No Algarve
A formação de profissionais para enquadrar e responder a comportamentos atípicos, que podem indicar problemas de...

Júlia Vinhas, psicóloga clínica e coordenadora da unidade de Setúbal do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (CADIn), explicou que, além do apoio prestado com consultas médicas e processos de avaliação, o Centro tem também, como objetivo, a formação e a ação que se vai realizar na Universidade do Algarve, que inclui ‘workshops’ sobre temas como a aprendizagem específica ou conferências, que abordam perturbações do neurodesenvolvimento.

“Sentimos necessidade, tendo o CAdin como uma das áreas de missão e de foco a formação, de ir ao Algarve passar um bocadinho dos nossos conhecimentos e da nossa experiência clínica ao nível das áreas do neurodesenvolvimento”, afirmou a coordenadora da unidade de Setúbal, sublinhando que costuma também atender pessoas do Algarve, que procuram o Centro.

A mesma fonte precisou que, na sexta-feira, vão ser realizados “dois ‘workshops’ sobre legislação especial e sobre necessidade de aprendizagem específica, relacionadas com intervenção em contexto escolar”, enquanto o sábado é destinado “às conferências”, com assistência composta por “profissionais de saúde, técnicos, psicólogos, educadores ou professores”.

“Nelas iremos falar das várias temáticas relacionadas com as perturbações de neurodesenvolvimento, e teremos oportunidade de falar de questões do sono, da linguagem, do insucesso escolar, [sobre] a atenção, a dificuldade no cumprimento de regras, novas tecnologias, ‘cyberbullying’, até chegarmos à idade adulta e à integração destes jovens, com perturbações, ao nível do neurodesenvolvimento”, precisou Júlia Vinhas.

A psicóloga clínica disse que, nos cerca de 13 anos de atividade do CADIn, que pretende ser “uma referência” na abordagem e tratamento das perturbações do neurodesenvolvimento, foram já atendidos “22 mil utentes, desde a infância à idade adulta”.

Quando as “crianças chegam a CADIn”, como afirma Júlia Vinhas, “é porque os pais observaram algum comportamento que consideram não ser normativo ou lhes causa algum tipo de preocupação, ou porque vêm indicados por professores”, e é necessário “ser observado pelo médico e, posteriormente, por um técnico mais focado em determinada idade ou competência comportamental, para se fazer uma avaliação”.

Entre esses comportamentos estão, segundo a especialista, “problemas do sono, insucesso escolar em que já foram tentadas várias estratégias e nada resulta, incumprimento de regras ou estar sempre agarrado à tecnologia”.

“Estes são os sintomas que podem ser sinónimo de um leque muito diverso de perturbações, ou não”, alertou, insistindo na necessidade de a comunidade estar preparada para avaliar e responder a estes problemas.

“Existem cada vez mais diagnósticos, porque cada vez há mais conhecimento e instrumentos de avaliação e, por isso, conseguimos maior número de diagnósticos. Quando as pessoas nos procuram existem queixas e sintomas, muitos deles são sempre relacionados com questões comportamentais, mas não é regra geral, porque nós também recebemos crianças com perturbações de espetros do autismo, com perturbações específicas da comunicação, défice de atenção ou hiperatividade”, matizou ainda a coordenadora do CADIn.

É preciso encontrar doentes
Representantes dos Estados-membro da União Europeia comprometeram-se a eliminar a hepatite C, um objetivo que, em Portugal,...

Luís Mendão, presidente do Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA (GAT), presente na primeira cimeira política sobre hepatite C, que decorre em Bruxelas, sublinhou a importância deste encontro e as portas que o mesmo pode abrir.

No encontro, os participantes assinaram um manifesto, através do qual se comprometem com a eliminação da doença na Europa até 2030.

Os signatários “apelam a que todas as pessoas com a doença tenham acesso ao tratamento”.

Luís Mendão acrescenta, contudo, que o fim da doença não acaba no tratamento, pois “é preciso traçar planos de prevenção e diagnóstico”.

Isto porque “a maior parte das pessoas infetadas não sabe que é portadora do vírus e é preciso trazê-la aos centros de tratamento e dar-lhes a medicação”.

Segundo o presidente do GAT, Portugal comprometeu-se a tratar 13 mil doentes até fevereiro, embora se estime a existência de 50 mil doentes.

“Para tratar mais doentes, os preços dos medicamentos precisam de descer”, defendeu, congratulando-se com o facto de existirem três companhias com medicamentos muito bons para a hepatite C.

Luís Mendão apontou ainda as dificuldades no tratamento dos infetados nas prisões, onde existe “um problema sério”. “Temos mais de 2.000 infetados nas prisões e apenas 40 pessoas tiveram acesso ao tratamento”.

Segundo dados oficiais, quase 6.000 doentes iniciaram tratamentos para a hepatite C em Portugal, com pelo menos 1.200 utentes já considerados curados.

Os números, que reportam a 01 de fevereiro, constam do site da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) e contabilizam 5.992 doentes com tratamento iniciado.

Dos doentes que já finalizaram o protocolo de tratamento, 1.202 estão curados e há 49 dados como doentes não curados.

O acordo entre o Estado e o laboratório que fornece os medicamentos inovadores para a hepatite C foi formalizado há um ano, tendo sido apresentado pelo então ministro da Saúde, Paulo Macedo, no dia 6 de fevereiro de 2015.

Estudo
Cientistas britânicos identificaram um gene que pode ser utilizado para prever o quanto um jovem utilizador de cannabis é...

A pesquisa, publicada na revista científica Translational Psychiatry, também mostra que as mulheres que fumam “charros” são potencialmente mais suscetíveis que os homens à perda de memória de curto prazo provocada pela droga.

De acordo com os autores do estudo, escreve o Diário Digital, pesquisas anteriores já haviam sido feitas com foco em pessoas que já sofrem com psicose. Mas o novo trabalho observou pessoas saudáveis e examinou as suas respostas agudas, isto é, como a droga afeta as suas mentes.

Um estudo anterior havia determinado uma ligação entre o gene AKT1 e pessoas que já haviam desenvolvido psicose. No novo estudo, Celia Morgan, professora de psicofarmacologia da Universidade de Exeter e Val Curran, do University College London (UCL), descobriu que jovens com uma variação no gene AKT1 experimentam distorções visuais, paranoia e outros sintomas psicóticos de forma mais acentuada quando estão sob influência da cannabis.

Embora apenas 1% dos utilizadores desenvolvam psicose, o impacto pode ser devastador e de longa duração, segundo os cientistas. De acordo com eles, sabe-se que o uso diário da droga dobra o risco de desenvolver desordens psicóticas, mas tem sido difícil estabelecer quem são os indivíduos mais vulneráveis.

Os cientistas haviam descoberto previamente uma alta prevalência de uma variante do gene AKT1 em consumidores de cannabis que desenvolveram psicose. Agora, pela primeira vez, uma pesquisa demonstra a ligação entre o mesmo gene e os efeitos da droga em jovens saudáveis.

“Esta descoberta é a primeira a demonstrar que pessoas com o genótipo AKT1 têm muito mais probabilidade de experimentar efeitos fortes ao fumar cannabis, mesmo que sejam saudáveis”, disse Célia.

Segundo Celia, embora a psicose induzida pela droga seja muito rara, quando esta ocorre, pode ter “impactos terríveis nas vidas dos jovens”. “Esta pesquisa pode ajudar a encontrar o caminho para a prevenção e para o tratamento da psicose da cannabis”, afirmou a investigadora.

Curran afirma que o estudo é o maior já conduzido sobre a resposta aguda à cannabis. “A nossa descoberta de que sintomas psicóticos quando um jovem está sob efeito da droga são previstos por variantes do gene AKT1 é um avanço emocionante. Acredita-se que essa reação aguda seja um marcador do risco de desenvolvimento de psicose a partir do uso da droga”, declarou.

