Sociedade Portuguesa de Ginecologia
Primeiro estudo feito em Portugal sobre a realização de histerectomias, da iniciativa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia,...

Os miomas uterinos afetam cerca de dois milhões de mulheres em Portugal, 40% das quais ainda em idade reprodutiva, e são a primeira causa das histerectomias. Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), revela que “há uns anos atras havia um maior número de úteros que eram removidos por patologia uterina benigna, sendo os miomas uterinos a indicação mais frequente para a realização dessa cirurgia. Atualmente estamos perante uma alteração no paradigma do tratamento dos miomas uterinos, tanto pelo recurso a cirurgias mais conservadoras como pela disponibilidade de novas alternativas de tratamento médico e este estudo é prova disso.”

Preservar o útero pode trazer benefícios em termos de autoimagem, algumas mulheres associam-nos ao conceito de feminilidade, é também um órgão fundamental no caso de a mulher ainda pretender engravidar. Podem existir igualmente benefícios orçamentais para o Serviço Nacional de Saúde, ao evitar uma cirurgia que requer internamento e um período de recuperação que pode variar entre 4 a 6 semanas.

Segundo o estudo, esta cirurgia, onde é retirado o útero, continua a ter indicação nas mulheres que sofrem de patologias oncológicas ou prolapsos uterinos (quando os úteros saem da posição original), nestas situações, ao contrário do que aconteceu com os miomas uterinos, não se verificou a redução do número de histerectomias. 

Em Portugal
O Observatório Português dos Sistemas de Saúde avisa que é preciso assumir como problema de saúde pública a prescrição de...

“Sem querer diabolizar esta classe farmacológica, útil e necessária, é preciso assumir a existência de um problema de saúde pública na prescrição de benzodiazepinas”, refere o Relatório de Primavera 2016 do Observatório.

Estes medicamentos tranquilizantes, associados a casos de dependência ou privação, estão sob controlo e vigilância internacional, lembram os autores do estudo, mas não há ainda métodos eficazes que monitorizar estas substâncias na comunidade.

Além de ”uma atenção redobrada” e de uma estreita colaboração entre os serviços especializados de saúde mental e os centros de saúde, os autores do relatório dizem ser absolutamente necessário estudar este problema e perceber se a venda livre destas substâncias ainda continua a ocorrer.

No documento é citado um estudo com uma amostra de doentes internados ao longo de um ano num serviço de psiquiatria em Portugal a quem foram doseadas as benzodiazepinas na altura do internamento.

Quatro quintos dos doentes apresentavam valores superiores a uma média de oito comprimidos de 10 miligramas de diazepam por dia (80 mg), o que o Observatório considera “deveras preocupante”.

Ainda no capítulo da Saúde Mental, o Relatório de Primavera 2016 lembra que o Plano Nacional para as Demências é um objetivo antigo, mas que o número de serviços e consultas especializados é escasso.

A zona sul do país parece ser a mais negligenciada. No Alentejo e no Algarve existe apenas uma equipa de Psiquiatria Geriátrica - na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo - e que luta com “acentuada falta” de pessoal e de apoio logístico.

O relatório lembra que o Alentejo apresenta uma das maiores taxas de envelhecimento da Europa. Em 2013, 90% dos doentes que chegavam aos cuidados de saúde primários devido a perturbações mentais nesta região apresentavam sinais de demência.

Relatório de Primavera
Os autores do Relatório de Primavera defendem a dispensa de medicamentos contra o cancro em farmácia comunitária, tal como está...

Elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), o Relatório de Primavera, este ano intitulado “Saúde – procuram-se novos caminhos”, foi apresentado, em Lisboa.

Nas conclusões do documento, que entre outros temas analisou a questão do acesso aos medicamentos, os autores analisaram as questões relacionadas com as garantias de adesão à terapêutica antirretroviral.

Na base desta análise esteve um despacho deste ano “que valoriza o papel das farmácias comunitárias enquanto agentes de prestação de cuidados e do desenvolvimento de medidas de apoio à utilização racional do medicamento para nelas se ensaiar a delegação parcial da administração de terapêutica oral em oncologia e doenças transmissíveis”.

“O ensaio piloto está a ser aguardado com grande expectativa, pois permitirá verificar as questões processuais e as potenciais implicações na acessibilidade e na adesão à terapêutica por parte dos doentes”, lê-se no documento.

Os autores consideram premente a “necessidade de capacitar os doentes e os profissionais de saúde, nomeadamente os que irão começar a efetuar a dispensa destes medicamentos, para que possam prestar um melhor serviço e acompanhamento aos doentes VIH/Sida”.

Nesta matéria, alerta para “a importância de alargar este tipo de ensaio à terapêutica oncológica oral, em conformidade com o preconizado no Plano Nacional de Saúde, revisão e extensão a 2020, onde são identificadas as metas para 2020, que se centram nomeadamente na mortalidade prematura”.

“Sendo o cancro um dos claros determinantes para a mortalidade prematura, seria expectável que o acesso à terapêutica oncológica fosse identificado como prioritário”, prossegue o documento.

Na visão dos autores, os novos caminhos nesta área devem passar por medidas legislativas promotoras da melhoria no acesso ao tratamento, envolvendo todos os elos da cadeia do sistema de saúde, eliminando todo o tipo de desigualdades, e exigindo uma monitorização contínua que permita uma correta e esclarecida tomada de decisão”.

O OPSS é uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Universidade de Évora, e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Relatório de Primavera
O dinheiro que deixou de ser gasto nos três hospitais psiquiátricos encerrados em Portugal deve ser reinvestido na área da...

No Relatório de Primavera 2016, o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), da Escola Nacional de Saúde Pública, considera que o encerramento dos três hospitais psiquiátricos nos últimos anos em Portugal não foi acompanhado pela criação de novas estruturas nem pela aplicação de uma Rede de Cuidados Integrados de Saúde Mental.

Contudo, admite que foram encontradas opções residenciais para os doentes internados das três unidades: Hospital Miguel Bombarda, Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes e Hospital do Lorvão.

“Importa também referir a oportunidade do reinvestimento na saúde mental dos valores que deixaram de ser gastos com os três hospitais encerrados, bem como a inclusão nos contratos-programa de experiência de gestão autónoma, com avaliação dos resultados, e a necessidade de um modelo de pagamento integrado, que vá além da doença e do internamento e acompanhe os cuidados continuados integrados e seja transversal a todo fluxo de cuidados entre os diferentes níveis”, recomendam os autores.

O Observatório aconselha ainda a estudar a necessidade de criar incentivos (financeiros ou não) para projetos que promovam a saúde mental e a continuidade dos cuidados.

É ainda recomendado que seja ponderada a compra centralizada dos medicamentos de psiquiatria, principalmente os de toma prolongada.

Os autores indicam que continuam a verificar-se grandes assimetrias quanto aos recursos humanos, mais evidentes no interior do país, dificultando a acessibilidade aos cuidados especializados, o que pode também justificar o elevado consumo de medicamentos para o sistema nervoso central.

Sobre os Cuidados Integrados de Saúde Mental, o Observatório vinca que apresentam “lacunas graves” de aplicação.

Relatório indica
O aumento do número de suicídios em Portugal e do consumo de medicamentos para o sistema nervoso pode ser explicado com o...

O relatório anual do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) refere que o aumento do número de mortes por suicídio em Portugal “não favorece o cumprimento dos objetivos da Organização Mundial da Saúde de reduzir a taxa global de suicídio em 10% até 2020”.

“Nos momentos de crise, os grupos mais vulneráveis veem aumentadas as suas dificuldades, particularmente se falarmos de crianças, adolescentes, mulheres e idosos, com um agravamento se tivermos em conta a elevada taxa de desemprego, com repercussões a nível individual e familiar”, referem os autores do documento, lembrando que houve um aumento de suicídios coincidente com o período de crise (2008 – 2012).

Aliás, afirmam que os fatores da crise e do desemprego podem “parcialmente justificar o aumento de consumo de medicamentos para o sistema nervoso e, de alguma forma, o aumento do número de casos de suicídio em Portugal”.

O documento aponta para a fragilidade das estatísticas sobre suicídio, sobretudo porque ainda há um número elevado de mortes por causa não identificada (em 2014 foram 882 casos).

Apesar disso, em 2014 a taxa padronizada de suicídio foi de 8,9 por 100 mil habitantes, abaixo da média da União Europeia (UE).

Contudo, quando se considera o grupo acima dos 65 anos, Portugal regista uma média superior à da UE. No caso dos homens apresenta uma taxa de 36,1 por 100 mil, que compara com uma média de 29 na União Europeia.

Por região, em Portugal esbateram-se as diferenças entre Norte e Sul, mas continua a ser o norte com menor taxa padronizada, sobretudo nos homens. Nas mulheres, a região Centro tem a taxa mais reduzida (3,4).

A taxa padronizada mais elevada para os homens regista-se na região do Algarve (20,7), enquanto para as mulheres a taxa mais elevada é de 6,8 no Alentejo.

O relatório destaca em particular a elevada taxa bruta de suicídio nos jovens (15-24 anos) nos Açores e também acima dos 25 anos.

“Dado tanto mais grave quanto o isolamento e as dificuldades de acesso a cuidados de saúde especializados específicos”, reporta o documento.

O OPSS é uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Universidade de Évora, e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Relatório de Primavera
As desigualdades em saúde em Portugal são elevadas e os anos de “profunda recessão económica e de cortes orçamentais” tiveram...

“Portugal tem vivido anos de profunda recessão económica e de cortes orçamentais em várias áreas, incluindo a saúde, educação e segurança social. Neste sentido, as desigualdades em saúde representam uma preocupação acrescida, à luz dos custos elevados que acarretam”, lê-se no documento, elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

Intitulado “Saúde – procuram-se novos caminhos”, o documento começa por recordar os relatórios elaborados nos últimos seis anos, nomeadamente sobre a questão da crise na saúde.

“Constatamos que a crise e o seu impacto na saúde dominou as atenções nesses anos tendo o OPSS apresentado ao longo desses anos diversas sugestões e alertas que poucas vezes foram tidos em conta”, lê-se no relatório apresentado em Lisboa, na presença do ministro da Saúde.

Os autores indicam que “o acentuado corte nas despesas com saúde", que "fizeram baixar alguns pontos no ranking da OCDE, tiveram efeito mais acentuado nas despesas com medicamentos e recursos humanos”.

“Esses cortes ultrapassaram os cortes propostos pela troika no Memorando de Entendimento e ainda estamos longe de conhecer o verdadeiro impacto no sistema nacional de saúde, nomeadamente nos ganhos em saúde obtidos ao longo dos últimos anos”.

Em relação às desigualdades sociais em saúde, os autores concluíram que estas são uma “evidência recente para Portugal”, país onde existem “razões adicionais de preocupação”.

“A evidência prévia demonstra que as desigualdades em saúde em Portugal são elevadas. Uma revisão sistemática recente aponta para a existência de disparidades em vários indicadores de saúde (como saúde auto-reportada, saúde mental, sintomas cardiovasculares e obesidade), relacionadas principalmente com instrução e género”.

O OPSS recorda que “Portugal é um dos países mais desiguais da Europa em termos de rendimento”, encontrando-se “entre os países com maior desigualdade, próximo de outros países do Sul da Europa, como Espanha, Grécia, Itália, ou Chipre, e países de Leste”.

“No mesmo sentido, o risco de pobreza ou exclusão social é elevado em Portugal, quando comparado com outros países europeus, com taxas semelhantes àquelas observadas noutros países do Sul da Europa”.

Um dos dados apresentados refere que “as pessoas sem formação têm um risco de ter má saúde seis vezes superior, em comparação com as pessoas com mais formação (ensino secundário ou mais)”.

