Observatório
O novo Observatório Português de Canábis Medicinal (OPCM) alertou que o óleo de canabidiol foi retirado do mercado após a...

Com a criação desta associação inicia-se "formal e legalmente um caminho" para "garantir que os direitos dos utilizadores deste medicamento e de substâncias à base da planta para fins medicinais são acautelados”, intervindo junto das "entidades competentes para que assim seja”, disse Carla Dias, presidente do OPCM, que será constituído, oficialmente, na segunda-feira, em Coimbra.

Carla Dias é mãe de uma menina de 2 anos com uma epilepsia refratária que viu o seu estado de saúde “melhorar substancialmente” com o óleo de canabidiol (CBD), um dos componentes da canábis.

Em declarações à agência Lusa, Carla Dias contou que tem recebido muitos contactos de doentes que pretendem experimentar o CBD, mas não têm qualquer tipo de acompanhamento.

Contudo, desde que a lei do uso da canábis medicinal foi publicada em janeiro, os doentes começaram a deparar-se com “problemas gravíssimos” no acesso ao óleo, que inicialmente era considerado um suplemento alimentar e estava à venda em Portugal, mas que deixou de estar quando passou a ser considerado um medicamento e ter de passar a ser vendido nas farmácias.

“Havia pessoas que já estavam a fazer o tratamento”, usando o óleo para tratar a epilepsia ou para aliviar os sintomas da esclerose múltipla ou da quimioterapia, e tiveram que o interromper, referiu.

“O Infarmed regulamentou, e ficou tudo muito legal e claro, mas as pessoas deixaram de ter acesso”, enquanto não há autorizações de colocação no mercado para as empresas poderem disponibilizar o óleo em Portugal, adiantou.

Carla Dias contou que há doentes que compram o óleo pela internet. Às vezes chega-lhes a casa, outras vezes fica preso na alfândega e “as pessoas recorrem ao mercado negro”.

“Estão a permitir que as pessoas que compravam nas ervanárias comprem no mercado negro, estão a permitir a ilegalidade”, frisou, alertando para os riscos de parar o tratamento: “A minha filha não pode deixar de tomar o óleo. Se isso acontecer, volta a ter as crises que tinha anteriormente”.

“Portugal andou para a frente numa lei e agora andamos para trás”, considerou, salientando que este óleo é considerado “uma substância segura” pelas Nações Unidas.

A associação diz ter conhecimento de empresas que estão a tentar pedir a autorização de colocação no mercado, mas “há entraves burocráticos do Infarmed” que estão a travar o processo.

Contactado pela Lusa, o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde remeteu para a informação publicada no seu ‘site’, segundo a qual a colocação no mercado de preparações ou substâncias à base da planta de canábis para fins medicinais está sujeita a uma autorização de colocação no mercado, que lhe deve ser submetida.

“O pedido deve ser acompanhado das propostas da rotulagem e das instruções de utilização (…) e da documentação que demonstre a qualidade da preparação”, adianta.

Segundo Carla Silva, o observatório pretende “observar todas as iniciativas governamentais nacionais para garantir que os direitos dos utilizadores deste medicamento e de substâncias à base da planta para fins medicinais são acautelados” e irá “intervir junto das entidades competentes para que assim seja”.

Constituído por médicos, fisioterapeutas, advogados, psicólogos e utilizadores de canábis para fins medicinais, o OPCM tem como objetivos observar e promover a investigação científica sobre a planta ‘Cannabis Sativa L.’, bem como divulgar informação sobre a sua utilização em benefício dos pacientes.

Propõe-se ainda criar um registo de utilizadores, divulgar estudos e ensaios clínicos, e estabelecer protocolos com universidades, empresas e instituições governamentais.

Comunicado
Para Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO) o projeto de regulamento da Ordem dos Médicos que define o ato médico...

Em causa está o projeto de regulamento que define o ato médico apresentado pela Ordem dos Médicos (OM), publicado em 28 de março em Diário da República, em discussão pública, e que já mereceu críticas também da Ordem dos Enfermeiros.

Em comunicado, a APFISIO defende que o documento “ignora os modelos de trabalho interdisciplinares contrariando as regras de boas práticas em saúde atualmente recomendadas internacionalmente”.

Além disso, “limita o acesso do cidadão aos serviços de saúde prestados por outros grupos profissionais, contrariando o seu direito à livre escolha e acesso à saúde, podendo influenciar de forma negativa a sustentabilidade dos cuidados de saúde prestados”.

Entre as críticas apontadas, a associação de fisioterapeutas sublinha ainda que o projeto da OM “desrespeita o princípio da autonomia profissional, limitando o exercício dos diferentes profissionais nos cuidados de saúde e desconsidera o corpo de saberes próprio de cada grupo profissional”.

Por sua vez, defende a APFISIO, o projeto “excede as competências da OM” ao estabelecer que a coordenação de equipas multidisciplinares deverá ser feita por médicos, criando uma “dependência funcional entre grupos profissionais autónomos e cientificamente independentes, que se pretendem complementares.

Na semana passada, também a Ordem dos Enfermeiros (OE) acusou a OM de ultrapassar competências com o projeto de regulamento que define o ato médico.

Em comunicado divulgado em 11 de abril, a OE anunciou que contestou o regulamento junto dos médicos, explicando que “a redação apresentada pela Ordem dos Médicos contraria normas legais em vigor e fere o primado do direito europeu”.

A proposta de regulamento da OM define que o médico “é o profissional legalmente habilitado ao exercício da medicina, capacitado para o diagnóstico, tratamento, prevenção ou recuperação de doenças e outros problemas de saúde, e apto a prestar cuidados e a intervir sobre indivíduos, conjuntos de indivíduos ou grupos populacionais, doentes ou saudáveis, tendo em vista a proteção, melhoria ou manutenção do seu estado e nível de saúde”.

Estabelece também que o médico deve “cooperar com outros profissionais cuja ação seja complementar à sua” e que deve “coordenar as equipas multidisciplinares de trabalho constituídas”.

Consultas Externas
Mais de 135 mil consultas não foram realizadas porque os doentes faltaram no ano passado só no Centro Hospitalar Lisboa Norte,...

Dados do Centro Hospitalar que engloba o Santa Maria e o Pulido Valente, a que a agência Lusa teve acesso, mostram que as consultas não realizadas por falta do doente representam mais de 15% do total de 700 mil consultas feitas em 2018 naqueles hospitais.

Em média, por dia, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) tem cerca de 600 consultas por dia que não são feitas porque os doentes não comparecem, se forem descontados os fins de semana, altura em que não há consultas externas.

Comparando, por exemplo, com as consultas não realizadas por motivo de greve em 2018 (um total de 2.262), as que não aconteceram por falta do doente são cinquenta vezes mais.

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar assume que é “um número muito elevado” o das consultas perdidas porque o doente não comparece e recorda que geralmente não há aviso prévio por parte do utente.

