Ministério da Saúde
Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde tinham no final do ano passado mais 1.854 profissionais que em 2016, tendo crescido o...

Segundo o Relatório Social do Ministério da Saúde, hoje publicado, havia nos hospitais um total de profissionais superior a 125 mil, sendo que o aumento de trabalhadores “mais significativo” ocorreu nos enfermeiros, com um acréscimo de 1.090 profissionais, seguidos dos médicos, com mais 938 profissionais do que em 2016.

Já os assistentes profissionais, os técnicos, os técnicos superiores de saúde e os técnicos de diagnóstico diminuíram em 2017.

Ao todo, existiam no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no ano passado 43.559 enfermeiros, 28.609 médicos, sendo que cerca de um terço eram médicos internos, ou seja, ainda em formação.

O número de horas suplementares feitas pelos profissionais de saúde cresceu 5% no ano passado, em comparação com 2016, sendo que os médicos realizaram 5,7 milhões de horas suplementares e os enfermeiros 2,5 milhões.

Considerando o número de médicos que realizou trabalho suplementar em 2017, o documento do Ministério constata que cada profissional realizou uma média de 314 horas suplementares.

Numa comparação entre as duas maiores categorias profissionais do SNS, o relatório mostra que há 1,52 enfermeiros por cada médico.

O SNS registou ainda a aposentação de 829 profissionais. Por outro lado, os médicos aposentados que quiseram regressar ao trabalho e se encontravam em funções nas unidades públicas era de 344 em 2017, um acréscimo de 14,3% face ao ano anterior.

A região com maior número de profissionais nesta situação é a de Lisboa e Vale do Tejo e é na medicina geral e familiar que mais se contabilizam regressos de médicos.

Ao nível da distribuição regional de profissionais em todo o SNS, Lisboa e Vale do Tejo e do Norte concentram mais de 70% dos profissionais, seguindo-se o Centro (19,2%), o Alentejo (4,9%) e o Algarve (4,5%).

 

Dia Mundial da ELA assinala-se a 21 de Junho
Os doentes com esclerose lateral amiotrófica (ELA) gastam até 300 euros mensais em suplementos alimentares, necessários para a...

A propósito do Dia Mundial da Esclerose Lateral Amiotrófica, que se assinala na quinta-feira, a Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica (APELA) defende “a criação de um regime especial de comparticipação” para estes doentes, como disse à Lusa Filomena Borges, da APELA.

Em comunicado, citando o presidente da organização, Pedro Souto, a APELA também diz que no âmbito da efeméride se pretende “dar enfoque à necessidade da criação de um regime especial de comparticipação da suplementação nutricional”.

É que, explica, os suplementos são essenciais para doentes com ELA, porque a doença acelera o metabolismo (os doentes são hipercatabólicos e precisam de mais calorias) e ao mesmo tempo torna difícil o processo de alimentação (dificuldade em engolir, risco de engasgue), além de provocar uma fraqueza muscular progressiva.

Na quinta-feira a APELA organiza uma ação em Lisboa dedicada à alimentação, sabor e nutrição, destinada a doentes, cuidadores e profissionais de saúde, mas também a políticos e académicos e sociedade em geral. Além de se falar dos sintomas da doença e de formas de a minimizar a associação quer partilhar ideias e preocupações, de doentes, familiares e cuidadores.

A ELA é uma doença incapacitante, caracterizada pela fraqueza e atrofia musculares progressivas, tendo os doentes uma esperança de vida que ronda os cinco anos. A ação da APELA tem dois painéis de debate uma peça de teatro improvisada.

De acordo com Filomena Borges há em Portugal cerca de 800 pessoas diagnosticadas com ELA, uma doença com cerca de 200 novos casos em cada ano.

A responsável diz que a desnutrição é comum nestas pessoas e realça a importância de garantir que o doente não perde massa muscular, pelo que os próprios médicos muitas vezes sugerem os suplementos alimentares, que “noutros países europeus são comparticipados”.

A APELA é uma organização não governamental sem fins lucrativos fundada em 1997 que pretende a promoção e divulgação da natureza da doença e apoiar os doentes e respetivos familiares.

 

Poluição
Brinquedos de plástico e até casacos de lã podem poluir as casas com minúsculas partículas de plástico. Sem que ninguém dê por...

As investigações mais recentes mostram que muitos dos microplásticos que se encontram nos corpos das pessoas vêm do ar que se respira e não apenas da água engarrafada que se bebe ou peixe que já sai poluído dos oceanos. Devido ao seu tamanho minúsculo, os microplásticos podem ser inalados e induzir uma enorme variedade de doenças, incluindo as respiratórias, as cardiovasculares e até mesmo o cancro, revela o World Economic Forum.

Mais de 300 milhões de toneladas de plástico são produzidas todos os anos. Metade desse plástico torna-se lixo em menos de um ano: apenas 9% são reciclados e os restantes 91% entram no ar, na terra e na água como lixo. Algum desse desperdício acaba nos pulmões, ali permanecendo no tecido pulmonar ou entrando na circulação sanguínea, dado que o corpo humano não consegue livrar-se naturalmente das minúsculas particulas.

Os bebés que rastejam pelo chão são os mais vulneráveis, e logo a seguir aparecem as crianças, dado que os seus sistemas respiratórios ainda estão em desenvolvimento. Até já foram encontrados microplásticos em placentas.

As investigações permitem concluir que o microplásticos se encontram tanto no ar que circula dentro das construções, como no ar livre. No entanto, a concentração no ar interior das casas é maior do que no ar livre, segundo um estudo de 2018 da École Nationales des Ponts et Chaussées.

Os microplásticos no ar interior resultam da fragmentação através do atrito, do calor ou da luz de objetos plásticos que se encontram em todas as casas: brinquedos, móveis, sacos de plástico, cosméticos, creme dental, esfoliantes, etc., etc., etc.. Tomar banho apenas com uma esfoliação corporal pode liberar 100 mil contas de microplástico no sistema de esgoto e no ar, diz o Comité de Auditoria Ambiental na Grã-Bretanha.

A maioria dos microplásticos encontrados no ar interior dos edifícios, no entanto, vem de fibras plásticas liberadas de roupas sintéticas e têxteis usados ​​em móveis domésticos. Essas fibras de microplástico tendem a ser mais longas e portanto mais prejudiciais quando inaladas. Hoje, materiais sintéticos, como acrílico, nylon e poliéster, representam cerca de 60% da produção têxtil mundial.

Ao lavar estes têxteis, as fibras de microplástico são libertadas e acabam no efluente devido à falta de bons filtros. A lavagem de uma camisola de lã, por exemplo, liberta até 250 mil fibras de microplástico no efluente, de acordo com um estudo de 2016 da Bren School of Environmental Science & Management da Universidade da Califórnia em Santa Barbara. Infelizmente, a maioria das instalações de tratamento de águas residuais também não possui filtros para remover os microplásticos da chamada água ‘tratada’.

Os efeitos dos microplásticos que entram no sistema respiratório ainda não estão totalmente analisados, mas as investigações provam que a ameaça à saúde humana é de elevado risco. Uma vez inaladas, estas pequenas partículas entram no pulmão profundo, onde podem induzir lesões nos sistemas respiratórios. As partículas mais pequenas também podem passar para a corrente sanguínea e causar doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, induzir cancro e afetar o sistema imunitário e nervoso humano. Microplásticos encontrados no tecido pulmonar indicam que o corpo não é capaz de se livrar de todas as partículas – ou seja, que os microplásticos são bio-persistentes.