O estudo envolveu 442 jovens que foram testados tanto sóbrios como sob a influência da droga. Os cientistas mediram a extensão dos sintomas de intoxicação e o efeito na perda de memória. Os dados foram comparados com os resultados obtidos sete dias depois, quando os jovens estavam livres do efeito da droga. Eles constataram então que os que tinham a variação no genótipo AKT1 tinham mais probabilidade de experimentar a resposta psicótica.

A pesquisa também apontou que mulheres são mais vulneráveis que os homens a prejuízos na memória de curto prazo depois de fumar cannabis.

“Estudos em animais mostraram que os machos possuem maior número dos recetores onde a cannabis funciona em partes do cérebro importantes para a memória de curto prazo, como o córtex pré-frontal. Precisamos de mais pesquisas nessa área, mas os nossos resultados indicam que os homens podem ser menos sensíveis que as mulheres aos efeitos prejudiciais da droga sobre a memória”, disse Celia.

Especialista revela
Os cigarros eletrónicos têm a reputação de serem menos prejudiciais que os cigarros normais. Mas novos dados científicos...

O mercado para produtos alternativos de tabaco, como o cigarro e narguilé eletrónicos, está a expandir-se rapidamente. Mas a ciência e os regulamentos em torno da segurança dessas opções ainda são incipientes. Quanto mais os cientistas observam os efeitos da vaporização, mais eles se preocupam, escreve o Diário Digital.

“Os nossos dados apontam para a direção de que os cigarros eletrónicos não são nada inofensivos”, afirmou Judy Zelikoff, toxicologista do Centro Médico Langone, da Universidade de Nova Iorque, durante o congresso anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

A conferência realizada em Washington reuniu membros de algumas das maiores organizações científicas do mundo.

Zelikoff disse estar preocupada que mulheres grávidas possam fumar cigarros eletrónicos “porque pensam que tais produtos são seguros”. No entanto, testes com animais mostram uma história diferente e sugerem que o uso do e-cigarro pode prejudicar o feto.

Durante a sua pesquisa, ratas grávidas foram expostas ao vapor do chamado e-cig. A cientista da Universidade de Nova Iorque comparou então a ninhada dessas ratas com animais que não entraram em contacto com produtos de tabaco alternativos no útero.

Segundo Zelikoff, os animais jovens apresentaram mudanças no córtex do lobo frontal, a parte do cérebro responsável pela cognição, planeamento e motivação. “Os genes que foram afetados nesses animais estão associados com doenças mentais, como a esquizofrenia”, disse a cientista.

A prole exposta ao vapor do cigarro eletrónico também era hiperativa em comparação com o outro grupo. Além disso, os ratos do sexo masculino produziam uma quantidade menor ou menos ativa de esperma, reduzindo assim a sua capacidade de reprodução.

“É claro que ratos não são seres humanos”, observou Zelikoff. “Trata-se somente de cobaias. Mas se eu estivesse grávida, olharia definitivamente atentamente para esses dados dos testes com animais.”

Estudo
Já se sabia que ter um cérebro grande não é, necessariamente, garantia de inteligência.

Ter um cérebro grande pode ser uma desvantagem, afirma o professor Eric Abelson, do Departamento de Biologia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

O investigador calculou o tamanho do cérebro de 1.679 animais de 160 espécies diferentes e comparou essas medidas com os dados da União Internacional para a Conservação da Natureza, instituição que avalia o risco de extinção de milhares de espécies e subespécies, escreve o Sapo.

De acordo com Abelson, há uma correlação entre o quociente de encefalização (que mede o tamanho do cérebro em relação ao restante do corpo) e o risco de extinção.

Essa correlação é ainda maior nos animais pequenos, acrescenta.

De facto, manter um cérebro grande tem um custo metabólico significativo. Implica um consumo de energia mais importante sem que, ao que parece, isso implique maiores capacidades de adaptação.

Para Eric Abelson, os custos de um forte quociente de encefalização superam as vantagens nas espécies pequenas.

O estudo foi publicado na revista Proceedings B, da Royal Society britânica.

Estudos esclarecem
As lesões contraídas a correr são bastante comuns, mas o que as causa e como preveni-las? Novos estudos lançam luz sobre o...

Por estes dias só quem corre por gosto ou é mesmo viciado na corrida enfrenta o frio e a chuva para se aventurar na estrada. Mas é só uma questão de tempo até o calor chegar e conquistar ainda mais pessoas para uma atividade tão na moda. Esse acréscimo de corredores traduz-se, infelizmente, num aumento de lesões e, consequentemente, no fim do sonho de acabar com os quilos a mais do inverno, escreve o Observador.

Apesar de as lesões nos corredores serem extremamente comuns, o The New York Times escreve que as razões para que isso aconteça continuam por descobrir. Alguns estudos dizem que se deve ao excesso de peso, aos ténis de corrida modernos, às ancas fracas, à alimentação ou até ao pavimento. Outros dizem que o maior indicador de uma futura lesão é uma lesão passada, ou seja, nada esclarecedor.

Em dezembro do ano passado saiu um outro estudo, publicado no British Journal of Sports Medicine, feito por investigadores da Harvard Medical School e de outras universidades que decidiram focar-se num aspeto que nunca é estudado: pessoas que correm há muito tempo e nunca se lesionaram.

Os investigadores juntaram 249 corredoras femininas com experiência, todas conhecidas por tocarem no chão primeiro com os calcanhares enquanto correm – muitos entendidos na arte da corrida defendem que tocar com o centro do pé no chão causa um impacto menor do que com os calcanhares, logo previne lesões.

As voluntárias foram seguidas durante dois anos pelos investigadores e, neste tempo, mantiveram um diário online de corrida e de lesões. Ao longo desse tempo, mais de 100 mulheres disseram ter contraído uma lesão grave o suficiente para terem de ter acompanhamento médico, 40 tiveram lesões pequenas e as restantes não se lesionaram nenhuma vez.

Ou seja, 21% das corredoras não só não se magoou nesse período como também não se magoou antes de participar no estudo. Com estes resultados, os investigadores compararam as lesionadas com as não lesionadas e concluíram que aquelas que permaneceram sem mazelas aterravam de forma muito mais leve do que as lesionadas, independentemente de variantes como o peso ou a distância percorrida.

Estas descobertas contrariam a ideia de que os corredores não podem colocar o calcanhar no chão primeiro, mesmo que de forma suave. Irene Davis, autora do estudo e professora em Harvard disse ao The New York Times que “uma das corredoras que estudámos, uma mulher que correu diversas maratonas e que nunca se magoou, tinha a menor taxa de carregamento [no chão] que alguma vez vimos”, acrescentando que vê-la correr era como “ver um inseto a correr sobre a água” — uma variação da conhecida letra da música “ela não corre, ela desliza”.

O segredo para quem corre passa por aterrar o mais suavemente possível. Aqueles que travam longas batalhas com lesões devem optar por aterrar mais com o centro do pé, uma vez que a aterragem de calcanhar tende a ser mais brusca. Outra dica da professora passa por aumentar ligeiramente a cadência – número de passos que dá por minuto – já que tende a reduzir o impacto de cada passada. Apostar na delicadeza parece ser a chave para estar preparado para todas as maratonas que se avizinham.

Na Ásia
É legal desde o passado domingo, em algumas províncias chinesas, que as trabalhadoras que sofram com severas dores menstruais...

A licença menstrual foi aceite em Shanxi e Hubei e o período de consulta à aplicação de uma medida semelhante na província de Cantão terminou no passado dia 3 de dezembro, refere a CNN, embora não exista ainda informação sobre se a medida será ou não aprovada.

Não é a primeira vez que se debate, na China, a licença menstrual paga, mesmo que a discussão esteja a passar ao lado da maioria dos países ocidentais. Que seja do conhecimento público, apenas a norte-americana Nike oferece esta possibilidade às suas funcionárias, estando a licença por dores menstruais incluída no código de conduta da empresa para todo o mundo, escreve o Diário de Notícias.

