Opinião
A saúde oral é, desde há muito, a parente pobre do sistema nacional de saúde em Portugal.

A Urgência da Mudança: Por que Agora?

Num país onde cerca de 70% da população não tem acesso a cuidados dentários regulares por razões económicas, esta proposta é uma lufada de ar fresco. A cárie, a periodontite e outras doenças orais não tratadas continuam a ser problemas de saúde pública. Em muitos casos, são as crianças e os idosos que mais sofrem com as consequências de um sistema que falha em integrar a saúde oral nos cuidados básicos de saúde.

No Japão, uma das nações mais avançadas do mundo em termos de saúde e tecnologia, estão a ser realizados testes para regeneração dentária, um avanço que pode transformar o futuro da estomatologia. Esta inovação científica, embora ainda numa fase inicial, contrasta com a realidade portuguesa, onde muitos cidadãos ainda encaram as idas ao dentista como um luxo. Há alguns anos, chegou a haver promessas sobre o desenvolvimento de uma vacina contra as cáries. Mas, tal como muitos outros projetos ambiciosos, nunca passou de um sonho.

Parcerias com Privados: O Caminho Certo?

A proposta de criar acordos entre o SNS e clínicas privadas para fornecer cuidados dentários básicos com comparticipação total é promissora, mas não está isenta de críticas. Será esta a solução ideal ou apenas uma forma de privatizar ainda mais a saúde, entregando responsabilidades do Estado a entidades que visam o lucro? É crucial que estas parcerias sejam rigorosamente reguladas, garantindo que o foco permaneça nos utentes e na acessibilidade, e não nos interesses comerciais.

Educação e Prevenção: A Base para o Futuro

Outro aspeto muitas vezes negligenciado é a educação para a saúde oral. Os cuidados dentários não se resumem a tratamentos; incluem a prevenção ativa. Iniciativas como a higienização dentária regular, rastreios em escolas e campanhas de sensibilização podem poupar milhões ao Estado e, mais importante, melhorar a qualidade de vida da população. O foco não pode estar apenas em tratar cáries ou alinhamento de dentes, mas em criar uma geração que perceba a importância da saúde oral desde cedo.

Uma Homenagem aos Pioneiros

Permitam-me uma pequena digressão para homenagear os grandes pioneiros da estomatologia em Portugal, profissionais que, muitas vezes em condições adversas, ajudaram a elevar esta ciência e a mudar vidas. Um exemplo notável foi o Dr. Vilhena Soares, cujo trabalho e dedicação marcaram uma geração. Apesar de ter iniciado a sua carreira na neurocirurgia, foi na estomatologia que deixou uma marca duradoura. Este exemplo, entre tantos outros, sublinha a importância de profissionais dedicados e comprometidos com o avanço desta área.

Portugal no Contexto Europeu: Onde Estamos?

Comparativamente a outros países europeus, Portugal está atrasado. Em nações como a Suécia ou a Alemanha, os cuidados dentários básicos são acessíveis a quase toda a população, enquanto por cá continuamos a depender de esforços individuais e de clínicas privadas. A integração da saúde oral no SNS é não só uma questão de justiça social, mas também de modernização e alinhamento com as melhores práticas europeias.

Conclusão: Saúde Oral é um Direito, Não um Privilégio

Portugal tem agora uma oportunidade única de transformar a forma como encaramos a saúde oral. Este debate não é apenas sobre dentes; é sobre dignidade, saúde e igualdade. É tempo de romper com o estigma de que os cuidados dentários são um luxo e de os integrar plenamente na nossa visão de saúde pública.

A proposta em discussão na Assembleia da República pode ser o início de uma revolução na estomatologia em Portugal. Mas será necessário compromisso político, rigor na execução e, acima de tudo, uma visão que coloque as pessoas no centro das decisões. Porque, no final, a saúde oral é um direito, e não um privilégio.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Ordem dos Médicos
Perante os números anunciados da mortalidade infantil em 2024, que terá atingido o valor mais alto desde 2019, a Ordem dos...

“Não devemos tirar conclusões sem conhecer precisamente as causas desta mortalidade. A Ordem dos Médicos já enviou um ofício à DGS, com conhecimento do Ministério da Saúde, solicitando que se divulguem e analisem as causas que conduziram a estes números em termos de mortalidade infantil em Portugal”, apela Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos.

O Presidente do Colégio de Saúde Pública, Luís Cadinha, também alerta que é essencial ter dados concretos para analisar esta situação. “Temos que saber se houve realmente um aumento, e, em caso afirmativo, se foi significativo. Neste momento, não conhecemos a real taxa de mortalidade infantil para 2024. Para esta análise, aliás, não chega comparar com os dados do ano anterior, é necessário que se perceba a evolução dos últimos 5 a 10 anos”.

Mas não basta saber quantos óbitos ocorreram ou a sua relação com a taxa de natalidade, é fundamental que a Direção Geral de Saúde forneça os dados relativos às causas. “Os certificados de óbito das crianças são documentos muito precisos e a DGS tem toda essa informação disponível”, enquadra o especialista em Saúde Pública.

“A DGS deve divulgar esses dados para se poder analisar qual a origem da mortalidade infantil e se há, de facto, um problema. Não é suficiente dizer que poderá ser por falta de acesso às urgências ou que a mortalidade infantil poderá resultar do aumento das gestações mal vigiadas e da consequente diminuição da deteção de patologia fetal grave por força da entrada de migrantes em estados de gestação avançados, é preciso ter certezas”, frisa Carlos Cortes.

“Com os dados disponibilizados, é factual que em 2024 houve um aumento em número absoluto dos óbitos abaixo do ano de idade. Já em relação à taxa de mortalidade infantil, não conhecendo o número total de nascimentos (que têm aumentado nos últimos anos), não podemos ainda afirmar se houve aumento e, se este tiver ocorrido, avaliar a sua magnitude”, enquadra Miguel Costa, Presidente da direção da Secção da Subespecialidade de Neonatologia da Ordem dos Médicos. “Para ser possível tirar ilações mais concretas em relação à etiologia deste aumento, seria necessário analisar cada caso em detalhe”, e estar atento.

“Sendo a mortalidade infantil um indicador de excelência em cuidados de saúde, um aumento da mortalidade infantil, mesmo que abaixo da média da União Europeia, é um sinal para estarmos atentos à saúde materno infantil”, explica Ricardo Costa, Presidente do Colégio de Pediatria que também considera fundamental “realizar uma análise com maior cuidado deste aumento da mortalidade infantil”.

A Ordem dos Médicos manifesta, uma vez mais, a sua total disponibilidade para, através dos seus Colégios da Especialidade, colaborar numa comissão de acompanhamento deste tema que venha a ser dinamizada pela DGS. “Temos que ter acesso aos dados para poder planear uma intervenção eficaz para garantia da saúde e bem-estar das nossas crianças”, refere Carlos Cortes.

ULSCBeira
A Unidade Local de Saúde da Cova da Beira (ULSCBEIRA) promoveu no dia 2 de janeiro de 2025 uma sessão de boas-vindas para os 58...

O evento decorreu no Auditório do Hospital Pêro da Covilhã e foi conduzido pela Diretora do Internato Médico, Prof. Doutora Arminda Jorge, que destacou a importância do compromisso e da responsabilidade dos novos médicos nos cuidados de saúde hospitalares e nos cuidados de saúde primários. A seu cargo esteve também a apresentação das orientações e procedimentos inerentes ao internato, a estrutura das equipas, formações programadas, entre outras.

Marcaram presença nesta iniciativa o Presidente do Conselho de Administração, Prof. Doutor João Marques Gomes, as diretoras clínicas, Dra. Rosa Maria Ballesteros (cuidados de saúde hospitalares) e Dra. Filipa Quinteiros Pinto (cuidados de saúde primários), o Presidente da Faculdade de Ciências da Saúde/CACB, Prof. Doutor Miguel Castelo Branco, vários diretores de serviço e representantes da Comissão de Internos.

A sessão incluiu a transmissão ao vivo da Cerimónia Nacional de Acolhimento dos Novos Internos 2025, realizada pela ULS de Santa Maria e o Centro Académico de Medicina de Lisboa, diretamente do Auditório João Lobo Antunes na FMUL.

O Internato Médico é uma etapa fundamental da formação, permitindo aos médicos desenvolver competências teóricas e práticas essenciais. Enquanto o primeiro ano oferece uma visão ampla dos serviços hospitalares e dos cuidados de saúde primários, a formação especializada, com duração de 4 a 6 anos, aprofunda o conhecimento técnico e clínico, preparando-os para os desafios da prática médica avançada.

