Neurologia Pediátrica
Considerada como uma disfunção motora que afeta duas em cada mil crianças, a paralisia cerebral “é r

Em 1861 William Little, um cirurgião ortopédico, comunicou à Sociedade Obstétrica de Londres um trabalho em que defendia que um parto difícil e a «sufocação» do bébé no momento do parto produziam uma lesão cerebral que se manifestava por paralisia e rigidez. Não muito depois, no final do século XIX, Sigmund Freud contestou esta teoria. Freud argumentava que muitos bébés que sofreram asfixia no parto se desenvolviam, subsequentemente, de modo normal. Propunha, alternativamente, que um desenvolvimento cerebral anormal na vida fetal estaria subjacente à paralisia cerebral.

Sir William Osler, um influente médico do século XIX, foi o primeiro a utilizar o termo «paralisia cerebral» na literatura médica.

Curiosamente, mais de um século e meio depois, as duas hipóteses revelaram-se não exclusivas mas sim complementares. As duas foram confirmadas por investigações posteriores.

Múltiplos eventos anteriores ao parto como a exposição tóxicos, anomalias genéticas, acidentes vasculares cerebrais ou infeção fetal podem produzir uma lesão cerebral. Na vida pós natal o parto é um momento chave: traumatismo e asfixia são as principais agressões. Infeção continua a ser uma causa importante de paralisia cerebral na vida pós natal.

Muito se especulou também por razões médico-legais, se a asfixia intraparto era a causa preponderante de paralisia cerebral: os métodos actualmente disponíveis (sobretudo a Ressonância Magnética cerebral) sugerem que é causa em apenas 10% dos casos. 

Os efeitos que produz uma lesão cerebral dependem do tipo de agente ou situação agressora.

Doenças diferentes poderão assim produzir efeitos próprios (por exemplo, infecção na vida fetal com frequência causa alterações nos olhos ou surdez; asfixia terá como consequências principais disfunção motora e cognitiva, defeitos de desenvolvimento de natureza genética podem manifestar defeitos de desenvolvimento craniofacial e mais raramente de outros órgãos, etc). No mesmo grupo de causas pode o grau de gravidade das consequências ser variável.

As lesões cerebrais dependem ainda do estado de desenvolvimento em que o feto ou a criança se encontram. Por exemplo, a mesma asfixia no período perinatal actuando num bébé que nasce no termo da gestação (40 semanas) produz um padrão de paralisia diferente comparativamente com um bébé prematuro. Mesmo no contexto de prematuridade existem variantes relacionadas, por exemplo, com a prematuridade extrema.

O conceito de paralisia cerebral evoluiu finalmente para definir uma disfunção motora (frequentemente associada a disfunção cognitiva e sensorial e a epilepsia) resultante de uma lesão cerebral ocorrida na vida fetal ou numa fase precoce do desenvolvimento.

Esta disfunção ou dificuldade motora (e as disfunções associadas) será não progressiva, no sentido que é o resultado (ou a «sequela») de uma lesão cerebral que não é continuada no tempo.

Deve acentuar-se, na linha do que expusemos acima, que a expressão final de paralisia cerebral não está presente imediatamente após se constituir uma lesão: a constituição/«cicatrização» da lesão e o desenvolvimento do bébé  nos primeiros anos de vida são dois processos de sinal oposto. O resultado final, as dificuldades ou disfunções que irão ocorrer mais tarde, requer uma observação cuidada, experiente e prolongada no tempo.

Paralisia cerebral ocorre um cerca de 2/1000 crianças.

A disfunção motora mais comum é a paralisia e uma «rigidez» muscular associada chamada hipertonia espástica.

Existe um padrão unilateral de paralisia (variante «hemiplégica») em que sómente os membros superior e inferior direitos ou esquerdos são afectados pela paralisia e hipertonia.

Também ocorre a variante  com envolvimento mais grave nos membros inferiores que nos membros superiores (chamada «diplégica»), habitualmente resultante de complicações neurológicas da prematuridade.

Existem casos de paralisia cerebral em que o defeito é sobretudo de controle de movimento (forma «extrapiramidal»). Manifestam-se por movimentos involuntários que se assemelham a movimentos de «torsão» nos membros e no tronco.

Finalmente, na forma mais grave, os 4 membros são afectados por uma paralisia com hipertonia espástica («tetraplégica»).

O envolvimento pode afectar os músculos da face, boca e laringe e perturbar ou mesmo impedir a articulação das palavras («disartria»).

Uma criança com paralisia cerebral terá uma dificuldade motora que pode ser mais ou menos significativa (poderá por exemplo observar-se somente o uso preponderante de uma das mãos, com a outra demonstrando uma subtil lentidão e dificuldade para realizar movimentos com mais precisão).

Quanto ao grau de gravidade das disfunções associadas aplica-se também o comentário acima: 20 a 60% com dificuldades de aprendizagem e défice cognitivo, cerca de 30% com epilepsia, 40% com problemas visuais (frequentemente estrabismo). Salientamos que um número significativo de crianças com paralisia cerebral irá ter (em alguns casos mesmo quando afectado por uma doença motora grave) uma aprendizagem escolar adequada.

No decurso da infância e adolescência, alguns problemas ortopédicos podem manifestar-se: a paralisia e a rigidez determinam menos mobilidade de articulações, colocam um «stress» sobre determinadas articulações (sobretudo as ancas), pode evoluir uma curvatura da coluna vertebral (escoliose).

Algumas crianças com paralisia cerebral têm refluxo do conteúdo ácido do estômago para o esófago (pelo posicionamento deitado, pela hipertonia dos músculos, que aumenta a pressão intra-abdominal). A dificuldade para a deglutição e o refluxo gastro-esofágico podem causar aspiração para as vias respiratórias.

Outros terão alguma disfunção do controle (esvaziamento) da bexiga e propensão para infeções urinárias.

A investigação sobre paralisia cerebral tem permitido um melhor conhecimento das causas e algumas atitudes preventivas: por exemplo a vacinação contra a rubéola erradicou rubéola congénita que no passado era uma causa de cegueira, surdez e paralisia cerebral.

A hipotermia (arrefecimento corporal) protege o cérebro (e os outros órgãos) da privação de oxigénio e do défice de compostos energéticos e demonstrou ter um efeito não só sobre a mortalidade como também sobre a gravidade das sequelas quando ocorre uma asfixia no momento do parto.

A intervenção sobre paralisia cerebral usa diferentes técnicas, salientando-se a Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Terapia da fala.

Várias tecnologias de comunicação aumentativa têm sido desenvolvidas para melhorar a comunicação das crianças com incapacidade motora para falar.

A toxina botulínica é uma substância paralisante que, injectada em músculos selecionados, produz uma diminuição da rigidez hipertónica podendo atenuar o impacto sobre as articulações.

O Ortopedista pode realizar diversas intervenções para corrigir a postura de articulações ou para corrigir escoliose ou luxação da anca.

 Uma intervenção directa capaz de «corrigir» a lesão que causou a disfunção cerebral seria um objectivo último. Teóricamente as chamadas «células estaminais» teriam a capacidade de se diferenciarem em células cerebrais e «ocupar o lugar» de outras afectadas por uma doença.

Não é certo que estas células, uma vez localizadas numa lesão, possam reconstituir a arquitectura e o funcionamento de um cérebro normal. Teriam que ser administradas por uma via directa para o Sistema Nervoso. Este modelo de intervenção está actualmente num processo de investigação, experimental, e não existem dados firmes ou conclusivos quanto à eficácia e à segurança.

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Ministro da Saúde
O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, afirmou, em Coimbra, que as expectativas dos profissionais do setor "são...