Na Rússia, a licença por motivos de dor menstrual foi proposta em 2013, mas não fez caminho. Sobretudo porque o texto da futura lei que previa os dias de folga irritou as feministas, que não gostaram de ver atribuída às mulheres uma licença devido ao "desconforto emocional" e à diminuição de competência no trabalho causada pela menstruação.

De resto, a Ásia leva a dianteira no que toca a dispensar as mulheres do calendário laboral devido à menstruação. No Japão, a licença menstrual está prevista desde 1947. Na Coreia do Sul, a lei remonta a 2001, mas são poucas as trabalhadoras que exercem esse direito: segundo o Korea Times, não querem faltar ao trabalho num mercado laboral onde os homens são preponderantes.

Já Taiwan, prevê a dispensa desde 2014, um dia de folga por mês. Na Indonésia, as mulheres podem tirar dois dias por mês, mas com uma condição: que sejam examinadas por especialistas, mandatados pela empresa, que certifiquem o seu estado. A contrapartida determina, naturalmente, uma fraca adesão.

Na China, o texto da nova lei não detalha a que profissões se aplica esta dispensa nem as consequências para as empresas que não observem a legislação, o que poderá tornar a medida ineficaz, apesar de reconhecer os períodos menstruais como um problema que deve ser protegido pela medicina do trabalho.

Nos últimos anos, são vários os estudos científicos que indicam que, a nível mundial, uma em cada dez mulheres sofre com dismenorreia, dor menstrual tão grave que chega a interferir com a sua atividade diária.

Em Coimbra
A Agência para a Prevenção do Trauma Psicológico e da Violação dos Direitos Humanos, em Coimbra, vai lançar a plataforma ...

“Há dados que permitem concluir que a violência aumentou nas noites das cidades, que, por exemplo, aumentaram os casos de violação e de droga”, disse António Reis Marques, um dos impulsionadores da Agência para a Prevenção do Trauma Psicológico e da Violação dos Direitos Humanos (APTPVDH), criada há dois anos, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Atualmente, “calcula-se que haja mais de um milhar de prostitutas” em Coimbra e que “cerca de dois terços não tenha qualquer ligação a entidades de proteção”, exemplifica Reis Marques.

“É preciso prevenir”, sustenta o médico psiquiatra, que também é diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Psiquiatria e Saúde Mental (CRI-PSM) do CHUC e no âmbito do qual foi criada e funciona a Agência.

Mas prevenir “não significa acabar com o lazer da noite”, adverte o responsável, adiantando que o projeto está a ser estudado em cooperação com autarquias, forças de segurança e organizações não-governamentais (ONG), entre outras entidades públicas e privadas.

“A prevenção é o fator essencial”, sustenta Reis Marques, salientando que o programa ‘noites saudáveis na cidade’ pretende sobretudo fomentar “a noção de cidadania responsável e com direitos”.

Embora esteja previsto ser, para já, lançado apenas em Coimbra, o programa ‘noites saudáveis das cidades’ poderá vir a abranger outros centros urbanos ou mesmo dimensão nacional, admite Reis Marques.

Coordenada por João Redondo, que também é responsável pela Unidade de Violência Familiar e do Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico do CHUC, a Agência funciona no âmbito CRI-PSM do CHUC.

Constituída formalmente em 18 de fevereiro de 2104, para estreitar o relacionamento entre instituições e para estudar e enfrentar o problema do trauma de forma eficiente e integrada, a APTPVDH já atendeu mais de um milhar de pessoas (vítimas e agressores) e tem associadas 39 organizações públicas e privadas, desde organismos ligados à saúde, à justiça ou à segurança social a organizações não-governamentais, forças de segurança, escolas ou ordens profissionais.

Em dois anos
A Agência para a Prevenção do Trauma Psicológico e da Violação dos Direitos Humanos, criada há dois anos em Coimbra, duplicou...

Constituída formalmente em 18 de fevereiro de 2014, para estreitar o relacionamento entre instituições e enfrentar o problema do trauma de forma eficiente e integrada, a Agência tem hoje associadas 39 organizações públicas e privadas, que representam mais do dobro do número de entidades com as quais começou a trabalhar, afirmou Reis Marques, um dos responsáveis e impulsionadores do projeto.

“Não se pode ainda avaliar o grau de sucesso desses atendimentos”, mas “existe a noção de que foram alcançados resultados muito positivos” e que o trabalho desenvolvido pela Agência para a Prevenção do Trauma Psicológico e da Violação dos Direitos Humanos (APTPVDH) atingiu “uma dimensão que ultrapassou todas as expectativas”, acrescentou aquele responsável, que também é diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Psiquiatria e Saúde Mental (CRI-PSM) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Atualmente, a Agência está a receber, em média, dez novos casos de vítimas e agressores por semana, em resultado do aumento de entidades associadas, mas também da desburocratização dos respetivos processos e das campanhas de informação e sensibilização, alertando para a importância da prevenção das situações que propiciam o trauma psicológico e a violação dos direitos humanos.

Neste sentido, está a ser projetada a criação de uma ‘linha verde’ para as vítimas de acidentes de viação, revelou Reis Marques, salientando que é “quase regra” os acidentados cuidarem dos traumas de ordem física e “esquecerem-se” dos problemas de caráter psicológico, não raras vezes mais graves do que aqueles.

A APTPVDH tem em curso, entretanto, “uma campanha de prevenção do assédio moral e sexual no hospital” e, por outro lado, uma investigação, coordenada por Duarte Nuno Vieira, junto de escolas da zona de Coimbra, sobre fatores adversos na infância.

Mas há muitas situações cuja prevenção não depende da intervenção médica, reconhece Reis Marques, salientando que há contextos culturais, de pobreza, de toxicodependência ou de prostituição, por exemplo, que propiciam casos de trauma e violação de direitos.

Mas isso não significa que em ambientes diferentes e mesmo opostos àqueles não ocorram casos (mais do que porventura se julgue) de trauma e de violação de direitos, adverte.

Dirigido por João Redondo, que também é coordenador da Unidade de Violência Familiar e do Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico do CHUC, a APTPVDH foi criada e funciona no âmbito (CRI-PSM) do CHUC.

A APTPVDH tem associadas entidades como a Administração Regional de Saúde do Centro, o centro regional da Segurança Social, o Instituto de Medicina Legal, o Departamento de Investigação e Ação Penal, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação de Coimbra, a Fundação Bissaya Barreto, a PSP, a GNR o INEM, as ordens dos Médicos, dos Enfermeiros e dos Advogados, organizações não-governamentais (ONG), bombeiros ou a Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Ensaios clínicos
Administrar testosterona a homens com mais de 65 anos melhora as suas funções sexuais e capacidades físicas, evidenciaram pela...

Até agora, os estudos sobre os efeitos benéficos destes tratamentos a homens com mais de 65 anos, para quem os níveis desta hormona diminuem com a idade, não tinham sido conclusivos, sublinharam os autores do estudo, publicado na New England Journal of Medicine.

Em 2003, o Instituto da Medicina nos EUA tinha concluído que não existiam suficientes indicações clínicas para determinar se este tratamento teria algum efeito benéfico.

Os investigadores que fizeram esta série coordenada de sete ensaios clínicos, designada TTrials, analisaram os resultados dos três primeiros sobre o impacto nas funções sexuais, condições físicas e vitalidade.

Constataram que um tratamento de testosterona aumenta o nível sanguíneo desta hormona para níveis considerados na média dos homens jovens.

O tratamento melhorou todos os aspetos da função sexual, incluindo o desejo e a capacidade de ter uma ereção, adiantaram os cientistas.

A terapia também melhorou o seu humor a reduziu os sintomas depressivos.

