As várias escolhas

Contracepção feminina

Atualizado: 
01/09/2014 - 13:27
A história da contracepção oral tem mais de 40 anos. Trata-se de uma história de êxito, de um sucesso esmagador, tendo em conta os resultados hoje consolidados e as poderosas forças contrárias que teve de enfrentar a todos os níveis.
Contraceptivos Mulher

O aparecimento da pílula foi uma das maiores revoluções do século XX. O controlo por parte da mulher da sua capacidade de concepção foi, sem sombra de dúvida, um forte contributo para a revolução social que caracterizou o período pós-guerra, tornando-se o símbolo da liberdade e da emancipação da mulher.

Desde 1959, a utilização de contraceptivos orais hormonais tem estado disponível como um método altamente eficaz e bem aceite para o controlo da natalidade.

Até ao momento presente, mais de 150 milhões de mulheres já utilizaram este método e, actualmente 60 a 80 milhões de mulheres utilizam diariamente contraceptivos orais como método contraceptivo.

Contudo, as utilizadoras deste método não esperam dele apenas eficácia contraceptiva ou um perfil de segurança fiável, mas também benefícios adicionais para o bem-estar geral.

O que é a contracepção?
A contracepção é qualquer processo que evite a fertilização do óvulo ou a implantação do ovo e ocorra uma gravidez indesejada. Os métodos de contracepção são múltiplos, podendo ser classificados de acordo com o seu objectivo.

As várias escolhas contraceptivas

  • Abstinência
  • Aleitamento
  • Coito interrompido
  • Contracepção Hormonal Injectável
  • Contracepção Oral Hormonal
  • Diafragma
  • Dispositivos intra-uterinos (D.I.U.)
  • Espumas, cremes e comprimidos vaginais espermicidas
  • Esterilização
  • Implantes contraceptivos
  • Períodos de abstinência
    • Método das Temperaturas
    • Método do Calendário
    • Método do Muco Cervical
  • Preservativo feminino
  • Preservativo masculino
  • Vasectomia
    Contracepção de emergência
    • Pílula do Dia Seguinte
    • Aborto cirúrgico

Contracepção hormonal oral
A pílula é um método contraceptivo muito seguro quando correctamente usado. Existe desde 1955. É um comprimido que contém hormonas sintéticas semelhantes às que são produzidas pelos ovários das mulheres: o estrogéneo e a progesterona.

Existem dois tipos fundamentais:

A pílula combinada que associa estrogéneos e progestagéneos e previne a ovulação. Disponíveis dois tipos de embalagens:

• As de 21 comprimidos que deverão ser tomadas durante 21 dias, abstendo-se a sua toma nos sete dias seguintes para permitir a ocorrência da menstruação, reiniciando-se a sua toma ao 29º dia, e assim sucessivamente;

• As de 28 comprimidos que deverão ser tomadas sem interrupção, mais apropriadas a quem tem receio de se enganar a fazer as contas aos dias do mês.

A mini-pílula, ou pílula progestagénea, sem estrogéneo, com eficácia sobreponível à anterior, desde que tomada com regularidade, e a sempre à mesma hora. É indicada no período de aleitamento materno, durante a fase precoce da menopausa, ou em mulheres com contra-indicações à toma de estrogéneos. Deve ser tomada ininterruptamente e pode originar ausência de fluxo menstrual durante a sua toma, o que pode ser desconfortável para a mulher que assim deixa de poder contar com o aparecimento do período como sinal de ausência de gravidez.

Apesar de todos estes avanços, continuamos a constatar a presença de problemas graves relacionados com o planeamento familiar. A incidência de gestações não desejadas e de abortos é excessivamente elevada. Atingem preferencialmente dois grupos populacionais: as adolescentes e as mulheres pré-menopáusicas.

