Europa quer colocar os cientistas a trabalhar em missões que entusiasmem as pessoas, uma ideia transmitida pelo comissário...

O comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação descreveu, a uma plateia de investigadores e professores universitários portugueses, a proposta da Comissão Europeia para o próximo programa de financiamento comunitário do setor, o Horizonte Europa (2021-2027), no valor de 100 mil milhões de euros.

"O maior orçamento [europeu] de sempre para a ciência e inovação", sustentou aos participantes na reunião de trabalho da rede EurociênciaPT, uma iniciativa do eurodeputado do PSD Carlos Coelho.

A "proposta concreta" de orçamento, que terá de ser trabalhada até 06 de junho para que possa ser discutida no Parlamento Europeu, define, num dos seus pilares, o dos "desafios globais", cinco "áreas cruciais" para a Europa em termos de investigação e inovação: saúde, segurança, digital, clima/energia e alimentação.

Segundo Carlos Moedas, estas áreas terão "orçamentos específicos", nelas se incluindo o que chamou "missões que entusiasmem os europeus", em que os cientistas são desafiados a desenvolverem investigação direcionada para objetivos.

Como exemplos de possíveis objetivos, o comissário europeu deu um navio ou uma cidade com "zero carbono" ou a cura da demência.

Um dos problemas que o titular da pasta da ciência e inovação na Comissão Europeia invocou é que os cidadãos não sabem para que serve a ciência que está a ser feita na Europa.

A rede EurociênciaPT, que reúne mais de 80 investigadores e académicos portugueses, visa informar os cientistas das iniciativas europeias e acabar, nas palavras de Carlos Coelho, seu mentor, com "o divórcio" entre a comunidade científica e os legisladores.

 

Investigadores alertam
Mais de um terço das 26.681 pessoas que sofreram acidentes domésticos ou de lazer entre 2013 e 2015 foram internadas ou...

Investigadores do INSA estudaram o “encaminhamento das vítimas de acidentes domésticos e de lazer em Portugal”, com base em dados das urgências dos hospitais recolhidos pelo sistema EVITA – Epidemiologia e Vigilância dos Traumatismos e Acidentes entre janeiro de 2013 e dezembro de 2015.

Em média, foram registados 24 acidentes domésticos e de lazer (ADL) por dia, num total de 26.681, refere o estudo publicado no “Boletim Epidemiológico Observações”, do INS.

O estudo obteve informação sobre o encaminhamento em 26.162 casos, 65% dos quais, após assistidos, tiveram alta, 24,7% foram referenciados para consulta, 5,4% tiveram necessidade de internamento hospitalar e 0,03% morreram.

“Independentemente do mecanismo da lesão subjacente ao ADL, a maioria das vítimas registadas no EVITA entre 2013 e 2015 teve alta para o exterior, sem necessidade de referenciação para seguimento posterior ou continuidade de qualquer tipo de cuidados”, refere o estudo.

No entanto, os dados revelaram que “mais de um terço das vítimas teve necessidade de continuidade de cuidados, através de consulta externa ou de internamento hospitalar”, salienta.

A referenciação do hospital para a consulta externa ou o encaminhamento para o médico assistente da vítima, é mais elevada nas mulheres (25,8%) que nos homens (23,8%). A predominância das mulheres observou-se também nas “situações mais complexas” que resultaram em Internamento (6,5%).

Em todos os grupos etários ocorreram situações de internamento hospitalar, embora numa proporção reduzida, sendo que aumenta partir do grupo etário dos 45 aos 54 anos, sendo o valor mais elevado observado no grupo com 75 e mais anos (16,5%).

O estudo constatou que acidentes provocados por “queimadura” e “esforço exagerado” foram os casos com maior necessidade de referenciação para avaliação clínica posterior (40,6% e 31,3%, respetivamente).

Observando a distribuição dos acidentes por “intoxicação” em comparação com os outros mecanismos da lesão, esta causa registou os valores mais elevados nos episódios de alta por abandono (10,9%) e nas situações com necessidade de internamento (9,0%).

“Dos ADL por queda 7,7% requereram internamento hospitalar, tendo-se verificado neste mecanismo as únicas situações de óbito reportadas por este sistema, no período em estudo”, sublinha o estudo.

Para caracterizar melhor o seguimento das vítimas, o estudo analisou as quedas, a causa mais frequente em Portugal dos acidentes, associadas aos locais onde ocorreu.

Os resultados mostram que 57,5% dos acidentes causados por queda em casa, tiveram alta para o exterior sem necessidade de qualquer referenciação, 27,4% foram referenciados para consulta, 10,1% necessitaram de internamento hospitalar e 0,1% morreram.

Revelam ainda metade dos casos de ADL ocorridos em escolas necessitaram de internamento.

Para os investigadores, “estes resultados ilustram a importância do EVITA como instrumento de monitorização dos ADL, permitindo a utilização dos resultados no apoio ao desenvolvimento ou ao reforço de medidas de prevenção”.

 

Estudo
Mais de 600 pessoas foram afetadas por surtos de intoxicação alimentar em cantinas e bares de escolas, cafés, restaurantes,...

De acordo com uma investigação do departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), hoje divulgada, em 2016, ano a que se referem os dados mais recentes, foram analisados 24 surtos que afetaram 629 pessoas, das quais 80 necessitaram de internamento hospitalar.

Segundo a investigação realizada, o tratamento térmico inadequado, abusos de tempo/temperatura, contaminações cruzadas e utilização de matérias-primas não seguras são os fatores que mais contribuem para a ocorrência de surtos de toxinfeções alimentares.

Relativamente ao local onde os surtos tiveram origem, ou seja, o local onde os alimentos foram consumidos ou tiveram lugar as etapas finais de preparação, quase a totalidade (96%) ocorreram em sítios públicos, com elementos de “mais do que uma família”.

Os locais onde ocorreram mais surtos foram instituições com residência (36%), cantinas/bares de escolas, colégios, infantários ou creches (21%) e estabelecimentos do tipo restaurante/café/hotel (17%).

O INSA adianta ainda que um dos surtos identificados teve origem em “amêijoas colhidas em zonas onde era proibida a apanha de bivalves para venda e para consumo” e que o surto com o número mais elevado de casos de doença associados teve origem em “mariscos variados cozidos”.

De 2012 a 2016 foram investigados laboratorialmente 67 surtos que resultaram em 1.815 intoxicações e 236 hospitalizações.

Desde 2010 que não há registo de óbitos em consequência de surtos de toxinfeções alimentares.

O boletim destaca a necessidade de “alertar o mais cedo possível” a autoridade de saúde para que esta possa “liderar o processo de investigação epidemiológica e ambiental e tomar as medidas adequadas para se efetuar uma análise de causas”.

O documento admite que este estudo representa apenas uma fração do número real de intoxicações ocorridas em Portugal.

O Departamento de Alimentação e Nutrição, em parceria com outros Departamentos do Instituto Ricardo Jorge e em colaboração com a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), notifica anualmente à European Food Safety Authority (EFSA) os dados dos surtos ocorridos em Portugal.

12 de maio – Dia Internacional do Enfermeiro
Hoje é o Dia Internacional do Enfermeiro, mas afinal o que é ser Enfermeiro?

Segundo o Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro a “Enfermagem é a profissão que, na área da saúde, tem como objetivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível.” - Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro.

É um profissional com reconhecidas competências científicas, técnicas e humanas que atua para substituir a competência funcional de uma pessoa que esteja totalmente incapacitada; ajudar a completar a competência funcional; orientar e supervisionar a mudança para estilos de vida saudáveis através de ações de formação e promoção de saúde; encaminhar em função dos problemas existentes identificados para os demais membros da equipa de saúde, quando os problemas não possam ser resolvidos só pelo Enfermeiro e ainda, avaliar os resultados obtidos com as suas intervenções junto da pessoa, família, grupo ou comunidade. Podemos afirmar que o Enfermeiro atua em redor de duas esferas que se interligam e o tornam único: a esfera mais técnica relacionada com o tratamento e a esfera mais humana, relacional e emocional preocupada com a pessoa como ser holística.