Em declarações à Lusa, Carlos Martins adianta que já foi criado dentro do CHULN um grupo para estudar esta questão e que deve, até ao final deste semestre, apresentar propostas para melhorar a forma de comunicação com os cidadãos.

O administrador reconhece que “nem sempre as falhas serão apenas do cidadão” e admite que seja necessário criar mecanismos mais eficazes de contacto para as consultas, de forma a que os utentes não se esqueçam da marcação, por exemplo.

“Vamos ter que repensar o nosso ‘contact center’ e a formação de recursos humanos para termos profissionais dedicados a esta missão de contacto”, acrescentou.

O sistema de aviso por mensagem telefónica ou por email são alguns dos exemplos de avisos aos utentes, mas Carlos Martins recorda que há uma população “com média etária elevada” e que o contacto telefónico não pode também ser esquecido.

O Centro Hospitalar acrescenta ainda que a partir da segunda falta sem aviso já não é remarcada automaticamente nova consulta.

Os dados das consultas a que os doentes faltaram mostram que nos últimos três anos houve uma tendência de subida e que as especialidades com mais faltas se mantêm as mesmas.

Dermatologia, psiquiatria e saúde mental, pediatria médica, oftalmologia e pneumologia são os cinco serviços com maior número de consultas não realizadas por falta dos doentes.

Os serviços que têm apresentado menor número de faltas dos doentes são a cirurgia cardiotorácica, a neonatologia, a cirurgia torácica, o serviço de medicina e a radioterapia.

Os números têm vindo a subir desde 2016, pelo menos. Entre 2016 e 2017 as consultas não realizadas por falta do doente no CHULN subiram 6% e entre 2017 e 2018 voltaram a crescer quase 3%.

Dados do primeiro trimestre deste ano, indicam que o peso de consultas não realizadas por ausência do doente permanece com um peso de 15,5%.

Nos primeiros três meses deste ano houve já mais de 34 mil consultas não realizadas por falta dos utentes nos hospitais Santa Maria e Pulido Valente, o que significa uma média diária de mais de 550 consultas não dadas.

Doença contagiosa
Um caso de escabiose, doença vulgarmente designada por sarna, foi identificado no Hospital dos Marmeleiros, no Funchal, num...

"Após o diagnóstico, foram implementadas as medidas de segurança e controlo preconizadas de forma a minimizar os efeitos dessa situação junto dos utentes internados e dos profissionais", refere o SESARAM em comunicado de imprensa.

O Serviço de Saúde da Madeira adianta que a escabiose "não é uma doença grave", sendo, no entanto, contagiosa e caracterizada comichão, prurido e erupções cutâneas.

"As situações de sarna, embora não desejáveis, podem ocorrer em qualquer espaço público", indicam as autoridades de saúde, realçando que o serviço regional está "plenamente preparado" para tomar as medidas de segurança necessárias para o controlo da doença.

 

Infeções
A agência francesa do medicamento (ANSM) fez uma advertência a médicos e pacientes sobre riscos decorrentes do uso do...

Um porta-voz da Agência Nacional de Segurança do Medicamento e dos Produtos de Saúde (ANSM) explicou hoje, citado pela agência Efe, que “o pedido francês” será analisado pelos seus homólogos europeus.

O responsável recordou que as autorizações dos medicamentos são feitas para toda a Europa, e não apenas para França, e que é a essa escala que é necessário fazer-se uma reavaliação da relação risco-benefício do ibuprofeno e do cetoprofeno.

O ibuprofeno é o segundo antálgico (fármaco para aliviar a dor) mais usado em França, depois do paracetamol.

A ANSM, que em junho do ano passado tinha lançado uma investigação farmacológica encomendada aos seus centros de Tours e Marselha, emitiu na quinta-feira um conjunto de recomendações.

Em primeiro lugar, a agência recomendou privilegiar o paracetamol, em vez do ibuprofeno, e do cetoprofeno em caso de dor ou febre, sobretudo em casos de infeção como anginas, rinofaringites, otites, tosse, infeção pulmonar, assim como lesões cutâneas ou varicela.

A entidade também indicou algumas regras para a boa utilização dos anti-inflamatórios, nomeadamente usar “a dose mínima eficaz, durante o menor tempo” possível, interrompendo o tratamento assim que os sintomas desapareçam e não prolongando o tratamento por mais de três dias em caso de febre, nem mais de cinco dias em caso de dor.

As recomendações decorrem do estudo que tinha sido encomendado em junho de 2018 aos centros regionais da ANSM de Tours e Marsella, que concluiu que há uma série de infeções que poderiam ser agravadas com a toma destes medicamentos.

Essas complicações foram observadas após períodos muito curtos de tratamento (dois a três dias) quando o ibuprofeno ou cetoprofeno tinham sido prescritos (ou utilizado em automedicação) para a febre, inflamações cutâneas benignas, problemas respiratórios ou do sistema otorrinolaringológico.

Os investigadores franceses analisaram 337 casos de complicações infecciosas graves com ibuprofeno e 49 com cetoprofeno e que estiveram na origem de hospitalizações, sequelas e até mesmo a morte.

Os casos foram estudados ao longo de um período prolongado com inínio no ano 2000.

Cuidados a ter
A doença periodontal é, a seguir à cárie dentária, a patologia oral que mais afeta os portugueses.

Trata-se de uma doença que evolui de forma silenciosa, muitas vezes sem sintomas, e que atinge 4 em cada 5 pessoas com mais de 35 anos. A doença periodontal que habitualmente evolui de uma gengivite, sem dor, é considerada a patologia crónica oral mais prevalente no mundo.

De acordo com o médico dentista, Paulo Marques, trata-se de uma patologia “inflamatória crónica de origem multifatorial” provocada pela acumulação da placa bacteriana.

Gengivas edemaciadas, avermelhadas e sensíveis, hemorragia durante a mastigação ou escovagem, aumento da sensibilidade dentária, mobilidade ou alterações no alinhamento dentário e mau hálito, são alguns dos principais sintomas.

E embora se pense que doença esteja intimamente ligada a uma higiene oral deficiente, a verdade é que há vários fatores de risco que condicionam o seu desenvolvimento. Entre eles destacam-se os hábitos alimentares, alterações hormonais, a utilização de medicamentos “que produzem alterações no fluxo e composição da saliva”, as doenças imunossupressoras que reduzem a capacidade de resposta e defesa do sistema imunitário, as doenças inflamatórias sistémicas crónicas, endócrinas, nutricionais e metabólicas, para além dos fatores genéticos.

“A doença periodontal está associada a várias patologias sistémicas, como a diabetes, doenças cardiovasculares, infeções respiratórias, artrites reumatoide, partos prematuros”, começa por explicar o especialista de Clínica Médica Dentária Visdente, esclarecendo que, entre as manifestações orais mais frequentemente associadas a estas doenças, estão as “lesões da mucosa oral, da língua, gengiva, as lesões periodontais, das glândulas salivares, do esqueleto facial e da pele extra oral”.