Como actua a pílula?
As hormonas que compõem a pílula têm como missão principal suspender a produção hormonal habitual, impedindo a ovulação, ou seja a libertação mensal do óvulo. Ora se não existem óvulos, não pode haver fecundação nem tão pouco gravidez

Será a pílula benéfica para o organismo feminino?
Desde a sua introdução no mercado que a pílula contraceptiva é conhecida como sendo o “comprimido mágico” responsável pela emancipação feminina. Juntando a este, outros benefícios têm vindo a ser atribuídos à pílula contraceptiva, que não são mais do que o resultado da ausência de um verdadeiro ciclo menstrual (sob a influência hormonal da pílula, os diversos órgãos do aparelho reprodutor feminino encontram-se como que adormecidos):

-regularização dos ciclos menstruais
-hemorragias menos abundantes
-diminuição da dismenorreia
-redução da tensão pré-menstrual
-terapêutica da endometriose
-diminuição dos riscos de doença inflamatória pélvica aguda
-diminuição dos riscos de tumores mamários benignos
-diminuição dos riscos de quistos ováricos benignos
-diminuição dos riscos de carcinoma do endométrio
-diminuição dos riscos de carcinoma do ovário.

Quais os efeitos adversos da pílula?
Com uma interferência tão significativa sobre o biorritmo da mulher – podemos encarar a pílula contraceptiva como uma verdadeira ruptura com o ritmo biológico da natureza feminina – a pílula não pode deixar de trazer malefícios.

Claro que hoje se sabe que os efeitos adversos da pílula são dependentes da dose, pelo que se estima que nos contraceptivos orais de baixa dosagem actuais eles sejam bastantes menos frequentes do que nos primórdios da sua comercialização. Contudo, há estudos que confirmam a sua incidência em mulheres que tomam as pílulas modernas.

O principal grupo de efeitos adversos resulta principalmente da administração de estrogénios e corresponde ao grupo das doenças cardiovasculares:

-maior risco de doença tromboembólica venosa (por diminuição do fluxo sanguíneo venoso, por aumento da proliferação endotelial venosa e arterial e ainda por alterações nas funções das plaquetas e nas proteínas da cascata da coagulação, com o consequente aumento da coagulabilidade sanguínea);
-aparecimento / agravamento da hipertensão arterial (por estimulação do sistema nervoso simpático, por estimulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona a nível hepático e por resposta compensatória renal ao edema com retenção de sódio e água);
-aparecimento / agravamento de dislipidémias;
-fenómenos de intolerância à glicose;
-aumento do risco de angina de peito, de enfarte do miocárdio e de acidentes vasculares cerebrais.

A estes efeitos adversos graves junta-se um rol de efeitos minor que, quando aparecem, conduzem a uma diminuição do bem-estar físico e/ou psíquico da mulher. Assim, aos estrogénios são normalmente atribuídos efeitos como:

-cefaleias
-irritabilidade
-fadiga
-náuseas e vómitos
-cólicas abdominais
-retenção hídrica
-congestão varicosa
-tensão mamária

Enquanto aos progestagénios, devido à sua actividade androgénica, se ficam a dever:

-tendências depressivas
-hirsutismo
-acne
-aumento de peso
-diminuição da libido.

As inúmeras vantagens que a pílula apresenta:

  • Regularização dos ciclos menstruais
  • Redução do fluxo menstrual (diminui o risco de anemia)
  • Tratamento das dores menstruais
  • Redução da incidência de doença inflamatória pélvica
  • Melhoria da pele (acne e seborreia ou pele oleosa)
  • Prevenção do cancro do endométrio e dos ovários
  • Redução da incidência de doença benigna da mama.
  • Redução do risco de gravidez ectópica
  • Redução da incidência de quistos do ovário
  • Redução da incidência de miomas
  • Melhoria da artrite reumatóide
  • Redução da perda de massa óssea
  • Redução do risco de esterilidade

Outros métodos

Contracepção hormonal injectável
Consiste na administração de uma injecção com um progestagéneo com intervalos de três meses. Eficaz ao fim de 24 horas, pode, no entanto, originar ausência do fluxo menstrual. De efeito reversível apenas ao fim de alguns meses para retomar ovulação e ciclos menstruais normais.