Um dos grandes desafios colocados na atualidade é de como se deve atuar com as alterações demográficas (inversão da pirâmide etária), altas hospitalares precoces, aumento de doenças crónico-degenerativas e maior grau de dependência.

É consensual a necessidade de incrementar os cuidados de saúde domiciliários. Deste modo, qual o papel do Enfermeiro nos cuidados prestados no domicílio? O Enfermeiro assume-se como mediador entre as necessidades e os recursos e o apoio técnico-cientifico e emocional da pessoa e da família. O cuidar no domicílio requer do Enfermeiro: a enfâse na educação para a saúde da pessoa e família; a avaliação da casa, para criar um ambiente favorável; a compreensão dos recursos da comunidade; a utilização da evidência para se adaptar aos cuidados em casa; a assumpção de um papel de advogado para capacitar a pessoa e a família; e que seja uma influência no sistema de cuidados de saúde.

Os Enfermeiros são os profissionais que cuidam a pessoa em toda a sua globalidade e complexidade, sendo os mais capacitados para este desafio de cuidar em casa, onde vários elementos (técnico-científicos e relacionais/humanos) estão interligados e influenciam a prestação de cuidados.

Deste modo, todo e qualquer cuidado domiciliário deverá ter o Enfermeiro como pilar na sua estrutura e organização.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Entrevista
No âmbito do Dia Internacional do Enfermeiro, o Atlas da Saúde esteve à conversa com Malam Turé, Enf

O que é a Hemofilia e qual a sua incidência?

A Hemofilia consiste num distúrbio da coagulação hereditário, onde existe uma deficiência orgânica congénita no processo da coagulação do sangue. Tem transmissão genética, ligada ao cromossoma X, e, por isso, aparece quase exclusivamente nos indivíduos do sexo masculino. Caracteriza-se pela ausência ou acentuada carência de um dos factores da coagulação

Quais as principais manifestações da doença?

Na hemofilia a coagulação é mais demorada ou inexistente provocando hemorragias frequentes, especialmente a nível articular e muscular. Por ser uma doença hemorrágica as principais manifestações são as hemorragias e consequentes hematomas a nível dos grandes músculos e a nível articular.

E quais a principais complicações?

A principal complicação tem que ver com a mobilidade: as hemorragias podem causar lesões articulares que influenciam a capacidade motora das pessoas com hemofilia. Tal pode trazer constrangimentos nos movimentos e na capacidade de andar, o que, por sua vez, afeta a rotina diária das pessoas com hemofilia – por exemplo, muitas vezes, devido a uma hemorragia espontânea a pessoa tem de se deslocar ao hospital, faltando aos seus compromissos, como o trabalho ou a escola.

Qual o tratamento indicado para esta coagulopatia? Qual a importância de uma profilaxia personalizada?

O tratamento da hemofilia consiste na substituição do fator em falta, nomeadamente o fator VIII no caso da hemofilia A e o fator IX no caso da hemofilia B.

A reposição do fator em falta pode realizar-se no momento de hemorragia clinicamente ativa, em resposta a uma hemorragia espontânea, ou pode ser feita de forma profilática, com a administração contínua e regular de fator, de forma a prevenir qualquer evento hemorrágico.

Na minha opinião a profilaxia personalizada é, atualmente, a melhor opção. Quando mais cedo for iniciada melhor, pois permite evitar as hemorragias espontâneas e consequentes complicações.

A personalização é fundamental porque cada caso é um caso e cada pessoa é uma pessoa. Fazer profilaxia 2 a 3 vezes por semana é o padrão, mas, por exemplo, imagine alguém com hemofilia A que tenha de fazer alguma atividade física. Antes de exercitar deve garantir que o fator está num nível que permite fazer o desporto em segurança, por isso, torna-se ainda mais relevante adaptar o seu tratamento à sua rotina, para que esteja protegido nos momentos chaves do dia onde precisa da proteção.

No âmbito desta temática, qual o papel do enfermeiro no atendimento/tratamento do hemofílico? Qual a sua importância? E quais os principais desafios?

Há mais de 30 anos que lido com hemofílicos e vejo que o acompanhamento da enfermagem é fundamental em complemento à parte médica. O enfermeiro está sempre presente na vida do hemofílico.

Nós, enfermeiros, acabamos por ser confidentes destes doentes, somos a proximidade e a família. Apoiamos todo o processo através de diálogo, empatia, esclarecimentos e preocupação. O enfermeiro tem um papel fundamental na autonomia do doente: ensinar, esclarecer e guiar os pais e doentes nos processos de administração do fator, mas também, de conservação, preparação e transporte da medicação.

O principal desafio é dar a autonomia que a pessoa precisa. Por exemplo, uma família que tem receio de ir de férias com o filho hemofílico, é necessário confortá-la e prepará-la para que compreenda que a doença não é um impeditivo.

Sabendo que, por exemplo, em ambiente hospitalar, não se deve utilizar medicação intramuscular e medicamentos que aumentem o risco de sangramento, quais os principais cuidados de enfermagem a um doente hemofílico?

Isto é muito relativo, pois conhecendo a doença e as situações onde é necessário utilizar medicação intramuscular conseguimos suprir esse risco. Por exemplo, se um doente chega a uma urgência porque tem uma amigdalite e um médico aconselha fazer uma penicilina – sendo um doente hemofílico antes dessa injeção deve fazer o fator. Aí, a equipa de enfermagem faz o fator antes da injeção e reduz o risco e a gravidade de sangramento.

Como podem ser prevenidas as hemorragias? E como são tratadas as crises hemorrágicas?

As hemorragias espontâneas são prevenidas através da profilaxia feita com base num estudo farmacocinético. Já as crises hemorragias devem ser tratadas administrando o fator em falta.

Na sua opinião, os profissionais da área da saúde estão devidamente informados/sensibilizados para os cuidados a ter com estes doentes?

Nem todos. Estamos a falar de uma doença rara que tende a ser acompanhada em centros de referência. Por isso, penso que fora destes centros de referência, como por exemplo em centros de saúde, a sensibilidade seja mais reduzida.

O que poderia melhorar?

Ao nível da medicação a indústria farmacêutica já tem produtos muito bons que, quando conjugados com testes farmacocinéticos e em cumprimento com as indicações que o médico faz sobre profilaxia, permitem à pessoa com hemofilia ter qualidade de vida e viver com zero hemorragia. No que respeita a toda comunidade, poderíamos melhorar a divulgação de informação sobre hemofilia – em escolas, em centros de saúde e outros hospitais.

Neste âmbito, que conselhos úteis gostaria de deixar? Não só aos doentes e suas famílias, mas também aos profissionais e população em geral…

Aos hemofílicos, aconselho que nunca deixem ou descuidem a profilaxia. Aos profissionais, aconselho a aposta na formação contínua para conhecermos melhor a doença e podermos dar um apoio cada vez melhor à comunidade.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Recusa do Estado
Os beneficiários da ADSE que não pagam contribuição por terem pensões menores do que o salário mínimo devem continuar isentos,...

Num parecer emitido na quinta-feira, o Conselho Geral e de Supervisão da ADSE defende que o custo com os beneficiários isentos deve ser suportado pelo Orçamento do Estado e considera que “não é aceitável a recusa do Estado em subsidiar as contribuições dos atuais isentos”.

A isenção dos detentores de pensões inferiores ao salário mínimo nacional foi proposta em 2006 pelo Governo, quando financiava maioritariamente a ADSE. Atualmente, a ADSE é totalmente financiada pelos beneficiários.

A isenção abrange atualmente mais de 17 mil beneficiários titulares, a que acrescem quase 3.500 beneficiários familiares, com uma despesa total anual de mais de 30 milhões de euros, segundo as contas do Conselho Geral e de Supervisão.

Este órgão da ADSE não entende a recusa do Estado em subsidiar as contribuições dos beneficiários isentos, alegando que a proposta apresentada apontava para um valor de cerca de 40% do total das despesas dos beneficiários (13 milhões de euros a pagar pelo Estado e mais de 17 milhões a pagar pelos restantes beneficiários da ADSE).