"As expectativas dos profissionais são mais do que legítimas", sublinhou o ministro da Saúde, no âmbito de uma vista ao Hospital Pediátrico de Coimbra, onde foi confrontado, na entrada, com exigências por parte do Sindicato dos Enfermeiros.

O sindicato entregou "uma prenda" ao ministro, exigindo a reposição das 35 horas de trabalho "para todos" os enfermeiros e mais verbas para serem contratados mais profissionais.

Questionado por um dirigente sindical sobre quando é que vai haver reposição das 35 horas para todos os enfermeiros, o ministro disse que será "quando o país puder", salientando que o executivo vai continuar a "trajetória" de contratação de mais enfermeiros, que são "um pilar importantíssimo do Serviço Nacional de Saúde".

Em declarações aos jornalistas, Adalberto Campos Fernandes frisou que o Governo, ao fim de um ano, "foi o que mais enfermeiros recrutou" e que conseguiu fazer "a reposição justa das 35 horas para mais de 31 mil enfermeiros".

O ministro da Saúde referiu que a obrigação do executivo é a de "continuar a trabalhar para que 2017 seja um melhor ano para o Serviço Nacional de Saúde e para os portugueses".

Na visita ao Pediátrico de Coimbra, Adalberto Campos Fernandes ouviu os profissionais de saúde, bem como as famílias, com uma mãe a enaltecer o trabalho do hospital, que salvou a vida do seu filho, que "não se importa de passar o Natal" naquele espaço, porque "apanhou o carinho" dos profissionais.

A iniciativa serviu para "prestar homenagem aos 130 mil profissionais do Serviço Nacional de Saúde que hoje mesmo, em todo o país, estão a prescindir de estar com as suas famílias e estão a fazer aquilo que sabem fazer melhor, que é servir os portugueses", frisou o ministro, que ainda deixou a promessa de contratação de mais enfermeiros para aquele hospital, após ouvir os pedidos do diretor do serviço de pediatria médica, que defendia mais "três a quatro enfermeiros" para o seu serviço.

Governo
O Ministério da Saúde e a Associação Nacional de Laboratórios assinaram um protocolo que visa a melhoria da sustentabilidade...

Segundo o Ministério da Saúde, este "acordo inédito" resulta de um consenso alargado que abrange não só contenção da despesa neste setor, mas também a revisão do enquadramento técnico dos laboratórios convencionados, a desmaterialização dos resultados analíticos e a colaboração destas entidades na vigilância e controlo epidemiológico.

O ministério dirigido por Adalberto Campos Fernandes lembra, a propósito, que o setor convencionado das análises clínicas desempenha um papel complementar ao do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na prestação de cuidados de saúde aos portugueses.

"A convergência de esforços entre o Estado e os agentes económicos permanece como um dos garantes do controlo da despesa pública, num quadro de manutenção da acessibilidade às melhores práticas de diagnóstico e terapêutica no Serviço Nacional de Saúde, bem como de prestação, tendencialmente gratuita, de cuidados de saúde aos cidadãos", salienta o Ministério da Saúde.

O acordo assinado com a Associação Nacional de Laboratórios (ANL) poderá abranger outras entidades não associadas, estando em curso a análise de protocolos semelhantes com associações representativas de outras áreas de diagnóstico e terapêutica.

A importância da Reabilitação Respiratória
Afetando mais o sexo masculino, as doenças do aparelho respiratório são a principal causa de interna

As doenças do aparelho respiratório têm uma elevada prevalência representando, no seu conjunto, a terceira principal causa de morte em todo o mundo. “Em Portugal são responsáveis por cerca de 19 por cento dos óbitos e a principal causa de internamento”, refere António Carvalheira Santos, Chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, estimando-se que, dentro de cinco anos, “sejam reponsáveis por cerca de 12 milhões de mortes anuais”.

De acordo com o especialista, mais de cem milhões de europeus sofrem, atualmente, de doença respiratória crónica. Um dado alarmante se pensarmos nas elevadas taxas de mortalidade e incapacidade que a patologia provoca.

Entre as doenças respiratórias que mais afetam os portugueses encontram-se a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), a Asma Brônquica, as Neoplasias Pulmonares, as Pneumonias, as Fibroses Pulmonares, as Bronquiectasias e a Tuberculose.

“No entanto, há outras que são também relevantes, como as Embolias pulmonares, a Hipertensão Pulmonar de várias causas, o Síndroma de apneia obstrutiva do sono, as Doenças Neuromusculares e as Doenças deformativas da parede tóracica que são causas de insuficiência respiratória e implicam, muitas vezes, a necessidade de utilização de oxigénio e mesmo de ventilação mecânica para que os doentes tenham boa qualidade de vida”, acrescenta o pneumologista.

No Inverno, com temperaturas mais baixas e com níveis de humidade elevados, aumenta a probabilidade de agravamento da doença respiratória crónica, uma vez que estes doentes estão mais susceptíveis a infeções respiratórias, como a pneumonia.

“O frio é um irritante brônquico e por isso facilitador ao aparecimento das doenças respiratórias”, revela António Carvalheira Santos.

“A correta manutenção da terapêutica brônquica prescrita e a vacinação da gripe e das pneumonias devem ser encaradas como primordiais. A limpeza das vias aéreas é outro cuidado a ter”, assinala.

Por outro lado, entre as medidas que podem evitar o agravamento da doença está a reabilitação respiratória.

Para o especialista a reabilitação respiratória é uma componente fundamental no tratamento do doente respiratório crónico. “Tem sido alvo de particular atenção pelos investigadores nos últimos 10 anos e é, atualmente, apontada como uma intervenção de primeira linha no tratamento da DPOC estável, classes B, C e D da GOLD, bem como em doenças respiratórias crónicas propiciando a diminuição dos sintomas, melhoria na funcionalidade, capacidade de exercício e qualidade de vida e na autonomia da gestão da doença”, revela.

“Um programa de reabilitação respiratória tem como objetivos proporcionar a diminuição das incapacidades físicas e psicológicas causadas pela doença respiratória através da melhoria da aptidão física e mental, alteração de comportamentos de agravamento, promovendo a reintegração social e capacitando o doente para a gestão integrada da sua doença”, explica o médico pneumologista.

Indicada a todos os doentes com doença respiratória crónica sintomáticos, a reabilitação respiratória deve, na opinão deste especialista, ser prescrita como parte integrante do seu programa terapêutico.

Este programa “assenta em três pilares: controlo clínico, ensino e treino de exercício. Em virtude dos doentes terem características diferentes, os programas de reabilitação têm de ser talhados de acordo com essas mesmas características, embora as várias componentes têm de estar presentes”.

A reabilitação respiratória conta, por isso, com uma equipa interdisciplinar composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais que vão ajudar o doente a gerir a sua doença.

Uma melhor tolerância ao exercício, com aumento da resistência ao esforço, a redução dos sintomas respiratórios de fadiga e dispneia ou a reversão da ansiedade e depressão associados à doença respiratória são alguns dos benefícios do tratamento.

“A evolução da medicina nesta área, associada à investigação clínica, tem mostrado que a Reabilitação Respiratória evidência benefícios de saúde muito significativos para estes doentes e, simultaneamente, redução dos custos diretos e indiretos com a saúde”, adianta António Carvalheira Santos.

No entanto, admite que “a taxa de referenciação e adesão à Reabilitação Respiratória, assim como a capacidade de resposta dos serviços de saúde públicos ou privados, tem sido diminuta”.

“Num estudo recente foi avaliado que cerca de 1 por cento dos doentes respiratórios crónicos sintomáticos em Portugal têm acesso a esta terapêutica enquanto na Europa, nos países de médica adesão, é de 30 por cento estendendo-se este valor para 70 por cento nos países de grande adesão”, avança.

