Investigação da Fundação Champalimaud
A doença de Parkinson (DP) é uma desordem neurológica progressiva conhecida pelos seus sintomas moto

Um novo estudo da Fundação Champalimaud, publicado na npj Parkinson’s Disease e liderado pelo Laboratório de Disfunção de Circuitos Neurais em colaboração com os Laboratórios de Neuropsiquiatria e de Radiofarmacologia, oferece novas perspetivas sobre a complexa relação entre o tremor em repouso e a dopamina, um neurotransmissor (mensageiro químico) essencial para a coordenação dos movimentos.

O Paradoxo da Dopamina

Está bem estabelecido que a perturbação da regulação do movimento na DP é determinada pela diminuição dos níveis de dopamina em regiões do cérebro como o estriado onde se encontram os núcleos putamen e caudado. No entanto, enquanto alguns doentes apresentam um alívio significativo do tremor com terapias de reposição de dopamina, como a L-DOPA, outros mostram pouca ou nenhuma melhoria, ou até um agravamento dos sintomas. “O tremor é um sintoma comum e muitas vezes debilitante para os doentes com DP, mas foi sempre um enigma”, diz Marcelo Mendonça, um dos autores principais do estudo. “Sabemos que a dopamina está envolvida, mas a forma como afeta especificamente o tremor não é tão direta como acontece nos outros sintomas motores”.

O senso comum sugere que menos dopamina deveria corresponder a sintomas mais graves. No entanto, no caso do tremor em repouso, os investigadores descobriram precisamente o contrário. “Paradoxalmente, descobrimos que os doentes com tremor têm uma perda menor de dopamina no núcleo caudado, uma parte do cérebro importante para o controlo do movimento e a cognição”, explica Mendonça. “Isto desafia o nosso entendimento tradicional de como a perda de dopamina está relacionada com os sintomas da DP”.

Um Papel Subvalorizado no Tremor?

Utilizando dados de doentes do Centro Clínico Champalimaud e de bases de dados públicas, os investigadores analisaram informações de mais de 500 indivíduos. Este conjunto diversificado de dados foi recolhido através de avaliações clínicas longitudinais, de exames conhecidos por DaTSCANs, realizados para visualizar os neurónios dopaminérgicos e de sensores de movimento portáteis que medem com precisão a gravidade do tremor.

“Os sensores de movimento portáteis deram-nos uma medição mais clara e objetiva do tremor”, afirma Pedro Ferreira, coautor principal do estudo. “À primeira vista, os doentes com e sem perda de dopamina no núcleo caudado podem parecer semelhantes. No entanto, os sensores revelam diferenças subtis nas oscilações do tremor que as escalas clínicas tradicionais podem não conseguir detetar. Além disso, são relativamente fáceis de usar, permitindo-nos associar os sintomas clínicos ao que realmente está a acontecer no cérebro”.

“Combinando dados de imagem com as medições destes sensores, observámos uma ligação clara entre os terminais dopaminérgicos no núcleo caudado e a gravidade global do tremor em repouso”, continua Pedro Ferreira. “A nossa análise sugere que quanto mais a atividade dopaminérgica é preservada no núcleo caudado, mais forte é o tremor”.

Joaquim Alves da Silva, autor sénior e líder do Laboratório de Disfunção de Circuitos Neurais, acrescenta: “Este é o primeiro grande estudo que mostra claramente uma ligação entre níveis mais elevados de dopamina preservada no núcleo caudado e a presença de tremor em repouso. Embora os doentes com tremor em repouso tenham perdido terminações nervosas dopaminérgicas no caudado, demonstram ter mais destas terminações preservadas do que os doentes sem tremor”.

Uma das descobertas mais intrigantes do estudo foi que, quanto mais dopamina era preservada no núcleo caudado de um lado do cérebro (cada hemisfério tem o seu próprio núcleo caudado), maior era o tremor no mesmo lado do corpo. “Isto foi realmente inesperado”, diz Joaquim Alves da Silva. “Normalmente, cada lado do cérebro controla o movimento no lado oposto do corpo”. O modelo computacional desenvolvido pela equipa mostrou que este efeito “do mesmo lado” pode surgir de forma errónea devido a dois fatores: a maior preservação geral de dopamina nos núcleos caudados dos doentes com tremor e a forma desigual como a DP afeta cada lado do cérebro.


 Baixos níveis de perda de dopamina estão associados ao tremor observado nos doentes de Parkinson, o que vem desafiar aquele que era o entendimento tradicional. Créditos: Fundação Champalimaud.

Desafiar as Abordagens Tradicionais 

Este estudo dá continuidade ao trabalho anterior da mesma equipa, publicado em outubro na revista científica Neurobiology of Disease, que mostrou a vantagem de tratar o tremor em repouso separadamente de outros sintomas motores - uma mudança face às abordagens tradicionais que agrupam estes sintomas. A investigação anterior revelou que o tremor em repouso varia com o tipo de progressão da DP: o tremor, particularmente quando resistente ao tratamento, é mais comum em doentes com DP com “origem no cérebro”, enquanto aqueles sem tremor apresentam um padrão de sintomas mais alinhado com a DP com “origem no intestino”, onde o processo da doença começa no trato gastrointestinal e progride posteriormente para o cérebro.

Este novo estudo aprofunda esta linha de investigação, sugerindo que a gravidade do tremor em repouso pode estar associada a circuitos cerebrais específicos. “A perda de dopamina na DP não é uniforme - diferentes doentes podem perder dopamina em circuitos distintos”, observa Joaquim Alves da Silva. “Ao focarmo-nos no tremor em repouso isoladamente, estamos numa melhor posição para identificar os caminhos neurais específicos envolvidos. Por exemplo, será que o tremor resulta de um desequilíbrio de dopamina entre o núcleo caudado e o putâmen? Identificar correlações biológicas fiáveis para sintomas individuais é essencial, pois abre caminho para terapias mais direcionadas”.

“Nem todas as células dopaminérgicas são iguais”, acrescenta Marcelo Mendonça. “Estas têm diferentes composições genéticas, ligações e funções. Isto significa que as células que um doente perde ou preserva podem afetar os seus sintomas. Por exemplo, o tremor pode estar ligado à perda ou preservação de populações específicas de células dopaminérgicas que se ligam a certas áreas do cérebro. Esta variação na perda de tipos celulares pode explicar a ampla gama de sintomas observados nos doentes com DP”.

Implicações para o Tratamento e Investigação Futura

A equipa já está a olhar para o futuro, diz Joaquim Alves da Silva. “É difícil estabelecer uma relação de causalidade entre a preservação da dopamina no núcleo caudado e o tremor em repouso em humanos, razão pela qual pretendemos realizar testes em modelos animais, onde podemos manipular células específicas e observar os efeitos no tremor. Vamos também tirar partido de técnicas de imagem avançadas, como PET de dopamina de alta resolução e ressonância magnética, para identificar os nós-chave no sistema dopaminérgico e relacioná-los com sintomas motores específicos. Esta abordagem pode ajudar-nos a compreender melhor porque os sintomas da DP variam de doente para doente”.

Esta investigação destaca a importância de ir além das classificações gerais da DP e sublinha a necessidade de abordagens mais detalhadas, assentes na biologia subjacente. “Ao identificar os circuitos neurais específicos envolvidos, esperamos dissipar as incertezas em torno da heterogeneidade dos sintomas da DP e contribuir para intervenções mais precisas, que possam melhorar a qualidade de vida dos afetados por esta doença”, conclui Marcelo Mendonça.

 
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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
FMUC participa na Semana da Ciência Viva com variadas atividades
A Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra participa em mais uma Semana da Ciência e Tecnologia, que este ano decorre...

Alunos de todas as idades, incluindo os da universidade sénior, terão a oportunidade de vivenciar a ciência de perto com a intervenção de investigadores de várias áreas de conhecimento. “Investigadores e cientistas de renome saem dos seus laboratórios para irem ter com a comunidade de forma a aproximar o público do trabalho científico, proporcionando experiências práticas e informativas em escolas, centros de investigação e espaços comunitários, sublinhando a forma como a FMUC perspetiva parte da sua atividade.”, refere Henrique Girão, diretor do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR).

Este ano, os Institutos de Investigação iCBR, CNC-UC, MIA Portugal e Gene T uniram esforços para organizar atividades interativas e educativas, sob o consórcio CiBB. As atividades foram distribuídas em coordenação com as escolas participantes, oferecendo uma variedade de temas e métodos adaptados a diferentes faixas etárias, do pré-escolar ao ensino secundário e até à universidade sénior.