Como não há decisão do Estado em subsidiar os beneficiários isentos na sua contribuição para a ADSE, o Conselho Geral diz que deve ser definido em diploma legal que “nenhum beneficiário titular pode pagar menos que 3,5% da pensão”, terminando a isenção para novos beneficiários.

Mantém-se, contudo, a isenção para os beneficiários que já se encontram isentos, mas “sem prejuízo de exigir ao Estado um pagamento equivalente à ADSE desde 2015”.

 

Amanhã assinala-se o Dia Mundial da Fibromialgia
A presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia (APDF) apelou aos doentes para denunciarem os médicos que não...

Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Fibromialgia, Fernanda Neves de Sá disse à agência Lusa que este ano a data tem um significado especial para os fibromiálgicos, porque finalmente foram reconhecidos como doentes.

“Este ano é muito especial, muito importante, porque, pela primeira vez, no nosso país, os doentes fibromiálgicos vão viver o seu dia mundial, sendo considerados finalmente como doentes, o que até agora não acontecia”, afirmou.

Para o reconhecimento da doença, que atinge mais de 300 portugueses, foi fundamental a publicação no final de 2016 da “norma de abordagem diagnóstica da fibromialgia” da DGS, onde estão inseridos todos os pontos de diagnóstico, a forma como os doentes devem ser diagnosticados, acompanhados, e as bases científicas que levaram à sua elaboração, disse Fernanda Neves de Sá.

“Portanto, aqueles médicos que ainda ousam dizer que é uma doença que não existe, que é uma doença psiquiátrica, que é da imaginação da pessoa, etc. todos esses médicos estão sujeitos a sanções porque são obrigados a cumpri-la”, salientou.

A associação aconselha os doentes a denunciarem estas situações. Já há auditorias a decorrer, mas “infelizmente também são muito poucos os doentes que ao ouvirem-se insultados, ao ouvirem o médico que têm à sua frente dizer ‘isso não é doença nenhuma’, ‘vá para casa’, ‘vá ao psiquiatra’ ou ‘vá passear’”, apresentam queixa.

“Nós aconselhamos, insistimos para as pessoas escreverem para a Entidade Reguladora da Saúde ou para a Direção-Geral da Saúde, para haver as devidas participações dos doentes contra esses médicos que não os sabem receber e desconhecem a norma existente, mas acontece uma coisa: os doentes têm medo”, lamentou.

Fernanda Neves de Sá contou que estes doentes “ainda vivem debaixo do medo e da vergonha e escondem que são fibromiálgicos”, tendo “vergonha daquilo que ouvem dos próprios médicos”.

Os clínicos têm que “conhecer e cumprir a norma e a DGS tem que atuar de uma forma forte sobre os médicos incumpridores” e "tem que que haver o máximo de esclarecimento também da DGS, que já está pronto, sobre as normas terapêuticas", defendeu.

Por outro lado, os médicos de família estão “pouco informados e nem se interessam” e, perante as queixas dos doentes de dor, o maior sintoma da fibromialgia, que pode afetar uma grande parte do corpo, reencaminham-nos para a consulta da dor.

Para a presidente da associação, um doente fibromiálgico não deveria ser tratado apenas por um médico: “É uma patologia que deveria ser tratada de uma forma multidisciplinar a começar pelo médico de família, que devia ser o primeiro a dar apoio ao doente, começando pela parte afetiva”.

“A partir daí poderá haver o apoio de um neurologista, de um reumatologista e de um médico de medicina interna porque a fibromialgia afeta drasticamente muitos órgãos internos”, sustentou.

A fibromialgia caracteriza-se por dores neuromusculares difusas, fadiga, perturbações do sono e distúrbios emocionais. Alguns doentes queixam-se de perturbações gastrointestinais.

As estimativas apontam para que a fibromialgia possa atingir cerca de dois por cento da população adulta portuguesa, sendo que as mulheres são cinco a nove vezes mais afetadas do que os homens por esta doença que se inicia, em regra entre os 20 e os 50 anos

 

Ministro da Saúde
O ministro da Saúde disse hoje que é normal haver reuniões de responsáveis hospitalares apenas com elementos do Ministério das...

Adalberto Campos Fernandes reagiu desta forma a notícias do Jornal de Notícias e do Público que dizem hoje que “as Finanças afastam Saúde” de reforma sobre a organização dos serviços de pediatria no Norte do país.

Segundo os jornais, nas últimas semanas administradores de hospitais do Porto foram chamados a reuniões no Ministério das Finanças que decorreram sem a presença de qualquer representante do Ministério da Saúde.

Em declarações aos jornalistas no final de um debate parlamentar, o ministro Adalberto Campos Fernandes diz que há uma “exploração mentirosa do que é uma rotina normal” e indica que é normal haver reuniões técnicas de responsáveis hospitalares apenas com elementos do Ministério das Finanças.

“Como existem dezenas ou centenas só com a Saúde”, afirmou, lembrando que os hospitais EPE têm uma tutela partilhada entre a Saúde e as Finanças.

O Ministério das Finanças afirma, por seu turno, em comunicado, que não comenta “reuniões de trabalho que eventualmente possa ter ou ter tido com entidades sob sua direção, tutela, superintendência, sobre as quais exerça a função acionista ou que lhe estejam adstritas, nos termos legais”.

Sublinha ainda que lhe “cabe avaliar o investimento público o que, feito com rigor e responsabilidade, implica um adequado conhecimento das condições em que esse investimento é realizado”, sublinhando que este trabalho é feito sempre em estreita coordenação com as tutelas setoriais.

 

 

 

Barriga de aluguer
O sonho de adolescência de ser pai levou Miguel a procurar na internet uma mulher que estivesse disposta a ser barriga de...

Miguel (nome fictício) sempre planeou ter filhos. Cedo encontrou uma pessoa por quem se apaixonou e com quem ainda vive, mas o facto de ser gay parecia afastar a hipótese da paternidade.

Hoje, com 33 anos, o lisboeta recorda os meses que passou em frente ao computador na esperança de descobrir uma solução.

“Encontrei empresas de barrigas de aluguer que trabalhavam com mulheres no Brasil e na Índia, mas os preços eram proibitivos para mim”, admite, lembrando que os processos podiam ficar entre 50 mil a 100 mil euros. Valores difíceis de alcançar quando se tem 29 anos.

Além disso, Miguel teria de se deslocar ao estrangeiro, mas os obstáculos nunca foram suficientes para o fazer desistir.

“Entrei em fóruns de mães para mães, ‘sites’ de grávidas, até que encontrei ‘links’ de mulheres que se ofereciam para serem barrigas de aluguer, mas era tudo muito escondido”, recorda.

Sabia que tinha optado por uma solução ilegal e o medo esteve sempre presente desde o primeiro dia que contactou a primeira mulher. “Uma pessoa nunca sabe se é mesmo alguém interessado em ser barriga de aluguer ou se é algum tipo de investigação para desmontar estes esquemas”.

Mesmo assim, o sonho de ser pai falou sempre mais alto. “Contactei várias mulheres, mas nenhuma me inspirava confiança”, conta, até que finalmente encontrou alguém em quem decidiu apostar o destino.

Depois de algumas conversas na ‘net’ combinaram um encontro numa esplanada de um café do Parque das Nações. Mesmo temendo tratar-se de uma cilada, Miguel encontrou-se com a mulher, que uns meses mais tarde também lhe confessou que esteve sempre receosa.

“Na altura colocámos os telemóveis em cima da mesa e ambos estávamos com medo que o outro estivesse a gravar a conversa”, recorda, agora sorridente.

Na sua cabeça o plano já estava todo delineado: iriam simular que eram um casal com problemas de fertilidade para conseguir fazer inseminação artificial.

Miguel daria 20 mil euros a Teresa (nome fictício) que, em troca, lhe entregaria o filho e assinaria um acordo em que passava a guarda da criança para o pai.

Um hospital privado em Lisboa foi a escolha do casal. Depois das tradicionais consultas de ginecologia, seguiu-se um batalhão de exames que acabou por confirmar que nenhum tinha problemas de fertilidade.

No entanto, foram encaminhados para uma consulta de Procriação Medicamente Assistida (PMA).