Opinião
Nos últimos meses, o mundo tem assistido a uma sucessão de alertas sobre ameaças virais que desafiam

Metapneumovírus Humano: Uma Nova Velha Ameaça

O HMPV não é um desconhecido para a ciência. Identificado pela primeira vez no início dos anos 2000, é um vírus respiratório associado a infeções comuns, particularmente em crianças, idosos e indivíduos imunocomprometidos. Recentemente, na China, tem-se registado uma disseminação rápida deste patógeno, com sintomas que incluem febre, tosse e dificuldades respiratórias – uma sintomatologia que evoca memórias ainda frescas da COVID-19.

O aumento de infeções é alarmante, mas não surpreendente. O inverno traz consigo um aumento natural de infeções respiratórias, exacerbado pelo regresso de uma "normalidade" pré-pandémica: menos máscaras, mais contacto social e menor atenção à higiene preventiva. A verdadeira ameaça do HMPV, no entanto, reside na possibilidade de mutação.

A Gripe Aviária nos Estados Unidos: Um Velho Inimigo Reemergente

Paralelamente, a gripe aviária voltou a causar preocupação nos Estados Unidos. Os surtos mais recentes afetaram milhões de aves, com repercussões severas para a indústria alimentar e a biodiversidade. Este vírus, altamente contagioso entre aves, é motivo de alarme pela sua capacidade de "saltar" para humanos.

Embora as infeções humanas sejam raras, elas podem ser devastadoras, com taxas de mortalidade que, em alguns casos, ultrapassam os 50%. Esta ameaça é amplificada pela crescente proximidade entre humanos e animais em ambientes industriais e pela globalização, que facilita a rápida disseminação de doenças.

Lições da COVID-19 e a Preparação para o Futuro

Olhando para estas duas ameaças, é inevitável refletir sobre o que aprendemos – ou falhámos em aprender – com a pandemia de COVID-19. Uma das lições mais importantes é a necessidade de uma vigilância robusta e coordenada. Na China, as autoridades de saúde já intensificaram a monitorização de doenças respiratórias emergentes. Mas será isso suficiente?

Nos Estados Unidos e em outros países, a luta contra a gripe aviária exige uma abordagem integrada que combine a saúde humana, animal e ambiental – o chamado conceito de "One Health". Esta abordagem reconhece que a saúde humana está intrinsecamente ligada à saúde do planeta.

Estaremos à Beira de Novas Pandemias?

A resposta não é simples. Nem o HMPV nem a gripe aviária representam atualmente uma ameaça comparável à da COVID-19. Contudo, ambos ilustram os riscos que enfrentamos num mundo interligado. A mutação viral, a resistência antimicrobiana e a mudança climática criam um "caldo perfeito" para o surgimento de novas pandemias.

O futuro não está gravado na pedra. Podemos evitar novos desastres globais se investirmos em investigação, reforçarmos os sistemas de saúde e adotarmos práticas sustentáveis. Mais importante ainda, devemos aprender a cooperar enquanto comunidade global, reconhecendo que os vírus não respeitam fronteiras.

Conclusão: Uma Janela de Oportunidade

A história recente mostrou-nos que as pandemias são inevitáveis, mas o seu impacto não precisa de ser catastrófico. A chave reside na antecipação e preparação. Tanto o HMPV na China quanto a gripe aviária nos Estados Unidos servem como lembretes poderosos de que o perigo espreita, mas também de que temos as ferramentas para o enfrentar.

A questão não é se enfrentaremos novas pandemias, mas sim quando. E quando esse momento chegar, a humanidade estará preparada para reagir? O tempo dirá – mas cabe-nos a todos garantir que a resposta seja "sim".

 

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13 e 14 de fevereiro
Jornadas de Pediatria realizam-se em Lisboa no próximo mês de fevereiro.

Nos dias 13 e 14 de fevereiro de 2025, realizam-se no Edifício Egas Moniz da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, as XXX Jornadas de Pediatria da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, sob o lema "A Força na Vulnerabilidade".

Os cursos pré-jornadas realizam-se no mesmo no local no dia 12 de fevereiro.

As Jornadas promovem a partilha de conhecimento e de experiências, congregando no seu programa científico as mais diversas áreas da Pediatria.

Já está a decorrer o período para a submissão de resumos.

Consulte toda a informação aqui.

Teletrabalho
Parece que o teletrabalho veio para ficar. As últimas estatísticas apontam para um crescimento significativo das pessoas que...

Existe já inúmera evidência científica que comprova a influência direta dos ambientes físicos na saúde e no estado emocional das pessoas. Otimizá-los devia ser por isso uma prioridade, já que para além de promoverem o bem-estar e saúde dos funcionários, aumentam a produtividade e satisfação quotidiana.

Eis algumas variáveis a ter em consideração para um espaço de trabalho saudável:

Qualidade do ar: a poluição do ar pode levar a problemas respiratórios e cardiovasculares, afetando a saúde física e aumentando o cansaço intelectual. O ar interior frequentemente renovado e livre de partículas tóxicas é um pilar essencial de um espaço saudável, que promove o bem-estar.

Iluminação: a exposição diária à luz natural melhora o humor, a concentração e o equilíbrio hormonal, enquanto a falta dela pode levar à depressão e à fadiga. Ambientes bem iluminados previnem a sonolência e aumentam o foco.

Ruído: ambientes com muito ruído podem causar ansiedade e dificuldade de concentração, afetando, por exemplo, a capacidade de se focar em tarefas intelectuais exigentes. Ambientes tranquilos e silenciosos são geralmente mais propícios a sessões de trabalho produtivas e agradáveis.

Decoração: ambientes que são organizados, limpos e mimetizam padrões encontrados na natureza podem ajudar a promover uma sensação de calma e controlo, enquanto ambientes desorganizados e confusos podem causar ansiedade.

Segurança: ambientes onde as pessoas se sentem seguras e confortáveis, o que pode passar pelo correto posicionamento das secretárias ou a escolha de cadeiras de escritório ergonómicas, aumentam a produtividade e o bem-estar ao reduzirem o cansaço visual e as dores musculares resultantes de uma má postura. Estímulos constantes ao nosso redor colocam-nos num constante estado de fight-or-fight, aumentando os nossos níveis de stress.

Para tornar o seu espaço de trabalho em casa (home-office) ou escritório num aliado da sua produtividade, saúde e bem-estar, recorrer a um serviço profissional é a escolha mais acertada. Só assim será possível identificar os principais desafios de cada espaço e personalizar as soluções para cada pessoa ou equipa. A bienbati é uma marca inovadora que reimagina a relação entre a arquitetura e saúde, colocando o bem-estar das pessoas no centro da sua missão. Com uma abordagem única, a marca dedica-se a transformar casas e espaços de trabalho em locais promotores da saúde e do bem-estar, transformando a mais recente evidência científica em soluções práticas e personalizadas para famílias e empresas.

Procriação medicamente assistida
A procriação medicamente assistida (PMA) demonstra ser uma área em constante evolução e ainda com muitos passos para dar,...

Após cerca de 40 anos, a PMA tem dado um motivo aos casais para sorrir, através da concretização dos seus sonhos. Ainda assim, é uma prioridade aumentar a literacia e informação sobre fertilidade, conhecer a regulamentação e as leis e agir em conformidade. Todos estes temas foram debatidos no evento “O Passado, Presente e Futuro da Fertilização In Vitro (FIV)”, que decorreu a 19 de dezembro, em Coimbra.

A marcar presença esteve Isabel Torgal, diretora clínica da Ferticentro, Joana Mesquita Guimarães, diretora clínica da Procriar e membro do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, e Vladimiro Silva, diretor científico das Clínicas Procriar, Ferticentro e Ava Clinic, no papel de moderador.

Porque o futuro não se faz sem o passado, o encontro começou com uma retrospetiva de Isabel Torgal, pioneira na FIV e com 40 anos de experiência em PMA em Portugal, para conhecer os feitos já realizados no país e no mundo nesta área. A especialista recordou como tudo começou, quando existia uma grande carência de meios complementares para oferecer aos casais: “Tínhamos de improvisar muito material, por exemplo construir agulhas.” No entanto, tudo o que se conhecia até então foi evoluindo até em 1978 nascer o primeiro bebé com fertilização em vitro. “Recebemos esta notícia com entusiasmo, mas sem surpresa, porque sabíamos que iria acontecer.”

Já Joana Mesquita Guimarães, “missionária da luta para o desenvolvimento de centros de procriação”, como se intitula, relembra o seu início vários anos depois de Isabel Torgal ter sido pioneira na área. E este fator foi diferenciador para encontrar uma área já muito mais desenvolvida. “Entrei na medicina de reprodução em 1999, em que tudo já se fazia”, recorda.

Várias décadas se passaram; o futuro é ainda incerto, mas os especialistas garantem que é promissor. Atualmente, o conceito one size fits all já não se aplica, pelo que a inteligência artificial (IA) pode também ter um papel determinante, como explica Joana Mesquita Guimarães: “Desta forma, vamos ser capazes de determinar a dose e o protocolo exatos. Já na vertente laboratorial, pode ajudar na automatização dos laboratórios e na identificação dos melhores embriões.” Assim, o futuro deve estar cada vez mais centrado na personalização e no foco do paciente e do casal: “A procriação vai evoluir muitíssimo com um cuidado de excelência prestado.”