 
Dias 6 e 7 de dezembro
A Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM) realiza o XIX Congresso Nacional de Esclerose Múltipla (CNEM) nos dias 6...

Com o tema “Mais Conhecimento, Mais Saúde - Para uma melhor  qualidade de vida e gestão da Esclerose Múltipla”, o congresso anual da  SPEM reúne Pessoas com Esclerose Múltipla (PcEM), familiares,  cuidadores, profissionais de saúde e todos os que se dedicam à causa. 

Este ano o CNEM pretende destacar a ideia de que o acesso a  informações precisas e atualizadas sobre a esclerose múltipla (EM) são  essenciais para os profissionais de saúde e para os utentes. 

Conhecer melhor a EM permite um diagnóstico mais rápido, escolhas  terapêuticas mais eficazes e uma abordagem mais personalizada no  tratamento, abrangendo uma visão holística em que todas as dimensões  da saúde são essenciais. 

A qualidade de vida e a gestão da EM são a intersecção entre a procura  por uma vida equilibrada e feliz e o desenvolvimento de estratégias  eficazes para lidar melhor com os desafios da doença. 

Gabriela Condeço, diretora do XIX CNEM afirma que “o tema do CNEM  reflete o compromisso contínuo da SPEM em garantir que, através da  disseminação de informação e da sensibilização, as PcEM, familiares e  profissionais de saúde possam abraçar os desafios da EM de forma mais  informada e eficaz, promovendo assim uma vida mais ativa e saudável.”

Susete Margarido, subdiretora do XIX CNEM refere que “o CNEM é muito  mais do que um evento, é uma iniciativa que promove o encontro entre  todos, em que a partilha de experiências de vida e o convívio fortalecem  a comunidade, encorajando e motivando para um futuro melhor.” 

O XIX CNEM decorre em formato híbrido e conta com um programa  abrangente com oradores de excelência, estimando-se a participação de mais de 130 pessoas. As inscrições são obrigatórias para qualquer um dos dias e formatos. 

NOVA IMS lança iniciativa Think Tank SHARP - A Reflection into the Future of Cell Therapies
A gestão e a expansão do acesso à terapia com células CAR-T em Portugal, uma das terapias mais promissoras e inovadoras na luta...

O projeto terá três sessões estratégicas, nas quais vão ser debatidos os principais desafios e identificadas recomendações que permitam ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentar a resposta e integração desta tecnologia inovadora no tratamento destas e de outras potenciais doenças, assegurando um acesso rápido, eficiente e seguro para todos os doentes elegíveis.

“As células CAR-T são uma tecnologia que está a trazer alterações estruturais na forma como se abordam algumas doenças oncológicas. No curto/médio prazo, será também alargada a outros problemas oncológicos, a muitas doenças autoimunes e mesmo alguns problemas cardíacos. Dado que é uma tecnologia de vanguarda e com especificidades novas, o país tem de se capacitar a todos os níveis: estruturas, preparação de profissionais, modelos de financiamento e outros procedimentos de gestão de saúde. Ambicionamos com este projeto SHARP, dar o nosso contributo ao país para a criação e proposta de soluções que permitam o acesso atempado e equitativo a todos os doentes elegíveis a esta terapia.”, afirma Henrique Lopes, Diretor do NOVA Center for Global Health.

A primeira sessão, centrada nos modelos de financiamento desta terapia, reuniu diversos especialistas do ecossistema da saúde. Entre os participantes estiveram também dois dos membros do Steering Committee, Fernando Leal da Costa, Diretor do Departamento de Hematologia do IPO Lisboa e membro da Direção do Colégio de Especialidade de Hematologia Clínica da Ordem dos Médicos, e Xavier Barreto, Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.

Para Fernando Leal da Costa, “a tecnologia CAR é incontornável no tratamento de doenças malignas e vamos assistir à expansão do seu uso. Teremos mais indicações terapêuticas aprovadas, em linhas de tratamento mais precoces e para mais doenças, ao mesmo tempo que irão surgir mais alvos antigénicos, CAR produzidas em poucas horas, associação de CAR com outros tratamentos e até CAR alogénicas disponíveis na “prateleira” e prontas a usar. Os sistemas de saúde ainda não estão preparados para tudo isto”.

Numa perspetiva económica, Xavier Barreto sublinha que “estes tratamentos têm custos elevados, têm tendência para aumentar (por aumento das indicações e do número de doentes) e não são adequadamente financiados pelo Estado. Ora, sabendo que são tratamentos potencialmente curativos para patologias graves e partindo do pressuposto que o uso é considerado custo-efetivo, não podemos aceitar que o financiamento se possa constituir como um obstáculo ao uso destas terapêuticas. É urgente rever o financiamento das terapias com células CAR-T, garantindo que a retribuição é justa e que promove a equidade do seu uso no SNS português”.

Nas sessões seguintes, serão abordados temas centrais para o sucesso da implementação da terapia com células CAR-T em Portugal, incluindo a gestão e governança da jornada do doente a partir de uma visão multidisciplinar, bem como questões relacionadas com a evidência científica, o diagnóstico e a referenciação.

As perspetivas e recomendações resultantes do projeto SHARP serão consolidadas num relatório público, com previsão de apresentação no primeiro semestre de 2025, onde serão incluídas recomendações estratégicas para melhorar o acesso à terapia com células CAR-T em Portugal e fortalecer a capacidade do sistema de saúde para permitir o acesso a tecnologias inovadoras.

Dia Mundial do Não Fumador | 17 de novembro
A 17 de novembro celebra-se o dia Mundial do Não Fumador.

Tabagismo e doença cardiovascular

Fumar faz com que haja um aumento da tensão arterial em 10 a 20mmHg e da frequência cardíaca em 15 a 25 pulsações por minuto, o que acelera os processos de envelhecimento e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.  Aumenta os níveis de adrenalina, causando estreitamento das artérias e agregação das plaquetas sanguíneas, o que torna o sangue mais viscoso e com tendência a formar coágulos, levando ao AVC e enfarte agudo do miocárdio. O tabaco aumenta a libertação de radicais livres contribuindo para o processo de aterosclerose.

Porque vale a pena parar de fumar?  Após 20 minutos a pressão arterial e a frequência cardíaca voltam ao normal.  Após 48h a tensão arterial estabiliza. Ao fim de 2 a 3 semanas a circulação melhora e o risco de enfarte agudo do miocárdio começa a reduzir. Ao fim de um ano o risco de ataque cardíaco reduz para metade e ao fim de 5 anos o risco de enfarte agudo do miocárdio e AVC torna-se igual ao de uma pessoa que nunca fumou.

Tabagismo e doença pulmonar

O fumo do tabaco é a principal causa de bronquite, enfisema e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Estima-se que a DPOC seja, atualmente, a 3.ª causa de morte a nível mundial.

Porque vale a pena parar de fumar?  Após 8h os níveis de nicotina e dióxido de carbono diminuem em 50% e o oxigénio sobe para valores normais.  Após 72h os brônquios dilatam e a sua respiração melhora. Ao fim de um a nove meses, a falta de ar e a tosse diminuem, bem como as alergias e as infeções respiratórias.

Tabagismo e cancro

O tabagismo é a principal causa de cancro conhecida, sendo responsável por mais de 30% das mortes por neoplasia. O risco de cancro aumenta em todos os órgãos do corpo por onde o tabaco passa até chegar aos pulmões (boca, garganta, laringe e pulmões), no seu caminho de eliminação do organismo (rim e bexiga) e ainda noutros órgãos intermédios (pâncreas e colo do útero). Cerca de 90% dos cancros do pulmão são devidos ao tabagismo.

Porque vale a pena parar de fumar?  Após 5 anos o risco de cancro da boca e esófago reduz para metade. Após 10 anos tem 50% menos risco de vir a desenvolver cancro do pulmão. Aos quinze anos, o risco de cancro do pulmão é praticamente igual ao de uma pessoa que nunca fumou.

Porque parar de fumar é ganhar vida retenha estes números:

  • Se deixar de fumar aos 40 anos, ganha 9 anos de vida.
  • Se deixar de fumar aos 50 anos, ganha 6 anos de vida.
  • Se deixar de fumar aos 60 anos ganha 3 anos de vida.

