Estudo
Dois terços dos médicos em Portugal admitem estar em elevado estado de exaustão emocional, um dos indicadores relevantes...

Segundo dados de um estudo de âmbito nacional sobre ‘burnout’ na classe médica, os profissionais das especialidades de neurocirurgia e de medicina legal são os mais afetados, a par dos médicos mais jovens.

Aliás, são os médicos mais jovens que apresentam os níveis mais elevados nos três indicadores de ‘burnout’ avaliados no estudo: exaustão emocional, distanciamento face ao doente (despersonalização) e diminuição da realização profissional.

Segundo dados parcelares do estudo, além da exaustão emocional, 39% de todos os médicos indicaram níveis elevados de despersonalização e 30% mostraram altos níveis de diminuição da realização profissional.

O estudo, uma iniciativa conjunta da Ordem dos Médicos e do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, foi feito através de inquéritos a cerca de 10 mil médicos portugueses, dos perto de 50 mil convidados a responder.

O bastonário da Ordem dos Médicos confessa ter ficado surpreendido com a dimensão do problema: “Não estava à espera que o problema fosse tão grave, o que exige que se olhe para esta questão com muita atenção”.

José Manuel Silva lembra que os médicos em exaustão não estão em condições de prestarem os melhores cuidados aos doentes, embora “o inquérito tenha mostrado um elevado grau de empenhamento e dedicação aos doentes”.

“A verdade é que os médicos portugueses não estão bem e isto exige medidas da parte da tutela”, frisou o bastonário, que pede melhores condições de trabalho, investimento na manutenção das instalações e na renovação das tecnologias.

Sobre os médicos mais jovens, que apresentam os mais elevados níveis de ‘burnout’, José Manuel Silva lembra que são colocados “perante enormes dificuldades e pressão”, “muitas vezes sem as devidas condições de trabalho” e instados “a trabalhar até à exaustão, nomeadamente nos serviços de urgência”.

Doenças raras
O Presidente da República entregou no Porto o Prémio Manuel António da Mota, no valor de 50 mil euros, à Raríssimas –...

A Raríssimas foi criada em 2002, tem a sede em Lisboa, e tem por missão “apoiar doentes e famílias que convivem de perto com as doenças raras, procurando entre outros objetivos a divulgação, informação e sensibilização pública sobre as doenças raras.

Com o seu “Espaço de Capacitação Rara”, a instituição vencedora do primeiro prémio desenvolve um projeto de “coaching e mentoring, apoio à capacitação e empregabilidade e um conjunto de ações de sensibilização e informação procurando, no primeiro eixo, a promoção da melhoria da qualidade de vida através de um programa individualizado de intervenção”.

A Associação Inspirar recebeu o terceiro prémio Manuel António da Mota, no valor de 10 mil euros, enquanto o segundo prémio Manuel António da Mota foi entregue à SAOM – Serviços de Assistência Organizações de Maria -, no valor de 25 mil euros.

“É bom que haja prémios como este, porque são, em si mesmo, pedagógicos para projetos de Solidariedade Social que todos os dias nascem ou se reformulam”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, afirmando que o “Presidente da República de Portugal está eternamente grato” a instituições de Solidariedade Social.

Estudo
O grupo de investigação de Biologia Interativa de Sistemas, Metabólica e Cancro da Universidade de Barcelona descobriu que as...

A investigadora principal, Marta Cascante, explicou, em declarações à agência Efe, que esta parte das azeitonas atualmente não tem aproveitamento e que sempre pensou que “devia fazer alguma coisa para ajudar as pessoas com tendência a desenvolver pólipos intestinais no cólon e no reto”.

O estudo de Cascante, que foi distinguido na semana passada com o prémio do Conselho Social e Fundação Bosch e Gimpera (FBG) na categoria de melhor projeto de transmissão de conhecimento, destina-se a desenvolver um suplemento alimentar para as pessoas afetadas.

Este suplemento, de caráter natural por ser elaborado com as sobras das azeitonas resultantes da produção de azeite, ajudará a reduzir os tumores intestinais, além de “gerar um valor ao aproveitar os resíduos da indústria alimentar”, assegurou a autora.

A investigadora defendeu a importância de fazer um produto deste tipo porque as pessoas que sofrem deste mal têm de submeter-se, durante toda a vida, a controlos muito exaustivos e a várias extrações de pólipos para evitar que se transformem em tumores.

“Em alguns casos, infelizmente, o problema não se resolve”, acrescentou Cascante, reivindicando a necessidade de investigar tratamentos “para esta enfermidade minoritária”.

Até ao momento, as investigações têm sido feitas em ratos, aos quais foi ministrado durante seis semanas o composto de peles de azeitona para comprovar se a redução dos pólipos intestinais era efetiva, com o que pôde demonstrar-se uma diminuição de 45%.

Ministro da Saúde
O ministro da Saúde defendeu, em Lisboa, que o melhor remédio que a sociedade precisa não são necessariamente medicamentos, mas...

“Intervir nas condições de vida, de habitação, de alimentação, de rendimento, é essencial”, disse Adalberto Campos Fernandes, durante uma cerimónia realizada no Centro de Saúde de Sete Rios para assinalar o lançamento de medidas de cessação tabágica, como a comparticipação de medicamentos.

“O medicamento por si será muito útil, mas não será suficiente se os portugueses não tiverem melhores condições de habitação - casas aquecidas, ventiladas - para que a pneumonia não seja o flagelo que é hoje em Portugal”, afirmou.

De acordo com o governante, as medidas hoje anunciadas visam alargar o âmbito das consultas de cessação tabágica nos cuidados de saúde primários, que idealmente deverão ter características multidisciplinares.

“Visam também potenciar a ação da Linha de Saúde 24, relativamente à qual em todos os maços de tabaco há indicação de que quem precisar de ajuda deve contactar (o serviço) para ser encaminhado ou orientado para um local adequado”, explicou.