Os microplásticos aerotransportados também podem transportar outros poluentes tóxicos encontrados no ar, de bactérias para as emissões do trânsito, para a corrente sanguínea e para os pulmões.

Mais investigação são necessárias para os cientistas entenderem totalmente o impacto da poluição do ar na saúde humana. Em dezembro de 2017, as Nações Unidas assinaram uma resolução para interromper o fluxo de resíduos plásticos para os oceanos. O seu próximo e talvez maior desafio é persuadir os Estados-membros a assinarem uma nova resolução para impedir o fluxo de lixo plástico para o ar.

Pré-proposta
A “pré-proposta” da nova Lei de Bases da Saúde prevê um limite ao valor máximo das taxas moderadoras a pagar por cada prestação...

Segundo a “pré-proposta”, apresentada hoje pela Comissão de Revisão da Lei de Bases da Saúde, presidida por Maria de Belém Roseira, "a lei deve estabelecer limites ao montante total de taxas moderadoras a pagar por prestação e por ano, com o objetivo de proteger os beneficiários do pagamento excessivo por prestações públicas de saúde".

“Queremos taxas moderadores inteligentes, taxas moderadoras que sejam capazes de acompanhar e de constituir um instrumento de política de saúde e taxas moderadoras que não contribuam para o empobrecimento da população e, por isso, prevemos a estipulação de um teto na regulamentação do regime que venha a acontecer”, afirmou Maria de Belém Roseira na apresentação da proposta, que aconteceu três dias antes do debate no plenário da Assembleia da República de um projeto de lei do Bloco de Esquerda sobre a nova Lei de Bases da Saúde.

O documento, que vai entrar em consulta pública, prevê também o funcionamento das instituições em rede e que as carreiras dos profissionais de saúde assentem no mérito e na progressão através de provas públicas, com incentivos à produtividade.

Relativamente ao financiamento dos estabelecimentos e serviços de saúde, a proposta defende que seja feito através da contratualização, com vista à obtenção de “ganhos em saúde e mais qualidade na prestação” de cuidados.

Maria de Belém Roseira defendeu também “uma gestão competente e qualificada”, frisando que “o setor da saúde é extraordinariamente exigente, complexo, sofisticado e tem que ter os melhores profissionais”.

“Temos que ter profissionais motivados, aos quais é reconhecido o mérito, e aos quais o Estado também proporciona formação adequada, não apenas colaborando numa formação pré-graduada, que os habilite com novas competências, com novas capacidades de comunicação e relação e também uma formação ao longo da vida”, adiantou a antiga ministra da saúde, num encontro com jornalistas.

A responsabilidade do Estado na investigação também faz parte da proposta. “Aqui tem que ser muito forte a articulação com as universidades e com as unidades privadas que desenvolvem investigação.

Como o Serviço Nacional de Saúde (SNS) poderá não conseguir prestar todos os cuidados "em termos adequados”, a nova lei prevê “princípios de articulação e relação entre os vários setores, com todos os prestadores”, ao contrário do que acontece na Lei de Bases ainda em vigor, que assume um regime de concorrência entre o sistema público de saúde e o setor privado.

Para a comissão, “todos os prestadores de saúde constituem e integram o sistema de saúde”.

Esta articulação deve ser feita, disse Maria de Belém Roseira, segundo princípios de "separação com cooperação, transparência na relação e com prestação de contas e eficiência nas escolhas que são feitas na aquisição de serviços", com “regulação forte por parte do Estado e das ordens profissionais”.

Quanto ao financiamento do SNS, a "pré-proposta" defende que deverá ser plurianual no planeamento dos recursos humanos, das infraestruturas e equipamentos e também deve visar uma aproximação relativamente ao financiamento médio per capita existente na União Europeia.

“Este financiamento adicional deve ser canalizado para fazer acontecer aquilo para que a lei de bases aponta: integração de cuidados, reconhecimento do mérito, modernização dos sistemas de informação ao serviço dos modelos de funcionamento em rede”, defendeu.

Maria de Belém disse que a proposta hoje apresentada visa “garantir ganhos em saúde, colocando as pessoas no centro do sistema e o seu acompanhamento a longo da vida, assegurando cuidados de saúde humanizados e de qualidade, permitindo e garantindo a promoção da saúde e prevenção da doença, vidas com mais e melhor saúde, mais participativas, mais realizadas, mais produtivas e mais felizes”.

O período de discussão da proposta com entidades institucionais e agentes do setor e a discussão pública vão decorrer até “meados de julho” e o documento final será entregue ao Governo na primeira quinzena de setembro, no aniversário do SNS.

Distinção
Um projeto que visa desenvolver terapias contra a dor lombar, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade...

O financiamento obtido para o projeto, que conta com a participação dos investigadores do i3S Joana Caldeira, Raquel Gonçalves, Mário Barbosa e Carla Oliveira e de Paulo Pereira e Rui Vaz (diretor), ambos do Serviço de Neurocirurgia do Centro Hospitalar S. João, vai permitir melhorar as terapias com células estaminais já existentes, utilizando tecnologias inovadoras para regenerar o disco intervertebral.

Os investigadores salientam que a dor lombar, que afeta a maioria da população em algum momento da sua vida, é causada frequentemente pela degeneração do disco intervertebral que ocorre com o envelhecimento.

As opções de tratamento existentes passam por medicamentos para controlar a dor ou cirurgias bastante invasivas e que, em grande parte dos casos, não apresentam soluções a longo prazo.

O projeto “Repurposing CRISPR for disc regeneration” é liderado pela investigadora Joana Caldeira, do grupo “Microenvironments for New Therapies”.

A ideia do projeto é “adaptar uma tecnologia de edição de genes (CRISPR-Cas9) à regeneração do disco”, disse.

Joana Caldeira explicou que o objetivo é “utilizar esta ferramenta inovadora para recriar um microambiente fetal, que já se provou ter maior potencial regenerador”.

“Deste modo, acreditamos ser possível melhorar as terapias já existentes com células estaminais, providenciando-lhes um ambiente ‘mais acolhedor’ para sobreviverem e desempenharem a sua função terapêutica”, referiu.

De acordo com a investigadora, apesar de não ser mortal, a dor lombar é a principal causa de invalidez/incapacidade em Portugal e responsável número um pela perda de anos de vida útil, à frente de outras situações como HIV, acidentes rodoviários, tuberculose, cancro de pulmão ou mesmo complicações associadas à gravidez e pós-parto.

“Por todas estas razões, tem um impacto socioeconómico tremendo devido aos elevados custos associados ao tratamento e absentismo”, frisou.

A equipa de investigadores refere “o elevado valor terapêutico desta estratégia para a medicina” e aponta “o tremendo potencial de impacto no dia-a-dia de muitas pessoas, numa era em que o envelhecimento da população já foi identificado como o problema de maior relevo para a sociedade europeia”.

Ministro da Saúde
O ministro da Saúde considerou hoje ser impossível resolver em dois anos os problemas acumulados no setor e questionou como se...

