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O homem e a incontinência urinária

Atualizado: 
02/07/2019 - 10:44
O estigma associado à incontinência urinária muitas vezes impede o homem de procurar assistência médica e é muito mais comum do que muitas vezes se pensa, embora seja menos frequente do que na mulher. Podem ser afectados homens de todas as idades.
Homem com incontinência urinária

A incidência da incontinência urinária entre homens de 50 anos comparada com mulheres da mesma idade é menor, no entanto, estima-se que mais de 190.000 homens são afectados por problemas urinários em Portugal. A incidência masculina aumenta com a idade, mas não aumenta apenas em função da idade, estando directamente relacionada com outras enfermidades como inchaço da próstata, cancro da próstata e condições neurológicas como a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer. Em menor extensão, a incidência da diabetes e de peso em excesso, assim como outros factores de risco, aumentam a incidência da incontinência urinária no homem.

 

Diagnóstico da incontinência urinária

A fim de determinar qual o tipo de incontinência e o respectivo tratamento, o especialista elabora um historial detalhado do doente e/ou exame físico tomando nota de quaisquer cirurgias anteriores, e de outras enfermidades ou medicações. A qualidade de vida é também avaliada para determinar o impacto da incontinência no indivíduo e ao mesmo tempo avaliar a mobilidade e o acesso ao WC.

Ou seja, o estudo da incontinência urinária masculina deve ser criterioso e completo e para isso pode incluir:

História clínica:
São inquiridos aspectos como o início dos sintomas, a duração dos mesmos, os factores que possam ter contribuído ou causado o problema (cirurgias, medicamentos, outras doenças, etc.), a frequência e quantidade das perdas, os factores associados às mesmas, etc.

Diário miccional:
Consiste no registo, por parte do doente, das horas a que urina voluntariamente e das perdas e respectiva quantidade, bem como de eventuais sintomas associados. O diário miccional permite não só objectivar a "vida" miccional do doente, mas também permite ao doente materializar e compreender melhor as suas queixas, bem como auto-avaliar as melhorias com a terapêutica instituída, melhorando a sua auto-confiança e qualidade de vida.

Exame físico:
Para além do exame objectivo geral é realizado o toque rectal em todos os doentes, que permite avaliar o tamanho aproximado da próstata, bem como a sua textura, superfície, consistência, regularidade, limites, presença de nódulos, dor à palpação e tónus esfincteriano anal. Para além disso, é também feito o exame da região genital e a palpação abdominal.

Pad test:
Este teste consiste em fazer esforços standardizados, ou seja, tosse ou esforço abdominal (manobra de Valsalva) com protecção com um penso e posterior pesagem do penso para determinar a quantidade de urina perdida. É um método fácil de quantificar as perdas.

Urofluxometria:
A urofluxometria consiste numa micção para um funil acoplado a um aparelho que mede o volume de urina por unidade de tempo. É um exame fácil, rápido e não invasivo, que permite quantificar o fluxo de urina. Os principais parâmetros avaliados são a conformação da curva de fluxo, o fluxo máximo, o fluxo médio e o tempo de duração da micção.

Ecografia vesical com medição do resíduo pós-miccional:
A ecografia vesical permite avaliar a espessura e contornos da parede vesical, para além de permitir também diagnosticar divertículos e cálculos vesicais.

Ecografia prostática transrectal:
A ecografia prostática transrectal é o melhor exame para a avaliação da próstata. Permite avaliar com precisão o volume, a sua conformação, os seus limites e contornos, bem como a presença de nódulos, quistos e calcificações. Permite também avaliar a presença de um eventual lobo médio, que é frequentemente um dos principais responsáveis por obstrução infravesical. A próstata também pode ser avaliada por ecografia supra-púbica, uma técnica em tudo semelhante à ecografia vesical. Esta permite caracterizar melhor a relação da próstata com o pavimento vesical, nomeadamente a morfologia de um lobo médio.

Uretrocistoscopia:
A uretrocistoscopia permite avaliar a aparência do esfíncter, a integridade da uretra, a presença de apertos da uretra, a próstata e a bexiga.

Apesar de geralmente bem tolerado, é um exame invasivo, com um risco de infecção urinária de cerca de 2,4 por cento.

Estudo urodinâmico:
O estudo urodinâmico é um estudo funcional do aparelho urinário baixo.

Tem particular importância na determinação da causa da incontinência urinária e na definição do tipo de terapêutica e expectativas a ter. É um exame demorado (cerca de 30 a 60 minutos) e invasivo, pois é necessária a introdução de uma sonda na bexiga e de uma sonda rectal, com um pequeno balão na sua extremidade.

Sintomas associados à incontinência urinária

A incontinência urinária no homem pode estar associada a um conjunto de sintomas, que são chamados de sintomas do aparelho urinário inferior, habitualmente referidos como LUTS (designação inglesa lower urinary tract symptoms). Estes são inespecíficos, podendo ser causados por múltiplas situações. Os sintomas do aparelho urinário inferior são classificados em sintomas de esvaziamento, também chamados sintomas obstrutivos, e sintomas de armazenamento, também chamados sintomas irritativos.

