Melanoma maligno
O melanoma é o tumor maligno das células pigmentadas da pele – os melanócitos – que derivam da crista neural. Estas células fabricam a melanina que dá a coloração negra e/ou castanha escura à pele e o melanoma é frequentemente dessa cor. No entanto pode apresentar uma cor rosada ou até branca.
É um tumor relativamente raro, representando cerca de 10% dos cancros cutâneos, mas é responsável por 80% das mortes por cancro cutâneo.
A incidência e mortalidade por melanoma têm vindo a aumentar em todo o mundo, sobretudo nas duas últimas décadas. Entre nós diagnosticam-se anualmente cerca de 800 casos e a incidência é de 6-8 casos/100 mil habitantes.
O melanoma pode atingir qualquer grupo etário. A idade média de aparecimento anda por volta dos 57 anos, sendo frequente abaixo dos 30 anos. O risco de vir a desenvolver um melanoma é praticamente igual nos dois sexos, embora haja diferenças nas diferentes regiões do globo.
Na mulher o melanoma localiza-se preferencialmente nos membros inferiores e no homem a localização habitual é o tronco.
As pessoas de pele clara, sardentas, ruivas ou louras (fototipos I e II), de olhos claros, com nevos atípicos, história de exposição solar intensa e intermitente ("escaldões”), sobretudo na infância, têm um maior risco de desenvolver este tipo de cancro.
O melanoma é muito raro na raça negra: < de 1% de incidência em relação à população caucasiana atingida e é mais frequente em áreas não pigmentadas, como as palmas das mãos e as plantas dos pés.
Agora que chegou o calor e voltámos a ir para a praia e a passear no campo, não podemos esquecer os cuidados a ter com o sol. Devemos evitar os comportamentos de risco, como a exposição solar intensa e prolongada, sem protecção e a ida aos solários. É importante usar óculos escuros, protector solar >30, chapéu de pala com protecção das orelhas e estar à sombra das 12-16h, hora em que a radiação ultravioleta é mais perigosa. Cuidado sobretudo com as crianças!
Os doentes com múltiplos nevos atípicos devem ser regularmente observados pelo médico. Em certos casos, alguns destes nevos alteram a sua cor/forma e devem ser retirados. É fundamental que os doentes sejam alertados para a importância de vigiar os seus sinais e o aparecimento de novas lesões cutâneas.
Em geral, o diagnóstico de Melanoma é efetuado através de biópsia excisional da lesão suspeita.
O melanoma cutâneo, quando precocemente diagnosticado cura-se em mais de 90% dos casos, apenas com Cirurgia. Pelo contrário, quando é diagnosticado tardiamente, torna-se agressivo e pode propagar-se por via linfática e/ou hematogénica atingindo os órgãos nobres, podendo levar à morte.
O tratamento de um doente com melanoma metastático depende de vários factores: idade, estado geral, tamanho do tumor, número e localização das metástases.
Vários fármacos têm sido utilizados em monoterapia e poliquimioterapia sem sucesso. O agente mais usado é a Dacarbazina que é bem tolerada, mas com uma taxa de resposta que não ultrapassa os 15 a 20% e sem impacto na sobrevivência global, embora se registem remissões completas prolongadas em 1-2% dos casos.
Desde 1837 até 2010 pouco se avançou no tratamento do melanoma avançado. Desde então e graças aos progressos da genética, imunoterapia e biologia molecular surgiram novos fármacos inovadores, com diferentes mecanismos de acção, que demonstraram pela 1ª vez um aumento da sobrevivência global, em doentes com melanoma metastizado. Dois destes novos fármacos foram já aprovados na Europa e nos EUA e muitos ensaios clínicos com outros medicamentos inovadores decorrem em todo o mundo.
Actualmente o tratamento do melanoma avançado continua a ser um desafio, mas o futuro deve ser encarado com optimismo, pois iniciámos uma nova era que vai alterar radicalmente o tratamento dos nossos doentes.
Maria José Passos
Assistente Graduada de Oncologia Médica do IPO de Lisboa