“Os resultados destes ensaios clínicos mostraram alguns benefícios de um tratamento com testosteronas em homens mais velhos e com níveis baixos desta hormona”, concluiu Ronald Swerdloff, investigador do LABioMed, na Califórnia.

“Estes primeiros resultados são encorajadores, pelo que vamos continuar a analisar os dados para determinar se um tratamento com testosterona melhora as funções cognitivas, a densidade óssea, a saúde cardiovascular e a anemia, bem como os riscos apresentados por estes tratamentos”, designadamente os cardíacos, especificou.

Swerdloff destacou que os TTrials representam os maiores ensaios clínicos para examinar a eficácia dos tratamentos de testosterona a homens com mais de 65 anos, cujos níveis desta hormona baixaram nitidamente com a idade.

Os investigadores testaram a testosterona de mais de 51 mil homens, dos quais 790 apresentaram níveis suficientemente fracos para os qualificar para os sete ensaios clínicos.

Os participantes foram repartidos, ao acaso, entre dois grupos, a um dos quais foram administradas diariamente testosterona, sob a forma de um gel, e ao outro um placebo.

A eficácia foi medida, a três, a seis e a doze meses.

As funções sexuais e físicas (distância percorrida em marcha durante seis minutos) foram avaliadas com questionários, tal como a vitalidade, o humor e os sintomas depressivos, avançaram os autores.

Os efeitos nefastos nos três ensaios clínicos (crise cardíaca, acidente vascular cerebral, saúde da próstata) foram similares nos dois grupos.

Em todo o caso, o número de homens nos três primeiros ensaios clínicos é demasiado fraco para tirar conclusões quanto ao risco do tratamento, admitiram os investigadores.

Bastonário dos Médicos admite
O bastonário da Ordem dos Médicos defendeu a necessidade de realizar um referendo à classe médica para uma eventual alteração...

"Não é possível alterar o Código Deontológico numa questão tão fraturante sem ouvir os médicos", afirmou o bastonário José Manuel Silva no final de um debate sobre eutanásia ou morte assistida promovido pela Ordem dos Médicos.

José Manuel Silva disse, contudo, que a Ordem vai promover primeiro debates alargados e públicos sobre o tema, passando depois a um debate interno da classe.

Caso haja necessidade de adequar o Código Deontológico a uma alteração legislativa que permita a morte assistida a pedido, o passo necessário será a realização de um referendo, admitiu.

No debate sobre eutanásia, o oncologista Jorge Espírito Santo foi um dos que defendeu que o tema tem de ser debatido internamento pelos médicos, que estão formatados para salvar vidas e ajudar a morrer com dignidade.

O oncologista defendeu que os cuidados paliativos "não servem a toda a gente", considerando que a eutanásia deve ser uma escolha individual permitida.

"Não é verdade que os cuidados paliativos sirvam a toda a gente", afirmou, especificando que "não resolveram todos os problemas" porque há doentes que não aceitam, de forma consciente, determinado tipo de limitações.

"A grande maioria dos problemas é resolvida com bons cuidados paliativos. Mas há pessoas que não aceitam em consciência as limitações e colocam a questão da morte aos seus médicos assistentes. São casos e situações excecionais mas existem", declarou à Lusa.

Também o neurologista e médico intensivista Pedro Ponce sublinhou que os cuidados paliativos "nem sempre têm sucesso absoluto", lembrando ainda que os paliativos de qualidade não chegam à maior parte da população portuguesa, não sendo expectável que isso aconteça nos próximos anos.

O médico citou dados do Estado norte-americano de Oregon, que demonstram que, com cuidados paliativos de exceção, 46 por cento dos candidatos a suicídio assistido vieram a desistir dessa opção, havendo uma fatia considerável que manteve a intenção de pôr fim à vida.

"Mesmo sendo de grande sucesso, [os cuidados paliativos] não são realmente a resposta para todos", argumentou.

Em contraponto, a médica de cuidados paliativos e deputada do CDS-PP, Isabel Galriça Neto, sublinhou que os cuidados paliativos intervêm diretamente no sofrimento "não deixando que ele se torne insuportável".

Para esta especialista, a eutanásia ou suicídio assistido é uma intervenção que "termina com a vida e não com o sofrimento".

"Para mim, é uma linha vermelha. Como médica, acho que a sociedade espera que ajude a viver e a morrer com o máximo de dignidade mas não quero ajudar a matar", declarou.

O debate na Ordem dos Médicos foi promovido depois de o tema da eutanásia estar no centro da discussão em alguns setores da sociedade, após a divulgação de um manifesto assinado por mais de 100 personalidades que defendem a despenalização da morte assistida.

Estudo revela
Um estudo publicado na revista ‘Nature’ revela que é possível reverter alguns comportamentos ligados ao autismo na fase adulta.

Desenvolvida por uma equipa de cientistas norte-americanos e pela portuguesa Patrícia Monteiro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), a investigação incidiu sobre o ‘Shank3’, um dos genes implicados no autismo, afirma a UC.

O autismo é uma patologia sem cura que afeta cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, estimando-se que a prevalência em Portugal seja de um caso em cada milhar de crianças em idade escolar.

A origem do autismo é “bastante variável”, mas o ‘Shank3’ está “associado a uma forma monogénica da patologia” e, quando surge uma mutação, “a proteína resultante deste gene – que funciona como um ‘andaime’ que dá acesso à comunicação entre neurónios – deixa de suportar a estrutura, causando danos no circuito neuronal”, explica a UC.

Para compreender o autismo, doença neuropsiquiátrica que compromete o normal desenvolvimento da criança e que permanece durante toda a vida, os especialistas desenvolveram, durante quatro anos, experiências em ratinhos adultos.

Os animais foram sujeitos a mutação do gene, tendo as experiências revelado, “pela primeira vez”, que é “possível reverter dois dos principais sintomas do autismo: ausência de interação social e comportamentos repetitivos”.

Ou seja, os investigadores conseguiram “consertar o “andaime” e restabelecer a comunicação na estrutura “durante a fase de vida adulta desses ratinhos, demonstrando que é possível reverter as alterações bioquímicas, problemas de comunicação neuronal e mesmo melhorar as interações sociais e comportamentos repetitivos”, explicita Patrícia Monteiro, citada pela UC.

A especialista portuguesa participou no estudo ao abrigo do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina do CNC em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), que lidera esta investigação.

A descoberta “abre portas para a criação dos primeiros medicamentos eficazes no tratamento da doença”, sustenta Patrícia Monteiro, adiantando que “estes resultados indicam que, embora o autismo seja uma perturbação do desenvolvimento, é possível intervir na sua fase adulta”.

As experiências em ratinhos não têm aplicação direta nos humanos, mas Patrícia Monteiro sublinha que o estudo “ajuda a compreender o conjunto de alterações biológicas presentes no autismo e abre portas para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, como por exemplo estratégias direcionadas para a melhoria de certas alterações comportamentais passíveis de serem revertidas em fase adulta e não para o quadro de alterações comportamentais do autismo como um todo”.

A participação portuguesa na investigação foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), enquanto pela parte dos EUA o estudo foi apoiado por cinco entidades.

Antes do fim deste ano
O grupo farmacêutico norte-americano Inovio Pharmaceuticals, que está a desenvolver uma vacina contra o vírus Zika, anunciou...

“Estamos agora a produzir a vacina contra o Zika para a testar em humanos antes do fim do ano”, declarou Jeff Richardson, um porta-voz do laboratório, citado pela agência de notícias France Presse.

Esta decisão ocorre, acrescentou, após testes conclusivos em animais.

“Os testes pré-clínicos mostraram que a vacina sintética contra o vírus Zika desencadeia respostas duradouras e imunes, demonstrando o potencial (…) para prevenir e tratar as infeções causadas por este patogéneo”, garantiu a Inovio em comunicado.