“O risco de diabetes é mais de quatro vezes superior no grupo sem formação, e o risco de hipertensão e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é três vezes superior. Para a depressão, o risco é mais elevado nos grupos com menor educação, embora seja superior para as pessoas com ensino básico comparado com as pessoas sem formação”.

“Seja qual for a doença, a desigualdade aumentou claramente entre 2005 e 2014, independentemente do sexo e da idade”.

Nos idosos, as desigualdades em saúde são ainda mais marcadas: “O risco de má saúde é cinco vezes superior nas pessoas sem educação e mais de duas vezes superior nas pessoas com ensino básico. O risco de doença crónica é quatro vezes superior nas pessoas sem educação e o risco de limitações mais de três vezes superior”.

Os autores concluem ainda que, “apesar do carácter universal e tendencialmente gratuito do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os cuidados de especialidade estão desigualmente distribuídos na população, a favor dos mais educados. Este facto também poderá contribuir para as desigualdades em saúde”.

Para o OPSS, os dados analisados “indicam claramente que o SNS, apesar dos seus grandes e demonstrados benefícios para a saúde da população, e do seu carácter universal e tendencialmente gratuito, não é suficiente para combater as desigualdades em saúde”.

Entre as várias estratégias para combater as desigualdades em saúde, os autores defendem que “as políticas de saúde pública devem focar os comportamentos de risco – álcool, tabagismo, sedentarismo, dieta inadequada – através de instrumentos económicos (impostos) e da regulação (por exemplo das gorduras, do sal ou do açúcar)”.

“Os programas de rastreio devem ser acessíveis a todos, assim como os cuidados de saúde”, preconiza o Observatório.

O OPSS é uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Universidade de Évora, e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Direção-Geral da Saúde
O diretor-geral da Saúde, Francisco George, aconselhou os portugueses que vão para a praia ou para a serra a adotarem medidas...

A recomendação de Francisco George surgiu na sequência da informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), segundo a qual as regiões do interior centro e sul do país e o município da Calheta, na Madeira, estariam sob risco extremo de exposição à radiação ultravioleta (UV).

Em declarações, o diretor-geral da Saúde afirmou que “é absolutamente essencial” ter em conta “a proteção em relação a riscos que podem ser reduzidos com o nosso comportamento”.

Para prevenir esses riscos, Francisco George recomendou o uso de “vestuário adequado, sobretudo muito claro, branco de preferência, e a utilização criteriosa de protetores solares”.

“A utilização de óculos escuros é recomendada”, assim como a utilização de chapéu de abas largas, mas o principal é “evitar a exposição ao sol durante o período mais preocupante”, entre o meio-dia e as 15:00”, sublinhou.

Para quem pretende ir à praia ou passear na serra, Francisco George deixou um conselho: Adotar “as precauções máximas em relação a este risco que é máximo”.

Apesar dos portugueses já estarem bem alertados para os efeitos nocivos da radiação solar, Francisco George explicou que a preocupação das autoridades de saúde é, sobretudo, informar sobre “os riscos da exposição quando o corpo não está devidamente protegido”.

“Antes de mais nada temos o problema do aumento - que também é preocupante - dos casos novos de cancro da pele, que é um problema que em Portugal está a ser vigiado muito de perto porque tem havido um aumento significativo e, por outro lado, as questões da proteção ocular”, adiantou.

A incidência dos vários tipos de cancros da pele tem vindo a aumentar em todo o mundo, estimando-se que em Portugal, em 2016, sejam diagnosticados mais de 12.000 novos casos de cancros da pele e cerca de 1.000 serão novos casos de melanoma.

Os cancros da pele mais frequentes são o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma.

Autoridade Marítima do Sul
A Autoridade Marítima do Sul, em Faro, alertou os banhistas para a importância de utilizarem praias vigiadas como forma de...

“Consideramos essencial que as pessoas privilegiem cada vez mais as praias vigiadas”, sublinhou o chefe do Departamento Marítimo do Sul, Paulo Isabel.

Aquele responsável vincou que os alertas são dados antes e durante a época balnear e que o afogamento, de um jovem de 16 anos, na praia dos Três Pauzinhos, em Vila Real de Santo António, relembra a importância destes cuidados.

“Não é por causa do acidente que ocorreu ontem, mas este acidente relembra-nos a razão destes alertas”, afirmou, acrescentando que “as praias não vigiadas acarretam perigos que a maior parte das pessoas desconhece” e que podem dar origem a acidentes fatais.

A morte por afogamento do jovem ocorreu na única praia da área da capitania de Vila Real de Santo António cuja concessão não abriu no início da época balnear, a 01 de junho, não estando ainda vigiada.

Paulo Isabel explicou que os concessionários são obrigados por lei a colocar informação de praia não vigiada quando estão encerrados e que as autoridades não encontraram qualquer placa informativa no local.

As causas do acidente estão a ser investigadas, mas Paulo Isabel disse ser cedo para apresentar conclusões, até porque, algumas vezes, as placas colocadas nos locais são furtadas.

Das 240 concessões existentes em praias algarvias este ano, dez ainda não estão abertas, mantendo-se as respetivas praias sem vigilância, esclareceu Paulo Isabel adiantando que as 230 concessões já em funcionamento têm vindo a ser fiscalizadas e que, desde 01 de junho, a Polícia Marítima já levantou mais de 20 autos devido a irregularidades.

“Os nadadores salvadores não servem apenas para salvar as pessoas, também têm o trabalho preventivo de alertar as pessoas para os perigos que existem nas praias”, observou aquele responsável, apelando ao usufruto responsável das praias.

Portugal cumpre
Dez países da União Europeia continuaram em 2014 a ultrapassar os limites nacionais de emissão de poluentes do ar, mas Portugal...

O relatório da entidade europeia, EEA na sigla em inglês, refere que "a poluição do ar de fontes como os transportes ou a agricultura ainda está acima dos limites legais em 10 Estados membros da União Europeia (UE)".

A Alemanha foi o único país que excedeu três das quatro metas, uma para cada poluente com limites fixados, em 2014, ou seja, as emissões de óxido de azoto (NOx), NMVOCs (compostos orgânicos não voláteis) e amoníaco (NH3) foram superiores ao estipulado.

A EEA explica que, com base nos dados recolhidos em cada país, desde 2010, foram 10 os Estados membros que "persistentemente excederam os respetivos tetos de emissões" para NOx, NMVOCs e NH3, poluentes que podem afetar a saúde das populações.

No caso do incumprimento da meta para NOx, a lista é composta pela Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Irlanda e Luxemburgo.

Dinamarca, Alemanha, Irlanda e Luxemburgo apresentaram emissões de NMVOCs acima dos limites, enquanto que para o NH3 a Irlanda sai deste grupo e entram Áustria, Finlândia, Holanda e Espanha.

No período entre 2010 e 2014, não houve qualquer país a exceder os limites fixados por diretiva comunitária para o dióxido de enxofre (S02).

Além de Portugal, mais 12 países conseguiram ter emissões abaixo dos limites fixados em todos os poluentes.

O poluente NOx está mais relacionado com o tráfego automóvel, enquanto a maior parte (95%) do NH3 tem origem na atividade agrícola, principalmente devido aos fertilizantes e ao tratamento do estrume dos animais.

Altas concentrações de um dos componentes do NOx podem causar a inflamação das vias respiratórias e levar a problemas do sistema respiratório e a doença cardiovascular, recorda a EEA, acrescentando que o NH3 forma partículas nefastas na atmosfera e que ambos os poluentes afetam o equilíbrio os ecossistemas.

A revisão da diretiva dos limites de emissões de poluentes está a ser negociada pelo Parlamento Europeu e pelos Estados membros, um trabalho a decorrer durante a presidência holandesa da UE.

A proposta apresentada pela Comissão Europeia inclui os novos compromissos de redução fixados para 2020 e 2030 para aqueles quatro poluentes, a que se juntam limites para as partículas finas (PM2.5) e o metano (CH4).

Portugal continental
Os pólenes vão estar com níveis muito elevados, nos próximos sete dias, em todas as regiões de Portugal continental, informou...

Entre sexta-feira e o dia 16 de junho, os níveis de pólenes vão manter-se elevados devido à previsão de elevada temperatura, vento de norte e de noroeste, agravado por rara precipitação em todo o país, adianta a SPAIC, que divulga o Boletim Polínico todas as quintas-feiras durante a primavera, estação propícia a alergias.

Segundo o Boletim Polínico, os pólenes predominantes em Portugal continental serão das árvores oliveira, carvalhos, castanheiro e pinheiro, sobreiro, e das ervas gramíneas, azedas, tanchagem e parietária.

Nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores esperam-se concentrações baixas de pólenes, com predomínio dos pólenes da árvore pinheiro, palmeira e bétula e das ervas gramíneas, tanchagem e parietária.

Sociedade Portuguesa de Reumatologia
Reumatologistas portugueses destacam-se na Liga Europeia contra as Doenças Reumáticas, com uma distinção internacional de...

Segundo a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), a reumatologista Raquel Campanilho Marques, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, recebeu a distinção durante o Congresso Anual da Liga por explorar a eficácia e a segurança de uma terapêutica que recorre à utilização de antagonistas do fator de necrose tumoral (anti-TNF)) num grande grupo de doentes com dermatomiosite juvenil – uma doença rara mas grave que afeta quer a pele quer os músculos.

O estudo envolveu 66 doentes com dermatomiosite juvenil ativamente tratados com agentes anti-TNF durante um período médio de 2.76 anos, revelando que tanto os músculos como a pele parecem melhorar após a terapêutica.

A dermatomiosite juvenil é uma doença rara grave que afeta a pele e os músculos, podendo provocar incapacidade variável e ser potencialmente fatal.

O trabalho de Raquel Campanilho Marques foi realizado no Institute for Child Health da University College London, no Departamento de Reumatologia do Great Ormond Street Hospital for Children NHS Foundation Trust, em Londres.

Também João Eurico Cabral da Fonseca, reumatologista do Hospital de Santa Maria e Professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi reconhecido no congresso da EULAR, sendo o primeiro português a liderar a comissão científica da Liga.

A Liga Europeia contra as Doenças Reumáticas (EULAR) é uma organização que representa sociedades científicas, associações de profissionais de saúde e organizações de pessoas com doenças reumáticas por toda a Europa que pretende promover, estimular e apoiar a investigação, prevenção, tratamento das doenças reumáticas e a reabilitação dos doentes.

O Congresso Anual da Liga está a decorrer até sábado em Londres.

Infarmed
A apreensão de mais de 12 milhões de medicamentos falsificados com um valor superior a 46 milhões de euros, foi o resultado da...

Segundo a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saude/INFARMED, a operação internacional foi coordenada pela Interpol e pelo Organização Mundial das Alfândegas e nas ações desenvolvidas pelas entidades portuguesas (INFARMED e Autoridade Tributária/AT) foram controladas 8751 encomendas, das quais 82 foram apreendidas durante a semana - entre 30 de maio e 07 de junho - em que decorreu a operação.

Através do conjunto de encomendas apreendidas foi possível impedir a entrada em Portugal de 24.250 unidades de medicamentos ilegais com um valor estimado de cerca de 82.440 euros, adianta o INFARMED, observando que apesar dos alertas, os portugueses continuam a comprometer gravemente a sua saúde ao adquirirem medicamentos pela internet em websites não autorizados.

Entre os medicamentos falsificados e ilegais apreendidos durante a operação, a nível mundial, encontram-se medicamentos oncológicos, medicamentos derivados do sangue e anti-infeciosos, entre outros.

A nível internacional, da operação resultaram 611 investigações, a suspensão de mais de 42 anúncios de produtos farmacêuticos ilícitos através de plataformas de redes sociais e foram encerrados 4938 websites.

A operação teve ainda como alvo algumas das principais áreas exploradas pelo crime organizado no tráfico ilegal de medicamentos e dispositivos médicos on-line como o registo de domínios ilegais, serviços de pagamento eletrónico e sistemas e serviços de entrega postal.