E justifica: “os dentes, a língua, as bochechas e a gengiva são superfícies da cavidade oral, colonizadas por comunidade microbianas complexas” que servem para a preservar o equilíbrio e a homeostasia na cavidade oral, “ajudando a produzir nutrientes, a manter o pH, a modular a produção de saliva e a gerar substâncias inibitórias, de modo a prevenir a colonização e crescimento de espécies exógenas e patogénicas”.

A diabetes para além de produzir alterações vasculares no periodonto, aumentando assim o risco de infeções, provoca ainda uma diminuição na produção de saliva e altera a sua composição. Facto que contribui não só para a diminuição dos mecanismos de defesa da cavidade oral como favorece a formação e o crescimento da placa bacteriana.

“A semelhança dos agentes patogénicos responsáveis pela periodontite em pacientes diabéticos e não diabéticos sugere que as modificações da resposta imunitária do hospedeiro pode exercer uma ampla influência sobre a maior prevalência e gravidade das lesões periodontais em doentes diabéticos”, revela Paulo Marques.

Deste modo, diz o especialista, “há evidências científicas que mostram uma ligação entre a doença periodontal e diabetes”, estando os doentes com diabetes não controlada mais expostos à doença. Do mesmo modo, “os pacientes com doença periodontal têm maior dificuldade no controlo da glicemia”.

A estreita associação entre estas duas patologias faz com que seja ainda mais importante estar atento aos sintomas. E também o médico dentista tem um papel fundamental, não só no seu diagnóstico como no tratamento.

“Os pacientes bem controlados, sem complicações crónicas, com boa higiene oral e acompanhamento médico regular podem ser tratados sem necessidade de cuidados especiais, uma vez que respondem de forma favorável e da mesma forma que os não-diabéticos”, afirma.

No caso de doentes “descompensados e com múltiplas complicações, o tratamento estomatológico deverá ser paliativo e em situações de urgência, como a presença de dor e de infeção”. O tratamento definitivo só pode ser efetuado depois de estabilizado este quadro.

Segundo Paulo Marques, o diagnóstico e tratamento de doentes diabéticos exige um conhecimento detalhado da patologia. No entanto, “ainda há falta de informação dos profissionais quanto à forma mais adequada de lidar com estes pacientes”.

Para o especialista é essencial realizar a história clínica do doente, incluindo dados que remetam para a sintomatologia da diabetes, níveis recentes de glicose e frequência de hipoglicemia.

“O médico dentista deve ter particular atenção aos fármacos em utilização pelo paciente, à sua dosagem e frequência de administração, e a parâmetros que poderão ser ajustados no caso de uma intervenção maior”, revela.

“As consultas devem ser realizadas ao início da manhã, quando os níveis de glicose do paciente são estáveis e este deve estar previamente alertado para manter a sua dieta e terapêutica antes da consulta”, acrescenta referindo que compete ainda ao médico dentista medir o nível de glicose antes de qualquer procedimento, que não deve efetuar “se os níveis de glicose forem inferiores a 70mg/dL”. E se, por algum motivo, suspeitar que há uma descida dos mesmos durante a consulta, “deve suspender imediatamente o tratamento e proceder à administração de hidratos de carbono (chocolate, água com açúcar) ”.

Em matéria de prevenção, é importante reforçar que a manutenção de bons hábitos de higiene oral é essencial para evitar a progressão da doença periodontal ou outras complicações associadas à diabetes.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Diagnóstico nem sempre é fácil
As Imunodeficiências Primárias, ou IDP, são um grupo de mais de 350 doenças raras e crónicas nas quais parte do sistema...

As IDPs não são doenças contagiosas, são causadas por defeitos genéticos e, apesar de algumas doenças  se manifestarem desde o nascimento ou nos primeiros anos de vida, as IDPs podem manifestar-se em qualquer pessoa, independentemente da idade ou género. Estas patologias têm diferentes formas de afetar o sistema imunitário, e o seu diagnóstico nem sempre é fácil.

“Os principais desafios do âmbito do diagnóstico das IDPs são a necessidade de maior divulgação dos sinais de alerta entre médicos de Medicina Geral e Familiar, Pediatria e Medicina Interna. Estes sinais devem motivar a referenciação para Centros de Referência onde existe diferenciação clínica e acesso a laboratórios diferenciados para o diagnóstico. A curto prazo seria também importante avançar para a implementação do rastreio neonatal precoce de Imunodeficiência Grave, que poderá ser acoplado ao Teste do Pézinho, à semelhança do que já se passa em muitos países”, explica Susana Lopes da Silva, imunoalergologista, com vasta experiência em IDP.

Muitas destas IDP revelam sintomas nos primeiros meses de vida, pelo que “os pais devem estar atentos a um possível aumento da frequência/gravidade das infeções, sobretudo com impacto no desenvolvimento da criança, a doenças autoimunes, sobretudo em crianças mais jovens e quando atingindo vários orgãos, a quadros de aumento de baço e gânglios linfáticos, etc.”, acrescenta a especialista.

Apesar de o diagóstico ser difícil, as IDP são tratáveis. Susana Lopes da Silva refere que atualmente são utilizados “tratamentos de substituição de imunoglobulinas e/ou profilaxias com antibióticos/anti-fúngicos; tratamentos imunossupressores em casos de autoimunidade/inflamação e, em casos selecionados,de acordo com defeito genético identificado, terapêuticas direcionadas para alvos específicos em diferentes vias imunitárias. Existem ainda, para algumas IDPs, terapêuticas curativas: transplantes de progenitores hematopoiéticos, terapia génica (não disponível no nosso país)”.

Estes tratamentos permitem que os portadores de IDP consigam ter uma vida normal, mantendo as terapêuticas crónicas e um estilo de vida saudável (alimentação, hábitos de sono, não fumar). Os doentes com IDP deverão também evitar contacto com indivíduos infetados.

Em Portugal há condições para diagnosticar, acompanhar e tratar estes doentes, mas existem ainda aspetos a melhorar. Ricardo Pereira, presidente da APDIP realça que é necessário regulamentar o tratamento domiciliário, por via da administração de imunoglobulina subcutânea em casa.

“Os doentes tratados com imunoglobulina endovenosa fazem o tratamento em meio hospitalar, os doentes tratados com imunoglobulina subcutânea fazem-no no conforto da sua casa, sendo este tratamento a  opção preferível em muitos casos, pela comodidade e menor risco de infeção para estas pessoas, que têm já um sistema imunitário fragilizado. No entanto, esta forma de tratamento precisa de ser devidamente regulamentada, o que ainda não aconteceu até hoje”.