Quebrar a barreira económica e dar acesso às populações que sendo mais atingidas pela doença, têm menos informação e não têm capacidade económica para adquirir os medicamentos é outro dos objetivos enumerados pelo governante.

“A medida de comparticipação de medicamentos para a cessação tabágica é, antes de mais, uma medida que visa repor alguma justiça social”, declarou.

Os medicamentos para deixar de fumar sujeitos a receita médica vão ser comparticipados pelo Estado em 37%, a partir do próximo ano, uma medida que deverá custar 1,3 milhões de euros por ano, um valor considerado simbólico pelo ministro, face aos ganhos que significará.

Segundo diretor-geral de Saúde, Francisco George, registaram-se no ano passado 11.000 mortes resultantes da exposição direta ao tabaco.

“Nas doenças respiratórias, uma em cada três mortes é provada pelo fumo do tabaco”, acrescentou.

“Sabemos que em cada 10 enfartes, em cada 10 AVC (Acidente Vascular Cerebral) que provocam a morte, uma delas é devido ao tabaco”, indicou o responsável durante uma intervenção na sessão.

Em 2017, deverão ser criadas 42 novas consultas de cessação tabágica a nível nacional.

No próximo ano
Os medicamentos para deixar de fumar sujeitos a receita médica vão ser comparticipados pelo Estado em 37 por cento do seu valor...

Esta é uma das novas medidas de prevenção do tabagismo que o Ministério da Saúde apresentou sábado, no centro de saúde de Sete Rios, em Lisboa, na presença do ministro Adalberto Campos Fernandes.

A comparticipação de fármacos de cessação tabágica leva em conta que “existe evidência que comprova que o uso de fármacos na cessação tabágica aumenta as taxas de abstinência”.

“As taxas de sucesso aumentam quando o uso de fármacos é acompanhado por apoio comportamental. A redução de barreiras ao processo de mudança comportamental aumenta o número de tentativas e a probabilidade de estas serem bem sucedidas”, acrescenta o Ministério da Saúde.

A redução do custo do tratamento farmacológico – que assim ficará a custar apenas 63 por cento do seu valor, desde que receitado pelo médico – permitirá “atingir estratos da população economicamente mais carenciados, para os quais a barreira ‘preço’ é naturalmente mais significativa e potencialmente impeditiva da decisão de parar de fumar”.

Em 2017 deverão ainda ser criadas 42 novas consultas de cessação tabágica a nível nacional. O objetivo é garantir pelo menos uma consulta aberta de cessação tabágica por Agrupamento de Centro de Saúde (ACES).

Até ao final do ano, o Ministério da Saúde quer que exista cobertura de pelo menos uma consulta de cessação tabágica por ACES. Neste ano, foram abertas 145 consultas abertas para cessação tabágica. Em 2017, deverão ser abertas mais 42 novas consultas, num total de 187.

Com vista à proteção da exposição ao fumo ambiental do tabaco, o governo aprovou em Conselho de Ministros uma Proposta de Lei que determina a proibição de tabagismo num perímetro de cinco metros de distância de instituições de saúde ou estabelecimentos frequentados por crianças, a qual encontra-se em discussão na Assembleia da República.

Estudo
O Serviço Nacional de Saúde aumentou o recurso a médicos “em fase de formação na especialidade”, e que transitam depois para o...

“É como se o Serviço Nacional de Saúde voltasse ao registo anterior a 1960, em que os hospitais eram centros de tratamento de pobres e, por essa via, de formação – sendo que os médicos após essa especialização passam a atender nos consultórios privados e em clínicas”, conclui o estudo encomendado pelo Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos.

O estudo científico, que vai ser apresentado no dia 03 de dezembro, em Lisboa, foi coordenado pelos investigadores Raquel Varela e Renato Guedes, da Universidade Nova de Lisboa.

As conclusões da investigação apontam para uma “evolução miserável” do número de médicos a exercer no Serviço Nacional de Saúde (SNS), sobretudo tendo em conta os profissionais formados pelo Estado, mas também para a degradação dos cuidados primários.

“O número de profissionais médicos a exercer no SNS teve uma evolução miserável se considerarmos o potencial em número de médicos formados desde a década de 1970, em particular, desde a criação do SNS. Verifica-se, nas nossas conclusões, a evolução negativa nos cuidados primários de saúde. Isto é, são formados muito mais médicos pelo SNS do que aqueles que ficam a trabalhar nele”, indica o documento.

O estudo estabelece também uma relação entre as várias investigações já realizadas sobre o “burnout” (esgotamento) a que os médicos estão sujeitos desde a aplicação das medidas impostas pela troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), através do Memorando de Entendimento (17 de maio de 2011).

O ritmo de produtividade, refere o texto, está a ser marcado pela utilização da força de trabalho “até níveis próximos do seu limite”.

Em perspetiva, o trabalho indica também que, em Portugal, o sistema de saúde “de ponta” só foi alcançado após a revolução de 1974.

“A revolução, isto é, a luta política organizada, que gerou uma transferência de 18 por cento do rendimento do capital para o trabalho, em grande medida na criação de um Estado Social, impôs a junção entre previdência e assistência dando o passo fundamental para a criação do SNS, que se oficializou em 1979", conclui a investigação.

Esta situação, prossegue o estudo, criou “de facto” uma "elevação" salarial significativa, permitindo “resultados extraordinários”, do ponto de vista do acesso a cuidados de saúde, “colocando Portugal entre os melhores, mais eficientes tecnicamente e mais justos sistemas de saúde do mundo”.

A segunda parte do estudo analisa as formas de privatização do sistema público de saúde britânico que criou uma “indústria de cuidados de saúde”, transformando um “serviço público essencial em lucro”.

Além dos académicos portugueses, o estudo incluiu as participações de quatro cientistas sociais anglo-saxónicos: Ursula Huws, Stewart Play, Colin Leys e Peter Kennedy, que se debruçam sobre as formas e consequências da privatização do National Health Service, no Reino Unido.

