Greve dos enfermeiros
O primeiro-ministro rejeitou ontem, em absoluto, negociar a reivindicação sindical para que o salário dos enfermeiros seja de 1...

António Costa transmitiu esta sua posição no final do debate quinzenal, na Assembleia da República, numa intervenção em que reiterou a intenção do Governo de adotar todas as medidas legais para travar os efeitos das graves dos enfermeiros e em que, por outro lado, fez duras críticas aos atuais dirigentes da Ordem e de alguns sindicatos do setor.

Momentos antes, o deputado socialista António Sales também tinha feito um discurso violento contra sindicatos e Ordem dos Enfermeiros, dizendo que "basta de comportamentos que abastardam o bom nome das instituições e colocam em causa a saúde dos doentes, e basta de agendas pessoais à custa dos direitos dos portugueses".

Na mesma linha de ataque do deputado socialista, António Costa sustentou que, perante as reivindicações feitas pelos enfermeiros desde 2016, o seu Governo correspondeu a quase todas, incluindo a da criação de uma carreira com três categorias distintas, mas atingiu já o limite.

"Quem é que em Portugal acha que é possível que a entrada de base na carreira, que nos últimos anos subiu de mil para 1.200 euros, possa agora subir de novo de 1.200 para 1.600 euros? E já não vou entrar sequer na discussão de comparar o vencimento do enfermeiro com o do médico, porque isso diz tudo sobre quem a quer promover. Mas todos compreendemos que este aumento de 400 euros de vencimento base na entrada é absolutamente incomportável", declarou.

António Costa referiu mesmo que esse aumento, caso se concretizasse, "seria totalmente injusto relativamente a outras carreiras".

"Qual é a carreira que não gostaria de ter um aumento desta natureza? Não podemos aceitar que, em nome de uma ambição absolutamente irrealista e insustentável - e que não é sequer passível de qualquer tipo de negociação - se ameace o direito à saúde dos portugueses", avisou.

Ainda relativamente ao atual conflito, António Costa deixou também a mensagem de que não confunde "os enfermeiros, os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com aqueles que são os seus dirigentes na Ordem ou em sindicatos".

"Nem devemos confundir entre os dirigentes sindicais que exercem as suas funções nos termos da lei e da Constituição no que respeita ao direito à greve e aqueles que o fazem de uma forma absolutamente ilegítima. Nem sequer devemos confundir uma instituição respeitável, como a Ordem dos Enfermeiros, com aquela que neste momento a representa e que, infelizmente, está a cometer graves ilegalidades, violando a proibição legal de atividade sindical", acrescentou.

Na parte final do debate quinzenal, a vice-presidente da bancada socialista Jamila Madeira levantou o tema da revisão da lei de bases de saúde em discussão na Assembleia da República, começando por apresentar o dado segundo o qual, atualmente, 114 dos 225 hospitais são privados.

"Apesar desta realidade, os atendimentos em serviços de urgência são maioritariamente prestados por hospitais públicos, na ordem dos 85%. Uma realidade esmagadora para perceber que os portugueses em emergência, em verdadeiro Estado de necessidade, é ao Estado que pedem ajuda", defendeu.

Ainda num recado dirigido ao PSD e ao CDS, Jamila Madeira observou que a medicina privada existe hoje em Portugal "ainda mais reforçada e com maior fulgor" do que em 1974 ou em 1990.

"A medicina privada não carece de injeções financeiras nem de incentivos do Estado. O SNS sim, carece de reforço e apoio redobrado", acrescentou.

Logo a seguir, o primeiro-ministro reforçou esta linha de ataque: "É necessário clarificar e separar as águas".

"Este debate incomoda a direita e, por isso, fogem dele como o Diabo da cruz. Não querem discutir nem a questão dos princípios, nem a abordagem geral", criticou António Costa, dizendo, depois, que PSD e CDS votaram contra a criação do SNS em 1979 "e tentaram extingui-lo em 1982", o que não aconteceu por chumbo no Tribunal Constitucional.

"Perante a impossibilidade constitucional de extinguir o SNS, criaram então a lei de bases de 1990 com este atual equívoco de que se deveria promover a concorrência entre os setores público, privado e social. Desde 1990, até agora, têm vergonha de assumir aquilo que realmente pensam", disse, em nova acusação dirigida às bancadas do PSD e do CDS-PP.

Ministra da Saúde
O Serviço Nacional de Saúde fez em 2018 menos cerca de cinco mil cirurgias do que no ano anterior, segundo a ministra da Saúde,...

Só no primeiro período de greve dos enfermeiros em blocos operatórios, que decorreu entre meados de novembro e final de dezembro, foram canceladas ou adiadas mais de 7.500 cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O número foi hoje avançado por Marta Temido na comissão parlamentar de Saúde, quando estava a ser ouvida pelos deputados sobre as contas do Ministério, a pedido do PSD.

Segundo a ministra, “todos os indicadores de atividade assistencial melhoraram” em 2018, mas a atividade cirúrgica teve uma redução de 0,5%.

Marta Temido destacou que isto ocorreu num ano “particularmente difícil”, significando menos cerca de cinco mil cirurgias.

“Em 2018, mesmo o indicador da atividade cirúrgica tem apenas uma contração de 0,5%, o que significa que, mesmo num ano particularmente difícil, aquilo que perdemos em termos de cirurgias é qualquer coisa como cinco mil cirurgias", afirmou aos deputados.

A ministra não aludiu diretamente à greve dos enfermeiros em blocos operatórios, mas no final de 2018, entre 22 de novembro e final de dezembro, os enfermeiros estiveram às cirurgias programadas em cinco hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Segundo os dados do próprio Ministério da Saúde, a greve levou ao cancelamento ou adiamento de mais de 7.500 cirurgias naqueles cinco hospitais.

Depois de não terem chegado a consenso com o Governo nas negociações, os mesmos dois sindicatos dos enfermeiros que tinham convocado a primeira greve em blocos operatórios avançaram no final de janeiro para uma segunda “greve cirúrgica”, desta vez em sete hospitais.

A partir de sexta-feira há um novo pré-aviso de greve que alarga a paralisação a mais três centros hospitalares, fazendo com que a greve se estenda a um total de dez unidades até final deste mês.

Contudo, quer o Ministério da Saúde quer o primeiro-ministro já admitiram que o Governo poderá recorrer à greve civil para travar a greve de enfermeiros.

Lei de bases
O primeiro-ministro considerou hoje que há duas visões ideológicas distintas sobre o sistema de saúde em Portugal, defendendo...

António Costa assumiu esta posição na abertura do debate quinzenal, na Assembleia da República, num discurso em que procurou justificar os objetivos da proposta do Governo de revisão da lei de bases da saúde, que se encontra em processo de discussão no parlamento.

Na sua intervenção, o primeiro-ministro traçou uma linha de demarcação entre as forças que se opuseram à criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 1979 - o PSD e o CDS-PP - e os partidos que o apoiaram desde o início, neste caso o PS e o PCP.

"Sim, há pelo menos duas visões sobre a forma como se concretiza o direito à saúde. Sem rodeios e com orgulho a nossa visão é a da Constituição, é a os fundadores do SNS", declarou, após aludir ao papel desempenhado pelos históricos socialistas Mário Soares, António Arnaut e Salgado Zenha no II Governo Constitucional.

Segundo o líder do executivo, o primeiro propósito da proposta do Governo de lei de bases da saúde "visa precisamente pôr termo a este equívoco de 28 anos, reafirmando a matriz originária da Constituição expressa no notável acórdão do Tribunal Constitucional de 11 de abril 1984".

"Um acórdão que explicita que o direito à saúde é desde logo um direito às adequadas atividades e prestações do Estado que se organizam através de um serviço próprio, o SNS", especificou.

António Costa defendeu depois que "os notáveis ganhos em saúde que o SNS trouxe aos portugueses criaram um enorme consenso social, mas que tem obrigado a disfarçar uma incompatibilidade ideológica até hoje" em torno do sistema.