Enquanto membro do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, Joana Mesquita Guimarães expressa a sua preocupação pela regulamentação da PMA e por questões de ética: “Portugal é um país que tem uma legislação muito forte a favor da PMA, mas temos de ter a preocupação de não fazer algo que não está regulamentado. Isto porque a ciência evolui mais rápido do que a ética e as leis.”

Além disso, a desinformação e iliteracia sobre fertilidade é também uma das grandes preocupações dos especialistas. O primeiro passo deve ser educar para a fertilidade e, para isso, as escolas têm o dever de o fazer na disciplina de educação sexual, alertando para fatores como o álcool, drogas, tabaco e obesidade como prejudiciais. “Todos têm um impacto dramático na fertilidade”, refere Joana Mesquita Guimarães.

Apesar de atualmente as mulheres priorizarem as suas carreiras e vidas profissionais, a especialista relembra que o período fértil recomendado para engravidar é entre os 25 e os 30 anos, o mais tardar até aos 35. Já Isabel Torgal, perante este desafio, sugere que “deve haver uma preocupação acrescida para guardar ovócitos”.

A criopreservação surge, assim, como uma oportunidade para a mulher engravidar mais tarde, mantendo as suas reservas de fertilidade. Em Portugal, o processo de criopreservação dura cinco anos, podendo depois ser renovado. Durante este período, os óvulos mantêm a sua vitalidade e qualidade, permitindo que as mulheres possam ser mães mais tarde. Mas as vantagens não terminam por aqui: a criopreservação é uma ferramenta útil para as mulheres que sofrem de doenças oncológicas ou autoimunes, cujos tratamentos prejudicam a sua fertilidade.

Ainda assim, é de relembrar que a criopreservação é apenas uma opção, mas que não deve ser o primeiro caminho a seguir, porque nem sempre tem resultados positivos e de sucesso para uma gravidez tardia.

Por fim, Joana Mesquita Guimarães relembra que “quem faz tratamentos de fertilidade passa por muito sofrimento”, desde vergonha, frustração, ansiedade. São todas estas emoções que vê nas suas pacientes, sendo importante ter o apoio da Psicologia durante todo este processo.

Mas, no fim desta jornada (que, na verdade, é só o início), tudo o que resta é gratidão: “Estão gratas para toda a vida e são esses sentimentos que nos fazem continuar e lutar, apesar das limitações sociais e das dificuldades.”

Campus Neurológico
20% das crianças em idade escolar sofre de problemas neurológicos, alerta especialista.

O CNS-Campus Neurológico, com unidades de saúde em Torres Vedras, Lisboa e Braga, anuncia a ampliação das suas consultas pediátricas, reforçando o seu compromisso com a saúde e bem-estar das crianças e jovens. Esta nova oferta inclui serviços especializados no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, bem como no diagnóstico e tratamento de diversas condições de saúde que afetam os mais novos.

A Consulta de Neuropediatria, disponível em todas as unidades do CNS, assume um papel essencial nesta oferta, ao especializar-se no diagnóstico e tratamento de doenças neurológicas em crianças e jovens. De acordo com a neuropediatra Dra. Rita Lopes da Silva, “20% das crianças em idade escolar sofre de algum problema neurológico. Entre as condições mais comuns estão as perturbações do neurodesenvolvimento, como dificuldades de aprendizagem, frequentemente associadas a perturbações de hiperatividade e défice de atenção (presentes em 5 a 10% das crianças e comuns em todas as salas de aula), dislexia e discalculia”.

Estas condições podem comprometer o desenvolvimento e o desempenho escolar das crianças, sendo essencial um diagnóstico precoce e uma abordagem personalizada. Além disso, nesta consulta, os especialistas avaliam casos de perturbações do espectro do autismo, epilepsia, cefaleias, paralisia cerebral, perturbações do sono e outras alterações do neurodesenvolvimento, oferecendo suporte abrangente e orientações específicas para cada caso.

O CNS complementa ainda a sua oferta com consultas de Psicologia Clínica, disponíveis em Torres Vedras e Lisboa, para tratar questões emocionais e comportamentais, como dificuldades de interação, problemas de sono e orientação escolar, bem como com consultas de Pedopsiquiatria, que visam a prevenção, diagnóstico e tratamento de problemas de saúde mental infantil.

Também estão disponíveis a Consulta de Avaliação de Terapia da Fala, que abrange alterações da fala, linguagem e deglutição, e a Consulta de Avaliação de Fisioterapia Pediátrica, orientada para alterações músculo-esqueléticas e respiratórias, ambas com opções presenciais e domiciliárias.

Com esta expansão, o CNS reafirma a sua missão de proporcionar um atendimento de excelência, ajustado às necessidades específicas de crianças e jovens, garantindo um acompanhamento integral, especializado e humano.

Reflexões Tragicómicas de Um Engenheiro Entre Sentidos
Se há algo que me fascina enquanto engenheiro eletrotécnico e de computadores, especializado em cont

Agora, imaginem um engenheiro com deficiência auditiva e visual. Parece o início de uma anedota, mas é a minha vida. E não, não há aqui robôs para compensar as falhas (ainda), apenas uso um implante coclear e uma prótese para conseguir ter a percepção do som, e uns óculos para corrigir a miopia, mas não cura as minhas deficiências, e continuo a ver com a falta de visão central no olho esquerdo (devido a um problema congénito). É uma existência repleta de adaptações curiosas, momentos tragicómicos e reflexões profundas – especialmente quando o "sistema" que é o nosso corpo decide fazer umas alterações de firmware. Ah, e para tornar tudo mais interessante, o síndrome de Charles-Bonnet junta-se à festa, criando sons e vozes que não existem. Uma maravilha, não acham?

 

Quando os sentidos são os sensores da vida

Enquanto engenheiro, aprendi que qualquer sistema eficiente depende da qualidade dos seus sensores. Quanto mais precisos, melhor o desempenho. E, ao longo dos anos, percebi que o nosso corpo é uma máquina engenhosa – mas também vulnerável. A audição é o microfone da nossa vida: capta os sons, interpreta frequências e até ajuda no equilíbrio. A visão é, claro, a câmara principal. O tato, o sensor de proximidade, e o olfato e o paladar são as nossas "entradas químicas". Mas o que acontece quando o sistema perde parte destes sensores? Bem, o engenheiro em mim aprendeu que há sempre alternativas. O ser humano é, afinal, o sistema adaptativo mais avançado que existe.

No entanto, a adaptação não é linear, nem fácil. Como pessoa com deficiência auditiva e visual, frequentemente sou desafiado a redefinir as minhas "especificações operacionais". Por exemplo, não ouvir certos sons ajuda-me a concentrar-me no que escrevo. Curiosamente, é um "upgrade" útil, mesmo que imposto. Mas há o lado bizarro: sons inexistentes – cortesia do meu cérebro hiperativo. Este "bug", conhecido como síndrome de Charles Bonnet, é como ter um assistente virtual que insiste em falar sem ser solicitado. Imaginem tentar resolver um problema complexo de robótica enquanto uma voz qualquer murmura coisas sem nexo. Divertido? Talvez para quem observa de fora. Para mim, é no mínimo surreal.

 

O silêncio é o novo ruído

Sabem aquela ideia de que o silêncio absoluto ajuda a pensar? Pois, não é bem assim para mim. O silêncio, no meu caso, é um espaço preenchido por ecos criados pela minha mente. Quando estou a trabalhar num projeto de controlo ou a programar algoritmos ou um PLC ou um sistema SCADA com HMI, frequentemente o "ruído branco" da minha condição torna-se o som ambiente. Por vezes, é algo melódico, como fragmentos de música que a minha mente inventa. Outras vezes, são vozes aleatórias, como se estivesse a ouvir um podcast gravado num universo paralelo.

Certa vez, enquanto trabalhava num projecto que consistia num sistema complexo de sensores e actuadores/motores, dei por mim a discutir mentalmente com uma voz que insistia em criticar as minhas escolhas de design. "Esse projecto está desatualizado", dizia a voz. Claro que sabia que era uma manifestação do Charles-Bonnet, mas, por instantes, considerei se o meu cérebro não estaria a tentar enviar-me uma crítica construtiva. Resultado? Troquei alguns elementos só para calar a "opinião" intrusa. Acreditem ou não, funcionou!

 

Quando a visão e a audição conspiram

Enquanto engenheiro, sempre admirei a simbiose entre os diferentes sensores em sistemas complexos, desde a minha vida académica. No corpo humano, essa interdependência é ainda mais evidente. A minha deficiência visual e auditiva forçou-me a encontrar novas formas de processar o mundo à minha volta. Sem falta de visão central num dos olhos, muitas vezes sou obrigado a confiar em outros sentidos – e, ironicamente, quando a audição também me falha, descubro um "recurso oculto": a imaginação.

