Estudo

Matar o tumor principal não chega, é preciso atacar as metástases

Os medicamentos usados para combater o tumor principal têm pouco ou nenhum efeito nas células das metástases que vão provocar tumores noutros ponto do corpo. São necessários drogas mais específicas.

Mais de 90% das mortes por cancro são causadas pela formação de metástases – células do cancro primário que viajam para outra parte do corpo e aí formam um novo cancro –, lê-se no artigo publicado na Nature. O objetivo do estudo coordenado por Zena Werb, investigadora na Universidade da Califórnia em São Francisco (Estados Unidos), era perceber como se ocorre o processo das metástases, para desenvolver novas estratégias terapêuticas que as combatam, escreve o Observador.

Normalmente os medicamentos contra o cancro ignoram as diferenças entre as células do tumor principal e as células das metástases, mas a equipa de Zena Werb descobriu que a expressão genética das células das metástases de cancro da mama era muito diferente do tumor principal e tinha semelhanças com as células normais da mama. “Testamos drogas pela sua capacidade de reduzirem os tumores principais, mas a maior parte simplesmente não funciona das metástases e isto deixa os doentes expostos à recidiva”, disse a investigadora, em comunicado de imprensa da instituição.

Por outro lado, saber que as células da metástase libertam certas moléculas quando se começam a multiplicar pode ser uma forma de identificar a sua presença e usar drogas que atuem diretamente sobre células que tenham este comportamento. Um medicamento testado pelos investigadores em ratos de laboratório, apesar de não ter qualquer efeito sobre o tumor principal, mostrou-se eficaz na eliminação das metástases. Esta era apenas uma prova de conceito, os investigadores não pretendiam mostrar se este era o medicamento mais eficaz no combate às metástases, tão só que estas células e o tumor principal têm de ser tratados de forma diferente.

Para os investigadores em cancro, prevenir que as metástases invadam outras partes do corpo é prioritário, afirma Andrei Goga, co-autor do estudo e investigador Universidade da Califórnia em São Francisco. “Mas na prática, quando se deteta o tumor, aquele ‘cavalo’ tanto pode estar fora do estábulo como não. Este novo estudo é entusiasmante porque se conhecermos a genética destas células iniciais da metástase podemos ir atrás delas especificamente onde quer que se encontrem no corpo.”

Como as células das metástases são diferentes das células do tumor principal, os investigadores consideram que estas se comportam como células estaminais –  células indiferenciadas que se conseguem multiplicar facilmente e que têm a capacidade de se transformar nas restantes células do organismo. Quer isto dizer que quando as células das metástases são semelhantes às células pré-cancerosas e que quando encontram um local de fixação se multiplicam e amadurecem em células mais diferenciadas.

Estas células que se libertam do tumor principal e viajam na corrente sanguínea podem começar a multiplicar-se imediatamente assim que encontram um novo tecido para colonizar ou ficar adormecidas durante meses ou anos, provocando um reaparecimento do tumor quando menos se espera. Uma das maiores dificuldades que os investigadores têm enfrentado no estudo destas metástases é que elas são muito difíceis de detetar.

Devon Lawson, primeiro autor do estudo e investigador na Universidade da Califórnia em Irvine, disse, em comunicado de imprensa, que ainda ninguém sabe como é que as células conseguem manter-se adormecidas durante tanto tempo, mas criticou que apenas 7% dos fundos de investigação em cancro da mama seja dedicado às metástases.

Fonte: 
Observador
Nota: 
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