O chefe de Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente acredita que a fraca acessibilidade do doente a um programa de reabilitação respiratória “pode estar relacionado com o facto de sentir que é complicado o cumprimento do programa, por depressão ou desmotivação, por dificuldades de transporte, por escassez de recursos financeiros ou ainda por resistência do doente e familiares à mudança de rotinas, medicação, e início de novas abordagnes terapêuticas como a cessação tabágica, oxigenoterapia, ventiloterapia ou exercício terapêutico”.

Por outro lado, admite que a quase inexistente oferta de programas de Reabilitação Respiratória, fora do ambiente hospitalar, é uma grande condicionante ao acesso ao tratamento.

“Hoje, em Portugal, só um pequeno número de doentes respiratórios crónicos é privilegiado ao terem acesso a um tratamento global com Programa de Reabilitação incluído. Torna-se, pois, premente a abertura de Centros de Reabilitação Respiratória de proximidade, que possam dar respostas às necessidades do país”, adverte o especialista.

“Cheguei quase às últimas. Tive de aprender a respirar”

Luís Gottschalk foi diagnosticado com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica há 25 anos. Ex-fumador, admite que, ainda assim, só deixou o tabaco 12 anos depois de saber que tinha a doença.  
A fazer Reabilitação Respiratória há dois anos, afirma que teve de aprender a respirar.

“A DPOC foi diagnosticada há 25 anos, no entanto, reconheço que os sintomas já existiam há muito mais tempo”, começa por contar.

“Sentia-me cansado, tinha dificuldade em subir escadas, falta de ar. Eu nadava muito e passei a ter muitas dificuldades em respirar”, revela.

Em 1993 uma gripe forte precipitou-lhe o diagnóstico. “Foi a primeira vez que me senti a sufocar, não é facil explicar... Tive de chamar o médico a casa que me aconselhou a consultar um especialista. Na altura, disse-me que suspeitava de um enfisema”, explica Luís.

Para além do enfisema, este ex-fumador, sofria de bronquite. “Eu era fumador desde os 14/15 anos. Cheguei a fumar quatro maços de tabaco por dia. Depois de me ter sido diagnosticada a DPOC tentei várias vezes, sem sucesso, deixar de fumar”, admite.

Ao ser diagnosticado com enfisema – uma das manifestações da doença pulmonar obstrutiva crónica - pensou “ao menos não é cancro”. “Eu não tinha ideia da gravidade do problema”, confessa.

Luís era professor de filosofia numa escola secundária e passou a sentir várias limitações no seu dia-a-dia. “Desde que comecei a sufocar passei a sentir pânico em diversas ocasiões”, recorda.

“Tudo na vida me custava. Ir à rua cansava-me, não conseguia subir escadas e acabei por me isolar socialmente”, recorda. “Eu tinha vários amigos que moravam em prédios sem elevador e eu tive de deixar de os visitar”, justifica. Por outro lado, relembra o desgaste psicológico que a doença provocava.

Fora do país, onde viveu durante oito anos, sentiu o seu estado agravar-se. “Estive na Índia e tive um ataque que foi um pavor. Em 2002, em Maputo, tive de ser internado. Estive quase a fazer um pneumotórax. Nesse ano regressei a Portugal”, conta.

“Em 2003 estava péssimo e deixei de fumar. Fui decidindo, a cada dia, que não era o dia em que voltaria a fumar... ao fim de umas semanas comecei a sentir-me melhor”, revela Luís.

No entanto, um ano depois sofre um pneumotórax. “Cheguei quase às ultimas. Estava em Madrid na altura, e ao fim de três semanas de internamento soube que tinha de ser operado. Pedi para regressar a Portugal”, recorda.

A cirurgia, para além de tratar o pneumotórax, serviu para retirar parte do pulmão que se encontrava doente permitindo que a outra parte se expandisse.

“Após a operação fiz reabilitação respiratória para aprender a respirar”, afirma Luís.

Fez cinesioterapia e começou a praticar exercício físico. “Além de aprender a fazer exercícios respiratórios, a controlar a respiração e a expelir os fluído, eu tinha de ter os músculos bem trabalhados para conseguir respirar usando o diafragma”, explica.

O programa de Reabilitação Respiratória teve a duração de um ano, no Hospital Pulido Valente. “É fácil obter para os operados mas, depois de ter sofrido uma pneumonia alguns anos mais tarde, fiquei em lista de espera e acabei por procurar um centro privado especializado”, revela.

Atualmente, usa poucos medicamentos. “Só um no inicio do dia e outro a meio da tarde”, revela. Mas admite ter uma vida limitada. “Não consigo correr, consigo manter a marcha durante duas horas, mas correr é impossível e ainda tenho muita dificuldade em subir escadas. Faço muitas paragens”, diz. No entanto, tenta fazer uma vida o mais normal possível.

“Faço sessões de reabilitação duas vezes pode semana e nos outros dias vou ao ginásio. Tento manter sempre esta rotina. Nos períodos de maiores dificuldades faço reabilitação todos os dias”, conclui.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Organização Mundial de Saúde
Um protótipo de uma vacina canadiana contra o Ébola pode ser "até 100%" eficaz na proteção contra este vírus mortal,...

Num ensaio clínico que envolveu cerca de 6.000 pessoas, que receberam a vacina no ano passado, na Guiné, não houve nenhum caso de Ébola, contra 23 casos nos não vacinados, disse a subdiretora-geral de Sistemas de Saúde e Inovação da Organização Mundial de Saúde (OMS), Marie-Paule Kieny, à agência France Presse.

Estes dados sugerem "fortemente que a vacina é muito eficaz e pode ter uma eficácia de até 100%", adiantou Marie-Paule Kieny.

Se tudo correr bem, a vacina poderá estar disponível em 2018, no âmbito de um processo de aprovação acelerado, avançou a responsável.

"Depois de 40 anos, parece que agora temos uma vacina eficaz para a doença do vírus Ébola”, afirmou Thomas Geisbert, um investigador do Galveston National Laboratory, no Texas.

O Ébola causou a morte de mais de 11.000 pessoas na África Ocidental.

Direção-Geral da Saúde
A infeção pelo vírus Zika, o Ébola e a infeção pelo novo Coronavírus vão passar a ser doenças de notificação obrigatória a...

O despacho de Francisco George, divulgado no ‘site’ da Direção-Geral da Saúde (DGS), atualiza a lista de doenças transmissíveis sujeitas a notificação laboratorial obrigatória ao Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE).

A legislação prevê que seja o diretor-geral da Saúde a definir as doenças transmissíveis de notificação obrigatória e outros riscos para a saúde pública.

Para a definição das doenças e de outros riscos de saúde é tida em consideração uma decisão do Parlamento Europeu e do Conselho (Decisão n.º 1082/2013/UE) relativa a ameaças sanitárias graves transfronteiriças, que enquadra a vigilância da resistência a antimicrobianos na União Europeia.

A DGS adianta que a resistência aos antimicrobianos é um problema emergente nos cuidados de saúde, com implicações diretas na morbilidade e mortalidade.

Neste contexto, sublinha, “prevenir emergências e a transmissão cruzada de microrganismos com suscetibilidade intermédia ou resistência aos antimicrobianos é um dos objetivos da vigilância epidemiológica”.

É neste enquadramento que o despacho de Francisco George vem “tornar obrigatória a notificação de microrganismos, através do SINAVE, pelos laboratórios”.

O SINAVE é um sistema que permite monitorizar a ocorrência de doenças transmissíveis suscetíveis de constituir um risco para a saúde pública, implementar com rapidez e segurança medidas de prevenção e controlo destas doenças e cortar a cadeia de transmissão na comunidade e ocorrência de novos casos de doença e surtos.

