A comunicação
O termo "comunicação" é utilizado desde há milhares de anos, no entanto foi em meados do século XX que as diversas áreas valorizaram a sua importância à luz das diferentes dimensões no mundo do saber.(1)
A origem da palavra comunicar deriva do latim comunicare, que significa “pôr em comum”, “associar” ou “entrar em relação com”.(2) Desta forma, comunicar pode ser assumido como uma troca de ideias, sentimentos, experiências entre pessoas, sendo idêntico o significado que transmitem entre si.
A necessidade de comunicar é universal e constitui uma tendência natural que ocorre sempre que duas pessoas se encontram.(2) Traduz a base do relacionamento entre seres humanos, é um processo vital e recíproco capaz de influenciar e afectar o comportamento das pessoas.(3)
Vários têm sido os estudos sobre comunicação, mas o grande impulsionador foi Claude Shannon e Weaver em 1948 com a sua publicação "Mathematical Theory of Communication"(1), e que é largamente aceite como uma das principais fontes no estudo da comunicação.
Na realidade, tradicionalmente existe uma tendência para explicar a comunicação através de algo indubitavelmente desenhável,(4) composto por um emissor, um código, um canal e um receptor, com a ocorrência de um feedback, em que são necessárias pelo menos duas pessoas para que tal suceda e se concretize. Nestes esquemas simplistas fica, no entanto, por identificar como se processa a comunicação e quais as dimensões implicadas.
É frequente depararmo-nos com afirmações como “o diálogo melhora as relações interpessoais e promove a relação de ajuda”, “escuto o doente, converso com ele, percebo o que ele sente”, “a comunicação é um instrumento para uma relação terapêutica”, “disponibilizo tempo para escutar o utente”, entre outras, que fazem refletir sobre a dimensão em que se inserem – Técnica? Funcional? Ou Relacional? Apesar de ser reconhecido o carácter de transversalidade a todas estas dimensões, a comunicação relaciona-se predominantemente com a dimensão relacional já que, apesar de se utilizarem técnicas comunicacionais, a mesma não pode existir sem relação.(4)
Verificamos então que o processo de comunicação é um processo contínuo e interativo de troca de mensagem onde o emissor é simultaneamente recetor, e vice-versa. O emissor terá que codificar a mensagem num conjunto de símbolos que evidenciem a sua intenção, sendo a linguagem a forma mais importante de codificação da mensagem.(5) Trata-se de um processo interpessoal complexo que envolve trocas verbais e não-verbais de informações, ideias, comportamentos e relacionamentos.(1) Pode ser considerado como um ato de partilha, que se for eficaz pode produzir mudanças. Não se fica simplesmente pelo conteúdo, mas transmite também os sentimentos e as emoções.
Desta forma, por muito que nos esforcemos é impossível não comunicarmos; atividade ou inatividade, palavras ou silêncios, tudo possui um valor de mensagem, logo também de comunicação. Não podemos, portanto, dizer que a comunicação só acontece quando é intencional, consciente, ou bem-sucedida; isto é quando ocorre uma compreensão mútua. A impossibilidade de não comunicar faz com que todas as situações entre duas ou mais pessoas sejam comunicativas e interpessoais, tornando-se importante reflectir acerca do processo e níveis de comunicação existentes.(6)
Processo e níveis de comunicação
Olhando para o mundo que nos rodeia verifica-se que os seres vivos não se isolam, antes pelo contrário, comunicam de formas variadas dependendo da sua espécie. Também o Homem sente necessidade de comunicar.(1) Trata-se de uma atividade humana básica, inata e universal.(5)
Dos elementos constitutivos do ato comunicativo, anteriormente enumerados, fazem parte: um emissor que é quem produz a mensagem, um código que é o sistema de referência com base no qual se produz a mensagem, uma mensagem entendida como a informação a ser transmitida, o contexto no qual a informação está inserida, um canal que é o meio que possibilita a transmissão e, por fim, um recetor que é quem recebe e interpreta a mensagem.(1) A comunicação será tanto mais eficaz quanto mais a mensagem descodificada se aproxima da intenção do emissor.(5)
Assim, a comunicação é um processo que consiste em transmitir ou fazer circular informações, ou seja, um conjunto de dados total ou parcialmente desconhecidos do recetor antes do ato comunicativo. Para que tal seja possível é necessário que:
- O emissor e o receptor partilhem o mesmo código para o processamento da descodificação;
- Que a relação entre o emissor e o receptor seja bilateral;
- Que a mensagem seja recebida como portadora de um significado e, portanto, conduzir a um ato cognitivo;
- Que haja flexibilidade na adaptação à situação, não esquecendo que o diálogo é fundamental;
- O esquema de comunicação não pode ser desligado do ambiente em que se realiza;
- Aquilo que está em redor: o contexto, o ambiente, os participantes, o tipo de atividade e a linguagem vão influenciar o processo de comunicação.