OE2017
O parlamento aprovou na sexta-feira, na especialidade, o novo imposto sobre os refrigerantes, que vai aumentar o preço destas...

Desta forma, as bebidas açucaradas vão sofrer um aumento entre 15 a 30 cêntimos (no preço final) por garrafa de 1,5 litros, uma receita que será consignada à sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde.

Os deputados aprovaram também a redução para metade da tributação sobre os cigarros eletrónicos, para os 0,30 euros por mililitro de líquido contendo nicotina.

O parlamento aprovou ainda, na especialidade, num conjunto de propostas para a redução do IVA em alguns produtos: as conservas de ostras passem a ser tributadas a 13%, os medidores da diabetes passam para a taxa reduzida (de 6%) e que as próteses dentárias fiquem isentas daquele imposto.

O partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN) conseguiu ver duas das suas propostas aprovadas na especialidade: a redução da taxa de IVA de 23% para 6% dos produtos de apoio a pessoas com deficiência e a redução de 23% para 13% do IVA sobre os flocos prensados simples de cereais e leguminosas sem adições de açúcar.

Os deputados estão, desde o início da tarde, a votar, na especialidade, a proposta de OE2017 artigo a artigo, bem como as várias propostas de alteração apresentadas pelos partidos.

Este é o segundo dia de votações na especialidade. A proposta final global do OE2017 está marcada para terça-feira.

Estudo
Mais de 20% dos adolescentes portugueses já se automutilaram por se sentirem tristes, saturados e nervosos, um tipo de...

De acordo com o estudo "Health Behaviour in School-aged Children" (HBSC) 20,3% dos jovens entre os 13 e os 15 anos já tiveram comportamentos auto lesivos, principalmente as raparigas, em que 23,7% das inquiridas assumiram ter-se magoado a si próprias de propósito mais do que uma vez, contra 16,3% de rapazes que afirmaram o mesmo.

O inquérito HBSC, feito para a Organização Mundial da Saúde, inquiriu mais de 6.000 alunos de todo o país, dos 6.º, 8.º e 10.º anos, tendo as últimas entrevistas decorrido em 2014 e refletindo já as alterações que decorreram desde o último que tinha sido realizado, em 2010.

Comparando os resultados dos dois inquéritos, a investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Universidade de Lisboa, demonstrou hoje no Fórum dedicado à Saúde Mental, que decorreu na Gulbenkian, que os comportamentos auto lesivos infligidos nos últimos 12 meses subiram de 15,6% em 2010 para 20,3% em 2014.

Quanto aos motivos que levaram os adolescentes a ter estes comportamentos, a grande maioria relata sentir-se triste, saturado e nervoso (59%, 52,3% e 47,1%, respetivamente).

Quase 40% disseram ter-se automutilado por se sentirem desiludidos, 37% por se sentirem zangados e 27,3% por estarem desesperados.

Ainda no contexto da crise económica, o relatório revela que 7,7% dos jovens inquiridos admitiram “ir para a escola ou para a cama com fome por não haver comida em casa.

Os adolescentes revelaram ainda mal-estar físico e psicológico, principalmente nervosismo (44,1%) e exaustão (42,7%), mas também dor de cabeça (31,3%), dor de estômago (22,1%), tristeza (24,7%) e medo (20,1%).

No contexto familiar, o inquérito HBSC revela que a maioria dos pais dos adolescentes portugueses têm muito baixa escolaridade e que o desemprego dos pais afeta a perceção de bem-estar físico e psicológico dos filhos, sobretudo quando é o pai que não tem emprego.

No geral, as raparigas sentem maior mal-estar físico e mental e os rapazes fazem um maior desinvestimento nos estudos e no futuro, acompanhados de mais consumo de substâncias.

A socióloga Anália Torres, também participante no Fórum de Saúde Mental, corroborou os dados que apontam para uma maior fragilidade mental e física das raparigas e das mulheres.

Segundo a investigadora do Centro de Investigação e Estudo de Sociologia, o risco de as mulheres terem depressão é 50,7% superior aos homens em Portugal (47,1% na Europa).

Estudo
Um estudo concluiu que um comprimido de placebo, sem substância ativa, pode aliviar a dor de doentes com lombalgia crónica,...

"As pessoas que tomaram o comprimido placebo, sabendo que era um placebo, obtiveram um alívio da dor na ordem dos 30% por comparação com um grupo controlo que eram pessoas que continuaram o seu tratamento habitual", disse Cláudia Carvalho, investigadora do ISPA-Instituto Universitário.

"Penso que este estudo alerta para a necessidade de se revalorizar a relação médico-doente porque ela contém em si o potencial de despoletar o efeito placebo" com alívio sintomático, defendeu.

O trabalho, que foi publicado na revista científica internacional da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), pretendia testar a eficácia da utilização do que se designa o "placebo honesto", ou seja, um comprimido que não tem uma substância ativa.

"Queríamos saber se as pessoas tomando este comprimido que não tem substância ativa, experimentariam alívio dos sintomas", neste caso, se pessoas que sofriam de lombalgia crónica, teriam alívio da dor e da incapacidade associada à dor, explicou a investigadora.

Os doentes foram divididos em dois grupos, um com pessoas que faziam o seu tratamento habitual, com analgésicos e anti-inflamatórios consoante as suas necessidades, e outro que, além do seu tratamento habitual, tomavam o comprimido placebo todos os dias, durante 21 dias.

O efeito placebo, explicou, é muito mais do que a simples toma do comprimido e "há vários fatores que o despoletam", sendo definido como o efeito positivo de alívio sintomático da toma desse comprimido.

"Pensamos que o efeito placebo tem a ver com vários fatores que ultrapassam a simples toma do comprimido, tem a ver com o ritual terapêutico, com a esperança engendrada no paciente, com a qualidade da comunicação médico-paciente, com a resposta de condicionamento que é ativada quando a pessoa toma uma cápsula", especificou Cláudia Carvalho.