O grupo farmacêutico testou a vacina em ratos e obteve uma resposta imunitária, precisou, e vai começar imediatamente os testes em macacos e depois avançar para os seres humanos, antes do fim do ano.

Esta última etapa deverá conduzir, em seguida, a um pedido de colocação da vacina no mercado, indicou a Inovio, que pretende pedir às autoridades sanitárias uma análise acelerada do seu caso.

A vacina anti-Zika desenvolvida pela Inovio é sintética, ou seja, não assenta num vírus vivo, mas num pedaço de ADN do vírus e pode, por isso, ser conservada sem refrigeração durante várias horas.

Na bolsa de Wall Street, as perspetivas positivas fizeram subir de 6,16 para 6,98 dólares as ações Inovio nas primeiras transações.

Além da Inovio, mais de uma dezena de grupos farmacêuticos, como o francês Sanofi Pasteur e o indiano Bharat Biotech, estão a trabalhar numa vacina anti-Zika, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Não existe, até agora, qualquer medicação para combater este vírus, suspeito de ter uma relação direta com casos de recém-nascidos com uma cabeça e um cérebro anormalmente pequenos (microcefalia) e de estar também ligado à síndroma neurológica de Guillain-Barré (SGB).

A OMS prevê uma propagação “explosiva” do Zika no continente americano, com entre três e quatro milhões de casos este ano. No Brasil, há já 1,5 milhões de casos registados.

Síndrome de Asperger
A Síndrome de Asperger atinge maioritariamente crianças do sexo masculino.

Considerada uma disfunção do espectro do autismo, a Síndrome de Asperger é uma perturbação neurocomportamental que se manifesta, sobretudo, na interação social, na comunicação e no comportamento.

Embora as suas causas não estejam completamente esclarecidas, sabe-se que afeta maioritariamente crianças do sexo masculino.

Estas crianças, apesar de poderem apresentar alguns problemas na linguagem, não têm dificuldades de aprendizagem tão acentuadas como os autistas. Na realidade, elas apresentam, com alguma frequência, uma inteligência acima da média.

O seu comportamento, no entanto, leva a que sejam considerados excêntricos ou esquisitos, grande parte das vezes.

Daniel tem seis anos e, aos quatro, foi diagnosticado com Perturbação do Espectro do Autismo. Um dos principais sinais de alerta surgiu, exatamente, na área da comunicação.

“Nós perguntávamos qualquer coisa ao Daniel e se a resposta fosse não ele dizia não, mas se a resposta fosse afirmativa ele repetia a pergunta. Antes disso, tínhamos a sensação que, ao falarmos com o Daniel, ele não percebia nada do que estávamos a dizer”, começa por contar o pai, Nuno Delgado.

“Por fim, a parte comportamental: o Daniel não sabia reagir à frustração e fazia birras incontroláveis, que eram muito complicadas de parar”, acrescenta admitindo que, embora ainda as faça, as suas birras são hoje muito mais ligeiras.

Dados os alertas seguiram-se as consultas e os teste de despiste “através de uma consulta com o Dr. Fernando Santos, pedopsiquiatra do Hospital da Luz, onde fez uma avaliação especifica em relação à fala e desenvolvimento”. Tinha o Daniel três anos.

“No caso do Daniel esses testes iniciais foram inconclusivos, porque ele em termos cognitivos estava perto da linha de desenvolvimento, só falhando na parte da comunicação e compreensão”, recorda o pai.

Quando finalmente foi conhecido o diagnóstico, e apesar de todas as dúvidas e receios, Nuno e a mulher, Ana, decidiram arregaçar as mangas e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar o Daniel.

“Foi como uma bomba, claro. Mas recompusemo-nos e dissemos: ok, o que é que temos de fazer para dar ao Daniel o melhor possível? E começámos a trabalhar com a equipa do Centro de Neurodesenvolvimento e Comportamento da Criança e do Adolescente, do Hospital da Luz, com a coordenação da Dra. Luísa Teles, e as terapeutas da fala e desenvolvimento, de maneira a começar a dar ferramentas ao Daniel para começar a comunicar e poder acompanhar, dentro do ritmo dele, as crianças da sua idade”, conta Nuno.

Aspectos como integração e acompanhamento a nível escolar são, agora, as principais preocupações de Nuno e Ana.

“O nosso sistema de ensino público não está preparado, convenientemente, para receber uma criança com este tipo de transtorno, uma vez que é necessário um acompanhamento muito individualizado”, justifica o pai de Daniel.

De acordo com Piedade Líbano Monteiro, presidente da Associação Portuguesa da Síndrome de Asperger (APSA), apesar de “em termos de lei das bases da educação e, no que diz respeito às necessidades educativas especiais, a nossa legislação estar muito bem estruturada, o problema é passar à prática”.

Quer isto dizer que, é preciso “gerir da melhor forma os recursos humanos e monitorizar o processo de integração destas crianças”.

Por outro lado, Piedade Líbano Monteiro refere a importância dos próprios professores estarem preparados para lidar com casos com este.

“Tudo seria diferente se, de facto, os professores tivessem preparação em PEAs no seu currículo. Regra geral não estão preparados para acolher estas crianças, mas existem exceçoes à regra e, cada vez mais, solicitam ajuda e tentam munir-se de meios para terem uma intervenção válida com as crianças”, afirma.

O trabalho desta associação passa também por esta área, dando apoio às escolas, sempre que solicitado, através do Projeto Gaivota. “O nosso trabalho é exatamente explicar o que é a Síndrome de Asperger e dar estratégias a pais e professores para melhor lidarem com esta problemática. Independentemente da sua formação de base, os professores devem ser pessoas vocacionalmente preparadas para este trabalho e com grande sensibilidade para poder «observar e sentir» o comportamento destas crianças”, explica a presidente da APSA.

“A disfunção dos nossos filhos não é visível, é comportamental o que complica tudo. O estar sentado durante muito tempo, o estarem expostas a vários estímulos sensoriais, o facto de serem alvo de inúmeras informações ao mesmo tempo, sem tempo para as decifrarem e relacionarem, é para eles uma tortura e motivo de tensão e faz com que estejam sempre distantes do que se passa na sala de aula. E depois ainda há temas que não lhes interessam mesmo”, acrescenta Piedade Líbano Monteiro, revelando que estas são as principais barreiras para uma criança com uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA).

Daniel não foge à regra. “A principal limitação do Daniel é o período de atenção que se consegue manter interessado. A nível de aprendizagem, aprende rápido as coisas que ele gosta muito, como as letras ou matemática”, revela Nuno.

A verdade é que, com dois anos, o Daniel já sabia o alfabeto em português e inglês. “E contava até 15”, acrescenta o pai afirmando que o filho aprendeu, tudo isto, sozinho “só de ver os vídeos na internet”.

Atualmente a frequentar o ensino pré-escolar, Daniel recebe todo o apoio que necessita para poder progredir. “Na escola é acompanhado pela educadora da sala que está sensibilizada para o problema do Daniel, e tenta, dentro das possibilidades, apoiá-lo e dar-lhe um pouco mais de foco e atenção quando necessário. Acaba por ser os nossos olhos dentro da sala, comunicando sempre as evoluções e regressões do Daniel”, explica o pai.

“Quando fui informada, pelo diretor pedagógico do Colégio, que iria receber uma criança com Perturbação do Espectro do Autismo, que necessitava de ser estimulada para se perceber o seu desenvolvimento cognitivo, fiquei apavorada”, admite Carla Ferreira, educadora de infância.

“Tenho 22 anos de serviço e foi a primeira vez que tive na minha sala uma criança com necessidades educativas especiais”, justifica explicando que não teve qualquer formação ou contato com esta realidade antes.

“Partilhei este receio com os pais, que iria dar o meu melhor mas que, efetivamente, não tinha nem formação nem experiência no acompanhamento destas crianças”, recorda.