Adalberto Campos Fernandes falava aos jornalistas no final da apresentação, em Lisboa, do relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, que indica que os hospitais públicos ainda não saíram da crise económica e estão “à beira de um ataque de nervos”.

“Os cidadãos sabem que não passámos de dificuldades para o país das maravilhas. Há ainda dificuldades. Mas imagine o que seria em 2012, com menos oito mil profissionais, menos 700 milhões de euros de transferências correntes, menos mil milhões de euros de capital estatutário [de reforço nos hospitais públicos]”, afirmou.

O ministro vincou que o Governo “sempre tem dito” que está a trabalhar “ao ritmo que o país permite”.

“Nós gostaríamos de resolver em dois anos os problemas acumulados há oito ou nove anos, mas não conseguimos, é impossível. Estamos a fazê-lo, com prudência”, declarou.

Campos Fernandes recordou, durante a apresentação do relatório, que Portugal viveu “quatro a cinco anos de privação extrema e humilhante para a soberania nacional” e considerou “insensato” julgar-se que em dois anos era possível “repor os défices de investimento que se acumularam” durante vários anos, estimando que sejam precisos entre seis ou sete anos de trabalho no setor da saúde.

Questionado pela Lusa, o ministro admitiu que as críticas feitas sobre o setor estejam relacionadas com a expectativa que se criou com o atual Governo, em funções há mais de dois anos.

“Quando se faz política pensando no curto prazo não se serve o país. É preferível que os governos tenham ciclos de menos popularidade e até de alguma incompreensão, mas que fixem o seu pensamento no médio e longo prazo”, disse.

O ministro aludiu ainda ao relatório sobre o acesso ao Serviço Nacional de Saúde em 2017 para sublinhar que “o SNS estava melhor em 2017 do que em 2016 e 2015”.

Mais profissionais, mais acesso ao medicamento, mais cirurgias e consultas ou “a maior vaga de investimento em curso” é o cenário traçado por Campos Ferreira em relação aos dois anos de governação.

Sobre o Relatório de Primavera de 2018 do Observatório dos Sistemas de Saúde, o ministro considerou-o “não uma fotografia, mas um filme”, entendendo que quando se analisa a fotografia do setor é preciso ver como estava há dois, três ou quatro anos.

Ainda assim, saudou o documento, sobretudo por “ter uma aproximação científica aos problemas” e considerou mesmo que é um relatório “que apetece ler”.

O Relatório de Primavera 2018, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), hoje divulgado, diz que os hospitais públicos estão endividados e “à beira de um ataque de nervos” e continuam marcados pela intervenção da ‘troika’, apesar de o país já não se encontrar sob intervenção externa.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.

Campanha "Dê troco a quem precisa"
O Programa Abem, da Associação Dignitude, sediada em Coimbra, angariou 35.737 euros na campanha "Dê troco a quem precisa...

Em comunicado, a associação salienta que 60.023 pessoas participaram na campanha, que decorreu em 650 farmácias aderentes de todos os distritos e regiões autónomas do país, entre 14 e 25 de maio.

O programa Abem, lançado em maio de 2016, já assegurou a compra de 96.233 medicamentos, ajudando 2.552 famílias na aquisição dos fármacos de que necessitam, "o que se traduz em 5.031 beneficiários".

"De acordo com estudos recentes, uma em cada dez pessoas não adquire os medicamentos de que necessita por falta de dinheiro e, nas famílias de menores rendimentos, vivem-se muitas vezes situações limite, em que o cumprimento da terapêutica receitada perde prioridade para outros bens de primeira necessidade, como rendas, água e alimentos", refere o comunicado.

A Associação Dignitude, uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, é responsável pelo desenvolvimento, operacionalização e gestão do programa "Abem" - Rede Solidária do Medicamento, que tem como objetivo permitir o acesso, de forma digna, aos medicamentos prescritos a quem não tem capacidade financeira para os adquirir, cobrindo, no receituário, o valor não comparticipado pelo Estado.

O programa assenta numa rede de parcerias que assegura o circuito solidário do medicamento, no qual qualquer pessoa em situação de carência pode ser referenciada pelas entidades locais, que vão desde juntas de freguesia e câmaras municipais, a IPSS e outras instituições da área social.

Segundo a Dignitude, existem atualmente, em todo o país, 440 farmácias aderentes e 77 entidades referenciadoras, que abrangem 80 concelhos do país.

A criação da associação, em novembro de 2015, foi promovida pela Associação Nacional de Farmácias, Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, Cáritas e Plataforma Saúde em Diálogo e resulta de várias parcerias instituídas com entidades a nível local, autarquias, Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e outras instituições da área social.

Bastonária dos Enfermeiro
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros considerou hoje que o relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde "põe a nu&quot...

Em declarações à agência Lusa, Ana Rita Cavaco referiu não ter ficado surpreendida com as conclusões do Relatório de Primavera 2018 do Observatório dos Sistemas de Saúde porque este diz precisamente aquilo que a Ordem dos Enfermeiros tem vindo a relatar sobre as condições de funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A bastonária dos enfermeiros aludiu ainda ao facto de o SNS estar hoje transformado numa "espécie de castelo onde os príncipes e as princesas com cartão partidário" arranjam o lugar que não lograram alcançar na Função Pública, naquilo que reconheceu ser um novo paradigma de "jobs for the boys".

Em sua opinião, esta utilização do SNS para tais propósitos alheios ao interesse público "tem criado muitos constrangimentos nos serviços de saúde".

Quanto aos enfermeiros, Ana Rita Cavaco notou que existem 4,5 enfermeiros por mil habitantes no SNS, uma proporção que classificou de "baixíssima", insistindo que o relatório evidencia esta e outras situações preocupantes do SNS.

Outro dado que considerou extremamente preocupante - disse - é o endividamento do SNS, matéria também contida no relatório, com Ana Rita Cavaco a observar que a dívida do SNS é hoje maior do que aquela que existia quando a ‘troika’ chegou a Portugal em plena crise financeira.

"Neste momento é um buraco negro e tem que ter um fim", advertiu a bastonária dos enfermeiros.

Segundo o relatório hoje divulgado, os cuidados de saúde primários revelam carências estruturais, os hospitais continuam em crise e estão à “beira de um ataque de nervos”.

O relatório procurou analisar o meio caminho percorrido pela atual equipa governativa da saúde e diz ter encontrado “muitas pedras” do setor.

A aposta na reforma do SNS “está longe de estar ganha”, com os cuidados de saúde primários a revelarem “carências estruturais”, o que deixa dúvidas ao Observatório quanto “ao grau de prioridade desta área para o Governo”.

Na área hospitalar, os resultados da reforma “são inexistentes” e “prevalece uma clara crise no setor”. Segundo o Observatório, os hospitais públicos estão endividados e ainda não saíram da crise económica. O documento diz mesmo que o setor hospitalar está endividado e "à beira de um ataque de nervos".

Também nos cuidados continuados integrados, apesar da abertura de camas nas áreas metal e pediátrica, o país está “longe de atingir a cobertura da população” e falta uma aposta nos cuidados domiciliários.

Sobre os recursos humanos na área da saúde, o relatório diz que é frágil a informação sobre os profissionais, o que pode explicar a dificuldade em definir as necessidades de médio e longo prazo.

Ainda assim, os números sugerem que a despesa com profissionais de saúde está abaixo da média dos países desenvolvidos e que existe falta de equidade ao longo do país.