Contracepção hormonal – Implantes
Consiste num implante, colocado cirurgicamente no braço, que vai libertando gradualmente doses de um progestagénio. Eficaz, tem duração de três anos. Necessita de nova intervenção cirúrgica para retirar o implante ao fim de três anos. Consiste numa pequena cirurgia, feita em minutos, com anestesia local. Mal é retirado o implante, o nível de fertilidade volta ao normal.

Contracepção hormonal – O anel vaginal
Último método a aparecer no mercado nacional. O anel vaginal consiste num anel de plástico flexível (5cm de diâmetro e 4mm de espessura) que é introduzido no fundo da vagina durante três semanas, período durante o qual vai libertando hormonas, semelhantes às que entram na constituição das pílulas combinadas referidas anteriormente. Ao fim das três semanas, o anel deverá ser retirado e deixar-se decorrer uma semana para que ocorra a menstruação. Ao fim de sete dias, à semelhança das pílulas combinadas, dever-se-á introduzir novo anel por mais três semanas e assim sucessivamente. A posição do anel no interior da vagina não é fundamental para que ocorra o efeito contraceptivo desejado. Esta apenas deverá depender do conforto da mulher. Não é necessário ser retirado durante o acto sexual mas, caso prefira fazê-lo, o anel nunca deverá estar fora da vagina por um período de tempo superior a três horas.

Contracepção hormonal – O adesivo transdérmico
O adesivo é um contraceptivo em forma de autocolante com a mesma eficácia da pílula e o mesmo modo de actuação. É aplicado em cima da pele e não tem a inconveniência dos habituais esquecimentos. É um adesivo que liberta hormonas através da pele. Estas entram na corrente sanguínea, impedindo a ovulação. Coloca-se durante três semanas consecutivas e, tal como na pílula, descansa-se na quarta semana, quando se dará a hemorragia de privação. Pode ser colocado e retirado quando se quiser. Quando se retira termina a protecção contraceptiva e pode haver uma hemorragia. Este adesivo pode ser colocado nas nádegas, no abdómen, no dorso superior ou no antebraço. Quanto aos efeitos secundários, são os mesmos que a pílula apresenta. Só pode ser adquirido mediante prescrição médica.

Dispositivo Intra-Uterino (DIU)
Existem dois tipos de DIUs: os DIUs com cobre e os DIUs com progestagéneo. Ambos interferem na fertilização do óvulo pelo espermatozóide, impedindo assim a gravidez. São colocados pelo médico e têm eficácia durante cinco anos, após os quais deverão ser removidos também por um médico e colocado um novo, caso a mulher mantenha desejo de permanecer com DIUs.

Os DIUs de cobre não são aconselhados a mulheres que tenham alergia ao cobre, que tenham fluxos menstruais abundantes, ou menstruações dolorosas, antecedentes de infecções pélvicas recorrentes, défices imunitários (infecção a HIV, por exemplo), ou que tenham múltiplos parceiros sexuais.

Os DIUs com progestagéneo podem ser uma óptima opção para as mulheres com fluxos menstruais abundantes e menstruações dolorosas pois o progestagéneo não só pode originar períodos de ausência do fluxo menstrual como alivia as dores menstruais.

Métodos de barreira
Em Portugal actualmente apenas existe o preservativo masculino. É o único método eficaz contra a transmissão das doenças transmitidas sexualmente (DTS), nomeadamente a hepatite B, hepatite C e HIV. Deve ser colocado no pénis apenas quando este estiver em erecção e não deverá em hipótese alguma ser reutilizado.

Espermicidas
Podem ser encontrados em forma de cremes, sprays, geleias, óvulos e esponjas cervicais. É introduzido na entrada do colo do útero, e deve ser aplicado cinco a dez minutos antes do acto sexual genital, excepto as esponjas / tampão contraceptivo que podem ser inseridas horas antes.

É um método contraceptivo que age quimicamente inactivando o esperma. Os efeitos indesejáveis conhecidos prendem-se com a possibilidade de causarem alergias. É um método pouco seguro que deve ser usado em combinação com outros métodos contraceptivos. Tem pouca protecção em relação às DTS.

