Conheça alguns mitos alimentares

Ontem era saudável, hoje faz mal à saúde

Atualizado: 
20/02/2017 - 16:28
Durante décadas fomos levados a crer que alguns alimentos seriam prejudiciais à saúde enquanto outros eram tidos como altamente benéficos. Hoje sabe-se que algumas dessas premissas estão incorretas. Com a ajuda da especialista Alexandra Vasconcelos, fique a conhecer alguns dos mitos alimentares mais comuns.

“A forma como comemos, como vivemos, como dormimos ou onde vivemos são determinantes para o nosso bem-estar e envelhecimento. As notícias sobre estes temas são muitas, e muitas vezes contraditórias: o que ontem fazia bem afinal parece que já não é assim tão saudável”, começa por dizer Alexandra Vasconcelos, terapeuta biológica e ortomolecular, afirmando que, hoje em dia, já não sabemos o que comer. “Achamos que afinal já tudo faz mal”, acrescenta.

Para ajudar a desmistificar alguns mitos, a especialista dedica uma parte do seu novo livro - “O Segredo para se manter Jovem e Saudável” -  a este tema.

Mito – O sal faz subir a tensão arterial  

“Todos sabemos que o sal faz aumentar os valores da tensão arterial. O que muitos não sabem é que não chega baixar a ingestão de sal para regularizar os níveis de tensão arterial”, refere a terapeuta.

De acordo com esta especialista, o essencial é manter um bom equilíbrio entre as concentrações de sódio, ou seja, o sal de cozinha, e potássio (um oligoelemento essencial presente em vegetais e legumes secos), para controlo dos valores normais da tensão arterial.

“As necessidades de sal do homem são cerca de 2g por dia. No entanto, a alimentação moderna, comparativamente com a dos nossos antepassados e de alguns povos com melhores indicadores de saúde, é rica em sódio e pobre em potássio”, acrescenta referindo que ingerimos entre cinco a seis vezes mais sal do que o aconselhado.

“O excesso de sódio desequilibra a proporção entre o sódio e o potássio, sendo uma das principais causas de doenças cardiovasculares, aumento da tensão arterial, osteoporose, entre outras”, afirma.

Aqui a grande questão prende-se com o facto de o sal que, habitualmente, utilizamos – o sal da cozinha, o refinado e o industrial -  ser apenas composto por cloreto de sódio e isento de potássio. Por isso, “por mais que reduzamos a ingestão de cloreto de sódio, não conseguimos repôr o equilibrio sem a ingestão de potássio”.

De acordo com Alexandra Vasconcelos, devemos substituir o sal refinado por flor de sal e o aumentar o consumo de vegetais e alimentos ricos em potássio.

“Um dos grandes problemas é o sal escondido na alimentação moderna, tornando-a extremamente rica em cloreto de sódio”, refere explicando que se não deixarmos de consumir alimentos industrializados, refrigerantes, fast-food ou produtos de charcutaria continuamos a ingerir quantidades absurdas de sal.

“O consumo de sal completo ou integral, por exemplo o dos Himalaias, e a eliminação total do cloreto de sódio são as duas melhores formas de controlar a sua tensão arterial”, afirma.

Mito – Deve comer-se menos gordura para reduzir a gordura visceral

De acordo com Alexandra Vasconcelos, “tentaram convencer-nos de que devemos comer menos gordura” para não engordarmos, no entanto, a especialista esclarece que esta ideia não passa de um mito.

“O que nos faz mal são as gorduras hidrogenadas e os açúcares fabricados pela indústria alimentar que comemos em detrimento de gorduras naturais polinsaturadas que existem em alguns alimentos”, afirma. É que de acordo, com a especialista a gordura polinsaturada até pode fazer muito pela nossa linha. “Reduz a acumulação de gordura abdominal, não engorda, muito pelo contrário, ajuda a manter o peso e a composição corporal”, refere.

Por outro lado, a especialista aconselha que se deve evitar ou eliminar as gorduras trans, saturadas ou parcilmente hidrogenadas, uma vez que são responsáveis pelo aumento do mau colesterol (o LDL), são inflamatórias e contribuem para o aumento da incidência de doenças cardiovasculares ou síndrome metabólica.

“Leia os rótulos”, reforça acrescentando que “estas gorduras prejudiciais devem ser substituídas pelas que são nossas amigas e protetoras”.

Mito – O leite é benéfico para a prevenção da osteoporose

Segundo Alexandra Vasconcelos, durante muitos anos fomos inundados com anúncios que promoviam o consumo do leite, essencialmente, pela sua ação preventiva na osteoporose, o que nos levou a aumentar o seu consumo. No entanto, “hoje, a realidade é contraditória. O leite além de não proteger, promove a osteoporose”.

“A grande maioria dos estudos não mostra que uma maior ingestão de leite aumenta o equilíbrio do cálcio no organismo”, começa por dizer a especialista.