“Os pais e as técnicas (que acompanham o Daniel) foram bastante compreensivos e, ainda hoje, existe uma partilha constante sobre as atividades, os sucessos ou fracassos e as estratégias que poderão ser usadas para melhorar o desenvolvimento cognitivo do Daniel”, afirma a educadora.

Uma vez que a sua maior dificuldade é a linguagem compreensiva e expressiva, Carla tem sempre algum cuidado quando lhe coloca alguma questão. “Quando o faço, específico de forma a facilitar a resposta. Por exemplo, se quero que ele me diga o nome de frutos, começo eu por dizer um ou dois para ele depois dar continuidade”, exemplifica.

Não obstante, também não faltam, aos pais, estratégias para o ajudar a superar as dificuldades.

Para além de criarem e manterem uma rotina, procuram antecipar os conteúdos desenvolvidos na sala de aula.

“Temos de criar espaços temporais de apoio, curtos e frequentes, para que o Daniel saiba que naquele dia, àquela hora, é aquilo que tem de fazer”, começa por explica Nuno Delgado.

“Temos um calendário feito por nós, pendurado no frigorífico, com fotografias e grafismos do que é para fazer todos os dias. Assim, se ele tiver dúvidas ou ficar baralhado, vai lá e vê o que tem de fazer”, afirma.

“Em termos de antecipação, pedindo a programação da semana à professora Carla, e usando-a para lançar pistas para que ele nos conte o dia-a-dia. Quando for para a primária, tentar antecipar as matérias para que ele vá mais bem preparado”, acrescenta.

No entanto, e apesar de tudo, para estes pais a integração é a chave do sucesso, independentemente das estratégias que possam ser usadas.

“O importante é incluí-los no meio de crianças sem este transtorno, de forma a ser-lhes «imposto» a maneira de estar, as suas práticas e métodos de aprendizagem. Uma resposta certa, em contexto de escola à professora, ou uma ida ao quadro com sucesso é, para estas crianças, valorizado duas vezes mais, aumentando-lhes a auto confiança”, afirma o pai.

Também a educadora garante que beneficiou não só o Daniel, como o resto da turma. “Todos os alunos da sala enriqueceram a sua formação pessoal e social. Tornaram-se mais responsáveis e mais crescidos ao “tomar conta” do Daniel”, revela.

“Quando recebi o Daniel e o apresentei ao grupo, disse-lhes que íamos ter um menino especial que precisava da nossa ajuda e do nosso carinho. E tem sido assim ao longo destes dois anos”, acrescenta Carla Ferreira.

“O Daniel é muito protegido e muito acarinhado pelos colegas. Como é muito meigo as meninas disputam entre si quem lhe dá a mão. Os rapazes defendem-no, avisam-me quando lhe falta algum material, consolam-no quando está triste e partilham com ele brinquedos e brincadeiras”, conclui.

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Ministro da Saúde
O ministro da Saúde anunciou que os serviços desenvolvidos pela rede de farmácias vão ser expandidos e que os farmacêuticos vão...

A garantia foi deixada por Adalberto Campos Fernandes na cerimónia de tomada de posse da nova bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, para o triénio 2016-2018, em que esta lançou o desafio de pôr o doente no centro das atenções e promover a cooperação, em vez de competição, entre profissionais de saúde.

Esta colaboração traduz-se em propostas concretas da ordem, como medidas de maior garantia da segurança dos medicamentos, maior envolvimento dos farmacêuticos no sistema de saúde, designadamente com a sua integração em equipas familiares, e aumento dos serviços disponibilizados nas farmácias comunitárias.

“São três pilares essenciais: o primeiro é a rede de farmácias, às quais falta ligação com sistema de saúde, o segundo é as farmácias hospitalares, pois é preciso renovar, é preciso uma carreira farmacêutica, um internato farmacêutico, e o terceiro prende-se com as associações de doentes, trabalhar com eles e encontrar caminhos comuns para que ganhem maior autonomia”, disse Ana Paula Martins.

Esta expansão dos serviços desenvolvidos pela rede de farmácias está a ser discutida com a tutela e engloba as áreas da adesão à terapêutica, dispensa de medicamentos para o VIH, situações de necessidade de proximidade e áreas de prevenção da doença, especificou.

Sobre a proposta de integrar os farmacêuticos nas equipas familiares, o ministro concordou com a “perspetiva de maior inclusão do farmacêutico comunitário no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a sua integração na equipa de família, mas especificamente sobre a possibilidade de haver um farmacêutico nos centros de saúde proposta pela bastonária, adiantou que “dificilmente será possível concretizar”.

A segurança do medicamento também está no centro das preocupações da bastonária, razão por que quer ver os farmacêuticos mais envolvidos não só nas farmácias, mas também nos hospitais e centros de saúde.

Citando um estudo recente, Ana Paula Martins apontou a existência de 84 milhões de pessoas internadas por ano devido aos efeitos adversos dos medicamentos, uma mortalidade estimada em 400 mil pessoas por ano e uma responsabilidade direta de dez por cento dos custos associados à prestação de cuidados de saúde.

“É muito importante que haja informação nos serviços hospitalares e nos centros de saúde, vale a pena apostar na avaliação dos efeitos que os medicamentos têm. Os farmacêuticos devem contactar os médicos e procurar a melhor forma de o medicamento ser bem utilizado e é preciso um entendimento claro com os médicos, para não duplicar funções. Não há necessidade. Os portugueses precisam de todos”, considerou.

Ana Paula Martins deixou à Ordem dos Médicos o “desafio” de as classes profissionais tentarem ultrapassar a “desconfiança” que tem havido.

Adalberto Campos Fernandes afirmou que será assinado um compromisso para a sustentabilidade do SNS, que promova a colaboração entre os profissionais, bem como a proximidade, eficiência e “sobretudo humanidade”.

O ministro lembrou que o farmacêutico tem um papel importantíssimo, sendo muitas vezes o primeiro contacto do utente com o sistema de saúde e algumas vezes mesmo o único.

O governante deixou ainda uma palavra sobre os cortes sofridos por este setor nos últimos anos, lembrando que foi “um dos que mais ajudou, senão o que mais ajudou, à contenção da despesa do sistema de saúde”.

“Devemos procurar um sistema que proteja os mais fracos”, como farmácias em comunidades mais pequenas, no interior, disse, assumindo um compromisso: “a sustentabilidade económica garantida no curto prazo e que este sector não seja abalado por movimentos que possam levar à sua destruição”.

Observatório Português de Cuidados Paliativos
O Observatório Português de Cuidados Paliativos, do Porto, criou uma aplicação gratuita que facilita o acesso a informações...

Em depoimentos, a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e do King's College London, indicou que a aplicação, denominada "Perfis Regionais de Cuidados Paliativos", é um dos trabalhos iniciais do observatório "para perceber as necessidades locais e transmitir informações para esclarecer o público em geral, os profissionais de saúde e todas as audiências interessadas sobre esta área, com dados atuais e reais".

O aplicativo explica o que são os cuidados paliativos, apresenta as principais causas e locais de morte em Portugal, estatísticas para que se possa compreender melhor as necessidades e assimetrias regionais e faz a geolocalização das equipas de cuidados paliativos existentes em cada região, por tipologia de cuidados (unidades de internamento, apoio intra-hospitalar e cuidados domiciliários).

Segundo a investigadora, os grandes "buracos" na prestação de cuidados encontram-se nas regiões do interior centro do país, não existindo, em algumas delas, "nenhuma resposta em termos de equipas especializadas nesta área e há uma ausência de oferta gritante sobretudo nos cuidados paliativos domiciliários", onde apenas nove em 30 regiões têm equipa especializada e dessas nove, quatro têm só uma equipa a servir a região toda.

