Estudo

Dificuldades na infância alteram estrutura do cérebro

Dificuldades enfrentadas até aos seis anos de idade, como doenças na família, separação dos pais, mudança de bairro, entre outras, estão relacionadas com a internalização de sintomas de depressão e ansiedade que geram alterações na massa cinzenta no fim da adolescência (dos 18 aos 21 anos). Esta conclusão foi publicada num estudo divulgado no jornal científico JAMA Pediatrics, que analisou um grupo de 494 jovens e suas mães de 1991 a 2010.

“Devemos lembrar que se trata de uma escala de stresse. É normal ter um pouco de stresse na infância, o que medimos é uma acumulação de vários fatores stressantes”, afirmou a coordenadora do estudo e pesquisadora do King's College, em Londres, Sarah Jensen.

“Problemas de internalização, como depressão, estão extremamente ligados a eventos que aconteceram no início da vida”, explica. A equipa usou como referência 37 tipos de stresse, desde os citados acima até à violência física e emocional contra as crianças e contra as mães, escreve o Diário Digital.

Segundo os autores, o estudo é importante porque mostra que é possível prevenir diversos problemas, em vez de considerar que depressão e ansiedade são causados apenas pela genética. “A descoberta de que as experiências da infância podem afetar o cérebro mostra que a primeira infância não é só um período de vulnerabilidade, mas também de oportunidade”, conclui. “Intervenções contra a adversidade podem ajudar a prevenir que crianças internalizem sintomas e as proteger contra o desenvolvimento anormal do cérebro.”

As mães também apresentaram níveis de internalização de sintomas (depressão e/ou ansiedade) quando os pequenos tinham 7, 10 e 13 anos. Os dados foram recolhidos através de imagens de ressonância magnética.

Sarah e Edward Barker, outro autor do estudo, explicam que existem duas maneiras de reagir às adversidades; uma é a internalização de sintomas, que é o caso da pesquisa, e a externalização, que se reflete no comportamento das pessoas. A equipa observou três partes do córtex associadas à internalização de sintomas. “A ideia é que algumas partes do cérebro que eram associadas com a internalização de sintomas na verdade estão associadas à adversidade”, diz Barker.

Nas crianças que internalizaram sintomas de depressão e ansiedade, o giro frontal superior apresentou um volume inferior de massa cinzenta. “Isso vai de encontro com estudos anteriores que mostram que regiões frontais do cérebro estão implicadas na depressão”, diz Sarah.

Em relação ao volume do precuneus (região do lobo parietal), houve uma surpresa. Existe uma associação positiva entre adversidades e aumento de volume. “Normalmente, o stresse tem um efeito tóxico sobre o cérebro e a massa cinzenta é menor, mas neste caso, foi maior. Pode ser uma proteção, uma compensação, ou quer dizer que algum nível de stresse tenha um efeito positivo nesta área, mas não sabemos ao certo”, explica Sarah. Essa região já havia sido associada a experiências adversas como maus tratos.

O estudo foi feito apenas com meninos por ter sido feito juntamente com outra pesquisa que observou apenas crianças do sexo masculino. A coordenadora avalia que se trata de uma limitação e que seria interessante repeti-lo com meninas também.

Fonte: 
Diário Digital
Nota: 
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