“Este sistema reforça o compromisso do Estado na proteção da saúde da população, respondendo aos novos desafios que se colocam na vigilância das doenças infecciosas”, refere a DGS.

Para fazer a notificação, os laboratórios têm de registar-se no ‘site’ Sinavelab, para poderem dispor das condições de acesso necessárias à notificação laboratorial obrigatória.

As doenças devem ser notificadas quer se tratem de “casos possíveis, prováveis ou confirmados” e quando ocorre uma morte, refere o despacho publicado em Diário da República e que entra em vigor no dia 01 de janeiro.

Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe
A atividade gripal manteve-se baixa, na semana passada, mas com tendência para crescer, revela o Boletim de Vigilância...

Segundo o relatório, publicado semanalmente, todas as quintas-feiras, a taxa de incidência da gripe foi de 74,9 casos por cem mil habitantes, na semana de 12 a 18 de dezembro.

Na semana precedente, de 05 a 11 de dezembro, a atividade gripal esteve igualmente baixa, com tendência para crescer, tendo-se registado 45,5 casos por cem mil habitantes. Na altura, foi apontado o início provável do período epidémico.

Entre 12 e 18 de dezembro, foram identificados 36 vírus da gripe do subtipo A (H3).

O boletim refere, ainda, que foram reportados, na semana passada, seis casos de gripe, por parte das 20 unidades de cuidados intensivos hospitalares que enviaram informação, sendo que cinco tinham o vírus A (H3). Nenhum doente estava vacinado contra a gripe e cinco eram doentes crónicos.

Desde o início da época gripal, em outubro, foram comunicados 31 casos de gripe admitidos nas unidades de cuidados intensivos.

Na semana do Natal, a temperatura média apresenta valores abaixo do normal, no território a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, destaca o relatório, adiantando que a mortalidade observada, "por todas as causas", tem números de acordo com o esperado.

De acordo com o boletim, houve um aumento da atividade gripal na região europeia.

A época gripal 2016-2017 começou em outubro e termina em meados de maio.

Administração Regional de Saúde do Centro
Os centros de saúde de Coimbra vão estar abertos ao público no dia 26, segunda-feira, com uma equipa para atendimento de...

A abertura ao público no dia em que o Governo concede tolerância de ponto ocorre entre as 10:00 e as 18:00 e abrange os centros de saúde de Celas, Eiras, Fernão de Magalhães, Norton de Matos, Santa Clara e São Martinho. A iniciativa enquadra-se "no âmbito das medidas preconizadas no Plano de Contingência para Temperaturas Extremas Adversas - Módulo Inverno 2016/2017", afirma, em comunicado, a Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC).

A medida "está em consonância com os procedimentos adotados internamente pelas administrações dos hospitais no controle da situação resultante do aumento da procura dos serviços de urgência nesta altura", adianta.

Na nota, a ARSC frisa ainda que o Hospital dos Covões, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), tem a funcionar, aos fins de semana, uma consulta aberta para casos de doença aguda não urgente.

A consulta, disponibilizada à população de Coimbra e arredores, funciona no edifício de consulta externa do Hospital dos Covões e proporciona exames complementares de diagnóstico e um atendimento "geralmente rápido", evitando "deslocações desnecessárias à urgência geral", assinala.

Governo
O governo aprovou hoje a Lei da Saúde Pública, um documento que reúne e atualiza “a mais relevante legislação” nesta área, como...

Trata-se de uma proposta de lei que estabelece as regras e os princípios de organização da saúde pública.

Nesta organização estão contemplados os serviços de saúde pública, as autoridades de saúde e do Conselho Nacional de Saúde Pública.

O diploma estabelece as medidas de proteção e promoção da saúde e prevenção da doença, incluindo as de vigilância epidemiológica, ambiental e entomológica, e proteção específica através da vacinação, estando ainda previstos os procedimentos relativos à gestão de emergências em saúde pública.

“É assim consolidada num único diploma a mais relevante legislação específica de saúde pública produzida ao longo de várias décadas”, lê-se na apresentação da Lei, hoje aprovada em Conselho de Ministros.

Universidade do Minho
O procedimento usa dois sensores para descobrir onde está o cálculo renal em metade do tempo dos métodos habituais. Prevê-se...

No Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), na Universidade do Minho, em Braga, foi desenvolvido um método para encontrar pedras nos rins com a ajuda de sensores. Estima-se que o novo método, que está a ser desenvolvido nos últimos anos, chegue ao Hospital de Braga em 2017.

A pedra nos rins afeta cerca de 55 milhões de adultos na Europa, segundo dados de 2012 da Associação Europeia de Urologia (EAU, na sigla em inglês). E desde 1982 o número de pessoas afetadas duplicou. O que está a causar isso? As alterações no estilo de vida, que levaram ao aumento da obesidade e das síndromes metabólicas. A maioria dos afetados são homens, mas a mudança dos hábitos de vida também está a provocar mais cálculos renais nas mulheres, de acordo com a Associação Portuguesa de Urologia.

“Na Europa, estima-se que cerca de 5% da população tenha litíase renal [presença de pedras nos rins]. Embora não existam estatísticas reais sobre a prevalência desta doença em Portugal, calcula-se que seja semelhante a outros países europeus, nomeadamente Espanha, onde a prevalência é de cerca de 5%”, indica-nos Emanuel Carvalho Dias, um dos urologistas do ICVS responsáveis pelo novo método de remoção de pedras nos rins.

Mas o que são estas pedras? São estruturas sólidas provocadas pela cristalização nos rins de minerais ou sais de ácidos. Depois, de formadas, podem manter-se no rim ou descer pelo tubo que faz uma ligação à bexiga, o uréter. Se em muitos casos a pedra desaparece sem qualquer intervenção, em cerca de 20% dos casos causa uma dor forte e tem de ser realizada uma cirurgia.

No método convencional, para se remover a pedra dos rins, é necessário usar uma agulha que atravessa a pele, assim como fazer radiografias. “Torna-se difícil conseguir picar o rim e tirar as pedras maiores”, diz ao jornal Público Emanuel Dias sobre as dificuldades encontradas numa cirurgia.

Testes em porcos
Como vai ser então utilizado o novo método? Depois de aplicar uma anestesia, usam-se dois sensores: um eletromagnético, que funciona com ondas pulsadas de baixa frequência e que penetra no rim, e outro externo. O primeiro sensor é colocado dentro do rim através de um ureterorrenoscópio flexível, um instrumento que penetra na uretra, na bexiga e segue até ao rim. Por fim, este sensor interno emite um sinal vermelho, que e visível num ecrã assinalando assim o local onde deve ser feita a picada. Por fora, os médicos utilizam o segundo sensor, o externo, que está sempre a emitir um sinal verde. Quando os pontos dos dois sensores se intercetam, é então o momento de fazer a picada com a agulha.

A ajudá-los, os urologistas têm um sistema de navegação e o ecrã onde surgem os pontos a três dimensões obtidos pelos sensores. “É como se fosse o GPS da pedra nos rins”, afirma Emanuel Dias. Encontrada a pedra, é necessário destruí-la. Aqui o método passa a ser o tradicional e já conhecido: o processo ultra-sónico.

Neste novo método, além de se simplificar o processo de remoção da pedra, pois o cálculo é detetado de forma precisa, o paciente não fica exposto aos raios X e também se evitam muitas hemorragias associadas à cirurgia. “Este é um método completamente novo”, afirma Emanuel Dias, que desenvolveu o trabalho em conjunto com os investigadores Estevão Lima e João Vilaça, também do ICVS.

A precisão deste método permite assim que a cirurgia demore menos tempo do que o método convencional. “O tempo da cirurgia encurta. Passa a demorar em média meia hora, enquanto uma cirurgia normal dura duas horas”, aponta o urologista.