Neste ponto, o líder do executivo especificou que se estava a referir em concreto àqueles "que votaram contra a criação do SNS em 1979, que o quiseram extinguir em 1982, e que depois o procuraram diluir na Lei de Bases da Saúde em 1990".

Mas António Costa deixou também um recado às forças políticas à esquerda do PS: "O SNS não se defende na trincheira do imobilismo, mas no seu desenvolvimento reformista", advertiu.

Para o primeiro-ministro, cabe ao Governo defender o SNS, "modernizá-lo e fortalecê-lo", alegando que isso mesmo "é o principal objetivo que inscrito no Programa do Governo".

"Ao longo da legislatura programámos e executámos um aumento de 1300 milhões de euros na despesa pública em saúde, tendo o ano passado a despesa efetiva ultrapassado os 10 mil milhões de euros, o valor mais alto desta década. Nesse caminho, o investimento e a valorização dos recursos humanos é central", acrescentou.

Governo
O primeiro-ministro anunciou hoje que o Governo vai aprovar, na quinta-feira, em Conselho de Ministros, medidas para apoiar os...

António Costa anunciou esta medida na abertura do debate quinzenal, na Assembleia da República, que tem como tema as políticas sociais, num discurso que dedicou sobretudo às questões da área da saúde.

Perante os deputados, o primeiro-ministro anunciou que Governo aprovará na quinta-feira, em Conselho de Ministros, a proposta de lei que estabelece medidas de apoio aos cuidadores informais e às pessoas cuidadas, "de forma a reforçar a sua proteção social e a prevenir situações de risco de pobreza e de exclusão social".

De acordo com o primeiro-ministro, o seu Governo já lançou "duas verdadeiras reformas estruturais do Serviço Nacional de Saúde (SNS para melhorar a sua eficiência e aumentar a acessibilidade e a diversificação dos cuidados de saúde.

"Em outubro de 2018 criámos uma nova resposta do SNS, a Hospitalização Domiciliária, que permite aos utentes serem cuidados no seu domicílio e evitar o internamento hospitalar e que até 30 de junho será uma resposta presente em 25 hospitais. Esta nova resposta favorece uma maior humanização dos cuidados e estimula a participação ativa das famílias e dos cuidadores", sustentou.

Além deste programa, o líder do executivo falou também na "experiência piloto com as primeiras consultas de saúde oral nos cuidados primários".

"Pretende-se que, até ao final do primeiro semestre deste ano, pelo menos três em cada dez municípios tenham no mínimo um consultório de medicina dentária em centros de saúde, que até final do ano esse número passe para seis em cada dez concelhos e que, no próximo ano, já todos os municípios estejam cobertos por esta nova resposta", acrescentou.

Greve dos enfermeiros
A diretora clínica do Centro Hospitalar Tondela Viseu, Helena Pinho, lamentou hoje que não estejam a ser cumpridos os serviços...

“Ontem (terça-feira), não foram operados sete doentes que cumpriam os serviços mínimos e hoje também não”, por recusa dos enfermeiros, disse Helena Pinho, durante uma conferência de imprensa, na qual alertou para os constrangimentos provocados pelo facto de a greve estar a decorrer em simultâneo com o plano de contingência da gripe.

Desde 31 de janeiro, até à noite de terça-feira, das 180 cirurgias previstas foram canceladas 69, sete das quais deviam ter sido feitas no âmbito dos serviços mínimos, segundo a responsável. Os dados relativos ao dia de hoje estão ainda por apurar.

Helena Pinho considerou que os sindicatos que marcaram a greve, “quando a alocaram a Viseu, não conheciam muito bem a realidade” do bloco operatório central.

“Temos uma lista de espera muito grande, porque habitualmente no bloco central já quase só operamos tumores, fraturas e doentes prioritários”, explicou, acrescentando que as salas costumam estar “ocupadas de manhã à noite” com este tipo de situações.

De acordo com a diretora clínica, “com a definição alargada dos serviços mínimos, praticamente têm que se abrir as salas todas” para dar cumprimento ao que foi estipulado por um coletivo de juízes no Conselho Económico e Social (CES).

“Nos primeiros dias, os doentes que tinham indicação dentro dos serviços mínimos para serem operados, foram operados. Quem realmente veio por pressão na greve foram os sindicatos e, a partir do momento que eles cá vieram, deixaram de ser cumpridos os serviços mínimos”, lamentou.

Helena Pinho contou que “o que os sindicatos determinaram foi que abria um determinado número de salas, quando não é isso que está no acórdão” do CES.

“Neste momento, não estamos a cumprir os serviços mínimos decretados por um tribunal por opção dos sindicatos, porque faltaram a uma reunião onde poderiam eles ter tentado negociar os serviços mínimos. Eu estive e sei que eles não estiveram lá”, afirmou.

Segundo a responsável, “o comunicado que veio do ministério foi esclarecedor no sentido de que não era para definir salas, era para definir doentes que estivessem ou não dentro dos critérios”.

Se isso implicasse que, “no limite, tivesse que se abrir a totalidade das salas, estas teriam que ser abertas, porque tinham de se cumprir os serviços mínimos”, esclareceu, acrescentando que o comunicado “está de acordo com o espírito dos juízes que determinaram o acórdão”.

Helena Pinho explicou aos jornalistas que, logo no início da greve, decidiu cancelar as cirurgias adicionais, por entender que se devia concentrar “nos doentes que tinham mesmo que ser operados”.

“Tal como eu cancelei os doentes que não cumpriam os critérios, eles também deveriam estar a assegurar as cirurgias nos doentes que cumprem os critérios”, defendeu.

Segundo a diretora clínica, desde o início da greve que, todos os dias, definia com os enfermeiros quais eram os doentes que cumpriam os critérios para se encaixarem nos serviços mínimos.

“Enquanto os sindicatos não vieram, os enfermeiros concordaram comigo em quais eram”, realçou.

Helena Pinho referiu que, numa greve normal de dois dias, “se não operar um tumor agora, opera ao terceiro dia”, sem graves consequências.

“Mas esta greve dura até 28 de fevereiro. Como é que eu vou fazer para operar estes doentes que vão sendo adiados, que integram os critérios dos serviços mínimos e não estão a ser operados?”, questionou.

Ministra da Saúde
A ministra da Saúde esclareceu hoje que o Ministério tem “uma posição única” sobre a Ordem dos Enfermeiros e que a suspensão de...

“O Ministério da saúde só tem uma voz, como não podia deixar de ser. Num clima em que determinados atores têm comportamentos que não são os que a lei exige, o Ministério tem uma obrigação de fazer uma chamada de atenção relativamente a essas posições menos adequadas”, afirmou a ministra Marta Temido, quando questionada pelos jornalistas sobre a suspensão de relações institucionais com a Ordem dos Enfermeiros.

Na terça-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde anunciou num comunicado que tinha decidido suspender relações institucionais com a Ordem dos Enfermeiros devido a declarações da bastonária sobre a greve em curso e de seguida fonte oficial do Ministério indicou que essa decisão abrangia apenas o secretário de Estado.

Hoje, confrontada pelos jornalistas, Marta Temido disse que “qualquer um dos membros” da tutela da pasta da Saúde tem “uma posição única”, respondendo desta forma a questões sobre se também a ministra tinha decidido suspender relações institucionais com a Ordem dos Enfermeiros.

A ministra indicou que “o respeito institucional que o Governo tem pelos enfermeiros portugueses é inequívoco”, nada havendo que o “belisque”, sublinhando que é necessário separar uma profissão das pessoas que circunstancialmente a representam.

“Não podemos confundir as instituições com os seus atores circunstanciais (…)”, referiu Marta Temido, reconhecendo que no momento há instituições com as quais não há condições para “manter conversas totalmente equilibradas”.

