Gripes e constipações podem originar perdas auditivas
O aumento drástico das gripes e constipações que se verificam anualmente nos meses de Janeiro e Fevereiro, principalmente durante os dias frios que se têm feito sentir, têm um forte impacto na saúde auditiva. As infecções das vias respiratórias superiores podem afectar o normal funcionamento do ouvido médio produzindo em maior ou menor grau uma perda auditiva de condução/transmissão, que pode ser reversível quando tratada atempada e adequadamente.
São duas as causas que podem criar estas disfunções:
A primeira ocorre quando as infecções respiratórias provocam uma obstrução ou inflamação da Trompa de Eustáquio (canal que liga a nasofaringe ao ouvido médio – que tem por função equilibrar as pressões e oxigenar os tecidos do tipo respiratório que cobrem estas estruturas), produzindo pressões negativas dentro do ouvido médio que acabam por fazer derramar o soro sanguíneo dos vasos que se encontram nestes tecidos. Como consequência causam otites médias com efusão (inflamação da orelha média com presença de líquido) ou otopatia serosa (otites médias). Esta disfunção é muito comum nas crianças, mas pode também afectar adultos, especialmente como complicação de infecções respiratórias. Os sintomas traduzem-se por sensação de ouvido tapado e perda auditiva de transmissão geralmente ligeira ou moderada.
A segunda decorre quando os agentes infecciosos atingem o ouvido médio originando uma otite média aguda. Os sintomas são geralmente febre, dor intensa e perda auditiva de transmissão de grau ligeiro ou moderado. Esta disfunção deve ser precocemente diagnosticada e tratada para evitar complicações, como a sua evolução para otite média supurada (onde se verifica a perfuração do tímpano), otomastoidite (complicação da otite média aguda) ou mesmo atingir o ouvido interno e produzir uma labirintite (inflamação das estruturas do ouvido interno que contêm os órgãos da audição e do equilíbrio). Em situações mais graves, mas felizmente raras, pode mesmo causar paralisia facial ou meningite.
Celso Martins, audiologista explica que “é importante frisar que a perda auditiva derivada destas situações é na maioria das vezes reversível quando devida e atempadamente tratada. No entanto, algumas situações deixam sequelas que, mesmo depois de intervencionadas do ponto de vista médico ou cirúrgico, acabam por causar perda auditiva permanente, carecendo muitas vezes de correcção auditiva através de próteses.” As pessoas que já tem uma perda auditiva e que já utilizam próteses auditivas, devem ser seguidas atentamente, uma vez que as complicações auditivas derivadas da gripe e das infecções das vias respiratórias superiores acabam por agravar de forma significativa a sua capacidade auditiva/comunicativa, originando limitações importantes na sua vida familiar, social e profissional. “É por isso aconselhável que qualquer pessoa após uma gripe, constipação ou outras infecções das vias respiratórias superiores, recorra a um audiologista ou otorrinolaringologista para efectuar um teste à sua audição e tomar as medidas correctivas mais adequadas, evitando os danos que a perda auditiva possa ter na sua qualidade de vida”, acrescenta o especialista.