Segundo a Interpol, através da estreita colaboração entre as autoridades policiais, agências de saúde, empresas de Internet e de pagamentos eletrónicos, a operação agora efetuada alcançou "progressos significativos na proteção dos consumidores inocentes, fechando farmácias online ilegais e apreendendo produtos farmacêuticos ilegais e falsificados".

No seguimento da operação, o INFARMED alerta para os perigos de quem compra medicamentos fora dos canais licenciados e controlados pela Autoridade Nacional do Medicamento, correndo assim "riscos graves e desnecessários".

O INFARMED indica os perigos, nomeadamente que os medicamentos podem ser falsificados ou contrafeitos, terem a composição alterada, estarem fora do prazo ou terem sido transportados sem quaisquer precauções. Como consequência, podem não fazer o efeito pretendido ou causar efeitos secundários inesperados.

"Muitos sites vendem medicamentos sem que haja a intervenção de um profissional de saúde, sem conhecerem a história clínica ou a existência de outras doenças, aumentando o risco para quem os toma. O medicamento encomendado pode não chegar a ser enviado ou ficar retido na alfândega. Alguns sites não garantem a confidencialidade dos dados pessoais" são outros riscos e perigos indicados pelo INFARMED.

Morte súbita cardíaca
Responsável por cerca de metade de todas as mortes de causa cardiovascular, a morte súbita é definid
Morte súbita

Dados da Sociedade Portuguesa de Cardiologia revelam que, em média, cerca de 10 mil portugueses serão atingidos pela morte súbita, tendo em conta os números da mortalidade anual associada às doenças cardiovasculares.

De acordo com o Professor Mário Oliveira, Cardiologista e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, sabe-se que os ataques de morte súbita são responsáveis “por cerca de metade de todas as mortes de causa cardiovascular e de 20 por cento da mortalidade total, o que lhe confere grande importância epidemiológica se considerarmos que, nos países desenvolvidos, são os eventos cardiovasculares a primeira causa de morte”.

As suas causas “são na grande maioria dos casos atribuídas a arritmias ventriculares muito rápidas no contexto de insuficiência cardíaca, na fase aguda do enfarte do miocárdio, em sobreviventes de enfartes do miocárdio ou nas doenças do músculo cardíaco conhecidas por miocardiopatias”.

“Nos jovens podem ocorrer em situações de doenças elécticas cardíacas hereditárias ou em miocardiopatias também de transmissão genética”, acrescenta Mário Oliveira.

A questão da hereditariedade, ainda que rara, nos casos de morte súbita estão assim relacionados a doenças “ditas «eléctricas primárias», em que a situação clínica se associa a canais iónicos das células cardíacas que, por terem mutações genéticas, podem ter a disfunção na sua atividade e facilitar o aparecimento de arritmias malignas causadoras de paragem cardíaca”.

Assinalam-se como fatores de risco, para além da história familiar, a hipertensão arterial, a hipercolesterolemia, a diabetes, o tabagismo e a obesidade.

Mais comum no sexo masculino, está relacionada com “a prevalência da doença coronária aterosclerótica (situação mais frequentemente encontrada em doentes com morte súbita)”.

De acordo com o cardiologista, a prevenção continua a ser a melhor arma. “Em primeiro lugar, é preciso prevenir a doença aterosclerótica com as medidas que estão ao nosso alcance, e que envolvem mudança dos hábitos de vida”, começa por explicar.

A avaliação regular para correção de fatores de risco e deteção precoce de anomalias, assim como a orientação terapêutica e difusão da informação à população de sinais de alerta, são também aspetos essenciais.

Mário Oliveira destaca “episódios de dor no peito, opressiva e acompanhada de sensação de sufoco e/ou sudação profusa ou a ocorrência de desmaios” como sinais que não deve descurar.

Doente de risco sobrevive a morte súbita

Considerado um doente de risco, José Lopes, 52 anos, sobreviveu a um ataque de morte súbita no passado dia 13 de Maio.

“Eu era hipertenso, e já ia a consultas de cardiologia. Tomava medicação para o colesterol, para a hipertensão, fumava, não tinha cuidado com a alimentação e não praticava desporto”, começa por contar.

Definindo-se com um doente despreocupado viu-se “obrigado” a alterar os seu hábitos de vida.

“Desde 13 de Maio que não fumo... E eu comecei a fumar com 13 ou 14 anos. Ainda que tenha feito umas paragens entretanto, regressei sempre ao vício”, afirma.

Quanto ao episódio que lhe poderia ter custado a vida, diz não se lembrar de muitas coisas.

“Eu estava em Lisboa a trabalhar – eu trabalho numa empresa de logística e tinha vindo fazer uma entrega – quando comecei a ter sintomas de um ataque cardíaco. Aí pedi ajuda para ir ao hospital, e quando lá cheguei fiz um electrocardiograma...”, recorda.

Foi enquanto esperava pelo resultados dos exames que José ficou inconsciente. “Ainda estava no hospital, seis horas depois senti um aperto no peito e só me lembro de cair para o lado”, acrescenta.

Os enfermeiros do hospital inciaram de imediato as manobras de reanimação e José acabou por ficar internado durante cinco dias. “A minha sorte foi estar no hospital e os enfermeiros iniciarem as manobras...”, diz.

“O médico disse-me para não viver com este trauma, mas que tinha mesmo de mudar os meus hábitos. Ter uma vida sem stress, não abusar do sal, não fumar...”, explica.

“Para além do pouco cuidado, eu tinha antecedentes familiares. O médico explicou-me que haveria um risco familiar associado, e a verdade é que os meus avós paternos morreram ambos de morte súbita”, revela.

A importância das manobras de reanimação

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, inúmeros casos de morte súbita poderiam ser evitados caso as manobras de reanimação fossem aplicadas de imediato e sugere que a sociedade seja “educada” nesse sentido.

“A nossa mensagem te de incidir sobre a necessidade de educar a população, desde a escola, a executar manobras de reanimação com suporte básico de vida, insistindo na importância de nos locais de trabalho, em zonas de maior aglomerado de pessoas – como os centros comerciais, zona públicas de grande afluência, recintos desportivos – se desenvolverem equipas com sistemas de reanimação de emergência organizados que permitam uma atuação imediata até chegarem os meios de socorro mais diferenciados, que poderão usar um desfibrilhador automático externo”, explica o Vice-Presidente da SPC.

De acordo com o especialista, o suporte básico de vida “é a única forma de manter a circulação por minutos, de modo a permitir a chegada dos técnicos (sejam bombeiros, equipas organizadas com treino adequado ou enfermeiros/médicos em viaturas de emergência devidamente apetrechadas) que possam usas um desfibrilhador e medicação necessária ao suporte mais avançado”.

Para além de salvar vidas, estas manobras permitem reduzir sequelas. “Pode acontecer que, numa reanimação mais prolongada, o doente apresente sequelas neurológicas, mas é tudo uma questão de tempo. Por cada minuto que passa sem intervenção eficaz mais difícil se torna conseguir bons resultados”, explica o cardiologista Mário Oliveira.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Universidade de Coimbra
A Universidade de Coimbra anunciou hoje que o seu Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) vai receber 1,4 milhões de...

Os quatro projetos financiados - FOIE GRAS, TREATMENT, METAFLUIDICS e REP-EAT – são consórcios internacionais de várias entidades académicas, empresariais, hospitalares e associativas.

“Aumentar a taxa de sucesso em projetos europeus e coordenar alguns deles foi uma das apostas da atual direção do CNC e estamos muito satisfeitos com o resultado”, refere o presidente do CNC, João Ramalho-Santos.

O projeto FOIE GRAS, do qual o CNC é o líder, beneficiará de 476.713 euros “para treinar investigadores sobre a síndrome do fígado gordo não alcoólico, promovendo simultaneamente a transferência para a sociedade do conhecimento adquirido”, explica a Universidade de Coimbra.

“A doença tem afetado um número crescente de indivíduos no mundo, contribuindo para aumentar o risco de diabetes, cirrose hepática e cancro”, sublinha.

Já o consórcio TREATMENT conta com 495.746 euros “para formar investigadores na avaliação de disfunções metabólicas observadas em alguns órgãos, nomeadamente no cérebro, músculo, fígado e tecido gordo, causadas pela toma prolongada de medicamentos na esquizofrenia, os quais poderão ter fortes impactos negativos na saúde e bem-estar dos doentes”.

Segundo a instituição, no projeto METAFLUIDICS, com 407.590 euros, o objetivo é “encontrar e estudar a funcionalidade de genes de enzimas com valor biotecnológico, bem como descobrir produtos metabólicos (por exemplo, antibióticos) a partir de bactérias que habitam ambientes de elevada temperatura (termófilos) ou de elevada salinidade (halófilos)”.

“Criar um programa de ensino e investigação doutoral no domínio interdisciplinar da alimentação, distúrbios alimentares e biologia da reprodução, capacitando jovens investigadores para um cruzamento holístico da investigação em saúde” é o que pretende o projeto REP-EAT, com um orçamento de 100 mil euros.

A Universidade de Coimbra considera que os cientistas do CNC envolvidos, nomeadamente Paulo Oliveira, Milton Costa, Eugénia Carvalho, Carlos Palmeira, João Ramalho-Santos e John Jones, “constituem um restrito grupo de sucesso, visto que estes projetos europeus apresentam reduzidas taxas de aprovação de 6% a 28%”.

Tipologia, Características e Períodos de Ocorrência da Agressão
A violência no seio familiar é um problema histórico e sociocultural de preocupante expressão em Por

O estudo “Violência Doméstica: Tipologia, Características e Períodos de Ocorrência da Agressão” procura analisar este fenómeno, com base na consulta do Processo Clínico de vítimas admitidas no Serviço de Urgência do HST-EPE, entre 2007 e 2010, com queixas configuradas na definição legal de Violência Doméstica (VD).

Trata-se de um estudo de corte transversal, quantitativo, assente em análise descritiva, numa amostra de 121 vítimas de Violência Domestica, que visa caracterizar as vítimas, o agressor e o espaço temporal de ocorrência.

Apurou-se que a maioria dos episódios de VD ocorrem à noite (39,7%) e fim-de-semana (38%), vítimas e agressores são cônjuges/companheiros (68,6%) e a violência física (75,2%) é a mais frequente, sendo as “bofetadas, murros, cabeçadas e pontapés” a agressão mais encontrada (52,9%). As lesões mais observadas foram, a “abrasão, escoriação, contusão, laceração e traumatismo” (94%), localizadas na “cabeça e pescoço” (68,3%), utilizando “cotovelos, cabeça, mãos e pés” do agressor, (40,5%).

Face à problemática estudada inferimos ser imperioso reforçar a investigação e monitorização do fenómeno, a qualificação de profissionais envolvidos, a sensibilização e educação da população, a promoção da segurança das vítimas e prevenção da reincidência, através da avaliação de risco e intervenções dirigidas aos agressores.

1 - Introdução

“Em 2010, 31 679 mulheres tropeçaram e bateram em cheio na maçaneta da porta”. Este é o slogan de uma campanha recente da APAV e os números são dados de 2010, das Estatísticas Oficiais da Justiça - Direcção-Geral da Política de Justiça e APAV. Por sua vez os dados que o “Observatório de Mulheres Assassinadas” publica, na página em linha da UMAR e para o mesmo período de tempo que a presente análise estuda, um total de 140 homicídios em contexto de Violência Doméstica (VD).