A comunicação expressa-se de forma verbal e/ou não-verbal. A primeira envolve a palavra falada e escrita e a segunda recorre à utilização de gestos, silêncios, expressões faciais e postura corporal. Para que a comunicação verbal seja eficiente tem que ser clara e concisa, isto é usar frases simples, curtas e concretas, falar lentamente e pronunciar claramente as palavras. O receptor deve perceber as ideias de quem comunica, e este deve expressar apenas uma ideia e utilizar o vocabulário, o ritmo e o significado adequado a cada receptor.(7)
A comunicação verbal exterioriza o ser social e a não-verbal o ser psicológico, sendo a sua principal função a demonstração dos sentimentos.(8) A este propósito "... a linguagem não verbal na maior parte das vezes traduz estados de alma..." e que "... a linguagem corporal não sabe mentir porque a maior parte das vezes é involuntária e pode ser inconsciente".(9) Porém, em geral, é atribuída maior relevância à comunicação verbal expressa pela linguagem falada ou escrita.
No entanto, a linguagem e mensagem não-verbal coexistem como sistemas de comunicação, mas têm diferentes papéis na interação social. Os sinais não-verbais podem revelar atitudes, emoções e sentimentos que por vezes não queríamos revelar. Muitas vezes a comunicação verbal pode modificar o significado da verbal; ou seja, a mensagem verbal é contraditória ao que é expresso pela comunicação não-verbal entre indivíduos.(1) “É desta simultaneidade que advém em grande parte a complexidade da comunicação entre indivíduos”.(10)
No que concerne aos níveis de comunicação, podem ser intrapessoais e interpessoais. O nível de comunicação intrapessoal tem um papel muito importante e é influenciado pelo conceito de valorização e pelos sentimentos, pois quando estamos bem connosco comunicamos melhor com os outros. A comunicação interpessoal é efetuada, a maioria das vezes, face a face e inclui critérios como:
- Têm que existir duas ou mais pessoas, em proximidade física e que percebam a presença uma da outra;
- Envolve interdependência comunicativa;
- Há troca de mensagens;
- As mensagens são codificadas de forma verbal e não-verbal;
- É marcada pela informalidade e pela flexibilidade.(1)
“ A comunicação envolve um processo recíproco de enviar e receber mensagens entre duas ou mais pessoas (…) pode facilitar o desenvolvimento de uma relação terapêutica ou, pelo contrário, contribuir para a criação de barreiras (…)”.(11) Tendo em conta esta filosofia, torna-se imprescindível refletir acerca dos fatores que influenciam o processo de comunicação, de forma a promover os que a facilitam e minimizar os que a dificultam.
Fatores que influenciam a comunicação
A comunicação está presente em todos os campos e em todas as áreas das relações humanas, nomeadamente no exercício do cuidar em enfermagem. No entanto, podemos observar em muitos estudos, a existência de aspetos que interferem negativamente na interação entre profissionais de saúde e doentes.
A sobrecarga de trabalho ou a falta de tempo, a supremacia dada a rotina de trabalho em prol da interação com o doente, a exclusão da família no processo de cuidar,(12) assim como o medo do desconhecido, a ansiedade e as incertezas expressas pelos doentes(13) são considerados aspetos negativos que condicionam o êxito comunicacional.