Na área do medicamento, o Observatório concluiu que há assimetrias geográficas na despesa com fármacos. A despesa nacional ‘per capita’ foi de cerca de 200 euros, baseada em preços de venda ao público, e a despesa diretamente paga pelas famílias rondou uma média de 71 euros.

O Alentejo e o Centro surgem como as regiões que mais gastam em medicamentos, sendo que a diferença “não é inteiramente explicada pela composição demográfica das regiões”.

Ainda na política do medicamento, o relatório reconhece que no período pós-‘troika’ aumentou o acesso a fármacos, mas considera que faltam medidas de uso racional de medicamentos em Portugal.

O relatório conclui que o processo de seleção dos membros das administrações das unidades de saúde continua demasiado preso à confiança política e refere que devia avançar a avaliação de desempenho dos conselhos de administração.

Na gestão do acesso aos cuidados de saúde, o Observatório mostra que gerir as listas de espera “exige novas abordagens políticas”. O relatório indica que as últimas iniciativas governamentais para melhorar o acesso atempado aos cuidados ainda não tiveram impacto direto.

O Relatório de Primavera debruça-se ainda sobre a saúde materna e infantil, alertando que Portugal está entre os países da Europa com mais alta prevalência de cesarianas - 60% nos hospitais privados. No caso das episiotomias (incisão para ampliar o canal do parto), a frequência desta prática em Portugal é de 70%, quando comparada a países como a Dinamarca ronda os 4%.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.

"Diabetes no Centro"
No dia 22 de junho a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) e o Programa Regional da Diabetes da ARS do Centro organizam,...

A Sociedade Portuguesa de Diabetologia e a UCFD do ACeS Pinhal Interior Norte convidam os médicos e enfermeiros da região a saber mais sobre a prevalência da diabetes em Portugal, bem como o estado dos planos nacionais para o diagnóstico, tratamento/acompanhamento e prevenção desta patologia que atinge já mais de um milhão de portugueses.

Neste ciclo de reuniões, os profissionais de saúde poderão aprofundar os seus conhecimentos sobre as complicações associadas à diabetes, os novos tratamentos para a diabetes e a temática “Diabetes em Portugal”. “O coração do diabético” será um dos temas centrais destas sessões uma vez que, segundo Hélder Ferreira, vice-presidente da SPD e coordenador do Programa da Diabetes da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro “os problemas cardiovasculares que surgem associados à diabetes representam 50% das causas de morte nos doentes com diabetes tipo 2 – e podem representar a perda de 12 anos de vida”.

Hélder Ferreira explica ainda que “as novas terapêuticas para tratar a diabetes atuam particularmente na redução do risco cardiovascular nas pessoas com diabetes e introduziram um novo paradigma de tratamento, sendo por isso necessário conhecer e debater o impacto positivo destas mudanças na prática clínica de médicos e na vida dos doentes e cuidadores”.

“A pessoa com diabetes é por norma um paciente com multimorbilidade, o que implica polimedicação, com todos os benefícios e eventuais interações e efeitos secundários dos fármacos”. Muitos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada, levando à toma de forma incorreta e utilização de fármacos sem evidência científica. “O conhecimento das interações medicamentosas, a reconciliação terapêutica e a correção da inércia terapêutica são atividades que visam aumentar a segurança do doente”. 

 

 

Declaração conjunta
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e a sua congénere espanhola, a Sociedade Espanhola de Medicina Interna (SEMI)...

A sociedade está a mudar, resultado do aumento da esperança de vida, que se traduz no aumento do número de idosos, com mais necessidades na área da saúde. Sucedem-se as ameaças à sustentabilidade dos sistemas de saúde, situação que Portugal partilha com os vizinhos espanhóis.

“Portugal e Espanha pretendem demonstrar como a medicina interna pode garantir um sistema de saúde mais equilibrado”, esclarece João Araújo Correia, presidente da SPMI. Das dez diretrizes apontadas na Declaração dos Açores, uma das de compreensão mais imediata é a importância de, nos internamentos hospitalares, haver sempre um médico com conhecimentos alargados (o Internista) que se responsabilize pela articulação dos cuidados médicos para cada doente. Seja nos serviços médicos ou nos cirúrgicos, onde tradicionalmente apenas se encontram os médicos que operam os pacientes, é fundamental garantir a segurança de todos os doentes até à alta hospitalar.

Sendo Espanha e Portugal dos países em que os cidadãos mais recorrem aos Serviços de Urgência, as Sociedades Ibéricas apontam soluções alternativas, em que a Medicina Interna poderá encaminhar os doentes para circuitos mais eficazes, mais baratos e menos desgastantes para as pessoas e para o Sistema Nacional de Saúde.

Também para os doentes crónicos, este documento defende mecanismos de articulação entre os cuidados hospitalares e os cuidados primários, com programas de gestão mais eficientes e com menos perdas de informação, além de uma otimização da integração com o Serviço Social, que tem um papel muito importante na resolução integral dos problemas das pessoas.

Algumas destas estratégias já estão a ser implementadas em Espanha, e outras em Portugal, com um impacto positivo no sistema. Com a Declaração dos Açores, a SPMI e a SEMI pretendem alertar para a importância do apoio das principais entidades da área da Saúde à participação crescente da Medicina Interna neste tipo de estratégias, visando em Portugal a construção de um SNS que dê a melhor resposta às necessidades da população.

 

 

Encontro
O dia 20 de maio marca a data em que James Lind, em 1747, terá começado o primeiro ensaio clínico. Para assinalar o Dia...

A sessão contou com a presença de diferentes intervenientes relacionados com a prática de ensaios clínicos em Portugal: doentes que já participaram em ensaios clínicos, médicos de vários Centros Hospitalares onde decorrem ensaios clínicos, representantes da Celgene e oito associações de doentes de diferentes patologias: a Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas (APLL), a Associação Todos com a Esclerose Múltipla (TEM), a Liga Portuguesa contra as Doenças Reumáticas (LPCDR), a Europacolon Portugal - Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo, a Associação Nacional de Esclerose Múltipla (ANEM), a Associação Portuguesa para as Doenças Congénitas da Glicosilação e outras Doenças Metabólicas Raras (APCDG), a Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) e a European Patients Academy on Therapeutic Innovation - EUPATI Portugal.

Decorrem, atualmente, 137 ensaios clínicos em Portugal, um número abaixo da média europeia, denotando-se um elevado desconhecimento dos doentes sobre o que é um ensaio clínico, onde é que estes que se realizam, bem como a forma de aceder à informação existente. Foi, por isso, iniciada a reunião com a  apresentação da EUPATI Portugal para divulgar as iniciativas desta associação no desenvolvimento de ferramentas destinadas a aumentar a literacia da sociedade em relação ao processo de investigação e desenvolvimemto de medicamentos e ensaios clínicos.

Foi consensual que o formato atual do formulário de consentimento informado do doente se apresenta com demasiadas páginas e numa linguagem científica, nem sempre compreensível para o doente. Foi também discutida a viabilidade e vantagem de desenvolver um modelo de consentimento informado complementado por ferramentas disponibilizadas por via eletrónica, em avaliação  em alguns países e que visa possibilitar uma transmissão de conhecimento mais eficaz ao doente, pela presença de vídeos, animações e várias secções de informação.