Esta situação relaciona-se com uma aprendizagem prévia, realizada ao longo da vida, de que a toma do fármaco gera alívio.

"É essencialmente psicológico, há aqui um pressuposto de que mente e corpo estão, de algum modo, relacionados", adiantou a investigadora.

A cientista do ISPA recorda a importância da relação médico-doente, estudada nas faculdades de medicina, mas pensa que "se perdeu algum do valor que se dá a essa relação devido à tecnologia médica".

Ao mesmo tempo dos "avanços fantásticos" da medicina, disse, "houve uma certa perda na qualidade da relação, [pois] os médicos têm um tempo de consulta muito limitado, têm de cumprir imensa burocracia, durante a própria consulta têm de olhar para o computador".

No entanto, o contacto médico-doente "tem valor terapêutico em si mesmo", realçou Cláudia Carvalho.

O efeito placebo é a melhoria do paciente através de fatores que "não são os do princípio ativo do fármaco ou do procedimento terapêutico, são fatores não específicos", que têm a ver com a relação médico-doente e com o ritual terapêutico, referiu a investigadora, acrescentando que o efeito placebo está intimamente relacionado com a expetativa de melhora.

O estudo envolveu 97 pacientes com lombalgia crónica há, pelo menos, três meses.

Estudo Dawn 2
Dawn2 é um estudo global que analisa atitudes, desejos e necessidades das pessoas com diabetes e também dos familiares e...

Em Portugal o DAWN2 será conduzido pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) em parceria com a Novo Nordisk Portugal e arranca a 26 de Novembro com a distribuição de questionários na Festa da Diabetes, evento promovido pela APDP no Pavilhão Desportivo do Casal Vistoso, no Areeiro em Lisboa.

“Os resultados do estudo serão usados para identificar formas de melhorar a assistência e o apoio a pessoas com diabetes e às pessoas que lhes são próximas. Os resultados serão partilhados com instituições e associações que acompanham estas pessoas. A participação de Portugal neste estudo faz todo o sentido tendo, especialmente, em atenção que é o país da Europa com a mais alta prevalência de diabetes”, comenta João Raposo, diretor clínico da APDP.

Uma rede de especialistas e organizações internacionais, como a Federação Internacional de Diabetes (IDF), a Aliança das Organizações Internacionais de Doentes (IAPO), o Centro de Diabetes Steno e parceiros de vários países, com o apoio da Novo Nordisk, iniciaram em 2011 o projeto DAWN com o objetivo de aumentar o conhecimento e a sensibilização sobre as necessidades por satisfazer das pessoas com diabetes e dos seus familiares, para facilitar o diálogo e a colaboração e fortalecer o envolvimento dos doentes, aumentando a autogestão e o apoio psicossocial no tratamento da diabetes.

Os dados recolhidos a nível internacional mostram que muitas das pessoas que têm diabetes ainda enfrentam vários desafios em áreas como a autogestão da doença, a adesão à terapêutica, o acesso e o envolvimento nos cuidados. Os resultados do Dawn2 referentes a 17 países  (Canadá, China, Dinamarca, França, Alemanha, India, Itália, Japão, México, Holanda, Polónia, Rússia, Espanha, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos da América), mostram que a doença tem um impacto negativo em vários aspetos do quotidiano e na qualidade de vida das pessoas com diabetes e dos seus familiares. O estudo evidencia, ainda, que a educação desempenha um papel vital para melhorar a condição e a qualidade de vida das pessoas com diabetes, contudo cerca de metade dos participantes do estudo nunca frequentaram um programa educacional. Para além disso, o Dawn2 revelou que 1 em cada 5 pessoas com diabetes já se sentiram discriminados devido à sua condição. 

“Os dados dos restantes países que integram o Dawn2 mostram-nos que existe, ainda, um longo caminho a percorrer no que concerne à diabetes. Para além da auscultação junto de pessoas com diabetes e dos seus familiares, um dos fatores distintos que torna este estudo tão completo é que também envolve os profissionais de saúde. Estamos muito entusiasmados com a inclusão de Portugal neste estudo e expectantes para sabermos se os resultados a nível nacional estão alinhados com as evidências dos restantes países”, refere o especialista.

Certificação
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou oficialmente Cabo Verde livre de poliomielite, mas aconselha o país a manter-se...

A certificação de país livre de poliomielite foi oficializada na quinta-feira em Acra, no Gana, pela Comissão Regional de Certificação da Polio em África (CRCA), anunciou hoje a OMS numa nota enviada à comunicação social.

A CRCA, órgão independente para supervisionar o processo de certificação da OMS na região africana, esteve reunida em Acra, no Gana, onde uma equipa cabo-verdiana apresentou a documentação necessária à certificação.

"Cabo Verde foi avaliado positivamente e, por conseguinte, declarado livre da poliomielite", adianta a OMS, considerando que este resultado "representa um ganho significativo no plano nacional e internacional".

Atualmente a poliomielite é endémica apenas no Paquistão e Afeganistão e a OMS sustenta que a erradicação desta doença em todo o mundo depende principalmente da interrupção da sua transmissão nestes países.

A OMS aconselhou o país a "permanecer vigilante" e a "reforçar a vacinação das populações para preservar os resultados registados".

A poliomielite é uma doença "altamente infeciosa", causada pelo pólio vírus que afeta principalmente as crianças com idade inferior a cinco anos.

Este vírus invade o sistema nervoso central e, em poucas horas, pode causar a paralisia de um ou mais membros.

Infeta apenas os seres humanos e transmite-se pela eliminação de fezes contaminadas que entram em contacto direto com pessoas não vacinadas.

Propaga-se rapidamente e o período de incubação varia entre 7 e 14 dias.

Segundo a OMS, Cabo Verde não notifica casos de poliomielite há mais de quinze anos consecutivos

 

Ciência e tecnologia
Todos os hospitais dependentes da Administração Regional de Saúde no Norte (ARS-Norte) estão a implementar uma tecnologia...