A imunoalergologista Susana Lopes da Silva recorda ainda que “é necessária a obtenção do estatuto de doença crónica para estes doentes e o desenvolvimento de um centro nacional para a referenciação de doentes para transplante de células hematopoiéticas”.

Para assinalar a Semana Mundial das Imunodeficiências Primárias, a APDIP vai promover duas iniciativas para envolver as pessoas que vivem com estas patologias: o Encontro de Famílias com Imunodeficiências Primárias, que se realizou no dia 14 de abril, no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha e a V Caminhada pela Saúde, que acontece no dia 28 de abril no Parque das Nações, em Lisboa. As inscrições para ambas as ações estão disponíveis no site da APDIP.

Cobertura global
Um manifesto europeu defende a criação de metas de vacinação para a Europa, recomendando uma taxa de 95% da vacina contra o...

Dados provisórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam um aumento global do número de casos de 300% no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2018, seguindo a tendência dos últimos dois anos.

Este aumento também se verifica em países com elevada cobertura de vacinação contra o sarampo, como Israel, Tailândia, Tunísia e Estados Unidos, onde a cidade de Nova Iorque declarou o estado de emergência de saúde pública devido a um surto que atingiu a comunidade judaica ultraortodoxa.

A OMS alerta que a taxa de cobertura vacinal global está aquém dos 95% necessários para evitar surtos, situando-se em 85% na primeira dose da vacina e em 67% na segunda, o que deixa “muitas pessoas, em muitas comunidades, em risco”.

O manifesto “Europa mais Saudável”, criado pela Vaccines Europe, grupo especializado em vacinas da Federação Europeia da Indústria Farmacêutica, defende que “os líderes da União Europeia têm um papel fundamental a desempenhar nas políticas de vacinação” e, por isso, incentiva as autoridades públicas, conjuntamente com todas as partes interessadas, a aplicá-las.

O documento, apoiado e divulgado hoje pela Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma), considera que as vacinas são vítimas do próprio sucesso uma vez que a ausência de doenças graves, devido à eficácia das vacinas, alimentou a perceção errada de que a vacinação deixou de ser necessária.

“Além disso, a multiplicação de notícias falsas, pese embora os altos padrões de qualidade aplicados à produção de vacinas, desafia constantemente as provas sobre a segurança e a eficácia da vacinação”, sublinha o manifesto, que recomenda que se apoiem políticas de vacinação em todas as fases da vida das pessoas, contribuindo assim para a sustentabilidade dos Sistemas de Saúde e para a produtividade da sociedade.

O manifesto propõe também a criação de um Cartão de Vacinação Europeu, com informação normalizada, útil para facilitar a interpretação dos registos de vacinação e assegurar a continuidade da vacinação transfronteiriça.

Um estudo promovido pela Comissão Europeia e divulgado em outubro indicava que 98% dos portugueses consideram as vacinas importantes para a saúde das crianças, 96,6% entendem que são eficazes e mais de 95% dizem que são seguras.

Portugal surge como o país com maior percentagem de população a encarar as vacinas como seguras, eficazes e importantes na infância.

O inquérito, feito nos 28 países da União Europeia a cerca de 29 mil pessoas de uma amostra representativa de cada estado-membro, questionou especificamente a confiança na vacina do sarampo.

Infarmed
A despesa com anticoagulantes no Serviço Nacional de Saúde cresceu 25% em 2018, ultrapassando os 100 milhões de euros, uma...

Segundo os dados divulgados pelo Infarmed, em 2018 a despesa com a comparticipação de medicamentos anticoagulantes subiu para 100.028.611 euros, um aumento de 25% relativamente aos 80.040.138 euros de 2017.

Os dados indicam um aumento da utilização dos novos medicamentos anticoagulantes, que, segundo o novo presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Vitor Gil, trouxeram muitas vantagens para os doentes.

“Estes novos medicamentos anticoagulantes trouxeram muitas vantagens, quer na comodidade para o doente, pois com a varfarina era preciso fazer análises de controlo mensais, por vezes até com frequências superiores, que nos riscos hemorrágicos, que são substancialmente inferiores à varfarina, especialmente o risco de hemorragia cerebral (metade)”, disse à Lusa o responsável.

Vitor Gil aponta ainda como outra das vantagens para os doentes o facto de os novos anticoagulantes não terem interferência com alimentos, ao contrário da varfarina.

“Além da comodidade de o doente não ter de fazer análises com a periodicidade que tinha na varfarina, por vezes o que acontecia era que os doentes nem estavam bem tratados”, acrescentou.

Segundo o Infarmed, a utilização dos novos anticoagulantes tem uma tendência de aumento desde 2010, intensificada a partir de 2014.

Na análise da utilização destes medicamentos, os mais utilizados nas faixas etárias mais velhas são os que mais subiram.

O novo presidente da SPC saúda o aumento do consumo de novos anticoagulantes, afirmando que isso significa “mais doentes tratados e mais acidentes vasculares cerebrais evitados, com todas as consequências pessoais, sociais”.

“São doentes que, depois, nos programas de reabilitação e na incapacidade vão também pesar muito e estas contas devem ser feitas. Se se deve poupar é noutras coisas, não aqui”, afirmou.

“E se o aumento é sobretudo [nos medicamentos usados pela] população idosa, saúdo ainda mais, pois estes medicamentos são mais cómodos e mais seguros na população idosa”, frisou.

Estes medicamentos são maioritariamente usados num tipo de arritmia, a fibrilhação auricular, que tem um risco cinco vezes maior de acidente vascular cerebral por causa da formação de coágulos.

Segundo os dados da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, 2,5% da população portuguesa sofre de fibrilhação auricular e a partir dos 80 anos a prevalência é de 10%.

Os anticoagulantes são medicamentos sujeitos a receita médica e comparticipados pelo SNS em 69%. São dispensados nas farmácias comunitárias e não existem genéricos comparticipados neste subgrupo terapêutico.

Opinião
Hoje assinalamos o Dia Europeu dos Direitos dos Doentes.

A melhoria das condições de vida (água canalizada, saneamento público, mais alimentos, conservação dos alimentos pelo frio, etc.) e os avanços do conhecimento médico (vacinas, antimicrobianos para tratar infeções, a anestesia que permitiu fazer operações, o investimento na prevenção e correção dos fatores de risco, e muito mais) duplicaram a esperança de vida nos países desenvolvidos em menos de um século. Em 1920, a esperança média de vida dos portugueses era de cerca de 35,7 e 40 anos para as homens e mulheres, respetivamente, mas hoje é de 77,7 e 82,3.

