Inquérito revela

Medo e a falta de informação são os principais motivos para não utilização da pílula do dia seguinte

Atualmente, ainda existem muitos mitos no que respeita à saúde sexual. São falsas crenças que provocam confusão, medos e, muitas vezes, uma incorreta utilização dos métodos contracetivos, tanto de uso regular como em matéria de contraceção de emergência, com as devidas consequências: relações sexuais desprotegidas e risco e gravidezes não planeadas.

Os dados do último inquérito realizado pela empresa Harris Interactive para uma empresa farmacêutica1, que inquiriu mais de 5 mil mulheres no Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha que tiveram relações sexuais desprotegidas, demonstram que apenas 39% das inquiridas admitiram já ter utilizado a pílula do dia seguinte, 49% reconhece não ser utilizadora, ainda que afirme conhecer a contraceção de emergência e as restantes 12% não são utilizadoras nem tem conhecimento sobre este tema.

Em Portugal, os estudos demonstram que os resultados não diferem muito. De acordo com o inquérito “Prioridades antes de ser mãe”, 40% das portuguesas que em caso de terem relações sexuais de risco não consideravam recorrer à contraceção de emergência2] para evitar uma gravidez não planeada, apesar da gravidez não planeada ser uma preocupação para 69% das inquiridas2.

Tendo em mente estes valores, podemos perguntar-nos se estão realmente informadas as portuguesas em matéria de educação sexual? A resposta, tendo em conta que muitos casais continuam a manter relações sexuais desprotegidas e com risco de gravidez não desejada, parece clara: Não! ‘Não’, porque ainda há casais que não utilizam nenhum tipo de método contracetivo porque consideram que este pode “diminuir” o prazer sexual, ou não recorrem a métodos hormonais porque acreditam que engordam ou provocam o crescimento de pelo corporal. Definitivamente ‘Não’, se mais de um terço (36%) das mulheres que em caso de situação de risco de gravidez não planeada não recorreriam à pílula do dia seguinte porque acreditam que é abortiva2, tem numerosos efeitos secundários (30%), a consideram uma bomba hormonal (24%) ou afirmam que provoca infertilidade (7%). E, claramente ‘Não’, se 17% das mulheres considera que o coito interrompido é um método seguro e torna a relação sexual protegida2.

Mas, porque não estão muitas mulheres dispostas a recorrer à contraceção de emergência? O inquérito Harris reflete que 57% das mulheres europeias não a tomariam por falta de conhecimento; 25% por medo dos seus efeitos secundários, 22% por ser contra os seus princípios morais e 11% por vergonha1.

Mas, a que se deve esta situação? Para Teresa Bombas, médica especialista em ginecologia e obstetrícia e presidente da Sociedade Portuguesa da Contracepção, “ainda existem crenças enraizadas na sociedade que podem provocar confusão relativamente à contraceção de emergência. Estereótipos que qualificam uma mulher que recorre à contraceção de emergência como “irresponsável” quando, o recurso à pílula de emergência é exatamente o contrário, é um ato de responsabilidade da mulher”. A especialista defende, por isso, que “a informação correta é fundamental para, em primeiro lugar, aumentar a correta utilização dos métodos contracetivos regulares e, em segundo, dissipar de uma vez por todas com estes mitos e crenças infundadas relativamente à contraceção de emergência”.

Não utilizar corretamente os métodos contracetivos regulares não só pode derivar numa gravidez não desejada, como também pode supor um grande impacto na vida social e trajetória laboral da mulher. De facto, as portuguesas têm atualmente outras prioridades para além da maternidade, sendo esta adiada para uma fase mais tardia da vida. Mais de metade das portuguesas (64%) considera que uma gravidez afetaria a sua vida social e laboral2 e, mais concretamente, 58% tem medo de perder oportunidades de trabalho ou de concluir os seus estudos devido a uma gravidez não planeada2.

Teresa Bombas acrescenta ainda que “os resultados dos estudos referidos deixam antever uma realidade que, ainda que preocupante, pode ser combatida através da facilitação do acesso a informação de qualidade sobre a utilização de contracetivos, tanto regulares como de emergência. Para uma vida sexual responsável, é necessário contar com fontes de informação corretas e que desmistifiquem ideias erradas e, desta forma, ajudem a eliminar medos que, durante anos, se foram fortalecendo em matéria de saúde sexual e levam muitos casais a um risco desnecessário.”

1Inquérito Harris Interactive para HRA, agosto 2017.
2Estudo ‘Prioridades Antes de Ser Mãe’ | Portugal, Kantar Health, julho de 2017

Fonte: 
Vânia Martins
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock