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10% dos portugueses sofre de azia e enfartamento

Atualizado: 
01/07/2019 - 10:31
Queixas de má digestão ou digestões difíceis, de azia e enfartamento são muito frequentes. Porém, a persistência destes sintomas e o aumento da sua intensidade devem implicar uma consulta médica para despiste de situações mais graves.
Homem indisposto devido a azia ou enfartamento

Quem não teve já a sensação de que o estômago está a arder e essa queimadura sobe até à garganta?! Quase todos nós. É verdade é uma sensação muito frequente e chama-se azia. “A azia é um sintoma que se estima que afecte cerca de 10% da população portuguesa”, refere Teresa Laginha, especialista em Medicina Geral e Familiar que explica como se caracteriza a azia: “A azia ocorre quando o esfíncter inferior do esófago - porção do tubo digestivo que se segue à boca e que se continua no estômago, não está competente. Quando esta situação se verifica, uma pequena quantidade de ácido do estômago flui para o esófago e agride o seu revestimento. Ao contrário do estômago, o esófago não tem uma protecção natural contra os conteúdos ácidos. Quando a mucosa do esófago é colocada em contacto com o ácido gástrico, pode ocorrer uma sensação de ardor, que pode ser também acompanhada por desconforto e dor no peito, garganta e estômago, tosse e regurgitação de ácido – sintomas que podem durar de alguns minutos até algumas horas”.

Apesar de poder afectar qualquer indivíduo em qualquer altura da vida, as pessoas com excesso de peso, as polimedicadas e as grávidas são os grupos mais afectados pela azia.

Frequentemente acompanhada da azia coexiste também a sensação se digestão difícil ou de enfartamento que se define por um “sentimento indefinido de desconforto no abdómen superior ou no estômago, durante ou depois das refeições. Pode ser acompanhado de sensação de ardor, calor ou dor na área entre o umbigo e a parte inferior do esterno e/ou uma sensação de plenitude, que é desconfortável e ocorre pouco depois de se começar a comer ou no fim da refeição. Já o aumento de volume abdominal ou as náuseas são sintomas menos comuns”, explica a especialista, acrescentando que “as duas situações – azia e enfartamento - não surgem necessariamente em simultâneo, embora muitas pessoas refiram sintomas compatíveis com os dois sintomas”.

Para evitar este desconforto, há que antecipar a situação e prevenir o mal-estar: coma devagar e mastigue muito bem todos os alimentos, faça refeições com porções menores, e procure limitar a ingestão de café e de bebidas alcoólicas. Atenção também à ingestão de fritos, de alimentos com muita gordura ou muito ácidos, como é o caso das frutas cítricas.

Não se deite para dormir logo a seguir à sua última refeição, espere no mínimo duas horas antes de se deitar. Movimente-se, para fazer uma melhor digestão dos alimentos pesados que acabou de ingerir.

Por outro lado, a toma de antiácidos podem constituir uma ajuda para controlar os sintomas da azia e do enfartamento. “Os antiácidos funcionam através da formação de uma barreira de protecção, que ajuda a manter os conteúdos no estômago, evitando que passem para o esófago, onde são prejudiciais. São uma opção segura e indicada para o tratamento desses sintomas e devem ser tomados após as refeições e ao deitar”, explica a especialista em Medicina Geral e Familiar. Porém, como para outras situações clínicas, a persistência do sintoma e a sua intensidade devem implicar uma consulta médica para estudo das causas e despiste de situações mais graves.

Causas da azia e enfartamento

A azia e o enfartamento têm causas semelhantes:

  • Comer de forma rápida ou irregular, que facilita a subida de ácido para o esófago;
  • Ingestão de:
  • - Alimentos ricos em gordura e em fibras que tendem a permanecer mais tempo no estômago;
  • - Alguns alimentos como o chocolate, hortelã e os picantes;
  • - Produtos com tomate ou cebola;
  • - Refeições demasiado volumosas;
  • Tomar:
  • - Bebidas com cafeína e álcool, que tendem a aumentar a acidez do estômago;
  • - Bebidas muito quentes;
  • - Sumos de citrinos;
  • Stress;
  • Alguns medicamentos, como por exemplo, para problemas cardíacos, respiratórios e para hipertensão e diabetes, que podem contribuir para que o estômago produza mais ácido;
  • Excesso de peso;
  • Uso de roupas apertadas, que podem colocar pressão sobre o estômago;
  • Tabaco, que pode estimular a produção de ácido e causar relaxamento do esfíncter (anel do músculo);
  • Deitar ou baixar a cabeça após as refeições;
  • Praticar exercício físico, nomeadamente se aumenta a pressão abdominal, após as refeições.

Cuidados para evitar a azia

Para evitar a azia e reduzir as suas causas devem ser feitas algumas mudanças no estilo de vida e dieta. É aconselhável:

  • Controlo do peso;
  • Fazer refeições pequenas e com maior frequência durante o dia;
  • Comer com tempo e mastigar os alimentos devagar;
  • Evitar os alimentos picantes, ácidos e ricos em gordura;
  • Manter uma posição direita durante a refeição, evitando comer deitado;
  • Usar roupa mais larga e alargar os cintos que podem fazer compressão no estômago;
  • Elevar a cabeceira da cama com a ajuda de umas almofadas para dormir com a cabeça mais elevada;
  • Reduzir o consumo de álcool, de cafeína e refrigerantes;
  • Evitar baixar a cabeça após as refeições;
  • Evitar deitar imediatamente após as refeições.

Para finalizar Teresa Laginha recorda que, “se os sintomas forem severos e não desaparecerem com as medidas descritas, deverá ser consultado o médico ou farmacêutico”.

Por expressa opção do autor, o texto não respeita o Acordo Ortográfico

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Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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