Há um século as sociedades europeias tinham um grande número de crianças, mas só uma parte delas chegava à velhice. Hoje caminhamos para uma sociedade composta maioritariamente por idosos, com a natalidade a decrescer. Esta inversão fez aumentar as doenças do envelhecimento (artroses, aterosclerose e demência, por exemplo) bem como o número de doenças em pessoas com mais de 65 anos (multimorbilidade). Muitas destas doenças são preveníveis ou minimizáveis com a correção dos hábitos de vida. A prioridade agora não é de aumentar o número de anos vividos, mas sim de melhorar a qualidade de vida dos anos que vivemos, e para isso temos duas apostas prioritárias:

  • Fazer com que cada um de nós seja guardião da sua saúde (controlar o peso, eliminar o tabaco, reduzir o sal na comida, fazer exercício físico regular e socializar/conviver muito).
  • Manter o tratamento das doenças conhecidas com o mínimo de remédios possível.

A segunda grande alteração na sociedade atual é a facilidade do acesso à informação. As notícias de qualquer lado do mundo chegam pela televisão, telemóvel e redes sociais, com informação que nem sempre é confirmada. Esta realidade expõe-nos a factos, valores, culturas, civilizações e organizações de todo o mundo, muitas radicalmente diferentes das que conhecemos. Essa diferença é uma oportunidade de conhecimento e melhoria, se for confirmada e contraditada, mas pode também ser uma fonte de infortúnio se for perversa. Estes factos influenciam a forma como as pessoas hoje se relacionam com os serviços de saúde e como interpretam o que devem e o que não devem fazer para cuidar da sua saúde:

  • Há mais oportunidade de acesso a informação que pode melhorar a vida do cidadão, e por isso há mais oportunidades para cada um de nós cuidar e se responsabilizar pela preservação da sua saúde.
  • Há mais informação enganosa que pode prejudicar as pessoas que não confirmam a validade dessa informação (há quem não vacina os filhos, sujeitando-os a doenças evitáveis e pondo em risco concidadãos vulneráveis, se forem contagiados).
  • Há quem rejeita o acesso ao saber cientificamente documentado, expondo-se a procedimentos de valor não confirmado e/ou atrasando tratamentos que podem salvar vidas, se instituídos a tempo.

É importante que a informação encontrada seja confirmada e discutida com os técnicos de saúde.

O terceiro grande desafio para a nossa sociedade é a artificialização da vida, decorrente dos progressos científicos. A medicina e a tecnologia conseguem construir máquinas que suportam e substituem funções essenciais para a vida (corações, rins ou pâncreas), ou que são importantes para a qualidade de vida (articulações, ossos, pele, hormonas, etc.). Esta relação consegue também corrigir o ADN de pessoas vivas para reparar defeitos genéticos. Consegue fertilizar, artificialmente, ovos de mamíferos e fazê-los crescer fora do organismo materno até ao nascimento. Consegue tratar e curar doenças que há pouco tempo eram inevitavelmente fatais (cancro, infeções graves ou doenças autoimunes). Consegue implantar sensores/estimuladores cerebrais para modificar o movimento e o comportamento.

Esses sucessos, inimagináveis há poucos anos, levantam novas questões éticas, uma vez que têm um preço cada vez maior e impossível de ser pago pelos dinheiros públicos. Por isso o grande desafio para a saúde nos tempos que correm assenta em pilares sobre os quais todos temos de refletir:

  • Qual é a responsabilidade de cada cidadão na preservação da sua saúde e que consequências têm os comportamentos desleixados e/ou irresponsáveis na sustentabilidade dos sistemas de saúde?
  • O cidadão será, cada vez mais, chamado a ser cuidador da sua saúde e dos que lhe são próximos em condição vulnerável e dependente?
  • Como vamos gerir os recursos financeiros e organizacionais para facultar o acesso à saúde a todos os que necessitam de ajuda? Essa alocação tem de assentar em critérios aceites pela sociedade, com fundamento científico, consonantes com os valores da sociedade e que possam ser correspondidos pelos recursos disponíveis.

O acesso à melhor saúde para todos exige o melhor empenho de todos.


Dr. António Carneiro - Núcleo de Estudos de Bioética da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

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10% das crianças já são obesas aos 4 anos
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que envolveu mais de cinco mil crianças da Área...

Em entrevista à agência Lusa, Ana Cristina Santos, coordenadora da investigação, adiantou que o estudo, publicado em dezembro na revista International Journal of Obesity, contraria a ideia de que "as prevalências de obesidade em Portugal pareciam estar a estabilizar", tal como acontece em alguns países do norte da Europa.

"Quando comparamos a obesidade a outras doenças, percebemos que as estimativas são incomparáveis. Assumir que estamos perante uma situação de estabilidade ou controlo parece-nos prematuro, por isso, é de facto importante continuar a falar, a realçar e a intervir", apontou.

O estudo, que envolveu mais de cinco mil crianças da coorte Geração XXI (projeto iniciado em 2005, que acompanha o crescimento e o desenvolvimento de mais de oito mil crianças da cidade do Porto), baseou-se nas avaliações realizadas às crianças aos 4, 7 e 10 anos.

Segundo Ana Cristina Santos, a investigação permitiu concluir que aos 4 anos, 22% das crianças têm excesso de peso, valor que atinge os 26% aos 10 anos.

Por sua vez, o estudo avança que aos 4 anos, 10% das crianças já são obesas, que dos 4 anos para os 7, a obesidade atinge 15% dos participantes e que aos 10 anos, 17% são consideradas obesas.

"No excesso de peso vemos uma maior estabilização, as estimativas não flutuam tanto, mas na obesidade vemos um aumento ao longo da infância. Parece-nos que a idade pré-escolar é um ponto que é necessário intervir", referiu a investigadora.

À Lusa, a investigadora adiantou que aos 4 anos, as raparigas têm uma maior prevalência de obesidade do que os rapazes, questão que acredita estar relacionada com a fisiologia e com o índice de massa corporal (IMC), uma vez que tendencialmente “as mulheres são mais obesas e os homens tem mais excesso de peso".

"Noutro estudo que estamos a finalizar, o que mostramos é que a diferença entre homens e mulheres na distribuição (de gordura) parece ser mais um efeito da idade do que da gordura", frisou.

Para Ana Cristina Santos, "mais do que dizer se a obesidade está a estabilizar", é importante continuar a "realçar que o investimento na prevenção da obesidade infantil deve ser uma área prioritária".

"Estas situações são muito difíceis de serem revertidas depois de instaladas. Sabemos que estas crianças estão em risco de se tornarem adolescentes obesos e, posteriormente, adultos obesos", concluiu.

Oncologia Pediátrica
O Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, avançou hoje à Lusa que as crianças internadas em contentores serão...

“A transferência da pediatria oncológica, tal como referido anteriormente e divulgado publicamente, ocorrerá no mês de junho, tal como previsto”, respondeu a unidade hospitalar, depois de questionada pela Lusa sobre esta questão.

Há dez anos que o hospital tem um projeto para construir uma ala pediátrica, mas desde então o serviço tem sido prestado em contentores.