"Este 'software' é único em Portugal e, provavelmente, numa geografia bem mais ampla", disse à Lusa o líder do grupo de investigação em Informática da Saúde do Cintesis - centro de investigação sediado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), responsável pela criação do sistema, Ricardo Correia.

O ObsCare é um sistema 'web', instalado nos servidores dos hospitais, que "se integra facilmente" com os programas inseridos nessas entidades e regista os elementos das consultas das mulheres seguidas durante a gravidez, os dados do parto, dos recém-nascidos e dos seus primeiros dias de vida.

"Há entidades hospitalares que já nos solicitaram que registássemos ainda os dados referentes às primeiras consultas das crianças nos centros de saúde" e que "desenvolvêssemos um módulo para registo das informações relativas às técnicas de procriação medicamente assistida", indicou.

Estes dados congregados pelo ObsCare vão permitir, ao longo prazo, verificar se as crianças concebidas dessa forma apresentam diferenças relativamente às restantes, em termos de desenvolvimento e parto, por exemplo.

As informações recolhidas pelo 'software' são também utilizadas para discutir casos clínicos pelas equipas de saúde, com base em informações objetivas, "o que promove ativamente a melhoria dos cuidados prestados aos pacientes".

De acordo com o investigador, neste momento, a ARS-Norte está a receber os primeiros resultados fruto da comparação dos dados dos diferentes hospitais públicos do norte do país, sobretudo no que se refere às cesarianas, mas não só.

Esta tecnologia deu origem à 'startup' VirtualCare, dedicada à criação de sistemas de informação clínica e de análise de dados de saúde, cujos sistemas visam "facilitar a tomada segura de decisão por parte dos profissionais de saúde através da aquisição, processamento, validação e apresentação de dados dos pacientes com qualidade".

O grupo de investigação, que conta agora com sete elementos, "era, muitas vezes, solicitado para desenvolver 'software' para hospitais, nomeadamente produtos com características específicas e que incluíam componentes de índole científica, que as empresas "tradicionais" não produzem", explicou Ricardo Correia.

Entre outros produtos, a VirtualCare instalou, no Centro Hospitalar de São João e na Fundação Champalimaud, um 'software' para registo clínico de cancro da mama. Também no São João, têm soluções a operar nas áreas da Anestesiologia e da Psiquiatria.

Na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, têm a funcionar um piloto sobre Farcamovigilância dentro dos hospitais, com o objetivo de promover a notificação das reações adversas aos medicamentos junto do INFARMED e zelar pela segurança dos pacientes.

Futuramente, pretendem instalar o ObsCare em todos os hospitais do país.

Organizações de Saúde
Especialistas e políticos de três continentes reúnem-se na próxima semana em Lisboa para discutir o planeamento em saúde, um...

Organizado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em parceria com a Fundação Friedrich Ebert, o Seminário Sobre Planeamento em Saúde reúne cerca de 30 especialistas nacionais e internacionais na temática, assim como políticos e governantes ligados à gestão da saúde.

Em causa está um setor que "tem andado relativamente esquecido", tanto ao nível das universidades como dos técnicos e peritos, mas também dos decisores políticos, em especial governantes e deputados, disse à Lusa Jorge Simões, do IHMT e membro da Comissão Científica do seminário.

Professor universitário em organização de sistemas de saúde, gestão em saúde, planeamento em saúde e regulação em saúde, Jorge Simões defendeu que "o planeamento é fundamental e é fundamental em tudo", a começar pelos recursos humanos.

O planeamento permite antecipar, por exemplo, quantos e que médicos e enfermeiros serão necessários em 2040, ou onde será mais eficaz construir um novo hospital, explicou o ex-presidente da Entidade Reguladora da Saúde.

"Só para responder a estas questões é preciso um conjunto transversal de conhecimentos, que vai desde as áreas da saúde no sentido mais estrito até ao ordenamento território, acessibilidades, ao conhecimento de oferta pública e privada na área da saúde" e até a aspetos relacionados com o ambiente ou a agricultura, explicou o investigador.

O planeamento em saúde, acrescentou, "é das áreas em que se exige mais cultura, mais conhecimento e mais informação".

No entanto, esta área tem estado arredada do foco público, "porque o enfoque tem sido colocado nos aspetos financeiros, nos aspetos relacionados com os dinheiros necessários para assegurar o mínimo de recursos para o sistema de saúde".

"Os governos preocupam-se com o dia-a-dia, com o dia seguinte, na melhor das hipóteses preocupam-se em ganhar as eleições", lamentou, defendendo que, sem retirar importância à questão financeira, é preciso "ir mais atrás" e investir mais no planeamento.

Esse investimento num bom planeamento permitirá por seu lado fortalecer e solidificar a sustentabilidade financeira, destacou o especialista, que em 2009/2010 foi um dos dois coordenadores nacionais do novo Plano Nacional de Saúde.

A consequência da atual falta de investimento no planeamento em saúde é que hoje existe "um difícil entendimento em relação aos recursos humanos" que é preciso formar e que são necessários no sistema de saúde em geral e no serviço nacional de saúde em particular.

Também em relação à construção de hospitais, falta conhecimento: "Porquê aqui e porque não acolá", questionou Jorge Simões.

"Quando estamos com a preocupação do dia seguinte em relação a aspetos financeiros, estamos a adiar permanentemente uma visão mais estratégica e mais global das questões da saúde", alertou, sublinhando que, com bom planeamento, as decisões são mais eficientes e menos suscetíveis de serem respostas a grupos de pressão" políticos, partidários ou autárquicos.

Para tentar inverter a situação, o IHMT reúne entre segunda e terça-feira "pessoas que têm uma reflexão relevante", na Europa, África e América Latina, e que irão discutir, "mas também tentar encontrar soluções".