Os sintomas de esvaziamento (obstrutivos) são a hesitação, ou seja, o atraso no início da micção, particularmente ao acordar, o esforço miccional, a diminuição da força e do calibre do jacto miccional, o prolongamento ou intermitência da micção, a sensação de esvaziamento vesical incompleto, o gotejo terminal e a retenção urinária. A intensidade dos sintomas obstrutivos pode ir desde uma ligeira hesitação ao iniciar a micção matinal, à retenção urinária aguda, que deve ser resolvida com urgência, através de algaliação ou punção suprapúbica.

Os sintomas de enchimento (irritativos) são resultantes de alterações vesicais, quer anatómicas, quer funcionais. Eles são a urgência miccional, a urgeincontinência, a polaquiúria e a noctúria.

Aos 50 anos, cerca de 20 a 30 por cento dos homens têm LUTS, aumentando a sua incidência para os 30 a 55 por cento aos 80 anos.

Tipos de Incontinência Urinária Masculina

É muito importante perceber qual o tipo de incontinência que afecta cada doente. E que pode ser classificada em:

  • Dribbling terminal

O dribbling terminal é uma condição benigna. Geralmente, não é necessário mais estudo ou tratamento. Pode ser resolvido com uma contracção forte dos músculos pélvicos e com a compressão manual da uretra logo após a micção.

  • Incontinência urinária de esforço

No homem a incontinência urinária de esforço ocorre geralmente após uma cirurgia à próstata, embora não seja desconhecida noutras circunstâncias, e consiste na perda involuntária de urina durante uma actividade como tossir, correr, saltar, etc., diferindo de pessoa para pessoa. Alguns indivíduos apenas perderão uma pequena quantidade de urina esporadicamente, possivelmente durante um curto período de tempo, ao passo que outros poderão perder urina constantemente e por longos períodos de tempo. Muitos recuperam da incontinência por completo mediante um tratamento adequado.

  • Urgeincontinência - sintomas de bexiga hiperactiva

A incontinência de urgência é definida como perda involuntária de urina acompanhada de uma vontade forte de urinar. O maior factor de risco para a incontinência de urgência é o aumento de volume de um órgão (por ex. Hiperplasia Benigna da Próstata) e uma cirurgia anterior.

  • Incontinência urinária mista

É utilizado o termo incontinência mista quando existem sintomas de incontinência de urgência e incontinência de esforço.

  • Incontinência urinária por regurgitação

A incontinência urinária por regurgitação consiste numa perda de urina resultante do excesso de pressão da urina dentro da bexiga resultante de uma obstrução à sua saída, ou seja, a nível prostático ou uretral.

Tratamento da Incontinência Urinária Masculina

Os avanços da medicina na área que se ocupa do seu diagnóstico e tratamento permitem a cura da maior parte dos casos. São várias as opções e que o especialista adequará a cada caso.

Terapêutica Comportamental/alteração de estilo de vida

Consiste no ensino de hábitos quotidianos que visam melhorar a qualidade de vida e o controlo da sintomatologia, nomeadamente na micção em tempos determinados, na regulação da ingestão de líquidos durante o dia, no suster da micção quando uma sensação de urgência surge, na evicção de actividades ou esforços conhecidos como provocadores de perdas, entre outros.

Fisioterapia – Exercícios de Kegel

A fisioterapia pode ter bons resultados, ajudando na recuperação da continência. No entanto, se o especialista não considerar os resultados satisfatórios passadas 8 a 12 semanas, poderão considerar-se tratamentos interventivos.

Exercícios de Kegel

Estes são exercícios simples, realizados pelo doente sem necessidade de assistência. Consistem em contracções dos músculos do pavimento pélvico com a intenção de evitar uma eventual micção ou dejecção. Estas contracções devem ser fortes e mantidas durante o máximo de tempo possível, com uma breve pausa entre elas. Os exercícios podem ser repetidos em diferentes posições.

Reabilitação Perineal / Reeducação Pélvica

O treino da bexiga é uma forma altamente eficiente de tratar, por exemplo, a incontinência de urgência. A capacidade da bexiga é aumentada incrementalmente em pequenos passos controlados. A cooperação e auto motivação do doente são importantes para assegurar o máximo sucesso.

Bio-feedback e electroestimulação

Ajudam na execução de exercícios para os músculos do pavimento pélvico e idealmente devem ser recomendados por um fisioterapeuta ou por um profissional em incontinência. Foram realizados estudos para analisar o papel do biofeedback e da electro-estimulação na incontinência urinária pós-prostatectomia e em muitos casos revelaram-se benéficos.

Medicamentos

Em alguns casos, podem ser utilizados medicamentos semelhantes aos utilizados na incontinência urinária feminina, promovem a maior contracção dos músculos dos esfincteres urinários.

Cirurgia

De facto, na área cirúrgica ocorreram nos últimos anos grandes avanços: as cirurgias minimamente invasivas, já usadas em Portugal, podem ser feitas em regime de internamento hospitalar de um ou dois dias, ou em regime de ambulatório, isto é, sem necessidade de recorrer a internamento hospitalar, ou mesmo em regime de consultório com injecções periuretrais. De salientar, que estas cirurgias minimamente invasivas vieram revolucionar os procedimentos cirúrgicos, ao constituírem-se como técnicas mais simples, mais seguras e fiáveis, permitindo uma recuperação mais rápida e com excelentes resultados.

A decisão sobre qual o tipo de cirurgia a ser sujeito cabe ao médico especialista.

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Fonte: 
institutodaprostata.com
Nota: 
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