Petição pede estatuto de cuidador de doentes de Alzheimer
A petição está disponível no 'site' da Petição Pública e visa recolher as assinaturas necessárias para levar o assunto a debate na Assembleia da República, objetivo já conseguido, uma vez que já estão ultrapassadas as quatro mil assinaturas necessárias para a realização de debate em plenário.
Para já, e em apenas quatro dias – já que a petição foi iniciada na quinta-feira, dia 04 de agosto –, 5.386 pessoas assinaram-na, mas a intenção do grupo de cuidadores que arrancou com a iniciativa é de continuar a recolher assinaturas e de envolver o máximo possível de cuidadores, indo também recolher assinaturas em papel, por vários pontos do país.
Em declarações, uma das pessoas que dinamizou a criação da petição disse ter ficado surpreendida com o número de assinaturas recolhidas até ao momento, mas frisou, por outro lado, conhecer a realidade de quem é cuidador e garantiu que “todos ansiavam por isto”.
Sofia Figueiredo, 39 anos, contou que cuida da avó e que, no local onde reside, não tem quaisquer serviços de apoio específicos para pessoas com a doença de Alzheimer.
No local onde trabalha deixaram-na adaptar o seu horário e passar a entrar às 06:30 para sair a horas de receber a avó, quando ela sai do centro de dia, mas Sofia sabe que essa não é a realidade da maioria dos cuidadores.
Ainda assim, é obrigada a acordar todos os dias às 05:00 e passa as tardes com a avó, a conversar com ela e a estimulá-la, para que a doença não avance demasiado rápido e a avó não vá perdendo vocabulário.
“É muito desgastante porque estamos a falar de 24 horas e eu ainda tenho a sorte de a minha mãe ficar com a minha avó à noite e eu poder dormir para me levantar às 05:00”, contou, alertando que, quando só existe um cuidador, essa pessoa não consegue descansar.
De acordo com Sofia Figueiredo, a petição surge na sequência do I Encontro Nacional de Cuidadores de Doentes de Alzheimer e outras Demências Similares, que decorreu em Lisboa a 18 de junho, lembrando que o aumento da esperança média de vida também trouxe o aumento de doenças crónicas, nomeadamente das doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimento, e que estas são doenças com um forte impacto na dinâmica familiar.
Com a petição, o grupo de cuidadores quer não só que seja criado o estatuto de Cuidador Informal da pessoa com doença de Alzheimer ou outras demências, com o devido reconhecimento social e jurídico, mas também que estas pessoas tenham direito a uma redução do seu horário laboral em 50%, sem perda de vencimento.
Querem também um sistema fiscal equitativo, apoio de terceira pessoa na assistência ao cuidador, reforço do apoio a instituições para formação e aconselhamento das pessoas com demência, bem como mais estruturas formais para o doente e estruturas de descanso para o cuidador.
Pretendem que os cuidadores tenham direito a uma pensão de sobrevivência mensal após a morte do doente, que tenham direito a um subsídio por morte e que conte para efeitos de reforma o tempo dependido enquanto cuidador, assim como que o doente tenha atendimento prioritário nos cuidados de saúde.
Por último, querem que o dia 18 de junho passe a ser o Dia Nacional do/a Cuidador/a.
Sofia Figueiredo disse não acreditar que a recomendação da Assembleia da República para a criação do estatuto do Cuidador Informal venha a ser tornado realidade e que acautele as necessidades específicas das pessoas com Alzheimer ou outras demências.
Defendeu ainda que todos os cuidadores informais de qualquer que seja a doença se unam e façam uma petição, “mediante as suas reais necessidades”, para a criação de um estatuto específico.