A prevalência da violência no seio conjugal, e particularmente a que vitimiza a mulher, não é um problema exclusivo das sociedades modernas. É um fenómeno que radica em práticas e costumes seculares, legitimadas ao longo dos tempos, a coberto dos cânones da tradição, da cultura, do silêncio cúmplice de testemunhas e do silêncio coagido da maior parte das vítimas. (Lisboa, 2005)

A problemática da VD é, pois, uma realidade histórica, cultural e social que assume uma expressão, cada vez mais dramática, na sociedade portuguesa pelo crescente e preocupante número de casos divulgados. Identificar os processos de violência a que estão sujeitas as pessoas vulneráveis e avaliar as condições da sua ocorrência no contexto da vida familiar e institucional de modo a prevenir futuras situações, requer o domínio de instrumentos de diagnóstico e avaliação sobre o problema.

As sociedades actuais encerram um potencial crescente de violência, o qual é, de certa forma, massificado e até trivializado, no eco que encontra não só nos media mas também e felizmente, na curiosidade e interesse de investigadores.

Apesar da comunicação social, de uma forma mais ou menos sensacionalista, ter banalizado o tema, ao torná-lo omnipresente nos seus relatos dramáticos, as estatísticas são preocupantes. A violência conjugal e, genericamente, a VD é, sem dúvida, um problema social antigo, que continua a exigir uma resposta actual e acutilante, com intervenções eficazes e assertivas, apenas possíveis se assentes nos contributos sérios de vários saberes e ciências humanas.

A violência no seio familiar é um fenómeno que preocupa a população em geral e em particular, e mais militantemente, as várias organizações governamentais e não-governamentais responsáveis que, no terreno, cerram fileiras no mais contumaz combate.

Em 1997, um estudo efectuado pela OMS em 10 países (Brasil, Etiópia, Japão, Sérvia e Montenegro, entre outros) demonstrou que a violência doméstica é um fenómeno universal e transversal, que ocorre em todas as culturas e regiões (WHO, 2005). No referente às mulheres de todo o mundo, mais de 70% foram já vítimas de VD em alguma altura das suas vidas (WHO, 2011). O Relatório Mundial Sobre Saúde e Violência atesta que, na sua maioria, as mortes ocorrem em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos e apenas 10% destas ocorre em países desenvolvidos (Dalhberg et al., 2002). Estes autores verificaram ainda que, tal como outros problemas de saúde, a violência não se distribui uniformemente pela população. Em 77% dos homicídios verificados em 2000, as vítimas foram homens, o que representa uma taxa três vezes superior à das mulheres. Relativamente às taxas de homicídios de mulheres, em países como Austrália, Canadá, Israel, África do Sul e EUA, calculam que entre 40 a 70% das vítimas femininas foram assassinadas pelos seus maridos, companheiros ou namorados, frequentemente num contexto de relacionamentos abusivos (Dalhberg et al., 2002).

Heise e Garcia-Moreno (2002), também salientam que uma das formas mais comuns da prática de violência contra mulheres é exercida por maridos ou parceiros íntimos, ao contrário do que ocorre com os homens, cuja violência parte de estranhos. O facto das mulheres se encontrarem emocional e economicamente dependentes dos agressores tem implicações específicas no contexto do abuso e nas estratégias para lidar com o problema. Por conseguinte, os abusos sexuais e físicos ocorrem diariamente em todo mundo e a maior parte destes eventos ocorre em casa, no local de trabalho e, até mesmo, nas instituições de saúde e sociais que deveriam proteger as vítimas.

Em Portugal, o primeiro Inquérito Nacional sobre Violência contra Mulheres foi realizado em 1995 (Lourenço; Lisboa; Pais, 1997), encontrando-se uma prevalência de 52,5% para, pelo menos, um tipo de violência (física, psicológica, sexual e discriminação sócio-cultural). Por outro lado, o espaço onde ocorrem as agressões

mais frequentemente é em casa (43%), seguido do espaço público (34%) e o local de trabalho (16%).

A violência contra pessoas consideradas vulneráveis, tais como mulheres, crianças e idosos, é um problema social com crescente visibilidade e expressão na sociedade portuguesa expressa pelo número de casos identificados e divulgados. A referenciação destes processos de violência contra pessoas, consideradas vulneráveis, bem como a avaliação das condições da sua ocorrência permite, no contexto da vida familiar e institucional, prevenir situações futuras.

Assumindo-se a VD como um flagelo social que se tem perpetuado ao longo dos tempos exige respostas e intervenções eficazes e assertivas. Por outro lado, sendo um fenómeno é de natureza multifacetada e apenas compreensível à luz de uma perspectiva inter e multidisciplinar, a investigação a que nos propomos neste trabalho socorre-se, igualmente, dos contributos dos vários saberes e ciências humanas.

2 - Violência doméstica: do enquadramento histórico à tipificação criminal 

A Violência Doméstica é um fenómeno sociocultural secular, de tipologia complexa e diversificada, onde confluem e interagem, como afirma Costa (2003), uma plêiade de factores de ordem social, cultural, psicológica, ideológica e económica, entre outros. Por outro lado é também uma entidade que configura uma grave violação dos direitos humanos, tal como é definida na Declaração e Plataforma de Acção de Pequim, da Organização das Nações Unidas, que considera a violência contra as mulheres, um obstáculo à concretização dos objectivos de igualdade, desenvolvimento e paz, violando, dificultando ou anulando o gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais (Portugal, Resolução do Conselho de Ministros N.º 100/2010).

O primeiro caso oficial de maus-tratos físicos ocorreu contra uma criança, nos EUA, no ano de 1874, quando uma menina, Mary Ellen, era espancada pela madrasta e foi encaminhada, à falta de melhor, à Sociedade de Prevenção de Crueldade contra Animais. Com o pragmatismo pujante e o alicerce humanista e liberal da jovem democracia americana, no ano seguinte, foi criada, em Nova Iorque, a Sociedade de Prevenção de Crueldade contra Crianças (Chaves, 2009).

Em Portugal, só a partir da década de oitenta do século passado é que a VD foi reconhecida, como um problema social. Tal como tinha sucedido noutros países, foi a comunidade pediátrica que primeiramente alertou para o problema, ao denunciar os maus tratos infligidos a crianças. (Dias, 2000). Em 1962, C. Henry Kempe e colaboradores publicaram no Journal of the American Medical Association um estudo sobre a síndrome da criança agredida alertando, pela primeira vez, a atenção da opinião pública e a comunidade científica para o problema (Azambuja e Nogueira, 2008).

Quanto às mulheres, a violência a que estavam sujeitas nos seus próprios lares, apenas podia contar, até à década de noventa, com a denúncia e apoio de organizações não governamentais e só a partir dessa época é que começa a ser produzida legislação especificamente orientada para as vítimas de VD dando

resposta, não só, a um problema com crescente consciencialização social, como também subscrevendo o conjunto das recomendações europeias desenvolvidas no domínio desta problemática.

Considera-se violência doméstica

“(…) qualquer acto, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou económicos, de modo directo ou indirecto (por meio de ameaças, enganos, coacção ou qualquer outro meio) a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas – crianças, jovens, mulheres adultas, homens adultos ou idosos – a viver em alojamento comum) ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital” (MACHADO; GONÇALVES, 2003).

A VD, na sua definição, abrange diversas espécies de violência, como a violência conjugal, violência contra crianças, violência contra idosos, contra o ex-conjugue ou contra o progenitor e/ou descendente em primeiro grau (Ferreira, 2005). Assume assim todas as formas de abuso que ocorrem nas relações entre os membros de uma família (Corsi, 1999). Em Portugal, segundo a definição proposta pela Comissão de Peritos para o Acompanhamento de Execução do Plano Nacional contra a Violência Doméstica entende-se por VD:

“Qualquer conduta ou omissão que inflija, reiteradamente, sofrimentos físicos, sexuais, psicológicos ou económicos, de modo directo ou indirecto (por meio de ameaças, enganos, coação ou qualquer outro meio), a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico ou que, não habitando, seja cônjuge/companheiro ou ex-cônjuge/ex-companheiro, bem como ascendentes ou descendentes” (Portugal, 2000)

Uma das alterações mais radicais e recentes que a sociedade portuguesa conheceu prende-se com a transformação da condição e estatuto da mulher, nomeadamente a nível do acesso ao ensino, emprego, família, entre outras, apesar de persistir, no entanto, ainda uma certa desvalorização social e até política de

algumas das tarefas que cultural e tradicionalmente lhes estão atribuídas, tanto na esfera privada, como na pública (Alarcão, 2000).

2.1 - Caracterização da violência doméstica em Portugal 

O relatório anual da APAV divulga que, no ano de 2010 em Portugal, houve 6932 casos de violência doméstica reportados para esta entidade. Destes, 56 casos ocorreram em Viseu, representando 0,8% do total de casos (APAV, 2011).

Os distritos onde se regista um maior número de episódios denunciados são Lisboa e Porto, com uma frequência de 17,8% e 8,6%, respectivamente, o que poderá ser entendido pela maior densidade populacional e também uma cultura social mais sensibilizada para a criminalização da violência conjugal (APAV, 2011).

A tendência em Portugal é para que a VD seja exercida essencialmente em mulheres, cerca de 87%, na faixa etária entre os 26 e 45 anos de idade (26,1%), já que apenas 23% dos casos ocorrem na população masculina (APAV, 2011).

Em termos familiares, o estado civil casado prevalece, com uma frequência de 39,4%, seguido do estado civil solteira/o, com uma representação de 18,6%. Por sua vez, o tipo de família nuclear com filhos apresenta uma percentagem muito significativa, representando 50,2% dos casos, face a famílias monoparentais (11%) ou sem filhos (5,7%), (APAV, 2011).

É de salientar que o grau de escolaridade das vítimas que procuraram a APAV em 2010 se distribui de forma muito equitativa, embora seja o nível de ensino superior que apresentava valores ligeiramente acima dos restantes, com cerca de 6,6% dos casos registados (APAV, 2011).

A maioria das vítimas encontrava-se numa situação económica estável, sendo que apenas 2% era doméstica e 15,6% era desempregada, contrastando com os 33% que se encontravam empregadas e têm como principal meio de vida o rendimento do trabalho por conta de outrem (25,2%) (APAV, 2011).

A existência de laços familiares entre o agressor e a vítima são as situações mais comummente encontradas. Em termos relacionais, a maior incidência verifica-

se entre cônjuges/companheiros, com uma representação de 48,5% dos registos (APAV, 2011).

O Relatório de Monitorização – Violência Doméstica – 1º Semestre de 2011 apresenta um registo de 14508 participações de VD pelas forças de segurança que, embora não sendo homogéneo para a PSP e para a GNR, correspondendo globalmente a um valor médio de 2418 participações por mês e 80 por dia, o que revela uma inversão de tendência (-4,6%) relativamente ao período homólogo de 2010 (Portugal, 2011).

Os registos que apresentam maior número de participações continuam a ser o de Lisboa e Porto e verifica-se que, no período em análise, o mês em que se registaram mais ocorrências foi Maio (18,0%,). Os dias da semana com maior número de ocorrências são o Sábado e Domingo (16,4% e 18,2% respectivamente) e o período do dia é à Noite – 19:00H às 00:00H – com 45,8% das ocorrências. A violência de tipo físico esteve presente em 73,0% das situações, a psicológica em 78%, a sexual em quase 2%, a económica em 6% e a social em 9%. As consequências para a vítima foram “ferimentos ligeiros” (48,0%) e em 51,0% dos casos foi registada a ausência de lesões. Em cerca de 1,0% dos casos os ferimentos resultantes foram graves ou resultaram na morte da vítima. Segundo os dados do Observatório das Mulheres Assassinadas da UMAR, este ano, em Portugal, já morreram 23 mulheres, vítimas de VD. Em consonância com os dados dos anos anteriores, a larga maioria das vítimas era do sexo feminino (85%) e os/as denunciados/as do sexo masculino (88%) (Portugal, 2011).