Se fumar 20 cigarros por dia, poupa cerca de 5 euros/dia, 150 euros/mês, 1.800 euros por ano. Poupe a sua saúde e leve a sua família a passear!

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As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Dados mostram que situação afeta 80% das instituições
Quando se trata do circuito do medicamento, as instituições hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS) confirmam estarem...

“Pior: a escassez de recursos humanos, particularmente de Farmacêuticos, prejudica o acesso a serviços que poderiam fazer a diferença para os nossos doentes, como é o caso da consulta farmacêutica”, refere ainda o especialista. Consulta que, mostram os dados, já está implementada em 52% das instituições, mas tem na questão dos recursos humanos, segundo Xavier Barreto, um “fator limitante. É preciso formar e contratar mais farmacêuticos hospitalares, dando-lhes tarefas acrescidas em relação ao que fazem hoje”. 

Ainda no que diz respeito às barreiras de acesso ao medicamento, o Índex mostra que a maioria das instituições (86%) afirma que a carga administrativa é a grande barreira neste processo. Para o presidente da APAH, isso deve-se ao facto de “grande parte dos departamentos de compras ter sido assoberbado com o acrescento de trabalho resultante da integração das compras dos cuidados primários. Na maior parte dos casos, sem reforço de pessoal. Isso, como é natural, faz com que a carga administrativa seja ainda mais percecionada como um obstáculo”. 

O Índex mostra ainda que as ruturas de medicamentos continuam a ser vistas como um problema grave para 93,1% das instituições, o que confirma que há ainda mais a ser feito, como “prever consumos, negociar com maior antecedência acordos plurianuais com fornecedores, e garantir que o negócio é sustentável para todas as partes. Não posso deixar de dizer que as ruturas, não obstante criem uma sobrecarga de trabalho para as farmácias, geralmente não têm impacto no doente. São resolvidas via empréstimos, entreajuda entre farmácias, opção por outras alternativas terapêuticas.”

De facto, mostram os resultados, assistiu-se a uma evolução positiva ao nível da organização dos serviços no sentido de resolução dessas ruturas: 38% possuem um departamento, núcleo ou pessoa responsável por avaliar o impacto das ruturas, 83% um departamento, núcleo ou pessoa responsável por solucionar estes problemas e 69% um registo das ocorrências das mesmas. 

Ao todo, 79,3% das instituições tem implementado um programa de dispensa de medicamentos em proximidade, ainda que a nova regulamentação tenha sido apontada como responsável por limitar a tipologia de medicamentos a enviar, não abordar critérios por patologia, grau de incapacidade ou distância geográfica, limitar a entrega no domicílio e não estabelecer um claro circuito de distribuição/transportadora. Regulamentação que Xavier Barreto considera que “pode traduzir-se numa redução do benefício para os doentes, no sentido em que a entrega em proximidade não vai evitar que tenham de vir ao seu hospital para dispensa de alguns fármacos. A falta de definição de um circuito abre espaço para assimetrias entre diferentes ULS. As soluções não têm de ser iguais em todo o País, mas importa que estejam definidas e que sejam claras para todas as partes”. 

Do Índex, há ainda a salientar um aumento da despesa com medicamentos em 86% das instituições. A responsabilidade é, segundo o presidente da APAH, “claramente, da inovação terapêutica. Temos novos fármacos, geralmente mais eficazes, mas também mais caros. A decisão da sua introdução no SNS, bem como a definição do seu preço, não está no âmbito das ULS. O aumento de produção também contribui para este aumento. Se fazemos mais consultas e tratamentos, é natural que os custos aumentem. É um dos principais riscos financeiros para o SNS e deve ser alvo de uma atenção específica por parte do Governo”. 

Dermatologia
Sabia que a alergia ao frio existe, embora seja considerada uma condição rara?

Em que consiste a urticária ao frio?

A urticária é uma reação cutânea característica em que aparecem na pele (e por vezes mucosas) manchas e pápulas rosadas, eritematosas, com relevo (edema), de bordo bem definido, irregular, pruriginosas (dão comichão), como resultado de um estímulo da pele; neste caso, em resultado de contacto com o frio ou substâncias frias.

É considerada uma doença rara? Qual a sua incidência?

A reação de urticária em geral é bastante frequente e na maioria das vezes transitória. Os casos específicos de urticária resultante do frio são bastante mais raros.

É uma patologia que pode afetar qualquer pessoa, independentemente do sexo ou idade?

Sim. É uma reação anómala (por ser exagerada) a um estímulo pelo que não está ligada ao sexo ou idade. Digamos que é mais frequente em idades mais jovens tal como a maior parte das alergias inespecíficas. Há também formas raríssimas de urticária ao frio que são hereditárias.

Quais os principais sintomas? Que riscos apresenta e quais as principais complicações?

O principal sintoma é o prurido (comichão). Como sinais o doente refere o aparecimento de manchas e pápulas com aspeto semelhante a casca de laranja devido ao edema, espalhadas pelo corpo ou em relação com a área exposta ao frio, poucos minutos após a exposição ao frio. Desaparecem após algumas horas (1-2 horas) podendo aparecer noutras áreas do corpo. Esta reação pode ser transitória (demorar semanas) ou tornar-se crónica e persistir durante anos.

Quando existe uma reação mais grave, em que o edema não se limita à superfície da pele, mas também atinge mucosas e outros órgãos (pulmões, laringe, intestinos) pode acompanhar-se de dificuldade respiratória, cólicas, náuseas e mesmo originar colapso circulatório com desmaio, perda de conhecimento e morte.

Tem uma causa conhecida? O que a provoca?

As urticárias são reações anómalas a diferentes estímulos – alimentos, plantas, medicamentos, pressão, exercício, calor, frio – em que o estímulo faz com que um tipo de células que existem no sangue (mastócitos) libertem uma substância (a histamina) em circulação e essa substância provoca as reações observadas.  Por vezes não se identifica o estímulo desencadeante. Neste caso, o estímulo é o frio (objetos frios, gelo, água fria, …).

Como é feito o seu diagnóstico?

A história clínica é muito evidente, mas pode ser comprovado facilmente colocando um cubo de gelo em contacto com a pele aparecem as pápulas edematosas e eritematosas poucos minutos depois.

A urticária ao frio tem cura?

Na maioria dos casos é possível controlar com medicamentos e acabam por se ir tornando menos intensas e desaparecer. São raros os casos de urticária que persistem para além de 3 anos. Mas nos casos graves de reação intensa isso pode acontecer. Terá que se manter medicação e cuidados por mais tempo.

Qual o tratamento?

O tratamento passa por 1º tentar não expor a pele ao frio intenso (uso de luvas, gorros, roupa), não banhar em água fria, não ingerir alimentos/líquido gelados, não estar em contacto direto com superfícies frias (a roupa é um bom ajudante) e 2º pela toma de medicamentos anti-histamínicos receitados pelo médico. Por vezes é necessário fazer mais do que um medicamento e em doses elevadas.

Que cuidados deve ter quem sofre da patologia?

Ser criativo e arranjar estratégias de proteção da pele em relação ao frio.

 

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Opinião
O cuidador informal presta cuidados contínuos em coabitação, de forma não remunerada, à pessoa – fam

Cuidar do Outro traz bem-estar, mas é algo exigente e desgastante em termos físicos e psíquicos. Este compromisso impacta na vida profissional e pessoal do cuidador, sendo necessária a consciencialização da necessidade de apoio, bem como de períodos de pausa e descanso.

É importante o cuidador consciencializar-se de que para cuidar do Outro precisa de cuidar de si próprio, respeitando os seus interesses e necessidades, de forma planeada e envolvendo outros membros da família e amigos. Deve evitar o isolamento social, tirar momentos do dia para cuidar de si próprio, fazer o que mais gosta e descansar. Deve definir um horário e rotinas, tempos de atividades de cuidar e momentos de lazer e descanso. Desta forma, minimiza riscos para a sua saúde e fortalece a sua capacidade de cuidar.

Existe um conjunto de estratégias importantes para facilitar esta experiência e cuidar de si próprio, como: planear o dia, definir prioridades, reviver momentos positivos com a pessoa cuidada, relembrar memórias positivas e marcantes com a pessoa, criar um diário ou álbum de memórias, escrever um diário que facilite a sua expressão, conversar sobre o passado, viver o momento e um dia de cada vez, envolver os outros e aceitar ajuda, aprender a delegar, manter o sentido de humor, reconhecer que a situação de saúde do Outro pode levar à alteração de comportamentos e envolver a pessoa nos cuidados de acordo com as suas capacidades, promover momentos de descontração e interesse para ambos, valorizar-se e saber estabelecer limites. Assim, assegura a sua saúde física e psicológica e promove a partilha e o vínculo afetivo com a pessoa cuidada.