Sobre as reivindicações dos enfermeiros que estão em greve nos blocos operatórios de sete hospitais públicos, Marta Temido afirma que o Governo não pode “esgotar todos os meios apenas com uma profissão”.

“Não é possível ao Governo ir mais longe, não é uma questão de braço de ferro”, frisou.

Na terça-feira, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou, em entrevista à SIC, que o governo irá apresentar queixa à justiça contra a Ordem dos Enfermeiros por violação da lei que proíbe participação em atividade sindical.

"Manifestamente, a Ordem dos Enfermeiros, em particular a senhora bastonária [Ana Rita Cavaco] têm violado com essa atuação. Iremos comunicar às autoridades judiciárias aquilo que são os factos apurados e que do nosso ponto de vista configuram uma manifesta violação daquilo que são as proibições resultantes da lei das ordens profissionais", afirmou António Costa.

O chefe do executivo admitiu também recorrer à requisição civil face às greves dos enfermeiros.

"Queremos agir com a firmeza necessária, mas com a justiça devida. Chegámos ao limite daquilo que podíamos aceitar. Se for necessário, iremos utilizar esse instituto jurídico", declarou.

Governo
As obras da nova ala pediátrica do hospital de São João, no Porto, começam no final deste ano ou início do próximo e devem...

A ministra da Saúde indicou hoje no parlamento que, entretanto, as crianças com doença oncológica do São João devem ser realojadas temporariamente a partir de abril noutras instalações que sejam mais adequadas.

A pedido do CDS-PP, a ministra da Saúde esteve hoje na comissão parlamentar de Saúde a ser ouvida sobre o hospital de São João e foi questionada sobre o processo de construção da nova ala pediátrica, que no ano passado foi alvo de várias discussões tendo em conta as condições consideradas inadequadas em que as crianças se encontram.

A ministra Marta Temido estima que as crianças com doenças oncológicas sejam realojadas para uma área do edifico principal do São João a partir de abril, até à conclusão da obra da nova ala pediátrica.

O Ministério da Saúde indica que as obras devem arrancar no final deste ano ou princípio de 2020, depois da revisão do projeto, que está em curso, e sendo terá ainda de ser preparado procedimento para a obra por ajuste direto.

Marta Temido prevê que o processo de revisão do projeto da nova ala esteja concluído em abril e entende que enquanto as obras, que terão uma duração de dois anos, estiverem a decorrer não “parece adequado que as crianças continuem nas instalações em que estão”.

Para a ministra, durante abril será possível começar a realojar duas áreas pediátricas, a oncológica e a de cirurgia.

Europa
A Comissão Europeia recomendou hoje aos 28 Estados-membros que facilitem o acesso em total segurança dos cidadãos aos seus...

Bruxelas quer que seja criado um sistema seguro de acesso por qualquer cidadão a pelo menos partes dos seus registos de saúde e a possibilidade de usar prescrições eletrónicas de medicamentos noutro país, como é o caso dos finlandeses, que podem aviar receitas na Estónia.

Outro exemplo é da troca de informação que irá permitir aos médicos luxemburgueses o acesso a resumos dos dados de pacientes checos.

A Comissão Europeia destaca, num comunicado de imprensa, que a capacidade de acesso dos cidadãos europeus aos seus registos médicos eletrónicos varia consideravelmente de um país para outro, pelo que apresentou hoje recomendações que facilitarão o acesso transfronteiras seguro e em plena conformidade com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados.

As recomendações de hoje propõem que os Estados-membros apostem na acessibilidade e na interoperabilidade transfronteiras em três novas áreas do registo de saúde: análises laboratoriais, relatórios de alta hospitalar e imagiologia e relatórios conexos.

Paralelamente, a iniciativa prepara o caminho para o desenvolvimento das especificações técnicas a utilizar para o intercâmbio de registos de saúde em cada caso.

O acesso a registos de saúde pessoais em toda a União Europeia (UE) pode ser vantajoso em caso, por exemplo, de acidente em viagem noutro Estado-membro, podendo os médicos ter acesso imediato a informações sobre o doente, como doenças crónicas, alergias ou intolerâncias a certos medicamentos.

Outra vantagem será a redução de custos, designadamente mediante a partilha de análises laboratoriais ou de testes radiológicos recentes de um doente.

Bruxelas propõe a criação de um processo de coordenação conjunta entre a Comissão e os Estados-membros para reunir os contributos de diversas partes interessadas, como os representantes da indústria, os profissionais de saúde e os representantes dos doentes, tanto a nível da UE como a nível nacional.

 

OMS
Se a mutilação genital continuar a ser praticada ao ritmo atual nos países onde a prática prevalece, 68 milhões de meninas...

A agência das Nações Unidas, que dita as pautas de saúde a nível mundial e elegeu o dia 06 de fevereiro como o Dia Internacional de Tolerância Zero contra a Mutilação Genital Feminina, recordou hoje em Genebra que esta prática vitimou até hoje mais de 200 milhões de meninas e mulheres.

Tendo em conta o crescimento demográfico nos locais onde a prática se encontra disseminada, é urgente que a comunidade internacional acelere as ações para acabar com ela, sublinhou em Genebra o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.

A maioria das meninas e mulheres mutiladas vive em três dezenas de países de África, Medio Oriente e Ásia, onde práticas como a ablação (uma das versões da mutilação genital) são consideradas como um costume cultural ou religioso.

A região do mundo com mais casos é a África ocidental, onde se calcula que mais de 85% das mulheres entre 15 e 45 anos sofreram mutilação, mas mesmo na Europa o número de vítimas ascenderá às 500 mil vítimas em várias comunidades migrantes espalhadas no continente e cerca de 180 mil meninas correm o risco de ser mutiladas este ano.

Em 2019, a OMS quer colocar um ênfase especial no combate da crença crescente de que é menos nefasta a substituição das práticas de mutilação tradicionais por outras semelhantes executadas por profissionais de saúde, comparando a mutilação genital feminina, de certo modo e de forma errada, com a circuncisão masculina.

Os profissionais de saúde “não devem nunca submeter as meninas ou mulheres à mutilação genital” e aqueles que o fazem “estão a violar os seus direitos humanos”, advertiu o porta-voz da OMS.

Esta mutilação parcial ou total do tecido externo dos genitais femininos, praticada entre alguns povos para eliminar o prazer sexual da mulher, “não tem qualquer justificação médica, apenas provoca dor, e não deve ser praticada nunca”, acrescentou.

A ONU Mulheres, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Fundo das Nações Unidas para as Atividades Populacionais reafirmaram num comunicado conjunto o compromisso para eliminar uma prática que “vulnerabiliza o direito das mulheres à saúde sexual e reprodutiva”.

“Para colocar um ponto final à mutilação genital feminina, devemos combater as causas fundamentais da desigualdade de género e trabalhar em áreas como o empoderamento social e económico das mulheres”, sublinham os três organismos.

O comunicado insta os governos dos países onde esta prática se mantém a elaborarem planos nacionais para a sua erradicação, em que incluam nos respetivos orçamentos dos Estados verbas destinadas a serviços integrais de saúde sexual e reprodutiva, educação, assistência social e de caráter jurídico.

Os organismos da ONU também exigem aos “líderes religiosos que derrubem o mito de que a mutilação genital feminina se sustenta na religião”.

“Graças à ação coletiva dos governos, da sociedade civil, das comunidades e das pessoas, a mutilação genital feminina está em declive, mas não nos conformamos com a redução do número de casos, insistimos na sua erradicação”, concluem os três organismos no comunicado conjunto.

As vítimas destas práticas costumam a ser meninas com menos de 15 anos, que depois de serem submetidas a este tipo de procedimentos sofrem com frequência hemorragias, infeções e posteriores complicações no parto, incluindo o risco de morte dos recém-nascidos.

Iniciativa nacional pretende reduzir o número de mortes por enfarte
A Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular vai promover uma campanha nacional de consciencialização para o enfarte...

