“Temos tido infelizmente mais pedidos do que aqueles que conseguimos suportar”, ultrapassando já os 250, o que “numa associação com um ano é muito” e não temos nenhum tipo de ajuda estatal, disse à agência o presidente da organização, Rui Elvas.
Segundo Rui Elvas, mais de 70% das pessoas que pediram ajuda “não têm condições financeiras para suportar todo o processo, desde a aquisição [do cão], treino e certificação”, estando a associação a suportar os encargos com fundos próprios, oriundos de donativos, e com a “boa vontade de muitos treinadores”.
Mas a associação, que está a formar e a certificar os primeiros cães de assistência para pessoas com deficiência motora, diabéticos, autistas e epiléticos, “não pode fazer mais” porque não tem apoio estatal e os donativos e as receitas que tem “são residuais” para as suas necessidades.
“É muito complicado porque estamos a falar de valores que variam entre os 5.000 e os 15 mil euros, dependendo da valência que o cão vai ter”, explicou o treinador/formador.
Para ultrapassar estas dificuldades, a associação vai pedir ao Estado para aplicar a lei de 2007 sobre cães de assistência, que prevê apoio a estas situações.
Por cada cão guia (considerado também cão de assistência) formado para pessoas invisuais, o Estado paga à entidade formadora cerca de 17.400 mil euros, refere Rui Elvas, defendendo que o Estado também pague um montante, a definir, por cada cão de assistência formado.
“O que queremos é que os cães de assistência tenham os mesmos benefícios e estejam abrangidos da mesma maneira pela lei”, defendeu, admitindo, contundo, que a Segurança Social, quem comparticipa estas situações, possa ainda não ter conhecimento desta formação.
Como a associação é muito recente, “compreendemos que a Segurança Social ainda não tenha conhecimento real de tudo isto e não tenha feito nenhuma abordagem nesse sentido, mas cabe-nos a nós ir bater à sua porta e tentar perceber se existe abertura e respeito pelo que está estabelecido na lei sobre a igualdade dos cães de assistência”.
A APCA surgiu para colmatar uma área que não estava a ser desenvolvida em Portugal, uma situação que “penalizava em muito as pessoas” que podiam usufruir de um cão de assistência.
Num ano de trabalho, a associação já tem três cães certificados, sete em certificação e está a começar a formação de mais oito. Destes casos, só dois utentes é que pagaram, lamentou.
Os cães assistência ajudam as pessoas no dia-a-dia, através de ações como abrir e fechar portas, buscar o telemóvel, medicamentos, mas também dando assistência durante ataques epiléticos, detetando níveis de glicemia e proporcionando conforto à criança.
Há cerca de ano e meio, Diana Niepce, bailarina, teve um acidente, caiu de um trapézio, o que a deixou numa cadeira de rodas. Teve conhecimento dos cães de assistência no Centro de Reabilitação de Alcoitão, mas na altura ainda não eram muito divulgados.
“Todos os cães que encontrávamos eram cães guias para cegos e que não se adaptavam a uma pessoa com mobilidade reduzida”, até que tive conhecimento da associação, contou a jovem, de 30 anos.
Após alguns contactos com a associação, Diana recebeu a sua cadela ainda bebé, a Nina. Sem possibilidades financeiras, a formação de Nina, hoje com quatro meses e meio e a pesar 20 quilos, está a ser patrocinada pela associação.
O treino passa agora pela Nina acompanhar a Diana a andar na rua com andarilho e, mais tarde, acompanhá-la no trabalho e em casa. Neste momento está a ser treinada para ajudar a abrir e fechar portas, apanhar objetos, como o comando da televisão, e levá-los a Diana.
“Sou encenadora e o objetivo é que a Nina venha comigo em tournée, que venha aos teatros comigo”, disse, contando orgulhosa: “Já vamos ao café e ela porta-se muito bem”, este tipo de intervenção “vai ser muito rico para a sociedade”.