Apesar de ter criado uma relação de amizade com Teresa, o sentimento de medo nunca desapareceu. Mas agora, o receio era que a amiga viesse a reclamar os direitos da criança.

Durante as várias tentativas de engravidar, Miguel viveu em grande ansiedade, um sentimento que só partilhava com o namorado. “Nunca ninguém soube de nada”, recorda, lembrando que nos seus planos os pais só seriam informados quando o projeto se concretizasse.

Até que uns meses mais tarde sentiu necessidade de desabafar e acabou por contar a um amigo, em quem confiava e sabia que não o iria julgar.

Teresa nunca conseguiu engravidar e Miguel acabou por desistir do processo. Três anos passados, mantém o sonho de ser pai, mas agora admite que poderá começar por adotar uma criança e, quando a situação financeira o permitir, recorrer a uma empresa de barrigas de aluguer, tal como fez um seu amigo, que vive na Holanda.

Curiosamente, os processos correram mais ao menos ao mesmo tempo e ambos em segredo. “Enquanto eu tentava ser pai em Portugal, ele contactou uma empresa, foi até aos Estados Unidos e teve um filho, que hoje tem três anos. Gastou 110 mil euros”, conta.

Em Portugal, as barrigas de aluguer são proibidas. Até há poucos dias era permitido apenas às mulheres que não podiam ter filhos, por ausência de útero, recorrer a uma gestante de substituição, mas nunca poderia haver dinheiro envolvido. A 24 de abril, a lei de gestação de substituição foi considerada inconstitucional.

Para Miguel, quando a lei de gestação de substituição entrou em vigor, há dois anos, “foi como ver uma luz ao fundo do túnel”.

“Sei que era só para mulheres sem útero, mas estas mudanças têm de começar sempre por algum lado. É uma evolução no meu país”, defende.

Gestação de substituição
Uma empresa de barrigas de aluguer, prática proibida em Portugal, vai abrir um escritório em Lisboa, que promete realizar o...

A empresa Tammuz, criada há dez anos em Israel, quer agora instalar-se em Lisboa, juntando-se a outras que já operam no mercado português mas apenas ‘online’. Em declarações à Lusa, o administrador da empresa israelita, Roy Nir, garante que tudo será legal.

Em Portugal, as barrigas de aluguer são proibidas. Até há poucos dias era permitido apenas às mulheres que não podiam ter filhos, por ausência de útero, recorrer a uma gestante de substituição, mas nunca poderia haver dinheiro envolvido. A 24 de abril, a lei de gestação de substituição foi considerada inconstitucional.

Na Tammuz, as mulheres que aceitam ser barrigas de aluguer são remuneradas e qualquer pessoa, independentemente do seu estado de saúde, pode recorrer aos seus serviços.

A ideologia da empresa é simples: “Todos têm direito a ter uma família”, desde casais heterossexuais ou homossexuais, mulheres ou homens sozinhos, conta o administrador.

“Ajudámos a criar mais de 750 famílias [numa década]”, referiu.

“Vamos receber, com muito prazer, toda e qualquer pessoa que queira fazer o processo fora de Portugal. Não vamos fazer nada em Portugal, porque a legislação portuguesa nem sequer possibilita a opção das agências”, conta Roy Nir.

O administrador explica que o espaço físico que vai abrir em Lisboa servirá apenas para que as pessoas se sintam mais seguras e confiantes no momento de iniciar um processo que “tem muito dinheiro e muita emoção envolvidos”.

É na Ucrânia e nos Estados Unidos da América (EUA) que nasce a grande maioria destes bebés.

Segundo Roy Nir, para serem barrigas de aluguer, as ucranianas recebem entre 20 mil a 22 mil euros e as norte-americanas cerca de 50 mil dólares (cerca de 42 mil euros).

A escolha do país para avançar com o processo está relacionada com a legislação local: na Ucrânia só é permitido a casais heterossexuais casados e “a mulher tem de ter uma condição médica que não seja possível engravidar”, explica.

Já nos EUA o cenário é diferente: “Não há discriminação”. É ali que os casais gays realizam o sonho da paternidade.

Para estes casais, o processo pode custar o dobro do que custa a uma família heterossexual. É que ter um filho naquele país fica muito mais caro: as mulheres norte-americanas recebem muito mais para serem gestantes e os custos com serviços de saúde são muito mais elevados.

Roy Nir lembra que este é um processo muito complexo, já que é preciso uma dadora de ovócitos, uma outra mulher disponível para a gravidez, serviços clínicos, médicos e serviços jurídicos.

Mas o administrador garante que a empresa trata de tudo, desde o primeiro contacto dos clientes até ao dia em que regressam a casa com o filho.

Nos EUA, o processo começa com a seleção da mulher que será a barriga de aluguer. “Tem de haver um ‘match’”. Ou seja, quem sonha em ter um filho tem de encontrar uma mulher em quem confie e vice-versa. A distância faz com que se conheçam via Skype. Falam dos seus hábitos, da família, antecedentes. Quando há empatia, o processo avança. De contrário, procura-se uma nova barriga de aluguer.

Há, contudo, muito mais gente a querer ter um filho do que mulheres dispostas a serem barrigas de aluguer. Resultado: “Existe sempre um tempo de espera”, reconhece Roy Nir, garantindo que não costuma ultrapassar os três meses.

Roy Nir, que também é pai de duas crianças que nasceram há sete anos de duas barrigas de aluguer indianas, recorda que este processo é uma "verdadeira montanha russa de emoções", que começa com o receio de não encontrar ninguém de confiança, depois são nove meses de ansiedade sem nunca saber se a gravidez corre bem e, finalmente, o medo de as mulheres se recusarem a entregar o recém-nascido que carregaram durante a gestação.

Curiosamente, as mulheres que aceitam ser barrigas de aluguer também têm medo que os futuros pais rejeitem o bebé no momento do nascimento.

Sentimento por que passa a maioria dos envolvidos, segundo Roy Nir, mas sem razão de ser: “Nunca aconteceu. Não há casos”, garante, baseando-se num trabalho realizado por uma investigadora que estudou milhares de processos em Israel, onde as barrigas de aluguer são permitidas por lei há duas décadas.

Na maioria dos casos, os futuros pais mantêm as rotinas de sempre. A gravidez vai sendo acompanhada à distância, muitas vezes a milhares de quilómetros.

Durante os nove meses de gestação, os futuros pais vão sendo informados de tudo o que se passa. Alguns preferem ter uma ligação próxima com a gestante, enquanto outros optam por se manter afastados, fazendo apenas a viagem final para ir buscar a criança. Roy Nir explica que são formas de gerir um processo complicado.

“Ter uma gravidez a dez mil quilómetros de distância não é muito fácil”, sublinha o responsável da empresa, recordando que a ansiedade vivida até ao dia do nascimento dos seus filhos, Saar e Rotem, foi substituída pela realização de um sonho que tornou “a vida preenchida”.

Doença crónica
Viver com Fibromialgia é um desafio diário pois a intensidade de sintomas variam de dia para dia ou
Viver com fibromialgia

Comecei a sentir dores no corpo todo desde muito cedo, quando ainda era criança, porém na altura as dores eram associadas a dores de crescimento, obrigando-me a lidar com dores que não sabia explicar, o que possivelmente pode ter criado uma certa tolerância à dor durante muitos anos. As dores continuaram durante toda a minha adolescência, quando fiz os meus primeiros exames médicos, porém estava “tudo bem”, sem quaisquer alterações físicas, sendo aconselhado a tomar um analgésico quando as dores fossem mais fortes ou até mesmo insuportáveis, porém ficou sempre uma pergunta por responder: “e o que faço se a dor é constante e no corpo todo? Tomo analgésicos de minuto a minuto?”.

Fui vivendo com dor, por vezes tão intensa que se tornava impossível fazer simples e banais movimentos e atividades, como segurar um copo de água, falar ao telefone, vestir-me pela manhã, estar algum tempo sentado sem que pudesse tomar algo que me retirasse as dores, sem poder e conseguir explicar o que sentia à família, amigos e professores, pois a dor é invisível e apenas eu sabia o que sentia. Uma dor que assumia diversas formas no meu corpo ora como queimadura constante, ora como se o meu corpo se estivesse a rasgar por dentro, porém mesmo tomando o analgésico, a dor não passava e eu ia “habituando-me” à sua presença, em silêncio, pois não a conseguia mostrar, explicar.