É igualmente importante realizar atividades do seu interesse, que lhe tragam bem-estar e tranquilidade, nomeadamente: passear ao ar livre, praticar atividade física, ler, ouvir música, cozinhar, pintar, praticar a religião, ir ao café, estar com amigos, falar de si, cuidar da sua imagem, divertir-se, entre outras.

Esteja atento a sinais de sobrecarga – física, emocional ou socioeconómica. Recorra à equipa de saúde, em particular ao enfermeiro, para o orientar e encaminhar sempre que necessite. Essa parceria entre cuidador informal e o enfermeiro é fundamental, tanto para proporcionar à pessoa cuidada como ao cuidar uma experiência digna, segura e confortável.

A sociedade e os profissionais de saúde em particular devem oferecer suporte e capacitação aos cuidadores, valorizando a sua dedicação e promovendo estratégias que melhorem o seu conforto e bem-estar tanto físico como psicológico.

Autoras: 

Isabel Lucas
Professora Coordenadora da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa – Lisboa; doutorada em Psicologia; mestre em Gestão de Recursos, especialista em Enfermagem de Reabilitação. Autora do livro "Cuidar, Confortar e Recuperar" (LIDEL Saúde e bem-estar).

Rita Marques
Professora Coordenadora da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa – Lisboa; doutorada em enfermagem; mestre e especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica e de Reabilitação. Autora do livro "Cuidar, Confortar e Recuperar" (LIDEL Saúde e bem-estar).
 

 

Nota: 
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Parceria entre a J&J, APDPróstata e APU
Todos os esforços são poucos para sensibilizar os homens para o cancro da próstata. Este ano, “Não Fique Fora de Jogo” é o mote...

A saúde do homem continua, de um modo geral, a ser negligenciada. Por preconceito, tabu, ou simplesmente receio, o homem não faz visitas periódicas ao médico, nomeadamente após os 50 anos. Em novembro, o mês por excelência de sensibilização para a saúde do homem, a J&J volta a unir-se aos seus parceiros APDPróstata e APU para reforçar esta necessidade de apelar a um maior cuidado por parte dos homens para a sua saúde.

A campanha, que estará disponível durante todo o mês de novembro, visa alertar para a saúde do homem, para que nenhum “fique fora de jogo”, sensibilizando-os para a literacia e apelando à ida ao médico logo a partir dos 40 anos.

A partir do início do mês de novembro será disponibilizado um tríptico no interior dos jornais O Jogo, Record e revista Men’s Health, com uma previsão de impactar mais de 320 mil pessoas. Aqui encontrarão uma breve descrição sobre a doença, sintomas, contatos úteis.

A campanha vai chegar também à Rádio com o mote “Elas é Que Sabem”, no programa “Três da Manhã”, onde as animadoras das manhãs da Rádio Renascença vão dar munições e argumentos para convencer os homens que fazem parte da sua vida (maridos, namorados, pais ou amigos). Em menos de um minuto, vai ficar a perceber porque é que “elas é que sabem” o que os homens devem fazer com a sua saúde.

As provocações da manhã serão respondidas à tarde, pelos animadores do “T3”, também na Renascença, que vão desfazer os mitos em torno do cancro da próstata. Haverá ainda conteúdos sobre a doença no site da Rádio Renascença.

“Sabemos que ainda é preciso fazer um grande caminho no que concerne ao cuidado da saúde do homem. Para a J&J, é fundamental continuar a investir na literacia em saúde, nomeadamente no cancro da próstata”, afirmou João Condeixa, diretor de External Affairs da J&J Innovative Medicine Portugal.

“É muito importante para a APDPróstata aliarmo-nos mais uma vez a esta campanha de sensibilização. O diagnóstico precoce é fundamental e, para isso, é muito importante que os homens estejam alerta para esta doença”, disse José Graça, vice-presidente da APDPróstata. Para Miguel Ramos, presidente da Associação Portuguesa de Urologia, o objetivo continua claro: “reforçar a importância de os homens irem ao médico, mesmo sem qualquer tipo de sintomatologia. É importante quebrar tabus e preconceito e começarem a cuidarem da sua saúde”.

Além dos meios de comunicação social, a campanha decorrerá também nas redes sociais das duas associações, sendo ativada também no Linkedin da Johnson & Johnson Innovative Medicine.

No âmbito do Dia Nacional do Não Fumador que se assinala a 17 de novembro
A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) vai lançar uma campanha de sensibilização antitabágica para assinalar o Dia Nacional...

Com a assinatura “Da boca para fora é fácil. Da boca para dentro é que são elas”, a campanha antitabágica da LPCC, com presença em televisão, rádio e mupis, conta com a criatividade da Famtone, produção da MP Produções e o apoio da Central Models, Indigo, Kool Dream, Paulo Design de Interiores e Rondinart. As imagens sublinham a importância de cumprir a promessa de deixar de fumar e explicam como a LPCC pode ajudar a cumpri-la, nomeadamente, disponibilizando consultas grátis de cessação tabágica.

O Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, lembra que “o tabaco é um dos agentes que mais contribui para a degradação e aceleração do envelhecimento do organismo, constituindo ainda o fator de risco comum a quatro das principais doenças crónicas: cancro, doença respiratória crónica, diabetes e doenças cérebro-vasculares”.

“O vício do tabaco mata e é mesmo o maior responsável pelo desenvolvimento do cancro do pulmão, cuja taxa de sobrevivência aos cinco anos é de apenas 15%”, alerta Vítor Veloso.

Portugal mantém uma alta incidência de cancro do pulmão, com 6.155 novos casos registados em 2022. O cancro do pulmão continua a ser responsável pelo maior número de mortes por cancro em Portugal, tendo em 2022 morto 5.077 pessoas.

Vítor Veloso alerta para a necessidade urgente de implementar um Programa de Rastreio de Cancro de Pulmão.

Inquérito de Satisfação do Internato Médico realizado pela OM
O Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) da Ordem dos Médicos, em parceria com o Conselho Nacional do Internato Médico e a...

Embora a maioria dos médicos internos inquiridos se encontre globalmente satisfeita com o internato médico, são apontados como aspetos geradores de maior insatisfação a falta de apoio financeiro e/ou logístico à realização de atividade científica (1.73/4) e à participação em atividade formativa (1.81/4), além de insuficientes recursos científicos como biblioteca e acesso a literatura atualizada (2.13/4). Destaca-se ainda a pontuação negativa atribuída ao equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal (2.37/4).

O ponto de maior insatisfação manifestado, de forma global, pelos inquiridos, mantém-se a ausência no horário laboral de tempo protegido para o estudo autónomo (1.65/4), tal como se verificou nos estudos anteriores.

Pelo lado positivo, os médicos internos revelam maior satisfação com a especialidade (pontuação de 3.02/4) e com o orientador de formação (pontuação de 3.28/4). Embora seja positiva, a satisfação com o serviço de formação é mais reduzida (pontuação de 2.82/4).

“Os resultados deste inquérito apontam áreas onde é preciso agir de forma incisiva e urgente para garantir uma formação ainda mais completa e humanizada. Embora a formação médica em Portugal seja amplamente reconhecida pela sua qualidade e rigor, é crucial reforçar as condições dadas aos médicos internos, providenciando os recursos e o suporte para que continuem a crescer como profissionais,” refere Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos.

“Os médicos internos estão expostos a situações de grande pressão, que muitas vezes resultam em episódios de violência e problemas de saúde mental. A Ordem dos Médicos, através do seu Gabinete Nacional de Apoio ao Médico (GNAM), tem investido na prevenção e disponibiliza apoio a estes médicos, para que nunca deixem de se sentir acompanhados,” conclui Carlos Cortes.

José Durão, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno da Ordem dos Médicos, destaca: “São dados que nos preocupam sobremaneira, mas não surpreendem. Contactamos diariamente com colegas de todo o país e conhecemos a sua realidade. Este inquérito evidencia, mais uma vez, pontos críticos em diversas especialidades e serviços de formação, e abordá-los tem de ser uma prioridade das instituições, da tutela e de todos os responsáveis pela formação médica. É a sustentabilidade dos recursos humanos médicos em Portugal que está em causa.”

