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Doença Venosa Crónica

Atualizado: 
17/07/2019 - 11:28
A doença venosa resulta de uma alteração estrutural do sistema venoso dos membros inferiores, em que as veias perdem a função de transportar o sangue venoso, já usado, para o coração. Esta situação resulta no aparecimento de varizes.
Pernas elevadas com almofada ergonómica

A doença venosa crónica, doença que afecta mais de 1/3 dos portugueses e é uma das doenças crónicas mais frequentes na população portuguesa. Um número demasiado elevado, tendo em conta que é possível prevenir e travar o avanço das varizes, caso estas sejam diagnosticadas atempadamente, e caso se inicie desde logo uma terapêutica adequada, no sentido de atrasar o aparecimento da doença.

As mulheres são mais afectadas do que os homens, devido a acção das hormonas sexuais femininas, ao uso de anticonceptivos orais (pílula), à existência de menor massa muscular e à gravidez.

O aparecimento de varizes é motivado por dificuldades de drenagem sanguínea relacionadas com o estado das veias e com a insuficiência das válvulas existentes no interior das mesmas, afectando sobretudo os membros inferiores.

O que é a Doença Venosa Crónica

As veias dos membros inferiores têm como função conduzir o sangue de volta ao coração. Dentro delas existem pequenas válvulas que impedem o retorno venoso para os pés, devido à acção da gravidade. Quando estas válvulas se tornam insuficientes, não fecham adequadamente e o sangue não progride. Localmente, a quantidade de sangue aumenta, fica estagnado e faz com que as veias se dilatem e deformem tornando-se visíveis e com aspecto sinuoso. Assim as varizes são veias dilatadas com volume aumentado, tornando-se tortuosas e alongadas com o decorrer do tempo. No seu percurso pelo corpo, o sangue é transportado para as extremidades através das artérias.

Dentro das veias existem pequenas válvulas que impedem o retorno venoso para as extremidades. Quando essas válvulas não se fecham adequadamente, o refluxo é inevitável. É, então, que a quantidade de sangue dentro das veias começa a aumentar, obrigando-as a uma dilatação.

Os vários tipos de varizes

Existem dois tipos de varizes, as essenciais e as secundárias. O caso das varizes essenciais, responsáveis pela maior parte dos casos clínicos, trata-se de um problema de origem hereditária. Todavia, a predisposição genética de antecedentes familiares não significa que irá, forçosamente, ter varizes. Por sua vez, as varizes secundárias são provocadas por tromboflebites e, mais raramente, podem surgir por fístulas arteriovenosas na consequência de hábitos prejudiciais ou, por exemplo, depois de acidentes que obrigam a pessoa a ficar muito tempo acamada sem tomar as devidas precauções profilácticas.

Dito de outra forma…

Telangiectasias

Vulgarmente chamados “derrames”. São pequenas veias que aparecem por baixo da pele e se apresentam como pequenas linhas avermelhadas e sinuosas semelhantes a ramificações de uma árvore. Aparecem sem aviso e com maior frequência nas zonas das coxas, pernas e tornozelos.

Veias varicosas

Vulgarmente chamadas varizes, são veias dilatadas, tortuosas e alongadas, de maior ou menor calibre e profundidade. Têm cor azulada/arroxeada e resultam da falência valvular e perda da tonicidade e elasticidade da sua parede.

Causas mais frequentes

Na origem da doença venosa há sempre um ou mais factores determinantes, que podem ser de origem genética ou secundária a um factor circunstancial. O factor genético é responsável pela doença venosa primária, de início insidioso e com evolução mais ou menos lenta. Ocasiona uma diminuição da resistência das paredes das veias tornando-as mais frágeis e menos resistentes.

Os factores circunstanciais são vários, entre os quais se destacam, a trombose venosa profunda, os traumatismos, as terapêuticas hormonais femininas, a gravidez e um número considerável de factores causais como a obesidade, o ortostatismo prolongado, a toma excessiva de calor, etc. Assim, a doença venosa deve ser tratada desde os primeiros estádios da sua evolução, e deve ser prevenida eliminando ou evitando, quando possível, os factores de risco.

Mas há outros factores que desempenham, também, um papel importante no seu aparecimento ou agravamento, tais como: o tabaco, a ingestão exagerada de bebidas alcoólicas, o excesso de peso, a permanência prolongada na posição de pé ou sentada e actividades em que é necessário realizar grandes esforços, tal como sucede em muitas profissões.

Principais sintomas

A sintomatologia da doença venosa traduz-se por sensação de peso, dor, e frequente edema da perna e pé, geralmente de predomínio vespertino ao fim do dia. Nos estádios iniciais da doença ou seja, nos períodos pré-varicosos, as veias dilatadas, as varizes, não são evidentes, mas à medida que a doença progride o seu aparecimento é notório. As queixas mais frequentes são a sensação de cansaço, peso e dor nas pernas, prurido, edema (inchaço) dos pés e tornozelos, dormência e cãibras em, particular, durante a noite.