É interessante como a mente compensa a falta de estímulos reais com algo fictício. No meu caso, não só ouço sons inexistentes, como também vislumbro cenários que, por vezes, não correspondem à realidade. Isso trouxe-me uma lição curiosa: os sentidos são importantes, mas o que realmente importa é como processamos as informações que chegam até nós – ou que criamos.

Olhando para a engenharia, vejo algo semelhante. Quando um robô perde um sensor, o sistema pode estimar as condições com base em dados anteriores. Nós, humanos, fazemos o mesmo: preenchemos lacunas com as nossas memórias. No entanto, essa capacidade também pode ser irritante. Como quando a minha mente decide criar uma versão auditiva de algo que preferia esquecer – como aquela vez em que fiquei com o jingle de um anúncio preso na cabeça por dias.

 

A tragicomédia da Otorrinolaringologia

Curiosamente, é a Otorrinolaringologia – a especialidade médica que estuda os ouvidos, nariz e garganta – que melhor encapsula a interligação dos sentidos. O que me leva a outra reflexão tragicómica: por que valorizamos tão pouco estas "entradas sensoriais"? Só reparamos na sua importância quando algo corre mal. Como engenheiro, sei que ignorar pequenos problemas num sistema é receita para o desastre. Como pessoa com deficiência, sei que negligenciar os sentidos é subestimar o que nos liga ao mundo.

Por exemplo, o nariz – frequentemente subvalorizado – é uma entrada vital para a respiração e para o olfato. Sem ele, o sabor dos alimentos seria insípido e a capacidade de detectar perigos, como um incêndio, seria severamente limitada. Já os ouvidos, além de captarem sons, são essenciais para o equilíbrio. Perder esses sentidos é como operar um robô sem GPS ou sensores tácteis: ficamos desorientados.

 

A moral da história

A vida sem visão plena ou audição completa não é fácil, mas também não é o "fim do sistema". É uma oportunidade para reprogramar a forma como vivemos e para refletir sobre o que realmente importa. Sim, o som não se propaga no vácuo, mas isso não torna a audição menos relevante. Tal como um robô precisa de todos os seus sensores para funcionar de forma ideal, nós, humanos, dependemos da integração dos nossos sentidos para viver plenamente.

Na engenharia, quando algo falha, procuramos soluções, como no meu caso, uso o implante coclear e a prótese auditiva,  e ainda os óculos para corrigir a miopia. Na vida, é igual. Transformei as minhas limitações em lições, e aprendi que até os ruídos do Charles-Bonnet podem ser inspiradores – ou, pelo menos, material para um artigo tragicómico. Afinal, se não rirmos das nossas circunstâncias, quem o fará?

E agora, permitam-me voltar ao silêncio (ou ao que resta dele), porque vou desligar os meus aparelhos auditivos para dormir ou tentar descansar. Talvez, lá no fundo, eu consiga ouvir o som de uma nova ideia a surgir – ou, quem sabe, de um robô a criticar o meu design.

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Clínica Qorpo
Época festiva é sinal de reencontros com família e amigos, amor e diversão, mas é também a época do convívio prolongado à volta...

É fácil esquecer a rotina do dia-a-dia e deixar-se levar, pelo que, para aproveitar ao máximo, mas de forma equilibrada, a clínica Qorpo, lançada pela Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) no ano passado, partilha 10 ‘mandamentos’ para não deixar para as resoluções de Ano Novo o que pode começar a fazer hoje.

“O Natal é uma altura em que, por vezes, a saúde fica para segundo plano, mas não tem de ser assim. Aproveitar ao máximo não tem de significar descurar a nossa saúde. Este é um momento de amor, porque não aproveitá-lo para criar tradições em família que contribuam para a saúde de todos?”, questiona Carolina Neves, endocrinologista e diretora clínica da Qorpo.

A Qorpo alerta, por isso, para a importância do equilíbrio e partilha dez dicas que podem ajudar a combater os excessos desta época sem precisar de comer apenas comida aborrecida ou isolar-se de quem mais ama:

  1. Restrição alimentar nem sempre é o caminho: respeitar o plano de refeições que costuma fazer ao longo do dia é uma forma de evitar chegar à noite de Natal ou a outra refeição festiva com fome e vontade de comer tudo o que é colocado na mesa. Assim, poderá fazer melhores escolhas alimentares e comer em menor quantidade. Por isso mesmo, não é aconselhável adotar uma postura demasiado restritiva durante esta época se o foco for colocado no problema errado.
  2. Menos é mais: Cozinhar a maioria dos pratos e dos doces em vez de comprar comida feita, simplificar as receitas, reduzir a quantidade de açúcar destas e utilizar métodos culinários mais simples, como estufados, cozidos ou grelhados, não preparar comida em excesso e controlar as porções são boas formas de evitar excessos desnecessários. Ir às compras ou cozinhar em família poderá gerar algumas das melhores memórias desta época, associando a cozinha a momentos felizes.
  3. O desporto pode ser um momento de convívio: nada melhor do que dar um passeio depois de um almoço ou jantar com a família ou com os amigos para reforçar a ligação com os entes queridos ou colocar a conversa em dia com o amigo de forma mais pessoal. Além disso, manter toda a família ativa, organizando momentos de desporto em conjunto durante as férias poderá proporcionar ainda mais momentos divertidos.
  4. Ter atenção ao álcool: durante esta época, é fácil perder conta. Além do impacto na saúde, importa ter atenção às calorias que as bebidas podem trazer, e isto não se cinge ao álcool, uma vez que os refrigerantes são também ricos em calorias. Por isso, escolher bebidas sem açúcar ou água poderá ser uma boa solução. No caso de consumo de bebidas alcoólicas, alterná-las com água ajudará a manter o equilíbrio.
  5. Ingerir primeiro as opções mais saudáveis à mesa: sopa, saladas, grelhados e legumes. Uma vez saciado, mesmo que não resista, terá tendência a consumir menor quantidade de alimentos mais calóricos depois.
  6. Comer com consciência: As iguarias favoritas não precisam de ser cortadas. O importante é moderar as quantidades, comendo em pequenas porções. Saborear e mastigar lentamente cada pedaço levará à satisfação com menos calorias envolvidas.
  7. Comer sem culpa: Um ou dois dias de festa não determinam o nosso peso. São os hábitos de estilo de vida ao longo de todo o ano que são determinantes. A culpa pode gerar mais ansiedade e esta pode aumentar o impulso de procurar mais prazer gastronómico. Contudo, é importante não transformar 2 dias em várias semanas seguidas de maior consumo calórico diário, porque há "sobras" de delícias natalícias em casa. Evitar cozinhar em excesso e distribuir pelos familiares ou mais carenciados a comida que sobrou do Natal. É importante voltar à rotina equilibrada no dia seguinte.
  8. Evitar ganhar o hábito de consumir doces todos os dias: É frequente nesta época recebermos chocolates, bolos, guloseimas e estarmos rodeados de tentações bem antes do dia de Natal. Quando a frequência de ingestão de doces aumenta, este consumo diário de açúcar pode gerar um círculo vicioso no sistema de apetite do cérebro. Este estímulo gera impulsos que levam à procura por alimentos ricos em açúcar com cada vez mais frequência. Trata-se de uma desregulação do sistema hedônico e funciona como uma adição. O melhor é evitar tornar este consumo num hábito.
  9. Prestar atenção ao que realmente importa: Embora a comida seja parte integrante das festividades, colocar o foco na família e nos amigos poderá ser uma forma de viver esta época de uma forma mais leve. Se o equilíbrio e a moderação são guias habituais, estes momentos devem ser caracterizados pela alegria e não pelo stress da rotina. Além disso, pensar em dinâmicas novas, além de partilhar uma refeição, poderá ser uma boa forma de contribuir para a saúde de todos.
  10. Procure ajuda profissional: “Para quem vive com obesidade, esta pode ser uma época de maior ansiedade e culpa, ou até medo de agravamento da sua saúde ou perda de conquistas já conseguidas no seu tratamento. Por isso, é importante apostar no acompanhamento especializado por profissionais de saúde que ajudem a manter a serenidade e o equilíbrio físico e mental, para viverem esta época sem angústia e com prazer, mas mantendo os cuidados já implementados. Para quem ainda não procurou ajuda profissional, o novo ano é uma oportunidade de recomeços e procurar o tratamento adequado, através de uma equipa multidisciplinar como a da Qorpo, pode ser o primeiro passo.”, remata a endocrinologista da APDP.