Até agora, o método encontra-se em fase pré-clínica, tendo sido testado em cerca de 20 porcos. O projeto, que tem sido apresentado em congressos internacionais, teve um artigo publicado na revista The Journal of Urology, em 2013. E esta terça-feira foi um dos projetos divulgados no Roteiro da Ciência, que Carlos Moedas, comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação, fez pelo Minho. Mas as novidades para os doentes podem surgir “em breve”, refere Emanuel Dias: em 2017, a equipa de investigadores espera que o método comece a ser aplicado no Hospital de Braga.

As pedras nos rins podem ser evitadas. Ingerir muitos líquidos e ter uma alimentação saudável com substâncias inibidoras – como o arroz, a batata, a clara de ovo e frutas, uvas ou peras – pode ajudar.

A partir de janeiro
Os medicamentos para o tratamento da dor oncológica, moderada a forte, passam a incluir duas novas substâncias ativas,...

Em causa estão analgésicos estupefacientes, nomeadamente os medicamentos opioides, como Buprenorfina, Fentanilo, Hidromorfa, Tapentadol, Morfina, aos quais acresce Oxicodona e Oxicodona+Naxolona, quando receitados para o tratamento da dor oncológica moderada a forte.

“Tratando-se de medicamentos indispensáveis ao tratamento da dor oncológica moderada a forte cuja prevalência, por motivos de saúde pública, importa reduzir, é necessário facilitar o acesso dos doentes a esta terapêutica, promovendo a equidade e universalidade do tratamento da dor, e contribuir para uma melhoria significativa da qualidade de vida dos doentes oncológicos”, lê-se na portaria.

Segundo fonte da Autoridade do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), com a publicação da portaria passa a ser possível acrescentar novas substâncias ativas, sem alterar o diploma.

Mantém-se a necessidade de o médico que prescreve mencionar expressamente a portaria na receita para o doente ter acesso à comparticipação.

A portaria entra em vigor no início de janeiro.

Prevenir o AVC na quadra natalícia
Todas as receitas tradicionais podem ter pequenas alterações, adaptando-se a um conceito mais saudáv

 

 

Certamente que também não vai querer ver os últimos esforços que tem feito para perder peso caírem por terra em apenas dois dias.

 

 

 

Para uma quadra natalícia mais saudável, mas ainda assim cheia de sabor e prazer à mesa, deixo-lhe alguns conselhos práticos:

  1. Não deixe de praticar a sua atividade física diária.
  2. Demolhe bem o bacalhau, o sal é sempre um veneno para a tensão arterial.
  3. Aumente a quantidade de hortícolas no prato e reduza a quantidade de arroz, massa ou batata, como forma de tentar compensar um pouco a ingestão de doces.
  4. Ingira fruta fresca ao longo do dia para fugir à tentação dos doces.
  5. Na confeção dos doces tradicionais, reduza a quantidade de açúcar da receita, bem como a de gemas de ovos. Nas receitas com leite, opte por leite magro. Use e abuse da canela.
  6. Na confeção de fritos como as rabanadas, filhós, bolinhos de bacalhau e outros, conceba porções maiores para fritar! Quanto mais pequena a porção, mais óleo de fritura irá reter.
  7. Para fritar, prefira azeite ou, em alternativa, óleo de amendoim, pois este atinge uma temperatura mais elevada sem se deteriorar.
  8. Nos assados, evite manteiga, natas ou outros cremes de gordura, preferindo azeite ou alguns produtos mais light. Pode servir os assados acompanhados por frutas tropicais, tornando-se saborosos, apelativos e mais ricos nutricionalmente.
  9. Substitua sal por especiarias e ervas aromáticas.
  10. No prato, retire com os talheres todas as gorduras visíveis da carne e do peixe e evite os molhos.
  11. As bebidas alcoólicas são para consumo moderado, com um máximo de consumo diário de dois copos de vinho para o homem e um para a mulher.
  12. Evite os refrigerantes pelo seu elevado conteúdo em açúcar. Mesmo os sumos naturais devem ser restringidos a um baixo consumo.
  13. Com as sobras, use a sua criatividade para criar novos pratos, mas não volte a adicionar mais gordura ou sal na sua elaboração.

E lembre-se que o Acidente Vascular Cerebral não escolhe dia nem hora! Mais vale um natal cheio de vida, do que menos uma vida neste Natal!

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Estudo
Um estudo agora publicado na revista cientifica European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, de...

Apesar de terem diminuído 39,2%, os miomas uterinos continuam a ser a principal causa e foram responsáveis por cerca de 75 mil histerectomias nos hospitais públicos em Portugal.

As histerectomias são cirurgias que consistem na remoção do útero e que resultam na ausência de menstruação e na incapacidade de engravidar. Entre 2000 e 2014, 166.177 mulheres foram submetidas a histerectomias em Portugal, sendo que o estudo publicado revela que em 15 anos o número anual de histerectomias em Portugal diminuiu quase 20%.

Daniel Pereira da Silva, médico Ginecologista no Instituto Médico de Coimbra, justifica o decréscimo do recurso a estas cirurgias no tratamento de miomas uterinos, com o fato de “a classe médica estar a acompanhar a evolução farmacológica, como por exemplo a utilização do Acetato de Ulipristal, que permite em alguns casos evitar a histerectomia ou facilitar a realização de uma intervenção cirúrgica menos invasiva que conserve o útero”.

Os miomas uterinos, uma doença que afeta mais de 2 milhões de mulheres em Portugal, são mesmo considerados a quinta causa mais frequente de internamento hospitalar por causas ginecológicas não relacionada com a gravidez e a principal causa da realização de histerectomias (cerca de 45%).

Em geral, uma mulher precisa de um mês a cinco semanas para recuperar de uma histerectomia. No entanto, Daniel Pereira da Silva revela que “devido à utilização de técnicas menos invasivas, como o tratamento com medicamentos ou a retirada do útero por via vaginal ou através da abertura de pequenos orifícios no abdómen (laparoscopia), os dias de recuperação diminuíram, nos últimos 15 anos, de sete para apenas cinco dias”. Já a idade média das mulheres com indicação de cirurgia aumentou de 51 para 55 anos de idade.

Diabetes provoca unanimidade entre todos os partidos com assento parlamentar
Foi ontem a apreciação, em plenário na Assembleia da República, da petição da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal,...

Todas as bancadas parlamentares consideraram e sublinharam a excelência do serviço prestado pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), instituição parceira e complementar do Serviço Nacional de Saúde. O debate foi aberto pelo deputado do PS, Ascenso Simões, que após relatar a sua experiência pessoal, anunciou o projeto de resolução apresentado pelo partido, que recomenda a celebração de um acordo de âmbito nacional entre a Administração Central dos Sistemas de Saúde I. P. (como representante do Ministério da Saúde) e a APDP, por um período de cinco anos.

“Esta iniciativa do PS será brevemente submetida a votação e, acreditamos que pela sua relevância e por todo o apoio recolhido ontem no parlamento em relação a este tema, será aprovada em plenário”, refere Luis Gardete Correia, presidente da APDP.

Relembramos que os dados apresentados pelo Relatório do Observatório Nacional da Diabetes (“Diabetes, Factos e Números – 2015”) revelam uma prevalência da diabetes de 13,1%, o que corresponde a mais de 1 milhão de pessoas, das quais 43% ainda não diagnosticadas. Refere ainda que cerca de 2 milhões estão em risco de vir a ter a diabetes. “Motivos mais do que suficientes para que o combate à diabetes esteja no centro do debate político”, salienta o presidente da APDP.