Cerca de 85% das vítimas tinha nacionalidade portuguesa e no que diz respeito à idade, as vítimas encontravam-se no grupo etário dos 25 a 64 anos (77,0%), com idades médias de 40 anos (dp =17) (portugal, 2011).

Em termos do estado civil das vítimas, 50% eram casadas ou viviam em união de facto e tinham, na ocasião da participação da ocorrência, uma relação conjugal com o/a agressor/a (62,0%). Em termos de situação profissional, 50,0% das vítimas encontrava-se empregada, 22,0% estavam desempregadas, cerca de 12,0% eram domésticas, 10,0% eram reformadas ou pensionistas e as vítimas estudantes representavam cerca de 8,0% (Portugal, 2011).

O estudo da vitimização e a tipificação da acção importam para a compreensão do fenómeno da VD. Relativamente a esta temática, importa salientar que a vitimização continuada é uma característica presente em 70,0% dos casos, sendo as situações pontuais bastante residuais (9,0%). Por vitimização continuada entende-se a vitimação reiterada no tempo, de um determinado crime. Reflectindo a vitimização continuada, a APAV registou que 26,1% dos crimes já se registavam a mais de dois anos (APAV, 2011).

O local de crime mais assinalado é a residência comum, em 56,1% dos casos, enquanto em apenas 0,1% dos casos se verifica a agressão em unidades de saúde (APAV, 2011)

Dos casos reportados à APAV, 34,0% foram reportados às autoridades responsáveis, ou seja, foi efectuada denúncia/queixa junto de uma das autoridades competentes aquando o primeiro contacto com a instituição. Atendendo aos locais de queixa/denúncia assinalados, aproximadamente 40,4% destas foram efectuadas à PSP, seguindo-se da GNR, com 25,5% das ocorrências (APAV, 2011).

2.2 - Tipos de violência e enquadramento legal do crime de violência doméstica 

A Lei nº 7/2000, de 27 de Maio (LEI N.º7/2000) altera o CP e o CPP, no que se refere à regulamentação de alguns aspectos relativos ao crime de maus-tratos. Representa, por si só, uma conquista civilizacional, uma vez que, através dela, o ordenamento jurídico português passa a consagrar a natureza pública, aos crimes de VD, rejeitando definitivamente a concepção tradicionalista da inviolabilidade da vida conjugal. Com esta alteração social e juridicamente fracturante, o procedimento criminal, para este tipo de crimes, já não depende da queixa da vítima, bastando a denúncia ou o simples conhecimento do crime, para que o Ministério Público accione o processo (Ferreira, 2005).

A APAV (2011) advoga que o crime de VD pode ser distinguido em VD em sentido estrito, que representa os actos criminais enquadráveis no art. 152º do CPP: maus-tratos físicos e psíquicos, ameaças, coacção, injúrias, difamação e ofensas sexuais e VD em sentido lato, que engloba outros crimes em contacto doméstico, como a violação de

domicílio ou perturbação da vida privada, bem como a devassa da vida privada (através de imagens, conversas telefónicas, e-mails, revelação de segredos e/ou factos privados, entre outros), violação de correspondência ou de telecomunicações, violência sexual, subtracção de menor, violação da obrigação de alimento, homicídio na forma tentada ou consumada, dano e furto ou roubo.

Ao encontro desta definição, é possível afirmar que, no âmbito do crime de VD, os registos mais frequentes realizados, pela APAV em 2010, referem-se aos maus tratos físicos (30,0%) e maus tratos psicológicos (36,8%).

A VD abrange múltiplas formas de violência que atingem os cônjuges ou companheiros. Dessas formas de violência, que incluem a violência física, a violência psíquica e a violência sexual, Machado e Gonçalves (2003), elencam as seguintes:

  • Coagir e ameaçar: Ameaçar provocar lesões à vítima; ameaçar abandonar, suicidar-se, queixar-se do cônjuge à segurança social; coagir para a prática de condutas ilícitas.
  • Intimidar: Atemorizar através de olhares, actos e comportamentos; quebrar objectos; destruir pertences ou objectos pessoais da vítima; maltratar animais domésticos; exibir armas.
  • Violência emocional: Desmoralizar; destruir a auto-estima do outro; insultar e humilhar; fazer com que o outro se sinta diminuído mentalmente, ou culpado.
  • Isolar: Controlar a vida do outro, querendo saber com quem fala, vigiar aparelhos de comunicação, as deslocações; limitar o envolvimento externo do outro; utilizar o ciúme como justificação do isolamento; minimizar, negar, condenar; desvalorizar o acto de violência e não atender às preocupações da vítima; negar as agressões ou actos de violência; transferir para a vítima a culpa pelo acto de violência; instrumentalizar os filhos; fazer a vítima sentir-se culpada, em relação aos filhos; usar os filhos para passar mensagens; ameaçar retirar os filhos.
  • “Privilégios” machistas: Tratar a mulher como uma empregada doméstica; não atender à opinião do outro na tomada de decisões importantes; definir qual o papel do homem e da mulher.
  • Violência económica: Impedir que o outro tenha ou mantenha um emprego; forçar o pedido de dinheiro; atribuir uma mesada; retirar o dinheiro do outro; esconder do outro a realidade financeira familiar.

O conhecimento do Ciclo de Violência é muito importante para a interpretação e compreensão da agressão conjugal, uma vez que na sua generalidade a agressão obedece a um padrão e é continuada ao longo do tempo (Sanmartín, 2000).

A maioria dos especialistas que estuda o fenómeno de violência conjugal acredita que este possui uma matriz cíclica, de intensidade crescente, cujas de evolução são:

a. Fase de acumulação de tensão: Identifica-se a ocorrência de pequenos episódios geradores de conflito, que se vão intensificando e tornando mais frequente ao longo do tempo, originando um clima de grande ansiedade e hostilidade.

b. Fase do ataque violento: A explosão ocorre, com libertação de tensão, hostilidade e ansiedade acumuladas e que se descarregam de forma violenta, variando na sua gravidade.

c. Fase do apaziguamento ou “Lua-de-mel”: Nesta fase o agressor demonstra arrependimento perante a vítima e compromete-se a não repetir o comportamento violento.

Este ciclo inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, volta a iniciar-se e à medida que o tempo passa, os ciclos tornam-se cada vez mais voláteis, menos espaçados e a fase de agressão torna-se cada vez mais violenta (Portugal, 2003 apud Alves, 2005).

2.3 - A simetria de género no âmbito da violência conjugal 

A violência conjugal não se resume à violência da qual a mulher é a vítima mais comum. Hoje sabemos que também há homens vítimas de violência conjugal, em relações heterossexuais (Lisboa; Barroso; Marteleira, 2005).

Apesar da VD atingir indiscriminadamente qualquer dos elementos do agregado familiar, a realidade mostra que as mulheres constituem o grupo sobre o qual se continua a verificar a maior parte das ocorrências. No entanto e apesar disto, a questão da simetria de género, no âmbito fenómeno da VD tem vindo a ganhar espaço no seio do debate científico.

A questão de se averiguar quem é que assume um papel preponderantemente agressor, no seio da união conjugal heterossexual tem suscitado as mais sortidas respostas, já que estas variam, em função das filiações teóricas dos investigadores envolvidos, das respectivas metodologias adoptadas e das populações-alvo analisadas.

Até aos dias de hoje, o conceito dominante sobre o fenómeno da VD tem partido do pressuposto da maior propensão masculina para a violência, sendo esta quase sempre entendida, mesmo no âmbito da VD, apenas na sua dimensão física. De facto a VD tem vindo quase sempre a ser entendida como conjugal e frequentemente associada à mulher vítima de maus-tratos, o que é um facto não subestimável, já que as pesquisas efectuadas neste âmbito começaram por ter um pendor e empenho feminista preponderante. No entanto, mais tarde, como nota Casimiro (2008), a par da abordagem feminista, que se dedicou a estudar o fenómeno, no quadro da cultura machista dominante, surge nos EUA, uma nova perspectiva desenhada por sociólogos, psicólogos, terapeutas familiares e criminologistas (family violence researchers), que entendem a violência entre cônjuges como uma realidade, multifacetada e ainda mais complexa, onde o recurso à violência tanto pode partir do homem como da mulher.

Nesta linha de investigação e ao contrário do que era tradicional, Straus (1979) identificou três tipos de estratégias, mais frequentemente utilizadas por homens e mulheres, na resolução dos conflitos, como a discussão e argumentação racional, a agressão verbal (com insultos e ameaças) e a violência, com uso explícito de força física.

A investigação de Straus (1979), ao contrário das de outros autores, que se objectivavam especificamente sobre indivíduos que se sabia à priori terem sido vítimas de alguma forma de violência no seio conjugal, eram dirigidos à população em geral, contemplando indiscriminadamente, homens e mulheres, tornando o estudo menos enviesado e permitindo ao autor concluir que, no seio conjugal, as esposas/companheiras são tão, ou mais violentas que os maridos/companheiros. Outros estudos se seguiram, nas décadas subsequentes, em outros países que não apenas os EUA, empregando igualmente as CTS de Straus (1979) e têm vindo a corroborar que a realidade revelada, das agressões exercidas por mulheres sobre os homens, pode ser entendida como um fenómeno social idêntico, em natureza e magnitude, ao das mulheres maltratadas.

No entanto, o modelo teórico dos investigadores filiados na perspectiva feminista, no qual o homem é assumido, invariavelmente, como agressor e detentor do poder e a mulher em subordinação e no papel de vítima continua a ser válido para explicar as formas de VD severas como, por exemplo, o “terrorismo patriarcal” (Johnson, 2005) porém somos levados a concordar com Fergusson et al. (2002), quando defendem que este modelo já não é suficientemente satisfatório para explicar a plenitude multifacetada do fenómeno da VD, uma vez que a violência física e psicológica no seio conjugal pode, em alguns casos, não ser apenas uma questão de género e sim estar relacionada com a própria dinâmica relacional conjugal (Widmer et al., 2006).

Nesta perspectiva somos concordantes com Casimiro (2008) quando afirma que, “No casal, a violência pode assumir um carácter de simetria bilateral, uma vez que tanto os homens como as mulheres podem ser agressores ou agredidos.”

3 – Material e métodos 

O estudo “Violência Doméstica: Tipologia, Características e Períodos de Ocorrência da Agressão” analisa o fenómeno da VD, a partir do acesso aos Processos Clínicos (PC) referentes a admissões no Serviço de Urgência (SU) do HST-EPE, actual CHTV- EPE, entre 2007 e 2010 e que se inscrevem taxonomicamente na definição plasmada no nº 2 do Artigo 152º do CP.

A inexistência de investigação significativa sobre VD no distrito de Viseu justifica o desenvolvimento do estudo “Violência Doméstica: Tipologia, Características e Períodos de Ocorrência da Agressão”, que procurou traçar o perfil das vítimas de VD que recorreram ao SU do CHTV, no quadriénio entre Junho de 2007 a Dezembro de 2010.

3.1 - Tipo de estudo

O estudo descritivo, de natureza retrospectiva transversal foi realizado com 121 vítimas de VD com uma média de idades de 44,15 anos, maioritariamente do sexo feminino (89,3%), casadas (62,0%), de nacionalidade portuguesa (97,5%) sendo 108 indivíduos do sexo feminino (89,3%) e 13 do sexo masculino (10,7%), com idades compreendidas entre os 18 e 87 anos e com uma média de idades de 44,15 anos.

A maioria dos sujeitos tem idade compreendida entre os 44 e os 54 anos (27,3%), é do sexo feminino (89,3%), é casada (62,0%), tem nacionalidade portuguesa (97,5%) e tem uma relação de parentesco com o agressor, do tipo conjugal (68,6%).

O método de amostragem, foi não probabilístico por conveniência e os critérios de inclusão dos participantes foram:

  • Admissão no SU do HST-EPE, no período de Junho de 2007 a Dezembro de 2010;
  • Ser vítima de VD, de maioridade (≥ 18 anos) e ter apresentado evidências compagináveis com o enunciado do artigo 152º do Código Penal Português).

Como critério de exclusão dos participantes considerou-se os Processos Clínicos cuja informação não era minimamente suficiente aos objectivos do estudo.

3.2. Objectivos e questões de investigação 

Para o presente estudo foram delineados os seguintes objectivos:

  • Categorizar o período temporal (hora, dia da semana, dia do mês, mês e ano) de maior ocorrência do episódio de VD;
  • Listar o tipo de agressão e as lesões/queixas mais frequentes apresentadas pelas vítimas de VD;
  • Identificar o grau de parentesco entre a vítima e o agressor;
  • Explicar a variabilidade do tipo de violência, em função da idade da vítima;
  • Descrever a tipologia da violência ocorrida, em função do período do dia, da semana e do mês.

Para uma melhor orientação metodológica do estudo, foram estabelecidas as seguintes questões de investigação:

  • Em que período (do dia, dia da semana, do mês e mês), ocorre o episódio de VD?
  • Que tipo de agressão (tipo de violência infligida, actos de violência exercidos, tipo de lesão, localização anatómica, instrumentos/meios utilizados na agressão, diagnóstico clínico e tipo de agressão/lesões/queixas nas dimensões psico-afectivas, socias e sexuaisse observa nas vítimas de VD?
  • Qual o tipo de relação entre a vítima e agressor?
  • Em que medida a variável idade da vítima de VD está relacionada com o tipo de violência?
  • Em que medida o tipo de violência varia em função do período do dia, da semana e do mês?

3.3 - Instrumento de recolha de dados 

A informação disponível no Processo Clínico foi colhida tendo por base um guião com as seguintes componentes: Identificação do Processo Clínico; Identificação Elementar da Vítima; Existência de Consulta Médico-Legal no IML; Caracterização Sócio-Cultural da Vítima; Problemáticas no Agregado Familiar da Vítima, segundo o Parentesco; Caracterização do Episódio de Agressão; Caracterização Sócio-Cultural do Agressor e Problemáticas do Agressor.

A colheita de dados foi efectivada de 8 de Junho de 2011 a 30 de Agosto de 2011, a partir da informação disponibilizada pelo “Serviço de Doentes” do CHTV-EPE, que seleccionou da Base de Dados do Sistema Integrado de Informação Hospitalar (SONHO), por “Causa de Admissão” no quadriénio de 2007 a 2010.

3.4 - Procedimento ético-legais 

O pedido formal de autorização foi dirigido ao Conselho de Administração do CHTV e deferido com o parecer favorável da respectiva Comissão de Ética e da Comissão Nacional de Tratamento de Dados.

Os dados obtidos foram organizados e tratados estatística e analiticamente, com recurso ao programa “Statistical Package for Social Science”- SPSS®, versão 19 para Windows®.

4 - Resultados 

O ano com maior número de ocorrências foi o de 2008, com 38,8% seguindo-se o ano de 2009, com 24,0%, (cf. Quadro 1).

Quadro 1 - Número de admissões no SU do HST-EPE, por VD, por ano, no quadriénio 2007-2010.

4.1 - Caracterização sociodemográfica e sociofamiliar das vítimas de VD

Observa-se que a amostra (n = 121) é maioritariamente constituída por mulheres (89,3%, n=108), pois inclui apenas 13 homens (10,7%). As idades estão maioritariamente inscritas no grupo etário dos 44 aos 54 anos (27,3%), com uma média de idades de 44,15 anos (dp =15,32).

A relação de parentesco com o agressor, é do tipo conjugal (68,6%), sendo que o mais baixo número de ocorrências se verifica entre ex-casais (3,3%) e onde o pai ou o irmão são agressores (0,8%, em ambos os casos) (cf. Quadro 2).

No que respeita à coabitação entre vítima e agressor, a informação obtida é escassa, apurando-se que, 15,7% das vítimas coabitavam com o seu agressor, (cf. Quadro 2).

Quadro 2 - Apresentação das características sociodemográficas e Socio-familiares das vítimas de VD

4.2 - Caracterização do episódio de violência doméstica 

Para melhor compreensão e análise dos dados seguiu-se a tipologia de registo da hora de ocorrência da DGAI (2009) tendo sido definidos os seguintes períodos do dia: “Manhã” (07H-13H), “Tarde” (13H-19H), “Noite” (19H-01H) e “Madrugada” (01H-07H). Assim, verificamos que os episódios de violência ocorreram sobretudo no período da noite [19:00H às 01:00H[ (38,0%), maioritariamente ao Sábado (22,3%), seguindo-lhe o Domingo, com 15,7%, (cf. Quadro 3).

O período do mês com mais ocorrências situa-se entre o 21º e o 31º dias do mês (35,5%), seguindo-se-lhe o período compreendido entre o 11º ao 20º dia (33,9%). O mês em que se registou maior número de ocorrências foi Agosto (14,0%), logo seguido pelo mês de Março (13,2%.) (cf. Quadro 3).

Quadro 3 - Caracterização Temporal dos Episódios de VD.

4.3 - Caracterização do agressor 

A informação disponível sobre o agressor era muito escassa, pelo que apenas foi possível apurar-se ser casado (64,5%), do sexo masculino (78,5%), que mantém um relacionamento conjugal ou similar com a vítima (68,6%) e coabita com ela em 9,9% dos casos estudados (cf. Quadro 4).

Quadro 4 - Caracterização do Agressor.

4.4 – Caracterização da agressão: tipo de violência e suas especificidades 

A caracterização da agressão teve início pela análise do tipo de violência sofrida pelas vítimas caracterizando-se, ainda, os actos de violência sofridos, o tipo de lesão e a localização anatómica.

Apurou-se que, a lesão mais frequente é do tipo físico (75,2%), seguindo-se a física e psicológica (21,5%). Os actos de violência exercidos com maior frequência foram “Bofetadas, Murros, Cabeçadas e Pontapés” relatados por 52,9% das vítimas, destacando-se claramente dos demais (cf. Quadro 5).

Na dimensão física do tipo de lesão, que representa 98,4% dos casos [correspondentes ao somatório da parcela “Violência Física” (75,2%) + “Violência Física e Psicológica” (21,5%) + “Violência Física, Psicológica e Sexual (1,7%)], destaca-se a Abrasão, Contusão, Escoriação, Laceração, Traumatismo (94,0%), (cf. Quadro 5).

Na dimensão psico-afectiva a ansiedade/stress emocional afectou 7,4% das vítimas e na dimensão sexual evidencia-se a violação, em 1,68% dos casos (cf. Quadro 5).

A localização anatómica com maior incidência foi a cabeça/pescoço (68,3%) e os instrumentos e/ou meios utilizados preferencialmente na agressão foram o corpo do agressor, ou seja, a cabeça, o cotovelo, as mãos e os pés, com uma expressão de 40,5%, seguido de objecto contundentes, com 6,6% (cf. Quadro 5).

Quadro 5 – Caracterização da agressão: tipo de violência e suas especificidades.

O Diagnóstico clínico de “Agressão” é o que consta da maioria dos PC, com 29,6%, seguido de “Traumatismos diversos”, com 15,2%, (cf. Quadro 6).

Decorrente do motivo da ida ao SU e considerando o Diagnóstico clínico, os dados recolhidos permitem-nos constatar que “Agressão” é o diagnóstico que se encontra definido na maioria dos registos, com uma expressão de 29,6%, seguido de “Traumatismos diversos”, com 15,2%, (cf. Quadro 6).

Quadro 6 – Diagnóstico clínico.

4.5 - Tipo de agressão na dimensão psicoafectiva: sinais e sintomas 

Neste domínio e dada a dispersão dos dados foi julgado necessário, para melhor compreensão, construir grupos de entidades com afinidade ou relação intrínseca. Desta forma percebe-se que a Ansiedade/Stress Emocional constitui a tipologia com maior expressão (7,4%), seguido de Medo/Angústia e Choro fácil/Convulsivo/Labilidade Emocional (cf. Quadro 7).

Quadro 7 – Tipo de agressão na Dimensão Psicoafectiva: Sinais e sintomas.

4.6 - Tipo de agressão na dimensão social 

A escassez dos dados recolhidos não nos permite destacar um tipo de agressão. Mencionaremos apenas que, um dos casos já se encontrava referenciado pelos serviços da Segurança Social, noutro a vítima desistiu da queixa, por se encontrar desempregada e recear represálias por parte do marido agressor e um outro configurava um quadro de negligência e maus-tratos e a vítima foi um idoso (cf. Quadro 8).

Quadro 8 – Tipo de Agressão na Dimensão Social.

4.7 - Tipo de agressão na dimensão sexual

No âmbito da VD, a agressão sexual, por se assumir como um tema particularmente problemático devido à convicção generalizada, em certos meios, de que a mulher casada é obrigada a ter relações sexuais com o cônjuge, mesmo contra a sua vontade, é das áreas que suscita mais polémica e dificuldades em ser estudada. Este facto, por certo, justificará a escassez de informação que, determina não ser possível destacar um ou mais tipos de agressão, mas apenas mencionar os que foram relatados e que se reportam dois casos, um com descrição de “violação por via vaginal” e outro que é referido como “violação múltipla” (cf. Quadro 9).

Quadro 9 – Tipo de Agressão na Dimensão Sexual.

4.8 - Tipo de violência vs idade e hora de ocorrência 

Na procura de resultados que sustentem a relação do tipo de VD com outras variáveis recodificámos a variável Tipo de Violência criando, para o efeito, um grupo constituído pela Violência Física e um outro que englobasse todas as outras formas relatadas (Psicológica, Social e Sexual).

Efectuando o teste “U de Mann-Whitney” para determinar a diferença entre o Tipo de Violência e a idade das vítimas verificou-se que, apesar de no grupo da Violência física se terem obtido ordenações médias superiores (61,41 vs 59,77), as mesmas não são estatisticamente significativas, pelo que inferimos que o tipo de violência exercida não difere ao longo do intervalo de idades encontrado para as vítimas do nosso estudo (18 aos 87 anos de idade) (U = 1328,000; z = - 0,222; p = 0,824) (cf. Quadro 10).

Quadro 10 – Resultados do teste U de Mann-Whitney entre os grupos de tipos de violência e a idade. 

A maioria das vítimas de VD, foi agredida durante o período da noite (57,9%) sendo representativa em ambos os tipos de violência (física e outros) (cf. Quadro12).

Quadro 11 - Tipo de violência vs período do dia. 

Quadro 12 - Tipo de violência em relação ao período do dia (dia ou noite).

A análise da variabilidade do tipo de violência em função dos dias da semana e do período do mês revela que, apesar da ocorrência de violência física ser mais frequente ao Sábado e na primeira quinzena, ela não se distingue das restantes formas de violência, (respectivamente χ2=0,031 e χ2=0,031) (cf. Quadros 3 e 13).

Quadro 13 - Tipo de violência em função do período da semana e do mês.

5 - Discussão

A temática da VD é sempre polémica e qualquer intenção de a estudar confronta-se invariavelmente com inúmeros e inesperados obstáculos. Este estudo defrontou-se com várias dificuldades e limitações inerentes ao tipo de investigação, desde logo o “n” amostral demasiado reduzido foi uma das dificuldades com que nos deparámos e finalmente, a frustração que sentimos, quando nos confrontámos com a exiguidade e até omissão de informação relevante, que os Processos Clínicos, a que nos foi dado acesso continham.