“Em Portugal, somos muito bons a tratar. Mas para tratar, os doentes têm que chegar até nós mais cedo e, para isso, devem ligar o 112 assim que reconhecerem os sintomas desta doença. Acreditamos que, reduzir o número de mortes por enfarte é uma responsabilidade conjunta, dos profissionais de saúde e de uma população informada. É nesse sentido que surge esta iniciativa”, explica João Brum da Silveira, Presidente da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC).

A campanha com o nome “Cada Segundo Conta” tem como objetivos promover o conhecimento e compreensão sobre o enfarte agudo do miocárdio e os seus sintomas; e alertar para a importância do diagnóstico atempado e tratamento precoce.

“Apesar da maioria das pessoas já identificarem quais são os sintomas do enfarte agudo do miocárdio, muitas vezes não atuam com a rapidez necessária. É importante que o tratamento ocorra o mais rapidamente possível após o início dos sintomas, reduzindo, assim, o risco de mortalidade, a reincidência de enfarte e complicações associadas”, alerta Pedro Farto e Abreu, Coordenador Nacional desta campanha.

O enfarte agudo do miocárdio ocorre quando uma das artérias do coração fica obstruída, o que faz com que uma parte do músculo cardíaco fique em sofrimento por falta de oxigénio e nutrientes. Dor no peito, suores, náuseas, vómitos, falta de ar e ansiedade são sintomas de alarme para o enfarte agudo do miocárdio. Não ignore estes sintomas. Ligue rapidamente 112 e siga as instruções que lhe forem dadas.

Para evitar um enfarte é importante adotar um estilo de vida saudável: não fumar; reduzir o colesterol; controlar a tensão arterial e a diabetes; fazer uma alimentação saudável; praticar exercício físico; vigiar o peso e evitar o stress.

Diário da República
O Plano de Melhoria da Qualidade do Ar da Região de Lisboa e Vale do Tejo para partículas inaláveis e dióxido de azoto nas...

De acordo com a portaria ontem publicada, o plano, elaborado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, vai ser aplicado às aglomerações da Área Metropolitana de Lisboa Norte e da Área Metropolitana de Lisboa Sul, zonas onde se registaram níveis de partículas inaláveis (PM10 – partículas com diâmetro inferior a 10 micrómetros) e dióxido de azoto superiores aos valores limite.

De acordo com um decreto de 2010, escreve o Sapo, o plano deverá constituir a base para a elaboração do respetivo programa de execução, contemplando as ações a realizar, a respetiva calendarização, bem como a identificação das entidades responsáveis pela sua execução e, ainda, os indicadores para avaliação da sua eficácia.

O Plano de Melhoria da Qualidade do Ar, aprovado pela portaria ontem publicada, surge no cumprimento das obrigações decorrentes da aplicação de vários decretos nacionais e diretivas europeias relativos à qualidade do ar ambiente e a um ar mais limpo na Europa.

Segundo os dados publicados em DR, a avaliação dos resultados das estações da rede de monitorização da qualidade do ar da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR LVT) para os anos de 2011 a 2014 revelou que subsistem excedências pontuais aos valores limite para as partículas inaláveis (poluentes partículas PM índice 10) e dióxido de azoto (NO índice 2) nas aglomerações das Áreas Metropolitanas de Lisboa Norte e Sul.

Apesar de, nos últimos anos, se ter verificado uma melhoria mais ou menos generalizada das concentrações dos poluentes na região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT), estes níveis evidenciaram a necessidade de adotar um conjunto de medidas, a implementar a curto-médio prazo, que garantam o cumprimento destes valores limite.

A RLVT é atualmente constituída por uma zona e três aglomerações: a zona do Oeste, Vale do Tejo e Península de Setúbal (OVTPS) e as aglomerações da Área Metropolitana de Lisboa Norte (AML Norte), Área Metropolitana de Lisboa Sul (AML Sul) e Setúbal.

O inventário de emissões atmosféricas da RLVT, elaborado para o período de 2011 a 2014, permitiu verificar que o transporte rodoviário é o setor que mais contribui para as emissões totais de NO (índice x) e de partículas PM (índice 10) na RLVT.

A maior parte das emissões destes poluentes está associada aos veículos a gasóleo (categoria de veículos com maior peso na frota em circulação na RLVT), concentrando-se nas principais vias de tráfego da aglomeração da AML Norte.

A relevância do setor terciário e a grande densidade populacional da AML Norte explicam o predomínio das emissões do setor do transporte rodoviário nesta aglomeração e, em particular, na cidade de Lisboa, sendo estas essencialmente resultantes das deslocações diárias interconcelhias, geradas na maioria dos concelhos da AML, e que têm Lisboa como principal destino.

Alguns setores industriais têm também um peso significativo nas emissões de PM (índice 10), destacando-se, nos concelhos de Setúbal, Vila Franca de Xira e Seixal, a contribuição da produção de pasta de papel, indústria alimentar, química e indústria metalúrgica, respetivamente.

Este último setor assume um peso significativo no concelho do Seixal e na totalidade do território da AML Sul (36% das emissões).

A rede de monitorização da qualidade do ar da região de Lisboa e Vale do Tejo é atualmente constituída por 23 estações de monitorização. Nestas estações são medidos os poluentes CO, NO (índice x) (NO e NO (índice 2), SO (índice 2), ozono (O [índice 3]), partículas PM (índice 10) e PM (índice 2,5) e benzeno (C [índice 6] H [índice 6]).

 

“Não corte o futuro!”
O Governo português lança hoje uma nova campanha sobre a mutilação genital feminina, que pretende "alertar para as...

A campanha “Não corte o futuro!” é uma iniciativa da secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, do Alto Comissariado para as Migrações e da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, em parceria com dez organizações da sociedade civil: Associação Corações com Coroa; Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboa; AJPAS — Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde; Associação dos Filhos e Amigos de Farim; Associação Mulheres Sem Fronteiras; Associação para o Planeamento da Família; INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal; P&D Factor — Associação para a Cooperação sobre População e Desenvolvimento; União das Mulheres Alternativa e Resposta; e Comité Nacional para o Abandono de Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança (Guiné-Bissau). O grafismo foi concebido pela designer Neusa Trovoada, escreve o Sapo, do INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal.

Em comunicado, a secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade informa ainda que apoiará o festival “Animédia 2019″, organizado pela Escola Profissional Gustave Eiffel e dirigido a estudantes do ensino secundário e profissional de todo o país.

O festival, agendado para junho, premiará trabalhos de animação, audiovisuais, design gráfico, fotografia ou multimédia sobre práticas tradicionais nefastas, procurando assim “estimular a aprendizagem e a participação cívica de jovens em torno desta problemática”, refere o comunicado governamental.

A secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade adianta, em comunicado, que “houve 63 registos de mutilação genital feminina” em Portugal no ano passado, sublinhando que, em todos os casos, identificados por profissionais de saúde, “a mutilação foi praticada fora de Portugal e, em alguns casos, muitos anos antes de ter sido detetada”.

Como já anunciado em novembro, cinco agrupamentos de centros de saúde da área metropolitana de Lisboa vão coordenar ações na área da mutilação genital feminina a partir deste mês, com vista a prevenir e detetar casos e conhecer melhor o fenómeno. Essa rede de profissionais de referência (médicas/os, enfermeiras/os, psicólogas/os e assistentes sociais com formação específica sobre MGF) funcionará como ponto de contacto junto dos seus pares.

Em dezembro, o Governo anunciou também que vai apoiar o curso de pós-graduação “Saúde Sexual e Reprodutiva — Mutilação Genital Feminina”, na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, que já começou.

A mutilação genital feminina — prática que consiste na retirada total ou parcial de partes genitais, com consequências físicas, psicológicas e sexuais graves, podendo até causar a morte — afeta 200 milhões de mulheres e meninas em mais de 50 países, de origem (sobretudo africanos) e de acolhimento (muitos europeus).