Esta segunda-feira, o presidente da Associação O Joãozinho, Pedro Arroja, adiantou à Lusa que vai abandonar definitivamente a construção da ala pediátrica, da qual tem titularidade, por ter levado ao “limite a sua missão mecenática”.

Pedro Arroja contou que a associação “levou ao limite a sua missão relativa à construção por via mecenática da ala pediátrica”, tendo dado instruções ao consórcio das construtoras para levantar durante esta semana o estaleiro da obra que se encontra nos terrenos da unidade hospitalar.

O Joãozinho aguarda há mais de três anos que o Hospital de São João lhe ceda o espaço, cumprindo a cláusula 1.ª do acordo de cooperação, para prosseguir a empreitada, interrompida em março de 2016, recordou.

Em fevereiro, a ministra da Saúde, Marta Temido, reuniu no Porto com o presidente da Associação O Joãozinho, titular da empreitada, o porta-voz da Associação Pediátrica Oncológica do Hospital de São João e com elementos da administração do hospital para tentar estabelecer um acordo.

Contudo, nessa altura, não houve acordo entre as partes envolvidas no processo e a associação interpôs uma ação cível em tribunal para obrigar o hospital a libertar o espaço destinado à ala pediátrica. Dias depois, o hospital anunciou ter desencadeado os procedimentos legais para a tomada de posse administrativa do terreno.

Nessa ocasião, a governante reafirmou que as obras da nova ala pediátrica começam no final deste ano ou início do próximo.

O parlamento aprovou em novembro, por unanimidade, a proposta de alteração do PS ao Orçamento do Estado para 2019, de forma a prever o ajuste direto para a construção da ala pediátrica.

Avaliação dos sistemas de acesso a cuidados de saúde
A Administração do Sistema de Saúde “limpou” doentes das listas de espera para consultas, numa altura em que era presidida pela...

Estas são conclusões do relatório, a que a Lusa hoje teve acesso, do grupo técnico independente criado pelo Governo em outubro de 2017 para avaliar os sistemas de gestão das listas de espera para consultas e cirurgias, após um relatório do Tribunal de Contas que apontava para a “eliminação administrativa” de utentes, “falseando os indicadores” que são divulgados.

O grupo, que foi coordenado pelo bastonário da Ordem dos Médicos, avaliou os sistemas de acesso a cuidados de saúde no SNS, como os sistemas das listas de espera para consultas e cirurgias no triénio 2014-2016, concretamente a atuação da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que em 2016 era presidida pela atual ministra Marta Temido.

Segundo o relatório, a que a agência Lusa teve acesso, foram tomadas medidas de limpeza ou expurgo de listas de espera de consultas, sem que tenha sido, contudo, possível perceber o real impacto que “o expurgo” teve sobre a redução efetiva do tempo médio de espera.

A dificuldade de ter o impacto real dessa limpeza de listas acontece, segundo o documento, porque a ACSS não forneceu elementos que permitissem avaliar algumas questões fundamentais, como por exemplo quantos doentes em concreto foram “simplesmente eliminados das listas de espera”.

Em 2017 o Tribunal de Contas já tinha apontado para a “limpeza das listas de espera para primeiras consultas de especialidade hospitalar do universo das unidades hospitalares do SNS”, que incluía “a eliminação administrativa de pedidos com elevada antiguidade, falseando os indicadores de desempenho reportados".

Em relação ao cumprimento dos tempos máximos de resposta para cirurgias, o grupo independente identificou situações “em que os tempos de espera são superiores ao registado”.

O relatório aponta como “especialmente preocupante” o uso “indevido” de mecanismos para suspender os tempos máximos de resposta nas listas de espera para cirurgias.

O documento refere-se ao uso “indevido do expediente de pendência de inscrição” dos doentes para cirurgias “como forma de suspender os tempos máximos de resposta garantidos aplicáveis”.

Refere também a “utilização abusiva do expediente de não inscrição imediata em lista de inscritos para cirurgia, na data da consulta” em que foi identificada a necessidade de operação.

Em algumas unidades de saúde verificou-se mesmo um “lapso de tempo anormal entre a última consulta e a data de inscrição para cirurgia”.

Em resposta à agência Lusa, fonte oficial da ACSS explica que o expurgo da lista de utentes para consultas “é um processo administrativo de correção de erros” e que não tem impacto no utente.

“Não é uma limpeza, não são apagados ou varridos para debaixo do tapete. Desenvolveram-se até procedimentos para ficar mais claro e transparente como funciona esse expurgo, que no fundo é um processo de correção de erros”, explicou fonte oficial da ACSS.

Quanto ao uso de expediente na colocação de doentes em lista de espera para cirurgia, a ACSS indica que essa gestão respeita aos hospitais.

A mesma fonte explica que há um mecanismo para que o doente fique pendente na lista de espera, não contando logo o tempo em que espera para cirurgia, mas que esse mecanismo tem a ver com questões clínicas, sendo essas questões identificadas nos hospitais.

Contudo, o relatório aponta para um uso abusivo deste mecanismo no triénio 2014/2016. Em resposta, a ACSS garante que foi melhorada a monitorização e o controlo para “evitar o uso abusivo de um mecanismo que, em si, é legítimo”.

No conjunto de 45 recomendações que deixa ao Ministério da Saúde, o grupo técnico sugere que sejam adotadas medidas que garantam que a informação sobre o acesso a cuidados de saúde “não seja resultado de medidas de limpeza ou expurgo de listas de espera, das quais resulte, como aconteceu no passado, a eliminação de doentes/utentes das listas de espera”.

É também sugerido que seja avaliado, periodicamente, por entidade externa a qualidade dos indicadores de acesso.

As conclusões do grupo técnico criado pelo Governo vêm assim corroborar algumas das conclusões do relatório divulgado pelo Tribunal de Contas em outubro de 2017 e que punha em causa a fiabilidade de dados sobre as listas de espera e contrariava os números oficiais que apontavam para menos tempo de espera nas consultas hospitalares nos hospitais públicos.

Mais tempo de espera para uma consulta hospitalar e mais utentes a aguardarem por uma cirurgia entre 2014 e 2016 foram alguns dos aspetos identificados na altura pelo Tribunal.

Relatório
Os critérios “políticos” para definir os tempos máximos de resposta em consultas e cirurgias podem penalizar os hospitais do...

A conclusão é de um grupo técnico independente criado pelo Governo em outubro de 2017 para avaliar os sistemas de gestão das listas de espera e que entregou o seu relatório no verão do ano passado, documento a que a agência Lusa hoje teve acesso.

O relatório entende que a definição dos tempos máximos de resposta garantidos (tempos limite em que os doentes devem ter consulta ou cirurgia) “terá sido política” e não com base em critérios clínicos, sem que tenha havido um “aumento proporcional na capacidade de resposta dos vários hospitais do SNS”.