A caracterização sócio-demográfica da vítima encontra paralelismo nos resultados divulgados pela APAV (2011) e DGAI (Portugal, 2011), uma vez que a vítima é, na sua maioria, do sexo feminino, tal como os resultados supracitados (APAV = 87%; DGAI = 84,5%). As faixas etárias mais frequentes foram dos 18 aos 32 anos (26,4%) e dos 44 aos 54 anos (27,3%) encontrando a APAV em 2011 valores mais elevados para as vítimas mais jovens, 87% e 26% respectivamente; DGAI (Portugal, 2011) dos 25-65 anos com 77,1%. O estudo “O tratamento da violência doméstica no âmbito da Administração de Justiça”, do Laboratório de Sociologia Jurídica da Universidade de Saragoça, (APAV, 2004) divulga uma realidade igualmente em consonância, apostando que 83% das vítimas de violência doméstica são mulheres. O facto de as mulheres serem o grupo com maior número de vítimas de violência doméstica (Casimiro, 2002) reflecte o estado social em que ainda vivemos. Apesar das mudanças observadas no “pós-25 de Abril”, na estrutura social e de família, à mulher continua reservado um lugar de subalternização face à hegemonia masculina e em que o acto de violência é ainda entendido, em certos meios, como sendo uma prerrogativa necessária e uma forma de reprimenda e admoestação outorgada ao homem, na assunção da autoridade famíliar. Um outro factor determinante para a maioria das vítimas serem mulheres é o facto de estas representarem, maioritariamente, uma das partes mais frágeis da relação (Dias, 2000).

O estado civil predominante da vítima é o casado, com uma representação de 62,0%, valor percentual mais elevado do que os constatados em APAV (2011) e DGAI (Portugal, 2011) com 39,6% e 45,3%, respectivamente. A relação com o agressor é do tipo conjugal (69,4%), tal como o encontrado no relatório da DGAI (Portugal, 2011) (62%). Esta característica vai ao encontro do anteriormente exposto, evidenciando que as vítimas, na sua maioria mulheres, numa atitude extrema para manter a aparência do casamento e esconder a vitimização de que são alvo, sujeitam-se à violência perpetrada pelo cônjuge.

A nacionalidade portuguesa é a que predomina, (97,5%), ainda em consonância com APAV (2011) e DGAI (Portugal, 2011), que apresentam 68,0% e 84,6%, respectivamente.

A relação de parentesco com o agressor é destacadamente do tipo conjugal, com 69,4% (APAV, 2011 = 48,5%). O desvio nas percentagens observadas entre os dados obtidos no presente estudo e os dados apresentados pela APAV poderá estar relacionado com as diferenças sócioculturais da amostra. A amostra utilizada no nosso estudo é menor do que a representada no estudo da APAV, uma vez que Viseu é apenas um distrito e a amostra da APAV inclui todos os distritos do país, incluindo os grandes centros urbanos. A prevalência do estado civil casada, ao contrário do apresentado pela APAV poderá prender-se com a realidade sóciocultural do distrito de Viseu, onde o casamento ainda é encarado como uma união inquebrável, mesmo quando a mulher é vítima de VD, seja ela de que tipo for.

Por outro lado, verifica-se uma grande representação da nacionalidade portuguesa no nosso estudo, enquanto na APAV (2011), apesar da maioria da amostra ser de nacionalidade portuguesa, a sua representação não é tão significativa. Tal como os resultados anteriores, também este fenómeno, pode ser explicado pela diferente realidade sóciocultural, uma vez que a taxa de imigração para o distrito de Viseu é muito baixa, quando equiparada aos grandes centros urbanos estudados pela APAV (2011).

Por tudo isto, é necessário atender às diferentes realidades sócioculturais da nossa amostra quando comparadas com realidades, muito mais diversificadas, como sejam as amostras da APAV (2011) e da DGAI (Portugal, 2011).

A ocorrência de episódio de VD foi maior ao Sábado (22,3%) e à noite (39,7%. A elevada incidência neste período temporal poderá dever-se ao fenómeno de VD se encontrar muitas vezes associado ao alcoolismo do agressor (Zilberman, 2005), sendo os períodos da noite e de fim-de-semana associados a um maior consumo de álcool. Observa-se ainda, que o mês com mais episódios é Agosto (14%), sendo que estes dados vão ao encontro do anteriormente exposto, por quanto, Agosto é o mês de férias para grande número de portugueses e talvez por essa razão, também associado a um elevado consumo de álcool. Relativamente, ao período do mês onde o número de ocorrências é superior, constatámos que os dez dias finais (do dia 21 a 31, 35,5%) registam a maior incidência, a qual poderá estar relacionada, também, com um acumular de tensão familiar. Com a realidade económica cada vez mais difícil para a maioria das famílias, o aproximar do fim do mês vem tronar mais veementes as dificuldades financeiras do agregado familiar podendo contribuir, desta forma, para um aumento da tensão entre o casal.

No que diz respeito ao agressor é preponderantemente do sexo masculino (89,3%), tal como referido no estudo da APAV (2010), 81% tem uma relação de parentesco com a vítima, do tipo conjugal, (68,6%), é casado (64,5%) [APAV (2010) = 54,7%)] e coabita com a vítima (9,9%).

A relação de parentesco entre vítima e agressor é de conjugue/companheiro (69,4%), valor aproximado ao apresentado pela APAV (2011) (54,7%) e pela DGAI (Portugal, 2011) (62%).

A lesão mais frequente foi do tipo físico (75,2%). Porém, a APAV (2011) documenta que, o tipo de violência mais frequente é a violência psicológica (36,8%), seguida da violência física (30%). Mais uma vez, a discrepância de resultados poderá prender-se com a diferença de realidade sócio-cultural, uma vez que em regiões mais interiores, como o distrito de Viseu, a violência psicológica não é, muitas vezes, denunciada. Por outro lado, dado que as vítimas, estudadas recorreram ao serviço de urgência é espectável que, a maioria seja por agressão física.

Os actos de violência mais frequentes foram “bofetadas, murros, cabeçadas e pontapés”, com uma maior incidência na cabeça/pescoço. No relatório da APAV não são especificados os actos de violência mais frequentes, no entanto é possível constatar que os maus-tratos e as ofensas à integridade física simples, destacam-se com 43,7% e 28,3%, respectivamente. Queirós (2009) apurou que o tipo de agressão física predominante, nos casos de violência conjugal é a agressão por murros e pontapés e que “(…) As Sovas foram indiscutivelmente o acto mais frequente.”

A utilização de armas na agressão é pouco representativa utilizando os agressores o próprio corpo para a agressão. Os resultados obtidos vão ao encontro dos apresentados pela APAV (2011), em que apenas 7,5% dos agressores recorrem a armas para a consumação da agressão.

A localização anatómica com maior incidência foi a cabeça/pescoço (68,3%), em conformidade com os resultados apurados por Queirós (2009): “No que respeita às queixas relativamente a fenómenos dolorosos (…), a mais frequente é a dor à palpação do couro cabeludo”. Por sua vez, Garbin. et al. (2006) referiram que a região da cabeça e pescoço, representando 30% dos casos, era o local mais atingido, seguida pelos membros superiores em 24%, membros inferiores em 23% e tronco em 17%. Deslandes et al. (2000) relataram que a face e a cabeça eram as áreas anatómicas mais atingidas, seguidas pelos membros superiores, tronco e membros inferiores.

A preferência do agressor para estas regiões anatómicas reflecte o carácter de humilhação que o agressor impõem à mulher, pelo que a intenção do agressor é tornar a lesão visível aos outros e prejudicar a beleza da mulher, atributo muito valorizado pela sociedade (Jong, 2000).

6 - Conclusões 

É através do conhecimento aprofundado da problemática da VD que os profissionais das áreas da saúde (médicos e enfermeiros) e da segurança social, e/ou entidades criminais, podem melhorar o seu atendimento e encaminhar as vítimas para soluções personalizadas e adequadas a cada caso específico, sendo urgente melhorar em qualidade e quantidade a informação sobre cada caso de VD.

Em síntese, os resultados mostraram que:

  • As vitimas são maioritariamente mulheres, com idades compreendidas entre os 18 e 87 anos, casadas e cujo agressor é o cônjuge/companheiro;
  • O período temporal com maior número de registo de vítimas de VD foi o fim-de-semana, no período da noite e Agosto o mês com maior incidência.
  • As agressões são essencialmente físicas, as lesões localizaram-se na cabeça e pescoço e o agressor utilizou o próprio corpo para as infligir.

O défice de informação sobre o episódio de violência traduzido pela lacuna existente no preenchimento do PC das vítimas participantes neste estudo permite inferir da necessidade de incentivar a participação da queixa, manter e reforçar as campanhas de informação e sensibilização, dar continuidade às várias iniciativas que promovam a protecção das vítimas, prevenir a reincidência, mas também sensibilizar e qualificar profissionais, manter a monitorização e incrementar a investigação e partilha de informação com os vários organismos governamentais e não-governamentais, nacionais e internacionais. Estimular e desenvolver o exercício da cidadania responsável e apostar num maior investimento na sensibilização para a problemática da VD, nas escolas, instituições de saúde, policiais e judiciais, bem como continuar a desenvolver de forma consequente o estudo desta problemática.

Consideramos ainda ser premente, a nível nacional, continuar a estudar a problemática da VD em cada distrito de forma aprofundada e regular, dado que foi verificado existir elevada discrepância entre alguns dos resultados obtidos e os divulgados pela APAV, para o território nacional.

Corroborando as estratégias de intervenção do IV Plano Nacional Contra a Violência Doméstica 2011-2013 (2010) concluiremos pela recomendação de um reforço efectivo ao nível da informação, sensibilização e educação.

Acresce ainda referir que, da investigação levada a cabo pelo Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR relativamente ao homicídio e tentativas de homicídio de mulheres por violência de género, ressalta que, apesar dos progressos alcançados pela legislação portuguesa, o número de homicídios na conjugalidade tem vindo a evidenciar uma preocupante tendência de crescimento, nomeadamente no mesmo período temporal a que o nosso estudo se reporta. Concordamos, por isso, na constatação de alguma ineficácia no combate a este tipo extremo de VD e concluímos igualmente, pela pertinência da tipificação autónoma do crime de homicídio por violência de género

Como consideração final, acreditamos que, apesar das limitações inerentes ao tipo de investigação, a mesma aportou conhecimento sobre a problemática da VD no distrito de Viseu, que se impõe discutir para melhor intervir..

Luis Correia - Enfermeiro no CHTV

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Alcoolismo
Jovens que consomem álcool em excesso estão a procurar apoio nos Alcoólicos Anónimos (AA) antes que os seus problemas com a...

“Agora que o caráter progressivo da doença do alcoolismo é melhor compreendido, os jovens estão a reconhecer que, quando se é alcoólico, o melhor momento para travar a doença é na sua fase inicial”, refere a associação, na véspera do Dia Mundial dos Alcoólicos Anónimos.

Esta realidade vai ao encontro dos resultados do relatório “A situação do país em matéria de álcool 2014”, do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), segundo o qual os jovens portugueses estão mais conscientes dos riscos de consumir bebidas alcoólicas do que os europeus.

O relatório aponta que a maioria dos jovens (59%) entre os 15 e os 24 anos consideram de “alto risco” o consumo regular de álcool, enquanto 36% o classificaram de “médio risco”.

Os Alcoólicos Anónimos sublinham que o facto de rapazes e raparigas se sentirem cada vez mais atraídos pelo programa é “uma das tendências mais encorajadoras no crescimento” da associação.

Em declarações à agência Lusa, Fernanda (nome fictício), membro dos AA, adiantou que “os Alcoólicos Anónimos são uma solução que responde a qualquer fase do alcoolismo, desde a pessoa que começa a sentir os primeiros danos, até à pessoa que bebe na rua”.

“A primeira fase da doença começa logo que a pessoa ingere álcool para se sentir mais desinibida”, uma situação que pode ser um “indício que começa a existir um problema com o álcool”, disse Fernanda.