Estima-se que em Portugal vivam 6.500 mulheres excisadas, na maioria originárias da Guiné-Bissau, país que tinha uma taxa de prevalência de 30% em 2014. Em declarações recentes, Fatumata Djau Baldé, presidente do Comité Contra as Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança da Guiné-Bissau, estimou que essa percentagem tenha, entretanto, descido 10%.

A Dor e o seu tratamento
É o principal motivo de consulta e afeta cerca de 37% da população portuguesa.

O Tratamento da Dor

Tal como foi descrito na 1ª parte deste trabalho, a dor não é uma doença, mas antes um sintoma que faz parte do quadro clínico de inúmeras doenças. A dor pode ainda ocorrer naturalmente (faz parte de diversas situações fisiológicas), pode ser provocada pelos próprios profissionais de saúde no contexto de alguns tratamentos ou exames e pode mesmo existir sem uma base física reconhecida (dor psicogénica).

A dor tem inúmeras causas, pode ser provocada por vários mecanismos diferentes, apresenta-se de muitas formas, tem diferentes graus de intensidade e de duração, afeta todas as pessoas (embora seja percebida e interpretada de forma diferente por cada pessoa), tem um grande impacto na qualidade de vida dos doentes e gera elevados custos socioeconómicos diretos e indiretos.

As consultas de Dor

Nos últimos anos, a “epidemia” de doenças oncológicas (muitas delas não fatais, mas transformadas em “doenças crónicas”, que cursam com sequelas importantes e dor intensa e prolongada) e o envelhecimento da população (maior número de pessoas com problemas de saúde em que a dor é um sintoma importante, como as doenças neurológicas e reumáticas crónicas) transformaram a dor num verdadeiro problema de saúde pública e obrigaram ao desenvolvimento de novas formas de tratamento.

No seguimento da investigação científica efetuada nesta área, a dor crónica veio a ser reconhecida como uma doença “autónoma, grave e debilitante” e o seu alívio, através de tratamento adequado, tornou-se um direito para os doentes e um dever para a sociedade em geral e para os profissionais de saúde em particular.

Para dar resposta a estas exigências, desenvolveram-se planos nacionais para a prevenção e controle da dor e redes de Cuidados Continuados e Paliativos e criaram-se competências em Medicina da Dor e serviços de saúde multidisciplinares dedicados exclusivamente à dor (Unidades de Dor).

No entanto, a grande maioria dos doentes com dor é, e deve ser, acompanhada nos cuidados de saúde primários, cabendo aos “médicos assistentes” avaliar os doentes, tratar os casos de dor ligeira e moderada, referenciar para cuidados diferenciados os casos mais graves e complexos e acompanhar de forma holística os doentes com dor, segundo modelos biopsicossociais que contemplem as implicações psicológicas, sociais e culturais da dor.

Esta abordagem multidimensional da gestão da dor é complexa, exigindo uma boa preparação técnica, uma enorme dedicação e uma grande disponibilidade de tempo por parte dos profissionais de saúde, o que não é fácil de conseguir numa época em que todos os minutos são contados e se trabalha muitas vezes “ao cronómetro”.

Quando se deve tratar a dor?

A dor é um sintoma bastante subjetivo, com uma grande componente emocional, pelo que cada pessoa tem a sua própria maneira de “viver” as dores: a “mesma dor” pode ser considerada por pessoas diferentes como leve, moderada, intensa ou horrível, pode ser tolerável ou intolerável, pode condicionar ou não as atividades da vida diária, pode exigir ou dispensar o apoio de cuidadores, pode gerar ou não perturbações mentais, como a ansiedade ou a depressão e pode mesmo conduzir ao suicídio.

É por isto importante caracterizar a dor, para o que existem escalas de dor, diários da dor e uma série de questionários padronizados que ajudam a medir melhor a intensidade da dor, a acompanhar a sua evolução ao longo do tempo, a calcular o seu impacto na vida dos doentes e dos seus cuidadores e a perceber a eficácia da medicação analgésica instituída.

Analisando uma dor à luz destes critérios, compreende-se que nem sempre é preciso tratar uma dor ligeira, de curta duração e bem tolerada (como sucede com a dor de uma pequena ferida ou de uma queimadura solar de primeiro grau, vulgarmente conhecida como um escaldão) e que é absolutamente vital tratar as dores agudas muito intensas (como algumas dores pós-operatórias, as cólicas renais graves ou enxaquecas intensas) ou uma dor crónica, mesmo que seja moderada, mas que provoca grande sofrimento e limita gravemente a vida do doente (como sucede nas doenças oncológicas, nas hérnias discais ou nas artroses graves).

Na maioria casos deve ter-se em consideração a vontade dos doentes de tratar ou não as suas dores (cabendo-lhes decidir se realmente precisam de as controlar ativamente ou se preferem tolerá-las sem tratamento, evitando assim os efeitos adversos dos medicamentos analgésicos), mas em algumas situações é quase obrigatório tratar rápida e energicamente a dor, para facilitar a cura da própria doença de base (no pós-operatório das grandes cirurgias, nos politraumatismos e nas queimaduras graves os doentes devem estar calmos e sem dor para facilitar os processos de cicatrização) e para evitar que as dores se cronifiquem e passem a ser “autónomas”, isto é, independentes da sua própria causa (como sucede em algumas dores nociceptivas agudas e na maioria das dores neuropáticas e oncológicas).

Muitas maneiras de tratar a Dor

O alívio da dor é um direito dos doentes, cabendo aos profissionais de saúde o dever de promover esse alívio da forma mais rápida, eficaz e segura possível.

Atendendo à enorme diversidade das situações dolorosas e dos mecanismos fisiopatológicos da dor, compreende-se que a analgesia é muito mais do que a administração de medicamentos, cabendo um papel muito importante aos tratamentos adjuvantes, não farmacológicos.

Muitas vezes, as dores desaparecem quando se curam as doenças a que “pertencem” ou se resolvem as causas que as justificam (uma cólica renal resolve-se quando o cálculo que obstrui o uretero passa para a bexiga, a dor de um abcesso dentário desaparece quando se trata a infecção, as lombalgias das contracturas musculares cedem ao calor e às massagens relaxantes), mas este princípio não se aplica a todas as dores (algumas dores ciáticas persistem depois de operar as hérnias discais, as nevralgias da zona podem durar muitos anos após a cura da infecção, em certas fracturas a dor persiste mesmo depois delas estarem consolidadas).

Sempre que se decida tratar uma dor, deve ter-se em conta uma série de critérios técnicos, humanos, logísticos e económicos na escolha do esquema de tratamento, que deve ser:

  • rápido: deve ser instituído o mais cedo possível;
  • eficaz: deve conduzir ao desaparecimento completo da dor ou pelo menos à redução da sua intensidade para níveis toleráveis;
  • seguro: para o mesmo nível de eficácia, deve escolher-se o método analgésico que tenha menos efeitos adversos e interações, especialmente nos doentes com múltiplas patologias e polimedicados;
  • aceite pelo doente: o consentimento informado de um esquema de tratamento melhora o seu cumprimento;
  • exequível: economicamente viável, fácil de cumprir (escolher esquemas terapêuticos simples, de preferência em autoadministração e/ou fáceis de administrar pelos cuidadores do doente) e de fácil acesso (evitar tratamentos que obriguem a esquemas complexos de transporte dos doentes).

Os tratamentos não farmacológicos da Dor

É de grande interesse clínico a utilização dos tratamentos não farmacológicos da dor, também designados tratamentos “adjuvantes”, embora este termo não seja muito preciso, por levar a pensar que só se devem usar como complemento dos tratamentos farmacológicos.

Na verdade, muitas vezes os tratamentos adjuvantes são suficientes para controlar as dores, ao resolvem diretamente as suas causas. Por outro lado, são muito bem aceites pelos doentes, são muito acessíveis, têm poucas contraindicações e causam poucos efeitos adversos.