O excesso de peso e a obesidade são considerados pelo Organização Mundial de Saúde uma epidemia com graves consequências para a saúde. Segundo os dados recentemente divulgados pela Federação Mundial de Obesidade, estima-se que, em 2035, 51% da população mundial, ou quatro mil milhões de pessoas, terá excesso de peso ou obesidade se a prevenção e o tratamento não forem priorizados. Em Portugal, já existem cerca de 2 milhões de pessoas adultas com obesidade, um valor que aumenta para 67,6% da população portuguesa quando somadas as pessoas com excesso de peso. Isto significa que mais de metade da população portuguesa está também em maior risco de vir a desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e outros problemas como distúrbios do sono.

A clínica Qorpo foi criada pela APDP para oferecer um serviço diferenciador a todos aqueles que procuram, por um lado, perder peso e, por outro, manter um peso saudável a longo prazo. Através de um programa de gestão de peso personalizado, a missão da clínica Qorpo passa por promover o peso saudável em benefício da melhoria da qualidade de vida e do bem-estar físico e psicológico.

Acesso a Cuidados de Saúde 2023 – Uma Década de Evolução
Apesar da eliminação da maioria das taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS), a principal barreira no acesso aos...

A conclusão é revelada no mais recente Relatório Acesso a Cuidados de Saúde 2023, da autoria dos investigadores Carolina Santos e Pedro Pita Barros, detentor da Cátedra BPI | Fundação ‘la Caixa’ em Economia da Saúde, no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação ‘la Caixa’, o BPI e a Nova SBE.

Para identificar as potenciais e efetivas barreiras no acesso aos cuidados de saúde em Portugal o Relatório Acesso a Cuidados de Saúde 2023 – Uma Década de Evolução analisa as decisões de utilização dos serviços de saúde, desde o momento em que os cidadãos sentem a possibilidade de doença, considerando variáveis como idade, classe socioeconómica, género e nível de escolaridade.

A primeira decisão do doente quando sente um problema de saúde prende-se com a procura, ou não, de ajuda profissional no sistema de saúde. Perante um episódio de doença, vários motivos podem justificar o não recurso ao sistema de saúde, no entanto, na grande maioria das vezes o pedido de ajuda profissional não se concretiza devido à reduzida gravidade do episódio de doença e, nos casos de maior severidade em que o recurso ao sistema de saúde não sucede são principalmente as barreiras financeiras ou geográficas que condicionam a opção do doente.

Em 2023, cerca de 11,26% dos inquiridos que sofreram um episódio de doença optaram por não utilizar o sistema de saúde (quase 3 ponto percentuais inferior ao valor registado em 2022) e, destes, 75,6% optaram por se automedicar. A diminuição da percentagem das pessoas que opta pela automedicação ocorrida entre 2020 e 2022 inverte-se em 2023 atingindo valores 32,3 pontos percentuais superiores aos registados em 2022 e 11,4 pontos percentuais superiores aos registados no pico do período pandémico (64,2%).

Quando analisadas as razões para a escolha por automedicação, verifica-se que a experiência com problemas similares no passado, é preponderante não só devido à vivência recorrente com certos problemas de saúde (especialmente entre indivíduos com doenças crónicas) mas também devido à existência de medicamentos disponíveis em casa (o que reduz o custo implícito de não procurar auxílio profissional no sistema de saúde). No entanto, entre 2022 e 2023, a experiência com problemas similares no passado perde relevância na decisão de os indivíduos se automedicarem e dos 76,1% registados em 2021 decresce para 49,6% em 2023. Relativamente aos doentes que optam pela automedicação devido à existência de medicamentos disponíveis em casa, verifica-se que em 2022 e 2023 houve um aumento significativo, embora em 2023 tenha sido menos expressivo que em 2022.  Os dados permitem ainda revelar que em 2023 verificou-se um aumento na percentagem dos indivíduos que escolhem automedicar-se por sugestão de amigos ou familiares e devido aos tempos de espera no SNS sendo ainda de realçar que, desde 2020, não há inquiridos a reportar terem optado por se automedicar devido a informação que recolheram na internet, rádio, televisão ou em campanhas publicitárias. No entanto ‘a elevada e crescente percentagem de indivíduos que reporta automedicar-se sinaliza que este é um comportamento que deve ser estudado e monitorizado, pelas consequências que pode ter, tanto para a saúde da população, como para a sustentabilidade e eficiência dos cuidados prestados no sistema de saúde’.

Quando analisados os dados relativos aos indivíduos que optam por recorrer ao SNS verifica-se que não existe uma relação sistemática com o grupo etário, o nível de escolaridade ou o género do inquirido, revelando apenas o grupo do escalão socioeconómico mais desfavorecido (escalão E) uma maior probabilidade de procurar ajuda no sistema de saúde perante um episódio de doença, facto que poderá estar relacionado com a maior severidade (autopercecionada) dos problemas de saúde desse grupo socioeconómico. No que diz respeito aos motivos para a procura de auxílio, os dados analisados permitem aferir uma grande homogeneidade ao longo dos anos, com o aparecimento de um problema inesperado a ser o principal motivo para os cidadãos procurarem cuidados de saúde (55,3% em 2023, abaixo do valor médio verificado em 2022, mas em linha com o valor reportado durante o período pandémico). As doenças crónicas surgem como o segundo motivo de recurso ao SNS com 36,8% dos inquiridos a sinalizarem que a deslocação se concretizou devido a um agravamento ou descompensação da sua doença crónica (em 2022 situava-se nos 24,9%).

Os dados obtidos permitem ainda verificar que a ocorrência de episódios de doença é fortemente condicionada pelo contexto social ‘em 2023, a probabilidade de uma pessoa com 65 e mais anos ter tido um episódio de doença foi superior a 50%’ e pela condição socioeconómica (em 2023 a probabilidade atingia 66% dos indivíduos do grupo com maiores restrições financeiras (classe socioeconómica E) ao passo que apenas 29% era revelada em pessoas das classes socioeconómicas mais favorecidas (A e B).

Analisando as barreiras financeiras no acesso a cuidados de saúde, verifica-se um acentuado gradiente socioeconómico, com os indivíduos com maiores carências económicas a registarem uma probabilidade substancialmente superior de não adquirir todos os medicamentos necessários ao tratamento de um episódio de doença, ou de não irem a uma consulta ou urgência por falta de dinheiro. Apesar da eliminação nos últimos anos da maioria das taxas moderadoras no SNS, as barreiras financeiras no acesso a consultas ou urgências permanecem elevadas. ‘As dificuldades financeiras reportadas no acesso a consultas e urgências extravasam os verdadeiros custos associados a taxas moderadoras no SNS e podem dever-se a despesas com medicamentos receitados na sequência de uma ida a uma consulta ou urgência, ou aos custos de transporte necessários para deslocação ao serviço de saúde’.

A mais importante componente da despesa em saúde continua a ser a relacionada com medicamentos (em 2023, a despesa média com medicamentos correspondia a cerca de 70,5% das despesas médias totais nas idas às urgências e a 89,5% nas idas aos cuidados de saúde primários) ‘por conseguinte, uma vez eliminadas a maioria das taxas moderadoras, a discussão das barreiras financeiras no acesso a cuidados de saúde deve centrar-se nas despesas com medicamentos’ concluem os investigadores.

No que diz respeito a barreiras não financeiras, não se verifica um gradiente socioeconómico associado ao cancelamento de consultas ou exames, verificando-se uma diminuição deste indicador em todas as classes socioeconómicas (embora de forma menos pronunciada em indivíduos com maiores dificuldades financeiras). Analisando o setor público (Serviço Nacional de Saúde, SNS) e o setor privado verifica-se que, em 2023, a probabilidade de um indivíduo recorrer unicamente ao setor público era de 87%, a probabilidade de recorrer unicamente ao setor privado era de 11% e a probabilidade de recorrer a ambos era de 2%. De referir ainda que, após o recurso particularmente acentuado ao setor privado no primeiro ano da pandemia COVID-19, desde então, este indicador tem vindo a decrescer.

Avaliando a probabilidade de um individuo ter médico de família atribuído pelo SNS os dados analisados revelam um decréscimo (91% em 2020 face a 80% em 2023) verificando-se um gradiente socioeconómico, com os indivíduos de escalões socioeconómicos mais desfavorecidos a terem (em 2023) uma menor probabilidade de ter médico de família no SNS do que pessoas de classes socioeconómicas mais favorecidas (facto que não resulta de uma discriminação ativa mas sim da menor atratividade das unidades de cuidados de saúde primários em zonas de baixos rendimentos da população), ‘por conseguinte, as barreiras não financeiras acentuam as barreiras financeiras no acesso a cuidados de saúde’. Os dados revelam ainda que a probabilidade de ter médico de família no setor privado é maior para pessoas que não têm médico de família no SNS (19%) confirmando que a população tende a considerar a oferta de cuidados de saúde primários no setor privado como um substituto dos cuidados de saúde primários no SNS.  Este serviço do setor privado é utilizado maioritariamente por pessoas das classes socioeconómicas mais favorecidas e com idades compreendidas entre os 65 e os 79 anos.

