Higiene íntima

Infecções vaginais afectam mais de 75% das mulheres

Atualizado: 
07/08/2020 - 11:23
Uma higiene íntima adequada é importante para garantir conforto e bem-estar, mas também para ajudar a prevenir o aparecimento de infecções vaginais.
Mãos com sabonete debaixo de torneira

A parede do canal vulvo-vaginal é revestida por uma mucosa que, juntamente com a flora bacteriana e o pH da vagina, constitui uma importante barreira contra as infecções. Manter o equilíbrio natural da mucosa ajuda a prevenir o aparecimento de bactérias e fungos responsáveis por essas infecções vaginais. Para isso a mulher deve preocupar-se em ter uma higiene íntima adequada, através do uso de produtos específicos que respeitem o pH vaginal.

“A mulher deve fazer a higiene da zona vulvo-vaginal uma a duas vezes por dia, dependendo do clima, biótipo, actividade física e das doenças associadas”, refere Teresa Laginha, especialista de Medicina Geral e Familiar, sublinhando que “devem ser tidos em conta aspectos como a temperatura da água, que convém que seja tépida, sendo que para a higiene genital são preferíveis as lavagens com água corrente, para favorecer a remoção mecânica das secreções; e os produtos a utilizar devem ser preferencialmente apropriados para a higiene da zona do ânus e da vulva que sejam hipoalergénicos, com adstringência suave e pH ácido, variando entre 4,2 a 5,6”.

A especialista recomenda ainda a utilização de produtos de formulação líquida, pois os produtos sólidos, além de serem mais abrasivos, geralmente apresentam pH mais elevado. Um outro aspecto que Teresa Lagina salienta é que, “a higiene genital não deve durar mais do que 2 ou 3 minutos, para evitar a excessiva desidratação local”.

Porém há que referir que não são apenas os hábitos de higiene que resultam no aparecimento de infecções vulvo-vaginais. Outros factores como a actividade sexual, a alimentação, o tipo de vestuário usado, doenças como a diabetes o ambiente hormonal e até o estado emocional podem influenciar o aparecimento destas infecções. Condição bastante frequente, conforme conta a especialista de Medicina Geral e Familiar: “as infecções vaginais afectam mais de 75% das mulheres, sendo que mais de 50% deste grupo apresenta esta situação de forma recorrente, referindo um impacto na sua vida superior ao que resulta das queixas locais”.

As fases diferentes na vida da mulher

Para além dos factores referidos acima, há ainda que ter em conta as diferentes fases na vida da mulher que correspondem a cuidados diferentes. “Na adolescência, o aparecimento dos ciclos menstruais, designado por menarca, corresponde a variações hormonais e de glicogénio nos tecidos”, explica Teresa Laginha, acrescentando que, durante os ciclos menstruais não há alterações da espessura da pele, mas a nível citológico existem variações ao longo do ciclo menstrual. Nesta fase, diz, “a higiene deverá ser mais frequente, para aumentar a remoção mecânica dos resíduos e melhorar a ventilação genital, com consequente atenuação dos efeitos da humidade prolongada”.

Já na gravidez, “o epitélio vulvar e vaginal sofre influências hormonais. Surge uma maior quantidade de secreção vaginal, alteração do pH e da flora vaginal. A concentração dos lactobacilos eleva-se pelo estimulo hormonal, acidificando o meio (pH < 4,5)”. A maioria das grávidas, salienta a interlocutora, “referem aumento do corrimento vaginal, e prurido e ardor em algum momento da gravidez, o que dificulta o diagnóstico diferencial e o tratamento correto neste período. As infeções genitais persistentes durante a gravidez aumentam o risco de parto pré-termo”.

No puerpério (fase pós-parto) é recomendado que a higiene seja feita como no período menstrual, devido ao facto de a zona vulvo-vaginal estar alterada, a pele vulvar e a mucosa vaginal estarão mais sensíveis pela diminuição dos estrogénios (hipoestrogenismo), presença de lóquios (perdas de sangue) e maior sudorese, próprios do período puerperal.

Após a menopausa, devido à menor espessura do epitélio, Teresa Laginha recomenda “a lavagem da zona íntima, até duas vezes por dia, usando produtos com pH próximo do fisiológico, para evitar maior secura e consequente prurido. Para concluir o processo nesta fase, em que a pele se encontra mais seca, deve seguir-se uma hidratação com fórmulas não oleosas”.

Conselhos base para uma saúde íntima

Higiene

A vulva, a região púbica, a região perianal e os sulcos crurais (raiz das coxas) deverão ser higienizados com água corrente e com produtos de higiene apropriados, fazendo movimentos que evitem trazer o conteúdo perianal para a região vulvar, e que atinjam todas as dobras sem exceção. A última etapa da higiene é geralmente a mais negligenciada, a hidratação. As peles secas deverão ser hidratadas, assim como se faz nas demais áreas do corpo.

Protecção

Em geral, o uso sistemático do penso higiénico diário não é recomendado. Nas mulheres com excesso de transpiração ou incontinência urinária, é importante manter o ambiente genital seco, recorrendo ao uso de pensos higiénicos respiráveis ou outro vestuário absorvente adequado, de preferência de algodão. Deve recorrer-se a roupa interior extra disponível para mudar quando necessário.

Produtos utilizados na lavagem da roupa interior

Deve ser dada preferência a detergentes sem corantes, enzimas ou perfumes. A roupa interior e aquela que entrar em contacto com a vulva deve ser enxaguada exaustivamente, para remoção de resíduos químicos.

Vestuário

Recomenda-se o uso de roupas que favoreçam a ventilação local. É importante trocar as roupas íntimas diariamente. Devem evitar-se roupas demasiado justas ou apertadas. Os fatos de banho molhados e o vestuário após o desporto devem ser trocados o mais precocemente possível.

Banho e higiene

Não usar gel de banho ou sabonete com perfume que aumentam a irritação da pele. Não usar o produto directamente sobre a pele. Não se deve esfregar a pele vulvar com a toalha, mas sim secar, estabelecendo contactos suaves entre a toalha e a pele.

Actividade sexual

Nos casos em que existe secura e irritação durante o acto sexual, deve ser recomendado o uso de um lubrificante sem substâncias químicas que irritam a pele vulva/vagina. Deve no entanto ter-se em atenção que alguns lubrificantes interferem com a permeabilidade dos preservativos, tornando-os menos seguros. Pode ser preferível utilizar preservativo para evitar o contacto do esperma com os genitais, diminuindo o ardor e irritação após a relação sexual. Após o acto sexual, recomenda-se uma micção para evitar as infecções urinárias, e a lavagem da área genital externa com água e um produto de higiene íntima. Não se recomendam irrigações vaginais.

*Por expressa opção do autor, o texto não respeita o Acordo Ortográfico

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Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
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