Questões frequentes

Existe algum período do ciclo em que não haja risco de engravidar?
Em qualquer período do ciclo, excepto durante o período menstrual, existe risco, qualquer que seja a data do acto sexual não protegido ou mal protegido. É por esta razão que o método de cálculo dos dias (Ogino) é pouco eficaz.

Quais são os primeiros sinais de gravidez?
A gravidez é acompanhada de sintomas que se tornam necessários conhecer para se poder consultar um médico o mais rapidamente possível.

Os esquecimentos da pílula durante o "período fértil" são os que envolvem maior risco de engravidar?
Não. Contrariamente ao que se pensa, são os esquecimentos dos primeiros comprimidos que apresentam maiores riscos, ainda que nenhum dos períodos seja seguro em caso de esquecimento.

A eficácia da pílula não é assegurada se a pausa entre duas carteiras de comprimidos ultrapassar os 7 dias, visto que a ovulação pode reiniciar-se. Não deve, por isso, haver uma pausa superior a 7 dias e se houver esquecimento do último comprimido, é conveniente recomeçar a nova carteira de comprimidos mais cedo, para que não haja mais de 7 dias entre o último comprimido e o primeiro da carteira seguinte.

O que é a contracepção de emergência?
A contracepção de emergência tem por finalidade impedir a ovulação ou prevenir a implantação se a relação sexual ocorreu nas horas ou dias que antecederam a ovulação, ou seja: num momento em que existe maior probabilidade de ocorrer a fertilização. Também pode prevenir a implantação. Torna-se ineficaz logo que se inicia o processo de implantação do ovo. Este método não interrompe uma gravidez que já se tenha iniciado.

Quando é que se deve utilizar a contracepção emergência?
Contracepção de emergência até 72 horas após uma relação sexual não protegida ou em caso de falha de um método contraceptivo,

O que é o Planeamento Familiar?
Planeamento Familiar é um conjunto de cuidados de saúde que visa ajudar as mulheres e os homens a planearem o nascimento dos seus filhos e a viverem a sua sexualidade de uma forma gratificante, sem o receio de uma gravidez que naquele momento não desejem.

Para além disto, o Planeamento Familiar ajuda os casais que têm problemas de infertilidade, actua na prevenção das Doenças de Transmissão Sexual (DTS) e ajuda no diagnóstico precoce do cancro da mama e do colo do útero.

Glossário

Ciclo - É o período de tempo compreendido entre o 1° dia de uma menstruação e o 1° dia da menstruação seguinte. Um ciclo tem uma duração variável de mulher para mulher. Normalmente, tem uma duração entre 27 e 30 dias. Pode ser extremamente regular ou, contrariamente, variar bastante de um mês para o outro.

Menstruação - É uma mistura de sangue e células do útero, que são todos os meses expelidas do corpo. Do primeiro dia da menstruação (corresponde ao primeiro dia do ciclo) até à menstruação seguinte, a mucosa que se encontra no interior do útero prepara-se e modifica-se para poder receber um eventual óvulo fecundado e alimentá-lo para que uma gravidez se possa iniciar. O aparecimento da menstruação significa que não houve qualquer fecundação durante esse ciclo, e o corpo elimina o que já não é necessário. Começa então um novo ciclo.

Ovulação - É o momento em que o óvulo, que cresceu desde o início do ciclo, atinge a sua maturidade e é expelido do ovário em direcção às trompas. A ovulação dá-se em média 12 a 14 dias antes da menstruação seguinte.

Fecundação - É o encontro do espermatozóide com o óvulo. Se nos dias anteriores à ovulação houver lugar a uma relação sexual, nesse mesmo dia ou no dia seguinte, os espermatozóides que atingem as trompas ou os que já se lá encontram podem fecundar o óvulo, dando origem ao ovo ou zigoto. Este continua o seu caminho até ao útero, onde poderá implantar-se (nidação) alguns dias mais tarde, iniciando-se, só então uma gravidez.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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