Opinião
Os medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) desempenham um papel essencial no autocuidado,

A oferta crescente de MNSRM reflete mudanças nas dinâmicas da sociedade moderna, onde as pessoas procuram, cada vez mais, soluções rápidas e eficazes para problemas comuns de saúde. Estes medicamentos abrangem áreas como o alívio da dor, tratamento de sintomas de constipações e gripes, distúrbios digestivos ou alergias, entre outros. A conveniência e acessibilidade dos MNSRM são vantagens inegáveis, contribuindo para reduzir a pressão sobre os sistemas de saúde, sobretudo em situações onde uma consulta médica pode não ser necessária.

Além disso, os MNSRM contribuem para o empoderamento dos cidadãos em relação à sua própria saúde. A capacidade de identificar sintomas comuns e tomar medidas imediatas para aliviá-los ou tratá-los promove uma maior autonomia e responsabilidade individual.

No entanto, o fácil acesso a estes medicamentos pode levar, por vezes, a uma utilização inadequada ou excessiva, trazendo riscos para a saúde. O autocuidado não deve ser confundido com a automedicação irresponsável.

Neste sentido, as campanhas de sensibilização sobre o uso adequado dos medicamentos de venda livre têm um papel crucial. É fundamental que os consumidores sejam informados sobre os benefícios e limites destes medicamentos, bem como sobre a necessidade de ler atentamente o folheto informativo, seguir as posologias recomendadas e consultar o farmacêutico ou médico sempre que tiverem dúvidas. A educação em saúde é uma ferramenta poderosa para prevenir abusos e promover um uso seguro e eficaz dos MNSRM.

Outro desafio crescente no contexto do autocuidado é o aumento do recurso a plataformas digitais para a compra de medicamentos. Embora a venda online de MNSRM possa ser conveniente, há riscos associados como a possibilidade de adquirir produtos falsificados ou de qualidade duvidosa através de fontes não credenciadas. Neste sentido, é crucial que os consumidores saibam identificar farmácias online legítimas e certificadas, protegendo-se de possíveis riscos para a sua saúde.

Por fim, o papel dos MNSRM no autocuidado está intimamente ligado à responsabilidade individual. Um autocuidado eficaz depende de um equilíbrio entre a autonomia na gestão da saúde e a consciência dos limites da automedicação. Os medicamentos de venda livre são uma ferramenta valiosa para o alívio de sintomas e tratamento de problemas menores, mas não substituem o diagnóstico e acompanhamento médicos quando necessário. O uso responsável destes fármacos é, assim, essencial para uma abordagem preventiva da saúde, promovendo o bem-estar sem comprometer a segurança. Ao promover um uso informado e consciente dos MNSRM, é possível maximizar os benefícios desta forma de autocuidado, minimizando os riscos e contribuindo para uma sociedade mais saudável e autónoma.

Conclui-se, assim, que a nossa missão é crucial: ao fomentar a literacia em saúde, ajudamos os consumidores a tomar decisões mais informadas, incluindo quando é necessário procurar um profissional de saúde. Assim, contribuímos para um consumidor mais esclarecido e capacitado para fazer escolhas seguras e informadas sobre a sua saúde.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Prevenção e controlo da doença
Em Portugal, em 2021, cerca de 1,1 milhões de portugueses entre os 20 e os 79 anos tinham diabetes (

A diabetes é uma doença crónica que ocorre quando o organismo não consegue utilizar, de forma eficaz, a insulina que produz, sendo a insulina uma hormona que regula a glicemia (concentração de glicose no sangue). Os principais sintomas associados à doença são sede, cansaço, visão turva e perda de peso involuntária. 

As pessoas com diabetes apresentam um risco mais elevado de contrair doenças cardiovasculares. Alguns estudos sugerem ainda, um maior risco de desenvolver alguns tipos de cancro3. A adoção de um estilo de vida saudável é a estratégia mais eficiente para prevenir ou adiar o aparecimento de diabetes tipo 2. Também na diabetes tipo 1, a atividade física apresenta um efeito benéfico na expectativa de vida. 

“O exercício físico regular e uma alimentação equilibrada são pilares fundamentais não apenas para a prevenção da diabetes, mas também para garantir uma melhor qualidade de vida a longo prazo. No VivaGym, acreditamos que a adoção de hábitos saudáveis, como a prática de exercício físico, pode ajudar a combater essa doença silenciosa e promover bem-estar físico e mental para todas as faixas etárias”, afirma Daniel Galindo, Diretor do Departamento de Experience & Innovation do VivaGym. 

Alguns benefícios do exercício físico são: 

  • Aumento da sensibilidade do organismo à insulina, que permite às células dos músculos uma utilização mais eficaz da hormona e respetiva retenção durante e após o exercício; 
  • Regulação da pressão arterial, um fator importante na redução de complicações cardiovasculares.

Quanto à alimentação, os indivíduos com diabetes devem procurar ingerir alimentos ricos em fibras, proteínas magras e gorduras saudáveis como os cereais integrais, legumes, peixe, frango, frutas e bebidas vegetais. Alimentos como carnes processadas, doces e álcool, devem ser evitados. 

“Reconhecemos a importância de assinalar dias como este. Informar é o primeiro passo para prevenir e no caminho para uma vida saudável, cada passo conta. O VivaGym tem um compromisso que vai além do fitness. Queremos que as pessoas queiram cuidar da sua saúde”, acrescenta. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 30 minutos de atividade física moderada é suficiente para ajudar na prevenção da doença4

 

Referências: 

1 Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal. Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes (2023). [Consultado a outubro 2024 em: https://apdp.pt/3d-flip-book/relatorio-do-observatorio-nacional-da-diabetes/

2 Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. Um PRR para a Diabetes – A Oportunidade é Agora (2021). 

3 Noto, H., Goto, A., Tsujimoto, T., Osame, K., & Noda, M. (2013). Latest insights into the risk of cancer in diabetes. Journal of diabetes investigation, 4(3), 225-232. 

4 https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/diabetes, Organização Mundial da Saúde [Consultado outubro 2024] 

Fonte: 
Foto: 
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Dados de relatório Ascendant da Minsait (Indra Group)
As empresas farmacêuticas já integraram a Inteligência Artificial no seu dia a dia: três em cada quatro empresas concebem os...

O mesmo relatório destaca ainda quais são as operações específicas onde as empresas estão a concentrar ou vão concentrar os seus esforços na utilização da Inteligência Artificial, o que implica melhorar significativamente a velocidade e a precisão na descoberta de compostos, a previsão de resultados em ensaios clínicos, a otimização de processos de fabrico e a gestão inteligente da cadeia de abastecimento.

Adicionalmente, 33% das empresas entrevistadas já aplicou IA na análise de doenças, e 29% no desenvolvimento e fabrico de medicamentos. Assim, a Inteligência Artificial funciona como uma calculadora para os profissionais de saúde preverem se um paciente com diabetes desenvolve outra doença, ou detetarem se uma pessoa com doença cardíaca piora. Quanto ao fabrico de medicamentos, o estudo menciona a instalação de câmaras de visão artificial para análise de qualidade, entre outras possibilidades.

Por outro lado, o relatório considera quatro grandes dimensões para analisar o grau de maturidade das empresas farmacêuticas na adoção da Inteligência Artificial, destacando a motivação e a adoção. No primeiro caso, as organizações expressam a excelência operacional como objetivo principal: sete em cada dez entrevistados procuram alcançar maior eficiência nas suas operações como uma alavanca fundamental para melhorar a sua competitividade. Outras duas motivações são a melhoria na tomada de decisão (34%) e a melhoria da experiência dos clientes e cidadãos com quem interagem (31%). No caso da adoção, as áreas da cadeia de valor com maior foco são as operações internas específicas do setor (65%) e a aplicação da IA ​​à gestão de riscos e à cibersegurança (54%).

Relativamente às barreiras ou fatores que atrasam o caminho para a aplicação da Inteligência Artificial, o estudo menciona a escassez de competências e talento de profissionais especializados em IA (36%), a falta de visão estratégica por parte da gestão de topo (35% %) e a incerteza causada por um quadro regulamentar variável por geografia e setor na fase de desenvolvimento e implementação (31%).