No final da sessão, foi identificado um conjunto de soluções possíveis para colmatar as várias dificuldades verificadas em Portugal em relação à literacia sobre ensaios clínicos, como a organização de workshops com equipas multidisciplinares para o esclarecimento de dúvidas; campanhas de sensibilização com cartazes descritivos dos estudos nos centros de investigação e formação dos representantes das associações sobre os ensaios clínicos usando as ferramentas disponibilizadas pela EUPATI para capacitar as associações a responder as questões colocadas pelos doentes e familiares.

 

Reação
O bastonário da Ordem dos Médicos considera que o Relatório de Primavera 2018, que aponta diversas lacunas ao nível da saúde,...

“O relatório vem apenas demonstrar o que tem sido referido por diversas vezes pelos parceiros sociais da saúde”, disse Miguel Guimarães, dando como exemplo os hospitais, que estão, segundo o documento, “à beira de um ataque de nervos” por causa das dificuldades de tesouraria.

“Os hospitais têm um problema muito grande ainda não resolvido. Diz o relatório que estão à beira de um ataque de nervos e é verdade, estão suborçamentados e é verdade”, afirmou o bastonário, exemplificando: “Hoje, uma direção num hospital sabe que vai ter dinheiro para pagar aos recursos humanos até ao fim do ano, mas sabe que, à partida, não vai ter dinheiro a partir de determinado mês (junho/julho) de pagar os medicamentos”.

“Isto fora todas as outras coisas (…) [os hospitais] não têm capacidade da renovar equipamento, não têm capacidade para fazer contratações nem para ter flexibilidade na gestão. Estão completamente aprisionados pelas ARS [administrações regionais de saúde], as ARS estão aprisionadas pelo Ministério da Saúde e o Ministério da Saúde está totalmente aprisionado pelo Ministério das Finanças”, afirmou.

O Relatório de Primavera 2018, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), hoje divulgado, diz que os hospitais públicos estão endividados e “à beira de um ataque de nervos” e continuam marcados pela intervenção da ‘troika’, apesar de o país já não se encontrar sob intervenção externa.

“É uma situação grave e que não permite aos hospitais como um todo darem a resposta adequada às necessidades que os doentes têm e à variabilidade que pode acontecer na capacidade de resposta”, afirma Miguel Guimarães.

O bastonário diz ainda que “quanto mais longe do poder central mais este efeito se nota”.

“As direções dos hospitais mais centrais dialogam diretamente com o Ministério da Saúde, mas os que estão mais longe não”, afirmou, sublinhando: “Não se compreende que não haja mais investimento na saúde. O Serviço Nacional de Saúde está a afundar-se”.

Outras das questões apontadas no Relatório de Primavera têm que ver com o facto de as nomeações dos conselhos de administração dos hospitais continuarem a ser políticas e com a falta de uma reforma hospitalar efetiva.

A este respeito, Miguel Guimarães lembra que “a avaliação do desempenho do que é a atividade dos hospitais nunca chegou a avançar”, lembrando o grupo criado para o efeito, mas que nunca apresentou resultados.

“Se a reforma dos Cuidados de Saúde primários ficou congelada, a reforma hospitalar nunca chegou a avançar (…). Não há perspetivas, não há uma ideia nova, não há discussão e isto tem de mudar”, acrescentou.

Sobre o recurso às cesarianas, que o relatório do OPSS diz ter atingido “proporções epidémicas” nos últimos 20 anos em Portugal, o bastonário da Ordem dos Médicos defende que a questão está centrada na literacia em saúde.

“A educação para a saúde é fundamental”, alerta Miguel Guimarães, sublinhando que só com melhor informação e com medidas de saúde pública que façam chegar a informação às grávidas, dizendo que é muito melhor para a sua saúde ter um parto normal do que uma cesariana, é que a questão se pode minorar.

O bastonário recorda a taxa de cesariana no setor privado, que é o dobro da do público e ultrapassa já os 60%, e defende que, neste caso, “o Governo não tem feito nada para corrigir a situação”.

“O Ministério da Saúde tem de ter o ponto de situação dos profissionais que trabalham no setor privado e social, como estão distribuídos e o que fazem (…). O ministro não é ministro do Serviço Nacional de Saúde, mas sim ministro da Saúde. É responsável pela política do SNS, mas também tem responsabilidades de regulação do setor privado e social”, disse.

Para o bastonário, “a política de saúde está a ser desastrosa para o SNS e, se não acautelarmos a situação, valorizando a saúde dos portugueses e passando a ver a saúde como um investimento e não como uma despesa (…) o SNS fica descaracterizado”.

“Se isto não acontecer, o que tem sido caracterizado como uma as principais conquistas da democracia, a par da liberdade de expressão, fica seriamente afetada”, concluiu.

Universidade de Coimbra
Um projeto internacional para estudar doenças neuropsiquiátricas liderado pela Universidade de Coimbra (UC) recebeu um...

O Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC “recebeu 3.885.000 euros da Comissão Europeia para coordenar o projeto internacional ‘Syn2Psy’, uma rede europeia de formação avançada no estudo dos processos celulares e moleculares em doenças neuropsiquiátricas”, afirma a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.

O ‘Syn2Psy’, aprovado no âmbito das Ações Marie Curie do programa comunitário de investigação e inovação Horizonte 2020, foi “o único projeto liderado por uma instituição portuguesa num concurso internacional com mais de 1.600 candidaturas” e no qual foi registada uma “taxa de sucesso de aprovação de apenas 7,4%”, salienta a UC.

Esta rede vai apostar, adianta a instituição, em “14 jovens cientistas para investigar as alterações no desenvolvimento cerebral, plasticidade sináptica e na conectividade dos circuitos neuronais em doenças como autismo e esquizofrenia”.

Ana Luísa Carvalho, coordenadora do projeto e docente no Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sublinha, citada pela UC, que “este estudo internacional contribuirá para identificar e sinalizar mecanismos celulares e moleculares associados a doenças neuropsiquiátricas e, a partir daí, abrir a possibilidade para o desenvolvimento de novas terapias”.

A equipa portuguesa conta com a participação dos investigadores Carlos Duarte, João Peça, Luísa Cortes, Paulo Pinheiro e Ramiro Almeida, do CNC.

No consórcio participam também cientistas do Instituto do Cérebro e da Mente da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (Suíça), do Instituto Interdisciplinar de Neurociências de Bordéus e do Instituto de Biologia Paris-Seine do Centre National de la Recherche Scientifique (França), do Centro de Fisiologia Integrativa da Universidade de Edimburgo e do Imperial College London (Reino Unido), refere a UC.

A rede inclui parcerias com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), a clínica PIN/Progresso Infantil e com as empresas Lundbeck, Eurotrials e Zeiss, acrescenta.

A companhia de teatro Marionet (criada em 2000, em Coimbra) também integra o projeto com a “proposta inovadora de promover o treino de jovens cientistas em comunicação ao público”.

As redes europeias de formação avançada apoiam programas de formação e investigação com uma "abordagem inovadora, internacional e intersetorial, com a perspetiva de melhorar a empregabilidade de cientistas no espaço europeu e no mundo".

Reportagem
O Hospital Pediátrico Dona Estefânia, em Lisboa, tem uma escola primária oficial com duas professoras que diariamente ensinam...