Dos muitos tratamentos não farmacológicos da dor, realçam-se os seguintes:

  • aplicação de gelo, pelos seus efeitos anti-inflamatórios;
  • aplicação de calor, pela sua ação relaxante muscular e anti-espasmódica;
  • repouso, por reduzir a intensidade das dores reumáticas de ritmo mecânico;
  • exercício físico, por melhorar o desempenho global do aparelho locomotor e por induzir a produção cerebral de endorfinas, umas moléculas que têm ação calmante, sedativa e analgésica;
  • dieta: a perda de peso reduz a carga sobre as articulações e facilita o trabalho muscular;
  • massagens e osteopatia, muito úteis nas “dores das costas”, contracturas musculares e tendinites;
  • fisioterapia, com ação analgésica direta ou indireta (dependente das técnicas utilizadas);
  • acupunctura, muito eficaz no controle de dores neuropáticas, dores reumáticas  e cefaleias;
  • uso de ortóteses: aliviam as dores ao limitar os movimentos articulares;
  • tratamentos termais, com benefícios nas dores de quase todos os aparelhos e sistemas;
  • psicoterapia: ajuda a modular favoravelmente a resposta do sistema nervoso aos estímulos nervosos, muito útil nos casos de fibromialgia e outras dores com grande componente psicogénica;
  • cirurgia: algumas técnicas cirúrgicas bloqueiam os sinais dolorosos no seu percurso anatómico.

Os tratamentos farmacológicos da Dor

Apesar dos bons resultados que se podem obter com os tratamentos não farmacológicos, em muitos casos de dor aguda moderada a grave e em quase todos os casos de dor crónica é necessário recorrer a medicamentos para controlar a dor, existindo múltiplos esquemas terapêuticos e normas de tratamento bem estabelecidos para a maioria das situações clínicas, que não cabe descrever no âmbito deste trabalho.

De uma forma simplista, estes medicamentos dividem-se em dois grandes grupos: os analgésicos propriamente ditos e os fármacos adjuvantes, mais ou menos potentes, utilizados isoladamente ou em associação, administrados por diferentes vias, com perfis de segurança diversos, com muitos efeitos adversos e com custos por vezes importantes.

Os analgésicos propriamente ditos

Estes medicamentos distribuem-se por vários grandes grupos:

  • os anti-inflamatórios não esteroides, como o ácido acetilsalicílico, o ibuprofeno, o diclofenac, a nimesulida, os coxibes, o paracetamol/acetaminofeno e tantos outros, que apresentam diferentes graus de ação analgésica, anti-inflamatória e antipirética (combatem a dor, a inflamação e a febre);
  • os opióides (derivados da morfina), que, por se encontrarem naturalmente em algumas plantas, foram os primeiros analgésicos de uso empírico; existem hoje muitos medicamentos neste grupo, com diferentes graus de actividade analgésica e sedativa, sendo exemplos a morfina, o tramadol, a codeína, a oxicodona, o tapentadol, a hidromorfona, a buprenorfina, a metadona e o fentanilo;
  • os antagonistas dos NMDA (N-Metil-D-Aspartato), como a cetamina (quetamina) e o dextrometorfano, que têm efeito analgésico, anestésico e anti-tússico;
  • Os fármacos adjuvantes
  • Constituem um grupo heterogéneo de medicamentos que atuam sobre alguns mecanismos específicos relacionados com a dor:
  • os antidepressivos: modulam a resposta do sistema nervoso central à dor, equilibram os níveis de alguns neurotransmissores, aliviam a ansiedade, melhoram o sono;
  • os anti-convulsivantes: carbamazepina, gabapentina e pregabalina, usados primariamente para a epilepsia, têm bons resultados na dor neuropática e ajudam a tratar as insónias associadas à dor;
  • os corticoides (anti-inflamatórios esteroides), que reduzem a inflamação e combatem fenómenos alérgicos associados;
  • os modificadores da evolução da doença reumatismal inflamatória: imunossupressores, anticorpos monoclonais, sais de ouro, antimaláricos, etc.;
  • os anti-gotosos: colquicina, alopurinol, febuxostate e outros uricosúricos, usados no tratamento da gota úrica;
  • os medicamentos que atuam no osso e no metabolismo do cálcio: calcitonina, bifosfonatos, teriparatida, raloxifeno, ralenato de estrôncio, vitamina D, usados no tratamento da osteoporose e da osteomalacia;
  • os relaxantes musculares: tiocolquicosido, flupirtina,  ciclobenzaprina, baclofeno, reduzem a tensão muscular e combatem as contracturas;
  • os anti-espasmódicos (anti-colinérgicos):  butilescopolamina, tróspio, flavoxato, usados para o alívio de dores associadas a espasmos do trato gastrointestinal e geniturinário.
  • os ansiolíticos: ajudam a tratar as insónias e/ou têm efeito relaxante muscular;
  • a cannabis: alguns canabinóides reduzem os vómitos provocados pela quimioterapia, aumentam o apetite e têm ação analgésica, anti-depressiva e ansiolítica;
  • a cafeina: associada ao paracetamol e outros anti-inflamatórios não esteroides, como o ácido acetilsalicílico ou o diclofenac, é eficaz no controle das enxaquecas sem aura e das cefaleias de tensão;
  • os triptanos: medicamentos com ação vascular, muito eficazes na maioria das enxaquecas;
  • as vitaminas B1, B6 e B12, com efeito nas dores neuropáticas;
  • o ácido alfa-lipóico (ALA), eficaz nas dores das neuropatias periféricas devido ao seu potente efeito anti-oxidante;
  • o metamizol (dipirona): possui ação analgésica, antipirética e anti-espasmódica potente, mas o seu potencial para eventos adversos graves, como a aplasia medular, limita o seu uso (apesar de ser de venda livre em alguns países, em Portugal só pode ser vendido com receita médica e está mesmo proibido em outros países).

Os perigos dos analgésicos

Apesar de serem extremamente úteis na prática médica atual, os medicamentos analgésicos são também uma fonte constante de preocupação, devido às suas interações com outros medicamentos e aos seus inúmeros efeitos adversos.

Na impossibilidade de abordar com detalhe este problema, fica um alerta para a necessidade de olhar para os analgésicos como facas de dois gumes, que tratam a dor mas têm efeitos secundários importantes, que podem provocar graves problemas de saúde (insuficiência hepática e renal, depressão respiratória, hipertensão arterial, tromboses, hemorragias, aplasia medular…) e inclusivamente causar a morte.

A título de exemplo, pode-se realçar a necessidade de evitar o consumo de álcool em simultâneo com uma boa parte dos analgésicos (especialmente os anti-inflamatórios, opióides, sedativos, anti-depressivos, anti-convulsivantes, relaxantes musculares e antagonistas dos NMDA) e o potencial que os opióides têm de provocar habituação e dependência (com os riscos inerentes de morte por “overdose”).

Em conclusão, pode dizer-se que a grande complexidade do tratamento da dor não se compadece com amadorismos e atitudes empíricas e que a escolha dos analgésicos é um acto técnico, que compete aos profissionais de saúde.

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A Dor e o seu tratamento 


Dr. Viriato Horta
Especialista de Medicina Geral e Familiar

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
EUA
O Presidente dos Estados Unidos assumiu, na terça-feira, o objetivo de acabar com a "epidemia do VIH" no país, dentro...

"Juntos, vamos acabar com VIH [vírus da imunodeficiência humana] nos Estados Unidos e no mundo", disse Donald Trump, durante o discurso do Estado da União.

"Os avanços científicos trouxeram o que antes era apenas um sonho distante. A minha proposta de orçamento [para o próximo ano fiscal] pede aos democratas e republicanos que façam o compromisso necessário para eliminar a epidemia de VIH [dentro de 10 anos]", avançou.