Próximos passos para a indústria farmacêutica

O setor farmacêutico é um dos motores fundamentais da economia europeia, gera 300 mil milhões de euros e contribui com 175 mil milhões de euros para a balança comercial da UE. Lidera ainda o capítulo da inovação, com 41,5 mil milhões de euros investidos. Em Portugal, segundo dados de 2023 do Banco de Portugal, o setor farmacêutico representa um volume de negócios, superior a 15 mil milhões de euros.

O surgimento da Inteligência Artificial gerou elevadas expectativas no setor farmacêutico, onde a sua capacidade de automatizar tarefas sofisticadas e de alto valor acrescentado está a abrir possibilidades impensáveis, refere o relatório Ascendant. Neste sentido e de acordo com as conclusões do estudo, a IA surge como uma ferramenta essencial para acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos, melhorar a eficiência operacional e responder aos grandes desafios do setor.

“Já não há dúvidas sobre o potencial da Inteligência Artificial para qualquer empresa, independentemente da sua dimensão e setor. Além de aumentar a competitividade, tem a capacidade de ajudar a integrar soluções que podem transformar produtos e serviços e, paralelamente, otimizar processos assim como ajudar na tomada de decisões estratégicas”, refere Luis Monção, diretor de Industria e Consumo da Minsait em Portugal. “Nos próximos anos o setor farmacêutico deverá realizar investimentos consideráveis na produção, digitalização, investigação e sustentabilidade, e a IA poderá ter um papel fundamental naquilo que se pode vir a alcançar”.

O Relatório Ascendant da Minsait aborda, na sua quinta edição em 2024, o contexto e o grau de adoção da inteligência artificial pelas empresas e administrações públicas. Para tal, foi analisada a informação facultada por mais de 900 organizações de vários países, incluindo Portugal, de 15 setores de atividade diferentes.

Quais os cuidados?
A queda de cabelo pode dever-se a muitas causas, embora a genética e as hormonas sejam as mais frequ

No outono é comum perceber-se uma queda maior do que o normal, o que se deve a várias razões e não tem de apontar um problema capilar. Retomar o trabalho e o ritmo habitual da vida após as férias de verão pode gerar um pico de stress que pode refletir-se na nossa saúde capilar. Além disso, a crença popular dá ao outono uma responsabilidade extra na queda de cabelo.

Mas o que realmente acontece é que nesta época do ano há uma renovação mais intensa. A explicação deve-se a que, no ciclo de vida do cabelo, primavera e outono correspondem às fases de maior telogénese (queda), que são seguidas por anagénese, em que o cabelo volta a crescer.

Para além destas considerações, as agressões sofridas pelo nosso cabelo durante o verão, com intensa exposição ao sol, cloro, sal marinho, areia, vento e humidade, também podem contribuir para a queda de outono.

Por isso, se vir mais pelos na escova ou no chuveiro do que o habitual, não fique alarmado. Pode ser uma queda totalmente natural. Os cerca de 100 cabelos perdidos por dia ao longo do ano, podem chegar ao dobro no outono. Claro que, se este ritmo continuar para além do que esta fase deve durar – cerca de três meses – o melhor é consultar um especialista.

O stress contínuo pode provocar a queda de cabelo para desencadear a chamada alopécia nervosa ou de stress. A boa notícia é que esta é um tipo de perda de cabelo temporária, que pode ser invertida se a causa que a gerou for eliminada, isto é, se o grau de stress for reduzido.

Assim, o nervosismo pode ser a causa do eflúvio, uma queda difusa que afeta principalmente as mulheres.

Depois de várias semanas de relaxamento habitualmente associado ao verão, sem horários marcados e com descanso e divertimento como única obrigação, o retorno pode levar a uma quebra significativa de humor. Nem sempre podemos voltar ao trabalho e à vida com elevados níveis de stress laboral de forma gradual, acabando a nossa saúde capilar e não só por sofrer.

Adaptar-se o mais rapidamente possível às rotinas pós-férias é fundamental para reduzir a quantidade de stress e, assim, não colocar o nosso cabelo em risco. Também é uma boa ideia refrescar o cabelo após o verão com um bom corte, assim como incorporar alimentos ricos em ferro, ácido fólico, magnésio, iodo, zinco, vitaminas B e colagénio na dieta.

Os champôs nutritivos e fortificantes, com a sua ação restauradora e regeneradora, são úteis. Quando os aplicar, massaje suavemente o couro cabeludo para promover a circulação sanguínea.

Além disso, a mesoterapia capilar poderá ser uma ajuda eficaz no estímulo e nutrição dos seus folículos para produzir cabelos de maior qualidade e mais resistentes. Além disso, o Plasma Rico em Plaquetas (PRP) com todos os fatores de crescimento derivados das plaquetas (células do sangue) ajuda a que as unidades foliculares produzam novamente o cabelo com qualidade e resistência.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Cerimónia da 68.ª edição dos Prémios Pfizer decorreu esta 4ª feira
Na 68.ª edição dos Prémios Pfizer, o mais antigo galardão na área da investigação biomédica em Portugal, destacaram-se as...

Os Prémios distinguem um projeto de investigação clínica e dois projetos de investigação básica, totalizando um montante de 60 mil euros. A entrega dos prémios decorreu numa cerimónia que contou com a presença da Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo; da Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, Maria do Céu Machado; e do Diretor Geral da Pfizer Portugal, Paulo Teixeira.

Paulo Teixeira, Diretor Geral da Pfizer Portugal, sublinha: "É com grande entusiasmo que celebramos mais uma edição dos Prémios Pfizer. Estamos profundamente convencidos de que Portugal possui um potencial notável para se estabelecer como um centro de excelência, apoiado na elevada competência dos nossos investigadores e na qualidade das nossas instituições. Os projetos distinguidos representam um contributo valioso para a melhoria da qualidade de vida das populações, reiterando a necessidade de que a saúde e a ciência permaneçam indissociáveis na procura por novas soluções terapêuticas”.

Trabalhos premiados revelam mecanismo que agrava o prognóstico do Cancro do Estômago, migração celular dos Fotorrecetores com impacto negativo na Retina Humana e transformação de Células Tumorais em Células Imunitárias. 

Syndecan-4: Compreensão de um mecanismo molecular que agrava o prognóstico do Cancro do Estômago

O Cancro do Estômago persiste como um desafio de saúde global, com mais de um milhão de novos casos diagnosticados anualmente. Trata-se de uma doença clinicamente desafiante por, frequentemente, apresentar apenas sintomas numa fase avançada da doença. Nos últimos anos, têm surgido evidências científicas de que certas proteínas modificadas com carboidratos complexos (incluindo a classe dos proteoglicanos), quando alteradas, podem desempenhar um papel determinante na progressão dos tumores.

O trabalho premiado, desenvolvido pela investigadora Ana Magalhães e pela sua equipa, identificou que o proteoglicano Syndecan-4 (SDC4) está muito presente em tumores do estômago do subtipo intestinal. O aumento da sua expressão está associado a uma maior invasão das células tumorais e a um pior prognóstico. O estudo demonstra ainda que o SDC4 é transportado por vesículas extracelulares, produzidas pelas células tumorais, e consegue direcioná-las para o fígado e para o pulmão, precisamente os órgãos onde é comum aparecerem metástases de Cancro do Estômago.

“Com estas descobertas, a nossa equipa de investigação contribuiu para a compreensão de um novo mecanismo de comunicação das células tumorais, identificando um potencial alvo para o desenvolvimento de novas terapias que possam travar a formação de metástases e melhorar o prognóstico de doentes com cancro do estômago”, refere Ana Magalhães, Investigadora do i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde e Docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

Peixe-Zebra e a Migração Celular dos Fotorrecetores: Implicações para a Retina Humana

O estudo liderado pela Investigadora Caren Norden analisou como a migração dos fotorrecetores – as células responsáveis por detetar a luz, capturar imagens e possibilitar a visão – contribui para o desenvolvimento saudável do olho.

Utilizando o peixe-zebra como modelo para estudar a organização da retina em vertebrados, os investigadores descobriram que os fotorrecetores se movem de forma coordenada: inicialmente afastam-se do local onde foram formados e, em seguida, regressam. Este movimento cria espaço para outras células em divisão e facilita o crescimento organizado da retina.