A diminuição dos tempos máximos de resposta garantidos (TMRG) não correspondeu a um aumento da capacidade dos hospitais e a estratégia terá passado, refere o relatório, apenas pelo aumento da emissão de vales de cirurgias ou notas de transferência, que permitem aos utentes ser atendidos numa unidade privada ou do social quando é ultrapassado o tempo definido.

Quando uma consulta ou cirurgia ultrapassa o tempo máximo de resposta o utente recebe um vale ou uma nota de transferência e pode recorrer a um privado ou a uma unidade do setor social com convenção com o Estado.

“Esta é uma política de saúde centrada na circulação do doente entre o setor público e o setor privado e social convencionado”, entende o grupo técnico independente, coordenado pelo bastonário da Ordem dos Médicos e que era também integrado pelo atual secretário de Estado Adjunto e da Saúde, na altura enquanto representante da Associação dos Administradores Hospitalares.

O grupo conclui ainda que a redução dos tempos máximos de resposta sem que antes fosse aumentada a capacidade do SNS origina um aumento do incumprimento que só pode ser atenuado com recurso ao setor convencionado, no caso de os doentes aceitarem realizar as suas cirurgias, por exemplo, no privado ou no setor social.

“Esta situação poderá penalizar financeiramente os hospitais do SNS no que aparenta ser uma subversão do sistema”.

Nas recomendações, o relatório sugere que os tempos máximos de resposta sejam baseados em critérios clínicos e que possam ser introduzidos “mais níveis de estratificação de prioridades nos TMRG”, baseados em mais critérios qualitativos.

Infarmed
o Infarmed informou hoje que a segurança do medicamento Lemtrada, para a esclerose múltipla surto-remissão, está a ser revista...

Numa informação publicada no seu ‘site’, a Autoridade do Medicamento diz ainda que a revisão de segurança deste fármaco foi iniciada pela Agência Europeia do Medicamento após notificação de novos casos de doenças imunitárias, cardíacas e circulatórias, alguns dos quais fatais.

Enquanto durar esta revisão de segurança, o Infarmed aconselha a que o Lemtrada (alemtuzumab) apenas seja iniciado em adultos com esclerose múltipla surto-remissão muito ativa e que já tenham sido previamente tratados com pelo menos duas terapêuticas modificadoras da doença ou em casos em que não possam ser usados outros medicamentos.

A esclerose múltipla surto-remissão é uma doença que afeta o sistema nervoso central, na qual a inflamação destrói a bainha protetora que envolve as células nervosas.

A indicação ‘surto-remissão’ significa que o doente tem exacerbações dos sintomas (surtos), seguidas por períodos de recuperação (remissões).

 

 

Estudo
Um estudo realizado por estudantes da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP)...

Em entrevista à agência Lusa, Pedro Cunha, um dos responsáveis pela investigação, explicou que o estudo, intitulado 'Food choices and body mass index among University students', surgiu da "falta de informação" sobre a autoperceção de saúde dos estudantes universitários.

"A maioria dos estudos sobre este tópico concentra-se em idosos e não em jovens adultos", afirmou, acrescentando que o estudo teve como objetivo “perceber quais os principais determinantes das escolhas alimentares” dos estudantes e como é que essas escolhas se relacionavam com o índice de massa corporal (IMC) e a autoperceção de saúde.

O estudo, que envolveu cerca de 400 estudantes da Universidade do Porto (UP), entre os 17 e 36 anos, concluiu que 47% dos participantes determinam as suas escolhas tendo em conta "um padrão alimentar saudável", 44% pelo sabor dos alimentos, 38% pela qualidade ou frescor, 37% pelo preço e 35% por questões associadas à rotina.

"A ingestão alimentar é passível de ser associada à auto perceção do estado de saúde, ou seja, não se trata de uma variável independente. O que nós comemos pode moldar a forma como nos sentimos e vice-versa", apontou.

De acordo com Pedro Cunha, o estudo avança ainda que os “maiores valores” de autoperceção do estado de saúde no seio dos universitários está associado à ingestão frequente de peixes, legumes, fruta e hortaliças.

À Lusa, o estudante adiantou que o estudo permitiu também concluir que os valores mais altos de IMC se relacionam com a "apresentação dos alimentos e das embalagens", seguindo-se de uma "dieta prescrita", o que fez o grupo "levantar a hipótese de que pode existir uma espécie de ciclo".

"A motivação para uma melhor perceção do estado de saúde pode diretamente modelar a alimentação dos jovens para um padrão mais saudável", referiu, adiantando que o objetivo do grupo passa agora por tentar "definir uma estratégia para melhorar a alimentação dos estudantes".

"O nosso pretexto é tentar definir uma estratégia para melhorar a alimentação através de parâmetros tão imediatos de se ligar à alimentação, neste caso, da perceção do estado de saúde", frisou.

A investigação, apresentada por Pedro Cunha e Rita Lourenço durante o Encontro de Investigação Jovem da Universidade do Porto (IJUP), foi recentemente “submetida” para ser apresentada no XVIII Congresso da Associação Portuguesa de Nutrição, que decorre de 16 a 17 de maio, no Porto.

Vacinómetro faz 10 anos
De acordo com os dados finais da época de vacinação contra a gripe, no último ano, mais pessoas foram vacinadas. No entanto,...

Assinala-se, este ano, o 10.º aniversário do Vacinómetro – um projeto pioneiro em Portugal que permite monitorizar, em tempo real, a taxa de cobertura da vacinação contra a gripe em grupos prioritários recomendados pela Direção Geral de Saúde. Para assinalar este aniversário, e no âmbito da Semana Europeia da Vacinação - que decorre de 24 a 30 de abril -, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), responsáveis pelo projeto, com o apoio da Sanofi, vão realizar, no dia 22 de abril, a sessão “10 anos de Vacinómetro: lições aprendidas e projeções para o futuro”.

