Agudos e transitórios

Transtornos psicóticos

Atualizado: 
05/02/2020 - 16:08
Ideias delirantes, alucinações, perturbações das percepções e desorganização do comportamento são alguns dos sintomas de diferentes transtornos psicóticos. Saiba mais.
Psicose

Uma psicose (ou transtornos psicóticos) é definida como a incapacidade de distinguir entre a experiência subjectiva e a realidade externa, ou seja, existe uma perda de contacto com a realidade. Assim, os transtornos psicóticos indicam uma perda de contacto com a realidade, o real. Existem vários subtipos de psicoses no entanto, de uma forma geral a pessoa que atravessa uma crise psicótica pode ter alucinações, delírios, mudanças comportamentais e pensamento confuso. O grau desta perda de contacto com a realidade depende da intensidade da psicose.

Os sintomas estão aliados a uma carência de visão crítica que leva o indivíduo a não reconhecer o carácter estranho de seu comportamento. Assim, ele tem sérias dificuldades nos relacionamentos sociais e em executar as tarefas quotidianas.

Contudo, quando não estão em crise, os doentes cuidam de si mesmos, preocupam-se com sua qualidade de vida, alimentam desejos sexuais, desempenham bem seus papéis sociais, interagindo com o outro sem problemas.

A psicose pode ter início quando a pessoa começa a relacionar-se com objectos irreais, modificando as suas atitudes, ideias e visões do mundo em função desse relacionamento. A partir daí a realidade vai perdendo significado e passa a cismar com situações absurdas ou com pessoas que não existem, embora continue a viver no mundo real.

Uma reacção psicótica pode ser provocada por uma grande quantidade de agressores do sistema nervoso. As pessoas podem passar por experiências transitórias de alucinações, por exemplo, sem que se caracterize uma psicose permanente, com consequências para a vida toda.

Segundo o DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, guia de diagnósticos utilizado amplamente nos EUA -, a psicose é considerada um sintoma de uma perturbação mental, mas não como uma doença em si mesma. De acordo com este mesmo manual, a psicose é dividida em dois tipos – funcional, como a esquizofrenia e as doenças afectivas, e orgânicas, como resultado de uma demência ou de intoxicações.

Vários tipos de transtornos psicóticos

Transtorno esquizofreniforme

Os doentes com transtorno esquizofreniforme apresentam um quadro clínico muito parecido com a esquizofrenia. A diferença deve-se ao tempo limitado em que os sintomas persistem. Ou seja, os sintomas devem estar presentes por mais de um mês, porém os doentes não devem ultrapassar seis meses com o quadro.

A remissão (melhora) deve ocorrer durante esse período, sendo que quanto mais curto for o episódio, melhor é o prognóstico. O prejuízo social ou ocupacional em função dos seus sintomas pode estar presente ou não. Os doentes que persistem com os sintomas psicóticos por um período superior a seis meses podem vir a ter o diagnóstico de esquizofrenia.

Mais ou menos metade destes doentes é mais tarde diagnosticada com esquizofrenia. Este transtorno ocorre mais comummente naquela pessoas que têm familiares com esquizofrenia ou transtorno afectivo bipolar (ou transtorno maníaco depressivo) e muitos, inclusive, depois de acometidos pelo transtorno esquizofreniforme, mantém o diagnóstico de bipolaridade.

A causa exacta desta doença é desconhecida e o tratamento é similar ao da esquizofrenia, geralmente necessitando de hospitalização para a realização de diagnóstico e tratamento mais adequados.

Transtorno esquizoafectivo

O transtorno esquizoafectivo é uma doença de grave comprometimento cerebral, onde o doente apresenta tanto a esquizofrenia como o distúrbio bipolar, ao mesmo tempo ou alternado. Ou seja, estes doentes apresentam sintomas de esquizofrenia, "misturados" com sintomas da doença bipolar (antigamente conhecida como psicose maníaco-depressiva) ou de depressão. Os sintomas podem surgir juntos ou alternadamente.