Depois as quantidades de álcool que ingere vão aumentando e começa a haver “um descontrolo”: O jovem “bebe demais, mesmo que não queira, e começa a haver danos, como falta de rendimento na escola, problemas com os pais, professores e amigos e alguma agressividade”, contou.

Segundo Fernanda, os jovens procuram ajuda quando começam a sentir os efeitos nocivos do álcool e depois de “usufruírem do período de euforia em que acham que o álcool é ótimo”.

Muitos dos jovens que recorrem aos AA “andam na casa dos 20, alguns ainda nem lá chegaram” e “reconheceram que são alcoólicos”, refere a associação.

“A sua necessidade de recuperação é tão premente quanto a de homens e mulheres mais velhos que não tiveram a oportunidade de recorrer a AA na sua juventude, acrescenta.

Também procuraam apoio nos AA cada vez mais mulheres, de todos os estratos sociais, que representam cerca de um terço dos membros da associação.

“Chegam muito mais mulheres do que chegavam anteriormente, embora se note mais nas zonas urbanas”, disse Fernanda, apontando com explicação para este aumento o facto de “haver mais informação” e de estarem “mais à vontade para procurar a solução para o seu problema”.

A associação salienta que “algumas mulheres podem eventualmente sentir-se mais estigmatizadas pela sua maneira descontrolada de beber, devido à tendência da sociedade em olhar o comportamento das mulheres de forma diferente”.

“A vergonha e a culpa são grandes nas mulheres, mas também nos homens”, mas a “reação social é diferente”, disse Fernanda, sublinhando que este comportamento é mais censurado nas mulheres do que nos homens.

Dados da Organização Mundial da Saúde relativos a 2015 referem que Portugal é um dos dez países com maior consumo de álcool per capita do mundo, com uma média de 12,5 litros.

ONU quer
A Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu hoje acelerar a resposta à pandemia de sida para acabar com esta até 2030, apesar...

Uma declaração política foi adotada pela assembleia geral da ONU, onde se sublinhou a necessidade de ajudar consumidores de drogas por injeção, trabalhadores sexuais, homossexuais, pessoas transgénero e prisioneiros que estejam sob risco de contração do HIV.

A epidemia de HIV tem estado em declínio ao longo da última década, mas ainda existem 36,7 milhões de pessoas no mundo que vivem com o HIV/sida, na sua maioria na África subsariana.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou aos delegados que “a sida está longe de ter acabado” e que o mundo tem uma oportunidade nos próximos cinco anos para “alterar radicalmente a trajetória da epidemia”.

O secretário-geral da ONU apelou ao tratamento e ao cuidado “sem discriminação” de todas as pessoas que vivem com o HIV. De forma específica, apontou “jovens, migrantes, mulheres e raparigas, trabalhadores sexuais, homens que têm sexo com outros homens, pessoas que injetam drogas, pessoas transgénero e prisioneiros”.

A declaração política assenta no plano anterior da ONU, aprovado há cinco anos, mas agora enfatiza o cuidado com os mais vulneráveis à infeção do HIV.

A Federação Russa, ao fim de terça-feira, solicitou mudanças ao novo foco, acrescentando referências à legislação nacional no que se refere a homossexuais, consumidores de droga e prisioneiros, informaram diplomatas e grupos da sociedade civil.

As propostas russas foram rejeitadas por receio de poderem permitir à Federação Russa, ao Irão e a outros países, que criminalizam a homossexualidade, negarem tratamentos e cuidados a homossexuais.

A ministra da Saúde russa, Veronica Skvortsova, afirmou durante a reunião que os governos têm o “direito soberano” de decidir a sua estratégia de saúde pública.

Instituto Português do Mar e da Atmosfera
Bragança, Guarda, Penhas Douradas, Viseu e Vila Real apresentam hoje risco “Extremo” de exposição à radiação ultravioleta (UV),...

De acordo com o instituto, em risco “Extremo”, o mais elevado da escala, estão as regiões de Bragança, Guarda, Penhas Douradas, Viseu e Vila Real enquanto todas as outras regiões do continente e ilhas estão com risco "Muito Alto" de exposição à radiação UV.

Para as regiões com níveis de risco “Extremo”, o IPMA recomenda evitar o mais possível a exposição solar, enquanto para as regiões com níveis de risco "Muito Alto", o instituto apela o uso de óculos de sol com filtro UV, chapéu, ‘t-shirt’, guarda-sol e protetor, além de aconselhar que seja evitada a exposição das crianças ao sol.

Os índices UV variam entre menor do que 02, em que o UV é "Baixo", 03 a 05 ("Moderado"), 06 a 07 ("Alto"), 08 a 10 ("Muito Alto") e superior a 11 ("Extremo").

Para hoje, o IPMA prevê céu geralmente pouco nublado por nuvens altas, tornando-se muito nublado nas regiões Norte e Centro a partir do fim da tarde, com possibilidade de chuva fraca no Minho e Douro Litoral.

O vento será fraco a moderado de noroeste, tornando-se moderado a forte a partir da tarde, no litoral a sul do Cabo Carvoeiro e nas terras altas.

O instituto prevê ainda a possibilidade de neblina ou nevoeiro em alguns locais do litoral a norte do Cabo Carvoeiro até ao início da manhã, além de uma pequena descida da temperatura máxima.

Nos Açores, o IPMA prevê para o conjunto das nove ilhas, céu geralmente muito nublado e períodos de chuva.

Para a Madeira, são esperados períodos de céu muito nublado, com o vento a soprar em geral fraco do quadrante norte, tornando-se a moderado a partir da tarde e uma pequena subida da temperatura máxima.

Quanto às temperaturas, em Lisboa vão oscilar entre 17 e 27 graus Celsius, no Porto entre 16 e 21, em Vila Real entre 15 e 28, em Viseu e na Guarda entre 14 e 26, em Bragança entre 14 e 32, em Coimbra entre 14 e 31, em Castelo Branco entre 18 e 35, em Santarém entre 15 e 31, em Évora entre 17 e 31, em Beja entre 18 e 34, em Faro entre 22 e 34, no Funchal entre 21 e 28, em Ponta Delgada entre 15 e 21, Angra do Heroísmo entre 14 e 20 e Santa Cruz das Flores entre 15 e 21.

 

Caso bebé
A mulher em morte cerebral cujo bebé nasceu no hospital de São José foi uma “incubadora viva” e doou o seu corpo ao filho, nas...

Em conferência de imprensa hoje em Lisboa, o presidente da comissão de ética do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), Gonçalo Cordeiro Ferreira, considerou este caso como “uma grande vitória da vida”.

O bebé, um rapaz, nasceu com 2,350 quilos, depois de uma gestação de 32 semanas com a mãe em morte cerebral desde o dia 20 de fevereiro, ou seja, há cerca de 15 semanas. Encontra-se nos cuidados intensivos neonatais, mas está de boa saúde.

“A mãe foi uma incubadora viva e doou o seu corpo ao seu filho”, afirmou Cordeiro Ferreira, adiantando que o bebé viveu numa grande estabilidade dentro do útero materno.

Os especialistas do CHLC entenderam levar adiante a gravidez da mulher de 37 anos em morte cerebral devido a uma hemorragia intracerebral. O feto não indicava na altura da morte materna ter sofrido com o que tirou a vida à mãe.

Este caso, um “facto inédito na Medicina portuguesa”, foi vivido com emoção pelos profissionais que acompanharam a situação ao longo de três meses e meio.

“Ontem [terça-feira] houve uma carga emocional fortíssima. (…) Mesmo em profissionais que estão habituados, vimos nos seus rostos a emoção”, afirmou a presidente do Conselho de Administração do CHLC, Ana Escoval.

Também o diretor clínico do hospital de São José, António Sousa Guerreiro, sublinhou que se trata de uma “história de contrastes”: “Temos uma profunda tristeza com a morte de alguém e um momento de alegria com o nascimento de uma criança”.

Susana Afonso, especialista dos neurocríticos, admitiu igualmente que “é impossível do ponto de vista emocional não ficar afetado” com esta história.

Apesar da componente emocional e afetiva do caso, os profissionais garantem que a base de todas as decisões foi racional. Primeiro decidiu-se a viabilidade do feto e considerou-se que havia condições para o processo poder avançar.

O apoio da família à decisão foi fundamental, acrescentou Sousa Guerreiro.

Relativamente ao nascimento do bebé, o diretor clínico lembrou que ainda se está “numa viagem (…) todo um percurso a percorrer com a maior otimização técnica”.

Quanto à manutenção da gravidez com a mãe em morte cerebral, os especialistas explicaram que foi dado o suporte hormonal e nutricional necessário para a manutenção das funções vitais e para o desenvolvimento da gestação.

“Os fármacos administrados foram aqueles que o organismo produz quando as funções vitais estão intactas”, afirmou aos jornalistas Ana Campos, obstetra da Maternidade Alfredo da Costa – que pertence ao CHLC – e que acompanhou o caso.

O momento do nascimento, por cesariana programada, ocorreu quando foram atingidas as 32 semanas de gestação , uma idade gestacional em que a sobrevivência é muito elevada.

Segundo a neonatologista Teresa Tomé, além da idade gestacional permitir alguma segurança em termos de sobrevivência, os médicos quiseram preservar o recém-nascido de “uma incubadora artificial” da qual se desconhecem as consequências.

De acordo com a equipa de profissionais, o nascimento de um bebé com mãe em morte cerebral há 15 semanas é um facto inédito na medicina portuguesa, mas terão já havido outros casos a nível internacional.

Segundo Ana Campos, um estudo internacional de 2010 indica que a duração de gestações com as grávidas em morte cerebral foi de entre dois a 107 dias. O caso de São José durou precisamente 107 dias.

Este bebé, o segundo filho da mulher de 37 anos declarada morta desde 20 de fevereiro, vai ser acompanhado na neonatologia com as mesmas cautelas de outros prematuros, estando neste momento bem de saúde, mas a necessitar de incubadora e de suporte respiratório.

Prevê-se que possa sair dos cuidados intensivos dentro de três semanas, se estiver estável, como acontece com outros prematuros.

Quanto ao futuro da criança, os profissionais mostram-se otimistas mas não se comprometem com garantias quanto ao seu desenvolvimento.

Matosinhos
A primeira unidade de cuidados paliativos pediátricos do país abre este mês, de forma experimental, em Matosinhos, no distrito...

“Era uma área que estava mais deficitária, aliás, nem sequer existia” e vai localizar-se numa zona de “grande vulnerabilidade social e clínica, onde a exigência de resposta era premente”, afirmou à agência Lusa o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, no final de um encontro da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), que decorreu na Universidade de Évora.

Na sessão de encerramento, em que interveio, o titular da pasta da Saúde revelou que a nova unidade, designada “O Castelo”, vai ser inaugurada no dia 24 deste mês pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Temos boas notícias. No dia 24, estarei com o Presidente da Republica no norte do país a inaugurar a primeira unidade de cuidados paliativos pediátricos e, a partir de julho, teremos as primeiras respostas organizadas no âmbito da saúde mental”, disse.

Adalberto Campos Fernandes referiu que o Governo pretende dar “um novo e forte impulso” à rede de cuidados continuados e que esse caminho vai ser feito para “unir o país e para unir as pessoas”.

Também em declarações à Lusa, o coordenador da RNCCI, Manuel Lopes, adiantou que a unidade de Matosinhos, a única que abre este ano, vai funcionar de “modo experimental durante um ano”, enquanto é preparada uma “expansão da rede”.

“Passado esse período inicial que é experimental, vamos fazer a expansão da rede, usufruindo deste ano em que aprendemos em conjunto com o funcionamento desta unidade e com esses profissionais”, assinalou.

Segundo o responsável, a unidade de Matosinhos, com 10 camas para internamento e 10 lugares para ambulatório, vai funcionar “em articulação com os hospitais, que vão ter que referenciar crianças com necessidades, e com os cuidados de saúde primários”.

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