Por último, e atendendo ao contexto de envelhecimento populacional em Portugal, os dados recolhidos e analisados revelam que entre 2017 e 2023 registou-se um aumento na probabilidade de se ser doente crónico, tendo este aumento sido particularmente pronunciado em indivíduos com idades compreendidas entre os 60 e os 69 anos e nas mulheres.  Apesar do crescimento deste indicador no grupo das mulheres, verifica-se uma diminuição das barreiras no acesso a consultas e urgências neste grupo populacional, o que sugere que, pelo menos em parte, o sistema de saúde está a conseguir dar resposta às necessidades acrescidas de cuidados de saúde das mulheres nesta faixa etária. ‘Ainda assim, face ao aumento da prevalência de doenças crónicas em indivíduos mais velhos (50+) e às melhorias pouco expressivas no acesso a cuidados de saúde para a generalidade das pessoas mais velhas, surge a preocupação de que o sistema de saúde pode não estar a conseguir fazer face às necessidades de cuidados de saúde da população’ concluem os investigadores.

Universidade de Coimbra
Desenvolver ferramentas mais avançadas e económicas para o diagnóstico de esquizofrenia, melhorando a qualidade de vida dos...

O projeto de investigação arranca oficialmente a 1 de janeiro de 2025, com a ambição de revolucionar o diagnóstico precoce e o tratamento da esquizofrenia, doença mental crónica que afeta aproximadamente 1% da população mundial (cerca de 80 milhões de pessoas) e está entre as 15 principais causas de incapacidade a nível global, reduzindo a esperança de vida em 10-15 anos.

Da Universidade de Coimbra, participam no VOLABIOS equipas de investigação coordenadas por Bruno Manadas (Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC-UC) e Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CIBB)), por Nuno Madeira Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da UC, Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) e Unidade Local de Saúde de Coimbra) e por Joel Arrais (Departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC e Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC)).

Ao longo dos quatro anos e meio de duração do projeto, os investigadores deste consórcio multidisciplinar vão atuar em dois planos distintos: por um lado, estudando a mecânica molecular da esquizofrenia; e, por outro, utilizando novas tecnologias para facilitar o diagnóstico precoce da doença. Envolvendo diferentes abordagens científicas e integrando ferramentas da espectrometria móvel e inteligência artificial, os investigadores esperam que seja possível “a identificação precisa e rápida de sinais químicos e bioquímicos que servem como biomarcadores para a esquizofrenia, melhorando a precisão do diagnóstico, reduzindo os prazos e abrindo caminho para intervenções mais precoces, uma compreensão mais profunda da doença e melhores resultados para os doentes”.

O projeto será desenvolvido em múltiplas etapas, que vão da análise retrospetiva de 9 milhões de registos médicos ao estudo clínico de mais de 3000 doentes (de seis centros médicos de toda a Europa), que serão monitorizados regularmente durante um período de 18 a 36 meses, para avaliar alterações e validar os resultados.

A investigação realizada na Universidade de Coimbra vai centrar-se particularmente “no recrutamento de doentes para o estudo, assim como na partilha de resultados de proteómica (perfis proteicos em larga escala) no contexto de primeiro episódio psicótico”, explica Bruno Manadas, investigador do CNC-UC.

Em 2029, na conclusão do projeto VOLABIOS, “esperamos apoiar o diagnóstico precoce da esquizofrenia com base em informação molecular, utilizando um painel de biomarcadores que possa ser aplicado com recurso a diferentes tecnologias e inteligência artificial”, conclui o investigador.

Fundação José Neves
Programas, meditações, exercícios e sessões guiadas ao vivo.

A nova app de bem-estar e desenvolvimento pessoal da Fundação José Neves, com conteúdos baseados em informação e técnicas cientificamente validadas, já está disponível para iOS e Android e pode ser descarregada também no link https://www.joseneves.org/app-aware, onde consta mais informação sobre esta nova ferramenta. A aplicação Aware, uma evolução da app 29k FJN, é totalmente gratuita, em português, e proporciona uma experiência ainda mais incrível, com muitas novidades para os seus utilizadores, entre as quais sessões guiadas ao vivo.

“Estamos muitos satisfeitos por apresentar aos portugueses a app de desenvolvimento pessoal Aware. A Fundação José Neves, através da sua parceria com a Fundação 29k, acompanhou de perto todo o processo de desenvolvimento desta aplicação, garantindo a sua adaptação à língua portuguesa. Estamos certos de que esta evolução será uma mais-valia para os nossos utilizadores, e um contributo importante para melhorar o seu bem-estar e saúde mental. Convidamos todos a experimentar e a conhecer melhor a Aware”, destaca José Neves.

A Aware representa uma evolução estratégica da Fundação Sueca 29k relativamente à app 29k FJN, que será desativada a partir do dia 31 de janeiro.

É uma aplicação gratuita, dedicada à saúde mental, bem-estar e desenvolvimento pessoal, e adaptada às necessidades dos utilizadores. Disponibiliza exercícios baseados em ciência, sessões guiadas ao vivo, e ainda o acesso a ferramentas e estratégias que tradicionalmente não estão disponíveis de forma tão acessível.

São muitos e diversificados os benefícios desta aplicação: melhorar as relações, aprendendo técnicas de comunicação para gerir conflitos de forma mais eficaz; gerir o stress e a ansiedade; praticar o autocuidado para melhorar o bem-estar geral e atenção plena; tomar melhores decisões; lidar com emoções e pensamentos difíceis; construir ligações com significado através de sessões lideradas por facilitadores e grupos de apoio entre pares, promovendo a conexão humana e o apoio social; desenvolver as capacidades internas para adaptação à mudança, gerir a complexidade e incerteza, e adotar comportamentos mais sustentáveis.

Os utilizadores podem escolher uma variedade de exercícios e meditações guiadas, que utilizam terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapia de aceitação e compromisso (ACT), combinadas com uma conexão humana profunda para combater o stress ou a ansiedade; as dificuldades nas relações; os sentimentos avassaladores; a falta de concentração; o diálogo interno negativo; problemas com o sono; encontrar propósito e viver de forma significativa; a auto-compaixão e o crescimento pessoal em tempos desafiantes.

A aplicação Aware está disponível para maiores de 15 anos e cumpre as regulamentações de privacidade e segurança da UE e RGPD. Não necessita de registo e os dados permanecem no dispositivo dos utilizadores. Para mais informações é possível consultar a página https://www.joseneves.org/app-aware.

O programa Aware está enquadrado no pilar da Fundação José Neves dedicado ao Desenvolvimento Pessoal. Resulta de uma parceria com a Fundação 29k, uma organização sueca sem fins lucrativos. 

Opinião
Nos últimos anos, a ciência tem oferecido uma luz ao fundo do túnel numa das batalhas mais desafiado

Mais do que uma inovação biomédica, uma vacina oncológica sinaliza uma transformação no entendimento de como enfrentamos esta doença devastadora, que rouba milhões de vidas todos os anos. Porém, enquanto celebramos os avanços, também é necessário questionar: será a medicina moderna uma manifestação de altruísmo ético ou um jogo estratégico de influência geopolítica? Quais são os limites e as oportunidades para o futuro da oncologia, e até onde podemos sonhar?

O que já foi feito: Uma linha do tempo de vitórias e desafios

A história da oncologia moderna está repleta de marcos que ilustram como a humanidade na busca incansável em combater o cancro. Desde o início do século XX, quando as primeiras terapias cirúrgicas começaram a ganhar sofisticação, até a criação da quimioterapia na década de 1940, a luta contra esta doença sempre foi permeada por avanços e retrocessos.

A radioterapia, descoberta como um subproduto do trabalho de pioneiros como Marie Curie, tornou-se um marco na abordagem localizada de tumores. Na década de 1970, o surgimento da hormonoterapia mudou a forma de tratar cancros hormonais, como o da mama e da próstata. O mapeamento do genoma humano, concluído em 2003, abriu portas para a medicina personalizada, enquanto as imunoterapias – como os inibidores de checkpoint – trouxeram uma nova dimensão ao permitir que o sistema imunológico reconhecesse e atacasse tumores.

Porém, o verdadeiro divisor de águas ocorreu no final da década de 2010, com os primeiros passos rumo a vacinas contra o cancro. Um exemplo notável foi a vacina contra o HPV, que comprovadamente previne o cancro do colo do útero. Agora, ao olharmos para o horizonte, a promessa de vacinas personalizadas e eficazes contra uma ampla gama de tumores parece estar ao alcance.

O presente: A geopolítica da saúde e os limites éticos

O anúncio da Rússia de que lançará uma vacina oncológica em 2025 coloca em destaque uma questão central: a quem pertence o progresso científico? A pesquisa médica, financiada por grandes potências, muitas vezes se torna uma ferramenta de «soft power». Não é coincidência que países como os EUA, China e Rússia estejam investindo pesadamente em biotecnologia. Em tempos de polarização global, o desenvolvimento de tratamentos revolucionários não é apenas uma questão de salvar vidas, mas também de projectar influência.