Ocorre na adolescência ou início da idade adulta e costuma ter uma evolução mais benigna que a esquizofrenia. O tratamento consiste em internamento hospitalar, medicação e intervenções psico-sociais. A terapêutica medicamentosa utilizada é a mesma que a usada no tratamento da depressão e da doença bipolar, assim como antipsicóticos.

Transtorno delirante

A característica essencial do transtorno delirante é a presença de um ou mais delírios não bizarros que persistem pelo menos por um mês. Normalmente o funcionamento social destes doentes não está prejudicado, apesar da existência do delírio, habitualmente interpretativos, egocêntricos, sistematizados e coerentes. Pode ser de prejuízo, de perseguição ou de grandeza, impregnado ou não de tonalidade erótica ou com ideias de invenção ou de reforma. Também é frequente o delírio de ciúme, mais frequente nas mulheres.

Estes doentes diferem dos esquizofrénicos por não serem tão gravemente comprometidos no seu comportamento e linguagem.

Antigamente este transtorno recebia o nome de paranóia, associando o nome da doença aos delírios persecutórios. Porém, hoje sabe-se que esses pacientes podem apresentar outros tipos de conteúdo delirante, dividindo o diagnóstico em diferentes subtipos:

Tipo erotomaníaco

Delírio cujo tema central é que uma pessoa está apaixonada pelo doente. Este delírio geralmente refere-se mais a um amor romântico idealizado ou uma união espiritual do que propriamente uma atracção sexual;

Tipo grandioso

Delírios de possuir um grande talento, conhecimento ou ter feito uma importante descoberta ainda que isso não seja reconhecido pelas demais pessoas. Pode tomar a forma também da convicção de ser amigo de um presidente ou ser portador de uma mensagem divina;

Tipo ciumento

Delírios de que está a ser traído pelo cônjuge;

Tipo persecutório

Delírios de que está ser alvo de algum prejuízo;

Tipo somático

Delírios de que possui alguma doença ou deficiência física;

Tipo misto

Delírios anteriormente citados misturados;

Tipo inespecífico

Delírios diferentes dos descritos.

O tratamento destes casos é feito com medicamentos antipsicóticos e psicoterapia. No entanto, pode haver necessidade, em algumas situações, de recorrer a internamento hospitalar, principalmente em situações em que há presença de riscos (agressão, suicídio, exposição moral).

Transtorno psicótico breve

O transtorno psicótico breve pode ter um quadro clínico muito parecido com a esquizofrenia ou com o transtorno esquizofreniforme, apresentando delírios, alucinações e linguagem ou comportamento desorganizado. Esta é uma perturbação cujos sintomas podem ir de apenas um dia até a um mês, melhorando completamente dentro desse período sem deixar sintomas residuais.

Esta perturbação pode ocorrer na adolescência ou no inicio da idade adulta, acontecendo em média ao final da década dos 20 ou início dos 30. Um diagnóstico deste tipo obriga à identificação completa de todos os sintomas e um retorno ao nível pré-mórbido de funcionamento no espaço de um mês após o início da perturbação.

O tratamento inclui medicamentos antipsicóticos e pode, eventualmente, ser necessário internamento hospitalar em casos mais graves. A evolução destes quadros costuma ser benigna com total remissão dos sintomas.

Transtorno psicótico compartilhado (Folie à Deux, co-dependência)

Trata-se de uma situação rara na qual uma pessoa começa a apresentar sintomas psicóticos (delírios), a partir da convivência próxima com um doente psicótico.

Geralmente ocorre dentro de uma mesma família, entre cônjuges, pais e filhos ou entre irmãos. O tratamento consiste em separar as duas pessoas. Se houver persistência dos sintomas, pode ser necessário usar medicamentos antipsicóticos. A psicoterapia e terapia familiar também ajudam no tratamento e prevenção.

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Fonte: 
Abcdasaude.com
Nota: 
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