Perante os legisladores, o Presidente norte-americano pediu ainda união na “luta contra o cancro infantil”.

"Muitos dos cancros infantis estão sem novas terapias há décadas (…) a minha proposta de orçamento vai pedir ao Congresso 500 milhões de dólares na próxima década para financiar essa pesquisa crucial", sublinhou.

Em relação aos produtos farmacêuticos, Trump afirmou que a "próxima grande prioridade" será reduzir os preços dos medicamentos prescritos, apelando ao Congresso para que aprove uma lei nesse sentido.

"É inaceitável que os norte-americanos paguem muito mais do que as pessoas em outros países pelos mesmos medicamentos, muitas vezes fabricados no mesmo lugar. Isso é errado, é injusto e, juntos, podemos acabar com isso", disse.

Já em relação ao tema do aborto, Donald Trump mostrou-se contra aborto em gestações em fase avançada, referindo querer que o Congresso aprove uma lei “que valorize a vida”, já que, segundo ele, "todas as crianças, nascidas e não-nascidas, são feitas à santa imagem de Deus".

O discurso do Estado da União decorre da obrigação que a Constituição dos EUA impõe ao Presidente para que preste “regularmente ao Congresso informações sobre o Estado da União”.

Greve dos enfermeiros
O primeiro-ministro admitiu ontem recorrer à requisição civil face às greves dos enfermeiros e anunciou que o Governo...

António Costa assumiu estas posições em entrevista à SIC, depois de interrogado pelo jornalista José Gomes Ferreira se o Governo tenciona recorrer à requisição civil para travar as consequências das greves dos enfermeiros.

"Queremos agir com a firmeza necessária, mas com a justiça devida. Chegámos ao limite daquilo que podíamos aceitar. Se for necessário, iremos utilizar esse instituto jurídico", declarou.

Neste ponto da entrevista, o primeiro-ministro começou por dizer que o seu executivo ainda não dispõe do parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República sobre a legalidade das paralisações convocadas e disse que o seu Governo pretende evitar uma "escalada de tensão".

No entanto, António Costa considerou "insustentável" do ponto de vista financeiro a reivindicação feita de que os enfermeiros, logo na base inicial da respetiva carreira, tenham um vencimento de 1.600 euros.

Já em relação à atuação da Ordem dos Enfermeiros neste conflito, o líder do executivo referiu que a lei das ordens profissionais "proíbe expressamente o desenvolvimento de qualquer tipo de atividade sindical".

"Manifestamente, a Ordem dos Enfermeiros, em particular a senhora bastonária [Ana Rita Cavaco] têm violado com essa atuação. Iremos comunicar às autoridades judiciárias aquilo que são os factos apurados e que do nosso ponto de vista configuram uma manifesta violação daquilo que são as proibições resultantes da lei das ordens profissionais", salientou.

Já após a entrevista, antes de abandonar as instalações da SIC, António Costa reiterou a intenção de fazer uma "participação às autoridades judiciárias".

"É preciso não esquecer o seguinte: As ordens profissionais são associações públicas, a quem o Estado delegou, sob certas condições, competências para o exercício da regulação de atividades. Ora, a lei expressamente proíbe às ordens profissionais a pratica ou a participação em qualquer tipo de atividade sindical", disse.

Segundo o primeiro-ministro, neste caso, "são públicos e notórios" os factos "de uma participação ativa da senhora bastonária, em violação clara desta proibição, em que deve ser reposta a legalidade".

Essa queixa, acrescentou o líder do executivo, "tem de ser transmitida necessariamente ao Ministério Público que é o agente do Estado junto dos tribunais".

Greve dos enfermeiros
O primeiro-ministro afirmou ontem que o Governo tomará todas as medidas "legalmente adequadas" para proteger os...

António Costa falava à entrada das instalações da SIC, onde foi ontem entrevistado, em resposta a questões formuladas pelo jornalista José Manuel Mestre sobre a possibilidade de o Governo recorrer à requisição civil para travar os efeitos das paralisações convocadas por sindicatos dos enfermeiros.

O primeiro-ministro defendeu que o Governo já aceitou a principal reivindicação dos enfermeiros "que tinha a ver com a criação de uma carreira com três categorias: Enfermeiro, enfermeiro especialista e enfermeiro gestor".

"Vamos aliás avançar com o diploma nesse sentido para concluir essas medidas. Quanto ao resto, estamos a avaliar qual é a situação e tomaremos todas as medidas legalmente adequadas para proteger os doentes e assegurar o bom funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS)", disse.

António Costa fez depois questão de separar águas entre os profissionais de enfermagem, afirmando que o seu executivo não confunde "a vida dos enfermeiros e da sua indispensabilidade ao SNS com a posição de alguns dirigentes sindicais, ou da Ordem" dos Enfermeiros.

"Nem confundimos aqueles sindicatos que têm atuado de forma pacífica e legal exercendo o direito constitucional à greve com outros sindicatos que não têm respeitado a lei e que têm tido uma atitude de crueldade em relação aos doentes", declarou.

Presidente da República
O Presidente da República considerou ontem fundamental que seja aprovado o estatuto do cuidador informal ainda na presente...

Marcelo Rebelo de Sousa recebeu ontem no Palácio de Belém a Associação Nacional dos Cuidadores Informais, a quem disse que “é fundamental que não se deixe para depois das eleições uma votação favorável à ideia do estatuto do cuidador informal”.

A reunião, na qual participaram vários cuidadores informais e a eurodeputada Marisa Matias, uma ativista na questão, foi vedada à imprensa mas a Presidência tornou pública a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa.

A defesa da criação de um estatuto tem sido feita em várias ocasiões por Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje voltou a dizer que, chamando-se estatuto ou outro nome, “a realidade está aí e não pode passar para a próxima legislatura”, até porque mesmo num cenário idêntico ao atual no parlamento começa-se um novo percurso de debate.

Por esse motivo, frisou o Presidente, tem de haver uma decisão sobre um diploma, que ainda que não seja o perfeito tem que ser prioritário e que essa decisão deve ser nos próximos três meses.

Marcelo Rebelo de Sousa prometeu que nos contactos informais com os partidos políticos vai “fazer muita pressão”, sendo que é preciso continuar essa pressão porque a comunicação social vai distrair-se com outras matérias nos próximos meses.

Prometendo que vai agora colocar, quando falar com a imprensa, a questão dos cuidadores “a propósito e a despropósito”, Marcelo frisou: “Sinto que é nos próximos dois meses e meio, três meses, que isto se faz. E tem de se fazer”.

Sofia Figueiredo, presidente da Associação, disse aos jornalistas no final da reunião que é preciso “continuar a luta” para que o estatuto seja aprovado até ao verão e que “há 800 mil pessoas em Portugal à espera”.

Marisa Matias disse também no final que há agora condições para que se chegue a um compromisso e falou igualmente das 800 mil pessoas “a quem são negados direitos todos os dias”.

Sofia Figueiredo disse que o diploma terá de conter questões como a capacitação, o descanso do cuidador e os apoios sociais, porque há pessoas a passar fome, acrescentando que o Governo já não pode ignorar a matéria.

Vera, uma mulher que esteve ontem em Belém e que é cuidadora do filho, de cinco anos, falou precisamente da fome e da falta de dinheiro para comprar medicamentos para o filho.

“Com uma criança que não pode ficar sozinha, que não come sozinha, tem sido muito complicado”, e sobretudo, disse, com a incompreensão da Segurança Social, onde até já a mandaram “para a cochinchina”.

O Governo aprovou recentemente a proposta de Lei de Bases da Saúde mas sem reconhecer o estatuto do cuidador informal, algo que segundo a ministra da Saúde não era necessário estar contemplado na proposta.

Parlamento
As farmácias vão lançar uma petição a pedir ao parlamento um “programa legislativo” que garanta “a igualdade e a equidade” de...