Esse cenário levanta questões éticas fundamentais: será que esses avanços estarão acessíveis para todos, ou serão reservados apenas para nações privilegiadas? A medicina deve ser um bem universal ou permanecerá sujeita às dinâmicas económicas e políticas?

Por outro lado, o impacto das vacinas oncológicas no próprio sistema de saúde será imenso. A prevenção do cancro poderia reduzir significativamente os custos de tratamentos longos e debilitantes, de modo a catalisar recursos para outras áreas da saúde. Mas, para isso, será preciso um esforço global de colaboração e acessibilidade, algo que a geopolítica contemporânea parece ter relutância em dar prioridade.

O futuro: Uma esperança à prova de desafios

Observando o que está por vir, o campo da oncologia parece estar em um ponto de viragem. A revolução tecnológica, combinada com a crescente integração da inteligência artificial, promete acelerar o desenvolvimento de terapias mais precisas e eficazes.

Imagina-se um mundo onde exames simples de sangue, as chamadas biópsias líquidas, permitam a detecção precoce do cancro em estágios imperceptíveis pelos métodos actuais. As terapias genéticas, como a edição de genes CRISPR, já começaram a mostrar potencial na modificação de células cancerígenas. Adicionalmente, o uso de nanotecnologia pode revolucionar a administração de medicamentos, tornando-os mais eficazes e menos tóxicos.

No entanto, o maior desafio continua a ser a acessibilidade. A ciência só terá cumprido seu propósito quando os avanços não forem privilégio de poucos. Isso exigirá políticas públicas que dêem prioridade a investimentos na saúde global, parcerias público-privadas e o fortalecimento de sistemas de saúde em países menos desenvolvidos.

Conclusão: O amanhã que queremos construir

Ao reflectirmos sobre o futuro da oncologia, é impossível ignorar o impacto potencial de uma vacina contra o cancro. Ela representa mais do que uma cura; simboliza um marco na história da medicina, um testemunho do que a humanidade pode alcançar quando ciência, tecnologia e determinação convergem.

Mas a pergunta permanece: estaremos prontos para tornar essa conquista acessível a todos? Ou permitiremos que ela seja mais uma ferramenta de desigualdade no mundo? A medicina, enquanto ciência da vida, não deve se submeter a jogos de poder; ela deve transcender as fronteiras geopolíticas e servir como um pilar universal de dignidade e esperança.

O futuro da oncologia – e da própria medicina – será definido pelas escolhas que fizermos hoje. Escolheremos a competição ou a colaboração? A exclusividade ou a inclusão? O que está em jogo não é apenas o combate ao cancro, mas o tipo de sociedade que desejamos construir.

Que esta seja uma era onde a ciência, além de vencer batalhas contra a doença, inspire o melhor da humanidade: empatia, igualdade e o compromisso com um amanhã mais saudável e justo.

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Ordem dos Psicólogos Portugueses
OPP partilha checklist que o ajuda a verificar o seu bem-estar e a lidar com alguém com um problema de saúde mental nesta...

A Ordem dos Psicólogos Portugueses alerta para o impacto significativo que a época natalícia pode causar na nossa saúde mental. 64% das pessoas com problemas de saúde mental relatam um agravamento dos seus sintomas e dificuldades habituais durante a quadra festiva. A época natalícia, frequentemente associada a celebrações e momentos de união familiar, pode também trazer desafios emocionais, particularmente para aqueles que enfrentam problemas como ansiedade, depressão ou stress. A pressão social para demonstrar felicidade, questões financeiras, isolamento e conflitos familiares são fatores que podem contribuir para o agravamento destes sintomas.

Para o ajudar a verificar se esta altura do ano está a impactar de forma negativa o seu bem-estar, a Ordem dos Psicólogos Portugueses elaborou uma lista de perguntas para utilizar durante a época das festas:

  • Reconhece e aceita as suas necessidades e sentimentos nesta época (mesmo quando não sente o mesmo que as pessoas à sua volta)?
  • Prioriza o seu autocuidado (mantém hábitos de atividade física, alimentação e sono saudáveis)?
  • Diz “não” a pedidos que lhe provoquem mal-estar e desconforto?
  • Aceita que, nas dinâmicas familiares, só controla o seu papel e que pode não ser realista esperar “momentos perfeitos”?
  • Reduz o tempo que passa nas redes sociais e evita comparar o seu Natal/Ano Novo com aqueles que aí vê?
  • Partilha como se está a sentir e comunica como as outras pessoas o/a podem ajudar neste período?
  • Agradece (por telefone ou mensagem, por exemplo) às pessoas que lhe deram apoio durante o ano?
  • Se for caso disso, garante que tem medicação suficiente e contactos de emergência?
  • Procura ou mantém/intensifica a ajuda profissional que já tem quando se sente sobrecarregado/a e não consegue funcionar habitualmente?

A acompanhar esta checklist, a Ordem dos Psicólogos Portugueses deixa ainda dicas do que fazer e evitar ao lidar com um familiar ou amigo que esteja a lutar com um problema de saúde mental.

Fazer: Escutar e aceitar necessidades e sentimentos diferentes dos nossos; compreender que o Natal e o Ano Novo não têm o mesmo impacto para todas as pessoas e que podem ser períodos difíceis de gerir; assegurar que a pessoa não está sozinha (estarmos presentes, enviar uma mensagem, fazer uma chamada); tornar o Natal inclusivo, organizando as atividades em função das necessidades de todos; perguntar às pessoas como podemos ajudar;

Evitar: Dizer coisas como “é suposto o Natal ser um momento feliz!”, “toda a gente se está a divertir menos tu! Podia ao menos tentar…”, “há quem esteja pior e não esteja com essa cara”; pensar e interpretar as situações de acordo com a ideia de que a pessoa está a (tentar) “estragar o natal”; pressionar a pessoa para comer, beber ou fazer comentários sobre a sua aparência e atitudes; “levar a peito” que a pessoa não queira participar ou estar connosco em determinados momentos; fazer perguntas difíceis ou implicar que a pessoa se deve justificar;

Saiba mais aqui: Natal e Saúde Psicológica - Eu Sinto-me

A Ordem dos Psicólogos Portugueses relembra que tem ajuda disponível através do Serviço de Aconselhamento Psicológico do SNS24 através do número: 808242424

ULSCBeira promoveu
A Unidade Local de Saúde da Cova da Beira realizou no passado dia 16 de dezembro, a habitual sessão de encerramento do ano,...

Esta sessão de balanço do ano formativo contou com a presença da Dra. Arminda Jorge, Diretora do Internato Médico, da Dra. Rosa Ballesteros, Diretora Clínica dos Cuidados de Saúde Hospitalar, da Dra. Sara Rodrigues, Diretora do Serviço de Recursos Humanos, do Dr. Gustavo Factori, representante da Comissão de Internos da ULS da Cova da Beira, e da Dra. Maria Beatriz Batista, representante dos Internos de Formação Geral de 2024.

Foram reconhecidos o empenho e a dedicação destes jovens médicos, sublinhando-se a relevância do seu contributo para a qualidade dos cuidados de saúde prestados. As intervenções reforçaram o compromisso da instituição com a excelência formativa e a valorização contínua dos seus profissionais.

Em janeiro de 2025, a ULS da Cova da Beira acolherá 42 novos médicos de formação geral e 16 de formação especializada, reafirmando a sua posição como referência na formação e desenvolvimento de carreiras na área da saúde.

 

Como prevenir riscos e evitar urgências veterinárias
O Natal é uma época de celebrações, convívio familiar e momentos de alegria, mas também é um período

A AniCura, grupo de hospitais e clínicas especializado em cuidados médico-veterinários para animais de companhia, considera importante reconhecer algumas ameaças que podem comprometer o bem-estar dos nossos animais de companhia e alerta os cuidadores para as precauções necessárias a fim de evitar urgências veterinárias, comuns durante esta época.