"A maior parte das pessoas, se lhes for dada essa escolha, preferem morrer em casa, mas isso é condicionado pelo nível de suporte que recebem. Se puderem usufruir de cuidados paliativos domiciliários, as ‘chances’ de morrerem em casa duplicam", explica a investigadora, acrescentando que 62% da população morre nos centros hospitalares.

Para o desenvolvimento da aplicação foram analisados dados de mais de um milhão de pessoas, falecidas entre 2004 e 2013, provenientes do projeto DINAMO, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

As investigadoras utilizaram dados ao nível do perfil demográfico e a sua evolução ao longo dos dez anos, a idade ("que permitiu saber que Portugal é um país bastante envelhecido e as regiões onde esse envelhecimento é mais notório"), as principais causas de morte (doenças cardiovasculares, respiratórias e cancro) e o local de morte (hospital, domicílio e outros lugares).

Desenvolvida para o público em geral, uma das expectativas é que esta aplicação atinja um público vasto incluindo também os mais jovens, "que não se confrontam todos os dias com a necessidade de cuidados paliativos" mas que podem "durante a vida, debater-se com uma doença avançada e progressiva, direta ou indiretamente".

A aplicação, finalizada em janeiro e atualizada em fevereiro, vai sofrer uma atualização todos os anos, que vai ser apresentada regularmente ao público pelo Observatório Português de Cuidados Paliativos (OPCP).

O aplicativo, gratuito e interativo, foi desenvolvido pelo OPCP e o projeto para a sua conceção foi liderado por Bárbara Gomes com o apoio das investigadoras Maja de Brito (do ISPUP e do King's College London), Sandra Batista e Paula Sapeta (docentes do Instituto Politécnico de Castelo Branco), e da enfermeira Catarina Simões (Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz Póvoa e membro da direção da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos).

Esta aplicação encontra-se disponível através dos websites do OPCP e da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.

Europacolon
O presidente da Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo – Europacolon considerou “dramático” que, em 2016, morram...

A propósito dos números do Registo Oncológico Nacional (RON) de 2009, que apontam para um aumento do cancro do cólon na última década, Vitor Neves começou por lamentar que estes dados sejam apresentados sete anos depois.

O cancro do cólon “já é a primeira causa de morte de doença oncológica em Portugal”, afirmou, apresentando dados europeus de 2012, os quais apontam para 7.200 novos casos desta doença, nesse ano.

“São onze pessoas que morrem por dia em Portugal, devido a esta doença, e isso é dramático num país europeu, em 2016”, afirmou.

Vitor Neves prosseguiu, lamentando que não exista ainda um rastreio desta doença, o qual permite reduzir a incidência do cancro do cólon e, sobretudo, os casos de doença avançada.

“A política preventiva deve substituir a curativa”, defendeu, recordando que, além de salvar vidas, os rastreios permitem “poupar dinheiro”.

O presidente da Europacolon disse estranhar que, até ao momento, o ministro da Saúde não se tenha pronunciado sobre a intenção de realizar um rastreio de base populacional, organizada pela tutela.

“Os casos pontuais [de rastreio] são bons, mas são atitudes. Precisamos de um rastreio de base populacional, tal como acontece com o cancro na mama”, defendeu.

De acordo com a diretora do ROR-Sul, Ana Miranda, na região sul, “o cancro do cólon tem vindo a subir nesta década”, aumentando de 32 novos casos, por 100 mil habitantes, em 2000, para 42 novos casos, em 2010.

“O cancro do cólon é uma preocupação, porque está muito associado aos hábitos alimentares. Mudámos da dieta mediterrânica – com frutas e legumes - para uma dieta com alimentos processados, refinados, com mais açúcares, hidratos de carbono menos consumos de frutas e legumes”, disse.

O cancro do cólon e do reto é o mais comum na Europa e o terceiro a nível mundial.

Saúde masculina
Com uma taxa de incidência de 3 a 9%, a doença de Peyronie afeta, sobretudo, homens entre os 45 e os

Diagnosticada e descrita, pela primeira vez, em 1743 pelo médico cirurgião François Gigot de la Peyronie, esta doença “caracteriza-se pela presença de um tecido cicatricial, fibroso e duro, ao nível da túnica albugínea que reveste os corpos cavernosos do pénis”.

De acordo com o cirurgião plástico, Biscaia Fraga, a causa desta doença ainda “não está completamente esclarecida, sendo classificada como uma patologia associada a diferentes doenças auto imunes”, como é o caso da contratura de Dupuyten (doença das mãos que atinge 15,4 a 20% dos pacientes). Microtraumatismos e herança genética estão entre os fatores responsáveis pela doença.

“Estas características levam à formação de placas fibrosas da túnica albugínea, que impede a expansão do pénis durante a ereção, tendo como resultado uma curvatura ao nível do pénis e ainda o seu estreitamento, encurtando-o, e com perda de perímetro”, explica o cirurgião.

Dor, dificuldade de penetração e disfunção erétil são as consequências desta alteração.

Quanto à sua incidência, alguns estudos demonstram que esta doença é relativamente comum nos homens de raça caucasiana, afetando sobretudo homens entre os 45 e os 60 anos de idade, registando uma taxa de 3 a 9%.

Outras pesquisas “enfatizam o seu aparecimento em jovens com idades inferiores a 15 anos de idade”.

No entanto, embora apresente uma baixa prevalência, sabe-se que esta doença afeta muitos mais homens. “A vergonha, o medo, a educação e a falta de informação são as principais causas da baixa procura por consultas médicas”, justifica Biscaia Fraga.

O diagnóstico da patologia é feito após avaliação detalhada do paciente, de modo a que seja possível prescrever o tratamento mais adequado a cada caso.

“É importante fazer uma observação do pénis ao nível da face ventral, dorsal, longitudinal e transversal; medir a curvatura peniana, durante a fase de ereção e avaliar o seu estado de gravidade de deformação”, explica o cirurgião plástico.

Por outro lado, “uma história sexual detalhada, bem como outras situações associadas - como o consumo de tabaco, doença vascular, diabetes, doença cardíaca e história familiar de lesões penianas ou deformidades - são igualmente importantes”, acrescenta.

Não obstante, esta avaliação pode ainda requerer de alguns exames complementares como a ecografia, tomografia axial computorizada, ressonância magnética e peniografia.

No tratamento da doença de Peyronie são utilizadas várias técnicas de tratamento e que dependem, sobretudo, do grau de curvatura do pénis, passando pela cirurgia peniana e pela fisioterapia.

Biscaia Fraga é responsável por uma técnica inovadora que “além de corrigir o defeito, aumenta tridimensionalmente o pénis, quer em espessura que em comprimento”.

“Sumariamente, esta técnica consiste em desagregar ou dissolver a placa fibrosa e dura com agente químico e, de seguida, preencher aquele espaço e corrigir o defeito de curvatura com tecido adiposo do próprio, adequadamente colhido e centrifugado, associado ao plasma do paciente”, explica assegurando uma elevada taxa de sucesso.

Após a cirurgia, a reabilitação peniana assume igual importância. “A reabilitação pós-cirúrgica passa por aplicar diferentes técnicas físicas, como massagem, drenagem linfática manual, ultrassom e terapias de estiramento”, explica Joana Ponte, fisioterapeuta Urogenital. Tendo como principal objetivo minimizar a retração peniana e promover uma melhor evolução e cicatrização.

“O uso de uma terapia de tração é essencial após um procedimento de excerto peniano, de forma a manter o comprimento. Esta técnica deverá ser iniciada três a quatro semanas depois da cirurgia, dependendo da evolução do paciente”, conclui.

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Núcleo de Estudos de Doenças Raras da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
No dia 29 de fevereiro, data “rara”, assinala-se o Dia Mundial das Doenças Raras e o Núcleo de Estudos de Doenças Raras da...