A petição é lançada oficialmente pela Associação Nacional das Farmácias (ANF) na segunda-feira, Dia Mundial do Doente, data em que as 2.750 farmácias associadas da ANF terão os materiais disponíveis, disse uma fonte da associação.

Com o título “Salvar as farmácias, cumprir o SNS”, a petição apela à Assembleia da República para que “assuma um programa legislativo” com sete objetivos, sendo o primeiro “garantir a igualdade e a equidade de todos os portugueses no acesso aos medicamentos, indispensável à coesão territorial”.

Os signatários pedem também ao Parlamento que atribua “incentivos e melhores condições de funcionamento às farmácias mais frágeis, evitando o seu encerramento” e que proíba “a concentração de farmácias e a sua instalação dentro dos hospitais”.

Combater as falhas de medicamentos, garantindo aos doentes o acesso na farmácia a todos os medicamentos receitados pelos médicos e “promover o uso racional dos medicamentos, proibindo qualquer prática que incentive o seu consumo, como os descontos nos medicamentos com preço fixado pelo Estado” são outros objetivos propostos.

Os peticionários requerem ainda que seja fixado “um critério de remuneração igual para todos os agentes do sector do medicamento” e que se aproxime “os medicamentos das pessoas”, promovendo a dispensa na farmácia de medicamentos oncológicos e para o VIH-sida, a vacinação contra a gripe e outras intervenções em saúde pública, com particular atenção aos doentes crónicos.

A petição assinala os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que se comemoram este ano, afirmando que “a melhor forma de celebrar esta obra maior” da Democracia “é garantir a sua sobrevivência no século XXI”.

“O SNS não pode encolher, nem afastar-se das pessoas. Tem de garantir o direito à saúde a todos os portugueses”, mas “a rede de farmácias comunitárias também não pode encolher, nem afastar-se das pessoas”, sublinha.

A petição alerta para o problema que algumas farmácias estão a atravessar, adiantando que, neste momento, há 675 a enfrentarem processos de penhora e insolvência, correspondendo a quase 25% da rede.

“Ainda há uma farmácia próxima de cada português, mesmo nas terras onde fechou a extensão do centro de saúde, a escola, o tribunal e outros serviços públicos. É isso que está em risco”, advertem, sublinhando que são as farmácias “mais pequenas, que servem populações mais isoladas e envelhecidas”, que não estão a conseguir sobreviver.

As farmácias vão distribuir vários folhetos que falam das consequências da desertificação, exemplificando que “fecharam 5.327 escolas do primeiro ciclo, dois terços da rede”, “desapareceram 757 extensões dos centros de saúde até 2011, último ano com dados disponíveis” e que “havia 1.730 estações dos correios, agora há 580”.

“Neste momento, o leitor tem uma farmácia perto de si. Se vive num lugar distante, tem a minha palavra: as farmácias vão continuar a lutar para que tenha o mesmo direito à Saúde que eu, aqui em Lisboa”, afirma o presidente da ANF, Paulo Duarte, em outro folheto.

Greve dos enfermeiros
O presidente da secção regional Norte da Ordem dos Médicos disse ontem estar “muito preocupado” pelo facto de vários hospitais...

“Isso, como é evidente, prejudica seriamente os doentes”, afirmou António Araújo.

O representante dos médicos revelou que os centros universitários do Porto e do São João e o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho não cumpriram ontem os “serviços mínimos”, tendo doentes com doença oncológica não sido operados.

Além disso, o responsável pela Ordem dos Médicos na região Norte assumiu ver ainda com “muita apreensão” a situação atual por entender que se estão a “extremar demasiado as posições”.

“A Ordem dos Médicos está preocupada com o aumento do discurso de alguns dirigentes associativos de uma classe profissional de saúde que, como já foi afirmado, coloca em causa o relacionamento entre os vários profissionais de saúde”, considerou.

António Araújo ressalvou que não se tem constatado o estabelecimento de “diálogo e de pontes de consenso” que possam satisfazer quer as aspirações dos enfermeiros, quer as possibilidades que o Governo tem em as satisfazer

“Pelo contrário, tem-se fechado as portas ao diálogo, tem-se extremado cada vez mais as posições, por um lado do enfermeiro, por outro da tutela, e acaba-se por não se conseguir resolver a situação e lesar a saúde dos doentes”, vincou.

Por esse motivo, a Ordem dos Médicos exorta o Governo e as estruturas associativas dos enfermeiros a dialogarem.

O diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário do Porto avançou ontem que os enfermeiros não cumpriram os serviços mínimos decretados para a greve, tendo sido operados apenas cinco dos 26 doentes considerados como “prioritários”.

Em declarações, José Barros adiantou que para ontem estavam agendados 30 doentes em 12 salas operatórias para cirurgia convencional e, desses, o hospital considerou que 26 cumpriam os atuais critérios de “serviços mínimos” (muito prioritários, prioritários, oncológicos ou TMRG [tempos máximos de resposta garantidos] expirados ou a expirar durante a greve).

A greve dos enfermeiros decorre desde quinta-feira e estende-se até fim de fevereiro em blocos operatórios de sete hospitais públicos, sendo que a partir de sexta-feira passa a abranger mais três hospitais num total de dez.

O secretário de Estado Adjunto da Saúde suspendeu relações institucionais com a Ordem dos Enfermeiros na sequência de posições e declarações da bastonária sobre a greve em blocos operatórios, segundo uma nota do gabinete de Francisco Ramos.

Greve dos enfermeiros
O diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário do Porto disse ontem que os enfermeiros não cumpriram os serviços mínimos...

Em declarações, José Barros adiantou que para ontem estavam agendados 30 doentes em 12 salas operatórias para cirurgia convencional e, desses, o hospital considerou que 26 cumpriam os atuais critérios de “serviços mínimos” (muito prioritários, prioritários, oncológicos ou TMRG [tempos máximos de resposta garantidos] expirados ou a expirar durante a greve).

Das 12 salas funcionaram apenas duas e foram operados cinco doentes, todos oncológicos, um de neurocirurgia e quatro de urologia, revelou.

José Barros acrescentou que quatro doentes, igualmente oncológicos e que são tidos como prioritários ou muito prioritários, não foram sujeitos a cirurgia.

A operação de um doente com ileostomia por colectomia total (colite ulcerosa) e hipocoagulado foi adiada já pela segunda vez devido à greve dos enfermeiros, contou.

Posto isto, o diretor clínico considerou que os serviços mínimos “não foram cumpridos”, acrescentando que comunicou aos sindicatos na segunda-feira à noite que 26 dos 30 doentes agendados para cirurgia cumpriam os seus critérios.

“Temos mandado a lista para os sindicatos, mas nunca nos responderam”, frisou.

O diretor clínico explicou que alguns destes doentes, nomeadamente aqueles com doença oncológica, foram remarcados para quarta-feira, mas assumiu desconhecer se a cirurgia se vai ou não realizar.

“Já comunicamos estes dados ao Ministério da Saúde, estamos agora à espera de instruções e de que agilize os serviços mínimos”, referiu.

Ao final da tarde, os sindicatos vão reunir com o hospital, revelou.

Relativamente ao Centro Materno-Infantil do Norte, e segundo os dados obtidos pelo centro hospitalar universitário, estavam agendadas 14 cirurgias para ontem, tendo sido realizadas metade delas, nomeadamente três crianças e quatro mulheres com doença oncológica.

A greve dos enfermeiros decorre desde quinta-feira e estende-se até fim de fevereiro em blocos operatórios de sete hospitais públicos, sendo que a partir de sexta-feira passa a abranger mais três hospitais num total de dez.

O secretário de Estado Adjunto da Saúde suspendeu relações institucionais com a Ordem dos Enfermeiros na sequência de posições e declarações da bastonária sobre a greve em blocos operatórios, segundo uma nota enviada à agência Lusa pelo gabinete de Francisco Ramos.

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