Recordamos alguns dos itens da petição da APDP apresentada à Assembleia da República (AR):

A Lei de Bases da Saúde, aprovada pelo Decreto-lei nº 48/90, de 24 de Agosto, com as alterações introduzidas pela Lei nº 27/2002, de 8 de Novembro, consagrou um modelo misto de saúde, em que releva a complementaridade da economia social na prestação de cuidados de saúde;

A Diabetes é uma doença que afeta massivamente a humanidade, prevendo-se que, em menos de 20 anos, atinja, no mundo, 642 milhões de pessoas, podendo vir a atingir em Portugal cerca de 20% da população;

É geralmente reconhecido que a intervenção na diabetes deverá iniciar-se precocemente, visando a prevenção e o retardamento da doença, o diagnóstico precoce e o tratamento, a fim de evitar a progressão da doença e das complicações tardias;

Como instituição de cuidados diferenciados, a APDP, tem desempenhado um papel crucial na prevenção e no tratamento da diabetes, por meio da contratualização da prestação de serviços com as Administrações Regionais de Saúde.

A Associação ocupa o primeiro lugar entre os nove centros mundiais de educação terapêutica (International Diabetes Federation Education Center) e é um centro colaborador da Organização Mundial da Saúde.

Atualmente, em cada 6 segundos morre uma pessoa com diabetes. Esta doença é causa maior de mortalidade, incapacidade e morbilidade, provocando a morte a mais pessoas do que o cancro da mama e da próstata, ou a sida, a malária e a tuberculose juntos.

Link para a petição da APDP: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT80565

Investigadores alertam
Um grupo de investigação internacional, que integra um docente do Politécnico do Porto, alertou para malefícios da iluminação...

“A iluminação artificial, com muito relevo o LED branco, é potencialmente prejudicial para a saúde humana devido à componente azul muito pronunciada no seu espetro. O excesso de iluminação que existe é também perturbador dos ecossistemas, da fauna da flora. À escala global, a situação atual, revela-se extremamente preocupante”, afirmou o investigador Raul Lima, da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto.

Raul Lima, responsável pelas medições do brilho do céu que foram utilizadas para a classificação da Reserva de céu escuro Starlight Tourism Destination Dark Sky Alqueva - é um dos dois membros nacionais da Comissão de Gestão da Rede Europeia de Investigação COST ES1204 LoNNe (Loss of the Night Network), rede que terminou, recentemente, a sua atividade (2012-2016) com um conjunto de recomendações que visam consciencializar a sociedade civil dos benefícios de uma iluminação cuidada, com a temperatura de cor correta, e não excessiva.

Estas recomendações resumem-se a quatro ideias-chave: “evitar, tanto quanto possível, luz branca com comprimentos de onda abaixo dos 500 nanómetros; direcionar a luz para onde ela é efetivamente necessária; iluminação das ruas de forma tão uniforme quanto possível e com a intensidade mais baixa possível e adaptação da iluminação exterior a cada momento da noite”.

Segundo os investigadores, são cada vez em maior número os estudos que revelam que os efeitos na saúde vão para além daquilo que se poderia supor há alguns anos. Se as perturbações em várias espécies de fauna são conhecidas há algum tempo, no ser humano a suspeita de efeitos graves tem sido posta em evidência por vários estudos, que têm revelado uma associação entre a exposição noturna à luz com comprimentos de onda curta (azul) e um aumento de probabilidade de desenvolvimento de diabetes, obesidade e mesmo alguns tipos de cancro (mama e próstata).

“Estudos epidemiológicos e em animais revelam que a luz branca é cancerígena. Está provado em animais, não está ainda em seres humanos, mas os estudos que estão a ser feitos apontam numa mesma direção. Por caminhos diferentes, chega-se à conclusão de que há um maior número de casos de cancro em situações em que há exposição à luz branca”, sustentou o cientista.

A rápida penetração dos LED na iluminação pública e particular, bem como o uso de ‘tablets’, ‘smartphones’, computadores ou televisões LED, veio acompanhada por uma crescente preocupação por parte da comunidade científica nesta área pois “a maior parte dos LED utilizados possuem um espetro especialmente rico em azul”.

Ao longo deste trabalho de quatro anos concluiu-se que “mesmo pequenas quantidades de luz artificial na altura errada podem afetar o nosso relógio interno, a libertação de hormonas e mesmo interferir com ecossistemas inteiros”, sublinhou Raul Lima.

Segundo o investigador, “as imagens de satélite comprovam que Portugal, em particular o litoral, é dos países que mais iluminação pública usa e desperdiça, com sérias consequências para o ambiente e para a saúde. É possível baixar em muito os níveis de intensidade atualmente utilizados e manter condições de visibilidade ótimas. Há que rever todos esses parâmetros, porque estamos a iluminar demais sem necessidade”.

“Há muita iluminação na faixa costeira portuguesa, mais do que outras regiões europeias, como por exemplo, Madrid ou Barcelona. Deve-se não só ao excesso de candeeiros, mas também à deficiente construção deles, porque muitos emitem luz não para baixo, como seria aconselhável, mas sim para baixo, para os lados e para cima. A luz para os lados e para cima não é necessária, é apenas poluição luminosa e desperdício de energia. Em Berlim e noutras cidades europeias ainda é possível ver a via láctea, coisa que, por exemplo, no Porto deixou de ser possível desde 1983/84. O Porto não tem a escala de Berlim e, no entanto, tem muito mais luz”, sublinhou.

Contudo, Raul Lima disse que, no caso do Porto, a autarquia está sensibilizada para o problema e está já a realizar um trabalho de correção do problema, adequando a intensidade da iluminação ao que é recomendado.

Ramo alimentar
A Mars rompeu com outras empresas do ramo alimentar, ao denunciar um alegado estudo científico, financiado por esta indústria,...

Entre os produtos fabricados pela Mars estão marcas como M&M, Snickers ou Twix.

O estudo suscitou criticismo pelas conclusões e pelo seu financiamento por um grupo que inclui as empresas Coca-Cola, Hershey e Red Bull.

Fonte da Mars, que também faz parte do grupo, designado International Life Sciences Institute, argumentou que o estudo mina o trabalho dos dirigentes governamentais da área da saúde e dá má fama a toda a pesquisa financiada por esta indústria.

Meditação e saúde
A técnica de meditação Mindfulness tem sido estudada nas maiores universidades no mundo e, nos últim

No contexto da saúde, a técnica do Mindfulness refere-se a um processo psicológico que inclui o treino de várias habilidades que ajudam a pessoa a desenvolver a capacidade de lidar com as suas emoções, sensações e pensamentos com uma atitude de abertura e acolhimento. Ou seja, desenvolvendo a sua capacidade de aceitação e resiliência perante o problema de saúde.

Um estudo, recentemente, publicado pela Universidade de Queensland, na Austrália, pela investigadora Melissa Day, demonstra que quanto maior é a capacidade do indivíduo aceitar a dor, e de conseguir levar a cabo as atividades do dia-a-dia mesmo na sua presença, maior capacidade terá para aumentar a  sua qualidade de vida e o seu bem-estar psicológico.

A terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dor

Enxaquecas, dores lombares e cervicais estão entre as patologias que mais condicionam o doente, afetando milhares de pessoas em todo o Mundo.

Sabe-se, aliás, que a dor crónica afeta cerca de 30 por cento da população e representa uma perda de 1,5 milhões de dias de trabalho, por ano, para quem sofre da doença.

“As lombalgias são um fenómeno com um impacto tremendo nas actividades básicas diárias do indivíduo, que transbordam para a sua vida familiar, laboral e social. Se tivermos em conta as estimativas de que 80% de todos os adultos terão eventualmente pelo menos um episódio de lombalgias durante a vida, entendemos porque é que esta sintomatologia representa a primeira causa de absentismo laboral na maior parte dos países industrializados”, revela a especialista Isabel Duque Martins. 