A migração dos fotorrecetores é impulsionada por diferentes mecanismos celulares, dependendo da direção do movimento. Se esses fotorreceptores não migrassem corretamente logo após a sua formação, poderia haver uma sobrelotação na retina. Isso, por sua vez, poderia interferir na divisão de outras células essenciais que também se dividem na superfície da retina para formar outros tipos de neurónios, resultando numa formação inadequada do tecido e numa retina sem função. Importa realçar que este fenómeno foi também observado em tecido humano e em organoides de retina, que são modelos cultivados a partir de células humanas.

Nos humanos, problemas na migração destes fotorrecetores podem causar doenças na retina ou problemas de desenvolvimento. Caren Norden, Investigadora principal na Fundação GIMM, sublinha que a “combinação do peixe-zebra com modelos de cultura celular humana permite uma melhor compreensão do desenvolvimento da retina humana, uma vez que os resultados obtidos com o peixe-zebra podem servir para tornar os estudos com tecido humano mais direcionados e comparativos. Juntas, estas pesquisas inter-espécies fornecem uma base para avançar na compreensão da biologia da retina, levando a novas estratégias terapêuticas”.

Resposta Imunitária contra o Cancro: Transformar Células Tumorais em Células Imunitárias

O nosso sistema imunitário trava uma batalha constante contra o cancro, recorrendo a mecanismos que lhe permitem identificar e eliminar as células tumorais. No entanto, estas células desenvolvem estratégias que lhes permitem escapar ao reconhecimento por parte do sistema imunitário, evitando assim a sua destruição. O sistema imunitário prevalece quando as suas células são capazes de reconhecer os antigénios presentes nas células tumorais — proteínas específicas na superfície celular que distinguem células saudáveis de células anormais.

Constituindo um tipo de células imunitárias com a capacidade de processar e apresentar antigénios, as células dendríticas coordenam a imunidade antitumoral. O estudo premiado fornece um novo trunfo para desenvolver uma resposta imunitária contra o cancro. A base desta investigação baseia-se na ideia de que é possível mudar a identidade celular – ou seja, uma célula pode ser transformada numa célula diferente através de um processo chamado reprogramação celular.

A obtenção de resultados prévios permitiu aos investigadores saber quais os reguladores que impunham uma identidade de célula dendrítica. Assim, neste estudo, foi possível reprogramar células de cancro (humanas e de ratinhos) em células que apresentam antigénios tumorais. “Os resultados foram promissores: quando as células reprogramadas foram injetadas em ratinhos com tumores, houve uma redução no crescimento dos tumores, um aumento na sobrevivência dos animais e uma melhor resposta a tratamentos de imunoterapia já existentes”, destacou Filipe Pereira, Investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra. 

Estudo publicado na revista Cell
Segundo um estudo do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL, sigla em inglês), a carga microbiana é um fator...

Na doença ou na saúde, os milhares de milhões de microrganismos que habitam os nossos intestinos são nossos companheiros constantes ao longo da vida. Nas últimas décadas, os cientistas têm demonstrado que a natureza deste “microbioma” pode fornecer pistas valiosas sobre as doenças humanas e o seu tratamento.

Um novo estudo do grupo Bork do EMBL Heidelberg, recentemente publicado na revista Cell, refere que uma série de condições, como o estilo de vida e as doenças, afectam o número total de micróbios no intestino, o que faz com que esta métrica, frequentemente negligenciada, mereça uma avaliação mais aprofundada na investigação do microbioma intestinal.

Da composição às cargas

Ao estudar os microbiomas, os investigadores tendem a concentrar-se mais na composição microbiana - a proporção relativa de diferentes espécies de micróbios (geralmente bactérias e archaea, mas também protistas, vírus e outros microrganismos). Isto diz-nos, por exemplo, se o nível de uma espécie de bactéria aumenta ou diminui em comparação com outras espécies nos intestinos de determinados doentes.

Para ilustrar isto, imagine que apenas 1.000 bactérias vivem no seu intestino. Em indivíduos saudáveis, este número pode incluir 10 bactérias da espécie “vermelha” e 20 bactérias da espécie “azul”, pelo que poderíamos dizer que as bactérias vermelhas constituem 2% do microbioma e as azuis 5%. No entanto, em indivíduos que sofrem de uma determinada doença, podemos observar que as bactérias vermelhas constituem 4% do microbioma - um aumento relativo, enquanto as bactérias azuis permanecem nos 5%. Poderíamos então colocar a hipótese de as bactérias vermelhas estarem associadas a esta doença.

Por outro lado, a carga microbiana refere-se à densidade de micróbios no interior dos nossos intestinos. Experimentalmente, é determinada como o número de células microbianas por grama de fezes. Ao contrário da composição microbiana, é uma quantidade absoluta. No exemplo acima, imagine que o número total de bactérias desce para 500 em resultado de uma doença. Olhando para os números absolutos, é possível que o número de bactérias vermelhas tenha permanecido o mesmo, enquanto o número de bactérias azuis diminuiu.

Normalmente, os cientistas apenas têm em conta a composição microbiana quando realizam estudos do microbioma, porque os métodos experimentais actuais para medir as cargas microbianas são intensivos em termos de tempo e de custos.

Utilizar a aprendizagem automática para tornar os estudos do microbioma mais robustos

“Queríamos desenvolver um novo método que não exigisse métodos experimentais adicionais para quantificar a carga microbiana”, afirmou Suguru Nishijima, primeiro autor do estudo e pós-doutorado no Grupo Bork. “Tínhamos acesso a grandes conjuntos de dados com a composição microbiana e dados de carga microbiana medidos experimentalmente. Queríamos ver se podíamos utilizá-los para treinar um modelo de aprendizagem automática para estimar a carga microbiana tendo em conta apenas a composição microbiana”.

Os conjuntos de dados utilizados para este exercício provêm dos consórcios GALAXY/MicrobLiver e Metacardis - projectos de grande escala financiados pela UE para os quais o Grupo Bork já contribuiu anteriormente. Extraídos de mais de 3700 indivíduos, estes dados constituíram uma forma ideal de testar se um modelo de aprendizagem automática podia ser treinado para estimar o número total de micróbios numa amostra.

E, de facto, o modelo criado por Nishijima e os seus colegas conseguiu prever de forma robusta as cargas microbianas, que validaram utilizando um novo conjunto de dados que o modelo não tinha encontrado antes. Sabendo que o modelo funcionava, os investigadores aplicaram-no a uma enorme amostra de mais de 27 000 indivíduos, recolhida a partir de 159 estudos anteriores realizados em 45 países.

Descobriram que muitos factores podem influenciar a carga microbiana. Por exemplo, a diarreia pode reduzir o número de micróbios no intestino, enquanto a obstipação pode aumentá-los. As mulheres têm, em média, uma carga microbiana mais elevada do que os homens (talvez devido à observação de que as mulheres sofrem de obstipação com mais frequência do que os homens), enquanto os jovens têm uma carga microbiana média inferior à dos idosos. Muitas doenças, bem como os medicamentos utilizados para as tratar, alteram significativamente a carga microbiana.

“É importante notar que muitas espécies microbianas que se pensava estarem associadas à doença foram mais fortemente explicadas por variações na carga microbiana. Estes resultados sugerem que as alterações na carga microbiana, e não a doença em si, podem ser o fator determinante das mudanças no microbioma dos doentes”, afirmou Nishijima. “No entanto, certas associações doença-micróbio mantiveram-se, e isto mostra que são verdadeiramente robustas. Isto confirma ainda mais a importância de incluir a carga microbiana nos estudos de associação do microbioma para evitar falsos positivos ou falsos negativos.”

Graças ao novo modelo de aprendizagem automática que estes cientistas desenvolveram - o primeiro a prever cargas microbianas a partir de dados de composição - os cientistas podem agora incluir este importante fator em futuros estudos do microbioma intestinal. O modelo está disponível de forma livre e aberta para ser testado e reutilizado por investigadores de todo o mundo.

Isto pode também ter implicações muito para além do microbioma intestinal.

“Os nossos oceanos, solos, rios - estão todos repletos de micróbios, e a compreensão destes microbiomas pode produzir conhecimentos valiosos para ajudar a preservar a nossa saúde planetária”, afirmou Peer Bork, chefe de grupo e diretor do EMBL Heidelberg e autor principal do estudo. “Este estudo mostra-nos que a carga microbiana é uma medida importante que deve ser tida em conta nesses estudos. Assim, vamos trabalhar no sentido de traduzir o conhecimento sobre o microbioma intestinal para outros habitats”.

