Há mais grávidas obesas, com diabetes e hipertensão

Gravidez cada vez mais tardia preocupa especialistas de Medicina Interna

Já não é novidade, mas antes uma tendência: ser mãe é um desejo concretizado cada vez mais tarde. Mas esta aposta numa maternidade tardia é sinónimo de desafios acrescidos, não só para as futuras mamãs, mas também para quem ajuda a garantir que tudo vai correr bem.

“Em Portugal temos cada vez mais as doenças associadas aos excessos, ao sedentarismo e à idade avançada. Há cada vez mais grávidas obesas, com diabetes, hipertensão arterial, síndrome depressivo, patologia osteoarticular, etc.”, alerta Inês Palma dos Reis, coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica (NEMO) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).

Os números confirmam esta tendência de gravidez tardia: os dados do Pordata mostram que, no ano 2000, a idade média da mãe ao nascimento do primeiro filho não ia além dos 26,5 anos; 16 anos depois chegava aos 30,3. A estes dados juntam-se outros: os dos partos depois dos 40, que corresponderam, em 2015, a 5,2% do total (4.431). E o que é que isto significa? “Com o avançar da idade acumulam-se muitas vezes as doenças e até a medicação crónica, com respetivos riscos para a gravidez. Por exemplo, em mulheres com hipertensão arterial é mais frequente haver complicações na gravidez como a pré-eclampsia e eclampsia, com riscos para a mãe e feto; parto pré-termo, alterações no crescimento fetal; aborto ou morte fetal…”, responde Inês Palma dos Reis.

Problemas que interferem com a gravidez. E vice-versa. “A gravidez, por requerer uma adaptação e ‘esforço’ suplementar do corpo da mulher, pode levar aos primeiros sintomas em problemas latentes, agravar as doenças crónicas, por vezes com risco de vida para a mãe e para o feto. Algumas doenças, como as associadas a disfunções da imunidade, podem apresentar menos sintomas durante a gravidez. Por outro lado, as doenças e/ou a medicação necessária para as controlar podem, por vezes, diminuir a fertilidade, aumentar o risco de malformações fetais, transmissão fetal ou outras alterações no seu desenvolvimento e dificultar o adequado aumento de peso materno ou um trabalho de parto seguro.”

A Medicina Interna desempenha, aqui, um papel cada vez maior, e isto em todas as fases, explica a especialista da SPMI. Se antes da gravidez a missão destes especialistas deve ser “garantir o aconselhamento adequado às mulheres seguidas com doença crónica e que queiram engravidar, no que diz respeito ao mais adequado planeamento da gravidez conforme a evolução da doença e prevendo eventuais ajustes na medicação”, durante a gestação cabe à Medicina Interna “manter a vigilância regular da doença crónica, com os ajustes necessários para minimizar os riscos da doença, dos exames e fármacos necessários e estar alerta para minimizar eventuais complicações, sempre disponível para esclarecer a grávida, a família e o obstetra em relação a estes ajustes e riscos”.

O trabalho não se fica por aqui. Depois do parto, volta a caber aos internistas uma tarefa: a de “reavaliar a mulher, procurando minimizar o risco de problemas futuros (noutra gravidez ou mesmo ao longo da vida)”. É, por isso, importante, a relação entre internista e obstetra, que deve ser, segundo Inês Palma dos Reis, “de entreajuda, idealmente com discussão próxima e frequente da evolução das expectativas e eventuais problemas, para melhor apoiar a grávida nas suas decisões”.

Neste Dia da Grávida, que celebra um período “que se quer maravilhoso, pleno de saúde e descobertas”, a SPMI reforça a importância de ter “hábitos de vida saudáveis (exercício, alimentação, evitar álcool, tabaco, drogas) e de procurar vigilância médica adequada, sobretudo nos casos de mulheres com doenças e/ou medicação crónicas. Durante a gravidez, toda a medicação deve ser revista e cuidadosamente ponderada. É que há medicamentos, tratamentos, exames perigosos, mas há outros imprescindíveis para a segurança da grávida e/ou do bebé”. E com vigilância “e apoio médico adequados melhora-se o prognóstico mesmo das gravidezes mais complicadas".

Fonte: 
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Nota: 
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