Dependendo da causa de dor, são várias as terapêuticas indicadas. Seja o exercício físico, a manipulação da coluna ou a prescrição de analgésicos.

No entanto, são vários os especialistas que defendem a importância do recurso à terapia cognitivo-comportamental (CBT- sigla em inglês) - um método de intervenção terapêutica que propõe alterar a nossa percepção e comportamento perante a dor.

“A terapia cognitivo-comportamental constitui a intervenção psicológica mais comum, melhor documentada pela investigação e com resultados mais eficazes no tratamento da dor crónica e especificamente na dor lombar crónica”, escreve Vanda Clemente, especialista em Psicologia Clínica, na revista DOR da APED.

“Com este tipo de intervenção, é possível reduzir a dor, aumentar as respostas de coping adaptativas, aumentar a auto-eficácia e diminuir as cognições mal adaptativas relacionadas com a dor, o que permite diminuir a incapacidade e por isso melhorar o funcionamento físico”, adianta acrescentando que a aplicação desta arma terapêutica conduz ainda à redução do uso de fármacos e do número de hospitalizações.

Para esta especialista, “a compreensão da experiência da dor por parte do doente, das suas avaliações face ao agente de stress, deverá ser um aspecto central de qualquer programa terapêutico que se pretenda eficaz no alívio da dor crónica”. “É necessário perceber que o doente se refere «à sua dor» e que incorpora a dor na sua própria identidade”, acrescenta.

O essencial desta terapia consiste, pois, em ajudar o doente a mudar os seus pensamentos, as suas avaliações e atitudes, “de forma a motivá-lo para um novo conjunto de estratégias para lidar com a dor”.

Reestruração congnitiva, treino de competências (ou estratégias para lidar com a dor), treino em imaginação ou de relaxamento, são alguns dos procedimentos terapêuticos desta abordagem contra a dor.

Mindfulness e a dor

Um estudo conduzido pela neurocientista Sara Lazar, da Universidade de Harvard, veio comprovar, através da utilização de ressonância magnética, que a prática de Mindfulness atua diretamente em áreas como o cortéx pré-frontal, relacionado com funções importantes como a atenção ou o processamento sensorial.

Desta forma, tem vindo a ser possível demonstrar que esta técnica de meditação ajuda o praticante a aumentar o seu potencial para se relacionar com os problemas de uma maneira diferente, tornando-o mais hábil na capacidade de gerir as emoções que surgem, por exemplo, no contexto de dor ou doença.

A redução de stress baseada em Mindfulness – MBSR, ou seja, Mindfulness Based Stress Reduction – é mais um tratamento disponível, tão eficaz na redução da dor como a terapia cognitivo-comportamental.

Para se chegar a esta conclusão, foi levado a cabo um estudo, que contou com a colaboração de mais de 340 pessoas, com idades compreendidas entre os 20 e os 70 anos, sofrendo de lombalgia há mais de 7 anos, em média.

Este grupo foi dividido, aleatoriamente, entre aqueles que receberiam aulas de Mindfulness, terapia cognitivo-comportamental ou realizariam os tratamentos convencionais.

Este estudo permitiu observar que o grupo que recebeu aulas de Mindfulness conseguia levantar-se de uma cadeira ou subir escadas  com maior facilidade, e sentir menos dor, que o grupo que recebeu tratamento convencional.

A terapia cognitivo-comportamental apresentou os mesmo resultados, mostrando o poder da mente na redução da dor.

A verdade é que, o programa de mindfulness ajuda a reduzir o stress e o impacto negativo da lombalgia sobre o bem-estar, ao mudar a forma como a mente processa a dor.

Este estudo consistiu em sessões de grupo de duas horas, uma vez por semana, durante oito semanas, onde se ensinou meditação, yoga e consciência corporal. Numa primeira fase, os praticantes focavam-se, à vez, e durante 10 a 20 minutos, nas várias partes do corpo, tomando consciência e aceitando qualquer sensação presente.

Para o coordenador desta investigação, Dan Cherkin, da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, o treino da mente pode ter efeitos mais duradouros do que a manipulação da coluna.

Foto: 
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Administração Central do Sistema de Saúde
Perto de dois mil pedidos de atribuição de cédula profissional para terapeutas não convencionais foram já aprovados, dos cerca...

As terapêuticas não convencionais(TNC) partem de uma base diferente da medicina convencional e aplicam processos de diagnóstico e terapêuticas próprias, estando reconhecidas atualmente cinco: acupuntura, osteopatia, naturopatia, fitoterapia e quiropraxia. A homeopatia e a medicina tradicional chinesa aguardam a regulamentação do respetivo ciclo de estudos.

A presidente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), Marta Temido, admitiu hoje no parlamento a morosidade do processo de atribuição das cédulas profissionais, facto que suscitou o pedido de audição por parte do CDS-PP.

Dos 3.410 pedidos para avaliação na ACSS, 1.924 tiveram parecer de atribuição de cédula, mas ainda só foram comunicados aos profissionais as decisões relativas a 1.158 pedidos. Até ao fim do ano, Marta Temido prevê que sejam concluídas todas as comunicações de cédulas já aprovadas.

Os deputados da comissão parlamentar de Saúde foram unânimes a considerar que a atribuição de células profissionais é fundamental para “separar o trigo do joio” na área das terapêuticas convencionais, credibilizando os profissionais e sendo uma fonte de segurança para os doentes ou utilizadores.

O CDS-PP, que motivou um conjunto de audições sobre a atribuição de cédulas a profissionais das terapêuticas não convencionais, admitiu que os dados revelados pela presidente da ACSS são tranquilizadores.

Contudo, a deputada do CDS Patrícia Fonseca mostrou preocupação em relação à diferença entre o número de pedidos de cédulas profissionais e a quantidade de terapeutas que se estima existirem.

“Há cerca de 3.500 profissionais que pediram emissão da cédula. Mas haverá 20 mil profissionais de terapêuticas não convencionais. Onde estão estes que supostamente existem e não pediram a cédula?”, questionou a deputada.

O presidente do conselho consultivo para as terapêuticas não convencionais, também ouvido hoje no parlamento, reconheceu que as estimativas apontam para que haja 15 mil a 20 mil profissionais a trabalhar na área e admite que os mais velhos tenham algum receio do processo.

Pedro Ribeiro da Silva defendeu por isso que fosse criado outro período transitório para que os profissionais que já exerciam antes da legislação de 2013 possam novamente pedir cédula profissional.

A lei de 2013, que regula as terapêuticas não convencionais, faz depender o acesso à profissão da titularidade do grau de licenciado numa dessas áreas, obtido na sequência de um ciclo de estudos compatível com os requisitos fixados, por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da saúde e do ensino superior.

Quem já se encontrasse a exercer a profissão à data de entrada em vigor da lei, tinha um período de 180 dias para pedir a cédula profissional, período que terminou em fevereiro deste ano.

Segundo Pedro Ribeiro da Silva, cerca de dois milhões de portugueses utilizam ou recorrem às terapêuticas não convencionais.

Governo
O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, afirma que há empresas norte-americanas interessadas em investir em ‘startups’...

Este é o resultado de uma deslocação de Manuel Caldeira Cabral a Boston, nos Estados Unidos, na qual se fez acompanhar de cinco empresas portuguesas do ramo da biotecnologia para participar no Portugal Day at Mass Bio, organizado pelo Massachussetts Biotechnology Council.

Numa resposta escrita, Caldeira Cabral fez um balanço muito positivo deste evento, que “despertou um forte interesse nas empresas de Boston para investir na área da saúde em Portugal, tendo servido para divulgar os projetos das 'startups' portuguesas da área da saúde no que é o maior centro mundial de investigação e de empresas na área da saúde e biotecnologia”.