Com o passar dos anos, e quando iniciei a minha carreira profissional como enfermeiro num hospital pediátrico de Lisboa, a dor foi-se tornando cada vez mais forte a certos movimentos, como um mal-estar constante e tão intenso, sendo que nessa altura comecei a sentir uma fadiga muito mais severa, que eu associava ao ritmo dos meus dias, como enfermeiro a trabalhar por turnos, o que podia condicionar o meu descanso. O descanso começou a ser alternado, sem ritmo e rotina certas, aumentando a minha fadiga, a minha dor, o meu sofrimento, porém não sabia o porquê e, mesmo trabalhando na área da saúde, não encontrava nenhuma explicação para tal quadro clínico, sendo que me era sempre dito que era pela falta de descanso (porque eu não parava, porque fazia muitas atividades!) Mas mesmo descansado, nada melhorava e até piorava para meu descontentamento e minha surpresa.

Voltei a procurar ajuda médica, procurando uma especialidade médica para cada sintoma (a Fibromialgia manifesta-se por muitos outros sintomas diferentes, que são transversais a várias doenças), tendo sido consultado em oftalmologia (pelo cansaço visual, a secura dos olhos, a visão turva e hipersensibilidade à luz), em gastroenterologia devido a estranhas e dolorosas manifestações intestinais e digestivas, em ortopedia fazendo imensos exames por causa das dores que eu considerava ósseas, em psicologia pois comecei a pensar que estava a ficar um pouco louco e que só podia ser tudo da minha cabeça, dado que todos os exames feitos nas diversas especialidades estavam todos com valores normais e eu, a ficar cada vez pior, com mais dores e fadiga.

Fui continuando a minha demanda por uma explicação sem sucesso, até que comecei a ler diversas informações na Internet e recordei que ainda não tinha ido a um reumatologista, faltava essa especialidade e assim, por minha conta, fui ao reumatologista tendo passado por dois reumatologistas diferentes, com diferentes diagnósticos sem que houvesse certezas médicas e eu ainda a querer saber o que tinha, porque me sentia tão mal. Fui consultado por um novo reumatologista, que após ver todos os meus exames realizados nos últimos tempos e realizar o exame físico, diagnosticou-me Fibromialgia, em 2014, que apesar de ser uma doença crónica sem cura, levou-me a pensar que se ia tornar muito mais fácil, agora que sabia o que tinha e havia um nome que representava todos os sintomas, todo o sofrimento.

Fui medicado pelo reumatologista e comecei a ler sobre a doença e eis que, para meu descontentamento e surpresa, percebi que a Fibromialgia não tem uma causa conhecida e que por isso, estava a fazer medicação utilizada em outras doenças, pois não existia nenhum medicamento só para a Fibromialgia e percebi que, iria continuar a viver à procura de algo, para controlar todos os meus sintomas, para diminuir esta dor, este sofrimento.

Com este diagnóstico, e devido aos sintomas e à medicação que fazia, tive que reestruturar toda a minha Vida, pois não me sentia seguro e confortável em alguns contextos. Dadas as minhas novas limitações tive que deixar de fazer turnos no hospital, passando ao horário diurno, que por um lado não seria o mais adequado, pois teria que me levantar muito cedo, diminuindo as horas de descanso, mas tinha que trabalhar e não podia parar, independentemente do que sentia em cada dia, das dificuldades em tomar banho, em vestir, em diminuir a rigidez, em controlar o cansaço.

A nível familiar quando contei o diagnóstico tive que ensinar a minha família sobre a doença: o que era, como se manifestava, qual o prognóstico e como seria o meu dia-a-dia, ao viver com dor crónica, sendo que fui e sou apoiado por todos eles, que entendem as minhas mudanças de humor, as alterações de rotina à última da hora, as vezes que recuso ir a determinados eventos, não por não querer ir, mas por não conseguir. O apoio da minha família tem sido vital nesta nova fase da minha vida, porém há que salientar que o mesmo não se passa com outras pessoas, cujas famílias não compreendem o que sentem e como vivem, intitulando os seu familiar de preguiçoso, dizendo que o que ele quer é não fazer nada, que não se nota na sua cara que está mal. Este é o verdadeiro viver de muitas pessoas com Fibromialgia, que se sentem sozinhos, desprotegidos, incompreendidos, pela sua família, aquele núcleo que deveria ser o seu pilar, a sua base, o seu alicerce.

A nível social tive que fazer grandes alterações quer das rotinas quer dos planos com os amigos, pois já não vivia com o mesmo ritmo, já não suportava determinados ambientes, o que me levou a recusar imensos convites para sair, para alguma atividade que me obrigasse a determinados movimentos, que eu sabia que não me iriam fazer bem, que iria ficar com mais dores e por isso fui-me isolando de todas as pessoas, centrando-me na minha dor e recusando viver com medo de sofrer ainda mais do que sofria no meu dia-a-dia.

Alguns amigos compreendiam o meu sentir e continuavam a incentivar-me a sair, a espairecer, a divertir, pois só me iria fazer bem e iria desfocar-me da dor, apreciando os bons momentos da vida, sabendo que a dor iria continuar, mas deixava de ser o centro das atenções da minha Vida. Aos poucos fui saindo mais, mas controlando os ambientes para onde queria ir, pois já não conseguia fazer noitadas, não aguentava muito tempo em locais fechados com muita luz e com muito ruído, não aguentava estar sentado ou na mesma posição muito tempo. De realçar que grande parte dos doentes com Fibromialgia se isolam do resto do mundo, com medo de sofrer mais, medo de se sentirem incompreendidos, dando início a um ciclo vicioso de tristeza e dor.

Viver com Fibromialgia é mais do que precisar do apoio de quem nos rodeia, para que não nos sintamos sós, para podermos desabafar, sendo também preciso recuperar os nossos recursos interiores, capacitando-nos para viver com algo crónico da melhor forma possível, com a maior qualidade de vida. Já que a doença é crónica é preciso que o nosso viver não seja crónico, permitindo-nos sentir felizes em determinado momentos, aceitando a nossa tristeza em outros momentos, pois todas essas emoções fazem parte de nós. Temos que alterar a nossa forma de pensar, sentir e viver, adequando-nos, adaptando-nos à nova realidade da nossa Vida, para que o nosso sofrimento não seja ainda maior, para que possamos sentir algum conforto.

Nesse sentido, o primeiro passo que vivi foi uma fase muito parecida com o luto, pois tive que me despedir do Ricardo saudável que não sentia dores, que não se sentia desgastado, para que pudesse lidar comigo mesmo tal como sou e me sinto agora, sendo que foi um processo muito doloroso, aceitar que me tornei num doente crónico, cuja aceitação só foi alcançada passados dois anos de diagnóstico. Para viver este processo de aceitação pedi ajuda a nível psicológico e iniciei terapia semanal e acompanhamento psiquiátrico, para que me ajudassem a lidar com a dor, a não desistir, a reconhecer as minhas capacidades de superação, motivação, resiliência, para não me fosse destruindo pouco a pouco, como estava a fazer consciente e inconscientemente e foi-me diagnosticada depressão major, outro diagnóstico com um peso emocional tão grande. A depressão não foi e nem é causada pela Fibromialgia, mas pode estar lado a lado pela nossa incapacidade de lidar com a dor, de conseguirmos sentir emoções positivas e pela diminuição da nossa autoestima, do nosso amor-próprio e pela nossa desesperança.

