3º Congresso Internacional sobre Esclerose Múltipla

O debate do desenvolvimento e conhecimento da doença

Especialistas nacionais e internacionais reúnem-se na próxima sexta e sábado para debater o Estado da Arte sobre a esclerose múltipla, uma doença inflamatória do sistema nervoso central.

Nos próximos dias 27 e 28 de Fevereiro tem lugar o 3º Congresso Internacional de Esclerose Múltipla, organizado pela consulta de Doenças Desmielinizantes do Centro Hospitalar de São João, cujo programa científico dará particular ênfase à esclerose múltipla em idade pediátrica, às doenças auto-imunes e às novas terapêuticas.

O Atlas da Saúde falou com a neurologista Maria José de Sá, que teve oportunidade de esclarecer que esta tem sido uma área com mais e melhor desenvolvimento, quer na descoberta de novas terapêuticas quer no conhecimento da doença.

“A doença, pelos factores de risco que incluem as alterações genéticas, começa muitas vezes em idades precoces mas só é detectada mais tarde. Portanto, é importante alertar os colegas da pediatria que devem pensar neste diagnóstico”, comenta a presidente do evento, acrescentando que, “há uns anos atrás estes diagnósticos estavam relacionados com a idade adulta, mas o aparecimento de mais casos em crianças com idades entre os 10 e os 18 anos faz-nos repensar a situação”.

A exacta causa da esclerose múltipla não é ainda conhecida, no entanto sabe-se que existem vários factores de risco. Seja para a criança seja para o adulto. “O aparecimento da doença resulta de uma interacção desses factores de risco fundamentalmente de dois grupos: os genéticos e os ambientais”, esclarece Maria José de Sá, sublinhando que há estudos internacionais de larga escala que apontam para factores víricos, baixa exposição solar relacionada com défice de vitamina D ou o tabagismo. Da interacção genética e ambiental resulta uma alteração do sistema imunitário que faz com que o organismo reaja contra a sua própria mielina. Daí surge a doença que se caracteriza como sendo uma doença inflamatória e desmielinizante crónica do sistema nervoso central.

“Os novos conhecimentos desses factores de risco têm permitido desenvolver novos medicamentos. Aliás as doenças auto-imunes em geral e a esclerose múltipla em particular têm tido uma investigação imensa”, congratula-se a neurologista, salientando que os muitos projetos de investigação em curso já permitiram saber mais sobre os genes relacionados, sobre o processo que existe no tecido nervoso, alterações inflamatórias e também a nível do córtex. “Muitas destas situações só se conseguem identificar com ressonâncias magnéticas mais sofisticadas, onde aliás também tem havido muita investigação” diz a responsável.

Até porque existem várias doenças que mimetizam a esclerose múltipla e podem complicar o diagnóstico diferencial. As principais são as doenças vasculares, mas também há doenças genéticas e metabólicas. “Existe depois um outro grande grupo de doenças auto-imunes sistémicas – por exemplo o lúpus – que em muitos doentes podem ter uma expressão neurológica e dificultar o diagnóstico”, refere.

Graças a estes desenvolvimentos, os doentes podem ter melhor qualidade de vida com custos relativos. “Hoje em dia os doentes com esclerose múltipla podem viver com muita qualidade de vida. Posso dizer que a maioria dos doentes do Hospital de São João não anda em cadeira de rodas. Há já muitos anos. São pessoas com autonomia”, garante a neurologista.

O tratamento da esclerose múltipla é assegurado na íntegra pelo Serviço Nacional de Saúde e não é - comparativamente com outras doenças como se tem falado nos últimos tempos da hepatite C – uma terapêutica dispendiosa. De qualquer forma, assegura Maria José de Sá “faremos no congresso uma revisão dos vários estudos sobre os custos a nível da Europa de onde Portugal sempre ficou de fora. Neste momento estou a fazer a ‘ponte’ entre a Plataforma Europeia e as sociedades portuguesas de esclerose múltipla para se poder perceber o que se passa em Portugal e incluir no estudo europeu”.

Todos estes e outros temas estarão em debate no 3º Congresso Internacional de Esclerose Múltipla que pretende o debate entre pares sobre os actuais conhecimentos e desenvolvimentos da doença. O evento decorre nas instalações da Ordem dos Médicos, no Porto.

Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.