A figura 1 sistematiza os principais vetores passíveis de constituírem obstáculos à comunicação.(14)

Figura 1 – Possíveis obstáculos à comunicação
A cultura e o estrato social vão influenciar o modo com as pessoas se relacionam entre si. Podem constituir uma barreira pois limitam a espontaneidade na transmissão de emoções ou informações de carácter psicológico. Com efeito, estes aspetos podem constituir barreiras importantes aos cuidados de saúde, por um lado, pela sua influência na forma de percepcionar a saúde e a doença e o recurso aos cuidados de saúde e, por outro lado, pelas dificuldades que os prestadores de cuidados de saúde têm em lidar com as populações que provêm de culturas diferentes, nomeadamente ao nível linguístico e cultural. O encontro com a “diferença cultural” nos cuidados de saúde pode levar a fortes reações emocionais ou a atitudes de rejeição dos profissionais de saúde, sobretudo, quando não há um bom conhecimento sobre a cultura do doente e formação na área da interculturalidade.(15)
Para além do exposto, destaca-se ainda a importância do ambiente, sendo que num meio calmo e tranquilo é mais fácil processar a comunicação.(1)
Quanto à comunicação não-verbal vários fatores podem promover a sua eficiência, como: a aparência pessoal, as caraterísticas físicas, o vestuário, os adereços (são indicadores de bem-estar físico), a personalidade, a cultura, a religião, o auto conceito e o estado de saúde.
A expressão facial, nomeadamente os olhos, é uma ajuda importante na interpretação de mensagens. Podem revelar emoções ou transmitir a disponibilidade para comunicar. A postura, a marcha, os gestos podem transmitir ideias por vezes difíceis de serem descritas por palavras. Emitem mensagens ou podem enfatizar as palavras. Também o toque transmite afeto, apoio emocional, encorajamento e atenção pessoal. Este é controlado por normas socioculturais e o seu uso exige que seja aceite pela pessoa a ser tocada.
Sistematizando, as barreiras pessoais ou humanas são interferências decorrentes das limitações, emoções e valores de cada indivíduo e podem limitar ou distorcer o processo de comunicação. Este pode ser favorecido ou prejudicado por comportamentos ou maneiras de agir como: postura e atitudes corporais, gestos, distância ou proximidade, contato visual, expressão facial, voz, respiração, silêncio, aparência geral e toque.(14) Assim, “a postura adoptada pela enfermeira mostra bem o tempo e a importância que ela entende consagrar à pessoa de que se cuida”. (14) Do mesmo modo, os nossos gestos e comportamentos enquanto prestadores de cuidados traduzem também o nosso estado interior.
Em relação à expressão facial da enfermeira, deve estar em harmonia com o estado emotivo do doente, pois só assim conseguirá estabelecer uma comunicação eficaz,(13) pois “(…) a nossa expressão facial é frequentemente reflectida no comportamento dos outros.”(14)
“A voz tal como a expressão facial pode traduzir o sincronismo da enfermeira com o estado emotivo da pessoa cuidada (…)”(14) devendo manter-se calma e firme mesmo com a pessoa frustrada e agressiva.
Também o modo como sustemos a respiração face a determinados acontecimentos pode transmitir ansiedade ao doente.(13) “A respiração serve de suporte à voz e (…) está sujeita aos impulsos da emotividade”(14) e, como tal, as nossas emoções são uma grande riqueza que é importante aprender a gerir.
Relativamente ao silêncio, pode ser facilitador da comunicação, dando espaço ao doente para expressar as suas emoções e sentimentos.(13)
Em suma, para comunicar é essencial realizar a leitura dos movimentos do outro, implicando sempre o respeito pela pessoa, enfatizando não só as palavras, mas também os gestos, emoções e todos os fatores já descritos, passíveis de facilitar ou condicionar o processo de comunicação.