Tive que aprender a reconhecer os meus limites, a adequar o meu ritmo de acordo com o que eu pudesse fazer e nos contextos onde podia fazer e que não dependiam de outrem, reconhecendo que o meu ritmo é mais lento e que se não o respeitar irei sentir mais dor, ficar mais cansado. Reconhecer e respeitar os limites é compreender que não posso executar as minhas tarefas da mesma forma e com a mesma intensidade, como por exemplo algo tão prático como a limpeza da casa, cozinhar, precisando adaptar essas atividades ao meu ritmo, sem me culpar por não conseguir fazer o que fazia antes do mesmo modo. Ao respeitar os meus limites compreendi que não sou nenhum inútil, como muitas vezes me senti, mas que só assim me poderei sentir melhor e mesmo nos dias em que tenho que abusar, sei que no dia seguinte irei estar pior, mas não me posso culpar por fazer o que fiz, porque queria fazer.

Deixei de me culpar das vezes que dizia que não às pessoas, por saber o que era melhor para mim, mesmo que não me compreendam e emanem os seus conselhos em prol do nosso bem-estar, mas só eu sei o que me causa bem ou mal-estar, por isso digo não as vezes que forem necessárias, pois o que é mais importante é eu estar bem comigo mesmo, controlando os sintomas, controlando a dor, sabendo que não é de todo um processo fácil e simples, mas que é possível ir vivendo esse processo ao nosso ritmo, sem culpas, sem críticas, sem juízos de valor sobre a nossa pessoa e como vivemos.

Viver com Fibromialgia é sentir dor a cada momento, em todo o nosso corpo, é sentir um cansaço tão grande que nos limita o viver. É viver com inúmeros sintomas que interferem com a forma como nos sentimos e nos relacionamos, é passar pela incompreensão alheia (família, amigos, profissionais de saúde, colegas de trabalho), que olham para a nossa expressão física e acham que está tudo bem connosco, pois a dor não se vê, os outros sintomas não se vêem e, por isso, acham que podemos estar a fingir, a exagerar, mas só eu sei, e só nós sabemos!, o que é viver com dor, o que é viver com Fibromialgia, o que é ser um doente crónico.

Por isso, caro leitor, se vive com Fibromialgia ou conhece alguém que viva com esta doença, procurem o apoio de uma associação de doentes, com quem possam desabafar, deixar de sentir sós ao conversar com quem vive com a mesma doença, que consegue entender o sofrimento de quem está do outro lado, pois é nesta partilha e ajuda-mútua que podemos encontrar um porto seguro, falar de tudo o que sentimos, sabendo que não vamos ser julgados, sabendo que alguém nos está a ouvir.

Em Portugal pode procurar a associação Myos – Associação Nacional contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica, com sede em Lisboa e âmbito nacional, que tem serviço de apoio telefónico e presencial e que promove alguns grupos de apoio e diversas atividades: http://www.facebook.com/myos.portugal.

Não se esqueçam de sorrir, de tentar serem felizes, mesmo com dor, para que sejamos nós a controlar a nossa Vida e não a dor a controlar-nos a nós!

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Estudo
Resíduos químicos do tabaco podem ser absorvidos por paredes e roupa durante vários anos, avança um estudo publicado esta...

Os investigadores da Universidade de Drexel, em Filadélfia, nos Estados Unidos, provaram que os resíduos químicos do tabaco permanecem nas roupas e paredes interiores de edifícios durante vários anos.

Segundo o estudo, estas substâncias podem ser absorvidas pela pele, inaladas ou até ingerida décadas depois do fumo se ter dissipado.

O estudo foi publicado esta semana na revista científica Science Advances. "Isto mostra que, só porque estamos num ambiente não-fumador, não significa que não estejamos expostos ao tabaco", comenta Peter DeCarlo, especialista em química atmosférica e autor principal do artigo.

"Aquele carro onde entrou, aquele hotel onde esteve hospedado ou até a sala de aula onde não é permitido fumar há década podem estar sujeitos à presença de inúmeras substâncias", diz o investigador.

A descoberta aconteceu por acaso

Um estudante estava a investigar químicos presentes nas paredes de uma sala da universidade e descobriu um composto que não conseguia identificar. Tratava-se de resíduos de nicotina e fumo de tabaco. 

Segundo o estudo, o ar condicionado pode favorecer esta terceira dimensão do consumo de tabaco, ao espalhar os químicos tóxicos do tabaco através dos sistemas de ventilação.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o consumo de tabaco, na Europa, é responsável por um milhão e 200 mil mortes anuais, número que tende a ascender aos dois milhões. Em Portugal, o consumo de tabaco atinge cerca de 20 a 26% da população, com predomínio de três homens e meio para cada mulher.

As doenças cardiovasculares são duas a quatro vezes mais frequentes nos fumadores. Deixar de fumar é a medida preventiva mais eficaz para diminuir os riscos de enfarte do miocárdio, angina de peito, doença arterial periférica e acidente vascular cerebral, para além de vários tipos de cancro.

Um cigarro contém cerca de 4 mil substâncias com efeitos tóxicos e irritantes, 70 das quais cancerígenas segundo a OMS.

 

Relatório
Álcool e tabaco são de longe a maior ameaça ao bem-estar humano, entre todas as substâncias que causam dependência, indica um...

Utilizando a mais atual informação sobre álcool, tabaco e substâncias ilícitas, os autores do trabalho concluíram que em 2015 o uso conjunto de álcool e tabaco custou à globalidade da população mundial mais de 250 milhões de anos de vida saudável, aos quais se juntam mais algumas dezenas de milhões devido ao consumo de drogas ilícitas.

De todas as substâncias, a que tem um maior peso na saúde humana é o tabaco, sendo as drogas ilícitas que têm o menor peso. Estimativas globais sugerem que quase um em cada sete adultos (15,2%) fuma tabaco e um em cada cinco relata pelo menos um consumo de álcool em grande quantidade no último mês.

Comparando com o resto do mundo, a Europa Central, Oriental e Ocidental regista um maior consumo de álcool per capita e uma maior percentagem de consumos elevados. As mesmas regiões também detêm as maiores prevalências de tabagismo, embora o uso de drogas ilícitas seja muito menos comum: menos de uma em cada 20 pessoas usou canábis no último ano e os consumos estimados de anfetaminas, opiáceos e cocaína também são muito baixos.

Ao contrário, países como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia têm das mais altas taxas de dependência de drogas ilícitas.

O relatório, “Estatísticas globais sobre Álcool, Tabaco e uso de drogas ilícitas: relatório da situação 2017”, usa dados de instituições como a OMS e a ONU.

 

Conferência
O Grupo Inter-Religioso de Trabalho para as questões da Saúde (GTIR/Saúde), que reúne representantes de mais de uma dezena de...

Em comunicado o grupo adianta que a posição conjunta será tornada pública no final de uma conferência que decorre, na quarta-feira, na Academia das Ciências de Lisboa.

“Na Fragilidade e no Terminar da Vida Humana - Cuidar e Acompanhar até ao fim, com Compaixão” é o lema da conferência inter-religiosa que segundo os organizadores pretende contribuir para a reflexão que decorre na sociedade portuguesa sobre uma matéria que envolve áreas tão diferentes como a Antropologia, a Ética, o Direito, a Medicina e a Religião, entre outras.

No final da conferência, está prevista a leitura e assinatura de uma declaração conjunta sobre a morte assistida, que o GTIR/Saúde afirma ter a intenção de fazer chegar ao Presidente da República e ao Presidente da Assembleia da República.

O Grupo de Trabalho Inter-religioso para as questões da Saúde surge na sequência da aprovação pelo Estado Português do Decreto-Lei 253/2009 de 23 de setembro, que reconhece o direito dos doentes internados em estabelecimentos de saúde do Sistema Nacional de Saúde a serem assistidos espiritual e religiosamente por membros das suas comunidades religiosas de pertença.

Este grupo, que engloba as comunidades Islâmica, Israelita, Budista, Hindu e Bahá’í, as Igrejas Adventista, Ortodoxa e Católica, a Aliança Evangélica e o Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC), tem como objetivo acompanhar o processo de aplicação da nova regulamentação.

O parlamento vai discutir a 29 de maio os quatro projetos, do PAN, BE, PS e PEV, sobre a morte medicamente assistida.

Na terça-feira, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou que a igreja católica lançou 1,5 milhões de folhetos contra a eutanásia e em defesa da vida, destinados a promover uma discussão "serena" e não uma luta ou campanha.