As conclusões serão depois úteis aos governos, atuais e futuros, de Portugal, mas também de outros países que têm representantes no encontro: Angola, representada pelo ministro da Saúde, Luís Sambo; Moçambique, representado pelo vice-ministro da Saúde, Mouzinho Saíde; ou Cabo Verde, que envia a diretora Nacional de Saúde, Maria da Luz Lima.

Entre os especialistas presentes, Jorge Simões destacou Nigel Crisp, membro da Câmara dos Lordes, no Reino Unido, considerado uma figura central na área do planeamento em saúde a nível global; assim como Josep Figueras, do Observatório Europeu em Sistemas de Saúde, ou o próprio Luís Sambo, que foi diretor executivo da Organização Mundial de Saúde África.

Serviço Nacional de Saúde
O médico João Paulo Almeida e Sousa é o novo presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), disse à...

João Paulo Almeida e Sousa, que é diretor da Unidade de Gestão Intermédia Urgência e Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, vai iniciar funções no próximo dia 01 de dezembro.

O médico vai ocupar o lugar de Helder Trindade, que solicitou ao ministro da Saúde a sua substituição, alegando razões “pessoais e familiares” para a sua saída.

Quando foi conhecido este pedido de substituição, Helder Trindade esclareceu: “Sou um médico que pertence ao mapa de pessoal da instituição e, como presidente do IPST, todo o trabalho que desenvolvi durante o meu mandato foi no sentido de pugnar pelo melhor cumprimento da missão do IPST”.

Antes de assumir a direção do IPST, em 2011, Hélder Trindade era diretor do Centro de Histocompatibilidade do Sul e responsável do Registo Português de Dadores de Medula Óssea.

O desaproveitamento de parte do plasma recolhido em Portugal, o mau estado em que estavam milhares de amostras do Banco Público de Sangue do Cordão Umbilical e pontuais quebras de dádivas, acompanhadas pela polémica na perda de isenção do pagamento de todas as taxas moderadoras para os dadores foram alguns dos casos com que Helder Trindade enfrentou no seu mandato.

 

Tratamentos médicos
Os níveis elevados de casos de infeção nos hospitais portugueses têm um reflexo negativo no turismo da saúde, indicou à Lusa o...

"Há um nuvem negra a ensombrar" a vinda de estrangeiros para certos tratamentos, como as termas e as intervenções cirúrgicas, devido ao facto de Portugal ser considerado o país com maior taxa de infeções hospitalares, apesar de "economicamente mais vantajoso", indicou.

Este dado, divulgado num relatório do Centro Europeu para Controlo e Prevenção de Doenças (European Centre for Disease Prevention and Control) - ECDC, em 2013, posiciona Portugal na pior posição, dentro de um conjunto de países avaliados.

Para o presidente da associação, embora este número possa ser relevante para a opinião pública e para as escolhas feitas na área da turismo da saúde, o inquério que deu origem a estes dados é voluntário, o que pode influenciar os resultados.

"Em Portugal, por exemplo, responderam 101 hospitais, os quais, para evitar uma amostragem demasiado significativa, foram reduzidos para 57, de modo aleatório", referiu, acrescentando que há, para outros países, uma taxa de adesão "muito pobre", dificultando assim a comparação.

Francisco Brito defende que existe "muita dificuldade" em juntar e cruzar informações, mas acredita que esse é o caminho para "baixar os níveis" de infeções, que têm vindo a aumentar de ano para ano.

"Existem dados em termos nacionais mas não conseguimos discriminar exatamente onde estão os problemas e que tipologias de hospitais é que os têm. Há falta de informação", lamenta, reforçando que "faria todo o sentido que estas avaliações tivessem um caráter obrigatório, porque só conseguimos melhorar se conseguirmos medir".

Estes depoimentos são avançados pelo presidente na véspera das Jornadas Técnicas, evento que decorrre na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), na sexta-feira, com o objetivo de discutir as conclusões dos investigadores sobre o comportamento de ligas metálicas, iões metálicos e óxidos para controlo da contaminação de superfícies em ambiente hospitalar.

Nesta inciativa vão ser apresentados resultados e possibilidades de aplicação desses materiais, bem como um caso prático de uso de ligas de cobre antimicrobianas num hospital.

Segundo um comunicado daquela institução de ensino superior, sendo as mãos o meio principal de transmissão da infeção, por contacto com superfícies contaminadas, é sobre estas que grande parte da atenção da engenharia da saúde se concentra, procurando revestimentos ou tratamentos com características bacteriostáticas ou bactericidas.

"Desde a década de 70 que as organizações governamentais têm acompanhado a problemática das infecções associadas aos cuidados de saúde e têm vindo a divulgar uma série de recomendações no sentido de conter as infecções e prevenir a sua transmissão".

Na Europa, segundo dados dos Inquéritos de Prevalência de Infecção (IPI), a prevalência das IACS oscila entre 5% e 10%, registando-se em Portugal, segundo dados realizados em 2003 e 2009, 8% e 10%, respectivamente, lê-se ainda na nota informativa.

A Jornada Técnica é uma ação conjunta da Associação de Técnicos de Engenharia Hospitalar Portugueses (ATEHP) e da Comissão de Ligação à Indústria da FEUP.

 

Barómetro
A esmagadora maioria dos adultos diabéticos inquiridos sobre a doença afirma que a perda de visão afetou as suas atividades...

De acordo com as conclusões do Barómetro da Retinopatia Diabética, que serão hoje apresentadas na sede da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), as limitações da perda de visão foram reportadas por 94 por cento dos inquiridos.

O Barómetro resulta de inquéritos realizados a 4.340 adultos diabéticos e 2.329 profissionais de saúde de 41 países. Em Portugal, responderam ao inquérito 73 adultos diabéticos e 80 profissionais de saúde.

Outra conclusão do barómetro indica que 48% dos doentes apontaram os longos tempos de espera para uma consulta como “uma barreira para exames oftalmológicos”.