Luís Brito Avô, coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Raras (NEDR), explica que “em março de 2013, foi criado pelo Ministério da Saúde um grupo de trabalho que produziu um extenso relatório que propõe regras para a implementação dos Centros de Referência. Daí resultou em setembro de 2014 uma portaria regulamentando finalmente os Centros de Referência e caracterizando os processos de concurso para a sua certificação e criando uma Comissão para por tudo isto em prática. Em janeiro de 2015 foram publicadas as áreas prioritárias para lançar os concursos respetivos. Tiveram lugar em julho/agosto desse ano”.

“É do nosso conhecimento estarem aprovados os centros para as áreas de oncologia de adultos e pediátrica, para a epilepsia, doenças cardiovasculares, transplantes de órgãos, e paramiloidose familiar. O concurso para doenças hereditárias metabólicas, que afetam centenas de pessoas em Portugal, de extrema importância para as doenças raras, parece estar bloqueado, pois as candidaturas foram apresentadas em setembro/2015 e ainda não foram publicados os seus resultados. A definição destes centros é fundamental para o melhor tratamento dos portadores de doenças hereditárias metabólicas”, defende o especialista.

O coordenador do NEDR refere ainda que “do ponto de vista da Organização dos Cuidados de Saúde prestados pelo SNS para esta área, deve dizer-se que a sua maturação tem sido um longo processo. No ano de 2008 foi aprovado um Plano Nacional para as Doenças Raras (PNDR) pelo Ministério da Saúde. Um dos principais vetores deste plano é o estabelecimento de uma rede de referenciação dos doentes e a creditação de Centros de Referência com elevada diferenciação de prestação de cuidados para estas patologias. Pouco aconteceu e esse PNDR foi inclusivamente revogado pelo anterior governo e substituído por uma estratégia tripartida entre o Ministério da Saúde, Segurança Social e Ministério da Educação – o que nos parece adequado. No entanto, até ao momento, não tivemos conhecimento de grandes ações conjuntas decorrentes dessa estratégia”.

Além de alertar para estas situações que precisam de ser corrigidas, o NEDR vai juntar-se às associações de doentes da área na comemoração deste Dia Mundial das Doenças Raras. No Porto, a Aliança Portuguesa de Associações das Doenças Raras realiza uma sessão em que serão apresentadas as conclusões e recomendações da reunião do EUROPLAN (Organismo da Comunidade Europeia relacionado com esta área da Saúde) decorrida em Lisboa em 2015 e a sua repercussão na atual legislação portuguesa para as Doenças Raras. Em Lisboa, a Federação das Doenças Raras de Portugal (FEDRA), organiza um Open Day da Casa dos Marcos, durante o qual abrirá as portas a convidados de todas as áreas envolvidas nos cuidados de saúde prestados a estes doentes.

A Medicina Interna lida com doentes raros desde sempre e, sendo cerca de 80% destes doentes portadores de doenças genéticas, muitos delas ligadas ao metabolismo, foram criadas em Portugal há mais de uma década as Consultas de Doenças Hereditárias do Metabolismo do Adulto. Desde há 9 anos que o NEDR realiza ações de formação para as doenças raras e em 2016 será promovido o primeiro curso sobre este tipo de patologias em formato de e-learning.

Estudo
O norte da Espanha, nordeste da Itália, e sul e oeste da França são as regiões da Europa onde os idosos têm uma vida mais...

A investigação concluiu que “o Reino Unido tem mesmo a maior concentração de população nas regiões onde a idade de sobrevivência é mais baixa”.

Uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) traçou um mapa com o cenário de sobrevivência no continente europeu durante os últimos 20 anos, tendo encontrado grandes variações na sobrevivência dos idosos dos diferentes países.

O trabalho, publicado no Journal of Epidemiology and Community Health, analisa, com base nos censos, a taxa de sobrevivência ao fim de 10 anos da população na faixa etária de 75 a 84 anos de idade para avaliar os que atingem a faixa de 85 a 94 anos de idade.

Uma das autoras do estudo, Ana Isabel Ribeiro salienta, num comunicado enviado à Lusa, que “o mais provável é que os padrões observados resultem da combinação de dois fatores: a pobreza, que explica a baixa longevidade em Portugal, sul de Espanha e de Itália, ou nas regiões pós-industriais, por exemplo; ou comportamentos pouco saudáveis, como o tabaco ou má alimentação, que explicariam a baixa taxa de sobrevivência em determinadas áreas como a Escandinávia ou a Holanda”.

A equipa, liderada por Fátima Pinto, salienta que tendo em conta que a idade de sobrevivência contribui para os cálculos de esperança de vida das regiões, “estes dados acabam por ser muito importantes para a gestão das dinâmicas sociais numa Europa envelhecida”.

Em média, a proporção de população compreendida entre os 75 e os 84 anos em 2001 que sobreviveu mais 10 anos foi de 27% para os homens e 40% para as mulheres. Em 2011, o rácio de sobrevivência aumentou consideravelmente, atingindo 34% para os homens e 47% nas mulheres.

Contudo, como o estudo demonstra, existe uma enorme diferença geográfica na taxa de sobrevivência nos dois períodos. Em 2001 havia 27 regiões onde uma maior proporção de homens sobrevivia até 85 a 94 anos (acima de 34%) e 31 regiões onde a proporção era mais baixa (abaixo dos 21%).

Os locais onde os homens idosos tiveram a vida mais prolongada foi em Salamanca, Andorra e Genebra. Pelo contrário, Glasgow, Manchester, Liverpool, ou Londres (todas no Reino Unido), assim como as áreas industriais de mineração no norte de França, foram as áreas onde a taxa de sobrevivência dos homens idosos foi mais baixa.

Os investigadores verificaram que em 2011 o cenário foi ligeiramente diferente. As regiões com taxa de sobrevivência elevada nos homens (acima dos 41%) eram já 49; as de baixa taxa de sobrevivência (abaixo dos 21%) eram 24. Em termos geográficos, as áreas de elevada sobrevivência em 2001 mantiveram-se as mesmas e a elas juntaram-se o oeste e o sul da França.

Do mesmo modo, as áreas altamente industrializadas do Reino Unido, a zona fronteiriça entre França e a Bélgica, bem como o sul de Limburgo na Holanda ou Copenhaga na Dinamarca, mantiveram as taxas de sobrevivência muito baixas.

No caso das mulheres, em 2001, verificou-se uma taxa de sobrevivência elevada (acima dos 48%) em 45 regiões e apenas 35 onde a taxa era baixa (abaixo dos 32%).

Geograficamente, a distribuição é muito similar à dos homens com variação positiva no nordeste de Itália, e negativa no sul de Espanha, região de Nápoles e Sicília. Por sua vez, em 2011 já eram 102 as regiões com elevada taxa de sobrevivência (acima dos 56%) mas o número com taxa muito baixa (abaixo do 39%) também aumentou para 50.

Também neste ano, a distribuição geográfica das taxas foi muito similar à dos homens, mas assistiu-se a “uma enorme diminuição” da taxa de sobrevivência das mulheres idosas no nordeste de Itália.

Muitos fatores influenciam a idade de sobrevivência dos idosos, dizem os investigadores, incluindo fatores genéticos, estilos de vida, poluição, assim como o acesso a cuidados de saúde. Uma das causas mais frequentes no desfecho destes casos, acima dos 85 anos, são as doenças cardiovasculares, responsáveis por 4 em cada 10 mortes no espaço europeu.

O registo abrangeu 313. 296.725 pessoas e teve em conta 4.404 pequenas áreas de 18 países da Europa.

A Grécia, Chipre, Alemanha e Irlanda, bem como os recém-estados membros da UE foram excluídos da análise conduzida pela equipa do Porto devido à indisponibilidade de dados sobre a população muito idosa desses países.

Outros países não pertencentes à UE, como a Noruega, a Suíça, Andorra, Lichtenstein e San Marino foram incluídos por fazerem fronteira com o espaço comunitário.

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