A decorrer na sede da SPP, com início às 11h00, esta reunião tem como objetivo “celebrar os 10 anos do Vacinómetro com todos os intervenientes no projeto. Pretendemos avaliar os resultados de uma década de monitorização da vacinação antigripal em Portugal e, principalmente, antecipando a Semana Europeia da Vacinação, sensibilizar para a necessidade de continuar com este percurso que, no geral, tem sido bastante satisfatório” afirmam Filipe Froes e Cátia Caneiras, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

Os dados finais da época de vacinação contra a gripe em 2018/2019, divulgados no passado mês de março, revelaram que foram vacinados contra a gripe sazonal 65,9% dos índividuos com 65 anos ou mais (+4,1% do que no anterior), 55,8% dos individuos portadores de doença crónica (+3,7% do que no ano anterior), 37,3% dos portugueses com idades compreendidas entre os 60 e os 64 anos (+1,6% do que no ano anterior) e 52% dos profissionais de saúde com contacto direto com os doentes (-3,2% do que no ano anterior). Os profissionais de saúde têm um papel fundamental na vacinação, uma vez que “por um lado, enquanto prestadores de cuidados de saúde estão bastante expostos aos agentes infecciosos podendo, eles mesmo, promover a transmissão de infeções e, por outro lado, são decisivos para que a população em geral e as pessoas com doença crónica se vacinem”, reforçam ambos os representantes da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

“É fundamental clarificar mitos e crenças associados à vacinação”, afirmam Filipe Froes e Cátia Caneiras, no contexto da Semana Europeia da Vacinação que decorre no âmbito da Semana Mundial da Vacinação preconizada pela Organização Mundial de Saúde. “A hesitação na vacinação - a relutância ou a recusa em vacinar, apesar da disponibilidade de vacinas - ameaça reverter o progresso feito no combate a doenças evitáveis e é uma das 10 principais ameaças à Saúde Global em 2019, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A vacinação é uma das formas mais eficazes de se evitar doenças - atualmente, previnem-se 2 a 3 milhões de mortes por ano, e outros 1,5 milhões poderiam ser evitados se a cobertura global de vacinação melhorasse”, concluem.

Menos de 40% dos hipertensos estão controlados
A Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) associa-se pelo segundo ano consecutivo, ao maior registo mundial de hipertensão...

Alguns dos centros previstos para esta iniciativa são o Centro de Saúde São João da Madeira, Hospital Egas Moniz do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Hospital Garcia da Orta, Hospital Pêro da Covilhã do Centro Hospitalar Cova da Beira, Centro Hospitalar Entre Vouga e Douro e o Centro Hospitalar de Gaia e Espinho. Para o presidente da SPH, Dr. Vítor Paixão Dias, “o objetivo este ano é conseguir mais de 1000 rastreios de HTA, a juntar aos restantes países que por todo o mundo colaboram com a Sociedade Internacional de Hipertensão. Em dois anos já foram realizadas medições de PA a mais de 2.7 milhões de pessoas por todo o mundo - em 2017 os 1.2 milhões de rastreios identificaram mais de 150 mil pessoas com HTA previamente desconhecida, e mais de 100 mil com HTA mal controlada; em 2018 foram rastreadas mais 1.5 milhões de pessoas, tendo em Portugal sido feitos mais de 900 registos. Para colaborar no rastreio basta contactar a SPH por email ou telefone. Pode ainda ser consultado o link www.maymeasure.com.

Especialmente neste mês, a SPH relembra a importância de medir a PA frequentemente, cujos valores devem ser inferiores a 140/90. Para além disso, a importância de adotar hábitos de estilo de vida saudável e cumprir a toma da medicação prescrita são as principais mensagens que a SPH quer transmitir.

“Em Portugal, apesar de quase 75% dos hipertensos estar sob medicação, o controlo chega a pouco mais de 40%, e numa grande fatia este problema é causado pelo incumprimento da terapêutica” refere o presidente da SPH e explica “infelizmente, muitos doentes não cumprem a medicação ou abandonam a mesma o que, por conseguinte, vai dificultar o controlo da doença. Abandonar a medicação porque já se está bem ou porque não se sentiu bem com os comprimidos ou ainda porque se sente bem com a tensão alta são alguns do mitos e equívocos responsáveis pela descontinuação do tratamento para a HTA. Deve existir, cada vez mais, a preocupação de promover terapêuticas e posologias simples e, simultaneamente eficazes, para aumentar a taxa de adesão ao tratamento. Nunca é demais reforçar a velha máxima de que um comprimido só faz efeito quando é tomado”.

 

Vendidos através da internet
A Autoridade do Medicamento alertou hoje os consumidores que os produtos Gold Max Blue e Gold Max Pink, para tratamento de...

Num comunicado divulgado na sua página da internet, o Infarmed diz que os produtos foram detetados na alfândega e terão origem em vendas através da internet, não tendo sido detetados no circuito legal de venda de medicamentos.

“Após análise no laboratório do Infarmed, verificou-se que estes produtos contêm a substância ativa sildenafil, que se destina à melhoria do desempenho sexual”, explica o Infarmed, acrescentando que não está garantida a sua qualidade, segurança e eficácia e, por isso, a utilização é proibida em Portugal.

O Infarmed informa as entidades que dispõem destes produtos que não os podem vender, dispensar ou administrar, devendo comunicar de imediato com à Autoridade do Medicamento.

“Os utentes que disponham destes produtos não os devem utilizar, devendo entregar as embalagens em causa na farmácia para posterior destruição, através da Valormed”, refere a nota.

 

Falta de médicos
A Ordem dos Médicos vai apresentar uma queixa à Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) sobre a situação da urgência...

Em entrevista à agência Lusa, o bastonário insiste que os médicos do Garcia de Orta, em Almada, distrito de Setúbal, “estão desesperados” com a falta de profissionais, situação que está a fazer com que não seja possível cobrir as necessidades da urgência pediátrica.

Já há dois meses que o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, tem alertado para a falta de condições de segurança clínica adequadas naquela urgência e lembra que “está em causa a saúde das crianças” e a composição do serviço de urgência, “tal como estabelece a lei”.

“Não existem médicos para cobrir as necessidades do serviço de urgência. E o presidente do conselho de administração diz publicamente coisas que não são verdade”, lamenta o bastonário, referindo-se ao facto de o responsável do Garcia de Orta ter afirmado que tinha as escalas da urgência pediátrica todas preenchidas “num momento em que não estavam”.

A queixa à Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) visa, segundo o bastonário, que se “investigue o que está a acontecer na urgência pediátrica” do Garcia de Orta.

“Se devem estar três médicos de urgência e só está um médico, tem de se perceber porquê. E o conselho de administração tem de ser responsabilizado diretamente por isso”, argumenta Miguel Guimarães, frisando que é preciso atuar quando as escalas das equipas de urgência não são cumpridas.

O bastonário lamenta que os problemas sejam levantados sem que nada seja resolvido e entende que está na altura de começar a responsabilizar publicamente quem tem competências nas matérias da Saúde, como o Ministério, nomeadamente através das “instâncias competentes”, como a IGAS ou os tribunais.

Apesar de considerar que a Inspeção tem tido uma atitude “que deixa muito a desejar” quando o Estado está envolvido, Miguel Guimarães diz esperar que “faça alguma coisa” em relação à urgência pediátrica do Garcia de Orta.

Sobre as equipas que devem estar devidamente constituídas nas urgências, o bastonário anuncia que já pediu aos colégios das várias especialidades para redefinirem essas equipas tipo.

“As equipas tipo, em muitos hospitais, não são cumpridas em serviço de urgência. Por isso decidimos fazer uma reavaliação e iremos publicá-la em regulamento e assim passam a ter existência legal atualizada aos dias de hoje, tendo de ser cumpridas pelos hospitais públicos ou privados”, explicou.

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