Mais de um quarto (27 por cento) dos inquiridos nunca discutiu a saúde ocular com o seu médico ou só o fizeram após aparecerem sintomas associados, enquanto um pouco menos (24%) estão inscritos em programas de gestão da diabetes.

Dos diabéticos com retinopatia diabética e edema macular diabético, um quarto afirma que as alterações da visão dificultaram a gestão da diabetes.

Uma larga maioria (83%) dos inquiridos com doença ocular diabética já tive dias com debilidade física ou psicológica.

Quase um quarto (23%) dos profissionais de saúde inquiridos “não tem protocolos escritos disponíveis para a gestão da diabetes”.

De acordo com o Observatório da Diabetes, em 2014 a prevalência estimada da doença na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de indivíduos) foi de 13,1 por cento.

No mesmo ano, 8.320 foram identificadas para tratamento da retinopatia diabética.

Impacto da crise
O coordenador do estudo sobre o impacto da crise na saúde mental lamentou hoje que Portugal não tenha aproveitado "para...

"As crises são momentos que se devem aproveitar para fazer as mudanças e as reformas que devem ser feitas. No princípio da crise, tinha-se começado a implementar um plano de reforma da saúde mental, aprovado em 2008. O que aconteceu é que, em 2011, o plano foi suspenso", afirmou à Lusa o professor universitário José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, instituição que realizou o estudo.

A investigação, feita com base num inquérito a uma amostra da população portuguesa - 911 pessoas - e no seguimento de um trabalho anterior, com entrevistas a 2.060 pessoas, concluiu, segundo dados preliminares, que os problemas de saúde mental, sobretudo os mais graves, aumentaram em Portugal com a crise económica, entre 2008 e 2015.

José Caldas de Almeida foi coordenador nacional para a Saúde Mental, tendo sido responsável pela aplicação do Plano Nacional de Saúde Mental, entre 2008 e 2011.

Para o docente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, "a saúde mental deixou de ser uma prioridade dos governos", quer dos anteriores de direita, quer do atual de esquerda, atendendo a que "todo o esforço de reforma, de restrutura dos serviços foi suspenso".

Segundo o psiquiatra, medidas que constavam no Plano Nacional de Saúde Mental, como o desenvolvimento de serviços de comunidade, para acompanhamento de doentes, com equipas multidisciplinares, "foram interrompidas".

José Caldas de Almeida enalteceu, no entanto, "o profissionalismo muito grande, a dedicação" de médicos e enfermeiros, que evitou "o colapso" do sistema de saúde na resposta ao aumento das perturbações mentais.

"O sistema aguentou-se, não deu de si, não houve nenhuma situação dramática", advogou, salientando o "aumento significativo" do número de consultas, muito embora, apontou, a redução do orçamento para a saúde mental e a diminuição de médicos e enfermeiros nos serviços públicos, a "paragem de novas contratações".

O coordenador do estudo sublinhou que, apesar da capacidade de resposta do sistema de saúde, as dificuldades no acesso a consultas e a tratamentos adequados aumentaram entre 2008 e 2015.

O Lisbon Institute of Global Mental Health é uma associação privada sem fins lucrativos, que conta com a participação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, que acolhe o instituto, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

A instituição propõe-se contribuir "para o desenvolvimento de políticas e serviços de saúde mental a nível global, com especial ênfase nos países de baixo e médio rendimento, através de atividades e prestação de serviços".

Estudo Saúde Mental
Os problemas de saúde mental em Portugal, sobretudo os casos mais graves, aumentaram com a crise económica, atingindo quase um...

Trata-se dos resultados preliminares do projeto “Crisis Impact”, que estuda os efeitos da crise económica sobre a saúde mental das populações em Portugal, e que será apresentado hoje, durante o Fórum Gulbenkian de Saúde Mental.

O estudo, da autoria de José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, baseia-se numa atualização do estudo nacional de saúde mental de 2008-2009, permitindo comparar os dados do início da crise com os do final de 2015.

A conclusão que mais ressalta do estudo é o “aumento significativo da prevalência de problemas de saúde mental durante este período”, evidenciando uma relação estreita com os fatores sociais e económicos resultantes da crise.

Segundo os dados preliminares, os problemas de saúde mental passaram de uma prevalência de 19,8% em 2008, para 31,2% em 2015, um aumento que se verificou em todos os níveis de gravidade, mas sobretudo nos casos de maior gravidade.

Nos problemas ligeiros passou-se de 13,6% para 16,8% (um aumento de três pontos percentuais), nos problemas moderados de 4,4% para 7,6% (3,2 pontos percentuais), e nos problemas mais graves de 1,8% para 6,8% (5 pontos percentuais).

A prevalência de problemas de saúde mental em 2015 foi mais elevada entre as mulheres, os idosos, os viúvos e separados e as pessoas com baixa escolaridade.

Quanto à relação destes problemas com a crise económica - nomeadamente a diminuição de rendimentos, o desemprego, a privação financeira e a descida de estatuto socioeconómico – o estudo demonstra que estão significativamente associados, revelando igualmente elevados padrões de perturbações depressivas e de ansiedade.

Mais de 40% das pessoas da amostra do estudo reportaram descida de rendimentos desde 2008, cerca de metade por corte de salários e pensões, 14% por desemprego, 6% por mudança de emprego e 5% por reforma.

Os que referem não ter rendimentos suficientes para pagar as suas despesas são quase 40% da amostra e apresentam uma prevalência significativamente mais elevada de problemas de saúde mental do que as que não sentem privação financeira.

A situação agrava-se quanto maior é a privação, sendo especialmente marcada no grupo de pessoas que não conseguem pagar as despesas básicas (comida, eletricidade, água) e que têm dívidas.

Pelo contrário, a existência de um elevado suporte social e o viver em bairros onde as pessoas se sentem seguras e bem integradas provaram ser fatores protetores em relação ao risco de ter problemas de saúde mental.