O desdobrável, que começou a ser distribuído há cerca de uma semana, resume "em quatro ou cinco questões mais incisivas" selecionadas para nele constarem, um outro documento com perguntas e respostas sobre a eutanásia, anteriormente preparado pela CEP.

De acordo com o porta-voz da CEP o desdobrável está a ser distribuído em dioceses paróquias e instituições diversas "não só da Igreja", para que "chegue o mais possível" às pessoas e estas "tenham mais um elemento de esclarecimento" das convicções da igreja católica "que é a de defesa da vida", reafirmou.

 

Boletim Polínico
Os níveis de pólen no ar vão estar muito elevados em praticamente todo o país, exceto na Madeira e nos Açores, durante os...

Entre sexta-feira e quarta-feira, em Trás-os-Montes e Alto Douro, vão predominar na atmosfera os pólenes de árvores como carvalhos, pinheiros, e bétulas, bem como de ervas gramíneas, parietárias e azedas, indica o Boletim Polínico da SPAIC.

Em Entre Douro e Minho o alerta é muito semelhante. Acrescem os pólenes de urtiga, e tanchagem.

Na Beira Interior há a acrescentar o pólen de oliveira e na Beira Litoral espera-se também uma grande concentração destes pólenes.

A região de Lisboa e Setúbal está na mesma situação e no Alentejo haverá igualmente um nível muito elevado de pólen de sobreiro.

Para o Algarve, há a assinalar uma grande concentração na atmosfera de pólen de quenopódio, além dos que são indicados para as outras regiões, adianta o boletim da SPAIC.

Na Madeira, os níveis de pólen estarão baixos e nos Açores moderados.

 

 

Prestação de cuidados
O Ministério da Saúde e a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) vão estabelecer “um novo compromisso de...

Segundo disse à agência Lusa o presidente da APDP, José Manuel Boavida, este compromisso será assinado na próxima segunda-feira entre a associação, todas as administrações regionais de Saúde e a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

O acordo deve ter início em janeiro de 2019 e estender-se a 31 de dezembro de 2023 e permite que a APDP continue a prestar cuidados às pessoas com diabetes, desde consultas a tratamentos ou exames.

Segundo José Manuel Boavida, a associação ajuda a cuidar de cerca de 50 mil pessoas com diabetes, doença que em Portugal afeta mais de um milhão de pessoas.

O principal acordo que a associação tem firmado é com a Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo, mas o novo compromisso vai ainda “normalizar os acordos” com a região do Alentejo e do Algarve.

Com a zona Centro, o novo compromisso de cooperação servirá sobretudo para dar apoio a pessoas das áreas de Castelo Branco e Covilhã, zonas com “grande carência”, e com população que tem os familiares essencialmente em Lisboa.

Com a zona Norte, o acordo servirá fundamentalmente para dar apoio em situações pontuais.

“No fundo, a preocupação da Associação é manter e assegurar os serviços que temos prestado e criar condições para respondermos com mais proximidade”, afirmou à Lusa o presidente da APDP.

José Manuel Boavida considera fundamental “um compromisso para reforçar a integração da APDP no Serviço Nacional de Saúde”, lembrando que 85 a 90 por cento das pessoas a quem são prestados cuidados na Associação são utentes do SNS.

Por dia, a diabetes é diagnosticada a cerca de 200 novos doentes. A prevalência estimada da diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de indivíduos) é de 13,3 por cento, isto é, mais de um milhão de portugueses.

A este número juntam-se mais de dois milhões de pessoas com pré-diabetes. Esta é uma doença crónica com elevada incidência nos subtipos 1 e 2 que, apesar dos múltiplos investimentos ao nível do diagnóstico precoce e dos avanços terapêuticos, continua a envolver elevados custos económicos, sociais e humanos, lembra a APDP.

LES é uma doença rara na infância
Estima-se que, em Portugal, existam cerca de 4 mil pessoas com Lúpus, uma doença auto-imune de causa

O Lúpus Eritematoso Sistémico é uma doença rara na infância, sobretudo na primeira década de vida. No entanto, há casos de início muito precoce, estimando-se que atinja 1 criança em cada 200 mil ainda antes dos 16 anos.

“As manifestações clínicas são semelhantes às do adulto, embora na infância seja mais frequente uma apresentação aguda, por vezes com febre, alterações do estado geral e envolvimento multiorgânico”, começa por explicar Maria José Santos, reumatologista do Hospital Garcia de Horta, referindo que as manifestações cutâneas e articulares estão entre as que mais atingem as crianças. “No entanto, o envolvimento renal, hematológico e neurológico é mais comum no lúpus juvenil, comparativamente à doença iniciada na idade adulta”, acrescenta.

Tratando-se, esta, de uma doença heterogénea e que pode simular outras patologias, os sintomas podem variar muito de caso para caso, dificultando o diagnóstico. Foi o que aconteceu a Ana Carolina que, só após várias análises e uma biopsia, ficou a saber que sofria da doença. Tinha nove anos.

“Inicialmente foi diagnosticada uma simples alergia”, recorda acrescentando que a retenção de líquidos, o cansaço extremo e a presença de várias feridas nas mãos e nariz eram as principais queixas. 

De acordo com a especialista, Maria José Santos, o seu diagnóstico tem por base as manifestações clínicas da doença e algumas alterações laboratoriais específicas, como a “diminuição de glóbulos brancos, particularmente dos linfócitos, diminuição das plaquetas, anemia hemolítica, diminuição das frações C3 e C4 do complemento e alterações do sedimento urinário”.

Por outro lado, “é importante documentar a presença de auto-anticorpos, nomeadamente de anticorpos antinucleares (ANA), anti-DNA ou anti-Sm”.

Quanto ao tratamento, e uma vez que esta é uma doença crónica que evolui por surtos, não há um tratamento único e igual para todos os doentes. “Há que ter em conta as manifestações clínicas e a sua gravidade e adotar as medidas terapêuticas mais apropriadas a cada momento”, afirma a reumatologista.

“Existem contudo alguns princípios transversais a todos os doentes, tais como evitar a exposição solar, adotar estilos de vida saudáveis e manter uma vigilância regular de modo a detetar e tratar atempadamente qualquer exacerbação da doença”, refere acrescentando que os medicamentos anti-palúdicos "são úteis e seguros na generalidade dos casos”, embora, por vezes, seja necessário recorrer a corticosteróides, imunossupressores e/ou a medicamentos biológicos para tratamento das formas mais graves da doença.

Ana Carolina chegou a fazer ciclos de quimioterapia para tentar controlar a doença. “Depois fiz tratamento via oral, durante dois anos, e também medicação para a tensão, estômago, dores articulares, diuréticos… No total chegaram a ser 20 comprimidos diariamente”, comenta a jovem, hoje com 19 anos.  

“O primeiro ano foi o mais crítico”

Para Ana Carolina o primeiro ano após o diagnóstico foi o mais difícil, passando por várias alterações e restrições no seu dia a dia.

“No início, muitas mudanças existiram. Depois de estabilizar, o primeiro ano foi o mais crítico, onde todo o cuidado era pouco. As restrições alimentares e as restrições aos esforços foram as maiores alterações que me vi obrigada a fazer”, recorda, admitindo que as dores articulares foram o que mais a condicionou na época. Por outro lado, o cuidado com a exposição solar levou-a a estar em casa durante o verão, ao contrário do que seria de esperar de uma criança da sua idade. “No primeiro ano, foram raras as vezes que saí de casa…”, afirma.

“Depois aos poucos, e com muitas precauções”- como o uso de um protetor solar e chapéu -, passou a enfrentar o sol só e apenas depois das horas de maior calor.

Ainda assim, mesmo não desfrutando em pleno da sua infância, Ana afiança que apesar das dificuldades nunca se deixou abater. “Graças a Deus, a minha família sempre me fez pensar que eu era forte e que eu conseguia passar por cima”, justifica.

“Além de todos os cuidados mencionados anteriormente, há que ter particular atenção ao desenvolvimento da criança, quer do ponto de vista físico, psíquico, mas também à sua integração na família e na sociedade”, explica Maria José Santos.