A importância da comunicação no cuidar
No quotidiano profissional a enfermeira utiliza a comunicação para o desempenho das suas diversas atividades. Entre estas, a sua função como educadora e prestadora de cuidados, bem como a função de elo de ligação entre a equipa multiprofissional e os diferentes serviços de cuidado indireto, exigindo da enfermagem um maior domínio da habilidade de comunicar.(8)
A comunicação é um instrumento básico do cuidado em enfermagem. É pela comunicação estabelecida com o doente, que se pode compreendê-lo holisticamente, isto é, a forma como pensa, sente e age.(16) Para tal, deve estar adaptada às capacidades cognitivas, ao nível cultural/educacional, às representações e crenças de saúde, às necessidades individuais, emocionais, sociais, culturais e linguísticas do doente.
Para os enfermeiros, é importante a aquisição de conhecimentos científicos e técnicos sobre a problemática da comunicação, a fim de exercerem digna e proficientemente a tarefa de ajuda ao doente com competência e dedicação.
Um clima de confiança e de compreensão entre o doente e os profissionais passa por gestos, atitudes e palavras acessíveis e simples, pelo diálogo e pela comunicação com o outro, exigindo o conhecimento, não só da cultura, e o respeito pela diversidade mas, também, exigindo atenção, sensibilidade, disponibilidade e empatia em relação ao indivíduo e às situações, na sua singularidade e especificidade.(15)
Além da riqueza e complexidade da comunicação interpessoal, as dificuldades aumentam consoante a diversidade cultural, social, religiosa e afetiva de cada um. No contato diário com os doentes, os enfermeiros devem estar despertos para alguns aspetos, nomeadamente entender que a comunicação só é verdadeira quando interagem com o meio e o destinatário. Através da comunicação aprendemos e ensinamos, ao mesmo tempo que se quebra a solidão, dá-se resposta às necessidades de ordem intelectual, afetiva, moral e social.(17)
As palavras que vamos utilizar têm grande poder já que tanto podem ser benéficas como perniciosas caso não seja entendido devidamente o seu significado. Devem ser adequadas ao nível cultural do doente e sempre que possível utilizar a linguagem verbal e não-verbal para fortalecer a mensagem.(1)
A complementaridade dos dois tipos de comunicação (verbal e não-verbal) é muito importante na área dos cuidados de enfermagem, pois aqui comunicar não se refere só aos conteúdos, mas também aos sentimentos e emoções que se podem transmitir. Trata-se de um ato de partilha entre quem cuida e quem está a ser cuidado.(7)
Tendo em conta as limitações que existem, devemos atuar no sentido de minimizar as barreiras, atendendo à personalidade de quem emite a mensagem e de quem a recebe, à linguagem utilizada e ao contexto onde é emitida a mensagem. Para um bom relacionamento é fundamental saber escutar, ouvir, observar, compreender, estar atento enquanto o doente fala, mostrar disposição em partilhar a conversa… Por vezes o silêncio é necessário, pois transmite uma vontade de ouvir, uma aceitação sem transmitir dúvidas ou discordâncias, mas exige atenção permanente às expressões faciais.
O estabelecimento de uma comunicação eficaz na prestação de cuidados exige um processo biunívoco; isto é, a informação deve ser partilhada, pois se não for corretamente entendida pode levar a perda de confiança, impedindo que o doente exprima de forma adequada os seus pensamentos e sentimentos.
Os problemas de comunicação entre os profissionais de saúde e os utentes acontecem facilmente, uma vez que os utilizadores dos serviços de saúde necessitam não só de cuidados físicos mas também de cuidados direcionados ao seu bem-estar psicológico e social. Se não houver uma resposta adequada a todas estas necessidades haverá insatisfação dos utentes e uma avaliação negativa da qualidade dos cuidados prestados.(5)
Nesta perspetiva, quando a comunicação do enfermeiro se faz de forma responsável e visa a satisfação do utente:
- É naturalmente focalizada no processo de enfermagem;
- Considera o mundo do doente e da família;
- Trata a pessoa como ser único e irrepetível;
- Assume o papel de advogado do doente;
- Procura estar atento, demonstrando congruência entre linguagem verbal e não-verbal.(11)
Apresentada como a pedra angular dos cuidados, a comunicação em enfermagem é o fundamento da relação enfermeiro/doente e o elemento da competência da própria profissão. (14) Existem três tipos de comunicação: comunicação funcional, comunicação pedagógica e a comunicação terapêutica. Um particular destaque para a comunicação terapêutica, que permite estabelecer ligação significativa entre o enfermeiro e o doente, exigindo aceitação, respeito caloroso e compreensão empática.(14)
A comunicação constitui o fulcro dos cuidados de enfermagem e exige que esta seja entendida num âmbito mais vasto e mais profundo do que simples transmissão de informação.(17) O processo de comunicação em enfermagem, enquanto relação enfermeiro/doente, comporta, portanto, implicitamente o entendimento da informação numa perspetiva terapêutica, que é importante analisar.