No que respeita ao uso de medicamentos, acompanha a tendência crescente da prevalência de problemas mentais, tendo-se verificado uma subida progressiva das percentagens de pessoas que usam psicofármacos, sobretudo antidepressivos e ansiolíticos.

Em valores absolutos, o uso destes medicamentos é muito mais elevado entre as mulheres, mas verificou-se um aumento particularmente elevado no consumo por parte dos homens, especialmente ansiolíticos.

Relativamente aos tratamentos, nos últimos cinco anos 27,9% das pessoas procuraram ajuda, sobretudo junto dos médicos de medicina geral, seguidos dos psiquiatras e psicólogos.

No geral, o sistema de saúde revelou capacidade de resposta, embora com alguns problemas a nível do acesso aos cuidados e sobretudo a nível da continuidade e da qualidade dos cuidados.

Se entre 70% e 80% das pessoas conseguiram ter acesso a cuidados, apenas 40% tiveram acesso aos cuidados adequados, sendo as dificuldades em cobrir os custos e em marcar consultas os principais obstáculos apontados.

Distinção
O Hospital Garcia de Orta (HGO) venceu o primeiro prémio na 10.ª Edição do Encontro do Prémio de Boas Práticas em Saúde, pela...

O projeto desenvolvido no Hospital Garcia de Orta foi distinguido quarta-feira com o prémio atribuído pela 10.ª edição do Encontro do Prêmio de Boas Práticas em Saúde, organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), a Direção-Geral da Saúde, Administração Central do Sistema da Saúde e as Administrações Regionais de Saúde.

Pioneiro em Portugal, este serviço do Hospital Garcia de Orta é um modelo de assistência hospitalar que se caracteriza pela prestação de cuidados no domicílio a doentes agudos, desde que as condições biológicas, psicológicas e sociais dos pacientes o permitam.

A opção pelo internamento domiciliário, como refere uma nota de imprensa do Hospital Garcia de Orta, pode ser colocada "na admissão do doente no serviço de urgência, na consulta externa e no Hospital de Dia, e exige um diagnóstico claro, a estabilidade clinica e a possibilidade de controlar as co-morbilidades no domicílio".

Os doentes referenciados são submetidos a uma avaliação multidisciplinar em três eixos - médico, enfermeiro e assistente social - para se verificar se reúnem condições necessárias para usufruírem do serviço prestado pela Unidade de Hospitalização Domiciliária.

Desde que iniciou a atividade no final de 2015, a UHD disponibiliza um serviço com o mesmo rigor clínico do hospital para alguns doentes que, apesar dos problemas de saúde que apresentam, não necessitem de permanecer do hospital para prosseguirem os tratamentos necessários.

De acordo com o Hospital Garcia de Orta, a UHD já admitiu um total de 270 doentes que beneficiam daquele serviço, em média, cerca de oito dias e meio. Os principais beneficiários são doentes com infeções (rim/vias urinárias e da pele), insuficiência cardíaca e patologias respiratórias.

O Hospital Garcia de Orta revela ainda que os dados disponíveis evidenciam uma redução na taxa de complicações, nomeadamente infeções, e um elevado grau de satisfação dos doentes e das famílias com este serviço hospitalização domiciliária.

Programa "Anos Incríveis"
Os programas para a promoção da saúde mental, que foram aplicados durante o último ano em Coimbra, com “resultados muito...

Os programas ‘Anos incríveis para a promoção da saúde mental’, que foram aplicados em escolas do ensino pré-escolar e em centros de saúde do distrito de Coimbra, deveriam ser alargados a todo o país “porque os resultados são muito positivos”, disse à agência Lusa Maria João Seabra Santos, uma das coordenadoras da execução do plano.

Os resultados da aplicação em Coimbra dos programas, destinados a pais e a profissionais de educação e de saúde, vão ser debatidos numa conferência, na sexta-feira, a partir das 09:30, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC).

Visando diminuir desigualdades sociais e promover a saúde mental em crianças em idade pré-escolar, os ‘Anos incríveis’, que já tinham sido testados com sucesso em Portugal, foram agora executados por uma equipa de especialistas da FPCEUC em “60 jardins-de-infância de zonas carenciadas do distrito de Coimbra”.

A aplicação dos programas, coordenada por Maria João Seabra Santos e Maria Filomena Gaspar, foi possível graças a um financiamento internacional, no âmbito do 'Iniciativas de saúde pública’, do European Economic Area Grants (EEA-Grants), um mecanismo financeiro do espaço económico europeu, que conta com a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega como países doadores.

O alargamento do projeto a todo o território português implicaria, no entanto, a disponibilização de “meios materiais e, sobretudo, humanos”, reconhece Maria João Seabra Santos, que também é professora da FPCEUC.

Ao “dar formação e fornecer instrumentos” aos profissionais de educação e de saúde para “lidarem melhor com as crianças e famílias”, o programa promove “a melhoria das práticas”, que “se traduzem no desenvolvimento de competências sócio-emocionais e na diminuição de comportamentos problemáticos”, como se verificou em Coimbra, sublinha a especialista.

Mas os resultados alcançados “não são novidade”, pois, refere Maria João Seabra Santos, correspondem aquilo que já se tinha intuído, designadamente em função do que foi verificado noutros países.

Depois das ações desenvolvidas no âmbito dos ‘Anos incríveis’, “os técnicos sentiram-se mais capazes”, assegura a especialista, sublinhando que se registaram “grande adesão” e “elevados níveis de satisfação por parte dos profissionais” junto dos quais o programa foi aplicado.

O projeto ‘Anos incríveis para a promoção da saúde mental’ é encerrado na sexta-feira com uma conferência na FPCEUC, durante a qual vai ser debatido (considerando, designadamente, os resultados alcançados com a sua aplicação no distrito de Coimbra) por especialistas portugueses e estrangeiros, técnicos de educação e de saúde e dirigentes políticos e da administração pública, ligada à educação, à saúde e à segurança social.

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