Estas queixas agravam-se após períodos prolongados na posição de pé e melhoram durante a noite. Vão-se agravando com o tempo e com a idade, a menos que se tomem medidas de prevenção ou um tratamento adequado. Se não tratadas podem dar origem a úlceras de difícil tratamento. Em casos graves podem contribuir para a incapacidade para o trabalho ou desenvolver tarefas domésticas.

Factores de Risco

O principal factor de risco é a idade. As varizes vão agravando ao ritmo do envelhecimento, o que não significa que uma pessoa jovem não as possa ter também. O sexo feminino é o mais afectado por este problema e a proporção é de sete mulheres para apenas um homem. As mulheres em fases de alterações hormonais pronunciadas devem ser mais vigiadas, como é o caso das grávidas e das que se encontram na menopausa. Desde a puberdade, à menopausa, as mulheres passam por várias etapas marcadas por autênticas revoluções hormonais. É precisamente nessas fases que ficam mais susceptíveis ao desenvolvimento de varizes.

A terapêutica anticoncepcional hormonal é mais um factor relevante. Não só a pílula, como todos os outros métodos hormonais (adesivo transdérmico, anel vaginal, implante) estão contra indicados em mulheres cuja tendência hereditária é por si só bastante pesada ou que tenham sofrido vários episódios de trombose venosa profunda.

A gravidez é o período de maior risco. Se não aparecerem na primeira gestação, as varizes poderão aparecer na segunda, sempre com tendência para agravar nas gravidezes seguintes. A hereditariedade, a idade, a obesidade e o clima hormonal são alguns dos factores de risco que fazem das mulheres o alvo preferido das varizes.

A exposição ao calor nas suas diversas formas é também um factor de risco apontado pelos especialistas. Especialmente nas mulheres que fazem depilação com cera quente, ou que gostam de apanhar banhos de sol durante longas horas.

Quanto ao consumo de álcool ou de tabaco, parece não haver uma influência no desenvolvimento da doença venosa. A não ser, em estádios mais avançados da doença, em que já se verificam grandes alterações cutâneas na perna e em que há falta de oxigenação. Se for fumador, o doente compromete ainda mais esta falta de oxigenação. O sangue que chega à perna tem menos oxigénio do que o de um não fumador.

Como prevenir as varizes

Para prevenir a doença venosa, é fundamental começar por eliminar os factores de risco, ou pelo menos minimizá-los. A primeira etapa para a prevenção consiste em detectar a hereditariedade, isto é, saber se na família há tendência para o desenvolvimento deste problema. Se houver, os cuidados devem ser reforçados. A segunda etapa será fazer um exame de diagnóstico para saber se tem ou não doença venosa, ou se já há presença de sintomas. Se houver dor, cansaço, peso, inchaço, então é porque já tem a doença. Neste caso deverá procurar um médico, de preferência especialista, para fazer um determinado número de exames e que aconselhe quais a medidas profiláticas. Entre estas medidas pode estar a prática de exercício físico como marcha, bicicleta, natação ou hidroginástica.

Depois, consoante os sintomas e o desenvolvimento da doença, é evidente que deve iniciar a medicação com fármacos que actuam sobre a elasticidade da veia e na micro circulação, na mesma situação recomenda-se ainda uso de meias elásticas.

A prevenção é fundamental e deverá ser feita o mais cedo possível. Os cuidados preventivos facilitam o retorno venoso, diminuem as queixas, o sofrimento, evitam a dilatação das veias e atrasam a evolução da doença, podendo evitar a necessidade de uma intervenção cirúrgica.

Tratamento farmacológico

Actualmente os tratamentos curativos são cada vez menos agressivos, os tratamentos paliativos mais eficazes, e os tratamentos preventivos mais frequentes. Isto deve-se a um melhor conhecimento da doença bem como ao seu diagnóstico precoce feito através de métodos como o triplex-scan e o ecodoppler a cores.

Em qualquer estádio da doença, a terapêutica medicamentosa com ventrópicos deve ser instaurada. Devem seleccionar-se os que, para além de outras acções terapêuticas, actuam sobre a micro circulação, eliminando assim a sintomatologia, e evitando as situações de dermatite, eczema venoso e a úlcera de perna.

Tratamento cirúrgico

Nas varizes mais volumosas ou nas dependentes dos sistemas das safenas interna ou externa, a cirurgia é a única solução.

A escleroterapia “secagem” e o laser transcutâneo, estão indicados no tratamento das telangiectasias e varizes reticulares (varizes de pequeno calibre).

Quando a indicação é correcta e a execução efectuada com rigor, tem excelentes resultados, não só no que respeita aos sintomas mas também no que se refere à estética.

Nos estadios iniciais a cirurgia pode ser efectuada em regime ambulatório, sob anestesia local ou locoregional, por procedimento endovascular com laser através de fibra óptica ou por ressecção das varizes com mini incisões cutâneas. A preocupação dominante do cirurgião vascular nesta doença é não só a cura da lesão mas também o resultado estético.