Comunicação terapêutica
O conceito de comunicação terapêutica consiste na habilidade do profissional em usar o seu conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão temporária a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado e a superar os bloqueios à auto-realização, para enfrentar os seus problemas.(16)
Assim, a comunicação é vista como um processo que pode ser utilizado como instrumento de ajuda terapêutica, porque tem a finalidade de identificar e atender às necessidades de saúde do doente e contribuir para melhorar a prática de enfermagem, ao criar oportunidades de aprendizagem e despertar nos indivíduos sentimentos de confiança, permitindo que eles se sintam satisfeitos e seguros.
Para tanto, o enfermeiro deve ter conhecimentos fundamentais sobre as bases teóricas da comunicação e adquirir habilidades de relacionamento interpessoal para agir positivamente na assistência ao doente. Para que esta possa fluir bem, a enfermeira deve saber escutar, falar quando necessário, dar abertura para realização de perguntas, ser honesta, mostrar respeito, dispensar tempo suficiente para a conversa e mostrar interesse, entre outras habilidades.
A comunicação terapêutica permite a interação entre enfermeira e doente, e proporciona a oportunidade de se conseguir um relacionamento humano que atinja os objectivos da assistência.(18) Este tipo de comunicação é fundamental na prática de enfermagem, pois permite ao profissional estabelecer um relacionamento de trabalho com os doentes, ajudando-os a suprir as suas necessidades em relação à saúde, ao mesmo tempo que são criadas condições para que o profissional de enfermagem efetive mudanças com a intenção de promover o bem-estar daquele que é alvo dos seus cuidados.
Neste sentido, a interação com a pessoa doente não se deve traduzir por uma relação de poder em que esta é submetida aos cuidados de enfermagem, mas por atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia entre ambos, valorizando o doente como sujeito ativo deste processo de comunicação assertiva.(19) Este tipo de comunicação carateriza-se por:
- Ser competente nas várias estratégias de comunicação para expressar os seus pensamentos, sentimentos, protegendo, em simultâneo, os seus direitos e os dos outros;
- Ter atitude positiva acerca da comunicação direta e franca;
- Sentir-se confortável e controlar ansiedade, tensão, timidez ou medo;
- Sentir-se seguro relativamente à conduta a seguir respeitando-se a si e aos outros.(11)
Estes aspetos contribuem para o alívio do sofrimento tantas vezes presente e ajudam a enfrentar melhor as situações de doença. A falta de comunicação só tornará o doente mais isolado, impedindo-o de participar e de ter um papel ativo no seu processo de doença.(2)
Desta forma, existem quatro competências básicas que devem ser promovidas: compreensão empática, aceitação incondicional, autenticidade e respeito, as quais devem estar sempre presentes no dia-a-dia do enfermeiro que comunica com utentes de forma assistencial e terapêutica. Esta habilidade pode ser caraterística intrínseca do enfermeiro ou adquirida no seu desenvolvimento bio-psico-social-espiritual e profissional, mas terá sem dúvida que ser aplicada ao longo de toda a sua atuação.(2)
Os enfermeiros que comunicam eficazmente estão mais aptos a estabelecer uma relação de confiança com o doente. Uma comunicação eficaz é essencial para que a relação entre enfermeiro/doente seja válida, constituindo assim uma das competências essenciais a serem desenvolvidas.(2)
Em contrapartida existem aspetos que devem ser contrariados na prática de enfermagem, destacando-se:
- Comportamentos que não traduzem aceitação e respeito;
- O não reconhecimento à pessoa cuidada e do que ela vive;
