Contraceção: saiba que opção escolher
Nenhum método contracetivo é 100% eficaz. A eficácia de alguns métodos, como a pílula ou preservativo, depende em grande parte da sua correta utilização. Na prática acabam por ser menos eficazes do que o preconizado pelo seu uso teórico sem qualquer falha (o uso “típico” é menos eficaz que o uso “perfeito”). Outros métodos como o implante subcutâneo e os dispositivos intrauterinos (DIU), de aplicação única por profissional de saúde e com longa duração de ação, apresentam uma eficácia independente da utilizadora.
Existem métodos hormonais e não hormonais.
As hormonas usadas para anticoncepção consistem na combinação de estrogénios com progestativos ou nestes últimos utilizados de forma isolada. A sua ação deve-se principalmente, à inibição da ovulação (os progestativos isolados de forma menos consistente que os métodos combinados) e de forma secundária pelo espessamento do muco cervical dificultando a passagem dos espermatozoides, e pelas alterações do revestimento uterino desfavoráveis à implantação.
Os métodos hormonais combinados existem na forma de pílula, anel ou adesivo e são, por norma, administrados durante 3 semanas, seguindo-se de uma pausa semanal na qual ocorre hemorragia uterina. Para além da contraceção, têm outros benefícios como reduzir menstruações abundantes e/ou dolorosas. Não são aconselhados a fumadoras com mais de 35 anos, mulheres com hipertensão arterial, enxaquecas com aura, tendência para trombose ou insuficiência hepática.
A pílula é de toma oral diária, sendo que a sua eficácia pode ser afetada por perturbações gastrointestinais ou por alguns medicamentos.
O adesivo, com absorção hormonal para a corrente sanguínea através da pele, é de substituição semanal.
O anel vaginal é um anel flexível e suave, com aplicação mensal na vagina onde se dá a absorção hormonal.
Os métodos hormonais contendo apenas progestativos existem sob forma de pílula, injetável, implante subcutâneo ou DIU. Com estes métodos as mulheres normalmente não menstruam ou têm perdas de sangue escassas e irregulares. Nas mulheres com contraindicação ao uso de estrogénios, os métodos contendo apenas um progestativo podem ser úteis.
A pílula progestativa é um comprimido que deve ser tomado todos os dias do mês, aproximadamente à mesma hora.
O implante hormonal subcutâneo é constituído por um pequeno bastonete que é inserido no braço por baixo da pele e tem uma longa duração de ação (até 3 anos).
Existe também um progestativo injetável, administrado de 3 em 3 meses, que tem a desvantagem de poder ter um efeito deletério sobre o metabolismo ósseo.
Os DIU são pequenos aparelhos flexíveis em forma de “T” que são inseridos no interior do útero por um profissional de saúde especializado. Têm longa duração de ação.
Existem DIU que libertam um progestativo, com duração de ação de 3 a 5 anos consoante a dose hormonal. Alguns destes estão ainda aprovados para o tratamento das hemorragias menstruais abundantes.
O DIU sem hormonas tem uma duração de ação de 10 anos ou até mais e o seu efeito resulta do cobre nele presente. Impede que os espermatozoides fecundem o óvulo, através de uma reação inflamatória e cria uma barreira à implantação, caso tenha ocorrido a fecundação. Pode aumentar o fluxo menstrual (quantidade e duração) e as dores menstruais. É uma opção para mulheres que não podem usar métodos hormonais.
Os métodos “barreira” bloqueiam fisicamente o acesso do esperma ao útero e incluem o preservativo masculino e feminino, o diafragma e os espermicidas.
Destes, o preservativo masculino é o mais facilmente disponível e de uso mais simples. Consiste numa bolsa, geralmente de látex, concebida para cobrir o pénis e reter o esperma ejaculado. Este é o único método eficaz para prevenir as doenças de transmissão sexual (DSTs).
A proteção dupla consiste na utilização simultânea do preservativo, para prevenir DSTs, e de outro método hormonal ou não hormonal para evitar a gravidez de forma muito eficaz. A proteção dupla é recomendada em qualquer relação em que não exista conhecimento específico do risco de infeção de transmissão sexual.
Os métodos “naturais”, pouco eficazes, incluem o método do calendário, o coito interrompido e a amamentação.
Todos os métodos referidos até agora são reversíveis ou seja, quando suspensos verifica-se o retorno à fertilidade normal. Podem ser realizados em alternativa procedimentos cirúrgicos de esterilização definitiva na mulher (laqueação de trompas) ou no homem (vasectomia).
Podemos agrupar os métodos contracetivos em 3 grupos, quanto à sua eficácia (ACOG, 2015), tendo em conta o seu uso “típico”:
- Os mais eficazes, que resultam em menos de uma gravidez não planeada por cada 100 mulheres que utilizem o método ao longo de 1 ano, incluem o implante hormonal subcutâneo, o DIU (com progestativo ou de cobre) e a esterilização cirúrgica;
- Muito eficazes, que resultam em 6-12 gravidezes por cada 100 mulheres/ano, como a pílula combinada ou progestativa, a injeção progestativa, o adesivo ou anel vaginal e o diafragma;
- Os menos eficazes, que resultam em ≥18 gravidezes por cada 100 mulheres/ano, nomeadamente o preservativo masculino ou feminino, os espermicidas e o método do calendário.
Cada casal deve procurar informação e aconselhamento junto de um profissional de saúde sobre os vários métodos contracetivos e escolher livremente o mais adequado.
Em caso de falha da contraceção habitual, pode-se recorrer à chamada contraceção de emergência que é a última oportunidade para prevenir uma gravidez. As opções incluem um progestativo na forma de comprimido, eficaz nas primeiras 72h após a relação sexual não protegida (a eficácia vai diminuindo ao longo do tempo) e um composto mais recente, o acetato de ulipristal, que mantém a sua eficácia ao longo das primeiras 120h após a relação. A colocação de um DIU de cobre é outro método, muito eficaz, até 5 dias após a relação.
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Sofia Saramago, Ana Brandão e Isabel Martins
Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Cascais Dr. José de Almeida