Inquérito elaborado pelo Medscape
Em que medida os médicos europeus confiam e utilizam a inteligência artificial (IA)? O que os preocupa e que futuro reserva a...

Com a inteligência artificial a ser disseminada de forma transversal entre várias áreas, incluindo a saúde, os portugueses são dos mais entusiasmados (54%) entre os médicos europeus inquiridos em relação ao futuro da IA no local de trabalho médico, seguidos pelos britânicos (50%) e pelos espanhóis (46%). Independentemente da forma como se sentem em relação à IA, mais de metade dos médicos inquiridos afirmou que é muito importante estarem informados sobre a IA e as suas aplicações nos cuidados de saúde.

Em termos das especialidades que mais se beneficiariam com a utilização desta tecnologia, existem dois vencedores claros para os médicos inquiridos: a radiologia e a clínica geral. De facto, 75% dos médicos portugueses revelam sentimentos positivos sobre o impacto da IA na interpretação de exames de radiologia, valor que contrasta com o sentimento negativo dos seus colegas espanhóis (75%).  Contudo, a maioria dos médicos entrevistados em todos os países participantes também consideraria, por exemplo, utilizar a IA para resumir o registo eletrónico de saúde de um paciente antes de uma consulta.

Outra das principais conclusões centra-se no potencial impacto da tecnologia na redução dos casos de negligência médica. Aqui, os médicos italianos (64%), espanhóis (61%) e portugueses (57%) acreditam que a IA irá reduzir estes casos. E em comparação com outros países, os médicos alemães (35%) são mais propensos a pensar que a IA não terá impacto nos casos de negligência e os médicos britânicos (40%) os mais propensos a pensar que o uso da IA irá fazer aumentar estes casos. Já quando se avalia a possibilidade de utilização desta tecnologia no tratamento de doentes, quase metade dos médicos inquiridos demonstra relutância e afirma não considerar esta possibilidade.

A IA é cada vez mais utilizada nos cuidados de saúde, mas enquanto alguns médicos a acolhem favoravelmente, outros – com os portugueses à cabeça –, temem que ela possa substituir o juízo clínico e o conhecimento médico. Os alemães são os menos temerosos, com 72% dos profissionais a dizer que estão "pouco preocupados" ou "nada preocupados", mas os médicos em Portugal representam a fação mais elevada (55%) dos que estão muito ou um pouco preocupados com esta possibilidade.

Por fim, chama atenção o interesse dos doentes na utilização da IA, tema também abordado no levantamento. Um total de 78% dos médicos em Portugal e 77% na Itália consideram que a opinião dos doentes é geralmente favorável à utilização desta tecnologia, embora a maioria dos inquiridos (mais de 79%) tenha manifestado o temor de que doentes que recorrem à IA generativa para obter informações médicas possam receber informações incorretas. Da mesma forma, cerca de 4 em cada 5 médicos em todos os países incluídos no levantamento estavam preocupados com o facto dos doentes que se autodiagnosticam por meio da IA poderem considerar este caminho mais a sério do que o conhecimento do próprio médico.

Agostinho Carvalho, Patrícia Maciel e Rui L. Reis vão participar em projetos de um milhão de euros cada
Agostinho Carvalho e Patrícia Maciel, do ICVS - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho,...

O projeto de Agostinho Carvalho é financiado com um milhão de euros e em parceria com Vinod Kumar e Cioral Barbas, respetivamente das universidades de Radboud (Países Baixos) e San Pablo (Espanha). O fungo Aspergillus “anda” pelo ar e inalamo-lo diariamente, mas quem tem o sistema imunitário comprometido, devido por exemplo a transplante, tumor ou covid-19, pode desenvolver aspergilose pulmonar invasiva, que atinge dois milhões de pessoas por ano e 60 a 80% desses casos resultam em morte. Agostinho Carvalho vai agora explorar fatores genéticos que influenciam o risco de infeção em doentes imunodeprimidos, ou seja, ter novos biomarcadores para prever quem desenvolverá a doença e se poder personalizar o tratamento.

Patrícia Maciel também vai realizar o seu projeto no ICVS da Escola de Medicina da UMinho e contar com um milhão de euros, tendo a parceria de Fernanda Borges, do Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto. A doença de Machado-Joseph é neurodegenerativa, hereditária, rara e ainda sem tratamento. Afeta uma/duas em 100.000 pessoas e deve-se à mutação da proteína ataxina-3, que se agrega e leva à disfunção dos neurónios e seu desaparecimento progressivo, causando descoordenação de movimentos, fraqueza nos membros e dificuldades na fala e deglutição. Patrícia Maciel vai desenvolver moléculas que consigam eliminar as proteínas mutantes que provocam aquela doença.

Já Rui L. Reis, professor catedrático do Grupo 3B’s e presidente do Instituto I3Bs – Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos da UMinho, com um contributo determinante do investigador principal do Grupo 3B’s, Ricardo Pires, é o parceiro do projeto coordenado por Pia Cosma, do Centro de Regulação Genómica de Barcelona (Espanha). Igualmente apoiado com um milhão de euros, o trabalho visa criar uma retina sintética que recupere a visão em casos de cegueira por retinite pigmentária. Esta patologia afeta uma em cada 3000 a 5000 pessoas, que perdem progressivamente os fotorreceptores da retina e, em fases avançadas, não existe cura. Os cientistas vão testar a terapia regenerativa em ratinhos com essa doença, para perceber se a visão pode ser eficazmente recuperada e, eventualmente, dar mais um passo num possível tratamento para vários tipos de cegueira.

O concurso “CaixaResearch de Investigação em Saúde 2024” teve 580 projetos biomédicos candidatos para serem executados nos próximos anos em centros científicos, hospitais e universidades de Espanha e Portugal. A Fundação “la Caixa” reconheceu 29 desses projetos de excelência e elevado impacto social, atribuindo um total de 25.7 milhões de euros. Três dos nove projetos portugueses selecionados tiveram o cofinanciamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

 
Opinião
A diabetes mellitus afeta 422 milhões de pessoas em todo o mundo e provoca 1,5 milhões de mortes anu

A diabetes caracteriza-se pelo aumento dos níveis de glicose no sangue e a sua relação com as doenças hepáticas revela uma ligação complexa que merece especial atenção. Existem vários tipos de diabetes, sendo os mais comuns a diabetes tipo 1 e a diabetes tipo 2, existindo também a diabetes gestacional e outros tipos menos comuns. A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. A diabetes tipo 2, por sua vez, está fortemente ligada a comportamentos e a dietas não saudáveis, e a diabetes gestacional ocorre durante a gravidez, normalmente resolvendo-se após o parto.

A relação entre estas duas condições pode manifestar-se em ambos os sentidos. Primeiro, a diabetes pode surgir como uma complicação da cirrose hepática, pois a insuficiência hepática pode alterar o metabolismo da glicose (açúcares) e provocar diabetes.  A diabetes pode dificultar o tratamento de infeções e aumentar a morbimortalidade em doentes com cirrose. Além disso, a diabetes pode exacerbar a gravidade de doenças hepáticas como a doença hepática alcoólica e o cancro hepático.

Por outro lado, a diabetes tipo 2 é por si só um fator de risco significativo para o desenvolvimento de doença hepática. Os diabéticos tipo 2 frequentemente enfrentam problemas como obesidade, hipertensão e níveis elevados de gorduras no sangue. A resistência à insulina, uma característica da diabetes tipo 2, resulta na libertação de ácidos gordos que se acumulam nas células do fígado, levando à esteatose hepática, também conhecida como fígado gordo. Esta condição pode provocar inflamação crónica e evoluir para formas mais graves de doença hepática, incluindo cirrose e cancro do fígado.

O tratamento eficaz da diabetes em conjunto com as doenças hepáticas requer uma abordagem multidisciplinar que envolva especialistas em ambas as áreas. No entanto, a prevenção continua a ser a melhor estratégia, com a adoção de uma dieta saudável e a prática regular de exercício físico a desempenharem papéis cruciais na prevenção dessas condições interligadas.

No âmbito do Dia Mundial da Diabetes, assinalado a 14 de novembro, deixamos o lembrete para que reconheça a importância de uma abordagem integrada para o tratamento da diabetes e das doenças hepáticas, contribuindo para manter o equilíbrio e a saúde a longo prazo. A adoção de uma dieta equilibrada, a prática regular de exercício físico e a realização de consultas médicas periódicas são fundamentais para prevenir e gerir ambos os problemas.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.

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