- Atitudes frias e indiferentes, transparecendo pressa ou aborrecimento;
- Respostas fechadas que não têm em conta as necessidades e as tentativas de comunicar com o doente;
- Palavras e respostas bruscas, ou inapropriadas;
- Recurso a subterfúgios, generalizações e escapatórias;
- Comportamento dominador ou paternalista, ou que demonstre insolência.(14)
É importante não esquecer que cada doente é um ser humano único, que transporta uma história pessoal, com crenças, valores, limites e emoções que determinam o modo como vive, e que vão influenciar todo o processo de comunicação.(2)
Nesta perspetiva, a comunicação dos profissionais de enfermagem deve assentar nos seguintes princípios (figura 2):
- Ser simples, para que os termos utilizados sejam familiares às pessoas que os escutam, o que exclui abreviaturas, siglas, termos técnicos e construções demasiado rebuscadas;
- Ser clara, de maneira a que os conceitos utilizados não levem senão a uma interpretação, para evitar qualquer confusão;
- Ser breve e concisa, para que o doente não se perca nas explicações de uma comunicação que toca vários assuntos ao mesmo tempo;
- Ser apropriada ao tempo e às circunstâncias, selecionando-se o momento mais conveniente em função da hora do dia e do estado do doente;
- Ser adaptável às reações do doente de modo a proporcionar uma conivência terapêutica. (14)

Figura 2 - Caraterísticas da comunicação em enfermagem
Para finalizar, enumeram-se um conjunto de linhas orientadoras que o enfermeiro deve pôr em prática no estabelecimento da comunicação terapêutica:
- Preparação mental, emocional e física para assistir os doentes na resolução dos problemas de saúde;
- Ser pontual e educado na forma como se relaciona;
- Promover o conforto, bem-estar e ganhos em saúde;
- Ser competente nos cuidados requeridos, cuidando da pessoa de forma segura e eficaz;
- Elogiar e encorajar o esforço dos doentes para um melhor auto-cuidado;
- Ser paciente e compreensivo para com as reações do doente.(11)
Do mesmo modo, descrevem-se as condutas a evitar:
- Padronizar os doentes;
- Exigir ou pressionar os doentes a mudar;
- Rotular os doentes de “bons”, “maus” ou “não colaborantes”;
- Humilhar os doentes, utilizando termos técnicos que contribuam para que se sintam desprezados ou isolados;
- Ter preconceitos relativamente à raça, religião ou credo dos doentes;
- Dissimular conhecimento que não possui para evitar não parecer informado. Trata-se da saúde de uma pessoa, e como tal o doente tem o direito de receber a informação correta e honesta.
Em suma, a comunicação terapêutica em enfermagem é entendida como a expressão de ajuda e compreensão que dá resposta à satisfação das necessidades humanas básicas, de ordem afetiva, moral, espiritual e social. Através desta expressão surge a partilha de sentimentos e de valores que enriquecerá os intervenientes e jamais os prejudicará. É pois um processo de crescimento e amadurecimento vivenciado por todos os intervenientes.
Conclusão
A comunicação eficaz, também designada como comunicação terapêutica, consiste num processo recíproco entre enfermeiro e doente, em que o profissional utiliza os seus conhecimentos científicos e as suas habilidades para ajudar o doente de forma útil e individualizada.
Melhorar a qualidade e a humanização do atendimento em saúde pressupõe a escuta ativa do doente, a empatia e a resposta partilhada pela solução dos problemas, e também a acessibilidade personalizada aos diversos cuidados na área da saúde através de uma comunicação efetiva.
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Dora Saraiva, Enfermeira com especialidade Médico-Cirúrgica do Centro Hospitalar Cova da Beira, Covilhã
Nota: Este texto foi escrito pela autora ao abrigo do novo acordo ortográfico.