Público e privado

Doentes com cancro denunciam discrepâncias

Apesar de rejeitadas aquando o seu aparecimento em Portugal pela “mão” dos centros privados, as técnicas de medicina não convencionais começam agora a ser aplicadas em hospitais públicos e centros de saúde sendo, até mesmo, credibilizadas pela Ordem dos Médicos e beneficiando de uma carga fiscal mais baixa no que respeita ao pagamento de impostos como IVA e IRS. No entanto, as que foram aprovadas para prática hospitalar não conseguem dar uma resposta completa, nem atempada, aos doentes com cancro que necessitam de realizar estas terapêuticas para atenuar os efeitos secundários da quimioterapia.

A situação é denunciada por Carla Ferreira, uma psicóloga que decidiu manter os tratamentos de acupuntura num centro privado - não beneficiando assim das taxas moderadoras - quando soube que teria de iniciar os ciclos de quimioterapia, escreve o Diário Digital. Segundo a mesma, “os hospitais não possuem uma oferta de serviços tão abrangente de medicinas alternativas, que lhe permita atenuar todos os sintomas, e não estão acessíveis em horários flexíveis, não dando assim resposta atempada às necessidades dos doentes.”

“Tinha conhecimento de que a acupuntura podia ajudar a melhorar os efeitos secundários da quimioterapia e, por isso, decidi experimentar esta técnica mesmo antes de iniciar o tratamento. No hospital, fui informada que podia realizar a acupuntura no local mas preferi manter-me no privado pela disponibilidade de horários tardios e pela possibilidade de realizar outros serviços complementares à acupuntura. Quando a quimioterapia me começou a provocar alguns problemas nas articulações, por exemplo, optei por fazer um tratamento com ventosas - a moxabustão - que não estava disponível no hospital. Acho injusto não poder beneficiar das taxas moderadoras num serviço de elevada qualidade, com profissionais experientes e que tanto me têm ajudado nesta fase mais difícil”, comenta a psicóloga.

Esta iniquidade fiscal observada entre público e privado tem levado ao encerramento dos vários centros que lutaram, desde a sua implementação, contra o constante ceticismo a que as técnicas foram sujeitas. Para Wenqian Chen, directora do Centro de Terapias Chinesas, as terapias não convencionais só são agora reconhecidas no nosso país graças ao esforço que os centros privados fizeram, ao longo destes anos, para as implementar em Portugal.

“Apesar de só agora ter sido tornado público, há muitos anos que a acupuntura e outras terapias não convencionais são praticadas nos hospitais públicos e centros de saúde. E a entrada destas medicinas alternativas no sector publico só é possível graças ao esforço que os centros privados fizeram para se manter ativos no nosso país. Temos batalhado muito pela aceitação destas terapias no setor da saúde, e o agradecimento que nos dão é uma iniquidade fiscal. Quem procura tratamentos em Hospitais Públicos ou Privados pode colocar as despesas como encargos de saúde; logo, se um hospital público já proporciona este serviço e o mesmo é considerado um encargo suportado como despesa de saúde dos utentes, porque é que um tratamento realizado por um dos nossos médicos terapeutas não o é? Acho incrível que alguns hospitais estejam com listas de espera de dois meses enquanto vemos centros a fechar. Parece que não queremos todos os mesmo, ou seja, tratar o maior número possível de doentes” comenta a especialista.

Apesar da crise e da desigualdade de impostos, a atividade do Centro de Terapias Chinesas cresceu 30% nos últimos anos. Está divido em dois espaços - a clínica, onde são realizados os tratamentos, e o SPAsia, espaço de massagens - e foi criado em Portugal há mais de 20 anos, o que implicou um investimento inicial de mais de 80 mil euros.

De acordo com a especialista foram os anos de crise que mais impulsionaram este crescimento uma vez que, na sua opinião, os portugueses se tornaram muito mais exigentes no que respeita à qualidade dos serviços nos quais decidem gastar dinheiro.

Fonte: 
Diário Digital
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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