Como qualquer doença crónica, o Lúpus exerce um enorme impacto na vida do doente, sobretudo no doente jovem. “Acresce que alguns medicamentos para tratar o Lúpus podem interferir com o crescimento, associar-se a aumento de peso e alterações da imagem corporal, com graves problemas de autoestima. Há que educar a criança/o jovem sobre o que pode esperar desta doença e aprender a lidar com ela. O envolvimento da família e da escola são pilares fundamentais neste processo”, reforça a reumatologista.

“Importa ter força para encarar tudo isto e pensar que é apenas um mau bocado que, daqui a uns dias, já tudo estará a voltar ao normal. Todos somos uns guerreiros por todos os dias que vivemos. Viver com Lúpus não é fácil”, afirma a jovem que encontrou na Associação de Doentes com Lúpus (ADL) um porto de abrigo.

As causas da doença permanecem desconhecidas. No entanto, a patologia parece estar relacionada com condições que dão origem a uma certa predisposição para a doença. Estas causas ou fatores podem ser de ordem genética, hormonal ou ambiental.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Estudo
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) identificou padrões alimentares das crianças que...

A investigação, a que a Lusa teve hoje acesso, analisou os padrões alimentares (que quantificam o efeito cumulativo e de interação dos vários alimentos e nutrientes) de cerca de 4.300 crianças com quatro anos de idade da coorte Geração XXI - projeto iniciado em 2005, que acompanha o crescimento e o desenvolvimento de mais de oito mil crianças da cidade do Porto.

Gabriela Albuquerque, primeira autora do estudo, coordenado por Andreia Oliveira, disse que “foram previamente identificados três padrões alimentares aos quatro anos: um saudável, um outro designado de ‘snacking’ e um padrão de consumo de alimentos densamente energéticos”.

As crianças com o padrão saudável consumiam mais fruta, hortícolas e peixe e menos alimentos densamente energéticos, como batatas fritas, ‘pizza’, hambúrgueres, doces, refrigerantes, queijo e carnes vermelhas e processadas.

Já aquelas que praticavam um padrão ‘snacking’ comiam mais fora das refeições principais (almoço e jantar) e apresentavam um elevado consumo de ‘snacks’, incluindo alimentos saudáveis e pouco saudáveis - leite, iogurte, batatas fritas, salgados e doces.

“Verificámos que, em comparação com as crianças que aos quatro anos comiam de forma saudável, as que praticavam padrões menos saudáveis, como o ‘snacking’ e o padrão densamente energético, desenvolviam comportamentos alimentares mais problemáticos relacionados com a restrição do apetite ou mesmo desinibição do apetite aos sete anos”, explicou a investigadora.

O estudo mostrou que as crianças que se encaixavam no padrão ‘snacking’ desenvolviam posteriormente restrição do apetite, ou seja, eram mais seletivas a comer, mais lentas e tinham menos prazer pela comida.

Já aquelas que aos quatro anos se encaixavam no padrão “alimentos densamente energéticos”, aos sete apresentavam desinibição do apetite, comportamento que se caracteriza por um apetite excessivo, pelo consumo de alimentos em função de estímulos externos e estados emocionais e pelo elevado desejo de bebidas, nomeadamente refrigerantes e sumos.

“Constatámos que as crianças que tinham tanto um padrão ‘snacking’ como densamente energético apresentaram, mais tarde, comportamentos alimentares que não eram os desejáveis, quer por terem um apetite excessivo ou diminuído às refeições”, sublinhou Gabriela Albuquerque.

Um outro resultado da investigação associa o índice de massa corporal (IMC) das mães, antes da gravidez, com os hábitos alimentares dos filhos.

Apurou-se que as crianças que seguiam uma alimentação à base de ‘snacks’ e que eram filhos de mães que apresentavam peso normal ou baixo antes da gravidez, tinham um maior risco de desenvolver restrição do apetite mais tarde. Encontrou-se também uma associação entre o padrão ‘snacking’ e a desinibição do apetite em crianças cujas mães tinham excesso de peso ou obesidade antes da gravidez.

“A existência de hábitos alimentares inadequados no seio familiar, eventualmente associados ao peso, como por exemplo o consumo frequente de doces e alimentos ricos em gordura, poderá potenciar comportamentos alimentares desajustados na criança, os quais se traduzirão mais tarde numa desregulação do apetite”, salientou.

Os investigadores sublinham a importância de envolver pais e crianças em intervenções de educação alimentar que ajudem a fomentar hábitos alimentares saudáveis desde cedo, transversais a toda a família. Estes serão promotores de comportamentos alimentares e de “um apetite saudável” durante a infância e ao longo da vida.

O estudo, publicado na revista Clinical Nutrition, designa-se “Dietary patterns at 4 years old: Association with appetite-related eating behaviours in 7 year-old children”. É também assinado pelos investigadores Carla Lopes, Catarina Durão, Milton Severo e Pedro Moreira.

 

DGS
O surto de sarampo ligado ao Hospital de Santo António, no Porto, está controlado, anunciou hoje a diretora-geral da Saúde,...

“Estamos neste hospital [de santo António] para anunciar que, passados dois meses (…) que soubemos dos primeiros dois casos, que foi possível controlar o surto de sarampo ligado a este hospital”, afirmou Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde disse que, até ao momento, há 111 casos de sarampo confirmados ligados a este surto na região norte, referiu que “ainda há 24 casos em investigação”.

“Uma ótima notícia é que, apesar de termos tido este surto, de acordo com os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), nós vamos continuar a manter o estatuto de país com a doença eliminada, ou seja, um país que, apesar de ter importado casos, ter tido cadeias de transmissão e ter tido um surto com alguma dimensão, foi capaz de o controlar e não tornar a doença outra vez endémica”, afirmou.

 

Reações
O presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro manifestou-se hoje muito preocupado com a hipótese de o Hospital de Santa Maria...

A hipótese da lista de espera para tratamento de doentes com cancro foi hoje admitida pelo diretor do serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que numa entrevista à rádio TSF diz que já na semana passada adiou tratamentos por falta de meios para responder à crescente procura.

Questionado pela Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, recorda que já tinha sido noticiada a existência de listas de espera para cirurgia nestes doentes, mas que se o mesmo acontecer aos tratamentos “pode fazer a diferença entre a cura e a curta sobrevivência”.

“O adiamento de tratamentos e o aumento das listas de espera de cirurgia [oncológica] pode fazer a diferença entre uma cura e uma sobrevivência pequena e com má qualidade de vida”, sublinha Vítor Veloso.

O responsável frisa ainda que esta situação decorre da falta de alocação de meios para a crescente procura provocada pela possibilidade de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e diz que se os hospitais do interior tivessem meios os doentes não teriam de recorrer sempre aos grandes hospitais do litoral.

“Os hospitais do interior, que poderiam perfeitamente tratar [estes doentes], deviam ser devidamente apetrechados não só em recursos humanos, mas em material pesado. Isto desviaria os doentes de acorrerem aos hospitais mais especializados que tem tratamentos de ponta”, afirmou.

“O facto de o doente poder escolher o hospital é altamente vantajoso. O erro que se tem vindo a cometer (…) é a falta de alocação de meios. É que 80% de todos os serviços especializados de oncologia estão junto do litoral”, acrescentou.

Na entrevista à TSF, o diretor do serviço de Oncologia de Santa Maria diz também que tem aumentado a procura [deste serviço] por causa da regra que desde 2016 permite ao doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos.

“Estou quase a abrir [lista de espera] porque não tenho médicos para tantos doentes nem tenho espaço. (…) Começámos na semana passada, não conseguimos tratar os doentes que estavam previstos e tivemos que adiar [os tratamentos] uma semana”, afirmou Luís Costa.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro sublinhou igualmente a “incapacidade de o Ministério da Saúde libertar verbas” para contratar mais profissionais de saúde para acautelar todas as situações uma vez que “o Ministério das Finanças não desbloqueia essas verbas”.

O responsável disse ainda que a Liga está a fazer um levantamento da atual situação dos serviços de oncologia no país junto dos conselhos de administração dos hospitais e que mal sejam conhecidos estes dados tomará uma posição.

 

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