Num dos corredores labirínticos do 2.º andar do hospital pediátrico deixam de se ouvir os sons dos equipamentos médicos e das conversas sussurradas entre enfermeiras e médicos. As enfermarias dão vez a uma escola quase centenária onde só vai às aulas quem quer.

A funcionar desde 1926, muitas crianças aprenderam ali a ler e a escrever. Isabel Almeida, uma das professoras, vivenciou essa experiência.

“Houve uma criança que esteve aqui três ou quatro meses e chegou sem saber ler e, no final, a mãe dizia-me ´Oh professora, valeu a pena. Esteve doente mas saiu daqui a saber ler e a escrever”, recorda.

Contudo, nem todos os dias são fáceis. Trabalhar numa escola onde os alunos estão doentes é um desafio profissional e psicológico.

“A experiência foi chocante. Nos primeiros 15 dias, fui todos os dias para casa a chorar”, diz Isabel Almeida ao lembrar os primeiros tempos na Escola Dona Estefânia, há onze anos.

O dia das professoras começa na sala onde está o placard com todos os nomes das crianças internadas. Só depois da reunião com as enfermeiras é que sabem quem serão os seus alunos: Da interminável lista, há quem tenha tratamentos programados e quem, simplesmente, não queira ter aulas.

Os alunos que não se podem deslocar à escola por questões de saúde, têm aulas no quarto ou numa das salas da enfermaria.

Ema é um desses casos. Uma queimadura na mão obrigou-a a trocar a sua casa em Olhão pelo hospital em Lisboa, onde está há quatro semanas. Desde então passou a ser uma das alunas da professora Armanda Nunes.

A menina de nove anos, cabelos longos e encaracolados com uma coroa de flores na cabeça, sabe que não pode sair da enfermaria por risco de infeção, mas admite que gostava de estar integrada numa turma.

“Aqui sou só eu, por um lado é mais sossegado, mas por outro eu gosto de estar com colegas”, diz, sentada ao lado da professora, na única secretária que há na sala.

Para saberem que matérias devem ensinar às crianças, as professoras do Dona Estefânia contactam as docentes da escola de origem destes miúdos.

Alguns professores disponibilizam-se mesmo para fazer uma ligação por ‘skype’ para que as crianças do hospital pediátrico possam conversar com os colegas e assistir às aulas. Nesses momentos, as professoras acreditam que os meninos conseguem “sair do hospital” e viver uma vida normal.

Uma ideia que é confirmada pela administradora hospitalar, Helena Gonçalves, que realça a importância de “esquecerem um bocadinho aquela rotina hospitalar”.

Além disso, a direção do hospital garante que também os adolescentes podem continuar a ter aulas enquanto estão internados e a manter viva “a fantasia que é a escola e os colegas”.

A mãe de Ema, Alda Grilo, é da mesma opinião: “É importante para não perderem a matéria que aprenderam ao longo do ano e acaba por ser um meio de se distraírem e esquecerem um bocadinho que estão aqui no hospital”.

Nesta escola, conta Armanda Nunes, “nunca há um dia igual”, tanto podem ser apenas um como dez alunos na sala. E todos os dias as professoras percorrem os corredores das enfermarias para os ir buscar, um a um.

Muitos ficam espantados quando descobrem que vão para a escola de pijama. Outros admiram-se com o tamanho da escola: É apenas uma sala com estantes carregadas de livros de todas as cores e feitios, com vários copos com lápis de colorir, com computadores e até um quadro com projetor.

Bruna já está habituada à sala de aula. A menina de nove anos, que fez um transplante de medula óssea no ano passado, está há quatro meses no Dona Estefânia.

No início, tinha aulas no quarto. Agora, já aprende na sala de aula: “Gosto mais daqui, porque é mais giro. Tenho mais companhia”, resume a menina de Portimão de nove anos, acabando por admitir que o que gosta mais na escola “é das professoras”.

Às vezes as aulas são interrompidas para irem fazer exames outras vezes o telefone toca para avisar que está na hora de alguém tomar um medicamento, conta Armanda Nunes.

Ser professora numa pediatria é um desafio, porque as crianças estão doentes e muitas vezes sem capacidade para trabalhar, mas as professoras garantem que é um trabalho gratificante, sublinhando que a relação que criam com os alunos e pais "é para sempre".

Análise ao setor
Os cuidados de saúde primários revelam carências estruturais, os hospitais continuam em crise e estão à “beira de um ataque de...

O Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde procura analisar o meio caminho percorrido pela atual equipa governativa da saúde e encontra “muitas pedras no caminho”, como vai sendo referido ao longo do documento, que é hoje apresentado em Lisboa.

A aposta na reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS) “está longe de estar ganha”, com os cuidados de saúde primários a revelarem “carências estruturais”, o que deixa dúvidas ao Observatório quanto “ao grau de prioridade desta área para o Governo”.

Na área hospitalar, os resultados da reforma “são inexistentes” e “prevalece uma clara crise no setor”. Segundo o Observatório, os hospitais públicos estão endividados e ainda não saíram da crise económica. O documento diz mesmo que o setor hospitalar está endividado e "à beira de um ataque de nervos".

Também nos cuidados continuados integrados, apesar da abertura de camas nas áreas metal e pediátrica, o país está “longe de atingir a cobertura da população” e falta uma aposta nos cuidados domiciliários.

Sobre os recursos humanos na área da saúde, o relatório diz que é frágil a informação sobre os profissionais, o que pode explicar a dificuldade em definir as necessidades de médio e longo prazo.

Ainda assim, os números sugerem que a despesa com profissionais de saúde está abaixo da média dos países desenvolvidos e que existe falta de equidade ao longo do país.

Na área do medicamento, o Observatório concluiu que há assimetrias geográficas na despesa com fármacos. A despesa nacional ‘per capita’ foi de cerca de 200 euros, baseada em preços de venda ao público, e a despesa diretamente paga pelas famílias rondou uma média de 71 euros.

O Alentejo e o Centro surgem como as regiões que mais gastam em medicamentos, sendo que a diferença “não é inteiramente explicada pela composição demográfica das regiões”.

É analisado o caso específico da diabetes, sendo apontada a necessidade de “monitorizar e compreender a utilização, muito superior à média de diversos países europeus, de medicamentos mais onerosos”.

Ainda na política do medicamento, o relatório reconhece que no período pós-‘troika’ aumentou o acesso a fármacos, mas considera que faltam medidas de uso racional de medicamentos em Portugal.

O Observatório dedica um capítulo do Relatório de Primavera 2018 a analisar as infeções associadas à resistência a antimicrobianos (como antibióticos), sublinhando a necessidade de definir uma estratégia a curto, médio e longo prazo, que contraste com “as medidas avulsas” e os discursos pontuais e mediáticos.

Dados de 2011 indicam que Portugal apresentava quase o dobro (10,6%) da taxa de prevalência de infeções associadas aos cuidados de saúde do que média europeia.

De volta à área hospitalar, incidindo na governação da saúde no SNS, o relatório conclui que o processo de seleção dos membros das administrações das unidades de saúde continua demasiado preso à confiança política e refere que devia avançar a avaliação de desempenho dos conselhos de administração.

Na gestão do acesso aos cuidados de saúde, o Observatório mostra que gerir as listas de espera “exige novas abordagens políticas”. O relatório indica que as últimas iniciativas governamentais para melhorar o acesso atempado aos cuidados ainda não tiveram impacto direto.