Nas situações mais avançadas e mais graves, a cirurgia é mais complicada, requerendo anestesia geral ou raquidiana, do que decorre a necessidade de internamento hospitalar, geralmente não por tempo superior a 24 horas.

Consequências do não tratamento

As úlceras varicosas, provocadas por varizes não tratadas causam um aumento de pressão exercida pelo sangue sobre a pele. Esta, ao estalar, provoca uma chaga que é difícil de tratar, porque só é possível curar a ferida na pele atacando a causa, que é o mau funcionamento do sistema venoso. O caso de maior gravidade decorre das flebotromboses: Quando um trombo de sangue que está preso numa veia se solta pode subir até aos pulmões e poder resultar numa embolia pulmonar e na morte.

Conselhos úteis

Se tem doença venosa dos membros inferiores deve ter atenção aos seguintes conselhos:

- Use meias elásticas principalmente durante a gravidez, ou durante actividades em que permaneça muitas horas de pé. São o principal meio de prevenção para o aparecimento de varizes. Os seus resultados são melhores se as calçar logo de manhã, mesmo antes de se levantar da cama.

- Mantenha um peso corporal adequado evitando o excesso de peso. Faça uma alimentação equilibrada rica em fibras e fruta. Substitua as carnes vermelhas e as gorduras por peixe e carne de aves. Evite os alimentos fritos e algumas especiarias (pimenta). Use de preferência o azeite. Beba cerca de um litro e meio de água por dia e evite bebidas alcoólicas. O tabaco prejudica a fluidez do sangue no retorno venoso para o coração, agravando o problema a quem sofre de varizes.

- Use roupas e sapatos confortáveis. Quando apertados dificultam a circulação e o retorno do sangue. Os saltos altos são prejudiciais.

- Evite a exposição prolongada dos membros inferiores a elevadas temperaturas tipo sauna, sessões de bronzeamento, banhos quentes, radiadores, exposição solar, braseiras, lareiras, depilação com cera muito quente, porque provocam dilatação das veias, o aparecimento de novos vasos, o edema e dificultam o retorno venoso.

- Evite estar muito tempo sentado. Se tiver que o fazer use meias elásticas, mobilize as pernas e mexa os tornozelos e os dedos dos pés com frequência.

- Evite cruzar as pernas quando se senta Ao fazê-lo está a aumentar a pressão na perna, que fica por baixo dificultando ainda mais a circulação do sangue.

- Durante o repouso, mantenha as pernas ligeiramente levantadas, ou pelo menos esticadas em cima de um banco, após um dia de actividades mais intensas ou após o exercício físico, de forma a favorecer o retorno venoso e melhorar a circulação do sangue. Se tiver cãibras durante a noite durma com o colchão um pouco elevado na zona dos pés (10 a 15 centímetros).

- Pratique regularmente exercícios físicos moderados, evitando peso excessivo nas pernas. Ande a pé, de bicicleta, corrida, dança, caminhe na praia junto à água, banho de mar, natação. Se costuma levar o carro para o emprego ou utiliza outros meios de transporte, autocarros ou metro desça uma estação antes e aproveite para andar algumas dezenas de metros a pé. Evite transportar pesos em excesso, ou realizar actividades físicas do tipo musculação, ou de grande impacto, porque provocam uma grande tensão nos vasos e, por conseguinte, a sua dilatação, ou a formação de novas varizes. Em casa, pode realizar alguns exercícios simples que lhe poderão ser indicados pelo seu médico assistente.

Questões Frequentes

A doença venosa pode ser agravada pelo calor? Porquê?

Obviamente que sim, sobretudo se o calor for intenso e tomado por longos períodos. A circulação venosa é muito sensível à temperatura e o calor provoca uma vasodilatação das veias e capilares que origina uma maior acumulação de sangue estagnado, com o consequente agravamento da doença.

Quem sofre de Doença venosa deve ter cuidados redobrados com a exposição aos raios solares?

É recomendável o uso de protectores solares de elevado índice de protecção; os banhos de sol devem ser tomados o mais perto possível da água; Nos primeiros dias de praia deve ter as pernas à sombra, expondo-se gradualmente ao sol. Os próprios que estejam já bronzeados devem ter o cuidado de, por cada 30 minutos de exposição solar fazer um banho de pelo menos 10 minutos. O sol em doses moderadas, o ar marítimo e a areia converte-se numa das melhores terapias que a Natureza, tão generosamente, põe ao nosso alcance. A água salgada contem cloreto de sódio, tem grande eficácia na redução dos edemas e a sua fresca temperatura é vasoconstritora sendo muito benéfica para quem sofre de varizes.

Quais as consequências de uma exposição solar que não tenha em conta os cuidados que acaba de referir?

A exposição prolongada e desregrada ao sol, sem a protecção adequada, tem como resultado imediato o eritema solar que consiste numa queimadura cutânea com vasodilatação intensa com descamação da pele. Associado ao calor intenso, a vasodilatação dos capilares, mesmo nas pessoas que não sofram da doença, pode originar o aparecimento dos «derrames». Quem já sofre de Doença venosa nomeadamente de varizes, o seu agravamento é inevitável.

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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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