“Este mineral é muito importante, mas parece que o leite não é a melhor fonte e inclusivamente, pode aumentar a incidência de osteoporose e calcificações”, avança acrescentando que esta foi a principal conclusão de um estudo realizado nos Estados Unidos – o Nurses’ Health Study -, sem intervenção na alimentação, que analisou mais de 70 mil enfermeiras ao longo de 12 anos. “O famoso estudo mostrou que as que bebiam dois ou mais copos de leite por dia aumentavam a incidência de fraturas ósseas e osteoporose”, revela.

De acordo com a naturopata, a existência de cálcio nos alimentos não é proporcional à sua absorção pelos ossos. “O cálcio necessita de magnésio e vitamina D. Infelizmente, a maioria da população, mesmo em países com sol, tem défice desta vitamina”, afirma acrescentando que a quantidade de magnésio e vitamina D presentes no leite de vaca não é suficiente para a sua absorção.

“Para que os ossos consigam absorver cálcio, necessitamos de magnésio na proporção de 2 cálcio:1 magnésio, que seria a ideal, além de quantidades satisfatórias de vitamina D”, explica referindo que a relação cálcio-magnésio ultrapassa este valor ideal, sendo 10:1.

Quer isto dizer que, na presença de pequenas quantidades de magnésio e vitamina D, o cálcio em vez de ir para os ossos deposita-se noutras partes do corpo como veias e artérias, “tendo influência nas mortes por doenças cardíacas”.

“A elevada ingestão de cálcio pode causar deficiência em magnésio, mesmo quando a ingestão deste é normal. Experiências feitas em ratos demonstram sinais clínicos de deficiência em magnésio ao fim de três semanas, numa dieta rica em cálcio e com aporte normal de magnésio. Então, afinal, parece que não precisamos de leite para termos bons ossos”, afirma adiantando que existem melhores fontes de cálcio, com a correta proporção entre estes dois nutrientes.

Mito – Os diabéticos devem usar adoçante

Os adoçantes são moléculas desenvolvidas e sintetizadas pelo homem que pretendem substituir o açúcar. Mas, se no início eram considerados uma alternativa saudável e aconselhados por todos os profissionais de saúde em substituição do açúcar, hoje já não é bem assim.

“Estas moléculas sintetizadas têm um poder adoçante nas papilas gustativas cerca de 200 vezes superior ao açúcar refinado, aumentado a vontade comer doces, especialmente quando ingerimos maiores quantidades: seis gotas ou duas pastilhas em vez de uma gota ou uma pastilha”, explica Alexandra Vasconcelos que afirma que os adoçantes só servem para aumentar a dependência do açúcar.

Aspartame, sacarina, ciclamatos e sorbitol são alguns dos adoçantes artificiais que são usados na substituição do açúcar refinado e que todos julgam ser uma opção saudável.

“Estes falsos açúcares seguem a moda light, ainda que não exista prova de que ajudam efetivamente na perda de peso. Pelo contrário, estão a acumular-se provas cada vez mais consistentes sobre os efeitos nocivos para a saúde destes edulcorantes”, acrescenta.

Cancro e problemas neurológicos e degenerativos são alguns dos problemas de saúde que podem provocar.

Assim sendo, a especialista aconselha a evitar o consumo de adoçantes artificiais. Estévia, coco ou mel são as opções mais saudáveis para susbtituir o açúcar refinado.

Mito – Os ovos aumentam os valores do colesterol

De acordo com Alexandra Vasconcelos este é outro grande mito e que persiste há décadas.

“Ao contrário do que nos foi dito, para reduzir o nível de colesterol o mais importante não é uma alimentação com pouca gordura, mas, pelo contrário, com quantidades interessantes de gordura de qualidade”, começa por explicar acrescentando que devemos preocupar-nos sobretudo com a quantidade de hidratos de carbono refinados que ingerimos para manter os níveis de índice glicémico nos valores ideais.

“Se reduzirmos o aporte de gorduras, reduzimos também a proteção que nos é dada pelas gorduras boas, os ómegas-3. Os ovos, gordura de qualidade, ajudam a regular a produção de colesterol perigoso”, refere.

A especialista afirma que apenas 15% a 20% do colesterol total do sangue vem da comida. “Ou seja, cerca de 80% (há autores que referem 70%) do colesterol total é produzido pelo nosso corpo”, diz.

“Muitas pessoas não entendem por que razão têm valores elevados de colesterol quando não comem gorduras! Ora aí está a explicação. O seu fígado produz colesterol. Por outro lado, apenas uma parte da gordura do ovo é absorvida pelo organismo”, esclarece realçando os benefícios do seu consumo.

De acordo com o especialista da Universidade de British Columbia, em Vancouver, António Bertechini, “o consumo não está relacionado com o colesterol da dieta nem com a doença cardíaca”, sendo possível comer até dois ovos por dia “sem que haja riscos”.

“Mas atenção, não frite os ovos em gorduras! Assim, assassina um dos melhores alimentos do mundo”, recomenda a especialista. 

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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