O Relatório de Primavera debruça-se ainda sobre a saúde materna e infantil, alertando que Portugal está entre os países da Europa com mais alta prevalência de cesarianas - 60% nos hospitais privados. No caso das episiotomias (incisão para ampliar o canal do parto), a frequência desta prática em Portugal é de 70%, quando comparada a países como a Dinamarca ronda os 4%.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.

Relatório
Os lugares nos cuidados continuados integrados aumentaram 1.048 nos últimos três anos, mas perderam-se mais de 650 camas nos...

Os dados constam do Relatório de Primavera 2018, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, que analisou a evolução das camas/lugares da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) entre 2015 e 23 de março de 2018, a partir dos dados publicados pelo Governo no Retrato da Saúde 2018.

O relatório, que é apresentado hoje, constata que houve um aumento de camas de internamento em 2016 e uma descida no ano seguinte. Até março de 2018 voltou-se a verificar um aumento, traduzindo-se o balanço num saldo positivo de 1.048 lugares.

Nos cuidados domiciliários verificou-se o inverso, com “uma perda de lugares mais ou menos acentuada”, menos 655 camas entre 2015 e março de 2018, uma diminuição de cerca de 10%, demonstrando que um dos objetivos centrais da reforma da RNCCI, que era “privilegiar a domiciliação e as respostas comunitárias, não foi ainda alcançado”.

As metas estabelecidas apontavam para um acréscimo de 9% dos lugares de internamento e de cuidados domiciliários em 2017, que resultaria em 8.843 camas, no final do ano. Contudo, os números revelam que “se ficou aquém, em mais de 500 camas”, refere o documento, que aponta como justificações possíveis as restrições financeiras na saúde nesse ano.

A região de Lisboa e Vale do Tejo é a que apresenta o maior tempo de espera entre a referenciação e a identificação de vaga para as Unidade de Média Duração e Reabilitação e Unidade de Longa Duração e Manutenção, com 66,2 e 37,2 dias, respetivamente.

Os cuidados pediátricos em ambulatório na região norte (67,9 dias) são os que apresentam o mais elevado tempo de espera de todas as tipologias, observa o documento.

Os hospitais foram os que referenciaram mais utentes para a rede (65,5%), a maioria (81%) para unidades de internamento, e os Cuidados de Saúde Primários 34,5%.

Sobre as taxas de ocupação, o relatório indica que são maioritariamente superiores a 90% nas unidades de internamento, enquanto nos cuidados domiciliários nunca atingem os 75% da capacidade oferecida em cada região.

Os autores do relatório concluem que “se está perante uma rede ‘internamentocêntrica’” e questionam os objetivos da reforma dos cuidados continuados integrados ao pretender “privilegiar a domiciliação e as respostas comunitárias da rede, quando esta tipologia de resposta nunca atingiu os 75% de ocupação”.

“Se é certo que a mudança de paradigma nunca ocorre num tempo curto (internamento versus domiciliação), também é certo que a ação governativa parece sustentar este ‘internamentocentrismo’ da rede, já que ao longo do período analisado os lugares/camas de cuidados domiciliários têm vindo a descer ao contrário dos de internamento, que têm continuado a aumentar”, sustentam.

Entrevista
O Carcinoma de células de Merkel é um tipo de cancro de pele muito raro e agressivo que atinge sobre

O que é o carcinoma de células de Merkel (CCM) e qual a sua incidência?

O carcinoma de células de Merkel é um tumor maligno da pele, muito raro e agressivo, frequentemente associado ao vírus polioma. É um tumor imunogénico em que a via PD1/PDL1 encontra-se muitas vezes desregulada (superativada).

Nos EUA a sua incidência quintuplicou desde 1986 e atualmente ronda cerca de 2500 novos casos por ano. A mortalidade aos 5 anos é de 33-46%.

Quais as causas e principais grupos de risco?

As causas são desconhecidas. Em 95% dos casos o MCC aparece em caucasianos, com história de exposição solar prolongada, idade superior a 50 anos e imunodeprimidos (HIV+, LLC, doentes transplantados)

Quais as manifestações clínicas deste carcinoma? Quais as partes do corpo mais atingidas?

Geralmente apresenta-se como um nódulo cutâneo ou subcutâneo isolado, frequentemente em áreas expostas ao sol, como a face e membros.

Sendo frequentemente mal diagnosticado, o que contribui para o seu subdiagnóstico?

Não se trata de mal diagnosticado. O CCM é um tumor muito raro, cujo diagnóstico pode ser difícil. Exige patologistas experientes e diagnóstico diferencial com outros tumores, como o melanoma, linfoma entre outros.

Qual o tratamento? E que novidades existem nesta área?

O tratamento da doença localizada é cirúrgico, consistindo na excisão da lesão primária, por vezes seguido de radioterapia. Mais de 95% dos doentes fica sem doença detetável, mas cerca de metade dos casos reaparece.

A doença localmente avançada e / ou metastática tem um comportamento agressivo, mas na maioria dos casos responde bem à quimioterapia, só que infelizmente estas respostas não são duradouras e a doença volta rapidamente, levando à morte em poucos meses. A necessidade de obter terapêuticas mais eficazes levou à realização de vários ensaios clínicos com novos fármacos inibidores de diferentes check point imunológicos (anti PDL1 e anti PD1) que se revelaram promissores nesta indicação, com aumento da PFS, respostas duradouras e com um perfil de toxicidade favorável. Um destes medicamentos foi recentemente aprovado pela FDA e EMA em 1ª e 2ª linha para o tratamento da doença avançada e existem mais dois a aprovar num futuro próximo.

Decorrem outros estudos interessantes com estes agentes imunológicos também em adjuvância e neo-adjuvância, cujos resultados temos que aguardar.

Tratando-se de um cancro cutâneo raro e bastante agressivo, qual o seu prognóstico (com ou sem disseminação) O que pode condicionar o seu prognóstico?

A extensão da doença com envolvimento de vários órgãos tem pior prognóstico que a doença localizada e está associada a uma sobrevivência baixa.

É possível haver recidivas? Nestes casos, qual ou quais os tratamentos indicados? Podemos falar em cuidados paliativos?

Sim. O tratamento vai depender do tipo de recidiva e se há envolvimento sistémico, a nível de órgãos nobres. (por exemplo, pulmão, fígado, cérebro). Nestes casos o prognóstico é pior. Se a doença for oligometastática poderá haver hipótese de operar; de contrário teremos que recorrer à quimioterapia ou à imunoterapia.

Os cuidados paliativos devem ser parte integrante do tratamento de todos os doentes oncológicos em fase avançada, visando o controle dos sintomas e o conforto do doente.

No âmbito desta temática, quais as principais recomendações? Que mensagem gostaria de deixar?

O mais importante é a prevenção e deteção precoce à semelhança do que acontece nos tumores cutâneos mais frequentes. É importante evitar os comportamentos de risco como exposição solar crónica exagerada e intensa (12-16h) sobretudo na infância.

Pela sua raridade, o tratamento de eleição destes doentes deveria ser a sua inclusão em ensaios clínicos multicêntricos internacionais.