 

 

Entre os principais riscos, destacam-se:

  1. Ruídos fortes e fogos de artifício. Os foguetes, os fogos de artificio e a música alta são um clássico desta época, mas representam um dos maiores problemas para os animais, provocando medo, pânico, stress significativo ou mesmo traumas. Os cães e gatos têm uma audição muito sensível, pelo que o ideal é mantê-los num ambiente confortável e isolado do barulho, como um local com as janelas fechadas e, se o animal se apresentar agitado, considerar soluções como terapia hormonal ou medicamentos, mas sempre com orientação do veterinário.
  2. Plantas e decorações de Natal. Plantas decorativas como jacintos, amarílis, flor-de-Natal ou visco são tóxicas para os animais1. Tanto a ingestão como o contacto podem causar graves problemas. Além disso, objetos como grinaldas, fitas, velas e pequenos ornamentos podem ser ingeridos, levando a obstruções intestinais. Aconselha-se a manter as plantas e as decorações fora do alcance das patas e bocas dos animais curiosos.
  3. Alimentação inadequada. Alimentos típicos desta época, como doces, uvas, passas e frutos secos, são perigosos para os animais, mesmo em pequenas quantidades. Muitos destes alimentos contêm níveis elevados de gordura e sal, podendo causar intoxicação, graves problemas gastrointestinais e até mesmo insuficiência renal ou danos em órgãos internos. É importante não oferecer restos de comida aos animais e ter cuidado para que eles não acedam a alimentos deixados em locais vulneráveis. Em alternativa, oferecer alimentos indicados pelo veterinário ou guloseimas específicas para animais são as melhores opções.
  4. Risco de perda. O aumento de visitas, movimentação e passeios durante o Natal aumenta a possibilidade de os animais se desorientarem e se perderem. Deve certificar-se de que os animais têm coleira com identificação visível e, idealmente, microchip com os dados atualizados.
  5. Exposição ao frio. Nos passeios ao ar livre em dias frios ou com neve, alerta-se ainda para as feridas ou irritações nas patas e a necessidade de agasalhos adequados, especialmente em cães de pelo curto, idosos ou mais sensíveis ao frio. É aconselhável limpar as almofadas das patas após os passeios e uso de cremes protetores próprios para animais, se necessário, e evitar passeios prolongados em temperaturas muito baixas.

O Dr. João Reis, especialista em comportamento animal do AniCura Alma Hospital Veterinário, reforça que “as festividades podem ser desafiadoras para os animais de companhia devido às mudanças na rotina e ao ambiente festivo, que muitas vezes não consideram as necessidades dos animais. Com algumas precauções simples, é possível garantir que todos desfrutem de um Natal seguro e tranquilo”.

Os cuidadores ao planearem o Natal devem ter em conta o bem-estar dos seus animais e estarem atentos a sinais de intoxicação ou doença como prostração, falta de apetite, vómitos, diarreia, aumento da sede e do consumo de água, úlceras ou feridas na boca. 

A prevenção é essencial para evitar acidentes e emergências e, assim, viver o espírito de Natal da forma mais feliz. Caso se verifiquem comportamentos estranhos ou alguns dos sintomas mencionados, os cuidadores devem procurar imediatamente assistência veterinária.

 

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado
A Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) volta a consciencializar para a doença hepática alcoólica, uma...

No Ano Novo é comum traçarem-se novas metas e objetivos. "Com este desafio, queremos motivar os jovens e adultos portugueses a adotarem um estilo de vida mais saudável durante todo o ano. É particularmente preocupante o consumo de álcool entre os jovens, sobretudo no contexto da vida social e noturna." Segundo os dados do relatório do ICAD, podemos verificar que, no ano de 2023, em cada 10 jovens de 18 anos, 8 beberam álcool”, alerta Arsénio Santos, presidente da APEF.

De acordo com o relatório “Comportamentos Aditivos aos 18 anos. Inquérito aos jovens participantes no Dia da Defesa Nacional – 2023: Consumos de Substâncias Psicoativas”, realizado pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD) , há um elevado consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens com 18 anos, em Portugal, sendo a sua prevalência mais expressiva no sexo feminino (80%), do que no sexo masculino (77%).

O elevado consumo de álcool traz graves consequências para a saúde, principalmente para o fígado. “Entre as principais consequências estão a esteatose hepática, mais conhecida como fígado gordo, a hepatite alcoólica e a cirrose hepática. Além disso, há também consequências indiretas, como as provocadas por acidentes de viação, entre outras. Estas situações, se não forem tratadas ou prevenidas, podem causar danos graves à saúde e até levar à morte. É, assim, importante reforçar que viver sem consumir álcool é perfeitamente possível, sem que isso impeça as pessoas de se divertirem, relaxarem ou socializarem”, explica Arsénio Santos.

E acrescenta: “Os adultos devem ponderar sobre os seus comportamentos sociais e os impactos que estes têm na sua saúde, além de alertarem os jovens sobre os perigos e problemas associados ao consumo de álcool. Entre esses riscos, destacam-se situações de mal-estar emocional e comportamentos impulsivos ou arriscados, como a prática de relações sexuais desprotegidas”.

A iniciativa “Janeiro Sem Álcool” ocorre em simultâneo em vários países, desde 2013. Em Portugal é a quarta vez que o desafio é promovido.

Segundo os dados do relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), de 2022, e as últimas estimativas disponíveis do WHO Global Information System on Alcohol and Health (GISAH) para Portugal, verifica-se que, em 2019, o consumo de álcool era mais elevado por parte dos homens, com 19,5 litros de álcool puro per capita por ano, do que das mulheres, que consumiam 5,6 litros.

O relatório do SICAD demonstra também que em 2022 foram registados 40.465 internamentos hospitalares, com diagnóstico principal ou secundário atribuíveis ao consumo de álcool, envolvendo 30.301 indivíduos em Portugal. Os dados referem ainda que, em 2021, morreram 2.526 pessoas por doenças atribuíveis ao álcool, 26% das quais por doença alcoólica do fígado. 

Federação Internacional da Diabetes
O Dr. Luís Gardete Correia, médico endocrinologista e ex-presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP),...

A IDF concede o título de Honorary Fellow a um seleto grupo de indivíduos que demonstram um compromisso extraordinário com a sua missão e que contribuem significativamente para o avanço do conhecimento e dos cuidados na área da diabetes a nível global. Os profissionais distinguidos com este título são verdadeiros embaixadores da missão da IDF: melhorar a vida das pessoas com diabetes e daquelas que estão em risco de a desenvolver. Luís Gardete Correia, que já foi vice-presidente da Federação Internacional da Diabetes junta-se agora a este grupo distinto, refletindo o impacto e a importância do seu trabalho.

"Receber o título de Honorary Fellow da IDF é uma honra imensa, especialmente por vir de uma organização que considero minha casa. A IDF tem sido uma parte integral da minha jornada profissional, e este reconhecimento reforça a importância do trabalho coletivo que a APDP realiza há mais de 100 anos para melhorar a vida das pessoas com diabetes em todo o mundo", revela o presidente da Fundação Ernesto Roma.

Representando a comunidade global da diabetes, a IDF é uma organização sem fins lucrativos que une mais de 240 associações nacionais em 161 países e territórios. Com o objetivo de melhorar a vida e capacitar os cerca de 540 milhões de indivíduos que vivem com diabetes, a IDF também trabalha na prevenção da doença em pessoas em risco. Através de ações de sensibilização, a organização mantém a diabetes como um tema central na agenda pública, destacando questões cruciais para a comunidade global afetada pela doença.

Para doentes renais
A pensar nas celebrações de Natal e Ano Novo, a Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL) está a promover o livro ...

"Para quem vive com doença renal, a alimentação durante a época festiva pode ser um desafio, já que muitos alimentos tradicionais do Natal, como o leite, os ovos, as batatas, as hortaliças e o bacalhau, possuem níveis elevados de fósforo, potássio ou sal. Por isso, é importante que os doentes tenham atenção às recomendações nutricionais, controlando a dose e a frequência com que ingerem estes alimentos”, explica Sofia Correia de Barros, presidente da ANADIAL.

E acrescenta: “Com este livro, esperamos ajudar os doentes a desfrutarem desta quadra de forma prazerosa, saudável e segura. Além disso, queremos educar para escolhas alimentares mais conscientes, não apenas no Natal, mas em todas as ocasiões.” 

Com mais de 20 receitas, o livro inclui opções variadas de entradas, sopas, pratos principais (de peixe, carne e vegetarianos) e sobremesas, da autoria de nutricionistas de clínicas privadas de diálise associadas da ANADIAL.

A alimentação desempenha um papel fundamental na vida do doente renal crónico, sendo uma parte integrante do tratamento e da gestão da doença. Para estas pessoas, cada escolha alimentar tem um impacto direto na sua saúde renal e no seu bem-estar geral. A alimentação do doente renal crónico deve respeitar quantidades e qualidades específicas, sendo que as principais preocupações dizem respeito às quantidades de energia, proteína, potássio, fósforo, sódio e água recomendadas.

A doença renal crónica caracteriza-se pela deterioração lenta e irreversível da função renal, resultando na acumulação de produtos metabólicos tóxicos no organismo. Doentes com diabetes, hipertensão, obesidade ou historial familiar estão entre os mais suscetíveis, sendo essencial que sigam um plano alimentar adaptado, equilibrando nutrientes como proteína, fósforo, potássio e sódio.

O livro “Receitas de Natal para Doentes Renais Crónicos” será distribuído nas clínicas de diálise privadas associadas da ANADIAL, e pode ser consultado em www.anadial.pt ou em www.rim.pt . Esta publicação sucede ao lançamento do livro “Receitas de Páscoa para Doentes Renais Crónicos”, apresentado em abril deste ano e igualmente disponível online.

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