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Doença celíaca

Atualizado: 
05/07/2019 - 12:10
A doença celíaca é uma doença auto-imune que ocorre em indivíduos com predisposição genética causada pela permanente sensibilidade ao glúten.
Pão e sementes de trigo

Pouco conhecida, a doença celíaca é uma doença que danifica o aparelho digestivo, intestino delgado e interfere com a absorção de nutrientes do alimento, quando são ingeridos alimentos ou usam produtos com glúten. O glúten define-se por um conjunto de proteínas individuais que se encontram nos cereais e se dividem em poliaminas e gluteninas. Dito de uma forma mais simples, o glúten é uma proteína existente em alguns cereais como o trigo, a cevada, o centeio, a aveia, etc.

Assim, quando os indivíduos intolerantes a esta proteína a ingerem, “o sistema imunológico, responde danificando as vilosidades do intestino delgado, que são responsáveis pela absorção dos nutrientes dos alimentos para a corrente sanguínea”, explica Delphine Dias, nutricionista da Associação Portuguesa de Nutricionistas. Ou seja, o organismo produz anti-corpos e ao serem destruídas as vilosidades, o intestino perde capacidade de absorção e responde com os sintomas habituais desta doença. Conforme nos refere a nutricionista, “os sintomas desta doença variam de pessoa para pessoa, e podem ocorrer ao nível do sistema digestivo ou de outras partes do corpo. Normalmente são as crianças as mais afectadas por sintomas do sistema digestivo, e principalmente nos primeiros dois anos de vida, durante a introdução de novos alimentos na dieta”. Apesar da diversidade de sintomas os mais comuns incluem a distensão abdominal e dor, diarreia crónica ou intermitente, vómitos, perda de peso, palidez ou fezes ricas em gordura, brilhantes, fétidas, volumosas e pouco consistentes. A anemia ferropriva inexplicada, a fadiga, dores ósseas ou articulares e cãibras, depressão ou ansiedade, a prisão de ventre ou diarreia ou o aparecimento de aftas recorrentes são sintomas muito frequentes nos doentes adultos.

As consequências da doença celíaca são especialmente significativas na criança, uma vez que “a má absorção de nutrientes, durante os anos em que a nutrição é essencial para o crescimento normal da criança podem resultar em outros problemas, como atraso no crescimento e baixa estatura, puberdade atrasada e defeitos no esmalte dos dentes permanentes”, alerta a especialista.

A causa da doença é genética e não tem cura, por isso manter-se-á para toda a vida. Conforme explica Delphine Dias, a doença pode “por vezes tornar-se activa pela primeira vez após cirurgia, gravidez, parto, infecção viral ou por stress emocional grave”. O factor genético pode também explicar o facto de estes indivíduos tenderem a ter outras doenças – por exemplo, a diabetes tipo 1, a doença auto-imune da tiróide, a doença hepática auto-imune ou a artrite reumatóide - em que o sistema imunológico ataca as células saudáveis do corpo e tecidos.

Assim, após suspeita de ter a doença, o médico deverá pedir análises ao sangue e às fezes para confirmar a existência de má absorção dos alimentos e a existência de anticorpos da doença celíaca, tais como: anti-gliadina, anti-endomisio, anti-transglutaminase. “Actualmente, é o mais exacto para se diagnosticar a doença, refere a especialista, acrescentando que “caso os exames sejam positivos, a probabilidade de ter a doença é alta, no entanto, é necessária a realização de biópsia ao intestino para confirmação da mesma”.

Apesar de não haver cura conhecida para a doença, é possível controlá-la com uma dieta rigorosa sem glúten. A dieta, alerta a especialista, “é para toda a vida, pois não existem medicamentos para a doença celíaca. O glúten deve ser excluído da dieta já que os sintomas podem surgir mesmo com quantidades mínimas desta proteína”.

Os doentes devem ter particular atenção aos rótulos dos alimentos e verificar se contêm ou não glúten. O trigo, a cevada, o centeio e a aveia deverão ser abolidos da dieta destas pessoas.

Incidência e prevalência da doença celíaca

A doença celíaca pode ser diagnosticada em qualquer idade; porém, parece surgir mais frequentemente na infância (entre os 6 e os 24 meses), algum tempo após a introdução de alimentos com glúten na alimentação (papas, pão, bolachas, etc.) ou na quarta ou quinta década de vida. Estudos recentes têm vindo a sugerir o aumento da incidência da doença em pessoas mais velhas. Actualmente debate-se se o diagnóstico em idade avançada corresponde, de facto, ao real desenvolvimento da doença em idade tardia ou se se prende com atrasos no diagnóstico.

Os especialistas desconfiam mesmo que a doença esteja largamente subdiagnosticada e que merece ser rastreada, uma vez que se estima que existam entre 70 a 100 mil celíacos por diagnosticar em Portugal. É que manifestações as clínicas são bastante variadas, envolvendo muitos órgãos e sistemas, podendo os sintomas não estarem relacionados com o tracto gastrointestinal. Pode inclusive apresentar-se de forma atípica e com queixas transitórias, podendo também variar em frequência e intensidade.

A estimativa presente de prevalência na população em geral na Europa e Estados Unidos da América é de aproximadamente 1%. Em Portugal, esclarece Delphine Dias, “são escassos os estudos de prevalência da doença, no entanto, estima-se que esta ronde os 0,7%, de acordo com os resultados de um estudo efectuado numa população de adolescentes, com determinação de anticorpos específicos e biópsias intestinais nos casos de serologia positiva”.

As mulheres parecem ser mais afectadas pela doença do que os homens, na razão de 3:1 ou 2:1. Contudo, “ à medida que a idade avança, este predomínio do sexo feminino tende a desaparecer: na terceira idade, o número de recém-diagnosticados do sexo masculino é equivalente ao do sexo feminino”, comenta a nutricionista.

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Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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