Acredito que a imunoterapia num futuro próximo vai melhorar a vida dos doentes com CMM, como acontece no melanoma avançado, no pulmão e em outros tumores.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Portugal entre os que mais recorrem à prática
O recurso à cesariana atingiu “proporções epidémicas” nos últimos 20 anos em Portugal e não está a diminuir como seria...

A prevalência desta prática obstétrica aumentou em todo o mundo neste período, “muito para além da frequência esperada das indicações clínicas” e Portugal não foi exceção, estando mesmos entre os países da Europa com mais alta prevalência, segundo o Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), que será hoje apresentado.

Nos hospitais públicos houve uma “modesta descida nas prevalências”, de 36,3% em 2010 para 27,6% em 2015. Contudo, “há uma diferença marcada entre a experiência de hospitais públicos e hospitais privados, que nenhuma regra de boas práticas ou combinação de risco poderá explicar”.

Apesar de a frequência de cesarianas ter descido ligeiramente nos hospitais privados neste período, de 67,5% e 63,4%, situa-se em valores que são o dobro dos verificados em hospitais públicos, sustenta o relatório.

Também a episiotomia, incisão na região do períneo, é mais frequente em Portugal do que nos restantes países europeus, com uma prevalência próxima dos 70% (a Dinamarca tem cerca de 4%).

Para os autores do relatório, as elevadas taxas destas duas práticas obstétricas, que representam “um fator de risco para a mãe e criança”, exigem estudos com profissionais e utentes que permitam “desenhar, testar e implementar formas de atuação sensíveis” à cultura do país, mas que “respeitem as boas práticas clínicas, assegurando às mulheres um conhecimento sólido das consequências imediatas e no curso de vida, da opção pelo parto cirúrgico ou por intervenções como a episiotomia”.

O relatório realça também a importância do aleitamento materno, enquanto estratégia para melhorar os resultados em saúde das crianças, observando que, enquanto em Itália existem 37 bancos de leite humano e em Espanha dez, em Portugal existe apenas um.

Entre 2000 e 2015 foram registados nos hospitais públicos do continente 1.668.132 internamentos, dos quais 79,7% corresponderam a nascimentos, 9% a situações de abortamento e gravidez ectópica e 1,5% a internamentos pós-parto ou pós-abortamento.

Ao longo deste período, nos hospitais públicos, o número de nascimentos diminuiu cerca de 30%, uma situação que se deve em parte ao “crescente peso dos partos” em instituições privadas, de 6.787 para 12.186 entre 2000 e 2015.

Para os autores do relatório, estes dados tornam “imperiosa a utilização de um sistema de recolha de informação comum” a todas as unidades hospitalares que realizam partos no país, porque de outro modo “é impossível conhecer a realidade da saúde e das condições que rodeiam o nascimento”

Recomendam ainda a realização de um Inquérito Perinatal Nacional, a cada cinco anos, que consideram indispensável para que “a vigilância da saúde perinatal se efetue de forma ativa, continuada e sistemática” e a concretização de inquéritos independentes e confidenciais a todas as mortes maternas e infantis e aos casos de morbilidade grave.

Relatório aponta falhas
O acesso a medicamentos na fase pós-‘troika’ teve um aumento significativo, levando a mais despesa do Serviço Nacional da Saúde...

“A fase pós-‘troika’ foi acompanhada por uma muito expressiva alteração do acesso a medicamentos no contexto hospitalar e em ambulatório, que representou um acréscimo na despesa com medicamentos no SNS”, refere o Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

Este aumento de encargos pode ser explicado, em parte, pelas novas moléculas comparticipadas em ambulatório, um total de cerca de 40 novas entre 2015 e 2017. Também a taxa média de comparticipação estatal cresceu, atingindo em 2017 o valor mais elevado dos últimos cinco anos (63,9%).

Um maior acesso a medicamentos exigiria, segundo o Observatório, “um acompanhamento por medidas assentes num quadro que sustentasse e promovesse a utilização e o uso responsável de medicamentos”.

Mas isso não aconteceu, bem pelo contrário, considera o relatório, indicando que se foi assistindo a um esvaziamento das instituições que eram os alicerces de “uma política sustentável e responsável na utilização dos medicamentos no SNS”.

O Observatório realizou uma análise regional sobre a despesa com medicamentos. A nível nacional, a despesa ‘per capita’ foi de cerca de 200 euros, com o Alentejo e a região Centro com valores superiores à média nacional. Já o Algarve surgiu como a região com menor despesa ‘per capita’.

Ao nível do que os cidadãos pagam diretamente com medicamentos, a média nacional situa-se nos 71 euros, sendo também o Alentejo e o Centro as regiões onde mais se gasta ‘per capita’ num ano nestas despesas a cargo das famílias.

As infeções associadas aos cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos também foram analisadas no relatório, que alerta para a necessidade de agir contra este "problema tão complexo e com impactantes implicações na saúde", com estratégias a curto, médio e longo prazo que contemplem ações alinhadas com as políticas de saúde nacionais e com as diretrizes das instituições internacionais.

"O mais importante já existe – profissionais de saúde com enorme resiliência e militância, dedicados e empenhados em dar o seu melhor no dia-a-dia em prol da prestação de cuidados de elevada qualidade e segurança", sublinha.

Os autores do relatório condenam "as medidas avulsas, os voluntarismos esporádicos ou intervenções, instrumentos legais e discursos pontuais e mediáticos, que têm dominado a intervenção nesta área" e deixam oito recomendações, entre as quais melhorar o conhecimento destas infeções e da resistência aos antimicrobianos com integração de informação nos cuidados de saúde primários e cuidados continuados e integrados e na rede de vigilância epidemiológica.

Aumentar o envolvimento dos doentes e das famílias na implementação de medidas de prevenção e controlo da infeção, através de programas de literacia em saúde, e criar políticas de incentivo e penalizações são outras recomendações do relatório.

Segundo o último relatório publicado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, Portugal apresentava, em 2011, uma taxa de prevalência de IACS de 10,6%, quase o dobro da média dos restantes países europeus.

Relatório de Primavera 2018
A escolha das administrações dos hospitais mantém-se demasiado presa à confiança política e a avaliação dos conselhos de...

“Apesar da mudança na forma de seleção/nomeação dos membros dos conselhos de administração, o processo é praticamente o mesmo, mantendo-se o forte pendor de confiança política”, conclui o Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), que é hoje apresentado.

O documento lembra que a forma de seleção das administrações dos hospitais é “uma medida fundamental para a transparência do sistema” e para a “defesa do interesse público”.

Embora reconheça que a criação da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP) veio acrescentar alguma transparência, o OPSS considera que o processo se manteve “praticamente inalterado”.

Quanto à avaliação de desempenho das administrações dos hospitais, os autores do relatório entendem-na como “imperativo fundamental”, mas que tem sido “sistematicamente descurado”.

“A avaliação do desempenho dos membros do conselho de administração, apesar da intenção política, parece não ter avançado. A avaliação é fundamental para consolidar/aprofundar a fiabilidade do sistema de seleção dos membros do conselho de administração, a garantia da eficiência das políticas públicas e a prossecução dos objetivos traçados, e a prestação de contas/responsabilização pelos resultados dos gestores públicos”, refere o relatório.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.

Tem como finalidade proporcionar a todos aqueles que podem influenciar a saúde em Portugal, uma análise precisa, periódica e independente da evolução do sistema de português e dos fatores que a determinam.

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