Segundo o membro do Governo, “o encontro entre as empresas portuguesas e investidores abriu ainda perspetivas para a concretização de investimentos de empresas americanas em empresas portuguesas da área da biotecnologia, havendo já empresas americanas a concretizarem e a avançar para a fase final de negociações”.

Esta foi também, segundo Caldeira Cabral, “uma oportunidade para divulgar o trabalho que está a ser feito nas universidades e hospitais portugueses e das perspetivas que se abrem de colaboração com os Estados Unidos de projetos conjuntos de valorização do conhecimento transformando-o em produtos e serviços inovadores”.

Nesta viagem a comitiva visitou ainda empresas que estão a considerar investir em Portugal, nomeadamente, na área laboratorial e de inovação, “tendo sido revelados alguns casos que podem ser concretizados já no início de janeiro, quer de entrada de capital norte-americano em empresas portuguesas, quer de segundas rondas de investimento em empresas que já contam com investimento de fundos dos Estados Unidos”, revelou o ministro da tutela.

Este evento foi organizado em parceria com o Ministério da Economia, a embaixada dos Estados Unidos em Portugal, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e a Portugal Ventures.

Deco
Deco critica linguagem técnica e a ausência de um seguro de responsabilidade civil que cubra eventuais danos ao cliente, entre...

O marketing agressivo dos bancos de criopreservação das células estaminais há muito que vem sendo denunciado, nomeadamente pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) que já em 2012 criticava as promessas de aplicações irrazoáveis propagandeadas pelos diferentes laboratórios que fazem a recolha e a criopreservação de células e tecido do cordão umbilical. Agora é a Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor que acusa aquelas empresas de apresentar contratos "abusivos" aos pais que optam pela criopreservação.

“Os contratos apresentados pelos três bancos privados analisados revelam um forte desequilíbrio entre as responsabilidades atribuídas às empresas de criopreservação e os clientes”, escreve aquela associação na revista Dinheiro & Direitos, que sai esta quarta-feira, num artigo que resulta de uma leitura à lupa dos contratos oferecidos pela Crioestaminal, Bebé Vida e Criovida. “Caso haja falhas na análise, no processamento ou na criopreservação, os bancos privados limitam-se a fazer corresponder o valor de uma eventual indemnização ao montante que os clientes pagaram pelo serviço”, exemplifica a Deco, qualificando tal prática como “claramente insuficiente”. Mais: “Os contratos nada referem quanto ao que sucede às amostras caso os bancos fechem portas, o que é inadmissível”.

Por outro lado, e além de apelar ao uso de uma linguagem mais acessível nos contratos que os pais são levados a assinar, a associação de defesa dos consumidores lembra que os bancos deviam ser obrigados a contratar um seguro de responsabilidade civil “que cubra eventuais danos causados ao cliente”. "Basta imaginar o caso de um banco que feche as portas, fazendo o cliente perder o acesso à amostra", sustenta a Deco. Nem de propósito, esta terça-feira, a Stemlab, dona da marca Crioestaminal, anunciou a compra dos ativos da Cytothera, em que se incluem as posições contratuais nos contratos entre a Cytothera e os clientes para os serviços de criopreservação do sangue e do tecido do cordão umbilical.

Entre os reparos da Deco encontra-se o facto de todas as empresas obrigarem à compra de um kit de recolha (cerca de 90 euros), pago em separado, mas não preverem qualquer reembolso caso os pais não cheguem a utilizar o kit, face à ocorrência de um aborto involuntário, por exemplo. Além disso, em caso de litígio, as empresas impõem aos clientes um determinado tribunal, obrigando os clientes de comarcas distantes a suportarem despesas de deslocação.

Perante a falta de pagamento dos pais, a Crioestaminal, por exemplo, exige receber metade das quantias devidas ou que ainda viriam estar em pagamento (os contratos são por 25 anos). "Esta imposição é abusiva. Da falta de pagamento não resultam prejuízos concretos para a empresa, já que esta pode recusar-se a prestar o serviço", conclui a Deco. Por último, se as empresas incorrerem em incumprimento, os contratos preveem apenas a restituição do dinheiro pago pelos pais. Ora, "o bem jurídico 'vida' é um conceito, por natureza, de difícil quantificação e não corresponde seguramente apenas ao valor pago pelo cliente aquando da celebração do contrato", alega a Deco, pera concluir que "em caso de litígio, será o tribunal a fixar o montante da indemnização".

Considerando ser necessário “criar legislação que regule devidamente a atividade dos bancos privados”, a Deco propõe-se fazer chegar as suas conclusões ao Ministério da Saúde e ao Parlamento. O jornal Público tentou sem sucesso obter uma reação dos responsáveis pelos laboratórios visados.

Os apelos à regulação da atividade dos bancos privados de criopreservação das células e do tecido do cordão umbilical são, de resto, antigos. Em 2012, o CNECV acusava já o recurso a estratégias de marketing “agressivas e pouco transparentes” e assentes em promessas de aplicações irrazoáveis. Em Julho passado, o presidente do CNEVC na altura em que o parecer foi emitido, Miguel Oliveira e Silva, garantia que o parecer continuava atualíssimo, e que o silêncio do Estado em torno da criopreservação das células estaminais configura uma cedência clara aos interesses dos privados.

Por estes dias, há pelo menos cinco empresas com bancos de criopreservação em Portugal (Bebé Vida, Criovida, Bioteca, Cytothera e Crioestaminal), a que se soma o Instituto Valenciano de Infertilidade, com banco em Portugal mas vocacionado para a recolha de amostras em Espanha, cuja legislação permite a conservação destas células em bancos privados mas não prevê a exclusividade, ou seja, obriga a que a amostra possa ser usada para uso universal.

Acrescem ainda pelo menos três empresas (Future Health, BebéCord e Criobaby) que fazem recolha mas recorrem a bancos externos. Enquanto a oferta privada foi ganhando força, o Lusocord, o banco público de armazenamento de células estaminais, criado em 2009 e que nos anos seguintes chegou a recolher 28.500 amostras, foi desaparecendo entre problemas de subfinanciamento e acusações de gestão danosa. A maior parte das amostras acabou invalidada, por suposta contaminação, e a atividade do banco chegou a estar suspensa.

Em 2013, Hélder Trindade, então presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, que tutela o Lusocord, , anunciou que o banco público tinha reaberto e que queria chegar ao fim desse ano com 500 amostras validadas. Já em meados de 2016, o mesmo Hélder Trindade (que se demitiu em Setembro, dias depois de a Direcção-Geral de Saúde ter permitido a dádiva de sangue por parte de homossexuais e bissexuais, alegando “razões pessoais” e foi entretanto substituído por João Paulo Almeida e Sousa) reconhecia ao PÚBLICO que o banco não passara ainda das 463 amostras criopreservadas.

No público ou no privado, as células presentes no cordão umbilical podem ser usadas no tratamento de mielomas, leucemias, linfomas e neoplasias mieloproliferativas. Atualmente está a ser investigada a sua aplicação no tratamento de problemas como diabetes, doenças cardíacas, paralisia cerebral ou autismo, mas aqui a sua eficácia não está ainda comprovada. Apesar disso, muitos laboratórios alegam que sim, na publicidade que fazem aos seus serviços. A diferença entre o público e os privados é que no primeiro a recolha é gratuita e a amostra é incluída numa base que é disponibilizada para doentes compatíveis de todo o mundo, ao passo que nos privados as famílias pagam entre 1000 e 2500 euros para assegurarem que a amostra se mantém para seu uso exclusivo por 25 anos.

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