O equilíbrio entre saúde e doença oral foi explicado pela hipótese de eubiose-disbiose, que sugere que o oraloma pode mudar de um estado saudável para um estado de doença, com interações destrutivas entre hospedeiro e microrganismos patogénicos. Vários fatores podem concorrer para tal desequilíbrio: fatores clínicos como patologias sistémicas, problemas cognitivos que podem dificultar a comunicação e a execução dos cuidados à boca bem como problemas físicos que podem constituir barreiras à independência. A cavidade oral atua como o ponto principal para a interação da pessoa com o meio externo, através das suas principais funções: mastigação, paladar, fala e deglutição.4,5 A higiene da cavidade oral é considerada um cuidado importante para a manutenção do conforto e integridade da mucosa oral, além de intervir no controlo de doenças associados à boca.6
Na pessoa hospitalizada, e após 48 horas da admissão, estima-se que a flora oral seja colonizada por microrganismos com alto potencial de virulência, o que associado a uma inadequada ou não realizada higiene, resulta na formação de biofilme (placa) e decorrentes complicações, como por exemplo, dor e infeção7. Embora não existam microrganismos patogénicos específicos associados aos estadios iniciais da inflamação periodontal, a carga bacteriana e a quantidade de placa presente, além da sua maturidade, foram correlacionadas com a gravidade da doença.
Uma variedade de medidas de higiene oral têm sido defendidas para a remoção da placa dentária, sendo a escovagem com pasta de dentes o método de primeira linha e o mais recomendado. A evidência sustenta que técnicas como a escovagem convencional com dentifrício fluoretado e o uso de antissépticos orais, melhoram a inflamação gengival e reduzem os índices de placa, desde que a limpeza seja suficientemente completa e realizada em intervalos de tempo apropriados. Embora a frequência e a duração da escovagem dentária ainda não estejam totalmente esclarecidas, é consensual a recomendação de escovagem 2 vezes ao dia com pasta fluoretada, pelo tempo de 2 minutos. Assim, a higiene oral frequente é uma técnica importante para controlar a carga microbiana na dentição e na cavidade oral, para prevenir infeção oral e infeção sistémica8.
Segundo uma revisão integrativa da bibliografia, os cuidados à boca, onde se insere a higiene oral, são subestimados nos internamentos hospitalares, existindo justificações para a sua não realização, nomeadamente, tempo insuficiente para a prestação destes cuidados, falta de material específico, falta de formação e falta de protocolos orientadores de boas práticas9,10. Assim sendo, há muito trabalho a fazer, muitos cuidados à boca a prestar por parte de todos e para todos.
*(Este artigo não visa populações de doentes internados em cuidados intensivos, sob ventilação mecânica invasiva e ventilação não-invasiva.)
Referências:
2 Ana Oliveira. Tese de Mestrado: Internamentos hospitalares da população com mais de 65 anos em Portugal – Análise Descritiva. UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, Escola Nacional de Saúde Pública, 2016
4 Kane, S. F. (2017) The effects of oral health on systemic health. General Dentistry. November / December 2017, 30-34.
5 Martin, K.; Johnston, L.; Archer, N. (2020). Oral conditions in the community patient: part 2—systemic complications of poor oral health. British Journal of Community Nursing November 2020 Vol 25, No 11
6 MacNeil, B. A., & Sorenson, H. M. (2009). Oral hygiene for the ventiled patient. AARC Times Magazine, vol.15.
7 Karen K., Giuliano, K. K.; Penoyer, D., Middleton, A. (2021). Oral Care as Prevention for Nonventilator Hospital-Acquired Pneumonia: A Four-Unit Cluster Randomized Study. American Journal of Nursing Vol. 121, No. 6
8 Allan Radaic, Yvonne L. Kapila, The oralome and its dysbiosis: New insights into oral microbiome-host interactions, Computational and Structural Biotechnology Journal, Volume 19, 2021, Pages 1335-1360, ISSN 2001-0370,
https://doi.org/10.1016/j.csbj.2021.02.010.
10 Munro, S.; Phillips, T.; Hasselbeck, R.; Lucatorto, M., A.; Hehr, A.; Sheila Ochylski, S. (2022). Implementing Oral Care as a Nursing Intervention to Reduce Hospital-Acquired Pneumonia Across the United States Department of Veterans Affairs Healthcare System. DOI: 10.1097/CIN.0000000000000808